Livros na Cosmocopa

08/dez

A Cosmocopa + Apicuri lançam dia 13 de dezembro no Shopping dos Antiquários, na Galeria Cosmocopa, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, livros individuais sobre a obra dos artistas Felipe Barbosa e Leila Danziger.

 

O livro “Estranha economia” traça uma panorâmica da obra de Felipe Barbosa, com imagens de seus trabalhos no ateliê e em espaços expositivos. A edição, com foco no processo criativo do artista, apresenta textos críticos de Alvaro Seixas, Luciano Vinhosa e Sheila Cabo Geraldo. Estranha economia é também o título da série de trabalhos em que o artista usa objetos do cotidiano recobertos de picotes de papel-moeda e os agrupa em instalações que revelam ambientes familiares porém cheios de estranheza. Outras séries de trabalhos do artista mostram bolas de futebol desconstruídas em seus gomos e remontadas em planos ou outros formatos, palitos de fósforo agrupados para formar esferas orgânicas, casas de cachorro montadas em “condomínios”, martelos totalmente recobertos por pregos.

 

Já o livro “Todos os nomes da melancolia, de Leila Danziger, apresenta imagens de trabalhos reunidos sob o traço da melancolia o que para Luciano Vinhosa “… Leila nos prepara uma finíssima tessitura de narrativas visuais que retomam o tempo contemplativo da reflexão e da apreciação estética. É notável o cuidado artístico com que trata a presença ordinária das coisas que a cercam, transformando-as em um mundo extraordinário para os olhos e a imaginação, seja por meio de fotografias com referências ao mundo doméstico ou por meio de gravuras retomadas da história da arte, ou ainda pelo próprio ato de reconstruir novas imagens a partir de imagens já desgastadas. Por exemplo, quando trabalha com as folhas de jornais, escalpelando-as, Leila extrai delas todo o excesso para fixar apenas aquilo que interessa: uma imagem surpreendentemente bela de uma romã partida e/ou reinserindo em suas páginas linóleo-gravuras e versos, um balbuciar quase eloquente daqueles que tiveram suas vozes caladas à força”.  E Luciano Vinhosa prossegue afirmando que “… A melancolia, sentimento normalmente vivido na intimidade, ganha em seus trabalhos uma dimensão social e coletiva quando a artista a faz deslizar da experiência particular, centrada em seu universo familiar, para experiências mais amplas da humanidade: o massacre dos judeus na Segunda Guerra, a diáspora palestina, o sofrimento do negro desterrado tomado pela saudade de sua terra natal, o drama dos desabrigados…”.

Pintura Impura

As pinacotecas Aldo Locatelli e Ruben Berta, Paço Municipal, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, exibem a exposição ‘’Pintura Impura’’. A exposição vai abriga obras de diversos artistas cujos temas apresentam diversas influências na pintura de cada um. Contaminações e influências permeiam a exposição “Pintura Impura”. Valendo-se de obras das Pinacotecas Aldo Locatelli e Ruben Berta, datadas da década de 1950 até os dias de hoje, a mostra apresenta diferentes abordagens no campo da pintura. A relação de artistas participantes consta, dentre outros, com obras assinadas por Aldo Locatelli, Alfredo Nicolaiewsky, Allen Jones, Ana Alegria, Bernardo Cid, Bill Maynard, Bin Kondo, Britto Velho, Eduardo Vieira da Cunha, Fernando Duval, Fernando Odriozola, Gisela Waetge, Guillermo A.C., Heloisa Schneiders, John Piper, Jorge Paez Villaró, Juan Ventayol, Mattia Moreni, Paulo Peres, Roberto Campadello, Teresa Poester Tereza Nazar, Tomas Abal e Tomie Ohtake.

 

Além de artistas ingleses (da escola pop), uruguaios, italianos, argentinos e brasileiros, faz parte da coleção uma obra de Aldo Locatelli, artista italiano que dá nome a uma das coleções, cuja autoria é notável e repleta de significados. Para Flávio Krawczyk, diretor do acervo artístico, “…trata-se de um retrato aparentemente inconcluso, embora assinado, portanto considerado pronto pelo autor. Ou seja, a obra nasce do virtuosismo, da velocidade dos tempos modernos e do ímpeto em explicitar o seu processo de realização. Por fim, indica a assimilação por Locatelli, cuja formação havia sido estritamente acadêmica, de técnicas e sugestões das vanguardas do início do século XX”.

 

Ainda nas palavras de Flávio Krawzick, a mostra “…inclui o trânsito entre figuração e abstração, a presença da palavra escrita, os entrelaçamentos de cultura popular e erudita, a incorporação dos quadrinhos e do grafite, a acumulação de distintas informações – do cotidiano ao onírico, os cruzamentos de materiais e técnicas, além da colagem de materiais heteróclitos. Concebidas sobre o signo da “impureza”, as pinturas expostas apontam para a emergência da arte contemporânea, quando é rompido o espaço perspectivo de matriz renascentista e quando a pintura se mostra definitivamente contaminada ou “impura”. Na diversidade oriunda desta condição reside a sua fecundidade e riqueza de sentidos”.

 

Até 1º de março de 2013.

Projeto de Acosta e Murgel

06/dez

Em mostra na Sala A Contemporânea do CCBB, Centro, Rio de Janeiro, RJ, os artistas Daniel Acosta (RS) e Daniel Murgel (RJ) unem-se, pela primeira vez, para um trabalho único. A exposição é um site specific e foi denominda pelos autores como “O sacrifício pela vida na guarita (Sacredfishyousystem)”.

 

O título da exposição recebeu uma tradução livre com a palavra sacrifício transformada em sacredfishyou – sagrado+peixe+você, em que YOU (você) pretende jogar o público para dentro do sistema. O desenvolvimento desta obra, site specific, começou, como conta Acosta, com o “re-conhecimento do trabalho de cada um, já que não nos conhecíamos antes do convite de Mauro Saraiva, programador da Sala“. A partir de então, visitaram os ateliês um do outro, conversaram sobre desenhos e projetos até chegarem a um único desenho. Ideias individuais foram cedendo espaço na direção do trabalho compartilhado, criando um título que indica um sistema em funcionamento.

 

São duas guaritas de isopor, suspensas em cantos opostos da sala. Dentro delas, muitas plantas e lâmpadas piscando constantemente como alarme. As plantas são irrigadas por um mecanismo que retira água de dois aquários com peixes, colocados sobre o piso, que são lentamente esvaziados por um sistema hidráulico. Com o tempo, os peixes ficam sem água. A vida das plantas significa a morte dos peixes. Entre as questões citadas por Acosta e Murgel, estão a de sistemas de segurança que nos prendem, cercam e isolam, as luzes que geram tensão, o mato crescendo nas guaritas e a ideia de “ruína”, como “o mote principal de desenvolvimento do trabalho”, segundo Acosta. Os artistas têm a presença expressiva da arquitetura em suas produções. Acosta trabalha mais com as questões artificiais da arquitetura, e Murgel, é influenciado pela arquitetura popular e seus materiais rústicos.

 

Sobre os artistas

 

Daniel Acosta nasceu em Rio Grande, RS, em 1965, vive e trabalha em Pelotas, RS.  Doutor em Arte pela ECA|USP, também é professor de escultura da Universidade Federal de Pelotas.  Seu trabalho busca a relação entre suas obras e outros elementos constitutivos do ambiente, como diz, “gerando consciência crítica sobre o que nos aborrece ou nos deixa felizes, nos encanta e mesmo nos define, já que, em nossos corpos ambulantes, nós também somos a cidade”.

 

Entre dezenas de individuais e coletivas, Acosta participou da Bienal Internacional de São Paulo de 2002, da Bienal do Mercosul de 1999, 2009 e 2011, e do Panorama de Arte Brasileira de 1997, no MAM-SP. Ele é do elenco da Galeria Casa Triângulo, SP, onde fez individuais em 1995, 2005, 2008 e 2010. Em ocasiões diversas, apresentou esculturas|mobiliários ou cabines|mobiliários para espaços urbanos. Entre elas “Riorotor”, Itaú Cultural|SP, “Kosmodrom”, Bienal do Mercosul de 2009, “Toporama”, permanentemente montada no foyer do Centro Cultural São Paulo desde 2010. Em 1997, Acosta teve livro sobre seu trabalho dentro da “Coleção Artistas da USP”, com  texto do crítico de arte Tadeu Chiarelli. Foi premiado em salões em Curitiba, Brasília, Salvador e Florianópolis.

 

Daniel Murgel nasceu em Niterói, RJ, em 1981. Vive e trabalha entre o Rio de Janeiro – terminando o bacharelato na EBA|UFRJ – e São Paulo. Filho e neto de arquitetos, Murgel reconhece a influência determinante da arquitetura em sua produção, com especial interesse na arquitetura popular, buscando, como diz, “poesia no ordinário e no feio”. Sua obra apresenta situações ligadas ao universo das ruínas urbanas, junto à presença da resistência da natureza em gramas que nascem em meio a calçadas. Este ano, o artista participou da coletiva “Espejos: en el camino al pais de las maravillas”, no Centro Cultural Haroldo Conti, em Buenos Aires, prédio que foi cativeiro de milhares de pessoas durante a ditadura na Argentina.

 

Murgel fez individuais nas galerias Laura Marsiaj e Mercedes Viegas (Rio de Janeiro, 2010 e 2008). Entre as coletivas destacam-se Novas aquisições de Gilberto Chateaubriand (MAM Rio, 2010), Arte in Loco (FUNCEB, Buenos Aires, 2009) e Museu Vazio (MAC-Niterói, 2007). Em 2010, foi premiado no Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte|Bolsa Pampulha e indicado ao Prêmio Marcantônio Vilaça. Participou de residências artísticas em Buenos Aires (El Aleph Arte), em 2009, e em Belo Horizonte, em 2010|2011 (Bolsa Pampulha). Possui obras nas coleções Gilberto Chateaubriand|MAM Rio e Banco do Nordeste do Brasil.

 

Esta é a quinta mostra da temporada 2012-2013 deste espaço que o CCBB RJ destinou, desde 2009, exclusivamente à arte contemporânea brasileira.  A programação, idealizada pelo produtor Mauro Saraiva, reúne artistas que exemplificam a produção ascendente, vinda de cidades do nordeste, sul e sudeste do país. Esse ano, a Sala A Contemporânea já apresentou as individuais de José Rufino (PB), da dupla estabelecida Gisela Motta e Leandro Lima (SP), do coletivo carioca OPAVIVARÁ! e do gaúcho Fernando Lindote. Depois da dupla inventada Daniel Acosta e Daniel Murgel, vêm Cinthia Marcelle (MG), Eduardo Berliner (RJ) e uma coletiva, sob curadoria da pernambucana Clarissa Diniz, em abril de 2013.

 

Até 06 de janeiro de 2013.

Sandro Akel no Espaço Sala

Um dos fundadores do prestigiado coletivo “Bijari”, Sando Akel segue carreira solo há alguns anos. Desde que realizou essa guinada, seu trabalho ganhou vigor e vem redefinindo de forma singular a arte pop urbana brasileira. Nesta que é sua segunda exposição no Espaço Sala, Centro, São Paulo, SP, intitulada “Encaixotado”, o artista mantêm a estética característica de suas criações, mas passa a flertar mais com o desenho, com a questão pictórica, como define o cenógrafo e artista plástico Zé Carratu, curador da mostra. Serão apresentados cerca de 20 trabalhos, todos realizados entre 2011 e 2012.

 

Sandro Akel sempre esteve muito ligado às questões da cidade. Em suas inúmeras viagens, principalmente pelo exterior, o artista buscou se alimentar com a estética do lugar visitado. A relação com os lambe-lambes, uma espécie de ícone do meio urbano e o principal identificador de sua obra, nasceu num desses encontros com a urbe. Segundo Akel, foi em Berlim, na Alemanha, que ele percebeu a força de um lambe-lambe como meio de comunicação. O que interessa ao artista é o design desses pedaços de papel que informam a população sobre os mais diversos eventos.

 

Assim como outras capitais, Berlim possui quilômetros de lambe-lambes espalhados pelas ruas. Sua função se limita ao tempo em que a atração anunciada está em cartaz. Depois disso, não tem mais valor e acaba sobreposto por outro. É nesse ponto que o artista gosta de retirá-los da parede, às vezes em camadas bem grossas, com mais de dez colados uns sobre os outros.

 

Os lambe-lambes eram recortados e colados numa superfície de madeira para, em seguida, receberem uma camada de parafina, outra marca de sua obra. Na exposição atual, “Encaixotado”, eles tornam-se suporte para o uso da tinta. Para o artista, o uso da tinta se faz mais presente. “Desde criança, sempre fui muito ligado ao desenho. Esse é o meu fio condutor com a arte e volto a explorá-lo agora em meus trabalhos, já que nunca deixei de desenhar”, comenta.

 

No coração de São Paulo, o Espaço Sala consiste em um apartamento de quase 300 m2 localizado em prédio projetado no início século XX pelo arquiteto Ramos de Azevedo, com vista para o Vale do Anhangabaú. Já recebeu mostras como a individual “Tabu”, do catarinense Davi Escobar, “Renato De Cara(s) – Cadernos, Fotografias e Objetos – + de 30 anos de apropriações”, individual do fotógrafo e galerista Renato de Cara, “Deslocamento”, do próprio Sandro Akel, entre outras exposições.

 

 

Até 20 de dezembro.

Fábula contemporânea

O Santander Cultural, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, apresenta o “Projeto RS Contemporâneo 2012″, que estimula a produção cultural gaúcha e a formação de público em artes visuais,. Encerrando seu primeiro ciclo – composto de três exposições – exibe, através de exposição individual, o trabalho de Nara Amelia. A exposição denominada de “O Mundo é uma Fábula”, reúne gravuras, desenhos e bordados inéditos ordenados em conjuntos e séries sob a curadoria do paraense Orlando Maneschy.

 

Entre as criações da jovem artista, estão personagens fantásticos, animais fabulosos e hibridizados que aproximam sua obra da literatura e da filosofia e, segundo o curador, remetem à questão humano-animal e ao exercício de autoconhecer.

O “Projeto RS Contemporâneo” prevê em cada edição um Conselho Curatorial que indica dois ou três artistas, cujos trabalhos, capazes de gerar uma contribuição relevante ao meio cultural, são observados por curadores de fora de sua área geográfica de atuação e que, até o momento, não haviam se voltado às suas poéticas.

Trata-se de uma rara oportunidade por diversos motivos: primeiramente, esses jovens terão suas produções analisadas por especialistas; contarão com ajuda de custo para a execução das obras e com as condições adequadas para a exibição das mesmas; e terão seus trabalhos documentados em um apurado catálogo.

O conselho curatorial deste ano referendou, nas duas primeiras mostras, os artistas Rochele Zandavalli e Rafael Pagatini. Para Carlos Trevi, Coordenador Geral do Santander Cultural, “…o programa consolidou o compromisso de estimular o trabalho de jovens artistas locais em sintonia com a crença do banco na criatividade como fonte de desenvolvimento. Em 2013, daremos continuidade ao RS Contemporâneo, um projeto que está diretamente relacionado à nossa vocação para a arte contemporânea e à valorização do potencial artístico brasileiro para fortalecer as economias locais e inseri-las no contexto cultural nacional”, destaca.

 

A exposição será exibida em outros locais como a Sala Nordeste de Artes Visuais no Recife, PE, graças ao Prêmio Funarte de Arte Contemporânea que a artista recebeu em 2012 e após o Recife, a exposição irá para São Paulo, na Galeria Jaqueline Martins.

 

Sobre a artista

 

Nara Amelia nasceu em Três Passos, RS, em 1982. Vive e trabalha em Porto Alegre. É doutoranda em Poéticas Visuais pelo PPGAV, Instituto de Artes da UFRGS, com bolsa de pesquisa CAPES, mestre em Artes Visuais pelo PPGART/UFSM (2009) e graduada em Desenho e Plástica pela UFSM (2006). Realizou as exposições individuais: O Melhor dos Mundos Possíveis!, Goethe-Institut, Porto Alegre, RS, 2011; Sob a Natureza, Centro Cultural São Paulo, Edital de Exposições, São Paulo, SP, 2010; e Um Céu Feito de Abismo, Galeria Arlinda Corrêa Lima, Edital de Exposições Fundação Clóvis Salgado, Belo Horizonte, MG, 2009. Recebeu os seguintes prêmios: Prêmio Funarte de Arte Contemporânea Sala Nordeste de Artes Visuais Recife, 2012; 18o Salão Unama de Pequenos Formatos, 2012; I Prêmio Ibema de Gravura, 2011; Prêmio Aquisitivo Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo, 2010. Entre as principais mostras coletivas, estão: Convite à Viagem, Rumos Itaú Cultural, São Paulo, SP, 2012; Labirintos da Iconografia, Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli, Porto Alegre, RS, 2011; Hong Kong Graphic Art Fiesta, Hong Kong, 2011; e III Gráfica Gaúcha: Novíssimos e Independentes, Centro Cultural Érico Veríssimo, Porto Alegre, RS, 2009.

Até 06 de janeiro de 2013.

Exposição de Emmanuel Nassar

“Este Norte”, exposição individual de Emmanuel Nassar, sob curadoria de Felipe Scovino, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, apresenta cerca de 55 trabalhos – pintura sobre tela, papel e chapas metálicas, e fotografias – datados entre 1988 e 2012, exemplificando a multiplicidade de leituras da obra deste artista paraense, radicado em São Paulo.

 

O título da mostra tem as mesmas iniciais do nome do artista, E e N, letras que também aparecem em várias telas, simbolicamente como pontos cardeais. Nassar avalia a alegoria das iniciais como o E sendo referência ao indivíduo, seu nome Emmanuel, e o N, ao coletivo, de Nassar, dos seus antepassados. Também pode remeter a Este (leste) e Norte, os pontos geográficos, ou ainda a Efêmero e Natureza ou Eu e Nós, como sugere o artista.

 

Scovino centra a curadoria para além das referências a uma geometria popular, que seria uma associação rasa ao trabalho de Nassar, e chega a “…um elemento cínico, sarcástico e, em certa medida, violento”, como ele conceitua. Nele estão, segundo o curador, pensamentos estéticos originários de várias representações da cidade – a gambiarra, a rua e seus acidentes – a um repertório que inclui Mondrian e outros artistas.

 

“Este Norte” não é uma retrospectiva, mas um panorama de tempos distintos da produção do artista. Nos encontros dos dois, durante o último ano, o curador identificou um aspecto menos avaliado da obra de Nassar, que é a revelação de um elemento mais ácido, às vezes, violento, como na presença mãos e braços decepados, a linguagem da rua nas chapas metálicas, um rifle e indivíduos acorrentados. Até então, a crítica aproximou a obra de Nassar ao popular, em detrimento da consideração de um lado cínico de sua produção.

 

A seleção de obras de “Este Norte” “foge de um Brasil exótico, quente ou espetacular. Há uma miséria que reina no país e está sendo relatada na sua obra”, defende Scovino, que dá como exemplo o processo de escolha e produção das chapas metálicas. “É essa ‘sujeira’ que me interessa apresentar ao público com essa exposição”, define o curador.

 

Nassar argumenta que passou a juventude na ditadura militar brasileira e seu trabalho tem a cor e a liberdade vigiada, a geometria, mas inclui uma perversão que pode estar em uma geometria imperfeita, como em “Mãodrian, de 1995, que remete ao pintor Mondrian, mas é feito com retas tortas, tem uma tramela de arame e um prego amarrado para, supostamente, sustentar o retângulo.

 

Incorporar dificuldades, remendos e improvisos ao conceito do trabalho é um dos orgulhos do artista. E exemplifica: “Tela que não passa na porta do apartamento vira díptico; as chapas são módulos de 90x90cm, porque isso permite diferentes adaptações a espaços expositivos. Elas viajam muitas vezes sem embalagem e vão se arranhando, o que foi incluído no trabalho e levou o artista a soluções mais brutas, mais perversas.

 

Os suportes que Nassar usa – tela, fotografia, chapas metálicas – podem provocar um embaralhamento no espectador. A pintura está muito próxima da fotografia e a chapa pode vir a ser “tela”, quando recebe tinta. O artista explica que sua ideia de arte é a de tirar de um contexto e dar outro significado. As chapas metálicas, de restos de propaganda, fragmentos de superfícies pintadas descartadas, se juntam a outras concebidas por ele. Com o tempo, elas se desgastam e o espectador já não consegue mais distinguir o que é lixo e o que foi criado pelo artista. As fotos são pinturas fotografadas e apresentadas junto com as pinturas reais. A intenção é mesmo a de confundir o olhar do visitante. Nassar batizou uma fase de seu trabalho de “popcopiado”, para conceituar o trabalho de “mixagem, de apropriação”, diz ele, que considera “acadêmico” se autodenominar único, sem influência”. “Somos popcopiados”, alega.

 

A palavra do artista

 

Eu copio dos neoconcretistas, eu copio do pop americano, eu copio de todo mundo e crio uma coisa que está tão copiada, que ninguém vai poder dizer que não é minha. […] Sempre achei que o perigo era copiar de uma só fonte. Se eu copiar de muitas fontes, ninguém vai poder dizer que já viu isso antes. São popcopiados. Uma profusão de cópias, que confunde o original e se torna um novo original.

 

Sou um repetidor daquilo que eu faço, em todas as linguagens. Sempre estou fazendo o mesmo”, confessa o artista. Nassar diz “adorar a ideia de que as pessoas confundam a autoria de seus trabalhos. É a ideia de apropriação contaminada pela minha autoria” explica.

 

Na mostra, há pintura copiada de foto de Nassar e há foto dele a partir de sua pintura. É a cópia da cópia. Ele confessa gostar da ideia de confundir aquilo que foi feito por ele, aquilo que não foi feito por ele, mas que foi editado, trazido, unido pelo artista.   

 

Os suportes podem variar, mas Nassar nunca deixa de pensar como pintor. Ao mesmo tempo, ele não está refém do material da pintura. Há casos em que ele nem pega na tinta, mas na câmera fotográfica. Os trabalhos desta série ele intitula “pintura fotografada”.

 

Em vários momentos, Nassar equilibra cores dissonantes, como um verde fosforescente com cinza e preto. Há ainda a incidência de preto, cinza e chumbo no fundo da tela, que formam uma composição cromática distinta de outros pintores de sua geração. Há chapas autorais, outras são simplesmente apropriadas e algumas, interferidas por ele, que valoriza a economia de recursos e não considera errar nunca, porque sempre existe a recuperação e a reutilização.

 

Sobre o artista

 

Emmanuel Nassar nasceu em 1949, no Pará. Vive e trabalha em São Paulo. Começou a expor em 1979 e, a partir de então, fez dezenas de individuais no Brasil e em Lisboa, Berlim, Colônia e outras cidades alemãs, e Amsterdam. Nassar participou de várias Bienais internacionais, como a de São Paulo, do Mercosul, de Tijuana (México), Cuenca (Equador), Havana (Cuba) e Veneza. Ele tem obras nas coleções institucionais nacionais, como MAM Rio, MNBA, MAM SP, MAC USP, Itaú, Marcantonio Vilaça, MAMAM, e internacionais, como Patricia Phelps de Cisneros (NY-Caracas), Suermondt-Ludwig-Museum (Aachen, Alemanha), Aachen, Germany e Universidade de Essex – Collection of Latin American Art (Colchester, Inglaterra).

 

A mostra será acompanhada de catálogo bilíngue (português e inglês), de  84 páginas, com reprodução em cores dos trabalhos expostos e outros, e texto inédito do curador Felipe Scovino. A exposição “Este Norte”, de Emmanuel Nassar,é uma produção de Mauro Saraiva | Tisara Arte Contemporânea e foi contemplada pelo Pró Artes Visuais da Secretaria Municipal  de Cultura. Na abertura, sábado, 1º de dezembro, tem som de Bruno Queiros, Icaro dos Santos e Quito (Nuvem) e DJ Nepal, das 16 às 21h, e conversa do curador Felipe Scovino com o artista, às 17h.

 

Até 03 de fevereiro de 2013.

Ana Maria Pacheco na Pinacoteca

28/nov

 

A Pinacoteca de São Paulo, São Paulo, SP, apresenta a exposição de Ana Maria Pacheco com cerca de 50 obras, entre gravuras, livros de artista e esculturas, realizadas entre 1998 a 2012. Segundo o curador Carlos Martins, os grandes destaques da mostra são as esculturas “Noite escura da alma”, que reúne um grupo de figuras dispostas em torno de uma figura central, compondo uma arena forjada por uma situação intrigante e ameaçadora, e “Memória roubada I” e “Memória roubada II”, que remetem a um tempo passado muito ligado a memória de um universo religioso. Além de uma seleção de gravuras, com obras de pequeno e grande formato, que oferece um significativo panorama da produção da artista, um testemunho de seu rico imaginário.

 

Esta é a primeira exposição de Ana Maria Pacheco na Pinacoteca. Radicada em Londres desde 1973, Ana Maria consolidou seu trabalho em meio ao competitivo cenário artístico europeu, trazendo como traço definitivo a simbiose de influências da vivência londrina com o imaginário de origem brasileira. Sua obra se reporta às tradições da nossa cultura popular a e, por meio de seu amplo conhecimento de história, literatura e da tradição iconográfica, constrói um mundo muito particular de imagens densas e sombrias, carregadas de ironia e metáforas, sempre surpreendentes. “Ana Maria Pacheco sabe provocar nossa imaginação e sensibilidade. Com suas gravuras e esculturas, a artista nos arrebata e, em estado de cumplicidade, somos levados ao seu mundo repleto de situações insólitas, muitas vezes assustadoras”, afirma o curador Carlos Martins.

 

Ana Maria possui múltipla formação nos campos da arte, música e educação – graduou-se em 1965 pela Universidade Católica e pela Universidade Federal de Goiás. A escultura foi a sua forma de expressão privilegiada, desde o princípio, e sua participação na Bienal de Artes de Goiás, em 1970, foi reconhecida com uma premiação; em 1971, expôs na Bienal de São Paulo. Com uma bolsa de estudos concedida pelo Conselho Britânico do Rio de Janeiro, partiu para Londres onde estudou na Slade School of Fine Art, de 1973 a 1975. Atualmente vive e trabalha em Londres, sendo a primeira artista estrangeira a usufruir do projeto promovido pela National Gallery de residência artística.

 

Até 03 de fevereiro de 2013.

Henrique Oliveira no Rio

26/nov

Henrique Oliveira realiza a maior exposição individual de sua carreira, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ, sob curadoria da cientista social e historiadora de arte Vanda Klabin. São oito pinturas e cinco esculturas, datadas de 2008 a 2012, entre as quais algumas inéditas dentro e fora do país, emprestadas de coleções particulares e institucionais.A mostra será acompanhada de catálogo de 35 páginas, com reprodução de todos os trabalhos expostos e texto da curadora Vanda Klabin produzida por Mauro Saraiva | Tisara Arte Contemporânea.

 

As pinturas e esculturas de Henrique Oliveira, de dimensões arquitetônicas, têm despertado interesse internacional. Em janeiro de 2013, ele embarca para Paris, para uma residência de seis meses, que culminará com uma exposição individual, no Palais de Tokyo, na capital francesa.

 

Na sua produção, pintura e escultura não são expressões estanques. “O movimento da pintura está presente na escultura”, diz o artista. A curadora Vanda Klabin aponta certa paridade entre os dois meios: “Sua pintura, com vibrantes contrastes, harmonias dissonantes, grumos espessos e com alta voltagem cromática, tem uma conotação ambígua e é também transformada em linguagem tridimensional a desdobrar-se no espaço”.

 

Nas esculturas, Henrique Oliveira superpõe lascas de compensado flexível descartado, de tapumes de obras urbanas. Fixadas por parafusos, elas criam volumes. Em seguida, ele intervém com tinta acrílica diluída, quase aquarela, de maneira que a textura do material não mude.

 

Oliveira descreve seus trabalhos tridimensionais como a ampliação de uma textura, de um empasto de tinta a óleo, em alguns casos. Outros são “mais naturais, como tumores”, diz ele. Nos títulos que cria, essas formas aparecem compondo palavras infamiliares: Xilonoma, Xilempasto, inspiradas em consultas ao Atlas of Gross Pathology e a The New Atlas of Human Anatomy.

 

As pinturas se constituem de um misto de procedimentos. A tela é colocada no chão, Henrique joga a tinta e deixa escorrer, mas também usa a pincelada e a raspagem com espátula. Esses procedimentos não se fundem. Por isso, o resultado é semelhante a uma “colagem”, segundo ele. A profusão de cores não cria volumes. O relevo é o da própria tinta. A exposição foi contemplada pelo Pró Artes Visuais da Secretaria Municipal  de Cultura.

 

Sobre o artista

 

Mestre em Poéticas Visuais pela ECA-USP, Henrique tem um currículo de 17 individuais e 49 coletivas em cidades brasileiras e em Paris, Bruxelas, Linz [Áustria], Washington, Houston, Cleveland, New Orleans, Miami e Boulder [EUA], Brisbane [Austrália], Monterrey, Tijuana [México] e Buenos Aires, em pouco mais de uma década de carreira. O artista participou da Bienal Internacional de São Paulo de 2010, da Bienal do Mercosul e da de Monterrey, ambas em 2009. O artista é detentor dos prêmios APCA 2011 – Destaque do Ano, São Paulo; CNI SESI Marcantonio Vilaça 2009; Festival de Cultura Inglesa|Conselho Britânico, São Paulo; Projéteis FUNARTE de Arte Contemporânea 2006, RJ; Fiat Mostra Brasil 2006 e Visualidade Nascente | Centro Universitário Maria Antonia 2005, entre outros. Ganhou bolsas de residência e pesquisa de The Fountainhead Residency – Miami; do Smithsonian Institute – Washington DC; da Cité Internationale des Arts, Paris, e outras da FAPESP de mestrado e de iniciação científica. Com obras em coleções institucionais, como Pinacoteca Municipal,  Itaú, Museu de Afro-Brasil, Metrópolis [SP], MAC Rio Grande do Sul, MAM Rio e Gallery of Modern Arte de Brisbane, Henrique Oliveira, nascido em Ourinhos, SP, em 1973, vive e trabalha na capital paulista. Em 2004, ele se formou em Artes Plásticas pela ECA-USP e em Comunicação Social pela ESPM.

 

Na abertura, sábado, 01 de dezembro, tem som de Bruno Queiros, Icaro dos Santos e Quito (Nuvem) e DJ Nepal, das 16 às 21h, e conversa da curadora com o artista, às 16h.

 

De 01 de dezembro a 03 de fevereiro de 2013.

Mostra de Fernanda Gomes

A Galeria Laura Alvim, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, sob a curadoria do crítico Fernando Cocchiarale,  a exposição individual de Fernanda Gomes. Há mais de vinte anos, a artista  vem construindo uma obra singular, inclassificável dentro dos parâmetros tradicionais das artes visuais, com repercussão Brasil e no exterior. O trabalho de Fernanda Gomes é muito particular, diferente de tudo a que se está acostumado, mas seu currículo demonstra que ela é incensada mundo afora. Um exemplo: o Centre Pompidou (Beaubourg), Paris, acabou de adquirir uma obra da artista que em suas palavras, “dá importância ao que a maioria acha banal”.

 

Fernanda Gomes realizou mostras individuais e coletivas em quase todos os países da Europa, além dos Estados Unidos, México, Austrália, Nova Zelândia e Japão. Participou das bienais internacionais de São Paulo, 1994, Istambul, 1995, Sydney, 1998 e Veneza, 2003. Neste momento, participa da Bienal Internacional de São Paulo. Seu trabalho faz parte, entre outras, das coleções do Miami Art Museum, Tate Modern, Fundación/Colección Jumex, Vancouver Art Gallery, MAM-Rio e Museu Serralves, em Portugal, onde também desenvolveu escultura permanente para o parque do museu.

 

A palavra da artista

 

“Penso uma exposição como um momento preciso em uma atividade contínua, aberto para uma dimensão comum a todos. Inclui o lugar, em toda sua amplitude. O espaço da galeria é também lugar, território ao mesmo tempo mítico e familiar, Ipanema! Inclui a praia, a rua, a praça, o morro. Expande-se esta dimensão na experiência do encontro, em um espaço da cidade, para a cidade, com possibilidades infinitas e imprevisíveis.”

 

“Será uma exposição que parte mais de princípios do que de projetos, como me agrada fazer. Sem temas ou sistemas determinados, mas pensando também no desenho como início de tudo. Desenho: verbo e substantivo. Desenho que é também risco na superfície do mundo, ação e tempo, o inseto e seu trajeto e o vento na areia. Registro de vôo, mapas, cartas de navegação, marcas que tentamos apagar, nódoas nos tecidos, aquarelas da umidade dos dias, e o pó, terra, ferrugem! Ver as coisas, todas as coisas, em sua beleza. Desenho que é pensamento plástico essencial, vocabulário ancestral que cria outros roteiros para a imaginação. Todos desenhamos quando crianças. Porque tantos param de desenhar?”

 

Até 17 de fevereiro de 2013.

José Rufino na Casa França-Brasil

Um gigantesco corpo de herói – 193 m³ -, construído a partir de memórias físicas, traços e materiais coletados, empreende na Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, uma odisseia particular, concebida pelo artista visual José Rufino, em cuja obra o passado e o presente se enfrentam permanentemente. O “Ulysses” de José Rufino ocupará todo o vão central do prédio da Casa França-Brasil. Seu corpo, impregnado de vivências, sentimentos e essências da cidade – cuja Baía de Guanabara se transforma, por comparação, na costa da Grécia por onde Ulysses viajou – é uma ponte entre os muitos passados e os futuros possíveis para um Rio ao mesmo tempo heroico e comum, eterno e presente no aqui e agora.

 

A baía de Guanabara se transforma na Grécia de Ulysses pelas mãos de José Rufino, artista contemporâneo que é também paleontólogo, e tem uma relação permanente com o passado. O convite da Casa França-Brasil levou-o a imaginar uma nova Odisseia, em que os traços do Rio – madeiras, pedras, ferros, concreto, conchas, cerâmicas etc. – são recombinados para compor o corpo do herói. A composição deste novo e monumental Ulysses demanda toda uma logística que começa com a coleta de materiais. Desde setembro, José Rufino tem vindo ao Rio para esse garimpo pessoal das memórias impressas nas matérias recicladas e reutilizadas, que carregam suas próprias memórias.

 

José Rufino começa seus trabalhos muitas vezes a partir do lugar que ocupará. Uma obra de tal magnitude não poderia ser elaborada sem testes muito rigorosos. O espaço ideal para a primeira fase de montagem foi conseguido através de uma parceria do artista com o Galpão Aplauso, espaço cultural e social que funciona no Santo Cristo, e que prepara jovens artistas para as várias facetas que compõem o mundo do espetáculo.

 

Até 17 de fevereiro de 2013.