José Bechara na Paulo Darzé Galeria

24/abr

 

A Paulo Darzé Galeria, Salvador, BA, inaugura exposição individual de pinturas de José Bechara, com o título “O Galaxie do amor para sempre”. Constituída basicamente de pinturas em acrílica e oxidação de ferro sobre lona usada de caminhão. A temporada de exibição da mostra permanecerá aberta ao público até o dia 27 de maio.

 

Pequena entrevista sobre a mostra:

1 – A pesquisa formal é um dos fundamentos essenciais e nela o questionamento do espaço, do tempo, da memória, tendo como suporte na pintura, a lona de caminhão, lona usada, que através de emulsões de cobre e de ferro promovem a sua oxidação, acrescida de tintas e pigmentos, e a experimentação com suportes e técnicas variadas, com domínio e risco, isto é, sem certezas, que marcam seu trabalho, continuam nesta mostra?

1 – De modo geral sim. mas já se vão 30 anos de produção e para essa exposição na galeria, escolhi reunir apenas pintura. A “coisa nova”, digamos, é a introdução de cores altas e por vezes luminosas, a ordenação de espaços que contam com uma grade mais cerrada e contrastes mais elevados. O conjunto também traz elementos circulares nascidos talvez da vontade de somar uma ideia de energia centrífuga, forças de expansão, talvez… poderia descrever seguindo o caminho fruto de pesquisas, se há algum material prevalente, formato e dimensões na execução das obras (quantas?) desta mostra? Não tenho o número preciso de pinturas na mostra porque isso dependerá das escolhas de montagem, mas podemos considerar cerca de 20 trabalhos. O uso da lona usada de caminhão permanece, acho que por conta de dramas permanentes, presentes no que chamamos de poética tais como a memória, a ação do tempo sobre todas as coisas, e minha vontade de elogiar as falhas, os defeitos que, tal como vejo, são parte da beleza da vida.

2 – Pode explicar o título, pois parece-me estar ligado a uma memória afetiva da adolescência. Se sim, o que o trouxe, ao criá-la, até esta lembrança ao executar as obras? Que carga emocional ela contém na sua execução, em seus significados e sua existência?

2 – O “Galaxie do amor para sempre”, título da exposição, é o título de um dos trabalhos da mostra. e surge por acidente: ao introduzir, por impulso uma cor metálica na tal pintura, me lembrei, sabe-se lá por  que,dos cromados de um carro que eu utilizava, um pouco clandestinamente, na adolescência… um Galaxie preto com muitos cromados, um carro muito grande, no qual, nos primeiros encontros, fui além dos beijos. O resto é fantasia e é para sempre.

3- Em conversa que tivemos, você afirmou: “Eu nunca trabalho com certezas, eu considero uma pintura ou uma

escultura pronta, mas aquilo poderia ter sido feito de outra maneira também. Eu escolhi aquele material, aquelas dimensões, aquela aparência geral, mas isso é uma possível manifestação de uma ideia. Mesmo que você dê como pronto, o trabalho tem sempre uma vibração de dúvidas”. Quais são as dúvidas que permanecem e as dúvidas novas após fazer esta série?

3 – São as mesmas, os tais dramas permanentes. Mas, neste momento, um tanto purificadas, inseparáveis de minha observação do mundo como, por exemplo, uma certa ambivalência entre a potência da vida e sua fragilidade perante o inesperado. A presença de coisas e pessoas através da memória e seus vestígios. A essa altura reconheço grandeza no erro, na falha, nas imperfeições e, nesse aspecto, penso, por exemplo, em Chaplin, naquele personagem que falha todo o tempo, ao mesmo tempo que carrega suas falhas de ternura, compaixão e humanidades.

 

