22 artistas, uma antologia

03/out

O livro “Da arte e de 22 artistas brasileiros. Uma antologia.” de autoria do crítico de arte Jacob Klintowitz, ganhou lançamento na Pinacoteca da Associação Paulista de Medicina, São Paulo, SP, uma edição do Instituo Olga Kos. Klintowitz assina ensaio sobre arte e identidade nacional chamado de “No céu azul”, título – homenagem ao poeta Issa Kobayashi (1763-1827) cujo Hai Kai serve como epígrafe do novo livro.

 

 

Da arte e de 22 artistas brasileiros. Uma antologia. Por Jacob Klintowitz.

 

Artistas: Antonio Peticov, Caciporé Torres, Carlos Araujo, Célia Rachel RVK, Claudio Tozzi, Eduardo Iglesias, Emile Tuchband, Ermelindo Nardin, Gustavo Rosa, Inácio Rodrigues, Inos Corradin, Isabelle Tuchband, Ivald Granato, Marcello Grassmann, Neto Sansone, Newton Mesquita, Rubens Matuck, Sara Belz, Takashi Fukushima, Verena Matzen, Yugo Mabe, Yutaka Toyota.

 

 

A palavra do autor

 

“O notável desta seleção de artistas brasileiros é que o critério foi unicamente a qualidade de suas obras. Não buscamos neles a identidade cultural do Brasil, porque isto nos parece impossível. A nossa identidade será dada pela soma, nunca pela subtração. Esta pergunta, a da verdadeira identidade, tão comum em países novos ou emergentes, não tem sentido, pois o que caracteriza uma nação não é uma estrutura estática, mas um processo em permanente transformação. Todos os dias o nosso país nasce de novo. Esta mutação é um motivo de permanente entusiasmo e esperança. Nós faremos o nosso mundo. Neste conjunto antológico de arte felizmente temos várias tendências e processos criativos diferenciados. Cada artista é o seu próprio mundo. Não há uma corrente estética hegemônica. O que podemos afirmar é que estes artistas estão entre os mais atuantes do nosso país nas últimas décadas. A unidade desta mostra é a multiplicidade de vertentes. Aqui se privilegiou a individualidade. O outro elemento de unidade é a generosidade, pois todos eles estão profundamente envolvidos no Projeto do Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural e foram mestres nas oficinas de criatividade do IOK. E, segundo os seus emocionados e emocionantes depoimentos, foram mestres que aprenderam com os seus alunos. Mestre é aquele que tem capacidade de aprender. Todos os dias aprendemos isto, não é?”.

 

Julio Le Parc, Nara Roesler, Rio 

02/out

Com a presença do consagrado nome da arte cinética mundial, a Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou “Julio Le Parc: obras recentes”, em homenagem aos 90 anos do artista, completados dia 23 de setembro. A exposição traz pinturas inéditas da série “Alchimie”, uma escultura da série “Torsion’ (2004), um móbile da série “Continuel”, e “A l c h i m i e V i r t uel”, com tecnologia que permite ao espectador adentrar o universo do artista. A obra, em realidade virtual, atualiza a questão da virtualidade que Le Parc vem explorando há mais de 50 anos, como nas pinturas “Réels et virtuels”, da série “Surface noir et blanc” (anos 50), “Volume Virtuel” (anos 70), e nas esculturas “Cercle Virtuel” (anos 60). Por antecipar essa discussão, Le Parc tornou-se reconhecidamente um visionário que sempre acreditou no poder libertário que a arte tem em despertar nossas faculdades perceptivas.

 

 

“Retomar contato com as obras e as ideias de Le Parc quando ele completa seus 90 anos é uma oportunidade de reativar essa crença no papel emancipatório da arte – hoje sem o dogmatismo que regia suas ideias iniciais junto ao grupo de arte cinética – e a esperança de que ela seja portadora de uma oportunidade de transformação”, escreve Rodrigo Moura, em seu texto para a exposição.

 

As “alquimias” atuais, em acrílica sobre tela, são trabalhos em grande escala, concebidos a partir de vários estágios de desenhos e de pinturas menores que se expandem em composições modificadas progressivamente. “Em algumas pinturas vemos um grande centro preto que, circulado por uma sobreposição de cores agrupadas e sobrepostas, parece atomizado, o que provoca um efeito simultaneamente desorientador e hipnótico”, diz Le Parc. A série “Alchimie” foi iniciada em 1988, em forma de pequenos esboços surgidos a partir de observações fortuitas do artista e que, aos poucos, foram concretizadas. “Aqui Le Parc está mais uma vez interessado na ideia de permutação cromática e de refração da luz na superfície, criando possibilidades de vibração a partir de planos sobrepostos, círculos concêntricos, espirais e fitas de Moebius”, afirma Moura. O crítico também destaca “a capacidade de evocação ambiental, como se cada tela fosse um corpo espacial com profundidade e luminosidade próprios, reativando o dilema olho/corpo, um antigo problema colocado pela obra de Le Parc”.

 

Em “Torsion”, o artista reafirma essa persistência em uma experimentação contínua, em que cada novo conjunto de obras tem suas raízes no que já desenvolveu. A série de esculturas às quais o artista se dedica desde o fim da década de 1990, está ligada ao espírito dos primeiros relevos, especialmente dos “volumes virtuais” desenvolvidos nos anos de 70. A contundente presença do aço inox, esse material de superfície acetinada, permite múltiplas mudanças devido a sua maneira de atrair a luz. Para Rodrigo Moura, a questão que se coloca de forma mais evidente é a da incidência da luz do ambiente sobre os filetes de aço inoxidável. “Evoca-se uma dimensão de duração à medida que nos deslocamos em torno delas, como se fossem micro espelhos imperfeitos ou fragmentos de labirintos. Por isso, quanto mais extensão, maiores as possibilidades”.

