Mestres Modernos em exposição.

19/set

A Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura duas exposições com curadoria de Paulo Venancio Filho durante a semana da ArtRio. A exibição de “3 Mestres Modernos: Camargo, Tomasello, Cruz-Diez” será na galeria e, “Cinéticos-Construtivos”, no Stand do evento na Marina da Glória

A partir do dia 24 de setembro, na semana em que a cidade recebe a Feira ArtRio, um dos mais relevantes eventos de arte, Luiz Sève e sua filha, Luciana Sève, à frente da Galeria de Arte Ipanema, inauguram duas importantes exposições.

“A ArtRio já faz parte do calendário carioca e é um excelente veículo de vendas e de divulgação. Participamos com artistas do nosso acervo desde a sua primeira edição, em 2011”, afirma Luiz Sève.

“Sempre procuramos prestigiar a Feira com a inauguração de novas mostras com peças do nosso acervo. É um período fervilhante, quando a cidade recebe muitas pessoas de fora, o que nos impulsiona a abrir uma exposição inédita. Mais do que nunca, nessa época o Rio se torna uma enorme vitrine que reverbera talentos, dos consagrados aos novos e promissores nomes do mercado. Há também os eventos paralelos que integram a programação do evento, atraindo desde os que produzem arte quanto colecionadores ou mesmo aqueles que apenas buscam aprofundar conhecimento na área”, complementa Luciana Sève.

“3 Mestres Modernos: Camargo, Tomasello, Cruz-Diez” apresenta uma seleção de trabalhos dos artistas Sergio Camargo, Cruz-Diez e, Luis Tomasello. Até outubro, a Galeria Ipanema, uma das precursoras do Modernismo, será ocupada pelos cinéticos de Cruz-Diez, pelos relevos em madeira de Tomasello, por uma escultura em mármore e dois relevos de Camargo, entre outras obras bastante representativas selecionadas pelo curador.

A partir do dia 26, no Stand da ArtRio (dia 25 para convidados, no Preview), o público visitante verá uma seleção dos artistas Antonio Maluf, Aluísio Carvão, Cruz-Diez, Dionísio Del Santo, Jesus Rafael Soto, Julio Le Parc, Lygia Clark, Paulo Roberto Leal, Franz Weissmann, Raymundo Collares, em “Cinéticos-Construtivos”, também curada por Paulo Venancio Filho.

Texto curatorial

“Um brasileiro, um argentino, um venezuelano. Este triângulo da geografia artística moderna sul-americana teria ainda um quarto vértice comum na cidade que tão fundamental foi para o desenvolvimento de suas trajetórias artísticas: Paris. Na mítica Galerie Denise René, espaço que congregou várias gerações artísticas construtivas e cinéticas em décadas de exposições, encontraram um ambiente de convivência com as tendências ainda vivas e atuantes do modernismo europeu. Lá, em Paris, mais precisamente na década de 1960, viveram todos os três em períodos variados e coincidentes. É bem possível imaginar um encontro dos três artistas em uma exposição, ateliê ou em um café. Naquela época a Europa atravessava o difícil período do pós-guerra e procurava se regenerar artisticamente; em especial através dos movimentos abstratos geométricos e sua derivação subsequente; a arte cinética. Sergio Camargo (1930-1990), Luis Tomasello (1915-2014) e Carlos Cruz-Diez (1923-2019) vão consolidar sua formação nesse ambiente de contatos, influências, diálogos que caracterizam esses momentos históricos raros de élan intelectual e artístico. Onde mais era possível um jovem artista não só encontrar e conhecer – Brancusi, como foi o caso de Camargo –  e também expor junto com Arp, Vantongerloo, Albers, Van Doesburg, entre outros? E participar de exposições, hoje históricas, como Art Abstrait Constructive International Structures), na Galerie Denise René, em 1961/62, que apresentou tanto os construtivos como os cinéticos, relacionando-os? Na tênue fronteira ou superposição entre o construtivo e o cinético é possível localizar e compreender os trabalhos desses três artistas. A vibração da luz que é provocada em seus trabalhos; o modo como a superfície, principalmente de seus relevos, reage e se modifica, calculada ou aleatoriamente, atua e desestabiliza as nossas certezas visuais. Será que tal aspecto mutável e transformativo era o que atraia esses artistas de culturas em difícil processo de modernização? Acima de tudo é a superfície incerta do relevo, entre a planaridade e a tridimensionalidade, receptiva a elementos circunstanciais que mais se prestam a excitabilidade tanto visual quanto mental empreendida por esses três artistas. A luz é o fenômeno fundamental, e aquele momento único que os impressionistas procuravam captar é por eles “produzido”, alongado e renovado no tempo. Tal empreendimento não foi um evento ocasional, simplesmente explicado pelo contágio parisiense, mas uma determinação artística que se estendeu ao longo de toda a obra dos três. Vistos hoje, há mais de seis décadas após aquele período de efetiva participação na consolidação de uma das tendências artísticas centrais do século XX, não há como não se referir a Camargo, Tomasello e Cruz-Diez senão como mestres modernos.”.