Apresentação

A mostra “O Galaxie do amor para sempre”, de José Bechara, tem curadoria de Daniel Rangel, que no texto de apresentação afirma: “Após fazer as devidas oferendas, Ogum “deveria esperar a próxima chuva e encontrar um local onde houvesse ocorrido uma erosão. Ali devia pegar areia escura e fina e colocá-la no fogo… ao queimar aquela areia, ela se transformou na massa quente que se solidificou em ferro. O ferro era a mais dura substância que ele conhecia, mas era maleável quando estava quente. Ogum passou a modelar a massa quente. Ogum fabricou primeiro a tenaz, um alicate para tirar o ferro do fogo… Ogum passou a produzir toda espécie de objeto de ferro…”. As obras de José Bechara emanam a força de Ogum, orixá forjador, guerreiro, patrono da agricultura e protetor daqueles que viajam pelas estradas. Certamente, o artista não imaginou essa presença quando produziu os trabalhos. Suas referências, grande parte provindas das vanguardas, estão distantes das religiões, sobretudo de matrizes africanas. No entanto, Ogum esteve presente em seu processo de criação, e, ao aportar na Bahia, isso se tornou evidente. Bechara usa o ferro, o cobre e outros metais como pintura, se apropriando dos tons e efeitos obtidos no processo de oxidação como pigmento. Avermelhados, amarronzados, azulados e esverdeados são frequentes, inclusive nos suportes que utiliza – as lonas de caminhão. Essa presença da energia das rodovias é mais um elemento que coloca “Ogum no caminho” das obras, como um oculto coautor. O artista tem consciência do acaso em sua produção, incorporou o intangível como parte de sua práxis e poética. Uma operação alquímica, cujo desconhecido é administrado pela experiência que adquiriu e por uma operação sensitiva-científica controlada por ele. A experimentação se tornou regra, assim como o intercâmbio de saberes e fazeres. A busca por dogmas coletivos e por uma perfeição idílica deixou de ser preponderante, e o artista se sentiu livre para criar sua própria identidade. O trabalho de Bechara é um jogo de fruição infindável que retorna ao mesmo ponto que não se encontra nem no começo nem no final, e se torna cíclico na visão. O que temos diante dos olhos é mutável, uma obra viva que pulsa uma inquietação formal, presente também na personalidade do artista. A lona que cobriu é agora coberta; a oxidação se fundiu como pintura; traços e faixas que, ao mesmo tempo, delimitam e expandem o espaço planificado da tela. A possível perfeição geométrica, aparente nos grids e em outras obras da exposição, se encontra apenas na epiderme da percepção e logo se desfaz nos derretimentos orgânicos dos escorridos de tinta e nas falhas assumidas. Uma organicidade sutil presente em boa parte dos trabalhos, conformados por uma “geometria hesitante”, de quase-retas interrompidas pelo natural imperfeição do gestual humano. Existe aqui uma consciência aparente da impossibilidade de controle do resultado final, assumindo o percurso como tal. O caminho é o objetivo e não a chegada. Uma metodologia que absorve o tempo e o acaso como partes integrantes das obras. Desde a apropriação das lonas, que tiveram passados desconhecidos; até à espera das reações químicas, que dependem do clima; do sol; da chuva; da umidade; da temperatura; do tempo; de paciência; de sabedoria; de erros e acertos. A previsibilidade de um experimento é sempre relativa, e, na maioria das vezes, o descontrole precisa ser assumido. Em uma última interferência, o olho analisa o que precisa ser inserido ou apagado com o uso das tintas e cores. Além das escolhas, de materiais e reações, essa é a fase que Bechara tem o maior controle do resultado de sua ação. A obra seguirá, mesmo na parede e no espaço, se transformando pelo inexorável do tempo e das condições climáticas de onde esteja instalada. Entregue ao mundo pelo autor, vigiada pela mirada histórica da arte, e regida por Ogum, o orixá que nunca descansa. O artista também nunca descansa. Sua vida é um constante ato criativo em busca de soluções formais para resolver questões poéticas. “Um minuto e dezessete segundos”. Esse foi o menor tempo que Bechara levou entre a garagem de seu apartamento até a porta de seu ateliê, localizados em ruas vizinhas. Uma proximidade apaziguante para um artista intenso como ele, quando, no meio da noite, “encontra” o tom correto de uma cor que buscava para cobrir uma das muitas obras em que trabalha simultaneamente. “O Galaxie do amor para sempre” é sobre esse momento; de alívio; de gozo; de intensidade; de apaziguamento e entrega. De um jovem, cujos hormônios estavam explodindo, e finalmente teve sua primeira noite de amor a bordo de um Ford Galaxie, “emprestado” do pai de um amigo, no alto de um cartão postal. De um artista cuja maturidade, rigorosa e consistente, permite adicionar novas camadas ao seu próprio repertório, sem hesitar, renovando sua própria linguagem constantemente. A vida passa e “os passados” se perpetuam no presente, que é fruto do acúmulo dessas experiências vividas, como afirmou Walter Benjamin. Bom saber que Ogum sempre estará em nossos caminhos – nos protegendo, guiando e inspirando – mesmo que a gente não saiba. Ogum Yê! Patakori Ogum!”.

 

Trajetória da Pintura

Tendo no início de sua carreira uma obra predominantemente de pintura, na sua trajetória passa a desenvolver uma linguagem poética, incluindo esculturas e instalações, além dos desenhos, e realizando em algumas obras um diálogo mais direto com a arquitetura, é preciso saber de antemão que irão ver trabalhos onde a pesquisa formal é um dos fundamentos essenciais para a existência deles, tanto quanto o questionamento do espaço, do tempo, da memória, tendo como suporte na pintura a lona de caminhão, a lona usada, que através de emulsões de cobre e de ferro promovem a sua oxidação, acrescida de tintas e pigmentos, permitindo criar um trabalho de muita liberdade e de inegável beleza. A história da pintura de José Bechara, que começa figurativo, é modificada em seu percurso após um problema de saúde, ter contraído uma hepatite A, que mesmo depois de recuperado, como consequência, o impedia de trabalhar com tinta, fosse acrílica ou óleo. Neste momento é que descobre como suporte a lona de caminhão. “Num posto de gasolina, vendo um cara lavar uma lona de caminhão, paguei para que ele parasse o serviço, o que me permitia olhar e perceber a diferença, a quantidade, daquilo que mais tarde, iria chamar de “ocorrências visuais”. A parte molhada estava mais homogênea porque havia um filtro entre a luz direta e a superfície da lona, que era a água. Ela tornava a superfície mais escura e mais homogênea, diminuía o grau de contraste entre as marcas que a lona recebia de cordas e outras coisas. A lona, propriamente, adquire com o tempo uma cor cinza, chumbo, oferecendo marcas mais claras. Era como uma pintura em uma tela de 11 x 8m. Precisava pensar muito rápido, pois o cara queria continuar lavando. Novamente, como a mesa na janela, havia alguma coisa ali que não sabia o que era. Mas havia alguma coisa… Uma pintura ao contrário, que começava pelo fim”. Com uma incessante capacidade de visualidade para o espectador, ao promover o estímulo e a reação, processo que recupera em cada um de nós, que se a arte existe para conhecimento ou entretenimento, como querem alguns, ela também é tensão, conflito, questionamento, indagação e, essencialmente, pergunta. Jamais resposta. Arte é descoberta. É invenção. A criação da obra de José Bechara é um dos sinais mais evidentes de estarmos diante de todo o construir de um pensamento que se torna ação ou ações, por um fazer técnico, estético e emocional, existencial, e deles termos uma alteração de estrutura, e é isto, creio, que o coloca como um dos nomes mais consagrados pela crítica e pelo público na arte brasileira hoje.