 

 

 

 

Sobre o artista

 

Julio Le Parc (n. 1928, Mendoza, Argentina) vive e trabalha em Cachan, França. O artista apresenta ao espectador uma visão divertida e desmistificada da arte e sociedade por meio de suas pinturas, esculturas e instalações perceptualmente ilusórias. Le Parc faz interagir cor, luz, sombra e movimento de modo que as formas aparentem movimento, estruturas sólidas se desmaterializem, e a própria luz pareça plástico. Como co-fundador do Groupe de Recherche d’Art Visuel (GRAV), trabalhou para romper os limites na arte e a participação de espectadores contribuiu diretamente com suas famosas esculturas cinéticas e ambientes de luz. A partir de 1960, no entanto, começou a desenvolver uma série de obras distintas que utilizavam a luz “leitosa”: esses objetos, geralmente construídos com uma fonte lateral de luz branca que era refletida e quebrada por superfícies metálicas polidas, combinavam um alto grau de intensidade com uma expressão sutil de movimento contínuo. As obras de Le Parc foram tema de inúmeras exposições individuais na Europa, América Latina e Estados Unidos, em instituições como o Pérez Art Museum, Miami, EUA (2016); Museum der Kulturen Basel, Basel, Suíça (2015); Bildmuseet, Umea, Suécia (2015); Malba, Buenos Aires, Argentina (2014); Palais de Tokyo, Paris, França (2013); Biblioteca Luiz Angel Arango, Bogotá, Colômbia, (2007); Laboratorio Arte Alameda, Cidade do México, México (2006); Castello di Boldeniga, Brescia, itália (2004) entre outras. O artista também fez parte de diversas exposições coletivas e bienais como: a Bienal Internacional de Curitiba, Curitiba, Brasil (2015); Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (1999); Bienal de Havana, Havana, Cuba (1984); Bienal de São Paulo (1967), a Bienal de Veneza em 1966 (quando recebeu o Prêmio) e a polêmica exposição do MoMA, The Responsive Eye (1965). Como ato de protesto contra o regime militar repressivo no Brasil, ele se juntou a artistas no boicote da Bienal de São Paulo em 1969 e publicou um catálogo alternativo de Contrabienal em 1971. As obras coletivas posteriores de Le Parc incluem a participação em movimentos antifascistas no Chile, El Salvador e Nicarágua. Recentemente, Le Parc tem sido objeto de grandes retrospectivas, como Form into action no Pérez Art Museum, Miami, EUA (2016), Julio Le Parc na Serpentine Gallery, Londres, Reino Unido (2014); Le Parc: Lumière no MALBA, Buenos Aires, Argentina (2014); Soleil froid no Palais de Tokyo, Paris, França (2013); Le Parc lumière na Casa Daros, Rio de Janeiro, Brasil (2013); e da exposição Dynamo no Grand Palais, Paris, França (2013

 

 

 

Até 14 de novembro.

ArtRio, 48 mil visitantes 

A ArtRio 2018, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, provou que a arte continua valorizada e considerada um bom investimento, e que a Arte Brasileira está em alta no país e no mundo. Com visitação que chegou a 48 mil pessoas, a feira terminou sua oitava edição com saldo positivo de vendas e, também, com o incentivo a formação de um novo público. O evento, que aconteceu de 26 a 30 de setembro, ocupou uma área de 10.600 m².

 

Com a presença de 87 galerias, a ArtRio teve dois setores gerais, PANORAMA e VISTA, além dos programas curados SOLO, MIRA, PALAVRA e BRASIL CONTEMPORÂNEO.

 

Um importante foco da ArtRio esse ano foi a valorização das galerias e artistas brasileiros. A organização coordenou a vinda de 140 colecionadores e curadores internacionais para visitar o evento, além de uma programação especial que incluiu visitas a ateliês, coleções privadas e instituições culturais e museus. Entre os convidados deste grupo Jessica Morgan e Courtney Martin, dia Art Foundation / NY, Abhishek Basu, fundador da Basu Foundation for the Arts / India, Daniela Zyman, curadora do Thyssen-Bornemisza Arte Contemporânea -TBA 21 / Viena, Thierry Raspail, diretor do MAC de Lyon e Diretor Artístico da Bienal de Arte Contemporânea de Lyon, Martijn van Nieuwenhuysen, do Stedelijk Museum / Amsterdam, e Jesus Fuenmayor, da XIV Bienal de Cuenca / Equador.

 

“A ArtRio 2018 foi uma grande homenagem ao Brasil. Temos que valorizar a arte brasileira e o trabalho de nossos galeristas e artistas. Realizamos uma feira muito focada, de alta qualidade e com muita diversidade. O resultado de sucesso pode ser visto com as boas vendas que muitas galerias tiveram e também com a geração de novos contatos entre galeristas e um novo público de arte. Muito gratificante também é ver como a cidade inteira abraçou a ArtRio com um intenso calendário, com uma programação riquíssima nas galerias, museus e centros culturais”, reforça Brenda Valansi, presidente da ArtRio.

 

 

Em 2019, a ArtRio acontecerá em setembro, novamente na Marina da Glória.

 

“A feira foi ótima. Pelo segundo ano na Marina da Glória, vimos que esse formato realmente funcionou e a localização traz um público com um clima muito positivo, mesmo com a situação atual, nas vésperas das eleições. Além disso, o posicionamento da feira de reunir ainda mais colecionadores e curadores de outros estados e estrangeiros trouxe um bom resultado para nós. Tivemos boas vendas. E aproveitamos o momento do lançamento da exposição do Julio Le Parc para trazê-lo ao evento, o que nos rendeu ainda mais visibilidade. A sua obra foi a mais fotografada da feira”, disse Alexandre Roesler, da Galeria Nara Roesler.

 

“Eu não esperava um evento tão alto astral em um momento como esse, tanto econômico, quanto político. Só esse clima já valeu tudo. Nossas vendas foram razoáveis, mas tivemos muita procura e interesse, fazendo com que o pós feira seja de muitas vendas. O mais interessante foi ter nossa clientela renovada”, esclarece Maneco Muller, da galeria Mul.ti.plo Espaço Arte.

 

“Essa é a primeira vez da Central na ArtRio e foi muito produtivo, tanto em contatos quanto em vendas. Já estamos pensando no artista para trazer no ano que vem”, afirma Fernanda Basile Resstom, da Central Galeria.