Interseção entre meios artísticos.

18/set

Em “Primavera em Quatro Atos” reúne arte, moda e design em celebração à estação e exibindo a convergência entre pintura, joalheria, moda e arte floral.

A exposição “Primavera em Quatro Atos” exibe as artistas Joana Pacheco e Carolina Lavoisier, com a participação de Camila Luz e Bia a Florista na Art Lab Gallery, Vila Madalena, São Paulo, SP. Com curadoria de Juliana Mônaco, o evento explora a interseção entre pintura, design de joias, moda e arte floral. A mostra estará aberta à visitação de 24 de setembro a 5 de outubro.

A curadora Juliana Mônaco explica que o conceito central da exposição é a sinergia entre diferentes vertentes artísticas que, ao se unirem, evocam a chegada da primavera. Para a curadora, a pluralidade de estilos e técnicas presentes nas obras reflete a diversidade da estação, em que cores, texturas e formas se entrelaçam em harmonia.

Joana Pacheco apresenta joias autorais que traduzem a sensibilidade da natureza em peças que variam entre brincos, braceletes, colares e anéis. Seu processo criativo, fortemente influenciado por elementos naturais, é marcado pela escultura em cera e fundição em metal. Joana, que começou a produzir joias durante a pandemia, destaca que suas criações são uma forma de ressignificar o cotidiano, buscando nas formas da natureza uma beleza muitas vezes não percebida. Sua obra resgata técnicas ancestrais de ourivesaria e propõe uma reflexão sobre o futuro a partir de práticas do passado, como a criação de abelhas, tema presente em suas peças mais recentes.

Carolina Lavoisier traz uma série de aquarelas que exploram a transição e a fluidez das cores. Segundo a artista, o degradê presente em suas obras reflete as mudanças emocionais e os ciclos de vida, em um processo contínuo de transformação. Para Lavoisier, sua intenção é que o espectador experimente uma imersão sensorial, dissolvendo as fronteiras entre o visível e o invisível. Suas pinturas dialogam com o panorama da arte contemporânea ao explorar o abstrato e a emoção por meio de tonalidades que se desdobram em nuances sutis.

A estilista Camila Luz, contribui com dois vestidos que integram o universo da moda à exposição. Com 18 anos de experiência no mercado, é reconhecida por suas criações que transmitem sensibilidade e cuidado com os detalhes. Na exposição, seus vestidos se conectam ao trabalho de design de jóias de Joana Pacheco, criando uma composição única que celebra a arte em diferentes formatos.

A contribuição de Bia a Florista, conhecida por seu trabalho com design floral autoral, encerra o ciclo da exposição. Inspirada na sustentabilidade, transforma flores e plantas em verdadeiras obras de arte, celebrando a efemeridade e a vitalidade da natureza. Suas instalações florais complementam os outros atos da exposição, criando uma atmosfera que convida o público a refletir sobre a relação entre o humano e o natural.

A exposição “Primavera em Quatro Atos” representa um convite para que se explorem as diferentes formas de arte que se conectam na celebração da primavera, com cada ato destacando a relação das artistas com a natureza e sua capacidade de transpor o belo para o campo da criação artística.

As diversas mídias  de Nelson Leirner.

17/set

A CAIXA Cultural Recife foi o espaço escolhido para a primeira exposição com obras do artista Nelson Leirner após seu falecimento em 2020. A mostra “Nelson Leirner: Parque de Diversões” ficará em cartaz até 10 de novembro com 74 trabalhos do artista, entre objetos, pinturas, colagens e outros, com curadoria de Agnaldo Farias. Na abertura houve uma visita guiada com o curador e Agnaldo Farias realizou palestra aberta ao público. No dia 10 de novembro, às 16h, será realizada outra visita guiada, desta vez com Júlia Borges Arana, produtora executiva da Phi, correalizadora da mostra.

Famoso por utilizar meios e mídias pouco tradicionais, Nelson Leirner estudou engenharia têxtil e pintura, na década de 1950. O resultado dessa base é a construção de uma história versátil e bem-humorada em evidência nos trabalhos produzidos nos últimos 20 anos da vida de Nelson Leirner reunidos nessa exposição, que foi pensada para a CAIXA Cultural. Foram selecionadas pinturas, fotografias, estatuetas, imagens de miniaturas, obras em tapeçaria, técnicas mistas, colagens, releituras da Mona Lisa e objetos onde a ironia dá o tom e que fazem um passeio pelo “parque de diversões” que era a mente de Nelson Leirner, um dos mais versáteis artistas contemporâneos nacionais.

