Iberê em Brasília

26/out

A Galeria Espaço Cultural Marcantonio Vilaça (SCES), Brasília, DF, exibe a exposição “No Drama”, obra de Iberê Camargo, um dos maiores artistas brasileiros do século 20. Na mostra, um lado menos conhecido, com trabalhos inspirados em literatura, teatro, dança, música e cinema.

 

“No Drama” também apresenta uma série de desenhos, estudos de figurinos e cenários para um projeto de encenação do balé “Rudá”, de Heitor Villa-Lobos, produzido em 1959. Além disso, há uma sessão interativa feita a partir de oito painéis presenteados pelo artista ao amigo Luiz Aranha. Como parte das atividades paralelas, haverá exibição do documentário Magma (2014), de Marta Biavaschi e dois curtas-metragens.

 

Em exibição 53 obras pertencentes à Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. São desenhos, pinturas e guaches inspirados na música, na dança, na literatura, no teatro e no cinema. Iberê necessitava da paisagem – seja ela humana, natural ou urbana – para pintar. Em “No drama”,o mundo das artes, assunto familiar ao artista e, ao mesmo tempo, mágico, que ele carregava para o ateliê. “Iberê passou por vários momentos, mas ele não muda. O próprio artista estava sempre fazendo uma performance na pintura, ele mesmo quase entra em cena também com aquela coisa de pintar, o recuo”, explica Eduardo Haesbaert, um dos curadores da exposição, ao lado de Gustavo Possamai.

 

 

Até 01 de dezembro.

Portinari em Portugal

Na celebração do seu 11.º aniversário, o Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira, Portugal, apresenta até 03 de março de 2019, a exposição “Candido Portinari em Portugal”. Uma oportunidade para o público português entrar em contato com as pinturas, desenhos, e a presença de Portinari – materializada em suas obras – , um dos maiores nomes da pintura brasileira, oportunizando desse modo, uma proximidade com o ideário neorrealista português. A exposição “Candido Portinari em Portugal” tem o Alto Patrocínio do Presidente da República e foi inaugurada no dia 20 de outubro, contando com as presenças do Presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Alberto Mesquita, da Diretora do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, Mônica Xexéo e do filho de Candido Portinari, Prof. João Candido Portinari.

 

O principal destaque desta exposição é, sem dúvida, a mítica obra “Café”, generosamente cedida pelo Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, e que regressa a Portugal 78 anos depois de ser exposta pela primeira vez em 1940, no Pavilhão do Brasil na “Exposição do Mundo Português”. Mas este projeto expositivo, com curadoria da diretora científica do museu, Raquel Henriques da Silva, e de Luísa Duarte Santos, apresenta outras obras relevantes do artista que, com a volta de “Café”, permitirá celebrar o artista estrangeiro que mais obras tem em Portugal. “Candido Portinari em Portugal” apresenta pinturas e desenhos cedidos pelo Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (Lisboa), Museu Nacional Soares dos Reis (Porto), Museu Calouste Gulbenkian (Lisboa), Casa da Achada – Centro Mário Dionísio (Lisboa), Museu Ferreira de Castro (Sintra) e Fundação Millennium BCP (Lisboa),  além de importantes fundos documentais do próprio Museu do Neo-Realismo (Vila Franca de Xira), numa exposição de grande qualidade e de dimensão internacional, o que vem sublinhar também as características únicas do Museu do Neo-Realismo no panorama cultural português.

 

 

Ao longo dos 11 anos de existência do Museu do Neo-Realismo nas atuais instalações, projetadas pelo Arq.º Alcino Soutinho, têm sido exponencialmente multiplicadas as redes de contatos e as colaborações com curadores e universidades, que têm trazido novos olhares sobre o movimento neorrealista e as suas diversas expressões artísticas. Vocacionado para o estudo e divulgação deste movimento literário, o Museu do Neo-Realismo, cuja gestão está a cargo da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, tem promovido uma prática continuada de investigação em torno do seu patrimônio, apostando, simultaneamente, em conteúdos programáticos de rigor crítico e amplitude interpretativa.

 

Desde outubro de 2007, o Museu produziu uma média de 10 exposições biobibliográficas, documentais e de artes plásticas por ano, a maioria das quais documentadas pela edição de catálogos. O Museu do Neo-Realismo tende hoje a ultrapassar as fronteiras da sua vocação temática original para se situar, cada vez mais, no território das ideias e da cultura do século XX, relacionando assim outras correntes literárias, artísticas e de pensamento.

No ano passado, duas das mais importantes obras de Portinari, resgatadas de um incêndio ocorrido em 1949, foram expostas no Museu do Chiado. As obras intitulavam-se “Chorinho” e “Cavalo-marinho”, e foram inseridas na exposição “A Mão-de-olhos-azuis de Cândido Portinari”, com curadoria de Maria de Aires Silveira, que ficou patente de outubro a dezembro naquele museu. Estes dois painéis pertenciam a um conjunto de oito, de temática musical, pertencentes à Rádio Tupi, no Rio de Janeiro, e foram os únicos sobreviventes de um incêndio ocorrido na emissora, em 1949.