 

“Em mais uma participação na ArtRio, tivemos a alegria de apresentar uma exposição que refletiu o trabalho e a poética de nossos artistas. Além de sermos visitados por nossos clientes, travamos novos e importantes contatos”, indicam Jaime Portas Vilaseca e Gus Moura de Almeida, da Portas Vilaseca Galeria.

 

“Para nós, foi ótima a participação na ArtRio. Como somos uma galeria nova, geramos relacionamento e oportunidades incríveis entre galeria, público, curadores e colecionadores; conquistando mais visibilidade e prestígio”, conta Janaina Torres, da Janaina Torres Galeria.

 

As galerias dos programas PANORAMA e VISTA foram selecionadas pelo Comitê de Seleção formado pelos galeristas Alexandre Gabriel (Fortes D’Aloia & Gabriel/ SP e RJ); Anita Schwartz (Anita Schwartz Galeria de Arte / RJ); Elsa Ravazzolo (A Gentil Carioca / RJ); Eduardo Brandão (Galeria Vermelho / SP) e Max Perlingeiro (Pinakotheke / RJ, SP e FOR).

 

O programa BRASIL CONTEMPORÂNEO teve sua primeira edição em 2018, com curadoria de Bernardo Mosqueira, e foi dedicado a galerias que apresentaram trabalhos solo de artistas residentes fora do eixo Rio de Janeiro – São Paulo. O MIRA teve como curador David Gryn, que também assina a curadoria do programa de vídeo da Art Basel Miami Beach. O SOLO pela primeira vez teve duas colecionadoras de arte assinando a linha curatorial: Genny Nissenbaum e Mara Fainziliber. O PALAVRA teve a curadoria de Claudia Sehbe e Omar Salomão.

 

A ArtRio é apresentada pelo Bradesco, pelo sétimo ano consecutivo, através da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. O evento tem patrocínio de Stella Artois e CRAB/SEBRAE, FIRJAN, e apoio institucional da Valid, Bondinho Pão de Açúcar, Estácio, Bacardi, Bombay Sapphire, Shopping Leblon, High End e Breton. A rede Windsor será a rede de hotel oficial do evento.

 

Durante a ArtRio foram apresentados os vencedores da sexta edição do Prêmio FOCO Bradesco ArtRio, destinado a artistas jovens com até 15 anos de carreiras. Os selecionados em 2018 foram Paul Setúbal, Ana Hupe e Aline Xavier. Todos receberão residências artísticas e esse ano participaram com suas obras da ArtRio.

Informações sobre Antonio Tarsis.

27/set

O artista parte da violência sofrida por moradores de favelas cariocas para os trabalhos da mostra no espaço Brasil Contemporâneo da ArtRio, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ. A curadoria é de Bernardo Mosqueira, que selecionou artistas e galerias fora do eixo Rio-São Paulo. Tarsis é representado por Luiz Fernando Landeiro Arte Contemporânea, de Salvador. O artista mostrará dois trabalhos: a série de bordados “Genocídio Simbólico” e o conjunto de objetos “Trabuco”. Ele nasceu em 1995 na periferia de Salvador, e esta é sua primeira exposição no Rio de Janeiro. Autodidata, começou a pintar aos quinze anos. É neto de feirantes e vem  conquistando o circuito artístico com seu trabalho, que abrange fotografia, pintura em variados suportes, objetos e colagem. Em 2016 foi um dos vencedores do 5º Prêmio Energias na Arte, do Instituto Tomie Ohtake, ganhando uma residência no prestigioso Lugar a Dudas, em Cáli, Colômbia, mantido pelo artista Oscar Muñoz.

No Instituto Tomie Ohtake

AI-5 50 ANOS – Ainda não terminou de acabar

 

“Para que pode servir uma instituição de arte em um país como o Brasil, hoje, em 2018? Embora isso não chegue diretamente ao olhar dos visitantes, essa é uma pergunta que as equipes do Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, enfrentam cotidianamente, no trato com as responsabilidades intrínsecas aos trabalhos desenvolvidos. As respostas para isso são muitas e uma delas passa pela revisão contínua da história da arte dentro da história mais ampla da sociedade, acreditando que tanto uma quanto a outra podem aparecer de forma renovada quando colocadas em tensão”.

 

A partir dessa reflexão, assinalada pelo Instituto Tomie Ohtake, nasce  AI-5 50 ANOS – Ainda não terminou de acabar, exposição que busca discutir os custos da retirada de direitos democráticos para o imaginário cultural do País, em resposta aos 50 anos do Ato Institucional No. 5, marco do agravamento do totalitarismo da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985).

 

Conforme o curador Paulo Miyada, a pesquisa tem como núcleo a produção de artes visuais do período, com obras, ideias e iniciativas que nasceram em tensão com a interdição da própria opinião política, que chegou a ser virtualmente criminalizada pelas práticas de censura e repressão. Em alguns casos, as obras reunidas foram proibidas, destruídas ou subsistiram ocultas; em outros, sua circulação foi seriamente contida e seus modos de expressão passaram por codificações e táticas de resistência.

 

Como uma exposição-ensaio, AI-5 50 ANOS – Ainda não terminou de acabar propõe um percurso que passa por diversos estágios de restrição dos direitos democráticos e destaca múltiplas atitudes de contestação, grito e reflexão. Há também espaço para textos e documentos de contextualização, além de algumas obras comissionadas de artistas mais jovens, que conheceram o período por meio da história.

 

Segundo Miyada, uma das contribuições que a arte pode oferecer mesmo durante os arcos mais sombrios da história humana é a sua capacidade de ampliar o campo do que pode ser dito e sentido frente aos limites e interdições da linguagem. “Com isso em mente, é possível considerar que esta mostra não é apenas um memorial de silenciamentos e perdas, mas também de reinvenções e resistências, com apelos que se endereçaram à sociedade de então e continuam em aberto para os cidadãos de hoje”, completa o curador.

 

 

A exposição está dividida em seis núcleos:

 

Censura no período da ditadura civil-militar frente a frente com a emergência da ideia de “opinião” na produção artística entre 1964-1968. Apresenta exemplos de engajamento crítico das vanguardas artísticas e o acirramento gradual de mecanismos de silenciamento que fizeram um arco desde casos de censura moral até ataques explícitos à liberdade de expressão e crítica.
Destaques desse núcleo:Textos de Hélio Oiticica e obras de Cybele Varela e Carlos Vergara, fotografias de Evandro Teixeira e projeto não realizado de Carmela Gross.

Criminalização da própria opinião após o AI-5 e transformação das tendências artísticas que, com o acirramento das estratégias de repressão, alcançaram seu ponto de máxima tensão entre 1968 e 1970. Discute como artistas que integraram ativamente a transformação da arte brasileira na segunda metade da década de 1960 produziram obras limítrofes, radicais e de contestação, muitas vezes de perto (ou de dentro) de episódios de prisão, exílio, tortura e coerção.

 

Destaques desse núcleo:Depoimento de Gilberto Gil, obras e depoimentos de Claudio Tozzi e Carlos ZIlio, depoimento de José Carlos Dias, obras de Antonio Henrique Amaral e Anna Bella Geiger, obras e caderno inédito de Antonio Dias.

Produção da chamada “geração de guerrilha”, que ganhou espaço na arte brasileira entre 1969 e 1970 e constantemente emulou em seus processos criativos táticas de infiltração, resistência e indistinção típicos de movimentos de guerrilha urbana. Trata-se, também, de uma produção que buscou ocupar espaços nas bordas ou fora do circuito artístico institucional, além de reagir a tentativas de censura e/ou enquadramento formal de suas proposições.

 

Destaques desse núcleo:Obras de Antonio Manuel, Artur Barrio e Cildo Meireles. Contraposições e contrastes: Carlos Pasquetti, Regina Vater e Nelson Leirner.

Arte na década de 1970 e recursos de busca de liberdade e crítica em um país autoritário. Levantamento de caminhos apesar dos interditos, que passaram pelo teor libidinoso e lúdico da produção chamada de “marginal”; pela formação de circuitos subterrâneos de distribuição, como cineclubes e redes de arte correio; e por experimentação de modelos linguísticos com alto grau de codificação e desenvolvimento conceitual.

 

Destaques desse núcleo:Obras de Wlademir Dias-Pino, Paulo Bruscky, Regina Silveira, Regina Vater e filmes de José Agrippino de Paula e Ivan Cardoso.

Críticas ao desenvolvimentismo do ideal de país promovido pela ditadura. Seleção de obras que apontam para a resistência ao otimismo nacionalista impulsionado pela retórica de ocupação da Amazônia, megalomaníaco e inconsequente com reflexões ecológicas e os direitos das populações indígenas.

 
Destaques desse núcleoObras e livros de Claudia Andujar, obra de Cildo Meireles e filme de Jorge Bodanzky.

Reflexão sobre a crise institucional que alcançou o processo de “abertura democrática”, aplicado ao caso das instituições artísticas, a exemplo de tantas outras áreas, não passaram por um processo cuidadoso e amplo de reconstrução e revisão de suas premissas com o final da ditadura na década de 1980.

 
Os assuntos em destaque são proposições provocativas para o campo artístico, todas interrompidas ou descontinuadas: a criação do Museu da Solidariedade no Chile, por Mario Pedrosa; a proposição do Museu das Origens após o incêndio do Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro, também por Mario Pedrosa; e o Encontro de Críticos de Arte da América Latina, organizado por Aracy Amaral com o intuito de rediscutir as premissas da Bienal de São Paulo.

 

 

Lista de artistas participantes:

 

Adriano Costa, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Antonio Benetazzo, Antonio Dias, Antonio Henrique Amaral, Antonio Manuel, Aracy Amaral, Artur Barrio, Aurélio Michiles,Augusto Boal, Aylton Escobar, Bené Fonteles, Caetano Veloso, Carlos Pasquetti, Carlos Vergara, Carlos Zilio, Carmela Gross, Chico Buarque, Cildo Meireles, Claudia Andujar, Claudio Tozzi, Coletivo (Ana Prata, Bruno Dunley, Clara de Capua,  Derly Marques, Deyson Gilbert, Janina McQuoid, João GG, Leopoldo Ponce, Mauricio Ianês, Pedro França e Pontogor), Cybèle Varela, Daniel Santiago, Décio Bar, Décio Pignatari, Desdémone Bardin, Edouard Fraipont, Evandro Teixeira, Francisco Julião, Frederico Morais, Gabriel Borba, Genilson Soares e Francisco Iñarra, Gilberto Gil, Glauber Rocha, Glauco Rodrigues, Guga Carvalho, Hélio Oiticica, Ivan Cardoso, Jo Clifford, Renata Carvalho, Natalia Mallo e Gabi Gonçalves, João Sanchez, Jorge Bodanzky, José Agrippino de Paula, José Carlos Dias, José Celso Martinez Corrêa, Lula Buarque de Hollanda, Marcello Nitsche, Marcio Moreira Alves, Marisa Alvarez Lima, Mario Pedrosa, Matheus Rocha Pitta, Mauricio Fridman, Nelson Leirner, Paulo Bruscky, Paulo Nazareth, Raymundo Amado, Regina Silveira, Regina Vater, Reynaldo Jardim, Ricardo Ohtake, Roberto Schwarz, Samuel Szpigel, Sérgio Sister, Vera Chaves Barcellos, Wlademir Dias-Pino e outros.

 

 

Até 04 de novembro.