Algumas obras da série “Assim é… se lhe parece”, por exemplo, trazem colagens que misturam o universo da Disney com mapas e mundos. Outras obras como “Missa móvel dupla” e “Futebol” são pontos de destaque para que o público observe como o artista respeita o poder dos fetiches religiosos. Além dos interesses espirituais e materiais, perpassados por vetores econômicos e ideológicos: não escapam os brinquedos das crianças, os bonequinhos, os stickers que elas grudam nos cadernos para ornamentar, colecionáveis que assumem uma outra função aos olhos curiosos do visitante frente à aglutinação de elementos.

No desenho curatorial não faltam referências históricas de Nelson Leirner com exemplares de séries e ações importantes realizadas nas décadas de 1960 e 1970. “Nosso objetivo aqui é mostrar a obra onívora que se alimenta de aspectos da vida cotidiana, mas não só, também discute a figura do artista – esse homem incomum, esse gênio que as plateias cultuam com uma admiração, como diria o pernambucano Nelson Rodrigues, “verdadeiramente abjeta”; discute a natureza da obra de arte – ou aquilo que habitualmente é entendido como sendo arte -; e, por fim, discute a sobredeterminação de ambos pela história, pelo modo como estão enredadas num jogo”, explica o curador.

Sobre o artista

Nascido em São Paulo em 1932, foi um pioneiro da arte intermídia e uma figura central na vanguarda brasileira. Após residir nos EUA e estudar pintura com Joan Ponç, Nelson Leirner se destacou por suas apropriações e performances inovadoras, como a “Exposição-Não-Exposição” e o envio de um porco empalhado ao Salão de Arte Moderna de Brasília. Fundador do Grupo Rex e premiado na Bienal de Tóquio, incorporou elementos da cultura popular em suas obras e recebeu diversos prêmios, como o APCA de Melhor Exposição Retrospectiva, em 1994, e ampliou sua atuação para design e cinema experimental. Reconhecido internacionalmente, Nelson Leirner fez sua carreira transgredindo desde o princípio, como artista e como professor, responsável pela formação de toda uma geração de artistas.​

A emergência do novo.

10/set

O artista plástico Júlio Vieira ocupa o Centro Cultural Correios Rio de Janeiro com “Entrespaços”, exposição que apresenta pinturas em óleo e acrílica e objetos que exploram novas concepções de paisagem.

Em telas de grande e média escala, o artista sobrepõe e redimensiona múltiplas camadas para criar espaços imaginários. Indo além dos elementos orgânicos comuns na pintura de paisagem tradicional, o artista inclui em suas obras elementos territoriais, de identidade e subjetivos. Camadas e perspectivas são embaralhadas, possibilitando ao observador diferentes olhares sobre o seu entorno. Entre os elementos, todos retirados de lugares reais, estão referências coletadas por Júlio Vieira em seus deslocamentos cotidianos por metrópoles no Brasil e no exterior e homenagens à iconografia de artistas que admira. Segundo a curadora Daniela Avellar, os entrespaços são “espaços onde podemos perceber a emergência do novo”.

O artista ainda apresenta a série de bandeiras “7 ervas”, onde explora questões da pintura em formato tridimensional. Confeccionadas em veludo e feltro, cada uma delas traz bordada a imagem de uma erva relacionada a poderes de proteção na cultura brasileira, criando um espaço para o ritual e o sensível.

Até 26 de outubro.

Exposição inédita de Alex Flemming

27/ago

A exposição inédita “Alex Flemming 70 Anos”, a mais nova realização do Museu Oscar Niemeyer (MON), Curitiba, PR, será inaugurada no dia 29 de agosto, na Sala 3. Com curadoria de Tereza de Arruda, a mostra reúne mais de 80 obras, algumas de grandes dimensões. Alex Flemming é um artista brasileiro reconhecido internacionalmente e que vive há décadas entre a Alemanha e o Brasil.

“Alex Flemming é, sem dúvida, um dos maiores artistas brasileiros de sua geração e ao longo de sua carreira teve conexões e presenças importantes no Paraná. Para nós, é uma honra apresentarmos uma mostra que celebra seus 70 anos aqui no Museu Oscar Niemeyer”, afirma Luciana Casagrande Pereira, secretária de Estado da Cultura do Paraná.

A diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika, informa que ‘”a mostra comemorativa de Alex Flemming leva nosso público a entrar em contato direto com o melhor da produção contemporânea”. Ela comenta que Alex Flemming, artista sempre irreverente e observador, traz em suas obras um retrato atual que vai além da simples representação do que vê. ‘”Ele traduz sua visão aguçada e atenta ao falar sobre um mundo caótico e cheio de vertentes. Aborda diversas questões sociais com a sutileza que só a arte permite”, diz Juliana Vosnika.

Na exposição estão trabalhos realizados de 1982 a 2023. As obras, impregnadas de símbolos e mensagens, convidam o espectador a extrapolar o senso comum. São camadas que ganham significado próprio a partir do olhar singular de cada visitante. Por meio de técnicas inovadoras e abordagens conceituais, como as presentes no universo de Alex Flemming, tem-se a expansão dos limites do retrato e do retratado, desafiando o espectador a reconsiderar suas percepções sobre o artista, sobre si mesmo e sobre os outros. A exposição reúne em suas obras técnicas variadas, como fotografia sobre vidro, óleo sobre tela, esmalte sobre madeira, acrílica sobre tecido e pintura sobre porcelana.

O tema “Retrato” foi intencionalmente selecionado para esta mostra comemorativa porque a representação humana é o eixo fundamental e seminal da pesquisa plástica de Alex Flemming. Segundo a curadoria, a mostra apresenta a recorrência do retrato em sua vasta produção. “Historicamente, ao longo dos séculos, o gênero do retrato evoluiu de uma representação fiel da aparência física para uma exploração profunda da identidade e da subjetividade do retratado”, explica Tereza de Arruda. “O retrato contemporâneo, como pode ser visto nesta mostra, explora frequentemente a identidade de maneiras complexas, abordando questões de gênero, raça, sexualidade, classe social e cultural”. Ainda segundo a curadora, ‘”deixou de ser uma simples representação da aparência externa para se tornar uma investigação profunda das complexidades da identidade humana – um espelho da sociedade -, refletindo suas tensões, transformações e diversidades”.

Sobre o artista

Alex Flemming nasceu em 1954, em São Paulo, SP. Vive e trabalha em São Paulo e Berlim. Estudou Cinema na FAAP e Arquitetura na USP, e é autodidata em artes visuais. Realizou vários curtas-metragens em Super-8, com participação em festivais. A partir do final da década de 1970, passa a se dedicar exclusivamente às artes plásticas. Realiza sua obra sempre em séries, e a primeira delas denuncia a violência da tortura nos porões da ditadura militar brasileira (série ‘”Natureza Morta”, 1978). Sua arte é basicamente política e vem, no decorrer dos anos, abordando temas como a guerra (série ‘”Body Builders”, 2000), o 11 de Setembro (série ‘”Flying Carpets”, 2003) ou o terrorismo (série “Apocalipse”, 2015). Outro tema sempre presente é o corpo humano, “o ser humano como centro do universo”, como o próprio artista diz, é o foco da mostra “Alex Flemming 70 Anos”.

Sobre a curadoria

Tereza de Arruda é mestre em História da Arte pela Universidade Livre de Berlim e acompanha, desde 1991, a produção de Alex Flemming, expondo suas obras em inúmeras mostras no Brasil e no exterior. Entre elas, a exposição individual “Flying Carpets”, realizada em 2005, no Chicago Cultural Center; “Alex Flemming: Sistema Uniplanetário”, em 2008, na St. Johannes Kirche, em Berlim e no MAM – Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro”, “Alex Flemming: Galileu Galilei”, em 2011, no Museu Nacional de Belas Artes em Santiago no Chile, além da mostra coletiva “Brasilidade Pós-Modernismo”, realizada de 2021-2022, no circuito CCBB no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte.

Um artista fudamental

23/ago

Mostra no Masp, São Paulo, SP, celebra obras do período mais consagrado de Leonilson. As obras   produzidas nos últimos cinco anos de vida de Leonilson (1957-1993) – período em que ficou conhecido como Leonilson Tardio e que apresenta o momento mais rico e complexo do artista – serão apresentadas no Museu de Arte de São Paulo (Masp). A exposição apresenta mais de 300 pinturas, desenhos, bordados, instalações e documentos de Leonilson, que refletem suas perspectivas políticas, públicas e íntimas. A curadoria da mostra é de Adriano Pedrosa, com assistência curatorial de Teo Teotonio.

