Aula Aberta 397

16/abr

É namoro ou amizade: É possível definir as relações entre artistas e curadores?
No dia 17 de abril, o Ateliê397, Pompéia, São Paulo, SP,  reúne seu time de professores para discutir a relação entre artistas e curadores. Junto à mesa formada pelos artistas Rodrigo Bivar e Raphael Escobar e os críticos-curadores Thais Rivitti e Carlos Eduardo Riccioppo, os alunos dos cursos e público interessado problematizarão sobre o tema.
Desde a histórica mostra de Harald Szeemann “When attitudes becomes form”, de 1969, o papel do curador tem sido fundamental para criar mediação entre artista, instituições e público. Mas, embora essencial, tal prática se vê comumente questionada, paradoxalmente, pelas mediações propostas. Nesse sentido, observamos uma independência do artista da figura do curador, tornando ele próprio artista-etc, como disserta Ricardo Basbaum em seu provocativo artigo “Amo artistas-etc”, como parte da publicação coletiva “The Next Documenta Should Be Curated By An Artist”, que reuniu artistas para pensar como seria a organização de uma grande mostra com a ausência da figura de um curador.Durante o encontro, não pretendemos defender lados, mas sim provocar o pensamento acerca das práticas tanto curatoriais, quanto artísticas, e elencarmos (se possível) razões que aproximam, distanciam ou geram casamentos de sucesso entre esses dois agentes da arte contemporânea. 

TRELA #3 apresenta: Denise Alves Rodrigues

 

O programa TRELA, que estreou este ano no Ateliê397, tem como estrutura convidar a(o) artista para trazer e debater um trabalho de sua autoria, numa conversa aberta guiada a partir de interlocutores convidados. TRELA parte do anseio de encontrar novas formas de trazer trabalhos a público, mesmo na ausência de grandes estruturas, mediações institucionais ou cronogramas, sem que seja perdida a densidade do debate que as obras podem provocar.
Em sua terceira edição, Denise Alves-Rodrigues apresenta a Série T2283Bunke. No dia 19/04 será realizado o debate com interlocução de Julia Coelho e mediação de Flora Leite.

 

A Série T2283Bunke foi desenvolvida pela artista em residência na KIOSKO Galería (Santa Cruz, Bolívia) em 2016. Tamara Bunke foi uma guerrilheira argentina que lutou ao lado de Che Guevara na Bolívia morta em 1967 e o asteróide 2283Bunke foi descoberto pela astrônoma soviética Lyudmila Zhuravlyova em 26 de Setembro de 1974 e nomeado em sua homenagem. T2283Bunke é composta por trabalhos que constróem diferentes mecanismos e resultados de coleta e apresentação de dados relacionados à guerrilheira e ao asteróide.

 

Sobre a artista
Denise Alves-Rodrigues em 1981, vive e trabalha em São Paulo. É tecnóloga autodidata, artista plástica e astrônoma amadora. Iniciou seus estudos de Artes em Ribeirão Preto – SP e é bacharel em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo – 2012.  Inventa aparatos eletrônicos e dispositivos astronômicos para coleta de dados – do céu, da água e da terra – pesquisando as fricções entre técnica e representação.

 

 

De16 a 22 de abril.

 

Exposição protesto na Gamboa

09/abr

A exposição coletiva “Absurdo é ter medo”, sob curadoria de Marco Antonio Teobaldo, é o próximo cartaz da Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ.  Uma convocatória aos artistas foi realizada recentemente pelo Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), Fuso Coletivo e o curador da mostra, e a partir de então, foi desencadeado um movimento com a seguinte pergunta: qual é o papel do seu trabalho como ativismo e manifestação sociopolítica diante deste caos, no Rio de Janeiro?

 

Como ação inicial deste movimento, foi idealizada a exposição coletiva “Absurdo é ter medo”, na qual 20 artistas apresentam trabalhos que ajudam a refletir sobre situações de racismo, feminicídio e outras formas de preconceito, diferenças ideológicas e sociais e sentimento de impotência diante de tantas tragédias que saltam aos olhos diariamente. De acordo com o curador da exposição, Marco Antonio Teobaldo, neste eclético conjunto de obras (sendo que algumas delas foram criadas especialmente para a mostra) são exibidas pinturas, fotografias, desenhos, esculturas, objetos e graffiti, que estarão disponíveis para serem arrematadas em leilão na própria galeria, cuja arrecadação será integralmente destinada à manutenção do IPN, que, desde o ano passado, vem sofrendo sistemática ação de descaso pelo poder público.

 

Não por acaso, a inauguração da exposição coincide com a data de um mês após o assassinato da vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, cuja investigação que se encontra em curso não resultou em nenhuma resposta efetiva.

 

A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea é um espaço voltado para exposições e experimentações, no qual os artistas são convidados a entrar em contato com o sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos e desta forma, trazer o pensamento e a produção artística para o contexto da história que o local abriga.

 

 

Artistas participantes

 

Ana Marta Moura – André Bauduin – Angela Camara Correa – Antonio Sérgio Moreira – Bob N – Cecilia Cipriano – Daniela Dacorso – Estevão Robalo – Fuso Coletivo – Heberth Sobral – Gejo – Geleia da Rocinha – Leila Pugnaloni – Mônica Alencar – Ozi – Patrícia Francisco – Pedro Carneiro – Róger Bens Culturais – Sérgio Adriano H – Smael – Tito Senna – Wilbor – Wolmin

 

 

Abertura: 14 de abril de 2018 ás 16 horas

De 17 de abril a 14 de maio.

 

Leilão de parede: durante o período de visitação, lance final no dia 14 de maio.

 

Almeida e Dale exibe Mestre Didi

06/abr

Tradição e contemporaneidade, religião e arte: a produção artística do baiano Mestre Didi (1917-2013) é permeada por dualidades. Um dos raros artistas afro-brasileiros a ter pleno reconhecimento da crítica de arte nacional e internacional, Didi possui um trabalho ligado aos objetos sagrados do culto do Candomblé e é comumente referido como sacerdote-artista. A partir do dia 07 de abril, a galeria paulistana Almeida e Dale, Jardins, São Paulo, SP, apresenta ao público “Mo Ki Gbogbo In – Eu saúdo a todos”, exposição que traz um breve panorama do percurso artístico deste soteropolitano. A mostra é realizada em parceria com a Paulo Darzé Galeria, de Salvador.