 

Sobre o artista

José Bechara nasceu no Rio de Janeiro em 1957, onde trabalha e reside. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), localizada na mesma cidade. Participou da 25ª Bienal Internacional de São Paulo; 29º Panorama da Arte Brasileira; 5ª Bienal Internacional do MERCOSUL; Trienal de Arquitectura de Lisboa de 2011; 1ª Bienalsur – Buenos Aires; 7ª Bienal de Arte Internacional de Beijing; Anozero’19 – 3ª Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra; Bienalsur 2019; Museu Nacional de Riad, Arábia Saudita e das mostras “Caminhos do Contemporâneo” e “Os 90″ no Paço Imperial-RJ. Realizou exposições individuais e coletivas em instituições como MAM Rio de Janeiro-BR; Culturgest-PT; Ludwig Museum (Koblenz)-DE; Instituto Figueiredo Ferraz-BR; Fundação Iberê Camargo-BR; Fundação Calouste Gulbenkian-PT; MEIAC-ES; Instituto Valenciano de Arte Moderna-ES; Fundação Biblioteca Nacional-BR; MAC Paraná-BR; MAM Bahia-BR; MAC Niterói-BR; Instituto Tomie Ohtake-BR; Museu Vale-BR; Haus der Kilturen der Welt-DE; Ludwig Forum Für Intl Kunst-DER; Museu Brasileiro da Escultura (MuBE)-BR; Gropius Bau-DE; Centro Cultural São Paulo-BR; ASU Art Museum-USA; Museo Patio Herreriano (Museo de Arte Contemporáneo Español)-ES; MARCO de Vigo-ES; Es Baluard Museu d’Art Modern i Contemporani de Palma-ES; Carpe Diem Arte e Pesquisa-PT; CAAA-PT; Musee Bozar-BE; Museu Casa das Onze Janelas-BR; Casa de Vidro/Instituto Lina Bo e P.M. Bardi-BR; Museu Oscar Niemeyer-BR; Für Intl Kunst-DER-BR; Centro de Arte Contemporáneo de Málaga (CAC Málaga) – ES; Museu Casal Solleric-ES; Fundação Eva Klabin-BR; entre outras. Possui obras integrando coleções públicas e privadas, a exemplo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro-BR; Centre Pompidou-FR; Pinacoteca do Estado de São Paulo-BR; Ludwig Museum (Koblenz)-DE; ASU Art Museum-USA; Museu Oscar Niemeyer-MON-BR; Es Baluard Museu d’Art Modern i Contemporani de Palma-ES; Universidade de Coimbra – CAPC, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra-PT; Coleção Gilberto Chateaubriand-BR; Fundação Biblioteca Nacional-BR; Coleção Ateliê de Gravura da Fundação Iberê Camargo- BR; Coleção Dulce e João Carlos Figueiredo Ferraz/Instituto Figueiredo Ferraz-BR; Coleção João Sattamini/MAC Niterói-BR; Instituto Itaú Cultural-BR; MAM Bahia-BR; MAC Paraná-BR; Culturgest-PT; Benetton Foundation-IT/CAC Málaga-ES; MOLA-USA; Ella Fontanal Cisneros-USA; Universidade Cândido Mendes-BR; MARCO de Vigo-ES; Brasilea Stiftung-CH; Fundo BGA-BR, entre outras. Sua última exposição na Bahia foi na Paulo Darzé Galeria, em 2014, e tinha por título “José Bechara: Coração, seu tempo e a persistência da razão”.

 

 

Sobre Lia D Castro

20/abr

 

Arte para Lia D Castro é prática e técnica, ela ressaltou, a todo momento, em sua conversa aqui compilada na arte!brasileiros. Em suas criações, trabalha com óleo sobre tela, xilogravura, carvão vegetal, giz pastel seco, caneta e até esparadrapo. Arte, para Lia, também é processo. Na exposição “A cumplicidade refletida”, que a Galeria Jaqueline Martins apresentou – e que em breve segue para a sua filial em Bruxelas (Bélgica) – a artista mostrou pinturas e fotografias feitas ao longo de sete anos, em programas de sexo pago, com homens cisgêneros, heterossexuais, pretos e brancos, com idades de 18 a 25 anos. Nesses encontros, a artista discutia transfobia e racismo, a partir da leitura de autores como Angela Davis, Chinua Achebe, Achille Mbembe, Toni Morrison e Lélia Gonzalez, entre outros. Transexual, negra, Lia lançou mão da prostituição como “ferramenta de diálogo”.