“Leonilson é um artista fundamental na história da arte contemporânea brasileira, uma figura incontornável do final dos anos 1980 e início de 1990 e entre os artistas que trabalham com a temática queer em suas obras no panorama internacional”, disse Adriano Pedrosa, em entrevista à Agência Brasil. “Seu trabalho tem caráter extremamente particular, diarístico, refletindo sobre os temas de seu cotidiano, sejam mais pessoais, mais políticos, numa dimensão queer, ainda que sempre cheios de poesia, lirismo e beleza. Os últimos anos de sua produção, sobretudo a partir de 1989, são quando o artista produz as obras mais extraordinárias”.

São esses trabalhos produzidos em seus últimos anos (1989-1993) que serão apresentados de forma cronológica em cinco salas do primeiro andar do museu, cada uma dedicada a um desses anos. “O ano de 1989 é um ponto de inflexão na trajetória do artista, e os cinco últimos anos de sua produção, de 1989 a 1993, são o período mais maduro, rico e complexo, quando ele produz obras verdadeiramente extraordinárias – tanto em desenho, pintura e, sobretudo, o bordado, culminando com seu último trabalho, a monumental Instalação sobre duas figuras (1993), apresentada na Capela do Morumbi, em São Paulo, poucas semanas antes de sua morte, e que nós remontaremos na exposição”, contou o curador.

Nesses últimos cinco anos de vida, Leonilson desenvolveu um trabalho mais poético, com economia de cores e traços, trabalhando essencialmente com desenhos, objetos e bordados. Foi como uma espécie de diário que ele começou a retratar temas como o amor, os amantes, a sexualidade, as minorias e a aids. “Em 1991, descobre ser portador do vírus da aids, morrendo pouco menos de dois anos depois, em maio de 1993. Embora Leonilson tenha tido sucesso e reconhecimento em vida no Brasil, foi só após a morte que seu trabalho começou a adquirir reconhecimento internacional mais significativo”, explicou Adriano Pedrosa.

O próprio artista falou sobre sua obra produzida nesse período em entrevista a Pedrosa no ano de 1991. “De uns tempos pra cá, meus trabalhos ficaram mais maduros, ao mesmo tempo em que penso mais sobre minha sexualidade, a forma de me relacionar com as pessoas, de encarar o mundo, de viver o dia a dia. Eu acho que o trabalho não deixa de ser pessoal, não deixa de ser um diário, mesmo esses trabalhos da minoria. Eu percebo a segregação que existe. E eu, é óbvio, faço parte de uma dessas minorias”.

Além do primeiro andar, o primeiro subsolo do museu vai apresentar suas ilustrações feitas para a coluna de comportamento Talk of the town – o ti-ti-ti da cidade, de Barbara Gancia no jornal Folha de S.Paulo, além dos vídeos documentais Com o oceano inteiro para nadar (1997), dirigido por Karen Harley, e A paixão de JL (2014), dirigido por Carlos Nader.

A exposição Leonilson: agora e as oportunidades integra a programação anual do Masp dedicada às histórias da diversidade LGBTQIA+ e fica em cartaz até 17 de novembro. “Leonilson é uma figura incontornável no panorama internacional de artistas, trabalhando com temas queer nos anos 1990 e, de fato, um pioneiro no cenário brasileiro. Hoje vemos muitos artistas trabalhando abertamente com essas questões, mas ele foi o primeiro a tratar temas, narrativas e figuras relacionados à homoafetividade, sexualidade, e à própria aids”.

Kang Seung Lee

Além da exposição com obras de Leonilson, o Masp inaugura a mostra dedicada ao trabalho do artista sul-coreano Kang Seung Lee. A curadoria é de Amanda Carneiro. “Ele tem trabalhado com uma série de artistas que morreram por causa da epidemia da aids, sobretudo nos anos 90. Ele nasceu na Coreia do Sul e mora atualmente em Los Angeles, nos Estados Unidos, que é uma cidade que sofreu bastante o impacto da epidemia de aids”, contou a curadora. O trabalho de Kang Seung Lee será apresentado na sala de vídeo, com o filme Lazarus, que homenageia vidas e memórias perdidas durante a epidemia do HIV/aids. Esse filme será apresentado simultaneamente na Bienal de Veneza. No filme, Kang Seung Lee reinterpreta a obra Lásaro, de Leonilson, uma instalação feita com duas camisas costuradas juntas, considerada o último trabalho do artista brasileiro e que estará em exposição na mostra. Lee também se inspira no balé original Unknown Territory, do coreógrafo singapurense Goh Choo San (1948-1987).