Arte participativa

25/out

No próximo dia 30 de outubro, o Museu Nacional de Belas Artes (MnBA), Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição participativa “Arte Aproxima”, com obras dos artistas Ernesto Neto, Efrain Almeida, Priscila Fiszman, Emilia Estrada, Aline Gonet e da psicóloga Robertha Blatt, idealizadora do projeto, que tem o objetivo de familiarizar o público jovem com o mundo da arte, despertando trocas sensíveis e novas experiências. Com curadoria de Lisette Lagnado, será criado um circuito inédito integrado entre as obras contemporâneas e pinturas emblemáticas da história da arte pertencentes ao Museu, como “A Primeira Missa” (1948), de Cândido Portinari (1903-1962), e obras do século XIX, de artistas como Victor Meirelles (1832-1903) e Pedro Peres (1841-1923). A exposição é incentivada pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura Carioca.

 

“A arte é curativa e transformadora, permite entrar em contato consigo mesmo, trazendo insights. Os artistas vivenciam isso durante a produção das obras, mas essa oportunidade pode existir para todos. O projeto tem como objetivo democratizar e disponibilizar essa experiência para as pessoas”, diz Robertha Blatt, que é psicóloga, educadora há 20 anos e tem 15 anos de experiência em terapia de família. A exposição é aberta a crianças de todas as idades e será complementada com a participação do público. Os artistas e educadores estarão presentes na mostra e os trabalhos criados pelo público ao longo da exposição, através das atividades propostas e dos materiais disponíveis, ficarão expostos, integrando-se às obras existentes, como um grande tricô coletivo que será produzido pelo público e, ainda, uma estrutura a ser construída com tijolos contendo desenhos feitos pelas crianças. Ao longo da exposição, haverá, ainda, conversas com os artistas, a curadora e a idealizadora do projeto.

 

 

Circuito da exposição

 

A mostra começa no segundo andar do Museu Nacional de Belas Artes, onde estão as pinturas “Primeira Missa no Brasil” (1861), de Victor Meirelles (1832-1903) e “Elevação da Cruz” (1879), de Pedro Peres (1841-1923). A artista Emilia Estrada desenvolveu especialmente para a ocasião uma versão do jogo de telefone sem fio, com a finalidade de criar narrativas sobre a história do Brasil.

 

O percurso segue na Sala de Chá, convertida em ambiente imersivo. O lugar foi renomeado de “campo sagrado” por Robertha Blatt, que convida as pessoas a percorrerem um caminho espiral sugerido por amplas camadas de tecidos de voal colorido. Nessa instalação, as crianças recebem uma segunda pele que lhes permite abraçar sensorialmente o espaço externo. Vestidas de ‘guri-guru’, poderão explorar livremente a experimentação desta veste e são convidados a seguirem assim até a sala onde está exposta ‘A Primeira Missa’, de Cândido Portinari (1903-1962), pintura histórica que completa agora 70 anos, consagrada pelo crítico de arte Mário Pedrosa (1900-1981) como ‘uma de suas obras mais bem concebidas. Segundo a educadora Aline Gonet, “o trabalho manual é uma porta de interação com o mundo. “Rosa dos Ventos” é uma proposição que desenvolve a intimidade emocional a partir de técnicas manuais. As pontas de nossos dedos têm uma grande densidade de terminações nervosas, o que permite ao cérebro identificar o que os dedos estão explorando”. “A cada dia, uma trança de tricô amarelo (a cor sagrada na tradição cristã e chinesa, como nos lembra Pedrosa) irá crescer no espaço expositivo, evidenciando a presença de encontros e brincadeiras anteriores”, conta a curadora.

 

Na sala de exposição, a fruição e compreensão do quadro de Cândido Portinari, momento histórico que representa um “enxerto de civilização cristã”, ganha relevo graças a um conjunto de três esculturas de Efarin Almeida, evocando as informações ausentes na grandiosa pintura realizada setenta anos atrás: a fauna, a flora e a presença de povos indígenas quando os portugueses chegaram ao Brasil. Os estandartes com desenhos sobre tela de Emilia Estrada criam uma perspectiva crítica desse maravilhoso Novo Mundo com sua obra “Fake News / Cacofonia”.

 

“Língua de fogo” é a obra-oficina de Priscila Fiszman, em parceria com a bombeira do MnBA, que irá abraçar o tema da segurança e prevenções, explicando o funcionamento de um extintor. Desenhando sobre tijolos, o público irá colaborar na construção coletiva de um templo. “O incêndio do Museu Nacional do Rio, na Quinta da Boa Vista, acarretou a perda de um patrimônio incalculável, mas, também, um trauma ainda incalculável no inconsciente coletivo”, ressalta a curadora. Seguindo na exploração de possibilidades de interação sensorial, de Ernesto Neto introduz a ideia de “esculturacura”, pontuando um recolhimento interior necessário para enfrentar a atual conjuntura sociopolítica, agravada com a disseminação de relações mediadas pela tecnologia. A obra “EstrelaTerra vibra nois. Todos somos nós” consiste em crochê com voal de algodão, bambu, areia, quartzo transparente, folhas secas e folhas de louro e permite que público entre na obra e tenha experiências sensoriais.

 

 

Sobre o projeto

 

Desenvolvido ao longo de um ano, em colaboração com crianças, famílias, pedagogos, artistas, ativistas e psicólogos, o projeto surge da experiência clínica de Robertha Blatt, que vem elaborando novas abordagens para o jovem público acessar emoções difíceis de serem expressas. Por meio de estímulos lúdicos, conversas e dinâmicas, acredita-se na ecologia transformadora da experiência estética como catalizadora de linguagem. O projeto traz em seu bojo a utopia de reconectar as pessoas com a pulsão criativa da vida. A produção executiva é feita pela Next Produções.

 

 

Sobre a curadora

 

Lisette Lagnado é Doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo, crítica de arte e curadora independente. Foi curadora-chefe da 27a Bienal de São Paulo (2006) e da exposição “Desvíos de la deriva”, no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri (2010). Dirigiu a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ), onde foi também curadora dos programas públicos (2014-2017). Em 2017, foi curadora da exposição “O Nome do Medo”, de Rivane Neuenschwander em colaboração com Guto Carvalhoneto (Museu de Arte do Rio, MAR). Em 2018, curou a exposição “Cabelo – Luz com trevas” (BNDES, RJ), duas mostras monográficas sobre León Ferrari (Galeria Nara Roesler, SP e NY), e a coletiva “Com o ar pesado demais pra respirar” (Galeria Athena, RJ).

 

 

Sobre a idealizadora

 

Robertha Blatt atua nas fronteiras entre arte, psicologia e educação. Há 15 anos, pesquisa a articulação de práticas terapêuticas e expressões artísticas, trafegando pelos papéis de educadora infantil, terapeuta de família, psicóloga, mãe e artista. Especializada em terapia de família e casal. Seu consultório-ateliê disponibiliza recursos multissensoriais que viabilizam outras manifestações expressivas além do discurso verbal. Explora imersões em museus pelo mundo, observando a interação entre as pessoas e as proposições destes espaços. Interessa- se pelo estudo de terapia somática e bodynamic. Realiza palestras e encontros com os temas voltados para educação e psicologia. Investiga a relação dinâmica entre a expressão das emoções, a criação artística e a construção de si.

 

 

Nilcemar Nogueira – Secretária Municipal de Cultura

 

À frente da Secretaria Municipal de Cultura, temos direcionado esforços para a implementação de uma política de estado baseada na democratização cultural da cidade. Com o compromisso de dar fim ao pesadelo da “cidade partida”, nossa gestão acredita que os conceitos de centro e periferia não contemplam uma política cultural de fato integradora. Por isso, foi traçado um novo mapa simbólico, em que toda a cidade é o centro e cada região é um manancial de produção pulsante de cultura. Para avançar nesse processo de ressignificação e equacionar as potencialidades, elegemos cinco eixos estratégicos: gestão de escuta ampliada e participativa, cultura pela diversidade e cidadania, programa integrado de fomento à cultura, valorização da rede de equipamentos culturais, e memória e patrimônio cultural. Assim pudemos colocar em prática uma série de ações efetivas, com foco no lema “Cultura+Diversidade”. A cultura plural, rica e forte do Rio de Janeiro é, ao lado na natureza opulenta, o grande capital da cidade. Ela tem poder regenerador, capaz de corrigir rumos e mudar vidas. Fortalecer, apoiar e difundir nossa cultura não é apenas dever de cada um de nós: é questão de sobrevivência e de resistência.

 

 

Encontros públicos:

 

01 de novembro de 2018 (quinta-feira), das 14h30 às 17h

 

Junto com artistas propositores, Lisette Lagnado e Robertha Blatt discutem concepção, processo criativo e expõem métodos de trabalho. Ernesto Neto ensinará meditação para as crianças dentro de sua escultura.

 

 

10 de novembro de 2018 (sábado), das 14h às 17h

Roda de conversa com Ernesto Neto e convidados.

 

 

Até 30 de novembro.

Projeto Identidades – 2ª edição

24/out

A Galeria Aliança Francesa inaugura nesta quinta, dia 25, o “Projeto Identidades – 2ª edição”, exposição que apresenta cerca de 25 obras de 17 artistas e oferece ao público uma reflexão sobre a extensa gama de entendimentos que a identidade suscita em cada um de nós. Sob a curadoria de Osvaldo Carvalho, a exposição traz obras deAna Paula Albé, Benoît Fournier, Eduardo Mariz, Osvaldo Carvalho, Fábio Carvalho, Gabriela Massote, Gian Shimada, Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa, Marcelo Carrera, Mayra Rodrigues, Paulo Gil, Paulo Jorge Gonçalves, Raimundo Rodriguez, Rogério Reis, Vincent Catala e Vincent Rosenblatt.

 

A identidade, de modo vulgar, é entendida como um documento (material) que caracteriza determinada pessoa e a qualifica em origem a um grupo social desde o conceito mais amplo, nacional (como o passaporte), até os mais específicos de localidade (RGs), trabalho (carteira de trabalho ou crachá funcional), escola (carteira de estudante), clube (carteira de sócio), etc. em que temos uma constituição jurídica do indivíduo legalizada pelo documento de que é portador. Mas essa conceituação tem implicações investigativas também em outras áreas do saber (sociologia, antropologia, filosofia, história, artes visuais, entre outros) cujas definições se multiplicam mediante a abordagem escolhida.

 

Entre artistas visuais não é menos complexo o efeito das pesquisas realizadas na compreensão e formação de uma identidade. Os trabalhos reunidos nesse projeto compreendem um amplo espectro poético visual que invoca eixos como memória – afeto, história -resgate, cultura – discurso. A diversidade de enfoques estabelece parâmetros que possibilitam, nesse mesmo conjunto, discutir as bases da individualidade, o que nos faz verdadeiramente únicos em meio ao coletivo.

 

Nessa edição os trabalhos apresentados afinam o espectro poético visual que foi anunciado na edição anterior – como me vejo e como sou visto ainda é recorrente; contudo, ver o outro com sensibilidade cívica revela-se uma necessidade premente, urgência primeira frente a discursos de ódio e intolerância sociais. Assim é que este projeto tem desvelado camadas mais profundas do indivíduo: suas máscaras, máscaras alheias, vozes em seco e a secura na boca. Não há silêncio possível quando a escuridão se faz, é preciso gritar. Gritemos!

A exposição é uma organização da Aliança Francesa Rio de Janeiro e conta com o apoio do Consulado Geral da França no Rio de Janeiro, Institut Français Brasil, Air France, TV5.

 

 

 

Até 26 de fevereiro de 2019.

Basquiat no CCBB Rio

18/out

Depois de passar pelas unidades do CCBB em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, chegou a hora da maior exposição realizada na América Latina sobre Jean-Michel Basquiat desembarcar no Rio de Janeiro. A exibição dessa mostra celebra o início das comemorações de aniversário do CCBB. Mais de 80 obras do pintor norte-americano encontram-se em cartaz no Rio. A retrospectiva reúne pinturas, desenhos, gravuras e pratos pintados pelo nova-iorquino, que teve produção marcante e até hoje exerce influência na cultura pop, incluindo peças raras.

 

 

Sobre o artista

 

Filho de imigrantes afro-caribenhos, o nova iorquino Jean-Michel Basquiat (1960-1988) foi, de acordo com Pieter Tjabbes, uma “personificação das transformações de sua cidade nas décadas de 1970 e 1980”. Sua técnica, inovadora para a época, mesclava sobre a tela elementos como colagens, cópias reprográficas, palavras e imagens da anatomia humanas – estas, inspiradas no livro Gray’s Anatomy, lido por Basquiat na infância, enquanto se recuperava de um acidente. O resultado, como sublinha Tjabbes, são “…obras que refletem os ritmos, os sons e a vida urbana nova iorquina, sintetizando o discurso artístico, musical, literário e político da época”.
Tudo isso atraiu a atenção de críticos, curadores e compradores da época. Basquiat tornou-se celebridade das ruas da Big Apple, ganhou notoriedade nas maiores galerias do mundo e, antes mesmo de sua morte súbita, já era comparado a gênios como Picasso, Pollock e Warhol. Embora a obra de Basquiat seja extensa, sua carreira foi curtíssima: não durou nem uma década. Nascido e criado no Brooklyn, filho de um contador haitiano e uma americana filha de imigrantes porto-riquenhos. A família era de classe média e, graças aos pais, ele teve acesso a arte, exposições e jazz. Em suas pinturas, essas memórias se misturam aos desenhos animados da infância. Outro ponto interessante é o fascínio do pintor com as formas humanas. Aos 7 anos, sofreu um acidente de carro e teve alguns ferimentos internos. Ele ganhou da mãe o famoso livro de anatomia Gray’s Anatomy, que lhe serviu de referência durante toda carreira. Tempos depois, passou a pichar frases e poesias em Manhattan, ao lado de amigos, e, daí, nasceu a admiração pelo grafite. Em suas obras, ele usou spray e técnicas da arte, embora nunca tenha se considerado grafiteiro.

 

Quando Basquiat foi notado por suas pinturas, no início dos anos 1980, conheceu sua primeira mecenas: Annina Nosei, uma galerista italiana. Ela cedeu a ele o iluminado porão de sua casa, tintas ilimitadas e telas enormes. Logo, a comunidade artística nova-iorquina soube da galeria underground onde estava preso um menino negro e selvagem. Ver como as pessoas o percebiam, deixou marcas na vida e na obra do pintor. Diz o curador : “Isso o machucou muito. Ele viu que sua posição no mundo artístico era única e ficou mais atento ao espaço do negro na arte e na sociedade americana”

 

 

Até 07 de fevereiro de 2019.

Jovens artistas cariocas em SP

10/out

A Fortes D’Aloia & Gabriel Galeria, Vila Madalena, São Paulo, SP apresenta a exibição coletiva “Crônicas urgentes” na qual reúne três pintores cariocas, Maxwell Alexandre, Marcela Cantuária e Victor Mattina. A produção do trio aproxima-se por meio da escolha da narrativa como elemento central de suas pinturas. A urgência, presente no título, desvela uma relação paradoxal na composição de suas obras: em uma era de produção constante e saturação das imagens, seus traços eternizam na tela narrativas atreladas ao calor do momento, fazendo emergir histórias e personagens antes marginalizados ou de presença pouco frequente no circuito da arte contemporânea.

 

Maxwell Alexandre (Rio de Janeiro, 1990) tece narrativas pictóricas a partir de sua vivência em seu local de nascimento, a comunidade da Rocinha, na capital carioca. Seu vibrante vocabulário visual articula cenas e personagens que, usualmente invisibilizados, ganham corpo e contorno em um momento político de disputa de narrativas e revisões historiográficas.

 

Marcela Cantuária (Rio de Janeiro, 1991) apropria-se de imagens de backgrounds diversos – fotografias de cunho político, frames de documentários, registros pessoais – para tecer histórias que encadeiam e reimaginam narrativas femininas, episódios históricos e o cotidiano social da cidade do Rio, onde vive e trabalha.

 

Victor Mattina (Rio de Janeiro, 1985) aborda a pintura de maneira análoga à de um ficcionista. Utilizando como ponto de partida fotografias de seu acervo pessoal ou retiradas de livros e pesquisas na internet, o artista explora a sobreposição de espaços e personagens de naturezas conflitantes, resultando em uma costura visual autoral de alta voltagem poética.

 

 

De 16 de outubro a 21 de dezembo.

Individual de Hugo Houayek

09/out

O artista Hugo Houayek apresenta a exposição “Cimento manchado de batom” na Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, composta de obras à base de esmalte de unha, cimento e batom.

 

No lugar das tintas a óleo, acrílicas ou aquarelas, pequenas pinceladas de esmalte de unha e muitas camadas de batom. A relação corpo-pintura é abordada através das obras do artista, que ocupam os dois andares da galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea, a partir do dia 10 de outubro, com curadoria de Raphael Fonseca (curador do Museu de Arte Contemporânea de Niterói). “Cimento Manchado de Batom”, sua sexta individual, apresenta trabalhos elaborados nos últimos anos de sua pesquisa como artista visual, a maioria deles desenvolvida durante o seu doutorado em Linguagens Visuais na Escola de Belas-Artes da UFRJ.

As obras selecionadas abrangem tanto pinturas quanto objetos que, de diferentes maneiras, formam uma posição crítica em seu pensamento pictórico. O artista possui uma longa pesquisa sobre o campo da pintura, suas margens e limites, como um corpo que não para de olhar incessantemente.

 

 

A palavra do artista

 

“Sempre existiu o desejo dentro da história da pintura em fazer da tela uma pele e a própria pintura um corpo. É análogo ao desejo de Pigmaleão de dar vida à sua escultura. Então, esses materiais – batom, esmalte -, que são usados para cobrir o corpo humano, de maneira que o corpo vire tela, vira uma pintura. Nesses trabalhos estabeleço uma relação metafórica entre o corpo humano e a pintura.  Toda pintura seria um corpo maquiado”.

 

 

Além das pinturas feitas sobre papel A4 e A5, as esculturas – feitas em cimento pintado, de tamanhos variados, algumas com formas orgânicas – são pintadas com spray de tinta acrílica e também entram na relação metafórica com o corpo humano. Ou seja, a escultura também quer ser corpo.

 

 

A palavra do curador

 

“Os materiais utilizados em algumas dessas obras escapam das matérias tradicionalmente usadas na prática da pintura e ampliam o seu campo. A relação entre a banalidade dessas opções de técnicas e a suposta erudição da prática pictórica é tensionada e revista pelo olhar do artista”.

 

 

Sobre o artista

 

Hugo Houayek desenvolve uma pesquisa artística sobre o campo pictórico, suas margens e limites, entendendo a pintura como um corpo de mil olhos que não para de olhar incessantemente. De maneira que a pintura se comporta como uma linguagem, com todas as suas imperfeições, impossibilidades e fracassos. Doutorando na Linha de Linguagens Visuais no programa de pós-graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes na UFRJ. Possui Mestrado em Linguagens Visuais (2010) e graduação em Pintura (2006) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi professor substituto no curso de Artes Visuais na EBA na UFRJ.

 

 

Sobre o curador

 

Raphael Fonseca é pesquisador nas áreas da Curadoria, História da Arte, Crítica e Educação. Curador do MAC-Niterói e professor do Colégio Pedro II. Doutor em Crítica e História da Arte pela UERJ. Recebeu o Prêmio Marcantonio Vilaça de curadoria (2015) e o prêmio de curadoria do Centro Cultural São Paulo (2017). Curador residente na Manchester School of Art (maio-agosto de 2016).

 

 

Até 10 de novembro.

Hildebrando de Castro na Bahia

05/out

O pintor Hildebrando de Castro retorna a Salvador, Bahia, para nova exposição individual na Paulo Darzé Galeria. A mostra tem por título “EDP”, na qual apresenta uma série de pinturas, – projeto que se iniciou no final de 2016 -, após dois anos de trabalho contínuo. ”Decidi tirar férias em Lisboa. Logo após o desembarque, na primeira manhã, resolvi fazer uma caminhada pela borda do rio Tejo, pois o dia estava lindo e ensolarado. Para minha surpresa, me defrontei com o incrível conjunto arquitetônico da EDP ainda em construção. Fiquei fascinado com aqueles dois prédios e comecei imediatamente a fotografar. Esquecendo que tinha prometido a mim mesmo não pensar em trabalho nessa curta temporada, voltei ali, nos nove dias em que lá fiquei, para fotografar os prédios em diferentes horários do dia, aproveitando as variações da luz. Foi com este material em mãos que propus a Paulo e Thais Darzé fazer nossa segunda exposição”.

 

Hildebrando de Castro já se apresentou na Bahia (na Paulo Darzé Galeria) a exposição “Ilusões do real”, pinturas em acrílica sobre tela e mdf. Na trajetória de Hildebrando de Castro temos inicialmente, em grande parte, como tema o corpo humano, intercambiado por suas narrativas, elaborações e o simbólico que expressam, ou partes dele em sua fragmentação, com especial relevo para o coração, mais seres humanos e bonecos para falar de uma infância ou de uma vida perversa, com figuras insólitas, até chegar ao urbano, com as últimas mostras, e a ilusão do real, jogo de formas e cores, por sua incidência da luz e da sombra, da composição e de combinações, chegando a alguns momentos a colocar a pintura na tridimensionalidade, apresentando objetos.

 

A obra de Hildebrando de Castro é uma obra de representação, os trabalhos possuem como base a fotografia. Não uma fotografia tirada a esmo, mas preparada em seu cenário para tal, o que nos leva a estarmos diante de trabalhos, seja figurativo ou geométrico, em não procurar a realidade em si, mas sua estreita vinculação ao real, sendo uma arte com origem essencialmente na pintura, arte que começou crítica, irônica, de beleza estranha ao mostrar a banalização da vida e da morte, do prazer e da dor, com uma visão que colocava em primeiro plano as obsessões, os fetiches, as exceções, percorrendo o simbólico, e com um humor bem preciso ao tratar a tudo isto. Temática que os críticos colocam como procurando representar aspectos eróticos, religiosos, kitsch. Dessa forma, a geometria. o figurativismo, e a luz continuam um elemento importante nas pinturas do artista. Não à toa seus trabalhos não começam com croquis, mas com fotografias.

 

 

Sobre o artista

 

Hildebrando de Castro nasceu em Olinda, PE, em 1957. Passou sua infância e se desenvolveu profissionalmente no Rio de Janeiro. Autodidata, realizou sua primeira exposição individual no Museu Nacional de Belas Artes, ainda nos anos 1980. Viveu onze anos entre Paris e Nova York e desde 2004 vive em São Paulo. Seu trabalho sempre operou no terreno da representação figurativa, valendo-se da estratégia de empregar o enquadramento e a luz da fotografia como referência para a construção da pintura. Os primeiros trabalhos com pastel seco foram ponto de partida para as experimentações pictóricas que o levaram ao domínio do óleo e da acrílica. Em sua nova série, a realidade da “objetiva” traz substrato para unir geometria e representação, e estabelecer vínculos com o construtivismo e suas vertentes. Em 2013 duas obras do artista foram incorporadas ao acervo do MAC USP.

 

 

De 19 de outubro a 17 de novembro.

Schwanke na Sim Galeria SP

04/out

Luiz Schwanke é o artista de “Plasticamente outra coisa”, em exibição em São Paulo na SIM Galeria, Jardins.

 

 

Luiz Schwanke: plasticamente outra coisa

“Tudo me influenciou”

A frase, datilografada em um documento no qual se enumeram definições sobre suas perspectivas artísticas, pode ser considerada a síntese da obra de Luiz Henrique Schwanke e também dos marcos conceituais de sua geração. Pensamentos materializados em textos – conceitos e comunicação – têm a capacidade de fornecer chaves interpretativas para a obra enigmática, vertiginosa e complexa do autor.

 

De forma recorrente, há o investimento crítico que o aponta, de maneira precisa, como importante agente do circuito artístico fora do eixo Rio-São Paulo, já que muito de sua história e atividades se situaram em Joinville (Santa Catarina) e, principalmente, Curitiba (Paraná). O dado geográfico precisa também ser balizado na dimensão informacional que sinaliza aquele momento histórico. Schwanke é protagonista em uma geração para a qual os problemas se colocam a partir de um universo dominado pelos meios de comunicação de massa globalizados, distante muitas vezes do debate local e desejosa de internacionalização, para cumprir uma promessa de inserção do país no então denominado primeiro mundo. Cabe se lembrar da rejeição das categorizações geopolíticas, imprecisas, por parte de Hélio Oiticica, em sua busca por transpor o estabelecido e exercitar a antropofagia revisitada do tropicalismo. Seria possível colocar Schwanke nessa rota propositiva?

 

A intersecção entre os anos 1970 e 1980 – a cena cultural, seus artistas, práticas e debates – carece ainda de pesquisa e reflexão sobre o que foi realizado. O conjunto dos cinco anos finais da primeira década e os primeiros anos da segunda parecem emblematizar um buraco negro, desconhecido e amedrontador. O estereótipo que indica o período como década perdida, na qual foram abandonados os sonhos de um mundo melhor e justo, que incentivava a pura superficialidade consumista, continua a circular e impactar a avaliação sobre a arte produzida naqueles anos, consideradas, assim, sem a devida complexidade.

 

O entre-décadas continuou a abrigar as práticas experimentais, herança dos anos 1960, agora colocadas em confronto com a forte articulação do capitalismo global no início dos 1980. Como resultado, o choque de perspectivas, ou melhor, tentativas de incorporação e domesticação daquelas práticas, que nem sempre se deixaram engolir ou submeter, mas que, em muitos casos, foram obliteradas nas narrativas consagradas. Elas investiram no retorno do interesse na pintura, no hedonismo que a arte proporcionaria e principalmente no estabelecimento de uma arte produzida por jovens para um mercado interessado em novidades. O debate pós-modernista também colaborou para elaborações que enfatizam a ironia e o cinismo, assim como a consciência da incapacidade dos projetos utópicos modernos.

 

Mas, mais do que uma iconoclastia debochada, a produção artística durante o período no qual o pós-modernismo vigorou como perspectiva teórica trouxe, como qualidade fundamental uma alteração importante, a sua relação com a produção histórica: manipulável. Não mais uma progressão teleológica cada vez mais aperfeiçoada, mas uma estante à disposição para o uso da arte e de artistas. Nesse sentido, muitas vezes, o amor pelo passado e sua crítica feroz (ou mesmo certa indiferença) confluem em uma mesma ação.

 

No caso brasileiro, os embates entre o experimental, a relevância da tradição modernista e a globalização também são marcados, em seu início, pela pressão máxima da ditadura e, no transcorrer da década de 1980, por uma expectativa, a da abertura política, cada vez mais uma pressão popular e a crença por parte dos jovens de que tudo seria possível de ser conseguido. Afinal, depois de uma década de liberação comportamental e radicalização política, aquela geração havia colocado o país em rota democrática……

 

Luiz Henrique Schwanke é artista tanto do olhar racionalista quanto do manuseio crítico e amoroso da produção histórica. “Tudo me influenciou” demonstra seu desejo de deglutição da tradição – suas histórias e suas práticas – e sua transformação pelo filtro pessoal do experimental.

 

No entanto, se as perspectivas pós-modernistas têm ampla disseminação durante esses anos, é importante estabelecer suas origens com os exercícios da arte pop, evidentes referências nas operações artísticas de Schwanke.  Como exemplos, as apropriações e manipulações, realizadas nos anos 1970, das produções históricas – aquelas da mais incontestável tradição: Leonardo, de La Tour, Vermeer, Caravaggio, da Messina, Michelangelo, entre outros mais modernos ou contemporâneos – em transposições atualizadas em contextos marcados pelo banal cotidiano, mas aproximados também do design modernista e das imagens da propaganda. As citações presentes nessas séries de trabalhos marcados pelo diálogo histórico e irônico aponta para a percepção do artista da aproximação entre arte e mercadoria, prazer e consumo. Ao mesmo tempo, opera na sintonia com a estante da História à disposição e revela possibilidades de leituras contemporâneas dessas obras, para além dos formalismos e das qualidades técnicas que as obras históricas apresentam. Certamente a relação da arte da tradição em justaposição com o design de matriz modernista apontada por Schwanke evoca o universo de elaboração do moderno no país, novas narrativas e reconhecimentos, ambos destituídos pela perspectiva pós-modernista e pelo contexto global contemporâneo. Além dessa possibilidade interpretativa, essas séries estão diretamente ligadas ao marco da arte conceitual norte-americana, One and Three Chairs (1965), de Joseph Kosuth, um comentário sobre as relações entre signos e seus referentes a partir de Charles Pierce. Referências, traduções, transposições e representações são interesses de Schwanke.

 

Em certo sentido, esse procedimento que conecta tradição consagrada e elementos cotidianos do universo da sociedade de consumo reforça a constatação do processo de integração do país ao circuito do capitalismo global, algo claramente percebido e exercitado por jovens artistas no Brasil naquele período.

 

Sua aproximação com a linguagem expressionista dos anos 1980 presente, como exemplo, em linguarudos, os perfis, ainda se localiza na ambiência pop, desdobrada na iconoclastia pós-moderna, não de um ponto de vista formalista, mas no ferramental que aciona para destilar seu comentário que articula as seriações, repetições, reúsos de suportes gráficos da comunicação de massa, interesse expandido nas séries de sonetos, também daquela década. Essas experiências, como hipótese, podem ter se transmutado nos outros conjuntos de representações de corpos realizadas com guache, ainda nos anos 1980, nas quais são encontrados ecos tanto das pinturas de mulheres de Willem de Kooning, do ponto de vista de uma provocação gestual ou de um pano de fundo erótico, quanto das politizadas pinturas das cenas de cidades de Philip Guston, aquelas que deflagram o interesse renovado sobre a pintura neoexpressionista no Brasil. As séries de Kooning e Guston são aterrorizantes. Algo que, em Schwanke, se transforma no unheimlichfreudiano, o não familiar, o estranho: plasticamente outra coisa, são esfinges carregadas de erotismo – decifra-me ou te devoro. Repete-se a herança antropofágica.

 

O caráter mutante da obra de Schwanke se confirma quando, durante os anos 1990, novamente evoca o interesse no universo que também referencia a arte pop, com a utilização do plástico – o mais banal, corriqueiro e característico material da sociedade de consumo – em esculturas e objetos que, apesar disso, exigem para sua construção lógicas de engenharia tão exigentes quanto aquelas da arquitetura do concreto. Parece, nessa ação, realizar um movimento para percorrer a contramão do fluxo do mercado, depois da consagração gráfica e pictórica, para abrir novas trilhas experimentais e fora do que o circuito reconhecia. No mesmo sentido, é possível ler as instalações com uso de eletricidade em uma sintonia com uma arte relacionada aos avanços tecnológicos, também signos de uma possibilidade de comunicação em larga escala, em escala planetária. Entre essas, a obra historicamente ratificada  Cubo de Luz – Antinomia, que participa da 21a  edição da Bienal de São Paulo, que, segundo o próprio artista, foi influenciada por Cubocor (1960), de Aluísio Carvão, colocando-se, dessa forma, no arco de referências que abriga o concretismo/neoconcretismo brasileiro em sua busca de articulação de racionalidade e sensualidade. Encruzilhada de opostos conceituais e temporais.

 

O passado é vivo, diferente do que muitas vezes aponta o senso comum. Está sempre em mutação, e sua reavaliação e transformação podem alterar as situações do presente e, principalmente, as perspectivas de futuros.

 

“O meu trabalho procura a transformação do passado”

Luiz Henrique Schwanke (1951-1992)

Mirtes Marins

 

Até 27 de outubro

 

Exposição de Emeric Marcier

03/out

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até 13 de outubro a exposição “Emeric Marcier”. A mostra reúne vinte e oito obras, distribuídas em pinturas e aquarelas. Parte do acervo é inédita ao público.

 

Considerado um dos mais importantes pintores modernos no Brasil, o romeno, radicado no Brasil por quase meio século e naturalizado brasileiro, dedicou grande parte de sua vida e obra à produção de pinturas de arte sacra, retratos e paisagens mineiras.  A exposição reúne recortes dessa trajetória, trazendo ao público obras como Autorretrato (1990) – uma das últimas telas produzidas por Marcier no ano de seu falecimento-, Cristo da cana verde (1956), Igreja São Francisco de Assis em São João Del Rey, MG (1948), Ouro Preto (1966), Mariana (1968) e Lava Pés (1968). Há também na mostra a obra Torre de Babel que foi um estudo para a Capela de Mauá (SP) e aquarelas de paisagens europeias. As obras da exposição foram cedidas pelo filho do artista, Matias Marcier. A curadoria da mostra é de Evandro Carneiro.

 

 

Sobre o artista:

 

Emeric Racz Marcier, nasceu em 21 de novembro de 1916, em Cluj, na Romênia. Judeu de origem, converteu-se ao catolicismo já no Brasil, por influência de seus amigos Murilo Mendes, Jorge de Lima e Lúcio Cardoso, que foi seu padrinho de batismo. De personalidade intensa, na primeira página de sua autobiografia, Deportado para a Vida, se declara um humanista, algo anarquista e  sua história confirma que a liberdade e a vocação artística sempre o guiaram. Aos 20 anos deixou Bucareste para estudar em Milão – na Academia de Belas Artes de Brera, onde após realizar sua graduação, defendeu tese de final de curso sobre Picasso, em plena ascensão fascista. Com a deterioração das condições políticas na Itália, foi para a França em 1939 onde montou um atelier na Cité Falguière. Na época cursou uma cadeira de escultura na Escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris. Em Paris conheceu e conviveu com muitos artistas, alguns dos quais continuaram amigos pela vida inteira, tais como os conterrâneos surrealistas, Victor Brauner, Jacques Herold, Arpad Szenes e a mulher deste, Maria Helena Vieira da Silva, portuguesa de origem. Quando a França entrou na guerra, foi para Lisboa, hospedando-se na casa dos amigos Szenes e Vieira da Silva, com a intenção de seguir para os EUA, destino de muitos judeus naquele momento. Em Lisboa trabalhou no atelier do também surrealista António Da Costa. Relacionou-se com os escritores portugueses da época e ilustrou alguns números da Revista Presença, importante veículo de expressão dos intelectuais naquele momento. Com a negativa do visto para os Estados Unidos, resolveu partir para o Brasil. Em sua chegada ao Rio, em 1940, trouxe cartas de apresentação para José Lins do Rego, Mário de Andrade e Portinari. Logo nos primeiros momentos conheceu também Jorge de Lima e Lúcio Cardoso que juntamente com José Lins do Rego, tornaram-se seus grandes amigos e o introduziram na vida intelectual carioca.

 

Ainda em 1940 surgiu a chance de sua primeira exposição individual, no tradicional Salão do Palace Hotel, sede da Associação de Artistas Brasileiros. Guignard desistira de apresentar-se por ter sido censurado pela presença de um fuzileiro naval negro em uma de suas telas e uma oportunidade grande se abriu para Marcier, um recém-chegado. A crítica foi muito favorável a seu talento, ainda associado ao surrealismo europeu.

 

Em 1942, Marcier foi contratado pela Revista O Cruzeiro para fazer uma viagem às cidades históricas mineiras para uma reportagem ilustrada com suas telas. Uma edição histórica, com textos de Drummond, Aires da Matta Machado e outros.  Desde então, retratou o Brasil, suas pessoas e seus costumes. As paisagens de Minas, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro foram diversas vezes retratadas e a expressão de nosso barroco o marcou desde sua primeira viagem a Minas. Marcier era o típico “pintor viajante”, pintou muitos lugares da Europa, com foco importante na Itália, França e Portugal. Trazia sempre sua caixa de aquarelas e blocos de papel especial para retratar os lugares que o marcavam e as pessoas que conhecia. Retornou várias vezes ao mesmo lugar, para repintá-los, como por exemplo a Itália, sobretudo a Toscana e a Normandia. Suas famosas pinturas sacras (Marcier é considerado o mais importante pintor sacro do Brasil), iniciadas ainda em Santa Teresa, onde alugou de Djanira, no começo dos anos 40, uma sala enorme para pintar sua grande “Crucificação” de quatro metros que foi exposta com outras menores na sua grande exposição do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) em 1942. Em Penedo onde morou junto aos finlandeses adventistas (1942) fez grandes telas sacras e posteriormente os afrescos gigantes da Capela de Mauá, SP (Capela da JOC-1946/47) tendo sido a temática religiosa sempre recorrente ao longo de sua vida. A partir daí, em sua obra, há a confluência entre a história sagrada e a humana.

 

Em 1948, Marcier fixou residência no sítio de Barbacena, onde criou, com Julita, os sete filhos. Tempos felizes com a família e a casa que construiu para acalmar as dores do exílio e dedicar-se à sua arte. No ateliê rural de grandes proporções, investe com todo o empenho nas telas de grandes dimensões, com temas sacros, à luz do sofrimento da humanidade e realiza as suas espetaculares Paixões de Cristo e Via Sacras. Experimenta de forma ainda mais efetiva os seus estudos sobre a luz na obra de arte. Sua obra mural é muito extensa tanto em afresco como em óleo. Diversas capelas, o grande painel da Guerra de Troia em Cataguases, os afrescos do Edifício Golden Gate na Av. Atlântica e o Painel Motivos do Rio de Janeiro pintado a pedido do Governador Carlos Lacerda, em 1963, para o BEG e que hoje está no Museu do Ingá, em Niterói, são bons exemplos da magnitude de sua obra.

 

 

Até 13 de outubro.