Segredos e enigmas de Lize Bartelli

21/out

A Simões de Assis, Jardins, São Paulo, SP, apresenta a mostra “Skeleton Closet”, primeira individual de Lize Bartelli em seu espaço paulista. A série “Skeleton Closet” é um vislumbre da construção de um mundo que mistura imaginação e realidade, propondo criações figurativas, mas não necessariamente realistas. A artista convida amigas e familiares a posar para retratos absolutamente íntimos, geralmente solitários, em ambientes particulares e interiores domésticos. Ocasionalmente, um gato ou uma criança acompanham as modelos, carregando as cenas de um simbolismo misterioso. Lançando mão de cores não-naturalistas, as peles das figuras são esverdeadas e azuladas, evocando certa decadência, a mortalidade inerente a todas nós. O próprio título da mostra alude aos esqueletos no armário, apontando, de um lado, para o aspecto da morte, enquanto também sugere os segredos e enigmas que todas as suas personagens insinuam.

 

Até 10 de dezembro.

 

Celebração do artista e sua obra

 

“BARAVELLI 80″ é uma exposição organizada pela Fundação Stickel, Vila Olímpia, São Paulo, SP, em colaboração com a Galeria Marcelo Guarnieri que celebra os 80 anos do artista Luiz Paulo Baravelli. Serão apresentadas 57 obras do artista, cada uma correspondente a um dos seus 57 anos de carreira, desde 1965 até 2022. Pinturas, desenhos e relevos que manifestam o seu interesse pela arquitetura, pelo desenho da figura humana e pela pintura de paisagem, e que propõem um diálogo descontraído com a tradição. Para fazer companhia às suas obras, Baravelli convocou “Amigos e Vizinhos”, que segundo ele, foram – e ainda são – seus guias e orientadores ao longo de sua trajetória. Cerca de 200 imagens de obras de arquitetos, artistas, cartunistas e designers apresentados na exposição em formato de vídeo dão conta de aproximar o público visitante ao repertório do artista, que abarca desde uma pintura de Giotto de 1304, uma escultura de Barbara Hepworth de 1943, o still de uma cena do desenho animado “Os Jetsons” de 1962, até uma escultura de Martin Puryear de 2005.

Formado arquiteto e consagrado como pintor, Baravelli experimenta com o espaço tridimensional, tanto no campo físico, como no campo virtual de suas pinturas e desenhos. Em sua obra, as noções de perspectiva, planta, elevação e corte provenientes da linguagem da arquitetura são utilizadas para representar espaços interiores, casas e outras edificações, mas não se restringem ao traço, tornam-se ferramentas para questionar o formato quadrado da tela, dando às suas pinturas um certo dinamismo. É desse modo que elas transitam entre duas e três dimensões e adquirem o caráter híbrido de pintura-objeto. Podem ter contornos reconhecíveis como os de um corpo humano esguio ou contornos estranhos como os de pálpebras gordas e agigantadas que se beijam, contornos redondos que reivindicam seu lugar dentro da tradição do quadro e mesmo os quadrados que abrigam outras quadras e quadrículas dentro dos limites da moldura.

Baravelli compõe em camadas, recorta e sobrepõe referências, estilos, materiais e texturas. Tais operações estão carregadas de um senso de humor que tem permitido ao artista estabelecer uma relação espirituosa com sua obra nesses 57 anos de produção e que se faz evidente nos modos de abordar questões tão diversas como o amor, a história da arte, figuras de poder como políticos e colecionadores, problemas de planejamento urbano e a sensação de tédio de uma noite como outra qualquer. Não são temas, são questões que atravessam a qualquer um de nós, e que no trabalho de Baravelli surgem como comentários inusitados, mas sutis, daqueles que poderiam passar despercebidos em uma conversa com os mais desatentos. Não foi à toa que seus amigos e vizinhos foram convocados a participar dessa exposição, são vozes que ampliam o diálogo, adicionando camadas de significados e abrindo pontes para outras conversas.