“O vídeo se baseia numa das obras de Leonilson que estará em exposição, inclusive”, disse a curadora. “Ele toma esse trabalho, Lázaro (de Leonilson), para utilizar como motivo de um filme, que é inspirado por sua vez num coreógrafo pioneiro chamado Goh Choo San. Esse coreógrafo é de Cingapura e também morreu em decorrência da aids. Ele conseguia mesclar o balé clássico com movimentos contemporâneos com uma qualidade introspectiva – e introspecção é também um tema da obra do Leonilson”, explicou a curadora. O filme apresenta um dueto de movimentos mínimos e intencionais. Ao replicar a obra de Leonilson em Sambe, tecido de cânhamo tradicionalmente usado na Coreia para mortalhas funerárias, os bailarinos interagem coreografando uma homenagem às vidas e memórias perdidas durante a epidemia do HIV/aids, inclusive às de ambos os artistas nos quais ele se inspirou e que faleceram de doenças decorrentes do vírus. “O filme tem também outros elementos que anunciam relações de significado. Por exemplo, no filme você vê a língua de sinais estadunidense, que é uma provocação que coloca a pessoa observadora com a relação da tradução, com a ideia de percepção e entendimento, porque a gente não sabe ler essa língua. Mesmo nos Estados Unidos, boa parte das pessoas não sabe essa língua, então ela comunica com um público bastante específico. E essa é uma provocação interessante. Isso adiciona nova camada de sentido”, destacou.

A Sala de vídeo: Kang Seung Lee fica em cartaz até 24 de outubro.

Fonte: agência BRASIL

  

Leda Catunda e a Paisagem selvagem

09/ago

A Fortes D’Aloia & Gabriel apresenta até 05 de outubro, “Paisagem selvagem”, a nova mostra de Leda Catunda na Carpintaria, que marca o retorno da artista ao Rio de Janeiro uma década após sua última exposição individual na cidade, no Museu de Arte Moderna. Os trabalhos apresentados mostram uma inflexão barroca na sua pesquisa, onde o acúmulo de elementos têxteis e citações imagéticas que caracteriza sua obra é intensificado por uma multiplicação de procedimentos e ornamentos e pela proliferação de formas de língua, saliências, barrigas estofadas e abas de tecido de todas as cores. Refletindo sobre o fluxo de estímulos visuais e digitais, Leda Catunda se debruça sobre nossa exposição incessante aos ícones, signos e emblemas da cultura de massas.

Acrescentando uma gama de referências paisagísticas a essa dimensão tipicamente contemporânea, a artista abre caminho para uma paradoxal junção de natureza e artifício, desierarquizando pretensões de gosto e registros altos e baixos num processo onívoro e voraz. Nesses híbridos de pintura e objeto, motivos históricos como o santo católico em São Tomás (2024) convivem com as logomarcas e gráficos ready-made de um trabalho como Paisagem selvagem II (2024). Em Cinema (2024), estampas de camisetas com imagens de filmes cult, como “Lolita” ou “De volta para o futuro” formam a superfície de um volume almofadado, numa compilação de referências reunidas pela artista que entrelaça o lado afetivo da memória com os objetos e produtos da indústria cultural.

A produção de formas curvas, serpentinadas, enrugadas, enroladas, dobradas, acumuladas, antitéticas e labirínticas alcança o volume máximo em “Paisagem selvagem II”, citada acima, e “Caprichosa” (2024), onde toda essa cornucópia visual se dispõe em um tableau de cenas fragmentárias. Nestas obras a tendência maximalista e cumulativa deste corpo de trabalho se condensa de maneira enfática.

Desde sua última mostra individual no ICA Milano, em 2023 na Itália, a ênfase de Leda Catunda sobre o drapeado, o caimento, a costura e a estamparia fazem da indumentária, da silhueta e da fisionomia humanas material de composição plástica e conceitual, principalmente em trabalhos como “Sete saias” (2024).

“O excesso de imagens em tudo que nos cerca gera uma forte ilusão de velocidade. Seja no âmbito virtual, na internet, ou real nas irriquietas superfícies que revestem as cidades, nas ruas, edifícios ou mesmo nas roupas das pessoas, essa visualidade pungente parece provocar a sensação de um encurtamento do tempo. Assim nos tornarmos ansiosos do porvir, de um futuro que nos surpreenda mesmo sem que tenhamos podido optar, escolher. Nessa nova realidade nada acontece, tudo flui. E, desta maneira a vida segue o fluxo louco dos acontecimentos repentinos. A adaptação implica noutra sorte de raciocínio, numa modificação do sistema associativo para reencontrar capacidade de leitura deste novo real e assegurar espaço para novas ideias e novos destinos.” – Leda Catunda

A exposição é acompanhada por um ensaio crítico de Carlos Eduardo Riccioppo, Professor Doutor do Departamento de Artes da Universidade Estadual Paulista – Unesp.