Coletiva da Luciana Caravello

24/set

Luciana Caravello Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta exposição coletiva com obras de seu acervo. A mostra terá cerca de 40 trabalho, dentre pinturas, desenhos, esculturas e instalações, dos 30 artistas representados pela galeria: Adrianna Eu, Afonso Tostes, Alan Fontes, Alexandre Mazza, Alexandre Sequeira, Almandrade, Ana Linnemann, Armando Queiroz, Bruno Miguel, Carolina Ponte, Claudio Alvarez, Daniel Escobar, Daniel Lannes, Eduardo Kac, Eliane Prolik, Fernando Lindote, Gê Orthof, Gisele Camargo, Güler Ates, Igor Vidor, Ivan Grilo, Jeanete Musatti, João Louro, Lucas Simões, Marcelo Solá, Marina Perez Simão, Nazareno, Paula Trope, Pedro Varela e Ricardo Villa. Entre as obras apresentadas estarão esculturas da série “Borda e Alegria”, de Igor Vidor, composições feitas a partir de armações de pipas, vazadas, e seus respectivos padrões geométricos desenvolvidos em papéis de seda; origamis da série “Articulando Princípios”, de Ricardo Villa, e a instalação “Estudo para fábrica de vidros” (2017/2018), de Ivan Grilo. Pelo oitavo ano consecutivo, a galeria participa da ArtRio, um dos principais eventos de arte da América Latina. No stand da galeria, no setor “Panorama”, que reúne as galerias já estabelecidas no circuito internacional de arte, estarão obras dos artistas representados, incluindo pinturas, desenhos e esculturas. A galeria também estará presente no programa SOLO, com uma instalação da artista Adrianna Eu, e no programa MIRA, que reúne videoarte, com uma obra do artista Igor Vidor.

 

Xico & Iberê

19/set

A Galeria Frente, Jardins, São Paulo, SP, realiza a partir de 22 de setembro uma especial mostra retrospectiva na qual reúne os amigos de uma vida inteira, os gaúchos Xico Stockinger e Iberê Camargo. Em exibição esculturas em bronze e ferro e madeira de Stockinger e pinturas de diversos períodos de Iberê.

 

 

Iberê sobre Xico:

 

“Conheci o Xico em 1947, no Rio, no atelier de Bruno Giorgi. Ele se iniciava na escultura. De imediato nos tornamos amigos. Um ideal comum, a arte, nos aproximou para sempre. Via a sua transferência para Porto Alegre, com certo receio. Temia que a província não favorecesse o desenvolvimento de seu talento. Enganei-me. Foi exatamente no sul, nesta plaga de tradições cruentas que Xico criou seus imortais guerreiros, sempre prontos à luta, armados de escudos e pontudas lanças. Quixotesco, eles existem, heráldico, no intemporal da Arte. E, por certo, combatem em imaginárias refregas-vivências da fantasia do artista. Durante nosso prolongado afastamento, que durou quase trinta anos – ele em Porto Alegre, e eu no Rio – trocamos correspondência, sempre transbordante de humor e afeto. Quando das minhas vindas esporádicas à capital gaúcha, juntos, quixotescamente, nos empenhamos em acirrados debates. Entre muitos, ficou famoso o do Teatro de Equipe, nos idos de sessenta, que cunhou a inexorável expressão – ‘marasmo de Porto Alegre’.

 

Xico é esse escultor vigoroso que doma o ferro, o lenho e o mármore, com mão de mestre. E é ele também de todos nós, um grande amigo.”
IBERÊ CAMARGO
Porto Alegre, 1968.

 

 

Até 27 de outubro.

Volpi/Ione Saldanha na Galeria Ipanema

14/set

A Galeria de Arte Ipanema, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, a partir do próximo dia 24 de setembro, a exposição “Alfredo Volpi e Ione Saldanha: o frescor da luminosidade”, que homenageia o grande artista Alfredo Volpi (1896 -1988) em seus trinta anos de morte, reunindo 66 obras em diálogo com outros 20 trabalhos de Ione Saldanha (1919 – 2001), com curadoria de Paulo Venâncio Filho.  Na abertura da exposição, será lançado um livro-catálogo editado pela Barléu, com texto do curador e imagens do fotógrafo Rômulo Fialdini. As obras que compõem “Alfredo Volpi e Ione Saldanha: o frescor da luminosidade”, pertencem a importantes acervos privados no Brasil, como o Instituto Volpi.

Exposição de Hilal Sami Hilal

11/set

No dia 12 de setembro, Cassia Bomeny Galeria, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “Fora da Palavra”, com obras inéditas de Hilal Sami Hilal, artista capixaba, de ascendência síria, que já fez exposições em importantes instituições no Rio de Janeiro, como MAM Rio e Museu da Chácara do Céu. Com curadoria de Vanda Klabin, serão apresentadas cerca de 20 obras, produzidas este ano, dentre trabalhos feitos em cobre oxidado e corroído e em papel artesanal pigmentado. A exposição tem o conto “A Terceira Margem do Rio” (1962), de Guimarães Rosa (1908-1967), como ponto de partida. Ele conta a história de um pai que abandona a família para viver em uma canoa. Hilal, que já desenvolve desde 2007 uma pesquisa sobre a ausência paterna, criou os trabalhos desta exposição baseando-se no conto.

 

“A memória afetiva acompanha a obra. O conto fala de abandono, culpa, luto, melancolia, delírio, perdão…”, diz o artista. “Hilal rompe com os aspectos descritivos e narrativos, pois a obra não tem mais relação com a representação, contempla uma transposição caligráfica focada no texto, agora em oxidação metálica. Junta uma palavra com a outra, uma materialidade da equivalência do pensar, verdadeiros signos linguísticos, que geram nova visualidade gráfica palpável, perceptível, que brota em vigorosas partículas e, ao mesmo tempo, intensifica o vazio”, afirma a curadora Vanda Klabin.

 

No centro da exposição, pendurado no teto, haverá o grande painel de 2mX3m, composto por 24 placas de cobre vazadas. Como há uma transparência, será possível ver através da obra, tornando o público parte do trabalho. Essa grande peça foi criada a partir dos estudos das obras da exposição, que foram passados para o computador, trabalhados digitalmente e impressos em chapas de cobre, que depois foram corroídas. “Nesse trabalho está todo o estudo, tudo o que pensei sobre o conto: pensamentos, frases, desenhos, mostra o momento visceral do trabalho em construção“, conta.

 

Nas paredes, estarão obras feitas em cobre, com corrosão e oxidação. “Acelero o processo de oxidação com materiais químicos”, explica o artista. Algumas obras possuem a cor do metal corroído, outras um azul intenso; em algumas, as tramas são mais fechadas, há camadas, sobreposições de materiais, em outras, as tramas são mais abertas, mais transparentes e delicadas, como é o caso de uma que traz o desenho semelhante a um mapa vazado no meio da trama de cobre.

 

Um outro exemplo  é a obra da série Bastidor, que mede 1mX1m, e intensifica o espaço, o vazio. Este trabalho representa uma síntese do conto. É marcado com um objeto em ouro 18k. O “Livro Nuvem“ da série Atlas é feito artesanalmente pelo próprio artista, em papel de algodão com pigmentos, medindo 1mx 2m. A obra é composta por cerca de 60 imagens lembrando o céu e o mar. “Acho a paisagem fundamental presença para esta mostra, preciso desta geografia para construir um imaginário espacial e temporal”, afirma.

 

 

Haverá ainda, um trabalho feito em polietileno de alto impacto reciclado, com pintura em grafite. A obra da série “Deslocamentos“ é dividida em quatro módulos, trazendo o tema da separação. “Na presença da obra cria-se um delírio, uma vertigem, que tem muito a ver com o conto em questão”, diz o artista.

 

O nome da exposição, “Fora da Palavra”, foi tirado de um dos versos da música “Terceira Margem do Rio”, de Caetano Veloso e Milton Nascimento, que é baseada no conto de Guimarães Rosa. “A palavra está presente nas obras, mas existe mais do que isso, existe algo que não se diz, há a interpretação de cada um, o que cada um vai ver, de que forma aquilo vai tocar cada pessoa. O que a arte traz está fora da
palavra, é o que te captura, o que te toca”, como diz a música “fora da palavra, quanto mais dentro aflora” afirma o artista. O trabalho de Hilal Sami Hilal transita entre o fazer manual, técnicas milenares e a tecnologia moderna  para criar suas peças.

 

 

 

 

Sobre o artista

 

 

Capixaba de origem síria, Hilal Sami Hilal (Vitória, 1952) iniciou-se, nos anos 1970, no desenho e aquarela para depois decidir se aprofundar em técnicas japonesas de confecção do papel. A partir daí, com uma viagem ao Japão, sua pesquisa intensificou-se, resultando numa segunda viagem a esse país no final dos anos 1980. Cruzando influências culturais entre o Oriente e o Ocidente, entre a tradição moderna ocidental e a antiga arte islâmica, surgiram suas “rendas”. Confeccionadas com um material exclusivo, criado com celulose retirada de trapos de algodão e misturada com pigmentos, resina e pó de ferro e de alumínio, as rendas privilegiam a força gestual do artista, que assim constrói a tela a partir de linhas que se cruzam, de cores que se revelam na mistura dos materiais e da sensação de ausência gerada pelos espaços em branco. O trabalho, colocado a curta distância da parede, beneficia-se das sombras projetadas, criando um rendilhado virtual.

 

 

 

 

De 12 de setembro a 03 de novembro.

33ª Bienal de São Paulo

06/set

Intitulada “Afinidades afetivas”, mostra com curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro busca modelo alternativo ao uso de temáticas, privilegiando o olhar dos artistas sobre seus próprios contextos criativos

 

De 07 de setembro a 09 de dezembro de 2018, a 33ª Bienal de São Paulo – “Afinidades afetivas” vai privilegiar a experiência individual do espectador na apreciação das obras, em detrimento de um tema que favoreceria uma compreensão pré-estabelecida. O título escolhido pelo curador Gabriel Pérez-Barreiro – apontado pela Fundação Bienal de São Paulo para conceber a mostra – remete ao romance de Johann Wolfgang von Goethe “Afinidades eletivas”, de 1809, e à tese “Da natureza afetiva da forma na obra de arte”, de 1949, de Mário Pedrosa.

 

O título não tem o intuito de dar direcionamento temático à exposição, mas caracteriza a forma de organizar a exposição a partir de vínculos, afinidades artísticas e culturais entre os artistas envolvidos. Como no texto de Pedrosa, há uma proposta de investigação das formas pelas quais a arte cria um ambiente de relação e comunicação, passando do artista para o objeto e para o observador. Presença, atenção e influência do meio são as premissas que norteiam a curadoria desta edição, numa reação a um mundo de verdades prontas, no qual a fragmentação da informação e a dificuldade de concentração levam à alienação e à passividade.

 

O curador crê no aspecto positivo de uma mudança radical do sistema operacional da Bienal. Para esta edição, ao lado dos doze projetos individuais eleitos por Pérez-Barreiro, os sete artistas-curadores escolhidos por ele já definiram suas propostas expositivas, com total liberdade na escolha dos artistas e seleção das obras – a única limitação imposta a eles foi que incluíssem em suas exposições trabalhos de sua própria autoria.

 

 

Proposições curatoriais concebidas pelos artistas-curadores

 

A partir de seu interesse em questões como repetição, narrativa e tradução, Alejandro Cesarco (Montevidéu, Uruguai, 1975) realiza uma curadoria de obras de artistas que compartilham de suas inquietações conceituais e estéticas. Intitulada  “Aos nossos pais, “a mostra propõe questionamentos acerca de como o passado (a história) ao mesmo tempo possibilita e frustra potencialidades e de como ele pode ser reescrito pelo trabalho do artista, gerador de diferenças a partir de repetições”, explica. Além de Cesarco, participam da mostra artistas de três diferentes gerações, entre os quais Sturtevant (EUA, 1924 – França, 2014), Louise Lawler (EUA, 1947) e Cameron Rowland (EUA, 1988). “Dedicar esta exposição a uma relação primária (biológica ou adotiva, literal ou metafórica) é construir uma genealogia e uma tentativa de aproximação da fonte central de nossas interpretações, métodos, inibições, possibilidades e expectativas”.

 

Antonio Ballester Moreno (Madri, Espanha, 1977) aborda sua curadoria na 33ª Bienal como forma de contextualizar um universo baseado na relação íntima entre biologia e cultura, com referências à história da abstração e sua interação com natureza, pedagogia e espiritualidade. Para tanto, ele relaciona a produção de filósofos, cientistas e artistas: “somos todos criadores de nosso próprio mundo, mas entendo que tamanha variedade de linguagens nos separou da noção do que nos é comum, então esta proposta salienta o estudo de nossas origens, sejam elas relacionadas a aspectos naturais, sociais ou subjetivos – os três eixos que organizam a exposição”, afirma. Intitulada sentido/comum, a mostra abarca desde brinquedos educativos das vanguardas históricas e obras da Escuela de Vallecas à presença de artistas contemporâneos. Dentre os participantes, encontram-se o filósofo e pedagogo Friedrich Fröbel (Alemanha, 1782-1852); Andrea Büttner (Alemanha, 1972); Mark Dion (EUA, 1961); e Rafael Sánchez-Mateos Paniagua (Espanha, 1979), que contribuiu também com a publicação educativa “Convite à atenção”.

 

Para sua exposição intitulada “O pássaro lento”, Claudia Fontes (Buenos Aires, Argentina, 1964) parte de uma metanarrativa: um livro fictício homônimo cujo conteúdo é desconhecido, salvo por alguns fragmentos e por seus vestígios materiais. Fontes e os artistas convidados apresentam trabalhos que ativam as aproximações entre artes visuais, literatura e tradução através de experiências que propõem uma temporalidade expandida. “A experiência de velocidade e lentidão são experiências políticas enraizadas no corpo. Ambas influenciam nossos entendimentos de espaço, distância e possibilidade.”, afirma Fontes. Em um processo curatorial horizontal e colaborativo, todos os participantes, à exceção de Roderick Hietbrink (Holanda, 1975), desenvolvem obras comissionadas para a ocasião: Ben Rivers (UK, 1972), Daniel Bozhkov (Bulgária, 1959), Elba Bairon (Bolívia, 1947), Katrín Sigurdardóttir (Islândia/EUA, 1967), Pablo Martín Ruiz (Argentina, 1964), Paola Sferco (Argentina, 1974), Sebastián Castagna (Argentina, 1965) e Žilvinas Landzbergas (Lituânia, 1979).

 

Para sua exposição,”Stargazer II [Mira-estrela II]”, Mamma Andersson (Luleå, Suécia, 1962) reúne um grupo de artistas que têm inspirado e nutrido sua produção como pintora. A seleção inclui uma ampla gama de referências, como ícones russos do século 15, os “outsiders” Henry Darger (EUA, 1892-1973) e Dick Bengtsson (Suécia, 1936-1989); e artistas contemporâneos como a cineasta Gunvor Nelson (Suécia, 1931) e o piloto de caça e artista sonoro Åke Hodell (Suécia, 1919-2000), entre outros. Em comum, todos os participantes compartilham o interesse pela figuração expressiva e pelo corpo humano. “Estou interessada em artistas que trabalham com a melancolia e a introspecção como um modo de vida e uma forma de sobrevivência”, afirma Andersson. A exposição inclui também uma quantidade significativa de pinturas de Andersson, estabelecendo um diálogo vibrante entre sua obra e suas inspirações artísticas.

 

A curadoria de Sofia Borges (Ribeirão Preto, Brasil, 1984), “A infinita história das coisas ou o fim da tragédia do um”, parte de interpretações filosóficas sobre a tragédia grega para mergulhar em uma colagem de referências mitológicas e investigar os limites da representação e da impossibilidade da linguagem enquanto instrumento de mediação do real. “Eu passei anos procurando, através da imagem, desvendar o estado de representação das coisas, até que entendi se tratar de uma questão sem solução, visto que ela é na verdade o problema do significado. A linguagem é em si trágica, porque ambígua, e não se pode usar uma matéria para falar de outra”, explica. Seu projeto expositivo se constrói a partir de um modelo curatorial misto em que a seleção de peças específicas é acompanhada por trabalhos comissionados. Uma das particularidades da proposta – que inclui obras de Jennifer Tee (Holanda, 1973), Leda Catunda (Brasil, 1961), Sarah Lucas (UK, 1962) e Tal Isaac Hadad (França, 1976), entre outros – é sua ativação por um programa de experimentações ao longo da duração da Bienal.

 

Waltercio Caldas (Rio de Janeiro, Brasil, 1946), que sempre considerou a história da arte como material de trabalho, projeta na curadoria “Os aparecimentos” obras de diversos artistas confrontadas com trabalhos de sua autoria. “Visto que a produção de um artista trata de inúmeras questões que variam ao longo do tempo, escolhi obras que desviam do que mais se conhece de cada um deles e se destacam por seu valor e especificidade. O resultado da relação entre as peças escolhidas passou a ser o principal interesse desta seleção”, explica. Caldas propõe uma reflexão sobre a poética, a natureza das formas e das ideias e suas implicações na atividade artística desde o final do século 19. “Procurei, através da tensão entre obras muito diversas, as surpresas esclarecedoras que resultam destes confrontos”, comenta. A partir de uma visão desafiadora do artista sobre sua própria obra e dos enfrentamentos muitas vezes inusitados – como entre trabalhos de Victor Hugo (França, 1802-1885), Jorge Oteiza (Espanha, 1908-2003) e Vicente do Rego Monteiro (Brasil, 1899-1970) – abrem-se novas possibilidades de leitura para a arte.

 

Para seu projeto expositivo intitulado “sempre, nunca”, composto exclusivamente por obras comissionadas,Wura-Natasha Ogunji (St. Louis, EUA, 1970) convidou as artistas Lhola Amira (África do Sul, 1984), Mame-Diarra Niang (França, 1982), Nicole Vlado (EUA, 1980), ruby onyinyechi amanze (Nigéria, 1982) e Youmna Chlala (Líbano, 1974) para criar, assim como ela, novos trabalhos em um processo curatorial colaborativo e horizontal. A produção dessas seis artistas “concilia aspectos íntimos (como corpo, memória e gesto) a épicos (arquitetura, história, nação)”, explica Ogunji. “Em diálogo aberto e contínuo, nossos projetos individuais abarcam práticas e linguagens distintas, que convergem em ideias e questões cruciais para a experimentação, a liberdade e o processo criativo”. O trabalho dessas artistas é afetado por suas histórias individuais e pelas complexas relações que mantêm com suas terras, nações e territórios. “Suas obras quebram as narrativas hegemônicas e abraçam interrupções como aberturas necessárias”, complementa a artista-curadora.