 

Sobre a artista

Nascida em 1978, em Martinópolis (SP), Lia morou até os 20 anos em fazendas, no interior de São Paulo e de outros estados, porque seu pai trabalhava como agrônomo autodidata, segundo ela. Lia trabalhava na roça, ordenhava vacas, concluiu o segundo grau. Em 2010, uma amiga a convidou para morar em São Paulo. Estava abrindo uma loja de artesanato e um ateliê, onde Lia passaria a dar aulas. À época, a artista já usava tela e tinta a óleo. Sempre desenhou e pintou, inspirada nas próprias atividades manuais e artesanais de seus pais. Estimulada a prosseguir seus estudos, desta vez no ensino superior, Lia fez o curso de artes visuais no Centro Universitário Ítalo Brasileiro, onde afirma ter se dado conta de como uma faculdade promove o “embranquecimento intelectual”. Lia queixa-se que os professores citavam predominantemente artistas europeus e que, quando mencionavam os brasileiros, restringiam-se à Semana de 22. Formou-se quase aos 35, em 2016. Fez estágios na área educativa do Sesc e na 30ª Bienal de São Paulo, com curadoria de Luis Pérez Oramas. Lá, refletiu como seria possível deixar um lugar, com 4 mil obras, o menos opressivo possível para o público, dentro de uma construção, por sua vez, monumental.

 

 

Adriana Coppio em Salvador

19/abr

 

A Alban Galeria, Salvador, BA, anuncia a exposição “Mãe da Lua” de Adriana Coppio, primeira individual da artista na galeria. Esta é também a primeira mostra da artista paulista (nascida em Taubaté, em 1978), na Bahia. “Mãe da Lua”, título que dá nome a uma das telas do conjunto, reúne cerca de 30 obras da artista, entre pinturas e desenhos, evidenciando o aprofundamento de repertório estético e temático de Adriana Coppio, ao longo de uma trajetória artística de mais de duas décadas de produção. A mostra será aberta no dia 27 de abril, permanecendo em cartaz até 27 de maio.

Parte de uma geração de artistas concentrada em São Paulo, nas décadas de 1990 e no início dos anos 2000, Adriana Coppio sempre chamou atenção para seu trabalho pelo fato de que, na contramão de seus parceiros e colegas de geração, a artista fincou seu interesse pela pintura figurativa desde o início de sua trajetória até os dias atuais, ao passo em que as questões ligadas ao cenário da arte de então pareciam pender para a pintura abstrata e, mais além, para obras conceituais, performáticas e afins.

A opção de Adriana Coppio por uma pintura figurativa, no entanto, em nada diminui a radicalidade com que a artista assume tal escolha. À primeira vista, é natural que o espectador se coloque diante de uma de suas pinturas e seja tomado por certo torpor ou desconcerto diante das paisagens, personagens e lugares criados pela artista. Desde o início de sua produção artística, Adriana Coppio nos apresenta e conduz até um Brasil – e para além dele -que nos remete o cânone de nossa pintura moderna, por exemplo.

 

Figuras híbridas

Suas paisagens e espaços (rurais e domésticos) frequentemente são habitados por figuras híbridas (entre humanos, objetos inanimados que parecem dotados de vida, como bonecas antigas e, ainda, outros seres não passíveis de classificação imediata, veloz). Se a modernidade foi responsável por nos agraciar com produções de geniais artistas como Guignard, Di Cavalcanti, Maria Martins – dentre tantos outros e outras figuras incontornáveis – Adriana Coppio traça uma implacável busca por céus de tons cáusticos, imprecisos entre habitarem a noite ou o dia. Se, lá atrás, a luminosidade dos trópicos serviu de motivo para pinturas e obras diversas de nomes variados, na obra de Adriana Coppio vemos um Brasil na via oposta da representação arquetípica e saturada com que fomos atravessados até aqui.  Nas palavras do curador José Augusto Ribeiro, que escreve um ensaio crítico que acompanha a exposição: “A começar por uma luminosidade fluorescente, artificial e quase radioativa que invade o espaço das telas, vinda detrás das figurações, intrometendo-se aos poucos, pelas frestas, entre os motivos da pintura, até chegar, às vezes sólida, chapada, ao primeiríssimo plano (…). Essa luz psicodélica que trespassa as imagens de Coppio sucede do modo como a artista prepara suas telas para a realização do trabalho, por meio de um preenchimento homogêneo do “fundo”, que sela a trama do tecido, com tinta acrílica nas cores amarelo, verde ou rosa.”

A partir das palavras de José Augusto Ribeiro, podemos destacar também o processo pictórico da artista, cujas telas são realizadas com tinta acrílica, notadamente um material menos maleável e que permite poucas (ou quase nenhuma) negociação entre o artista e sua obra, durante o ato da pintura. Pigmento de secagem veloz, a tinta acrílica aparece aqui, nas pinturas de Adriana Coppio, com impressionantes cargas de fluidez, a deslizar pela tela em pinceladas vastas, típicas de quem emprega em suas telas, ao contrário, a tinta a óleo. Tal virtuosidade chama atenção nas obras da artista, ainda que esta seja apenas um aspecto de sua singular e amplamente reconhecida produção visual.

 

Referências cinematográficas

Impressionam também suas referências que, advindas de naturezas distintas, conjugam universos diversos no plano da tela. Do cinema de David Lynch aos livros de folclore brasileiro, de sua vivência no campo desde o início de sua vida até o misticismo de obras literárias como “O Livro Vermelho”, do suíço Carl Jung, pai da psicologia analítica. Deste modo, Adriana Coppio nos convida a percorrer sua exposição como se estivéssemos a assistir a um filme, frame a frame (ou quadro a quadro), ainda que fuja da ideia de uma narrativa fechada ou hermética.