Edições 10 e 11 da Casa Tato

06/ago

A Galeria Tato, Barra Funda, São Paulo, SP, apresenta o “Ciclo Expositivo 10 e 11”, mostra que reúne cerca de 30 obras de 28 artistas participantes de duas edições da Casa Tato, programa principal da galeria, que trabalha a inclusão de artistas promissores no sistema da arte. A abertura ocorre em sua sede, na Barra Funda, o circuito efervescente de arte na capital paulista. A curadoria é de Sylvia Werneck e Claudinei Roberto da Silva, com assistência de Maria Eduarda Mota. Em exibição até 28 de agosto.

Nessa exposição, os artistas participantes das edições 10 e 11 da Casa Tato se encontram no meio do caminho. O primeiro grupo conclui seu ciclo de acompanhamento, enquanto o segundo o inicia. São eles, respectivamente:

Adriana Nataloni, Anna Vasquez, Bianca Lionheart, Desirée Hirtenkauf, Edu Devens, Gela Borges, Glenn Collard, Isabel Marroni, Janice Ito, Jaqueline Pauletti, Marcelus Freschet, Marina Marini Mariotto Belotto, Neto Maia, Tomaz Favilla.

Catia Goffinet, Chalirub, Christian Sendelbach, Fause Haten, Genô Ribeiro, Izidorio Cavalcanti, Leandersson, Mariana Serafim, Mariane Chicarino, Melina Cohen Rubin, Otavio Veiga, Paulo Troya, Silvana Archillia e Simone Freitas.

Nara Roesler SP exibe Julio Le Parc

05/ago

Exposição Julio Le Parc: Couleurs, 50 obras recentes e inéditas do gênio da arte cinética estarão em exibição na Galeria Nara Roesler São Paulo, Jardins, SP, a partir do dia 08 de agosto.

Trata-se da exposição “Julio Le Parc: Couleurs” do grande mestre da arte cinética. Pinturas, desenhos, um móbile em grandes dimensões, com quatro metros de altura por três metros e meio de largura, e duas estruturas luminosas – em que a luz interage diretamente com as placas cromáticas, provocando um efeito luminoso vertical e ascendente – ocuparão dois andares da Nara Roesler São Paulo. Ativo aos 96 anos, o artista argentino radicado em Paris desde os anos 1950, deu à exposição um título em francês, que significa “Cores”.

Entre as obras, está um conjunto de treze pinturas da série “Alquimias”, criadas este ano que, vistas de longe parecem nuvens cromáticas que vibram, e de perto se percebem as mínimas partículas de cor presentes nas composições. Nesses trabalhos que têm tamanhos que variam de três metros a 1,5 metro, Julio Le Parc se debruça sobre o estudo da cor, suas diferentes paletas e os resultados obtidos a partir da interação entre elas. Sua paleta é constituída de catorze tonalidades, que vem utilizando desde 1959, e que vai desde tons mais quentes, como o vermelho e o laranja, até os mais frios, como o azul e o roxo. No entanto, nas “Alquimias”, as cores são reduzidas a pequenos fragmentos, como se fossem partículas, que se agrupam e se organizam de diferentes maneiras. Vistas de longe, o espectador tem a sensação de estar diante de nuvens cromáticas que vibram conforme as tonalidades se friccionam entre si, mas, de perto, ficam visíveis as partículas de cor presentes nas composições.

Outra série pictórica presente na mostra na qual Julio Le Parc coloca lado a lado faixas de cor que vão dos tons mais quentes aos mais frios, e que através de esquemas sinuosos as cores se intercalam, criando uma superfície dinâmica. São elas “Ondes 174” (2024), “Gamme 14 couleurs Variation 8” (1972/2024), “Gamme 14 couleurs Variation 7” (1972/2024) e “Théme 72-7” (1973/2023), todas elas em tinta acrílica sobre tela.

Obras tridimensionais de Julio Le Parc, uma de suas marcas de beleza e de experimentos cinéticos, estão também na exposição: “Mobile Color” (2024), com placas de acrílico colorido suspensas por fio de nylon, totalizando quase quatro metros de altura por 3,5m de largura, em que o artista propõe a mesma transição cromática nas séries de pinturas expostas; e as duas estruturas luminosas – “Continuellumière” (1960/2023) e “Continuellumière – verte” (1960/2023), ambas em madeira, acrílico, luz e folha colorida, que contém placas de acrílico coloridas com padrões geométricos. Uma vez acesas, a luz interage diretamente com as placas cromáticas, provocando um efeito luminoso vertical e ascendente.