 

 

Os projetos individuais selecionados por Gabriel Pérez-Barreiro

 

Entre os doze projetos individuais escolhidos pelo curador, três deles são de artistas homenageados: Aníbal López (Cidade da Guatemala, Guatemala, 1964-2014), Feliciano Centurión (San Ignacio, Paraguai, 1962 – Buenos Aires, Argentina, 1996) e Lucia Nogueira (Goiânia, Brasil, 1950 – Londres, Reino Unido, 1998). “Eu queria artistas que fossem históricos, mas ao mesmo tempo não consagrados, ou seja, que esses núcleos não fossem apenas a reiteração de nomes que já conhecemos. Os artistas homenageados são pouco conhecidos na América Latina, mas são expoentes de sua geração, então trazê-los à Bienal é uma forma de resgatá-los do desaparecimento da história da arte e mostrá-los para as novas gerações”, diz Pérez-Barreiro. Para o curador, a realização dessas exposições também significa uma contribuição expressiva da Fundação Bienal na pesquisa, catalogação e recuperação desses acervos.

 

Aníbal López, também conhecido por A-1 53167, o número de sua cédula de identidade, foi um dos precursores da performance em seu país. Sua obra, que inclui vídeo, performance, live act e intervenções urbanas, entre outras formas de expressão, tem forte caráter político e se volta para questões de disputas entre fronteiras nacionais, culturas indígenas, abusos militares e até do mercado de arte. Registros em vídeo e fotografias de ações efêmeras, realizadas como forma de protesto à objetificação e fetichização da arte, compõem a mostra.

 

O universo queer é abordado com delicadeza por Feliciano Centurión, que deixou seu país natal, o Paraguai, para radicar-se na Argentina, onde se tornou expoente da chamada geração “Rojas” (primeiros artistas a expor na galeria do Centro Cultural Rector Ricardo Rojas, da Universidad de Buenos Aires) até ser vitimado por complicações decorrentes da AIDS, aos 34 anos. Centurión trabalhava primordialmente com tecidos e bordados, incorporando peças como lenços e crochês comprados em feirinhas portenhas. Descendente de uma família de bordadeiras, ele se apropria de práticas artesanais como linguagem artística para expressar elementos de sua história pessoal a partir de uma tradição familiar comum na cultura paraguaia.

 

Ainda pouco conhecida no Brasil, a goiana Lucia Nogueira é uma figura essencial para compreender a arte britânica do período e desenvolveu uma carreira internacionalmente reconhecida. Suas esculturas e instalações, foco da individual incluída na 33ª Bienal, subvertem o utilitarismo de objetos com um humor sutil, tanto pela associação inusitada entre elementos quanto pelo jogo semântico constantemente presente em seus títulos, criando uma atmosfera de estranheza e poesia.

 

Projetos individuais de outros nove artistas, dos quais oito foram especialmente comissionados, completam a seleção de Pérez-Barreiro. Do grupo, o único a exibir um trabalho histórico é Siron Franco (Goiás Velho, Brasil, 1950), com a série de pinturas Césio/Rua 57. Nela, Franco eterniza a impressão de horror e isolamento causada pelo acidente radioativo acontecido em 1987 no Bairro Popular, em Goiânia, com o elemento Césio 137. Nascido e criado naquele bairro, o artista retornou à sua cidade natal logo após o acidente, na contramão da população local, deixando definitivamente o eixo Rio-São Paulo. Seus registros da catástrofe ambiental marcaram uma guinada em sua carreira, antes de temática irônica, para o uso de alegorias com elementos simbólicos.

 

Os oito artistas com projetos comissionados têm em comum o desenvolvimento de trabalhos que não se encaixam numa estrutura temática. “São pesquisas complexas que funcionam individualmente e não precisam de um contexto adicional para que o espectador se relacione com os trabalhos”, explica Pérez-Barreiro.

 

O portenho Alejandro Corujeira (Buenos Aires, Argentina, 1961) possui uma concepção formal leve e fluida, que parece querer captar o movimento da natureza. Ele terá esculturas e pinturas apresentadas na mostra. Denise Milan (São Paulo, Brasil, 1954) cria esculturas e instalações com grandes pedras e cristais. Na 33ª Bienal, a artista exibirá novos trabalhos nesses formatos.

 

O cotidiano serve de inspiração às obras de Maria Laet (Rio de Janeiro, Brasil, 1982), que exibirá um novo vídeo na 33a Bienal, e de Vânia Mignone (Campinas, Brasil, 1967), que trará pinturas inéditas. Nelson Felix (Rio de Janeiro, Brasil, 1954), que em seu “trabalho formal parece materializar uma consciência planetária”, nas palavras de Pérez-Barreiro, mostrará uma nova instalação escultórica.

 

As pesquisas de Bruno Moreschi (Maringá, Brasil, 1982) e Luiza Crosman (Rio de Janeiro, Brasil, 1987) se relacionam com a corrente da crítica institucional e fogem de suportes artísticos tradicionais. “Com esses artistas teremos, dentro da exposição, um olhar crítico sobre como a arte funciona, é exibida e justificada”, afirma Pérez-Barreiro. Partindo de uma abordagem pessoal e poética, Tamar Guimarães (Viçosa, Brasil, 1967), que une uma abordagem crítica sobre as instituições a preocupações poéticas e narrativas, apresentará um novo vídeo.

 

33ª Bienal de São Paulo – “Afinidades afetivas” de 07 de setembro a 09 de dezembro.

Terças, quartas, sextas, domingos e dom e feriados: 9h – 19h (entrada até 18h).

Quintas, sábados: 9h – 22h (entrada até 21h)