“Quando vou começar um trabalho tenho que me concentrar muito, me fechando no ateliê e acessando o que me faz querer ser artista, que é o material que engloba todo o meu repertório de interesses encontrado até hoje. Como ponto de partida, utilizo imagens oriundas de materiais que me interessam e que servem como uma ponte ou ferramenta para o que se encontra na minha mente. Podem ser fotografias variadas, da minha família, ou outras que eu mesma fiz para capturar algo que me surpreendeu e instigou em determinado momento e quis levar comigo de alguma forma, assim como emprego referências de filmes ou ilustrações de livros que me são preciosos e inspiradores, alguns desde a infância. Em suma, faço um grande quebra cabeças de imagens, passo a observá-las e investigá-las incessantemente, de modo a vê-las todas juntas e construir uma espécie de colagem mental que já é, em si, o início do processo de construção das pinturas”, afirma a artista.

 

Boneca de papel no Paço Imperial

18/abr

 

A exposição individual de Maria Fernanda Lucena permanecerá exposta no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ,  até 20 de maio, quando a artista apresenta “Boneca de papel”, sua nova série de trabalhos. As obras exibidas começaram a ser pensadas através de práticas comuns à artista, o recorte e a colagem, fazeres que ela considera lúdicos por rememorarem modos de brincar, além de gestos costumeiros ao universo da moda, um dos pilares da sua produção. Frequentadora da feira de antiguidades da Praça XV, no Centro do Rio de Janeiro, garimpa fotografias 3×4 e, partindo delas, elabora imagens sobrepostas. Sutura os rostos desconhecidos com figurinos de artistas da cultura pop e de suas referências musicais.

As pinturas de tinta a óleo sobre papelão são sustentadas por molduras em escala humana, medindo 1,80 metros de altura. O ornamento de madeira, que geralmente delimita, se transforma em parte integrante dos trabalhos, utilizado como um anteparo que divide e compartimenta, mas também possibilita frestas, além de impulsionar a construção de ambientes vazios e ecos, em uma narrativa labiríntica.

“Lucena cria um jogo de identidades. Há em suas pinturas humor e uma certa nostalgia, fruto das memórias que escolheu revolver. Suas figuras ganham corpo no modo que criou para exibi-las, são passantes, mas nos entregam algo”, ressalta Bruna Araújo, que responde pela curadoria da exibição.

 

Sobre a artista

Maria Fernanda Lucena nasceu em 1968 no Rio de Janeiro. Depois de estudar e trabalhar com indumentária e design de moda, ingressou na EAV- Parque Lage – frequentando diversos cursos onde passa a se dedicar ao desenho e à pintura. Suas exposições individuais foram curadas por Efrain Almeida, na C. galeria, e na galeria Sem título, e por Cesar Kiraly “A intimidade é uma escolha”, na galeria de Arte Ibeu, em 2017, no ano anterior foi vencedora do prêmio “Novíssimos”. Em projetos coletivos expôs a convite dos curadores Brígida Baltar, Isabel Portella e Marcelo Campos. Integra coleções particulares e o acervo do Mar – Museu de Arte do Rio.

 

O atelier de Santo

 

No dia 22 de abril, sábado, o artista paulistano Santo abre sua primeira exposição-solo no Rio de Janeiro. Será no Parque das Ruínas, Santa Teresa. Ocupação com mais de 60 obras tem curadoria de Denise Terra e reproduz o atelier do artista, com visitação até 21 de maio.

“Toda vez que eu me coloco entre o pincel e a tela, uma força me toma. Te convido a ser junto. Te encontro no topo. Das ruínas. De Nós”.

Com esta declaração-manifesto de Santo, já é possível conceber a energia que permeia a exibição que leva seu próprio nome. Com a intenção de transportar o público para dentro de seu atelier, serão reproduzidos alguns de seus processos criativos – dos materiais aos “astrais”. A exposição faz um recorte da fase artística inicial à atual, e divide-se em duas partes: galeria e ruínas. Na galeria, o público terá acesso ao espaço vivido em um atelier, com obras concentradas em uma parede de 14 metros, todas sem molduras. Já as ruínas propõem um diálogo silencioso com a alma do artista. As obras e o espaço se entrelaçam,formando um ambiente imersivo. As pinturas possuem dimensões que vão de 70 centímetros a 10 metros de altura. Duas delas, as de maiores proporções, foram criadas ao vivo em performance realizada dentro da própria instituição, especialmente para esta ocasião. Somente uma obra terá moldura, customizada pela Metara.

Certa vez, SANTO chegou a dizer que a Arte representa o lugar mais legítimo e sem limites de ser o divino-humano nesse plano. E assim será nesta mostra. “Quando entrei no Parque, me arrepiei. Soube desde então que ocupar a galeria e as paredes das ruínas, com tudo de mim, seria de fato o maior, mais exigente e mais belo desafio até aqui”, afirma.

A curadoria assinada por Denise Terra, responsável por parte de seu escritório independente de arte e também agente dos projetos e trabalhos do artista. “Santo expressa força e provoca ativação do sentir de forma não linear: quebra regras, desconforta e transgride a razão. A exibição propõe uma autorização de ser, viver e se expressar a partir do livre e desconhecido de cada um”, diz.

 

Sobre o artista

Autodidata, Santo nasceu e vive em São Paulo. Santo pintou sua primeira tela em 28 de maio de 2018 e, desde então, ganhou espaço em grandes coleções particulares no Brasil e no exterior, além de metaverso (nfts). Suas obras não se prendem a métodos, formas, molduras, plataformas. Muito pelo contrário. Do papel á madeira, tecido, lona, papelão e materiais de descarte, foram produzidas mais de 600 pinturas até hoje. Elas desvelam figuras fortes em traços livres e combinações improváveis de cores, que provocam a sensação de estar diante de algo que escapa à razão. Como uma afronta, uma transgressão. Um convite ao coração.