 

Com curadoria de Denise Mattar e Thaís Darzé, a exposição toma como título uma frase comumente usada por Mestre Didi, que sempre se propôs a juntar as diversidades, em busca da harmonia. A mostra reúne um conjunto de 48 obras do artista. O recorte curatorial valoriza os anos 1980, período áureo de sua produção, quando conseguiu imprimir sua marca pessoal e inventiva ao processo de recriação das tradições da cultura afro-brasileira. Mas há raridades como a escultura em madeira Yao Morogba, de 1950.

 

Batizado de Deoscóredes Maximiniano dos Santos, o artista foi um dos mais importantes sacerdotes afro-brasileiros do país, responsável por traduzir a visão de mundo africana e sua experiência de vida, utilizando a arte como suporte. “Expressões culturais de origem africana, em especial da região do Benin, se consolidaram em Salvador através de séculos de estratégias de sobrevivência, tornando-se presentes no cotidiano. É neste cenário de ebulição da cultura negra, nessa cidade que é berço do Candomblé e das tradições africanas e nesse contexto religioso ímpar que surge Mestre Didi com sua cosmovisão, que vai nas origens para dialogar com a atualidade”, afirma Thais Darzé.

 

Concebidas de acordo com uma sabedoria iniciática, suas esculturas possuem texturas, matérias, formas e cores específicas, cada qual com o seu significado. As formas de suas obras expressam a visão do mundo nagô, construído numa dinâmica de mobilização e circulação do axé, a energia vital. Suas elaborações, por sua vez, derivam dos emblemas dos orixás do Panteão da Terra: Nanã e seus três filhos míticos, Obalauaê, Oxumaré e Ossain.

 

“No Ocidente, somos herdeiros do pensamento racional, cartesiano e individualista, tomando-o como sinônimo da verdade. Durante muito tempo, apenas a arte ocidental era considerada Arte, posição prepotente ainda hoje preconizada por alguns setores do circuito artístico”, aponta a curadora Denise Mattar. “A cultura negra é plural, não compreendida como uma unidade oposta ao mundo exterior. Cada ser carrega em si a família, os ancestrais e as entidades divinas, trocando com seus pares a energia vital. Nesse sentido, a arte de Mestre Didi é uma expressão disso e integra-se, portanto, a essa cosmovisão”, completa.

 

A exposição traz também referências visuais, como ibirís e xaxarás originais, depoimentos de Mestre Didi, além de fotos de artistas com quem manteve relações ao longo da vida. Entre eles, Pierre Verger e Mário Cravo Neto. A ideia é proporcionar ao visitante um mergulho no imaginário afro-brasileiro. A mostra será complementada por um catálogo, publicação que reunirá não apenas obras da exposição, mas textos das curadoras e uma cronologia ilustrada.

 

 

De 09 de abril a 26 de maio.

Arden Quin em Curitiba

A Simões de Assis Galeria, Curitiba, PR, exibe a exposição “Carmelo Arden Quin – A Utopia Modernista”, com obras do artista uruguaio do Grupo Madí, sob a curadoria de Felipe Scovino.

 

 

Carmelo Arden Quin: modernidade e invenção

 

Carmelo Arden Quin é um artista uruguaio que se estabelece na Argentina em meados dos anos 1930. É importante contextualizar esse período histórico, porque ao largo dos golpes de Estado que se sucederam em diferentes países da América Latina naquele momento, a arte floresceu e alcançou uma qualidade que está sendo somente agora reconhecida mundialmente. Arden Quin faz parte da geração seguinte a de outro artista uruguaio, Joaquín Torres Garcia. Esse aliou de forma altamente qualitativa a linguagem construtiva – ainda dando os seus primeiros passos nas Américas – cosmologia e espiritualidade com um traço naif sem de forma alguma ser ingênuo. Algo próximo da pesquisa de Paul Klee mas com uma originalidade assustadora. Infelizmente, essa produção nascida no Uruguai que antecipa questões formais e conceituais e que como fios acabaram tecendo laços com a arte construtiva brasileira ainda é pouco conhecida por nós. E daí a importância dessa exposição inaugural da Simões de Assis Galeria de Arte em São Paulo.

 

Em 1938, Arden Quin deixa o Uruguai e segue para Buenos Aires. Encontra uma Argentina em franco declínio social e econômico depois de ser uma das maiores potências das Américas. O país assistiu logo após o fim da Segunda Guerra Mundial a ascensão de Perón ao poder e a contínua política de nacionalização. Contudo, no campo das artes plásticas, em meados daquela década a Argentina inscreveria seu nome na história da arte ao ser a base do Grupo Madí. Como afirma o manifesto do grupo escrito em 1946:

 

Madí confirma o desejo do homem de inventar objetos ao lado da humanidade lutando por uma sociedade sem classes que libera a energia e domina o espaço e o tempo em todos os sentidos, e a matéria em suas últimas consequências.

Era o começo, digamos, mais maduro de uma prática consistente da arte não-figurativa na América Latina. Arden Quin, Gyula Kosice, Lidy Prati, Rhod Rothfuss, dentre outros artistas, estabelecem a base para a linguagem construtiva na Argentina. Suas pesquisas incluem diversos interesses e escolas da arte, como construtivismo, cubismo e mesmo o surrealismo. A obra de Arden Quin, naquele momento, estava fincada em proposições não-ortogonais e principalmente na ideia de desconstruir os limites da moldura. Interessava a ele ter a moldura não como um elemento redutor do espaço pictórico mas como parte intrínseca da obra. A moldura passava a ser um elemento de diálogo consistente com as formas geométricas construídas pelo artista. Essa situação, aliás, é bem demonstrada com uma reunião de obras importantes dessa fase na exposição. Em Forme Madí 2B (1946), por exemplo, observem como a linha da moldura obedece ou dialoga com o conjunto em seu interior, formado pelas figuras geométricas irregulares. Há um interesse claro em metaforicamente destruir barreiras e integrar moldura, formas e cores como elementos pictóricos. Os artistas do grupo Madí se interessavam por outras formas planares que não são simplesmente as ortogonais. Começaram a elaborar outros polígonos, regulares ou irregulares, que se convertiam em pentágonos, hexágonos, círculos e toda a sorte de figuras geométricas.