Celebramos com alegria os oitenta anos de vida de um artista que dedicou cinquenta e sete anos a uma atividade de tão grande importância para a nossa cultura, formando outras tantas gerações de artistas, alunos, leitores e que é parte fundamental da história da arte de nosso país. E com a mesma alegria, celebramos a oportunidade de termos estado juntos durante os últimos trinta anos. Viva Baravelli!

 

Até 04 de fevereiro de 2003.

 

 

Mostra na Sala Guido Arturo Palomba

 

Exposição organizada a partir do acervo de artes visuais da Associação Paulista de Medicina, Bela Vista, São Paulo, SP, e da coleção particular que reúne obras de treze dos mais expressivos artistas do Concretismo brasileiro e presta homenagem ao psiquiatra forense e diretor cultural da instituição. Com visitação gratuita e abertura em 26 de outubro, o público poderá conhecer 30 obras assinadas por nomes como Luiz Sacilotto, Judith Lauand, Hércules Barsotti, Jandyra Waters, Paulo Pasta, Arcângelo Ianelli, Bárbara Spanoudis, Ramon Cáceres e Maurício Nogueira Lima.

Com curadoria do historiador e crítico de arte Enock Sacramento, um dos maiores especialistas dessas vertentes modernistas da arte brasileira, a exposição inaugura a Sala Guido Arturo Palomba, espaço que presta homenagem ao psiquiatra forense, um dos mais renomados profissionais da medicina legal e diretor cultural da Pinacoteca da Associação Paulista de Medicina.

Deliberada em votação realizada pela diretoria da APM em 17 de janeiro de 2020, a renomeação da antiga Sala Contemporânea da Pinacoteca da APM reconhece os esforços de Guido Arturo Palomba, que, desde 1982, é um dos maiores entusiastas da preservação e da continuidade do espaço cultural paulistano dedicado às artes visuais, uma das grandes paixões do médico, que possui uma coleção predominantemente construtivista e, inclusive, doará e emprestará obras de seu acervo para a exposição.

 

Acervo em construção

A criação do acervo artístico da APM, na segunda metade da década de 1940, contou com o apoio inaugural do então presidente, dr. Jairo Ramos, em resposta aos anseios de médicos, artistas e críticos de arte que participavam de palestras e debates realizados na sede da instituição. Em 1949, dr. Ernesto Mendes, um dos diretores da APM, recebeu a incumbência de também dirigir a recém-criada Pinacoteca. Por meio de uma campanha de doações de associados que viabilizaram um fundo destinado a aquisições, 14 obras de artistas modernistas compuseram o núcleo inicial da coleção, reunindo trabalhos de, entre outros, Aldo Bonadei, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Cândido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti, Francisco Rebolo Gonzáles, José Pancetti, Lasar Segall, Mário Zanini e Tarsila do Amaral.

Entre outras ações pontuais, na década de 1980, quando o cirurgião plástico e pintor Aldir Mendes de Souza tornou-se presidente da Associação Profissional dos Artistas Plásticos do Estado de São Paulo (APAP/SP), foi estabelecido um convênio entre a APAP, a APM e a Unimed Paulistana, mediante o qual os artistas receberiam um plano de saúde em troca de trabalhos doados à Pinacoteca da APM. Ao longo de três anos a parceria possibilitou ao acervo da Pinacoteca a inclusão de obras de, entre outros, Alex Flemming, Bernardo Krasniansky, Gilberto Salvador, Léon Ferrari, Lúcia Py, Maria Bonomi e Sonia von Brusky. Egressos desse acordo, trabalhos de Bárbara Spanoudis, Valdeir Maciel e do próprio Aldir Mendes de Souza integram a mostra “Diálogo Construtivo Paulista”. A partir dos anos 1990, com a atuação regular do dr. Guido Arturo Palomba na Pinacoteca da APM, novas iniciativas, como a cessão do espaço para a realização de mostras individuais e a publicação de catálogos de algumas das exposições, a coleção continuou a crescer com obras de Antônio Peticov, Cláudio Tozzi, Gregório Gruber, Inos Corradin, Ivald Granato e muitos outros. Hoje, o acervo da Pinacoteca da APM conta com cerca de 200 obras das mais variadas vertentes estéticas e cumpre importante valor histórico e cultural, com o acesso gratuito ao público paulistano, de outros estados e países.

Lisonjeado com a homenagem que receberá, e em meio à expectativa pela abertura da mostra “Diálogo Construtivo Paulista”, Guido Arturo Palomba faz um balanço de sua atuação na Pinacoteca da APM. “Estou no Departamento Cultural da APM desde 1982, portanto há 40 anos. Comecei como membro e, posteriormente, me tornei diretor cultural, cargo que exerci por várias gestões seguidas. Procurei dar o máximo, não somente à Pinacoteca, mas, de modo geral, à APM, que é minha casa desde os primeiros dias de formado até hoje. A Pinacoteca é a menina de meus olhos e a ela me dediquei e me dedicarei até quando não mais quiserem que eu lá permaneça”, afirma.

A realização da mostra também compreende ações educativas, como visitas guiadas para escolas públicas, sobretudo as da região central de São Paulo, e a publicação de um livro, com tiragem de 500 exemplares e versão eletrônica, que será disponibilizado gratuitamente para instituições culturais e das redes municipal e estadual de ensino.

Até 30 de novembro.

 

 

Bienal de São Paulo no MAR

20/out

 

O programa de mostras itinerantes da 34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto chega ao Rio de Janeiro no Museu de Arte do Rio (MAR). A exposição, correalizada junto ao MAR com o apoio do Instituto Cultural Vale, fica em cartaz até o dia 22 de janeiro de 2023.

A mostra é organizada em torno do enunciado Os retratos de Frederick Douglass. Douglass foi um homem público, jornalista, escritor, orador estadunidense, e um dos  principais expoentes da luta pela abolição da escravidão. Até hoje seus retratos circulam pelo mundo como símbolo de justiça e liberdade. Assim, sob o olhar penetrante e desafiador de Douglass, este enunciado traz artistas e obras voltados aos processos de colonização, deslocamento, violência e resistência que marcaram e continuam marcando a vida de milhões de pessoas ao redor do planeta.

Treze artistas de oito países diferentes compõem a mostra: Anna-Bella Papp (Romênia), Arjan Martins (Brasil), Daiara Tukano (Brasil), Daniel de Paula (Brasil/Estados Unidos), Deana Lawson (Estados Unidos), Frida Orupabo (Noruega), Gala Porras-Kim (Colômbia), Jaider Esbell (Brasil), Joan Jonas (Estados Unidos), Noa Eshkol (Israel), Paulo Kapela (Angola), Seba Calfuqueo (Chile) e Tony Cokes (Estados Unidos).

No dia da abertura, Daiara Tukano realiza uma performance, ativando sua obra Kahtiri Ēõrõ – Espelho da vida (2020), inspirada nos mantos tupinambás. A performance tem início às 11h30 e a artista percorrerá o caminho da exposição, no primeiro pavimento do Museu.

Além do fomento à produção artística, um dos focos principais da Fundação Bienal de São Paulo é a realização de ações de educação e difusão. No Rio de Janeiro, uma visita temática pela exposição está programada para o dia da abertura, 22 de outubro, às 12h30, com a equipe de mediação da Fundação Bienal. A atividade é gratuita, assim como a entrada na exposição na abertura, e não requer inscrição prévia.

 

 

 

Exibição de Maxwell Alexandre

19/out

 

A Gentil Carioca – São Paulo e Rio de Janeiro – apresenta, para a Paris+ par Art Basel (stand F10), o solo de Maxwell Alexandre. As obras compõem a série Novo Poder, um desdobramento de “Pardo é Papel”, feito para explorar a ideia da comunidade negra dentro dos templos consagrados para contemplação de arte: galerias e museus. Entendendo a arte contemporânea como um campo de elite que concentra um grande capital financeiro e intelectual, a série busca chamar atenção da comunidade negra para esses espaços que legitimam narrativas na história. A série trabalha apenas com três signos básicos, sendo eles o preto (personagens), o branco (“cubo branco” ou espaço expositivo) e o pardo (arte).

 

 

Jogo de sedução e fartura em Yêdamaria

14/out

 

“Yêdamaria: Políticas da Intimidade” é uma exposição – em cartaz até 10 de dezembro na galeria Simões de Assis, Jardins, São Paulo, SP – que convida a ver de perto, que trama vizinhanças. As obras que compõem o conjunto em exibição dão indícios de uma artista profícua e ainda por ser decifrada, mas que há pouco batemos em sua porta, para nos aconchegar no seu lugar.

Devemos pensar e considerar o contexto para a existência de uma figura tão pertinente e “teimosa” como Yêdamaria – que, mesmo diante das violências visíveis e invisíveis, deixa como legado a excelência de sua produção. Cabe dizer ainda que Yêdamaria pintou a fartura, os espaços de encontro, o íntimo e o popular. Suas cenas nos ensinam a encontrar intimidade no sublime, porque constrói miragens para os olhos por vezes fatigados do cotidiano.

 

Texto de Horrana de Kássia Santoz

“Para curar a cisão entre mente e corpo, nós, povos marginalizados e oprimidos, tentamos resgatar a nós mesmos e às nossas experiências através da língua. Procuramos criar um espaço para a intimidade.” (1)

Tenho a honra de apresentar “Yêdamaria: Políticas da Intimidade”, exposição que celebra a vida e o patrimônio artístico da professora e artista baiana Yeda Maria Corrêa de Oliveira (1932-2016) que, por mais de cinquenta anos, dedicou-se integralmente ao seu meio de expressão. Com uma conduta ilibada, sendo constante e criativa na fatura de suas obras, ela é um dos nomes fundamentais da pintura brasileira contemporânea e, pela mesma razão, sabemos hoje que ainda há muito a ser desvendado da sua trajetória.

Nascida na cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, em 12 de março de 1932, Yeda Maria Corrêa de Oliveira, filha única da professora primária Theonilda da Silva Corrêa de Oliveira, teve seu olhar atravessado pela experiência do seu lugar. Cresceu no bairro da Ribeira, onde conviveu com as marinas, o comércio popular, as frutas, as cosmologias afrodiaspóricas; esses índices, por serem tão próximos, se tornaram a tônica de sua produção.

Formada no Instituto Normal da Bahia em 1951, Yêdamaria iniciou sua carreira lecionando na educação básica, seguindo os passos e os desejos de sua mãe. Em 1956 já pintava e, como aluna da graduação em Belas Artes e Pintura na Universidade Federal da Bahia (UFBA), muito bem relacionada entre os artistas de sua geração, recebeu o prêmio de Menção Honrosa, no Salão Baiano de Artes Plásticas. Outro momento da atuação de Yêdamaria como educadora foi em 1971, quando ingressou na UFBA como professora das disciplinas de desenho e gravura. Em 1977, viajou para os Estados Unidos para cursar o mestrado na Illinois State University. Foi após essa experiência que outras técnicas, como a colagem e a gravura, ganharam peso nas suas composições e sua produção alcançou merecido prestígio internacional.

No Brasil da década de 1970, a ditadura civil militar foi um dos momentos de maior tensão e de fortes restrições, especialmente para a classe artística e, nos Estados Unidos, devido às inúmeras manifestações pelos direitos civis e da luta antirracista, havia um cenário social e político igualmente desafiador. Para Yêdamaria, artista, mulher negra e latino-americana, sua carreira foi moldada por esse contexto. Para além dos reveses no Brasil, o corpo docente da universidade americana, por muito tempo e de forma nada elogiosa, demarcou sua produção como naïf. Mas, ao final da temporada de estudos, a universidade adquiriu toda sua produção do período para sua coleção permanente. Estes são apenas alguns dos incontáveis episódios de pelejas que Yêdamaria vivenciou e logrou êxito.

Dessa energia produtiva, na “fase dos barcos” – assim chamado o período célebre de cerca de doze anos que a artista produziu um grande número de pinturas marinhas – é possível notar o tratamento pictórico e a ordenação dos planos e linhas que Yêdamaria aplicava em suas cenas. Herdeira das vanguardas artísticas tanto quanto por seu olhar atento ao ordinário, a cor e o desenho são elementos primordiais em sua produção e é por meio deles que Yêdamaria demonstrou sua grande destreza compositiva.

Na obra “Barcos com casarios”, de 1964, exposta aqui, os casarios coloridos verticalizam a paisagem, enquanto os barcos minuciosamente aportados no primeiro plano flutuam na orla. A cena é solar, quente e carrega um pouco de nós, como o “Timoneiro” da canção de Paulinho da Viola. A densidade cromática dos azuis, vermelhos e amarelos revela a dedicação incansável da artista pelo estudo dos efeitos, nuances e mesclagens que aplacam suas composições e fazem o espectador quase se perceber dentro da obra, no balanço dos barcos e na brisa das marinas. O branco de sua paleta é intenso e, quando visto nas toalhas de mesa, nas porcelanas, no brilho das transparências das taças, talheres e das jarras de prata, é de um requinte acachapante.

As naturezas-mortas são puro deleite e luminosidade, contrapondo o tom soturno tão habitual nas cenas de interior desse gênero de pintura. Quem duvidaria da opulência ao ver um peixe farto, coberto por rodelas de limão, acompanhado de uma saladinha de alface e tomates e servido generosamente em uma travessa de porcelana azul e branca? Quem é aguardado pela bandeja azul posta em diagonal, repleta de cajus maduros, de um amarelo alegre, contrastando ao fundo esverdeado? Até mesmo do prato cinza com maçãs de um vermelho profundo e reluzente sobre fundo verde? Tudo em Yêdamaria é um jogo de sedução e fartura, seja pelo olhar, pelo tato e até pelo paladar.

Yêdamaria: Políticas da intimidade é uma exposição que convida a ver de perto, que trama vizinhanças. As obras que compõem o conjunto em exibição dão indícios de uma artista profícua e ainda por ser decifrada, mas que há pouco batemos em sua porta, para nos aconchegar no seu lugar. Devemos pensar e considerar o contexto para a existência de uma figura tão pertinente e “teimosa” como Yêdamaria – que, mesmo diante das violências visíveis e invisíveis, deixa como legado a excelência de sua produção. Cabe dizer ainda que Yêdamaria pintou a fartura, os espaços de encontro, o íntimo e o popular. Suas cenas nos ensinam a encontrar intimidade no sublime, porque constrói miragens para os olhos por vezes fatigados do cotidiano.
Magnum opus. É dessa forma que a obra de Yêdamaria merece ser vista e celebrada.

(1) Hooks, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade / bell hooks; tradução de Marcelo Brandão Cipolla. – 2. ed., p.223 – São Paulo: Editora WMF, Martins Fontes, 2017.

 

osgêmeos no CCBB Rio

13/out

 

Depois da exibição em espaços como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, e pelo Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, PR, a exposição retrospectiva da dupla osgêmeos chega ao Rio de Janeiro. A mostra, que aborda a trajetória dos irmãos grafiteiros, encontra-se em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com o nome “Nossos Segredos”.

São mais de 850 itens, entre pinturas, instalações imersivas e sonoras, esculturas, intervenções em site specific, desenhos e cadernos de anotações. A exposição é a primeira retrospectiva de grande porte que examina a produção dos artistas desde o começo da década de 1980 até a atualidade. “Esta é a maior exposição já produzida por eles”, comenta o curador da mostra, Jochen Volz.

O objetivo da mostra é revelar novas visões do fazer artístico d’osgêmeos. Objetos pessoais, como cadernos, fotos, desenhos e pinturas que datam desde a infância dos dois irmãos até hoje são apresentados ao público pela primeira vez, incluindo estudos e obras de arte que precedem em muito seus famosos personagens e lançam luz sobre as raízes de seu surgimento. Influências artísticas e colaborações são expostas ao lado de pinturas e esculturas recentes.

A exposição fica em cartaz no CCBB do Rio até o dia 23 janeiro de 2023.

 

 

Alexandre Murucci  apresenta Cadeau

 

O artista visual Alexandre Murucci exibe a mostra individual “Cadeau” – até 29 de janeiro de 2023 – no Centro MariAntonia, Vila Buarque, São Paulo, SP, com 17 obras – esculturas, objetos, fotografias, videoinstalação e instalações – onde traça um panorama crítico e por vezes atávico, do momento político atual e, quase hereditário, dos males que assolam a nação. Ao mesmo tempo, o artista reconhece seu momento e seu papel e, o que crê ser a demanda de seu país: fortalecer instituições, liberdades e discursos inclusivos. A curadoria e o texto crítico são de Shannon Botelho.

“Cadeau”, que titula a mostra e também nomeia uma das obras da exposição, na língua portuguesa significa ‘presente’, como ato de estar fisicamente num lugar ou numa causa, assim como celebrar outra pessoa, dar a ela uma lembrança num momento especial; “e este termo tem sido usado como palavra de ordem em atos de protestos e luta por direitos individuais e coletivos da sociedade brasileira. Será este o presente que deixaremos para futuras gerações ou estaremos presentes na hora de defender nosso patrimônio natural ??”, questiona o artista.

Na visão de Shannon Botelho, o artista dando sequência à sua visão de perdas pregressas que continuam ameaçando o seu presente, explica: “Sobre essas ideias está estruturada a crítica de Murucci, uma insurgência contra as opressões e as formas de violências que insistem em minorar a vida, como uma sirene em alerta, indicando a sucessão distópica de eventos que a compõem.”

Sobre as obras em exposição, mantendo um viés coerente em sua criação artística, Murucci brinda o público com trabalhos que derivam de uma dialética, um pensamento plástico à serviço ‘de uma abordagem crítica dos fatos’. Os temas podem variar, mas a abordagem mantém fiel à dinâmica necessária para cada peça: a opção pelos suportes mantém-se fidedignas ao fio condutor do trabalho que é seu conceito.

“Neste sentido, mantenho essa unidade matérica com uso de ferro, metal, espelho e madeira, que reverberam um cromatismo restrito, só quebrado pela eventual presença de vermelhos, pois foi a cor base de uma fase bastante ampla do meu trabalho. E, como suportes principais, apresento esculturas, objetos, fotografias, vídeos e instalações, mesmo que o desenho esteja fortemente presente na criação das obras”, pondera o artista. A utilização de materiais pós-industriais e naturais os quais imprimem uma fatura povera e ready-mades, instauram uma lógica criativa, mais do que uma investigação da forma. “Um pensamento plástico em busca de um testemunho de meu tempo histórico, sem preconceitos físicos formais, a não ser o rigor do acabamento, fruto de meu DNA da arquitetura e do design”, conclui.

“Atento ao agora, que nos presenteia com realidades disruptivas, o artista convoca a nossa atenção para o momento de virada que atravessamos, lembrando-nos da responsabilidade de solidificar nossas escolhas para uma saída do labirinto existencial que o país e o mundo se encontram. Urge reinventar o porvir para um outro amanhã. Neste sentido, não basta que a arte seja uma reinvenção do que virá. Importa que ela seja uma engrenagem na transformação do presente. Por esta razão, Alexandre Murucci estrutura em Cadeau um manifesto visual, no qual os termos são definidos pela fluidez de narrativas, cujas dialéticas articulam um possível futuro, a partir daquilo que possamos lhe deixar como presente”. Shannon Botelho

“Um olhar crítico, neste momento grave da história brasileira, com todas as ameaças aos direitos individuais e às instituições advindas de um grupo no poder que deveria preservar e harmonizar a nação frente aos inúmeros desafios que o mundo atravessa, vejo que isto se torna mais necessário ainda, principalmente num período de acirramento e polarização da sociedade em torno das escolhas para nosso destino como democracia e nação”. Alexandre Murucci

 

Sobre o artista

Alexandre Murucci nasceu no Rio de Janeiro, RJ, 1961. Artista plástico com formação pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), com orientação de Luis Ernesto. Grupo de estudos com Fernando Cocchiaralle e Felipe Scovino e ateliê de escultura com Israel Kislanski. Em 20 anos de trajetória, trabalha com suportes múltiplos e ênfase em escultura, fotografia, instalações, vídeo e digital art (NFT), conta com mais de 80 exposições em sua trajetória. Sua multidisciplinariedade o faz atuar também como diretor de arte, cenógrafo, curador, designer, cineasta e autor em mídias diversas, com mais de 30 anos de carreira em Cinema, Teatro e Design. Suas obras com foco conceitual, e em suportes variados, falam principalmente de identidades, inserções periféricas e polaridades dos fluxos de poder, sempre através do viés político-histórico, com referências metalinguísticas no âmbito da arte. Em 2007, foi selecionado para o prêmio Bolsa Iberê Camargo. Em 2009 foi convidado para Las Américas Latinas – Fatigas Del Querer, mostra coletiva em Milão com curadoria de Philippe Daverio e em 2011 foi o vencedor do 2º prêmio da Fundação Thyssen-Bornemisza, de Vienna, no projeto The Morning Line – TBA21. Como destaque nas exposições individuais, pode-se citar “Arquipélago” – na Galeria de Arte Maria de Lourdes Mendes de Almeida, O Fio de Ariadne, Centro Cultural Correios, RJ, Las Américas Latinas, em Milão, Italia e a Nicho Contemporâneo no Museu Nacional de Belas Artes, RJ, além de exibições nos EUA, Eslovênia, Cuba e Alemanha, entre muitas. Em 2011, foi o artista selecionado para representar o Brasil na Bienal da Áustria; em 2019 na 13ª Bienal do Cairo, e em 2017, um dos artistas da 57ª Bienal de Veneza, selecionado em um opencall mundial, para o Pavilhão de Grenada, sob curadoria de Omar Donia. Foi também um dos primeiros artistas a mostrar seus trabalhos em NFT numa feira presencial de arte – a ARTRIO, através de sua galeria Metaverse Agency, uma participação inédita, internacionalmente.

 

Sobre o curador 

Shannon Botelho – Crítico de arte, curador independente e professor no Departamento de Artes Visuais do Colégio Pedro II (RJ). Doutorando em História e Crítica da Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes/UFRJ em parceria com a École des Hautes Études en Sciences Sociales/CRBC (Paris); representante do Comitê de História, Teoria e Crítica de Arte da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP) e curador convidado do Memorial Municipal Getúlio Vargas (RJ). Realiza cursos de acompanhamento crítico e teórico para profissionais ligados ao campo cultural no Rio de Janeiro e São Paulo. Assinou curadoria de algumas exposições como Abstrato Possível, Concreto Real (MMGV-RJ-2017); Balangandãs (Zipper Galeria-SP 2018); Paisagem Grão de Areia (MMGV-RJ 2018); O que você guarda tão bem guardado (Casa Abaeté – Ribeirão Preto 2019); Da Linha, o Fio (BNDES-RJ2019), Impulsos Imitativos (MMGV-RJ-2019), Estruturas Improváveis (Casa das Artes-Tavira 2020), Illusions (Zipper Galeria-SP 2021), Malgré le Brouillard (Anne+ Art Contemporain – Paris 2021) e Forma é Afeto (Andrea Rehder-SP 2022).

 

Sobre o MariAntonia

O Centro Universitário MariAntonia, um dos órgãos da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, está instalado nos edifícios históricos Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, que pertenceram à antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Desde sua inauguração, em 1993, com uma atuação multidisciplinar, o MariAntonia conquistou um lugar próprio entre as instituições culturais da cidade. Situado estrategicamente na região central de São Paulo, abriga exposições diversas, oferece cursos de curta duração, palestras, debates e seminários, e outros eventos. Também abriga a Biblioteca Gilda de Mello e Souza, com acervo dedicado principalmente à Estética, cujo núcleo gerador é a coleção de livros sobre arte, estética e história da arte que pertenceu à professora que empresta seu nome ao espaço, primeira docente de Estética da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Entre os artistas que tiveram mostras recentes no espaço estão Cildo Meireles, Eleonora Koch, Carlos Zilio, Claudio Tozzi, Evandro Teixeira, Gilvan Barreto, Jaime Lauriano, Laís Myrrha, Leila Danziger , Giselle Beiguelman, Carmela Gross, Dora Longo Bahia, Clara Ianni, Rosana Paulino. Marilá Dardot, Marcelo Moscheta, Walmor Corrêa. entre outros. e artistas internacionais como Lucio Fontana, Luciano Fabro, Mario Merz, Michelangelo Pistoletto, Mimmo Paladino, Gilberto Zorio, Enrico Baj, Alighiero Boetti, Giovanni Anselmo, Maurizio Catellan.

 

 

Empoderamento e resgate étnico

10/out

Na nova exposição do Museu Inimá de Paula, “NOW”, Centro, Belo Horizonte, MG, o destaque da mostra são os vários núcleos de artistas brasileiros contemporâneos, afrodescendentes e indígenas, apresentando 80 artistas da produção contemporânea nacional e mundial. A curadoria é de Romero Pimenta.

A coleção se abre para a arte brasileira e traz nomes como Adriana Varejão, Beatriz Milhares, Luiz Zerbini, Jaider Esbell, Pedro Neves, Maxwell Alexandre e outros.

A explosão da arte dos afrodescendentes é o maior salto estético da arte contemporânea nas primeiras décadas deste século. Configurando uma arte de autoexpressão, empoderamento e resgate étnico. É nesse ambiente que a exposição NOW apresenta o grupo de artistas afro Elian Almeida, Pedro Neves, o bastardo, Jota, Kika Carvalho, Gustavo Nazareno, Desali e Renan Teles.

Até março de 2023.

 

 

Exposição e interferências espaciais

 

Uma exposição coletiva com 23 artistas e cerca de 70 obras, “Ópera Citoplasmática”, ocupa até novembro o espaço do Olho, no Museu Oscar Niemeyer (MON), Centro Cívico, Curitiba, PR. A curadoria é de Diego Mauro e Luana Fortes e a curadoria adjunta e concepção é de João GG.

“Ópera Citoplasmática” propõe um diálogo com o próprio espaço expositivo do Olho, fazendo com que a sua especificidade arquitetônica participe do projeto. A luminosidade controlada do local possibilita um desenho expográfico e uma ambientação experimental, incorporando a curvatura do teto e o vidro escuro das janelas imensas como elementos importantes.

A seleção dos artistas considerou a multiplicidade de linguagens, que inclui desde as mais tradicionais pintura e escultura, passando por instalações, vídeos, projeções de texto, intervenções sonoras feitas especialmente para a exposição e interferências espaciais.

Os participantes são Boto, Darks Miranda, Fernanda Galvão, Gabriel Pessoto, Giulia Puntel, Hugo Mendes, Iagor Peres, Ilê Sartuzi, Janaína Wagner, João GG, Juan Parada, Juliana Cerqueira Leite, Luiz Roque, Mariana Manhães, Marina Weffort, Maya Weishof, Miguel Bakun, Motta & Lima, Paola Ribeiro, Rafael RG, Renato Pera, Rodrigo Evangelista e Wisrah Villefort.