 

Sobre a curadoria

Denise Terra se formou como artista visual na EAV/Parque Lage, onde foi aluna de grandes artistas, e na Scholl of Art, Londres. Iniciou sua carreira como escultora logo em seguida, se debruçando sobre a pintura. Convidada por campanhas publicitárias internacionais, dedicou-se, durante 10 anos, junto com a pintura, à direção de arte e também como colorista. Atualmente além de realizar trabalhos autorais, é cofundadora do escritório de arte Santo, onde é agente do artista Santo e responsável pela gestão de projetos e da carreira do artista.

 

 

Exibição temática no Inhotim

17/abr

 

A titulação extensa “Quilombo: vida, problemas e aspirações do negro”, refere-se a exposição, em cartaz na Galeria Lago, Inhotim, MG. Dividida em cinco núcleos (Novo poder: reformulando uma vanguarda; Vidas públicas; Vida e aspirações do negro; Elas Falam; e Reescrita da história: construção e afirmação da identidade), que estabelecem um diálogo com temas como questões de representação e identidade da figura do negro na sociedade de época passada, e os relaciona à produção contemporânea de artistas brasileiras e brasileiros.

A mostra traz obras de cerca de 30 artistas e coletivos: Aline Motta, Ana Elisa Gonçalves, Antonio Obá, Arjan Martins, Desali, Elian Almeida, Erica Malunguinho, Eustáquio Neves, Gustavo Nazareno, Januário Gárcia, Juliana dos Santos, Kika Carvalho, Larissa de Souza, Lita Cerqueira, Moisés Patrício, Mulambö, Nacional Trovoa, No Martins, O Bastardo, Panmela Castro, Paulo Nazareth, Pedro Neves, Peter de Brito, Rafael Bqueer, Robinho Santana, Ros4 Luz, Rosana Paulino, Sidney Amaral, Silvana Mendes, Tiago Sant’Ana, Wallace Pato, Yhuri Cruz, Zéh Palito.

Até 16 de julho.

 

7 artistas no MON

 

Vale registrar que a exposição “Carne Viva – Ambiguidade da Forma”, realizada pelo Museu Oscar Niemeyer (MON), Curitiba, PR, reuniu o trabalho de sete artistas: Washington Silvera, Hugo Mendes, Eliane Prolik, Cleverson Salvaro, Cleverson Oliveira, Cíntia Ribas e Carina Weidle. Com curadoria de Bruno Marcelino e Jhon Voese, a mostra contou com 55 obras, além de textos poéticos de Arthur do Carmo, e poderá ser vista até 16 de abril na Sala 7.

“Temos aqui um feliz encontro de gerações de artistas paranaenses que têm forte ligação com o MON”, diz a diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer, Juliana Vosnika. “Cada um a seu modo, estes artistas transformam a matéria e produzem uma realidade diferente do que vemos no cotidiano. Usando os mais diversos materiais – desde os mais brutos como o concreto até os mais refinados como a laca polida, ou da cerâmica vitrificada até a imbuia esculpida -, fazem com que a forma, em seu sentido mais amplo, seja seu discurso”, comenta.

Segundo os curadores, a exposição oferece a oportunidade de revisitar a expressão “natureza da arte” e retomar sua pertinência. “Em vez de classificar os trabalhos mediante suas propriedades formais, ela descreve sensibilizações e reflexões possíveis, mas que escapam às determinações corriqueiras”, dizem. “Talvez seja esse o efeito da forma ambígua, cujo ânimo também percorre as palavras de Arthur do Carmo.”

Quatro gerações de artistas estão reunidas na mostra. A proposta é aproximar o público e demonstrar na prática a potência estética e política de cada discurso, que pode ser sutil ou mais explícita, mas está presente em cada obra. O visitante percebe que a maioria dos trabalhos é tridimensional, o que evidencia a intenção de permitir um diálogo da exposição com o espaço físico do museu. A mostra ocupou quatro ambientes, além da “antessala”, onde é apresentada uma instalação sonora assinada pelos artistas Eliane Prolik e Cleverson Salvaro.

 

As abstrações de John Nicholson

13/abr

 

A exposição “On the Wind” abre na Galeria Patrícia Costa no dia 19 de abril. Nesta exposição, John Nicholson mostra obras recentes e inéditas sob curadoria de Vanda Klabin.

Na fase atual revelada em “On the Wind”, individual que ocupa a Galeria Patrícia Costa, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, até meados de maio, o artista afirma que “simplificar algo que não é nada simples”, deixando de lado, por ora, o elemento figurativo e as cenas do cotidiano já tanto retratados em sua longa trajetória, retomando o estilo abstrato e as formas geométricas, permeados pelo movimento de pinceladas fluidas. A historiadora e curadora Vanda Klabin selecionou, entre diversos trabalhos desta produção recente (2020 a 2023), cerca de 13 pinturas em tinta acrílica de cores vibrantes sobre telas de grandes formatos, dípticos e trípticos, medindo até 3 metros, além de pequenas aquarelas. Expostas pela primeira vez ao público, as obras ostentam nomes criativos, alguns extraídos de letras de jazz, gênero musical que por vezes embala a criação no ateliê: “On the Summer Wind”, “Doing Day for Night”, “Ventos Leves Chegando do Oeste” e “The Endless Summer Ends as the Autumn Breeze Begins”. Por força do acaso, a exposição abre em pleno outono, no dia 19 de abril, permanecendo em exibição até 13 de maio.