 

Interessante perceber que o princípio da quebra, concreta e metafórica, da moldura também se manifestará poucos anos depois no Brasil. Lygia Clark começa em 1952 a produzir Superfície modulada e Planos em superfície modulada. Em ambas as séries, a artista desenha a lápis sobre o cartão uma série de polígonos regulares ou irregulares, sempre utilizando para efeitos óticos a relação entre cheio e vazio, por conta do preenchimento ou não do interior desses polígonos com grafite preto ou cinza. Criava-se, portanto, ainda no plano, um embaralhamento entre as posições de figura e fundo. Esses estudos se transformavam em pinturas feitas em tinta industrial sobre madeira, e o que antes era lápis demarcando as fronteiras entre os polígonos se transforma em fissura. A artista cravava essas linhas fronteiriças com bisturi. Foi um passo importante para o que ela chamou de “linha orgânica” e que chegou até à sua célebre série Bichos (1960-64), pois os polígonos das superfícies moduladas se soltam do plano, alcançam o espaço e passam a ser modificados por meio de dobradiças nas esculturas.

 

Esse foi um breve comentário sobre as possíveis conexões do trabalho de Arden Quin com a arte brasileira. Chama-me também a atenção a sua série intitulada Forme Galbée (1971), presente na mostra. Eis a sua mais esplêndida pesquisa acerca do cinético. Outro ponto alto dessa exposição é a oportunidade de termos acesso a um número robusto de obras do artista ao mesmo tempo em que percebemos e refletimos sobre os vários interesses e pesquisas que Arden Quin realizou. Se durante o Madí, sua pesquisa envolvia estudos sobre arte concreta e a forma muito própria em como os latinos absorveram e reinventaram as pesquisas planares, cubistas e não-euclidianas do movimento concreto europeu, nos anos 1970 Carmelo se volta para a arte cinética e a capacidade de ampliar o conceito de pintura. Ele não está sozinho nessa jornada, pois a própria Argentina, com Le Parc e Tomasello; a Venezuela, com Cruz-Díez, Otero e Soto; e, o Brasil com Palatnik, Antonio Maluf, Lygia Clark, Mary Vieira, Sérvulo Esmeraldo, Willys de Castro, dentre muitos outros, também desenvolvem suas pesquisas em arte cinética.

 

Determinadas obras da série Forme Galbée aludem a uma partitura. Essa sensibilidade do artista em executar ritmos e sinuosidades de grande impacto visual revelam a sua especificidade. É importante destacar que o caráter cinético dessas obras se dá pela forma em como o espectador se coloca defronte a obra, isto é, a cada mudança de perspectiva dele, a obra cria novas percepções e imagens. Outro ponto de destaque é o fato dela possuir concavidades no suporte da madeira, provocando uma sensação de miragem óptica. É algo semelhante ao que acontece com os Relevos Progressivos, de Palatnik, realizados a partir dos anos 1960. Nessas obras, o sequenciamento dos cortes na superfície do material – cartão, metal ou madeira – cria camadas ou ondas que variam dependendo da profundidade e localização do corte, constituindo sua própria dinâmica. O uso do papel-cartão, em especial, é algo surpreendente porque a produção de relevos empregada pelo artista leva à execução de ritmos e sinuosidades de grande impacto visual. Já na série de Arden Quin, não só o jogo próprio de linhas, formas e cores cria uma vibração intensa, mas como o suporte em que estão instalados – levando em conta essa perspectiva da concavidade – reitera e enfatiza a experiência óptica. Ademais, a linha é transformada, por ilusão óptica, em vibração, o material em energia. Quando o espectador se movimenta diante destas obras, o fundo fragmenta a linha de cores ou objetos impregnados sobre a superfície (de modo geral são pequenas estruturas de madeira), de modo que ele se apresenta como uma série de pequenos pontos flutuando no espaço. Eis a matemática se metamorfoseando em estruturas vibratórias a serviço de uma nova experiência de mundo para o sujeito.

 

Na série Plastique, realizada em meados dos anos 1980, o artista adotou uma forma de experimentação utilizando superfícies construídas e unidades visuais modulares feitas em acrílico e madeira que redimensionaram a sua obra. Não há a preocupação apenas, como se isso fosse pouco, em experimentar novas capacidades cinéticas mas também a percepção em construir e organizar um estado pictórico. Esta analogia se faz presente na escolha e na ordem com que compõe os feixes em acrílico sobre a madeira. Numa das obras, um recorte em acrílico, formado por três linhas em paralelo percorrendo a sua extensão e sobre as mesmas um conjunto de pequenos aros metálicos, remete claramente ao braço de uma guitarra ou violão. Esse feixe percorre longitudinalmente a superfície do plano compondo com as cores e formas geométricas dispostas, um salto (musical) para o espaço. Há o pensamento de um pintor articulando formas e cores naquela superfície. Arden Quin reatualiza as célebres obras de Picasso, mas para além disso institui a sua marca própria e autenticidade: refletir sobre o lugar da arte e seu compromisso com a invenção e com o agora. Ele é um artista conectado ao moderno e a todas as formas críticas do pensamento cultural. Sua pintura, desde o início, possui um vínculo com outras artes, seja a música, o design ou a arquitetura. Ao contrário de seus contemporâneos ligados ao figurativismo, o jovem Carmelo desafiou as regras e desejou que a sua obra alcançasse o espaço, e assim o foi.

