Panorama de Arte Brasileira

26/ago

Sertão é palavra de origem desconhecida. Na língua portuguesa, há registros de sua existência desde o século XV. Quando aqui aportaram, os colonizadores já trouxeram consigo o termo, usando-o para designar o território vasto e interior, que não podia ser percebido da costa. Desde então, a esse vocábulo atribuem-se diversos sentidos, sem nunca ser fixado numa ideia pacificada. É constituído, inclusive, por oposições: pode referir-se à floresta e ao descampado, ao lugar deserto e também ao povoado, àquilo que é próximo e ermo. Qualifica o visível e o desconhecido, trata da aridez e da fertilidade, do inculto e do cultivado.
Ainda que tenha chegado ao Brasil na caravela, sertão não cessa de se insurgir contra o colonialismo e de escapar de seus desígnios. Mantém sua potência de invenção, não se rende aos monopólios dos saberes patriarcais, exige novos pactos sociais, desierarquiza sua relação com a natureza, reverencia o mistério, festeja. Sertão é, antes e depois de tudo, experimentação e resistência, qualidades fundamentais para viver a arte e que nos trazem a este 36º Panorama da Arte Brasileira, em exibição no MAM, até o dia 15 de novembro, no Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP.
No Brasil que pleiteava sua modernização, no início do século XX, sertão passou a referir-se, sobretudo, à região do Nordeste de clima semiárido, ilustrada por sua vegetação de caatinga, em oposição ao litoral. Nesse momento, reforça-se o projeto de um lugar seco, primitivo, rude, propagandeando um outro na iminência do flagelo. Forja-se, dessa maneira, uma condição de submissão que justificaria políticas assistencialistas, mas sobretudo a atualização de medidas de exploração. Suas imagens estão presentes por toda a cultura brasileira, ainda que nenhuma delas dê conta de tudo o que pode significar.
Contrariando determinismos, e sob a luz de uma certa produção de arte do Brasil, Sertão é modo de pensar e de agir. Termo evocativo, traz consigo afetos transformadores, formas políticas, ideais de criação, memórias de luta, rituais de cura, ficções de futuro. Esta arte-sertão que aqui se apresenta está no deslizar das linguagens. Mais que um lugar, essa condição sertão é a travessia. Espalha-se Brasil afora, está no manejo do roçado, supera-se na viela da favela, desce pelo leito do rio, está escrita nos muros da cidade e presente na terra retomada. Manifesta-se nos encontros e nos conflitos.
No 36º Panorama da Arte Brasileira, 29 artistas e coletivos reúnem-se para compartilhar estratégias de resistência e modelos de experimentação, a partir de suas histórias. Se sertão está no limite do que se pode apreender, por definição, a ideia de panorama é complementar na forma de sua contradição. A importância de juntar essas instâncias e acolher essas oposições, no entanto, se dá pela necessidade cada dia mais atual de defender existências não hegemônicas e de compartilhar outros modos de vida. Enquanto a arte puder afirmar sua condição sertão, vai ter sempre luta, vai haver sempre a diferença, vai existir sempre o novo.
Júlia Rebouças

 

 

Curadora

 

Artistas:
1- Ana Lira (Caruaru – PE, 1977. Vive no Recife); 2 – Ana Pi (Belo Horizonte, 1986. Vive em Paris); 3 – Ana Vaz (Brasília, 1986. Vive em Lisboa); 4 – Antonio Obá (Ceilândia – DF, 1983. Vive em Brasília); 5 – Coletivo Fulni-ô de Cinema (Águas Belas – PE); 6 – Cristiano Lenhardt (Itaara – RS, 1974. Vive em São Lourenço da Mata – PE); 7 – Dalton Paula (Brasília, 1982. Vive em Goiânia); 8 – Daniel Albuquerque (Rio de Janeiro, 1983. Vive no Rio de Janeiro); 9 – Desali (Contagem – MG, 1983. Vive em Belo Horizonte); 10 – Gabi Bresola & Mariana Berta (Joaçaba – SC, 1992 / Peritiba – SC, 1990. Vivem em Florianópolis, SC); 11 – Gê Viana (Santa Luzia – MA, 1986. Vive em São Luís); 12 – Gervane de Paula (Cuiabá, 1961. Vive em Cuiabá); 13 – Lise Lobato (Belém, 1963. Vive em Belém); 14 – Luciana Magno (Belém, 1987. Vive em São Paulo); 15 – Mabe Bethônico (Belo Horizonte, 1966. Vive em Genebra e Belo Horizonte; 16 – Mariana de Matos (Governador Valadares – MG, 1987. Vive no Recife); 17 – Maxim Malhado (Ibicaraí – BA, 1967. Vive em Massarandupió – BA); 18 – Maxwell Alexandre (Rio de Janeiro, 1990. Vive no Rio de Janeiro); 19 – Michel Zózimo (Santa Maria – RS, 1977. Vive em Porto Alegre); 20 – Paul Setúbal (Aparecida de Goiânia – GO, 1987. Vive em São Paulo); 21 – Radio Yandê (Rio de Janeiro, 2013); 22 – Randolpho Lamonier (Contagem – MG, 1988. Vive em Belo Horizonte); 23 – Raphael Escobar (São Paulo, 1987. Vive em São Paulo); 24 – Raquel Versieux (Belo Horizonte, 1984. Vive no Crato – CE); 25 – Regina Parra (São Paulo, 1984. Vive em São Paulo); 26 – Rosa Luz (Gama – DF, 1995. Vive em São Paulo); 27 – Santídio Pereira (Curral Comprido – PI, 1996. Vive em São Paulo); 28 – Vânia Medeiros (Salvador, 1984. Vive em São Paulo); 29 – Vulcanica Pokaropa (Presidente Bernardes – SP, 1993. Vive em Florianópolis).

 

 

50 anos de Panorama

 
O Panorama da Arte Brasileira teve sua primeira edição em 1969 e foi idealizado como forma de o museu recompor seu acervo e voltar a participar ativamente do circuito artístico contemporâneo. A princípio evento anual, o Panorama passou a ser realizado a cada dois anos a partir de 1995, contando até o momento 35 edições.
Parcerias
O 36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão procurou ampliar seu tempo e espaço de atuação por meio de parcerias estratégicas: com a Festa Literária Internacional de Paraty, serão promovidas duas mesas de debate convidando um participante da Flip e um participante do Panorama, com a mediação de Júlia Rebouças e Fernanda Diamant, curadora da 17ª edição da Flip; com o Auditório Ibirapuera, vizinho do museu, foi organizada uma programação musical a partir dos conceitos trabalhados no Panorama para o dia 18/08, dia seguinte à abertura no MAM; e, com a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, novos debates acontecerão em setembro e outubro, promovendo o encontro entre artistas, psicanalistas e o público.
Irmãos Campana na loja mam

 
O estúdio Campana, dos irmãos Fernando e Humberto Campana, que celebra em 2019 seus 35 anos de trabalho, ficará a cargo da curadoria da loja mam durante o período do Panorama, com o patrocínio do Iguatemi São Paulo. O trabalho dos Campana incorpora a ideia da transformação, reinvenção e integração entre o artesanato e a produção em massa, oferecendo um design com identidade própria, mixando a individualidade dos materiais à preciosidade das características comuns no cotidiano brasileiro, como as cores, as misturas, o caos criativo. A partir do olhar único dos irmãos Campana, que contam com um extenso trabalho de pesquisa da cultura vernacular nordestina presente em suas coleções, os visitantes poderão vivenciar um novo espaço da loja mam e encontrar peças cuidadosamente selecionadas que trabalham com o conceito expandido de sertão.
Equipe do 36º Panorama da Arte Brasileira: Sertão
Curadoria – Júlia Rebouças (Aracaju, 1984. Vive entre Belo Horizonte e São Paulo) curadora, pesquisadora e crítica de arte. É curadora do 36o Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna – SP, em 2019. No mesmo ano, realiza a curadoria de Entrevendo, mostra antológica de Cildo Meireles, a ser inaugurada no Sesc Pompeia -SP, em setembro. Foi co-curadora da 32a Bienal de São Paulo, Incerteza Viva (2016). De 2007 a 2015, trabalhou na curadoria do Instituto Inhotim, Minas Gerais. Colaborou com a Associação Cultural Videobrasil, integrando a comissão curadora dos 18o e 19o Festivais Internacionais de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil, em São Paulo. Foi curadora adjunta da 9a Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, em 2013. Realiza diversos projetos curatoriais independentes, dentre os quais destacamos a exposição Entrementes, da artista Valeska Soares, na Estação Pinacoteca, São Paulo, de agosto a outubro de 2018, a mostra MitoMotim, no Galpão VB, São Paulo, de abril a julho de 2018 e Zona de instabilidade, com obras da artista Lais Myrrha, na Caixa Cultural, São Paulo, em 2013. Graduou-se em Comunicação Social/ Jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (2006). É Mestre e Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal de Minas Gerais.
Assistência curatorial – Catarina Duncan (Rio de Janeiro, 1993. Vive em São Paulo) curadora e programadora cultural. Formada em Culturas Visuais e História da Arte pela Goldsmiths College, University of London (2010 – 2014), foi assistente curatorial da 32a Bienal de São Paulo (2015- 2016), do ‘Pivô Arte e Pesquisa’ (2014 – 2015) e das exposições ‘Terra Comunal Marina Abramovic’ no Sesc Pompeia (2014), entre outros. Coordenou a programação pública da obra ‘Cura Bra Cura Té’ de Ernesto Neto na Pinacoteca (2019). Participou de diversas residências artísticas, entre elas a ‘Residents Art Dubai’ (2019) com curadoria de Fernanda Brenner, e ‘Lastro’, na Bolívia e Guatemala (2015 – 2017), ao lado da curadora Beatriz Lemos. Assinou a curadoria das exposições ‘⦿‘ na Galeria Leme (2018), ‘Somos Muitxs’ no Solar dos Abacaxis (2018), ‘Oráculo Piedoso’ de Martin Lanezan na Galeria Sancovsky (2018), ‘Travessias Ocultas – Lastro Bolivia’ no Sesc Bom Retiro (2018), Fio Corpo Terra’ no espaço Saracura (2017). Integrou o coletivo Terreyro Coreográfico (2015- 2016). Atua como representante do programa COINCIDENCA da fundação suíça para cultura Pro Helvetia no Brasil.
Arquitetura – Estudio Risco. Inaugurado em 2007, o estúdio Risco é um coletivo formado por artistas de trajetórias variadas e interesses múltiplos. Presta serviços de arquitetura, cenografia, expografia, desenho de produto, desenho gráfico e videografia. Hoje é formado por Humberto Pio, Juliana Amaral, Marcelo Dacosta e Tiago Guimarães. Nos últimos quatro anos, desenvolveu o desenho de mostras de arte como: “O que os Olhos Alcançam – Cristiano Mascaro” (Sesc Pinheiros, 2019), “Arte-Veículo (Sesc Pompeia, 2018)”, “Estou Cá” (Sesc Belenzinho, 2016-7), “Sempre Algo Entre Nós” (Sesc Belenzinho, 2016), “Potlatch: Trocas de Arte” (Sesc Belenzinho, 2016), “Provocar Urbanos” (Sesc Vila Mariana, 2016), “Arno Rafael Minkkinen: O corpo como evidência” (Sesc Jundiaí e Sesc Vila Mariana, 2016) e VI Mostra de 3M de Arte Digital (Fundição Progresso, Rio de Janeiro, 2015).
Design – Elaine Ramos (São Paulo, 1974) é designer atuante na área cultural e sócia da editora paulistana Ubu. Foi, por 11 anos, diretora de arte da editora Cosac Naify, onde também coordenou a edição dos títulos sobre design. É co-organizadora da Linha do tempo do design gráfico no Brasil, foi co-curadora da exposição Cidade Gráfica, no Itaú Cultural em São Paulo e é membro da Alliance Graphique Internationale (AGI).

 

Hamish Fulton na Bergamin & Gomide

13/ago

A Galeria Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP, apresenta Hamish Fulton A Walking Artist “Caminhar transforma, andar é mágico. Caminhar é um bom remédio.” Na terceira exposição do ano, a Bergamin & Gomide apresenta a individual do artista britânico Hamish Fulton, entre os dias 13 de Agosto e 05 de Outubro de 2019, reunindo obras que compreendem diversas mídias e períodos ao longo da trajetória do artista, cuja poética dialoga com a experiência do caminhar. Hamish Fulton (Londres, 1946) afirma ser um “artista caminhante” e desenvolve uma pesquisa que evidencia a intenção de transformar ideias em experiências reais. Sua obra não se limita ao ato de caminhar – Fulton é reconhecido pela trajetória singular que possui como essência a fusão entre natureza, fotografia e texto. Na segunda exposição do artista no Brasil, a galeria apresentará 25 trabalhos produzidos desde a década de 1960 até os dias atuais, entre esculturas, desenhos, fotografias e uma obra Site-Specific. A obra “Sem título (EUA, 1969) / Untitled (USA, 1969)” reúne registros fotográficos em preto e branco de uma das muitas vezes em que realizou travessias pela Península Ibérica. Neste trabalho é possível assimilar a experiência sutil e poética do trajeto de Fulton, assim como os obstáculos e descobertas do caminho, representados pela carcaça de um animal, a sombra do tronco de madeira refletida na terra, o desenho circular que se expande no espelho d’água e o rebanho de gado que atravessa a estrada. Também serão apresentados trabalhos com referências ao Nepal e à Noruega; desenhos com linhas que remetem as formas das montanhas combinados a textos que fazem referência aos trajetos percorridos, como no Monte Fuji, na obra “Fuji. Japan” de 1988, e nas montanhas rochosas de Wyoming, na obra “Seven Small Mountains” de 2017. Estarão expostas também obras em que o artista usa a madeira como suporte e cria uma concepção simétrica particular dessas experiências; como na travessia de Serra Nevada na Espanha, com a obra “A Walk to the top of Mulhacen Sierra Nevada Spain Easter” de 1984, e o vulcão Licancabur na fronteira entre Chile e Bolívia, na obra “Licancacur Bolivia” de 2012. Sobre Hamish Fulton: Ao longo de quase 50 anos de carreira, Hamish Fulton realizou exposições individuais e retrospectivas nas mais importantes instituições, como Centre George Pompidou em Paris, MoMA em Nova York e Tate Britain em Londres; participou de exposições coletivas como a Documenta 5 e Documenta 6 em Kassel, e integra os principais acervos mundiais como do National Museum no Japão e o Guggenheim Museum em Nova York. Possui mais de 40 publicações sobre sua obra e as experiências nas viagens ao redor do mundo para países como Nepal, Tibete, Japão, Bolívia, Chile, França, Espanha, Escócia e outros. Sua produção artística envolve recursos diversos como desenhos, textos, fotografias, wall paintings, pinturas, vídeos, caminhadas coletivas em espaços urbanos e projetos editoriais. Embora sua produção artística seja muitas vezes associada à Land Art; aspecto ironizado pelo próprio artista no convite de uma de suas exposições com o uso da frase “ISTO NÃO É LAND ART”; a mesma transborda o conceitualismo normalmente presente em intervenções na natureza, manifestando-se através da diversidade da produção de materiais e do rígido processo de documentação daquilo que experiencia. Rotas, mapas, percursos, diários, datas, fotos, desenhos, colagens e anotações, tudo coexiste e está sob controle do artista. Suas rotas devem ser bem definidas, os mapas de fácil leitura, a barraca e o saco de dormir de alta qualidade e fácil manuseio, seus calçados adequados a cada itinerário, a comida deve estar seca e não ter invólucros que ocupem espaço, e acima de tudo, o artista deve ter um bom livro e um bloco de anotações à sua disposição. O processo criativo de Fulton, isto é, o caminhar, confere à terra uma importante evidência na sua obra, trazendo à tona uma espécie de conhecimento que excede o compreensível. Em sua obra, sem qualquer ato de interferência na natureza, é possível sentir a presença humana, e ver o reflexo da identificação entre artista e homem, ou até uma resposta à necessidade instintiva e primitiva que os seres humanos têm de entrar em contato uns com os outros. Hamish Fulton pode estar nos mostrando, talvez inconscientemente, que antes de ser um artista, ele é um indivíduo. Como ele mesmo declarou, uma caminhada não é uma recriação nem um estudo da natureza, caminhar é uma maneira de melhorar a si mesmo, física e mentalmente, a fim de experimentar um estado temporário de euforia, uma conexão íntima entre sua mente e o ambiente. O caminhar é antigo e contemporâneo; o caminhar é a relação com tudo.

 

A palavra do artista

 

WALKing (Caminhar) é uma palavra de sete letras. Os primeiros sete passos. LUA CHEIA DO SOLSTÍCIO. UMA CAMINHADA DE SETE DIAS NAS MONTANHAS DE CAIRNGORM NA ESCÓCIA. JUNHO 1986. Simplicidade. Caminhar é transformador, caminhar é mágico. Caminhar é um bom remédio. Uma longa caminhada. Hoje 2013, caminhar é mais importante que usar a internet. Wiki-walks. Opinião é uma palavra de sete letras. Caminhar é antigo e contemporâneo. Consistentemente, caminhar é a relação com tudo. LUA CHEIA SOLSTÍCIO INVERNAL. UMA CAMINHADA CONTÍNUA SEM DORMIR PELO CAMINHO DOS PEREGRINOS DE WINCHESTER ATÉ CANTERBUTY. INGLATERRA 21 22 23 DEZEMBRO 1991. (Rotas de peregrinação – uma perda do ego.) Sou o que chamo de um ‘artista caminhante’. Nenhuma dessas duas palavras descrevem uma técnica artística convencional (Não sou um escultor nem um fotógrafo de paisagem.) Não sou um artista conceitual. Transformo ideias em realidades vivenciadas. Sou um artista que anda, e não um andarilho que cria arte. Walking art é a aproximação de duas atividades completamente separadas. CAMINHAR É UMA FORMA DE ARTE POR MÉRITO PRÓPRIO. CAMINHAR É O CONSTANTE, A TÉCNICA DE ARTE É QUE É VARIÁVEL. Com Richard Long, realizei a minha primeira ‘artwalk’ (uma palavra de sete letras) quando era estudante na St Martins em Londres em 2 de fevereiro 1967. Porém levaria ainda mais seis anos para estabelecer progressivamente uma prática de trabalho através de tentativa e erro. (As caminhadas são construídas com regras auto-impostas). 16 de outubro 1973 após a realização de uma caminhada de costa a costa de mais de mil milhas do nordeste da Escócia até o sudoeste da Inglaterra, aos 27 anos, me comprometi com o seguinte: FAZER 100% DE ARTE RESULTANTE DA EXPERIÊNCIA DE CAMINHADAS INDIVIDUAIS. Criatividade. Acredito na diversidade (debate e discussão, concordamos em discordar) Uma diversidade de categorias de caminhadas, uma diversidade de criação de arte, uma diversidade de artistas. Mais importante, uma diversidade de formas de vida, GRAMAS INSETOS. Mercadorias? Os Direitos da Natureza (Oceanos.) Deixar a arte falar por si? Até agora não. Os historiadores de arte nos anos 70 presumiram que a minha walking art se encaixa nos seus temas escolhidos, a saber – pintura paisagista do passado e escultura ao ar livre no presente. Nenhuma pesquisa sobre a caminhada. L.A. Confidentiel: Nunca fui influenciado pelos Românticos e não quero ser associado ao landArt (uma palavra de sete letras.) A colisão entre os E.U.A. ‘não-deixe-rastros’? Para que fique registrado, a data do começo da minha postura foi 1959 quando li sobre a vida de Wooden Leg. da tribo Northern Cheyenne que lutou contra Custer. (25 de junho 1876.) História? História de quem? Justiça? Justiça para quem? Os direitos dos povos indígenas. Dez anos depois, em 13 de setembro 1969 caminhei – com Nancy Wilson, carregando comigo aquele mesmo livro sobre o campo de batalha de Little Bighorn. (Celebridade? Não existem fotografias de Crazy Horse.) Por volta de 1977, precisei ‘escapar’ da arte paisagística (jardinagem e o sistema de classe inglês). Assisti a palestras de alpinistas internacionalmente famosos como Doug Scott e mergulhei na literatura de expedições. Tornei-me um ‘alpinista de poltrona’. GRAVIDADE. Não sou alpinista nem escalador. Não sou científico nem um engenheiro. Sendo caminhante, considero o alpinismo inspirador. Nas palavras do alpinista contemporâneo norte-americano Steve House, ‘O meu machado de gelo pode ser o seu pincel’. Faço caminhadas em cidades. INDOORS (dentro), é uma palavra de sete letras. Acredito em caminhadas solitárias OUTSIDE (ao ar livre) em combinação com acampamento ‘selvagem’. Vida de tenda de acampar, rente ao chão, mais perto da natureza. Gramas, insetos. Posso caminhar o dia inteiro, mas não sou um caminhante rápido. Slowalk (caminhada lenta), é uma palavra de sete letras. No Tate Modern (30 de abril 2011) realizei uma caminhada comunitária indoor chamada, slowalk em apoio a Ai Weiwei. Protegido pelo Estado de Direito? T.A.A. Trekking de alta altitude. No 49º dia da expedição ficamos imóveis no topo do monte Everest, Chomolungma. Bardo. Essa experiência só me foi possível graças aos meus guias xerpas. Fui guiado por Ang Dorje xerpa de Pangboche. Alto e baixo, perto e longe. longe e há muito tempo atrás. Uma boa pergunta é, até onde você consegue andar?. Até a presente data, a minha caminhada mais extensa cobriu uma distância de 2838 quilômetros (carregando toda a minha bagagem), costa a costa da Espanha até os Países Baixos. CAMINHANDO NA DISTÂNCIA ALÉM DA IMAGINAÇÃO. É importante ressaltar que essa caminhada não muito longa foi ‘fácil’. Uma caminhada muito mais difícil, ‘cheia de nós’, duraria uma mera fração dessa duração. Os alpinistas me ensinaram a importância da rota e do estilo. Depois de vários anos de tentativas fracassadas, finalmente consegui: CONTAR 49 PASSOS DESCALÇOS NO PLANETA TERRA DURANTE CADA NOITE DAS DOZE LUAS CHEIAS DE 2010. Minha pegada de carbono oculta. Apenas uma consequência de persistentemente ignorar a natureza é o aquecimento global. Quem se importa com datas? Números é uma palavra de sete letras. Ursa Maior. Quipu. Horário do relógio, duração da vida, morte. Primavera, verão, outono, inverno. A migração das baleias, a migração das borboletas. (Calendário lunar.) No thing (nenhuma coisa), é uma palavra de sete letras. Tudo é feito de alguma coisa. Uma montanha não é feita de pedra, ela é pedra. UM OBJETO NÃO PODE COMPETIR COM UMA EXPERIÊNCIA. Desde 1973 toda obra de arte que eu materializei (coisas) contém um texto sobre a caminhada. Não proporciono o alivio de uma arte sem palavras. (Também não crio arte abstrata.) NÃO HÁ PALAVRAS NA NATUREZA. O peso físico de palavras (faladas). Talk the walk (“pratique o discurso”), A CAMINHADA É A ARTE. ARTE PEQUENA EXPERIÊNCIA GRANDE. Caminhar é transformador, caminhar é mágico. Kora Tibetana. Monjas tibetanas. Os derradeiros sete passos. Até o momento em que escrevo, 99 tibetanos têm se auto-imolado. História? História de quem? Hamish Fulton, 2013.

 

 

No Martins na Baró

08/ago

A Baró, Jardins, São Paulo, SP, exibe até 14 de setembro, “Campo minado”, a primeira exposição do artista No Martins na galeria. A curadoria é de Hélio Menezes. Durante a abertura aconteceu a performance “Em território hostil”.

 

Sobre o artista

 

No Martins nasceu em São Paulo, Brasil, 1987. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. No Martins teve seus primeiros contatos com as artes visuais nas ruas de São Paulo, através da Pixação e do Graffiti, em 2003, aos 16 anos. Por conta de sua curiosidade em conhecer novas linguagens artísticas passou a frequentar os ateliês de gravura da Oficina Cultural Oswald de Andrade entre 2007 e 2011, onde foi aluno de artistas como Rosana Paulino, Kika Levy, Ulysses Bôscolo e outros. Cursou Licenciatura em História e Artes Visuais. Entre as exposições que participou, se destaca a Histórias Afro-atlânticas no MASP e Instituto Tomie Ohtake, eleita pelo New York Times a principal exposição de 2018. No segundo semestre 2019 No Martins é um dos 55 artistas participantes da 21ª Bienal SESC VideoBrasil, e terá ainda em 2019, individuais no CCSP e no Instituto Pretos Novos no Rio de Janeiro – RJ. Sua produção artística transita em meio a pintura, performance e experimentação com objetos, nas quais Martins investiga as relações interpessoais cotidianas, principalmente a convivência do Negro(a), no cotidiano urbano, problematizando questões de territorialismo, acesso, racismo, mortalidade e encarceramento da população negra brasileira.

 

Um campo minado é, por definição, um terreno repleto de armadilhas subterraneamente prontas para machucar, ou mesmo destruir, todos que tentem atravessar uma determinada área. Uma espacialização de aparatos repressivos, artifício de obstrução de passagem, de impedimento de circulação. A expressão também nomeia um jogo popular de computador, cujo funcionamento reproduz a lógica explosiva da tática de guerra: um passo em falso, um descuido, e o lugar que antes parecia seguro, logo se revela um gatilho. O termo serve também de boa metáfora para os territórios segregados da vida social brasileira, repletos de perigos escondidos: para certos corpos, a experiência de atravessar as fronteiras invisíveis que dividem a cidade em CEP, cor e classe, equivale à de atravessar um campo minado. De transitar em espaços nos quais um mero desvio ou desencontro pode acionar conflitos incendiários no dobrar da esquina. Essa matéria do cotidiano urbano, de um Estado policialesco, uma sociedade desigual, uma vida vigiada e catracalizada, se converte em centro de interesse e experimentação no trabalho de No Martins. Em Campo Minado, o artista paulistano, nascido e residente à zona leste da cidade, apresenta um conjunto de obras que disseca as camadas de um racismo expressamente urbano, no qual o direito elementar de ir e vir é praticado ou restringido de maneira desigual entre negros e brancos, entre periferia e centro. Com referências autobiográficas e explorando diferentes linguagens – entre pinturas, objetos, vídeos, instalação -, a mostra individual de No Martins traduz e relê temas da ordem do dia, como o encarceramento em massa crescente, a seletividade penal flagrante do sistema judiciário, o racismo estrutural, a violência estatal abusiva e o crescimento do discurso militarista na sociedade brasileira. A obra que empresta nome à mostra é boa pista para o entendimento do conjunto. Nela, o artista se faz autorretratar de costas em escala humana, posicionado em situação de enquadro. Não é dado ao observador ver seu rosto: ao entrar em contato com a obra, somos deslocados a ocupar momentaneamente o lugar da polícia no momento da abordagem, fitando-o como o veria um agente de segurança pública. Somos, desse modo, como que convocados a entendermo-nos parte corresponsável pela cena que se configura à frente – violenta, mas absolutamente cotidiana para “indivíduos fora do padrão” como o artista: negro, jovem, periferizado. CAMPO MINADO A pintura horizontal em pedaços assimétricos de lona, cores marcantes e luminosas, a exploração de signos distintivos e elementos alegóricos (placas proibitivas de trânsito, câmeras de vigilância, letreiros de sinalização), uma expressividade que ecoa um muralismo da arte de rua, reforçam e instauram um ar de urgência, de alerta e gravidade. O contraste complementar com Sem título, retrato vertical e sensível de um agente policial fardado, mas descalço, complexifica a exploração do tema e desfaz maniqueísmos apressados. Com pés que remetem aos do Mestiço de Portinari, a ausência de sapatos faz ressaltar a pessoa, o sujeito negro por detrás do uniforme, seu mundo interior para além (ou aquém) do ofício. Se recordarmos que na história do Brasil o uso de calçados era interdito aos escravizados, convertendo-se em símbolo distintivo de liberdade, a composição ganha novos contornos. O trabalho de No Martins não busca conciliação, não está à cata de boas maneiras. Uma linguagem direta, sem rodeio, em obras como Expediente e 111 dividido por 5, engendra efeitos de denúncia, mas também convite à ação, à saída da letargia diante de um estado de sítio. A busca por uma reflexão sobre o momento presente, o agora, é marca e potência poética de sua produção. Nada parece escapar ao seu olhar: o assassinato de cinco jovens com 111 tiros pela polícia (o número de balas equivale, espantosamente, ao presidiários mortos no massacre do Carandiru); a profissionalização do tráfico de drogas e sua promiscuidade com a política institucional; o estrangulamento de um jovem negro por um golpe de “gravata” dado por um agente de segurança de supermercado. Episódios de violência cotidiana que informam um produção artística deliberadamente politizada, em consonância com movimentos mais contemporâneos da arte preocupados em influir e desejosos de atuar sobre o curso da vida.

 

 

Arrechea/Nara Roesler, Ipanema

Fragmentos e camadas de cores dão forma a máscaras carregadas de simbologia. Essa é a temática da exposição “Superfícies em conflito” do cubano Alexandre Arrechea, que após mais de uma década atuando junto ao coletivo Los Carpinteros, apresenta mostra individual no Rio de Janeiro. A exposição fica em cartaz até o dia 31 de agosto, na Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de janeiro, RJ e apresenta 12 trabalhos em diversos suportes, que vão das tradicionais telas à tapeçaria, papéis artesanais de cânhamo, linho e algodão, e videoinstalação.

 

As obras nos remetem, em um primeiro momento, às máscaras africanas, impressão essa confirmada pelo curador Rodolfo de Athayde, que destaca em texto curatorial as influências de Picasso e Malevich. As máscaras de Arrechea, sem olhos e sem bocas, de aparência enigmática, podem ser lidas a partir da problemática cubana com relação a liberdades e direitos humanos.

 

Mas esses trabalhos vão além: evocam estruturas urbanas, tanto em sua construção – que utiliza linhas, sulcos, texturas e sobreposições geométricas, lembrando os tradicionais bairros cubanos, suas casas e arquitetura – quanto na intenção de revelar, também filosoficamente, “as camadas da ação humana no tempo”. Dessa forma, o que inicialmente pode parecer uma obra de rápida assimilação, oferece, em seguida, outras possibilidades interpretativas.

 

5 mostras no Paço Imperial

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou seu terceiro bloco de exposições de 2019, com individuais de cinco artistas contemporâneos: Amador Perez, Angelo Venosa, Elizabeth Jobim, Jonas Arrabal e Paiva Brasil.

 

A programação se estende até 27 de outubro, contempla expressões diversas, como pintura, escultura, fotografia e instalação.

 

 

Dois na Kogan Amaro

06/ago

A partir de 08 de agosto e até 06 de setembro, a Kogan Amarao, Jardim Paulista, São Paulo, SP, exibe duas exposições: “A verdade está em tudo, mesmo no erro”, do multiartista Fabiano Rodrigues, que usa do ideário de Moholy Nagy para reunir colagens e fotomontagens a partir de negativos de até cem anos atrás e Felipe Góes, com “Cataclismo”, no mezanino da galeria, paisagens surreais, em que lava e água coexistem e se confundem, habitando as telas do pintor abstrato-figurativo.

 

 Fabiano Rodrigues

 

A verdade está em tudo, mesmo no erro

 

“O inimigo da fotografia é a convenção, as regras fixas de “como fazer”. Sua salvação vem da experimentação. O artista experimental não tem ideias preconcebidas, não acredita que a fotografia seja somente como é conhecida hoje – exata repetição e representação da visão costumeira. Não pensa que os erros devam ser evitados. Ousa chamar de ‘fotografia’ todos os resultados alcançados pelos meios fotossensíveis, com câmera ou sem.”

 

O texto acima foi escrito na década de 20 pelo artista húngaro e professor da Escola Bauhaus László Moholy-Nagy (1895-1946), um experimentador incansável, dos exponentes do Modernismo europeu que ajudaram a mudar os rumos da arte. Quase um século depois, ainda revolucionário, serve agora de tripé ao fotógrafo Fabiano Rodrigues, 45.

 

Para criar sua mais recente série de trabalhos, ele deixa a câmera na gaveta. Resgata imagens de sebos e álbuns de família esquecidos pela História. Desdobra-se em colagens e fotomontagens a partir de 400 negativos das décadas de 50 e 60, quando as máquinas fotográficas caíram no gosto popular. Em suas experiências, não abre mão dos erros. Pelo contrário, põe-se a explorá-los, trazendo à luz uma outra realidade, mais plástica.

 

A ideia é dar aos registros uma nova interpretação, ressignificá-los de maneira irreverente. Após recortadas, as fotos integram montagens estranhas, meio surreais, meio fantasmagóricas. Homens e mulheres que têm seus rostos mutilados pelas lâminas precisas do artista. Despedaçados, reconfiguram-se de maneira invertida, bem ao estilo de Moholy-Nagy.

 

Numa delas, um evento social que reúne engravatados, Rodrigues segmenta as silhuetas masculinas e as ambienta em situações habituais, de comportamento e gestos masculinos, em fundo negro, infinito, como se estivessem flutuando no abismo profundo. Imagens antes abandonadas, jogadas ao anonimato. São mais de 60 ou 70 anos desde que foram captadas. Algumas até mais antigas, de 1915. Fotografia nostálgica, carregada de melancolia, que registra este fenômeno inexorável à passagem do tempo, espécie de congelamento no passado de pessoas que talvez nem mais existam, levando seus fragmentos até o presente de gente que sequer as conhece.

 

Em sua pesquisa, o artista topou com alguns filmes publicitários de máquinas fotográficas da época. E aproveitou para também transformá-los em colagens. Frames comerciais e imagens em movimento se misturam a trechos de músicas e sons aleatórios. O resultado é um vídeo estridente.

 

O artista de Santos (SP) já não era convencional antes, ao documentar o universo dos praticantes de skate – sua tribo, já que ele mesmo é skatista profissional. Em meio à adrenalina e durante saltos, piruetas e voos inacreditáveis, fotografava solto no ar ou em velocidade vertiginosa, dentro de museus e edifícios com arquitetura marcante, desafiando os limites institucionais. Disparava a distância um obturador remoto, o que exigia boas doses de precisão.

 

Nesta nova fase de sua obra, Fabiano arrisca-se na experimentação ao deixar a máquina fotográfica na gaveta, mais maduro pelo tempo, parte radicalmente para a pesquisa de imagens já existentes. Agora desenha recortando, cortando e colando. Junta essas fotografias e negativos de época e lhes dá sobrevida na contemporaneidade ao resgatá-los do passado. Cria assim, inusitadas imagens de segunda geração.

 

São estranhas, é o que poderia dizer no mínimo sobre essas imagens resultadas do gesto simples de recortar, colar e sobrepor partes da mesma fotografia.

 

Curadoria

Ricardo Resende

 

 

Felipe Góes

 

Também a partir de 08 de agosto, entra em cartaz a mostra individual de Felipe Góes, “Cataclismo”, no mezanino da Kogan Amaro. Paisagens surreais, em que lava e água coexistem e se confundem, habitam as telas do pintor abstrato-figurativo. “Se alguns pintam a partir da fotografia de uma paisagem, e outros, da memória de tal lugar, me coloco em um terceiro círculo, misturando lembranças de vários destinos. Dessa forma, crio uma localização parcialmente irreal”, conta o artista.

 

 

Cataclismo

 

No começo havia apenas a desordem. O único deus era o Caos, que reinava no nada e sozinho. Ele, então, decide criar Gaia, mãe-terra e força primordial do universo. Assim começa a origem do mundo na mitologia grega, de onde o cataclismo se ergue e a transformação impera. Paisagens surreais, em que lava e água coexistem e se confundem, habitam nosso imaginário e também as telas do artista plástico Felipe Góes.

 

Um entardecer onírico une as obras do paulistano, de 36 anos, todas compostas por intensas pinceladas que passeiam entre William Turner e Gerhard Richter, ora feitas em tinta acrílica, ora em guache. “Há quase um ano, tenho migrado meu trabalho para esse lugar imaginário, em um processo constante de renovação, que vai das formas à paleta, passando pelas dimensões das obras, que tomam cada vez mais corpo”, explica.

 

Se antes seguia campos de cor para dar ritmo ao trabalho – processo que reconhecemos na obra de artistas como Paulo Pasta (de cujo grupo de estudos Góes fez parte entre 2008 a 2012) –, agora, ele entrelaça tais tonalidades, deixando essas áreas mais mescladas e difusas. “Essa transformaçãoEnte recente coincide com o período mais intenso de interlocução com o artista Rubens Espírito Santo”, conta.

 

O figurativo é outro elemento que cresceu na produção do artista. Ligado a certo expressionismo na pincelada, mudou a incidência de luz e sombra em suas telas. Tais características fazem de Góes parte de uma nova geração de pintores abstrato-figurativos que tem alcançado êxito na cena artística, formada por nomes como Daniel Lannes, Marina Rheingantz, Bruno Dunley e Rodrigo Bivar. “Se alguns pintam a partir da fotografia de uma paisagem, e outros, da memória de tal lugar, me coloco em um terceiro círculo, misturando lembranças de vários destinos. Dessa forma, crio uma localização parcialmente irreal.”

 

A natureza exuberante permeia esses registros, como uma espécie de catalogação de lugares inexistentes – todos cobertos pela penumbra mágica das cores do nascer e do pôr do sol. Alguns deles sugerem a presença humana, seja em um farol, em uma ponte ou em uma construção não definida. Uma forma de fazer possível nossa passagem por esse mundo de cataclismos.

 

Curadora

Ana Carolina Ralston

 

 

 

 

Bate-papo na FIC

31/jul

No próximo sábado, 03 de agosto, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, promove um bate-papo com o artista Daniel Senise e a curadora Daniela Labra sobre a exposição “Antes da Palavra”, que inaugura no mesmo dia. O encontro ocorre às 16, no átrio da Fundação Iberê. Serão oferecidas 50 vagas, por ordem de chegada e a entrada é gratuita.

 

A exposição “Antes da Palavra” apresenta 23 trabalhos de Daniel Senise, entre pinturas e objetos, articulados em torno da instalação monumental “1.587”, construída por duas grandes telas suspensas no átrio, postadas frente a frente. A ausência na presença é um paradoxo explorado nas obras do artista, assim como a reflexão sobre o tempo, a vaidade, a futilidades e a opulência.

 

Em diálogo com a exposição, Daniela Labra convidou seis artistas que pensam o som não em sua estrutura melódica, mas em proposições que indicam ausência, fisicalidade, espacialidade, interrupção, silêncio, tempos alongados e outros motes integrados às ideias primordiais presentes em “Antes da Palavra”. São eles: Marcelo Armani, Ricardo Carioba, Raquel Stolf, Pontogor, Tom Nóbrega e Felipe Vaz.

 

 

 

Instalação de Daniel Senise

25/jul

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura no dia0 3 de agosto a exposição “Antes da Palavra”, exibição individual de Daniel Senise. A abertura ocorre às 14h e pode ser visitada até 29 de setembro, no Átrio e 2º e 3º andares.

 

Com curadoria de Daniela Labra, a mostra apresenta 23 trabalhos de Senise, entre pinturas e objetos, articulados em torno da instalação monumental “1.587”, constituída por duas grandes telas suspensas no Átrio, postadas frente a frente, cujas lonas são lençóis usados em um motel carioca e no INCA – Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro. “As marcas e manchas visíveis nas superfícies das peças são prova de um tempo transcorrido que é protagonista. Nesse lugar, essa representação – como numa natureza-morta, é substituída pela temporalidade de fato, palpável, a qual exacerba um segundo paradoxo, o da representação/real, contido na obra de arte contemporânea”, explica a curadora.

 

O título da obra decorre do cálculo de pessoas que passaram por esses lençóis ao longo de seis meses. Senise pouco interferiu na maculada imensidão branca, de onde saltam imagens mentais de estórias pessoais desconhecidas. Os números das presenças/ausências, registros, lembranças, momentos de muito amor, mas também de muita dor, impregnados nos tecidos foram alcançados com a ajuda de um matemático e nomeiam cada face da instalação: “Branco 237″ refere-se à movimentação no hospital, enquanto “Branco 1.350″, no motel.

 

Somadas, essas cifram atingem 1.587 dramas e êxtases de desconhecidos amalgamados nesta obra de aspecto solene e vertiginoso. Em Porto Alegre, por questões de adequação ao espaço, esta é uma versão reduzida do trabalho original, intitulado “2.892”, criado no final da década de 1990 e exibido apenas em 2011, na Casa França-Brasil, Rio.

 

Em diálogo com a exposição, Daniela Labra convidou seis artistas que pensam o som não em sua estrutura melódica, mas em proposições que indicam ausência, fisicalidade, espacialidade, interrupção, silêncio, tempos alongados e outros motes integrados às ideias primordiais presentes em “Antes da Palavra”. São eles: Marcelo Armani, Ricardo Carioba, Raquel Stolf, Pontogor, Tom Nóbrega e Felipe Vaz.

 

Outra novidade da mostra é a joia feita com exclusividade por Daniel Senise para a Fundação Iberê Camargo, à venda na loja do espaço cultural. “A peça corresponde ao inverso dos nichos das placas de concreto aparente presentes na fachada da Fundação. O objeto foi moldado em um nicho próximo à entrada da arquitetura de Álvaro Siza e se encaixará perfeitamente, funcionando como uma “chave de acesso” ao prédio”, diz o artista.

 

60 anos de arte na TNT

TNT Arte Galeria, Fashion Mall, São Conrado, Rio de janeiro, RJ, apresenta a exposição a exposição “Pietrina Checcacci – pasmo essencial”, um recorte da produção da artista e trabalhos inéditos. Nascida em Taranto, sul da Itália, em 1941, radicou-se no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Em exposição mais de 30 obras dentre elas: pinturas, esculturas e objetos de design. Pintora, escultora, designer e poeta, a artista abre exposição em novo projeto da galeria TNT Arte para comemorar aniversário e seis décadas de arte.

 
Suas reflexões são atemporais onde aborda questões em relação a humanidade com o planeta. Com um ar de denúncia, mas ainda com sensualidade, a artista trata dessa conexão/desconexão ao longo de toda sua trajetória, tendo principalmente o feminino e elementos da natureza presentes em seu trabalho. “O ser humano não só vive e consome o universo, mas ele é parte dele, como a água, o céu, as folhas, flores e tudo que o constituem”, afirma a artista. Em sua obra, pernas e corpos aparecem como formas de montanhas, rosas representam a sensualidade do corpo, da pele, espinhos são dores ou defesas. Tudo em sua obra é homem e natureza.

 

Para essa mostra, a artista apresenta pinturas inéditas tomando partida em uma das séries para assuntos sobre comportamento social, sobre relações na atualidade que figuram ao lado de um recorte da sua produção desde os anos 1970 onde figuram trabalhos das séries; “Rosas”, “Paraíso Tropical”, esculturas em bronze e fibra de vidro como a obra “Eleonor” e objetos de design. “Estou comemorando meu aniversário e seis décadas de produção, nosso desejo foi trazer as obras mais recentes, mas sem deixar de contar um pouco da minha história ” diz a artista sobre o eixo curatorial escolhido ao lado dos diretores da galeria.

 

Produzida em 2016, mas inédita ao público, a artista apresenta a série “Fake” onde revela um viés que gira em torno do empoderamento da mulher. Composta por sete pinturas, Pietrina constrói uma narrativa sequencial, mas que faz sentido mesmo quando separadas. Nas pinturas da série, Checcacci pinta mulheres que possuem uma proporção grandiosa em relação a área da tela, com cabelos esvoaçantes e a sensualidade sutil que trata o feminino em sua produção. Ao percorrer as telas, homens passam a figurar ao lado dessas mulheres, revelando questões em relação a solidão, expectativa, desapego e independência.

 

Sobre o processo criativo a artista revela “ A primeira pintura partiu das mulheres que se montam, aquelas que constroem uma imagem com foco em serem poderosas através de sua aparência, depois introduzi um casal, em seguida homens, e eu não conseguia mais parar, fiquei aficionada pelo desdobramento que encontrava de uma pintura para outra. Agora cada um pode receber as pinturas com seu repertório”, revela Pietrina que gosta de provocar a reflexão.

 

Texto de Denise Mattar.

 

Até 07 de agosto.

Cris Cavalcante, NY/Fortaleza

23/jul

Cris Cavalcante usa sua formação em química para suas pinturas ultracoloridas. A artista cearense Cris Cavalcante usa em suas pinturas uma técnica desenvolvida a partir de sua pesquisa com polímeros, pigmentos e solvente, que ao reagirem criam belas formas ultracoloridas. Antes de cursar arte na School of Arts de Nova York, ela havia se formado em química, e aplica este conhecimento em sua prática no ateliê. Seus trabalhos estão em coleções privadas em Portugal, Luxemburgo, Alemanha, Estados Unidos e China (Xangai), e no Brasil em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, onde também podem ser vistos em seu espaço de arte no bairro de Aldeota. Passou a infância e a juventude no Rio de Janeiro, retornando a Fortaleza aos 25 anos, onde fica baseada. Suas pinturas ocuparão um espaço próprio na Casa Cor Fortaleza 2019, entre 12 de setembro e 22 de outubro.

 

Agora, a partir de 22 de julho, suas pinturas integram a coletiva “4 Elements”, na Van Der Plas Gallery, no Lower East Side em Nova York. Fundada em 1980 pelo austríaco Adriaan Van Der Plas, a galeria é especializada em arte contemporânea. A mostra reúne trabalhos que lidam com os quatro elementos: fogo, ar, água e terra.