 

A palavra da curadora

“John Nicholson exerce uma intensa disciplina no seu ateliê em Copacabana, RJ. O exercício livre da pintura é o seu principal veículo expressivo. A presença primordial de vibrantes combinações de planos de cromáticos preludiam a construção de seus trabalhos e de sua poética tonal. É em torno das questões no campo da pintura, tomada como fio condutor do seu trabalho, que John Nicholson sinaliza os novos discursos da sua experiência estética. As telas em grandes formatos estão presentes em seus atuais trabalhos e, por vezes, os dípticos são realizados em momentos diferenciados, trazendo um repertório particularizado e sua própria visão da linguagem artística. As pinceladas coloridas provocam oposições espaciais, que configuram relações prováveis, mas não necessárias. Sua ordenação espacial é permutável, as pinceladas flutuam pela superfície da tela e não estão submetidas a nenhuma gravidade, beneficiadas pela emergência de seus diversos procedimentos artísticos. A distribuição irregular de ritmo e cores se diluem, ao mesmo tempo em que aparecem. Extensos planos de cores, que muitas vezes escoam, perdem a sua massa corpórea ou flutuam no perímetro da tela, aqui são chamadas a depor sobre o território sensível da pintura e sua contemporânea vitalidade”, diz Vanda Klabin.

 

 Sobre o artista

 

John Nicholson está radicado no Brasil desde 1977, artista norte-americano, John Nicholson veio para o Rio de Janeiro, aos 26 anos, depois de se graduar na Universidade de Houston e na Universidade do Texas em Austin. Iniciou a carreira como professor de pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage em 1980, ano em que participa de diversas mostras coletivas no Rio de Janeiro e produz, em conjunto com Luiz Aquila e Claudio Kuperman, a “Grande Tela”, gigantesco painel que representa um claro manifesto de afirmação da pintura. No Parque Lage, teve como alunos alguns artistas ilustres, como Cristina Canale, Adriana Varejão e Daniel Senise.

 

Sobre a curadora

Vanda Klabin é cientista social, historiadora de arte e curadora de artes plásticas. Trabalha como consultora e curadora independente para diversos museus, instituições e editoras. Foi editora de várias revistas e catálogos de arte e colabora com textos diversos e realiza entrevistas com artistas contemporâneos. Vive e trabalha no Rio de Janeiro.

 

 

Vânia Mignone no Instituto Tomie Ohatake

 

 

Um grande mural dedicado à tragédia yanomami recebe o público que poderá visitar mais de cem obras nos múltiplos suportes constituintes da trajetória da artista. Na esteira dos projetos que o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, tem realizado nos últimos anos para abrir novas investigações acerca da representatividade e da importância de artistas mulheres, o espaço paulistano traz agora a exposição “De tudo se faz canção” que, com curadoria de Priscyla Gomes, observa em retrospectiva a trajetória de Vânia Mignone, permanecendo em cartaz até 04 de junho.

Com um amplo panorama, a exposição, com mais de uma centena de obras, resgata os percursos da artista nos mais diversos formatos: desenhos, colagens, ilustrações para obras literárias, capas de discos, gravuras e pinturas. O conjunto reunido chama atenção pela vivacidade das cores, pela expressividade de figuras em grande dimensão, além da diversidade de suportes e técnicas que aparecerem conjugados, mostrando um vasto universo de experimentação, em que referências da propaganda, do design, do cinema, das histórias em quadrinhos e da música convivem com trabalhos em escalas distintas. Segundo Priscyla Gomes, “As narrativas exploradas por Vânia destacam-se pelo modo como ela articula desde questões prosaicas até aspectos latentes da cultura e da política brasileiras”.

A mostra empresta seu título de um verso da música Clube da Esquina nº 2, de Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges, composta para o álbum homônimo de 1972. A partir das conversas entre a curadora e a artista, a proposta foi resgatar a importância da MPB no processo criativo de Vânia. A artista paulista faz recorrente alusão ao seu anseio de fazer de sua pintura canção, contagiando aquele que a observa. “Vânia construiu para si uma estrada, incorporando a música popular brasileira ao seu processo criativo cotidiano de ateliê”, destaca a curadora do Instituto Tomie Ohtake.

Priscyla Gomes enfatiza a síntese sinérgica que constitui o repertório da artista, marcado por letreiros de outdoors e pela xilogravura. “Seu vasto léxico remete-se ainda à qualidade de incorporar elementos fundamentais dessas referências, dentre eles, a coesa relação entre imagem e palavra”.

O mural em grande escala e cores vibrantes dedicado ao recente episódio da tragédia humanitária yanomami, prossegue a curadora, não nos deixa esquecer que fazer canção é também refletir sobre o silêncio e suas consequências, sobre como narrar o desmedido e o intragável. “Em meio a tantos gases lacrimogênios, os trabalhos de distintas épocas dessa retrospectiva nos convidam a fabularmos, criando nossa própria canção, uma viagem de ventania pelas estradas por Vânia trilhadas até aqui”, completa.