Um conjunto de 27 desenhos feitos em técnica mista sobre papel, com 29x21cm cada um, chamados de “Proyectos para alquimia”, revela ao público o processo criativo e experimental de Julio Le Parc, nos estudos de cor feitos para suas pinturas da série “Alquimia”. O principal interesse poético de Julio Le Parc é o estudo do movimento, que ao longo de sua trajetória foi explorado das mais diversas maneiras: por meio de pinturas, experimentações com espelhos e outras superfícies reflexivas, instalações, motores e mesmo instalações mais ousadas, como o conjunto que realizou para a Bienal de Veneza de 1966 que, para incluir o espectador, transformou a instalação em um parque de diversões.

Até 19 de outubro.

Dois artistas na Paulo Darzé Galeria

29/jul

A exposição “Trilha dos ossos”, exibição individual de Fábio Magalhães, terá sua mostra na Paulo Darzé Galeria, Salvador, BA, com abertura no dia 30 de julho e também promove a abertura da exposição “Num rastro de relâmpago”, do fotógrafo Aristides Alves. .

Construída em três atos, a mostra “Trilha dos ossos” propõe uma reflexão sobre o tempo e a complexidade da condição humana diante do devir, tentando compreender e lidar com uma realidade inevitável: o fim experiência humana. A mostra tem curadoria de Tereza de Arruda.

Sobre o artista

Fábio Magalhães nasceu em Tanque Novo, Bahia, em 1982. Vive e trabalha em Salvador. Ao longo da carreira, realizou exposições individuais, a primeira em 2008, na Galeria de Arte da Aliança Francesa, em Salvador. Na sequência, “Jogos de significados” (2009), na Galeria do Conselho; “O grande corpo” (2011), Prêmio Matilde Mattos/FUNCEB, na Galeria do Conselho, ambas em Salvador; e “Retratos íntimos” (2013), na Galeria Laura Marsiaj, no Rio de Janeiro. Foi selecionado para o projeto Rumos Itaú Cultural 2011/2013. Entre as mostras coletivas estão: “Convite à viagem” – Rumos Artes Visuais, Itaú Cultural, em São Paulo; “O fio do abismo” – Rumos Artes Visuais, em Belém (PA); “Territórios”, Sala Funarte, em Recife (PE); “Espelho refletido”, Centro Cultural Helio Oiticica, no Rio de Janeiro (RJ); “Paraconsistente”, no ICBA, em Salvador (BA); 60º Salão de Abril, em Fortaleza (CE); 63º Salão Paranaense, em Curitiba (PR); XV Salão da Bahia, em Salvador (BA); e I Bienal do Triângulo, em Uberlândia (MG), entre outras. Entre os prêmios que recebeu, destacam-se: Prêmio Funarte Arte Contemporânea – Sala Nordeste; Prêmio Aquisição e Prêmio Júri Popular no I Salão Semear de Arte Contemporânea, em Aracaju (SE); Prêmio Fundação Cultural do Estado, em Vitória da Conquista (BA), e Menção Especial em Jequié (BA).

“A cada dia que entro no meu espaço de produção artística, reafirma-se em mim que a Arte nos dá a capacidade de imaginar e interagir criticamente com o mundo em que vivemos.”

Fábio Magalhães

A Paulo Darzé Galeria também promove a abertura da exposição “Num rastro de relâmpago”, do fotógrafo Aristides Alves. As fotos constroem uma narrativa com base na memória pessoal e familiar, mas com uma perspectiva universal, compondo um arco que contempla desde o firmamento até o interior do próprio corpo, em diálogo constante com a impermanência e a efemeridade.

Sobre o artista

Aristides Alves nasceu em Belo Horizonte. Desde 1972 mora em Salvador, onde se formou em Jornalismo e Comunicação pela Universidade Federal da Bahia. Realizou a exposição coletiva Fotobahia (1978/1984); foi coordenador do Núcleo de Fotografia da Fundação Cultural do Estado da Bahia, produziu e editou o livro A fotografia na Bahia (1839/2006). Foi um dos fundadores da primeira agência baiana de fotografia, a ASA, e correspondente da agência paulista de fotojornalismo F4. Participou da diretoria executiva da Rede de Produtores Culturais de Fotografia no Brasil e do Fórum Baiano de Fotografia. Realizou diversas exposições individuais e participou de importantes coletivas no Brasil e no exterior. Atualmente realiza trabalhos autorais, projetos editoriais, curadoria e montagem de exposições. Tem 19 livros publicados, dedicados à investigação da paisagem humana e natural do Brasil. Suas imagens estão nos acervos de importantes instituições culturais brasileiras: MAM-Bahia, MAM-Rio de Janeiro, MASP-São Paulo, Museu Afro Brasil-São Paulo e Museu da Fotografia Cidade de Curitiba.