 

Em uma de suas últimas pinturas, também presente na mostra, Domaine n. 18 (2006), mais uma vez a celebração à música se faz presente. Corpo de um violão, cordas, fundo, faixas. Tudo está lá. Fracionados e dispostos em intervalos separados pelo cheio (zonas pintadas em preto) e o vazio (zonas claras), essas partes compõem um todo. A moldura recortada continua e reforça esse efeito da mobilidade dos planos. As unidades geométricas parecem estar em um balanço contínuo, mesmo, claro, se tratando de uma pintura. Essa sensação se alimenta também pelo fato do artista magicamente tornar curvas as retas, possibilitando outra linguagem e visualidade para o elemento concreto. Percebam que essa “magia” é consequência, sem dúvida, das experimentações da arquitetura moderna que caminham lado a lado ao seu trabalho.

 

Essa é uma exposição histórica. Primeiro, por se tratar do trabalho de um artista notável que teve mais de 60 anos de produção e tem o seu nome celebrado pela história da arte. É também a oportunidade de o público brasileiro, em especial, tomar contato de forma mais aprofundada com uma obra que se caracterizou pelo compromisso com a invenção. Este conceito se confunde na obra de Arden Quin com a incessante pesquisa que realizou acerca do movimento. Interessou a ele sob as mais diversas circunstâncias, operações formais e conceituais ter o espectador como cúmplice das suas investigações plásticas. Dos anos 1930 à primeira década desse século, sua obra provocou novas percepções óticas caminhando conjuntamente com as inovações tecnológicas, artísticas e culturais que o mundo atravessava. De forma pioneira, e é bom destacar esse ponto, sua produção estimula o movimento, seja nas relações intrínsecas que a obra promove entre cor, forma e plano alçando a pintura ao espaço, seja nas obras cinéticas, estimulando a participação do espectador e promovendo a multiplicação das imagens. É a própria obra posta em questão, ameaçando os seus limites e experimentando as suas várias possibilidades de forma intensa.

 

Felipe Scovino

QUINN, Arden; KOSICE, Gyula. Manifesto Madí. In: AMARAL, Aracy A. (org). Projeto construtivo brasileiro na arte: 1950-1962. Rio de Janeiro: MAM; São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1977, p. 62-64.

 

 

Até 19 de maio.

A condição básica

04/abr

No dia 07 de abril, a Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, inaugura “A condição básica”, exposição coletiva que reúne trabalhos de mais de 30 artistas, entre brasileiros e estrangeiros, pertencentes ao acervo artístico da FVCB. A mostra conta também com obras dos artistas Elida Tessler e Guilherme Dable, especialmente convidados.

 

Fotografias, vídeos, serigrafias, livros de artista, obras gráficas e objetos, além de pinturas, esculturas e colagens integram a nova mostra com organização da Fundação Vera Chaves Barcellos que problematiza a questão da apropriação no universo das artes visuais na contemporaneidade.

 

 

Artistas participantes

 

Alejandra Andrade, Alfredo Nicolaiewsky, Ana Miguel, Anna Bella Geiger, Antonio Caro, Carlos Asp, Claudio Goulart, Elida Tessler, Enric Maurí, Fernando Alday, Guilherme Dable,  Guglielmo Achille Cavellini, Helena D’Avila, Hudinilson Jr, João Castilho, Julio Plaza, Klaus Gröh, Lenir de Miranda, León Ferrari,  Lia Menna Barreto, Lluís Capçada, Lurdi Blauth, Marlies Ritter, Nino Cais, Noemí Escandell, Patricio Farías, Sandro Ka, Telmo Lanes, Walda Marques, Vera Chaves Barcellos e Vilma Sonaglio.

Anita, 10 anos na Gávea 

02/abr

Anita Schwartz Galeria de Arte, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a partir de 04 de abril próximo, a exposição “5 + 5”, que dá início às comemorações de dez anos de seu espaço na Gávea. Cinco artistas da galeria – Arthur Chaves, Estela Sokol, Luiza Baldan, Nuno Ramos e Rochelle Costi convidaram outros cinco, somando dez nomes da arte contemporânea. Arthur Chaves chamou Cadu; Estela Sokol, Marcelo Cipis; Luiza Baldan, Lenora de Barros; Nuno Ramos, Eduardo Climachauska; e Rochelle Costi, Fernando Limberger.  As obras estarão no grande espaço térreo. No segundo andar, estarão obras de dois artistas emblemáticos na história da galeria: Wanda Pimentel e Abraham Palatnik.

 

Quando foi inaugurado, em 2008, depois de um ano e meio de obras, o novo espaço da galeria Anita Schwartz na Gávea causou frisson no meio da arte do país, pelo ineditismo da construção – um prédio de três andares, com uma arquitetura generosa dedicada à arte contemporânea. Pela primeira vez se construía uma galeria com essas dimensões – um total de quase 800 metros quadrados – em que se destacava o “cubão branco”, o salão térreo, com mais de sete metros de pé direito e perto de 200 metros quadrados. O projeto do arquiteto Cadas Abranches, que comentou, em seu recente livro lançado na galeria. “Gostei muito de fazer, pela simplicidade da arquitetura”, escreveu. Com fachada de ardósia cinza fatiada, o prédio parece flutuar em um espelho d’água, e a ponte de acesso ao prédio é de vidro. A reserva técnica, no segundo andar, tem uma grande janela voltada para o salão principal, para facilitar o manejo das obras de arte em exposição. O terceiro andar possui um terraço com um deque de madeira, com vista para o Corcovado, onde está um contêiner, com capacidade para vinte pessoas, usado pelos artistas para exibição de vídeos ou instalações.

 

Nascida em Recife, e radicada com a família no Rio de Janeiro desde 1973, Anita Schwartz inovou ainda conceitualmente, ao oferecer seu amplo espaço na Gávea para a livre criação dos artistas, que por muitas vezes transformaram o “cubão branco” praticamente em um laboratório de pesquisa, em exposições de cunho institucional. A ousadia deste gesto se tornou outra característica marcante da galeria.

 

 

Barcos cobertos com sabão, e globos da morte

 

Um exemplo emblemático desta atuação é Nuno Ramos. Na exposição “Mar Morto”, em 2009, o artista colocou dois barcos pesqueiros no salão térreo, e os cobriu com sabão que ele mesmo havia fabricado. No dia da abertura da exposição, caiu um temporal, e Nuno precisava usar guarda-chuva a cada vez que atravessava o terraço para chegar ao contêiner. A partir de então criou-se uma lenda, pois geralmente chove nas noites de vernissage… Em 2012, Nuno Ramos, em uma parceria com Eduardo Climachauska, realiza a exposição “O globo da morte de tudo”, cobrindo de alto a baixo as quatro paredes do grande salão com prateleiras de aço, com mais de 1.500 objetos frágeis coletados para este fim.  Dois globos da morte, colocados perto um do outro, sugerindo a imagem de infinito, foram usados durante dois minutos por motociclistas profissionais em uma performance, criando uma tal trepidação que os objetos caíam e se espatifavam no chão.  “Vou dizer, foi das montagens mais leves. Durante quinze dias os artistas, a Sandra (mulher de Nuno, também artista) coordenaram um mutirão. Foi maravilhoso”, lembra Anita Schwartz. “Quis abrir meu espaço para os artistas, já que eu podia oferecer um grande salão para que pudessem delirar, fantasiar, o que acabou sendo realidade”. Ela complementa: “talvez seja justamente esta matéria viva que é o artista o que me faz voar e me tirar um pouco os pés do chão, e realizar coisas que não são somente objetivas, materiais. Quando um projeto me encanta, eu viajo com os artistas”.

 

Outras marcas da galeria são a realização de conversas abertas sobre arte, e o programa “Trajetórias em Processo”, com curadoria de Guilherme Bueno, criado para dar visibilidade a jovens artistas. Realizado em várias edições anuais, com exposições coletivas, o programa se desdobrava em individuais no segundo andar da galeria, com os artistas que se destacavam. A artista Estela Sokol, que participou em 2009 deste programa, já ganhou três individuais na galeria.

 

 

Meu projeto de vida

 

Foram 22 anos até Anita Schwartz chegar em 2008 ao espaço na Gávea, que chama de “meu projeto de vida”. Em 1986, Anita passou a ocupar uma loja no Rio Design Center Leblon, shopping então recente, com um perfil voltado para arquitetura, decoração, antiquários e arte. Em 2000, abriu outra galeria no Rio Design Center Barra, mantendo os dois espaços até 2006, quando deixou a Barra, mantendo a loja do Leblon, já com planos de ter sua própria casa. “Procurei bastante no Rio, até achar o que queria na rua José Roberto Macedo Soares, na Gávea. Sabia que seria meu projeto de vida”, afirma. A casa que existia ali, com cômodos pequenos, era inviável para a ideia de um amplo espaço dedicado à arte contemporânea, e foi derrubada, para dar lugar ao prédio de três andares. “A Gávea é um bairro charmoso, agradável, gostoso de se passear, com que mantemos uma convivência muito boa”, diz. Tradicionalmente, a galeria abre suas exposições às quartas-feiras, dia menos agitado da região, mas os sábados também têm abrigado eventos. Outra novidade criada pela galeria foi oferecer nos vernissages pacotes de biscoito Globo, tradicional marca das praias cariocas. Um fato curioso é que a galeria é vizinha de uma igreja evangélica e tem a sua frente uma sede da Perfect Liberty, uma religião de origem japonesa. No jardim da galeria foi plantada uma espada-de-São-Jorge, e, à entrada, vê-se o símbolo de proteção judaico, a mezuzá, comprada no bairro do Marais, em Paris, e abençoada pelo rabino Nilton Bonder. “Estou protegida por todos os lados”, brinca Anita.

 

Com a exposição “5 + 5”, a galeria aponta para o futuro, e mais uma vez encara um desafio, já que os artistas tiveram liberdade de escolher seus pares. “Nunca sabemos de tudo. Estamos sempre em movimento, avançando. É uma profissão que demanda muita determinação e perseverança. Todo o trabalho é um desafio, e nos próximos dez anos vamos celebrar mais realizações, ainda com mais intensidade”, diz Anita Schwartz.

 

 

Sobre a exposição “5 + 5”

 

Arthur Chaves mostrará uma obra deste ano, em técnica mista, com aglomerado de tecidos. De Cadu estarão dois desenhos de 2017, em óleo e grafite sobre papel. Arthur fala sobre Cadu: “O trabalho de Cadu é fruto do comprometimento impressionante em propor mecanismos que permitem o desvelamento de detalhes da natureza em si”.

 

Estela Sokol terá duas obras na exposição: uma em madeira, e a outra em granito e parafina pigmentada, ambas deste ano. Marcelo Cipis mostrará três pinturas de períodos variados, em acrílica e óleo sobre tela, e óleo sobre madeira. Estela Sokol fala sobre Marcelo Cipis: “…ele transita entre o representado e o não representado, entre o onírico e uma realidade criada, com a liberdade que lhe é peculiar”.

 

Luiza Baldan participa com duas fotografias deste ano, enquanto Lenora de Barros mostra quatro trabalhos da série “Ping-Poems to Boris”, em que homenageia o escritor russo – radicado em São Paulo – Boris Schneidermann, morto em 2016, aos 99 anos. Luiza Baldan fala sobre Lenora de Barros: “…acompanho o trabalho da Lenora há muito tempo, por quem tenho profunda admiração, e que considero uma das maiores artistas brasileiras, e é uma honra poder trabalhar com ela, lado a lado, em uma exposição. Será a primeira vez em que isso acontece, e acho que será muito legal”. As duas farão em abril uma performance juntas, em data a ser confirmada.

 

Dois trabalhos de Nuno Ramos estarão na exposição: “Algo mais espantoso ainda/ Na noite seguinte eu vou matá-la”, uma escultura em mármore, cobre, vidro soprado, vaselina e vaselina líquida, e o desenho “Rocha de Gritos 28”, em vários materiais sobre papel. Eduardo Climachauska mostra um conjunto de quatro caixas compostas por chumbo e mármore. Nuno Ramos é amigo e parceiro de longa data de Eduardo Climachauska, e já compuseram juntos dez músicas e realizaram três filmes: “Iluminai os terreiros”, “Casco” e “Para Nelson – Luz Negra” e “Duas Horas”, os dois primeiros com o cineasta Gustavo Moura. Nuno Ramos fala sobre Climachauska: “Gosto de uma mistura perfeita de imaginação e rigor formal. Além do que, acho que o trabalho do Clima é um desses tesouros da arte brasileira, subdimensionado, ainda a ser descoberto. Quem achar, verá”.

 

Rochelle Costi, artista radicada em São Paulo, vai mostrar duas fotografias em grande formato feitas em 2013, “Dentro” e “Fora”. Fernando Limberger, também radicado em São Paulo, apresenta a obra “Abraçadinhos”, um conjunto com três cabaças pintadas em tinta acrílica. Rochelle fala sobre o artista: “Limberger lida com a natureza das coisas. Ao nos colocar diante do brotar de uma semente ou pondo cores onde não costumamos vê-las, nos mostra a força da natureza. Através de estratégias simples, mas extremamente cuidadosas, faz nos darmos conta de que há leis sutis, porém poderosas, regendo silenciosamente o que há de vivo ao nosso redor”.

No segundo andar, estarão obras de Wanda Pimentel e Abraham Palatnik.

 

 

De 04 de abril a 06 de junho.

Passado mitológico

A CAIXA Cultural, Centro, Rio de Janeiro, RJ, recebe, de 31 de março a 24 de junho, a exposição “Terra em Chamas”, de Vítor Mizael. Sob curadoria de Paulo Gallina, serão apresentadas 51 obras do artista paulista que discutem as origens do momento em que vivemos, a partir de uma representação ficcional da flora e fauna brasileiras.

 

Em ” Terra em Chamas”, Vítor Mizael transita entre desenho, gravura, pintura, escultura, objeto e instalação. Seus trabalhos ficam no limiar entre a familiaridade e a estranheza, a atração e a repulsa, o apuro e a precariedade. Através deles, o artista nos leva a um país primitivo onde os homens não se entendem separados dos animais, onde a cultura não é opositora ou simulacro da natureza e sim uma extensão abstrata do universo natural. Uma terra em chamas que não pode ser habitada, mas na qual a oposição entre os pássaros eternizados pelo empalhamento e os desenhos de homens, animais e plantas eternizados pela arquitetura possam incitar a imaginação do visitante.

 

“O objetivo da mostra é retratar os fundamentos de uma nação profícua, cuja força reside em sua capacidade de adaptar-se: esta pátria”, explica Paulo Gallina. “As imagens criadas por Vítor guardam um passado mitológico, quando o chão eram labaredas e estas paragens eram impedidas às pessoas: um Brasil selvagem, uma natureza imaculada, sem a contaminação decorrente dos víveres humanos”, continua.

 

Ao discutir as origens do Brasil contemporâneo, Vítor Mizael subverte a expectativa historiográfica para apresentar uma época em que os pássaros revoavam em bandos, criando suas comunidades e abandonando-as sem ritos ou burocracias. Suas plantas e animais podem ser diferentes daqueles vistos nos livros de biologia, mas, se este é o caso, cabe ao visitante, auxiliado pelo recorte curatorial, descobrir quais as razões para a nova morfologia do passado mitológico natural brasileiro.

 

A exposição também trata das vidas contemporâneas e do estado das coisas presentes. Por isso, o artista e o curador refletem simbolicamente os signos do estado e as insígnias da nação. Objetos como bandeiras, mastros, prumos e outros materiais são transformados e, elaborando novos significados, Mizael consegue aniquilar conceitos segregacionistas e provocar, não apenas a razão como também, os variados sentidos e sensações humanas, em uma aproximação capaz de comunicar sem a dubiedade que impera pelas palavras.

 

Com patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal, a produção do evento está a cargo de Anderson Eleotério da ADUPLA Produção Cultural, empresa que vem realizando importantes exposições itinerantes pelo Brasil, como: Farnese de Andrade, Athos Bulcão, Milton Dacosta, Antonio Bandeira, Bandeira de Mello, Carlos Scliar, Mário Gruber, Manoel Santiago, Raymundo Colares, Rubem Valentim, entre outras.

Na Casa Benet, Urca

27/mar

Mais de dez artistas nacionais e internacionais compõem a exposição retrospectiva “10 Anos de Arte”, que será inaugurada no dia 08 e até 29 de abril, na Casa Benet Domingo, dando continuidade a programação de aniversário da casa. Sob curadoria de Pilar Domingo, a mostra reúne pintura, gravura, fotografia, escultura e desenhos de artistas que já passaram pela galeria do espaço como Hélio Jesuíno, Rogério Camacho, Pedro Benet, Pilar Domingo, Marina Matina, Marcelo Alram, Kazuo Ilha, Emilio Gonçalves e Nicole Herzog. O cronograma do mês de abril também conta aulas abertas, leitura de poesias, bate-papo com artistas, evento sobre a Índia e bazar beneficente.

 

Desde a sua fundação, em 2008, a Casa Benet Domingo já realizou mais de 50 eventos de artes visuais no Brasil e no mundo, e organizou mais de 30 exposições na galeria que o espaço abriga. Nesta retrospectiva, a fundadora da casa e curadora da exposição, Pilar Domingo, procurou selecionar obras que foram emblemáticas na história do local.

 

“A Casa Benet Domingo, por si, já é uma exposição e expressa arte por todos os ângulos. As diferentes mostras que brilharam durante esta trajetória de dez anos são de pura expressão, sentimento, técnica e personalidade. O conjunto eclético que compõe esta retrospectiva afirma com qualidade a formosura da diferença, que na individualidade comunga com o seu momento e na harmonia da inteligência da obra”, comenta Pilar.

 

O calendário de atividades de abril também conta com oficinas abertas de gravura e desenho com modelo vivo, ministradas por Pilar Domingo às segundas. Já no dia 12 de abril, às 20h, acontece a tradicional Tertúlia Poética.

 

No dia 14 de abril, às 14h, a ex-executiva e atual professora de Yoga e Meditação da Casa Benet Domingo, Claudia do Amarante, promove o evento “Cores da Índia”, no qual apresenta um pouco da sua história e das quatro viagens que fez ao país.

 

 

Sobre os artistas

 

Hélio Jesuíno nasceu no Rio de Janeiro em 1947. Sem uma educação acadêmica formal, participou de inúmeras exposições, individuais e coletivas. Recebeu o Prêmio de Aquisição, na III Bienal Internacional de Pintura Contemporânea de Portugal, em 1991.

 

Pedro Benet nascido na Espanha, chegou no Rio de Janeiro em 1952. Artista autodidata, suas obras ocupam os espaços urbanos de maneira interativa com o público e a rua. Realizou instalações artísticas na Central do Brasil, Travessa do Ouvidor, Complexo do Alemão e Ilha Grande (RJ) com talhas pintadas que se mesclavam aos transeuntes. Também desenvolve trabalho com moda e realizou exposições na Alemanha, Itália e Espanha 

 

Pilar Domingo é carioca, formada em pintura na UFRJ. Pilar, tem especial afinidade por obras de grandes dimensões e diferentes linguagens, como pintura, gravura e escultura, impressão digital e video arte. Utilizando diversos materiais, técnicas e texturas. Construiu forte marca pessoal para compor um trabalho singular. Após a conclusão do seu doutorado em História da Arte Contemporânea e Gravura, na Espanha, Pilar seguiu em expedição pelo Pantanal, Papua Nova Guiné, Indonésia e Tailândia. Resultam dessas experiências obras carregadas de força e ancestralidade, buscando referência em sua relação com a natureza e suas raízes. 

 

Maria Matina  é carioca, cresceu vendo o mundo com arte e não pôde evitar destino de vir a ser também artista. Ingressou aos 17 anos na Escola de Belas Artes da UFRJ, onde cursou Gravura, desenvolvendo vários projetos e atividades para o curso. Participou e produziu diversas exposições coletivas e individuais, em galerias como IBEU, UFF, CCJF e MAM. É arte educadora, formada pela Escolinha de Arte do Brasil.

 

Marcelo Alram começou a carreira como assistente de seu pai, o fotógrafo francês Milan Alram, no Rio de Janeiro. Logo compartilharam o serviço de revelações com fotógrafos profissionais, o que os levou à abertura do laboratório Kronokroma, na Glória. Foi convidado a participar com uma fotografia na exposição coletiva VG, no Ateliê da Imagem, na Urca. 

 

Rogério Camacho artista carioca nascido em 1952, graduado pela Escola de Belas Artes da UFRJ em Gravura. Possui uma primorosa competência técnica que somada a um requinte cromático e um perspicaz equilíbrio na composição, conferem à sua pintura um caráter sério e competente.

 

Kazuo Iha nasceu em Okinawa, Japão, em 1950. Bem cedo mudou-se com a família para o Brasil. Graduado pela Escola de Belas Artes da UFRJ, onde de 79 a 84 foi professor de Desenho Artístico e atualmente professor de LItografia. Participou do X ao XVII Festival de Inverno de Ouro Preto (76 a 85). Frequentou de 78 a 80 o curso de Gravura no Museu do Ingá, em Niterói. Participa desde 74 de mostras coletivas onde destacam-se I Salão Universitário – RJ (1° e 2° prêmios); Salão Carioca (2° lugar); Salão da Prefeitura de Belo Horizonte (Prêmio de Aquisição); I, II, III, IV, V Salão Nacional. 

 

Nicole Herzog Verey nascida em Zurich, Suiça, já vive mais da metade da vida trabalhando e vivendo em Madrid. Seu trabalho artístico têm uma forte conexão com os Alpes Suiços e é baseado na fotografia. Desde 2007 trabalha no projeto ‘DESHIELO’ (Desgelo). Com suas obras, quer chamar atenção sobre o aquecimento da terra. Seu trabalho vai mais além da mera documentação e inclusive fotografia, fotografia pintada, digital fine art, instalações e videostill.

 

Igor Gomes  nasceu em Curitiba, é artista visual, principalmente na área da fotografia, vive as imagens desde sempre, iniciando a vida profissional a cerca de 10 anos, culminando com a publicação do livro de fotografias INTERIOR em 2011.

 

Destaque para estudos na EAV, com David Cury, e na NMO Arts, com Lia do Rio. Tem exposições no Rio (Calouste Gulbekian e UFF), em São Paulo (Banco República), no exterior (NY, Estocolmo, Porto/Portugal). Faz parte dos grupos 10 AO CUBO e BIKOO KAI.

 

Assemblages de Farnese

16/mar

A Galeria 3 da CAIXA Cultural Rio de Janeiro, apresenta a mostra “Farnese de Andrade – Arqueologia Existencial”, que reúne um conjunto de 71 assemblages e objetos pertencentes a coleções particulares e a herdeiros do artista plástico mineiro, mapeando sua produção ao longo dos anos 1970 a 1990. A exposição traz também o filme “Farnese”, de 1970, do cineasta e crítico  de arte Olívio Tavares e Araújo, uma entrevista em vídeo com o curador e textos/poemas que ajudam a elucidar a trajetória e fundamentos criativos do artista. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal.

 

Farnese de Andrade foi um artista múltiplo cuja produção, vida e arte se enlaçam de maneira inseparável dando origem a uma obra densa, de caráter fortemente autoral. Com curadoria de Marcus de Lontra Costa, a mostra apresenta a linguagem única e singular do artista, incorporando aspectos de sua personalidade e trajetória às diferentes fases de sua obra.

 

“As obras de Farnese articulam habilidosamente a tradição, seja barroca, romântica ou simbolista, com elementos regionalistas, populares, pessoais e mesmo com lições oriundas das chamadas vanguardas negativas, como o Dadaísmo e o Surrealismo. São confissões que emergem das profundezas de uma alma que presta devoção a uma realidade artística nacional da qual ela própria foi, por vezes, excomungada, já que a sua essência contrasta com um projeto abstracionista, construtivo e positivista que imbuiu nossa arte durante décadas e que ainda dá forma aos trabalhos de muitos artistas”, comenta o curador.

 

Apontado como dono de uma personalidade difícil e de uma produção marcadamente autobiográfica, Farnese revelou, em seus trabalhos, uma densa trajetória pelas memórias de infância, do pai, da mãe, dos irmãos e da sagrada família mineira, além de um certo aspecto libertário e transgressor, a partir de sua mudança para o Rio de Janeiro. Pautada no inconsciente, a poética de Farnese de Andrade contrasta com as de outras tendências do período, como as da arte construtiva e concreta. Produziu, assim, uma obra na qual o lirismo oscila do concreto ao abstrato e o bruto consegue ser gentil.

 

A exposição “Farnese de Andrade – Arqueologia Existencial” passou, anteriormente, pelas unidades da CAIXA Cultural de Brasília e São Paulo, sendo indicada pelo programa Metrópolis como uma das 10 melhores mostras de 2015; pelo Guia da Folha de São Paulo ao Prêmio Melhores do Ano de 2015, na categoria “Exposições”; e pela revista Veja como a primeira das cinco melhores mostras de 2015, em Brasília. Em 2016, foi apresentada no Palácio das Artes – Fundação Clóvis Salgado, em Belo Horizonte (MG), com versão retrospectiva e ampliada em homenagem ao aniversário de 20 anos de morte do artista mineiro.

 

 

 

Prêmios e coleções

 

Praticamente esquecido nas últimas décadas, Farnese foi regularmente premiado de 1962 a 1970, como no Salão Nacional de Arte Moderna de 1970 (Prêmio de viagem ao exterior) e, em 1993, com o Prêmio Roquette Pinto de Os Melhores de 1992, pela exposição “Objetos”. Reconhecido como um dos mais valorizados artistas nacionais, suas obras podem ser encontradas nas maiores coleções particulares e museus do Brasil e do mundo, incluindo a Coleção de Arte Latino-Americana da Universidade de Essex, na Inglaterra, o Instituto de Arte Contemporânea de Londres, o MAC Niterói (RJ), o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), o MAM RJ, o Museu Nacional de Belas Artes, o MAM SP, entre outros.  Com uma produção ininterrupta participou de diversas Bienais internacionais e nacionais e suas obras hoje são disputadas entre grandes colecionadores.

 

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em Araguari, MG, Farnese de Andrade entrou, em 1945, na Escola do Parque de Belo Horizonte, onde foi aluno de Guignard e contemporâneo de artistas como Amilcar de Castro, Mary Vieira e Mário Silésio. Em 1948, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como ilustrador para suplementos literários de diferentes jornais e revistas. Começou sua carreira como desenhista e gravador. Na década de 1950, realizou a primeira exposição individual de seus desenhos e começou a frequentar o ateliê de gravura do MAM RJ, onde estudou gravura em metal com Johnny Friedlaender e Rossini Perez.  A partir de 1964, cria objetos ou assemblages com cabeças e corpos de bonecas, santos de gesso e plásticos, todos corroídos pelo mar, coletados nas praias e nos aterros. Utilizou com frequência velhos retratos de família e postais, e realizou trabalhos com resina de poliéster, sendo considerado um pioneiro da técnica no Brasil. Bolsista do governo brasileiro, viajou em 1970 para Barcelona. Sua volta em 1975 rendeu frutos e a fama de Farnese fortaleceu a paisagem artística brasileira. Mas não é por seu trabalho na gravura, sempre abstrato, nem como desenhista, seja abstrato ou figurativo, que ele é, hoje, conhecido e reconhecido, mas pela criação dos objetos chamados boxforms, cuja matriz explodida e iconoclasta é o barroco de sua infância. Oratórios, pedaços de madeira de igreja, ex-votos e outros constituíram, até a sua morte, um mundo estranho, às vezes mórbido e com fortes referências eróticas. Resultado de uma infância secreta, a obra sempre onírica e poética dá força e senso a um trabalho sem igual.

 

 

 

De 20 de março a 20 de abril.

Exposição de Nelson Leirner

14/mar

A Galeria Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, abre seu calendário de 2018 com “A  Nova Revolução Industrial”,  exposição individual de Nelson Leirner. Com curadoria de Lilia Schwarcz, a exposição apresentará ao público nove tapeçarias que foram produzidas manualmente, reproduzindo os projetos do artista, por um grupo de tecelões durante o último ano.

 

A “nova revolução” proposta por Leirner é na realidade uma volta no tempo, quando o mundo não estava dominado pelas máquinas da revolução industrial, e nem pela tecnologia que recentemente inundou nossas vidas, mudando inclusive a forma como nos relacionamos com o tempo. E é exatamente a essa forma de produção artística que Leirner tem se dedicado: o artesanal.

 

As tapeçarias que já foram moda, e atualmente são vistas como algo kitsch, ganham no universo de Leirner uma graça que lhe é peculiar. Uma natureza-morta bordada ganha a companhia de frutas de plástico, partituras em preto e branco saem do papel para virarem um grande tapete, assim como as teclas de um piano. Mas o grande homenageado da exposição é o italiano Alighiero Boetti e seus “Maps of the world”, também uma série de bordados onde o artista suprimia países, alterava fronteiras e criticava todo tipo de jogo político. Desta vez é com ele que Leirner dialoga criando novas versões para o mapa mundi e aguçando e atualizando as tensões e ironias que já eram presentes na obra do italiano. Nas obras da mostra, o mundo aparece ora como um quebra cabeça, ora se desfazendo em fios, com o oriente refletindo o ocidente e também com novas representações territoriais. Todo o processo de feitura das obras também vai estar presente na exposição. Uma vitrine no centro da galeria abrigará as lãs e agulhas usadas pelos artesãos e também uma série de fotos deles trabalhando durante as várias etapas do projeto.

 

É desta forma que Leirner pretende fazer um convite ao espectador para se rebelar contra a aceleração em que estamos vivendo. Ver essas tapeçarias é compartilhar de um tempo bem gasto e pensar no significado simbólico do trabalho manual. Perder tempo também pode ser ganhar.

 

 

 

 

De 17 de março a 21 de abril.