 

Sobre a artista

Vânia Mignone, 1967, Campinas. Vive e trabalha em Campinas. É Bacharel em Publicidade e Propaganda pela PUC-Campinas e Bacharel em Educação Artística pela UNICAMP. Entre suas exposições individuais destacam-se: Ecos, Museu de Artes Visuais da UNICAMP, Campinas (2019); Eu poderia ficar quieta mas não vou, SESC, Presidente Prudente (2017); Casa Daros, Rio de Janeiro; Cenários, Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo (2014). Participou de diversas exposições coletivas como: Por um sopro de fúria e esperança, Mube, São Paulo (2021); Crônicas Cariocas para Adiar o Fim do Mundo, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (2021); Língua Solta, Museu da Língua Portuguesa, São Paulo (2021); 1981/2021: Arte Contemporânea Brasileira na Coleção Andrea e José Olympio Pereira, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2021); Mulheres na Coleção do MAR, Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro; Mínimo, Múltiplo, Comum, Pinacoteca, São Paulo; 33ª Bienal de São Paulo – Afinidades Afetivas, Fundação Bienal, São Paulo (2018).

 

 

Charles Lessa no Instituto Ling

 

O Instituto Ling recebe o artista visual cearense Charles Lessa para realizar uma intervenção artística em uma das paredes do centro cultural. De 10 a 14 de abril o público poderá acompanhar gratuitamente a criação da nova obra, observando as escolhas, os gestos e os movimentos do artista. Após a finalização, o trabalho ficará exposto para visitação até o dia 03 de junho, com entrada franca.

A atividade faz parte do projeto LING apresenta, que este ano conta com a curadoria de Bitu Cassundé, pesquisador e atual Gerente de Patrimônio e Memória do Centro Cultural do Cariri (Crato/CE). Após a finalização do trabalho, Lessa comentará a experiência e o resultado em bate-papo com o público e o curador no sábado, 15 de abril, às 11h, em frente à obra. Faça sua inscrição sem custo.

 

 Beiradas – a margem como centro

A ideia, ou imagem, do que entendemos sobre o Nordeste brasileiro se configura, em muito, pelo olhar do outro, pelo engessamento clichê, preconceituoso, racista, que alimenta narrativas ultrapassadas e solidifica um imaginário colonizado. Mas são muitos os “Nordestes” que se reinventam e se firmam como possibilidades de reconstrução, afinação e reorganização dessas centralidades. Pensar o centro hoje é, principalmente, subverter a ordem e observá-lo a partir das beiradas. Dentro de um mesmo território ecoam diferentes posições, contraposições e reposicionamentos; o corpo, como um agente importante dessas transformações, reorganiza diferentes paisagens por meio dos deslocamentos, das diásporas internas e do desejo. A dialética entre o Corpo e o Território também é atravessada por questões políticas, sociais e culturais, que, a partir do lugar da subjetivação, reorganizam, fabulam e ficcionalizam outras composições desse mesmo território. As beiras, as margens, as bordas, as extremidades se reconfiguram como importantes centros, que elaboram novas perspectivas sobre o Nordeste brasileiro – outras paisagens, outras maneiras de observar um mesmo ponto, de acessar as memórias, a ancestralidade e os mestres e mestras da cultura popular. Estão também na linguagem e na oralidade importantes mecanismos de ativação desses distintos territórios. A curadoria desta edição evidencia um recorte de artistas que possuem a margem como centro, seja numa perspectiva geográfica ou poética.

Bitu Cassundé

 

Sobre o curador

Bitu Cassundé nasceu em Várzea Alegre, CE, 1974. É Gerente de Patrimônio e Memória do Centro Cultural do Cariri (Crato, CE), foi curador do Museu de Arte Contemporânea do Ceará de 2013 a 2020 e coordenou o Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema da Artes de 2013 a 2018. Também integrou a equipe curatorial do projeto À Nordeste, no SESC 24 de Maio, em São Paulo (2019), juntamente com Clarissa Diniz e Marcelo Campos; participou da equipe curatorial do Programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural de São Paulo (2008 a 2010); e dirigiu o Museu Murillo La Greca, em Recife (2009 a 2011). Em 2015, participou da 5ª edição do Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça, da equipe curatorial do 19º Festival Videobrasil e do Projeto Arte Pará. Com Clarissa Diniz, formou a coleção contemporânea do Centro Cultural Banco do Nordeste, vinculado ao projeto Metrô de Superfície. Em 2022, foi curador da exposição Antonio Bandeira: Amar se Aprende Amando, na Pinacoteca do Estado do Ceará. Suas últimas pesquisas se dedicam a investigar as relações de trânsito entre as regiões Norte e Nordeste do Brasil, com ênfase nos ciclos econômicos, nos fluxos migratórios e nas conexões entre vida, desejo e arte. Questões relacionadas à subjetividade, confissão, intimidade e biografia também integram suas pesquisas. Atualmente, desenvolve pesquisa de doutorado em Artes na UFPA e vive entre Crato e Belém.

 

Sobre o artista

Charles Lessa nasceu em Crato, CE, 1993. É artista visual licenciado pela Universidade Regional do Cariri – URCA, desenvolve trabalhos em pintura, com desdobramentos na arte urbana, e escultura. Cria ficções com a pintura figurativa, na qual investiga a estética popular em diálogo com a arte contemporânea. Participou de exposições individuais e coletivas, como Que na próxima existência se houver eu nasça girafa, no CCBNB, em Cariri (2019), e Viagem à aurora de um novo mundo, na galeria b_arco, em São Paulo (2020), e no 72º Salão de Abril, em Fortaleza (2021). Também participou de edições do Concreto – Festival Internacional de Arte Urbana e foi artista pesquisador no Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema das Artes em 2021. Foi indicado ao Prêmio Pipa 2022. Vive e trabalha em Crato, no Cariri (Ceará).

Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério da Cultura / Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens.