Exibição de Pedro Weingärtner

25/jul

 

 

Com obras distribuídas entre pinturas e desenhos de um dos grandes nomes da arte brasileira inaugura a exposição “Pedro Weingärtner, nosso contemporâneo” em 30 de julho, e segue até 27 de agosto na Galart, Porto Alegre, RS. A mostra coordenada pelo empresário, colecionador e marchand Heitor Bergamini inclui obras apresentadas pela primeira vez  ao público.

 

Exposição de caráter histórico “Pedro Weingärtner, nosso contemporâneo” apresenta 23 obras do célebre artista sendo apresentada pelo historiador da arte e professor Paulo Gomes, um dos principais pesquisadores da obra do artista que afirma: “Seu diálogo preciso com seu tempo, visível nas pinturas de paisagens e de gênero, colocaram o Rio Grande do Sul no mapa artístico do Brasil, um feito inigualável na arte brasileira, talvez equiparado somente às realizações do Clube de Gravura e do Grupo de Bagé, isso mais de cinquenta anos depois”.

 

Trata-se de uma oportunidade para o público conhecer obras raras de Pedro Weingärtner. Boa parte das produções integra o acervo da própria GalArt, além de peças raras do período neoclássico e do modernismo. “Há uma década, quando colecionador iniciante, adquiri a primeira obra de PW (eu me permito tratá-lo assim pela intimidade adquirida nesses anos de convívio). A obra está comigo até hoje. É um retrato de um velho com barba longa com os olhos baixos como a fitar o chão. O desenho é autenticado por nada mais nada menos que Ângelo Guido (outro dos grandes) e integra a exposição”, revela Heitor Bergamini. “Em Pedro Weingärtner eu vejo um artista admirado e valorizado, um dos mais importantes que já surgiu no Rio Grande do Sul e que foi e continua sendo reconhecido nacionalmente”, ressalta.

 

A exposição, antes de sua abertura, já é considerada como fundamental para quem quiser conferir aspectos até então inéditos da obra (atemporal) de um dos mais importantes artistas brasileiros de uma época e da história do Rio Grande do Sul.

 

Sobre o artista

 

Filho de imigrantes alemães, Pedro Weingärtner nasceu em Porto Alegre, RS, em 1853, onde viveu até 1929. Foi pintor, desenhista e gravador. Estudou na Europa e viveu um longo tempo em Roma. Nas obras que compõem a presente exposição destacam-se os retratos, as cenas cotidianas da aristocracia, as paisagens e os desenhos. São justamente os desenhos, a parte menos conhecida e acessível de toda a produção de Weingärtner, mas não menos meritória. “Sua maestria no desenho, disperso em dezenas de folhas, demonstra, de modo cabal, todo o intenso e cuidadoso trabalho de concepção de suas obras, marcado pelos modos da pintura acadêmica (aqui no sentido de filiada aos modos de fazer das academias) que exigia o desenho como base de todo o trabalho”, analisa o historiador Paulo Gomes. Neles, o artista registra seu trabalho em campo nas anotações para paisagens. Denotam ainda a observação atenta dos modos e expressões de modelos nos retratos. Sobre os outros elementos presentes na exposição, Paulo Gomes faz algumas reflexões. “Suas paisagens eram identitárias, fator importante na sua consolidação como artista do Sul do Brasil. Suas pinturas de antiguidades atendiam a um gosto de época. Seus retratos ficaram para trás, perdidos no passado”, reconhece. “Mas restam valores inquestionáveis, como a excelência da sua fatura artística, da sua pintura, do seu desenho e da sua gravura, que impressionam ainda hoje pela qualidade, pela beleza e pelo requinte e finalmente, o seu testamento para nós, seus conterrâneos distantes no tempo”, finaliza.

 

 

Miniarte Magia

 

 

A primeira edição do Projeto Miniarte Internacional ocorreu em 2003 na Usina do Gasômetro, com mais de cem participantes sob a chancela da Prefeitura Municipal de Porto Alegre Alegre.

 

Desde sua fundação pela artista plástica Clara Pechansky, o objetivo do projeto é democratizar a arte permitindo acesso livre aos artistas, que não são submetidos a qualquer seleção, e divulgando as obras para um público cada vez mais diversificado. Desse modo, o Projeto Miniarte Internacional cumpre um duplo papel social. Ao longo de seus 19 anos, sempre organizado por artistas independentes, em espaços públicos e gratuitos, o projeto já percorreu os cinco continentes.

 

Para a edição de 2022 foi ecolhido o tema “Magia”, abrangendo uma grande variedade de interpretações e técnicas, como Pintura, Desenho, Gravura, Colagem, Fotografia, Escultura e Cerâmica.

 

A “Miniarte Magia” vai mostrar 192 (cento e noventa e dois) artistas que representam Argentina, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, Equador, Estados Unidos, Índia, Irã, México e Portugal somando ao todo 21 (vinte e um) Artistas Convidados, 12 (doze) Artistas Líderes de Grupo, cada um trazendo consigo mais de 10 (dez) artistas, e 33 (trinta e três) Artistas Prestígio, uma inovação introduzida nesta edição.

 

A 42ª edição do Projeto Miniarte Internacional terá sua inauguração, mantendo a tradição, no Centro Municipal de Cultura de Gramado, RS, dia 30 de julho, e a 43ª edição acontecerá em Porto Alegre, RS, em 08 de outubro no espaço profissional da Gravura Galeria de Arte.

 

42ª edição – Gramado – até 30 de agosto.

43ª edição –  Porto Alegre – até 29 de outubro.

 

Novidade na Simões de Assis

 

 

A galeria Simões de Assis, Curitiba, PR  e São Paulo, SP, anuncia a representação da artista Thalita Hamaoui. No início de sua trajetória, dedicou-se longamente à estamparia, atividade que sempre a influenciaria. Foi com o design têxtil que suas formas orgânicas começaram a surgir, sendo seu principal interesse a dedicação demorada ao desenho e às cores dos tingimentos.

 

Suas telas são normalmente produzidas de maneira simultânea, tomando por completo as paredes do ateliê. Algumas demoram meses até serem resolvidas, enquanto outras são finalizadas com muita urgência, imediatez. Talitah Hamaoui nunca abandona um trabalho. Ao iniciar duas ou três pinturas ao mesmo tempo, cria um diálogo formal entre elas, que se tornam paralelamente singulares e integrantes de um todo. Dessa forma, a artista vai elaborando um repertório imagético que se repete, mas também se renova, como quem cria um vocabulário próprio dentro das paisagens internas que se erguem pelas tintas. Essas formas também são vivas, sempre na iminência de transformação, e provocam movimentos constantes do olhar, que passeia e circula de maneira fluida pela superfície, sem muito distinguir figura e fundo.

 

Sobre e artista

 

Formada em artes plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado, em 2006, sob a orientação de Sandra Cinto, sua pesquisa se iniciou no campo da escultura. Integrou grupos de estudos e acompanhamento com artistas como Bruno Dunley, Marco Gianotti, Rodolpho Parigi e Regina Parra, além de ter participado, em 2018, do programa de residência artística do Pivô. Thalita Hamaoui foi selecionada pelo edital do Centro Cultural São Paulo de 2017, realizando “Um Passo Irreparável”, sua primeira exposição individual. Entre outras mostras solo estão “A Borda do Mundo” (2020) na Galeria Nave, e “Oferenda” (2019) no ateliê Marilá Dardot, com acompanhamento crítico da artista e de Cristiana Tejo – ambas em Lisboa, Portugal. Dentre participações em coletivas destacam-se “Emotional Ladscapes” (2021) com curadoria de Gisela Gueiros; “Um retrato para um novo mundo” (2021), Casa da Luz, São Paulo;  “Mutirão”, Now here (2021), Lisboa; “The Land of no evil” (2019), Off Shoot Gallery, Londres; Infinitess (2019), Lazy Susan Gallery, Nova York; “Zona de coexistência” (2019), um diálogo com a coleção de Duda Miranda, “Áurea” (2018), LÁFF, Hamburgo e “Procession” (2016), Folley Gallery, Nova York.

 

Daniel Lannes no Paço Imperial

22/jul

 

 

O Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Jaula”, individual do artista carioca Daniel Lannes, com curadoria e texto crítico de Lilia Schwarcz, que acontece até o dia 23 de outubro. A exposição conta com a produção recente do artista, marcada por pinturas a óleo que retratam hipóteses históricas do Brasil através de uma perspectiva subjetiva e transfigurada. Daniel Lannes foi vencedor do Prêmio Marcantonio Vilaça, o mais importante prêmio de Artes Visuais do país e teve uma tela adquirida para o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo neste ano.

 

Sobre o artista

 

Daniel Lannes nasceu em Niterói em 1981, e vive e trabalha em São Paulo. O artista é mestre em Linguagens Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012) e Bacharel em Comunicação Social pela PUC-Rio (2006). Daniel Lannes protagonizou exposições em grandes instituições nacionais e internacionais como as individuais ‘Pernoite’ na Galeria Kogan Amaro, São Paulo (2020), ‘A luz do fogo’ na Magic Beans Gallery, Berlim (2017), ‘Republica’ no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2011) e ‘Midnight Paintings’ no Centro Cultural São Paulo (2007). Suas obras integram importantes coleções como do Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, entre outros.

 

A natureza vista por Rodrigo Bivar

21/jul

 

 

Rodrigo Bivar apresenta a exposição individual “Breve” na Casa de Cultura do Parque, Alto de Pinheiros, São Paulo, SP. A mostra faz parte do II Ciclo Expositivo de 2022 da instituição e reverbera a produção figurativa do artista. As dezessete pinturas, todas em pequeno formato, trazem pássaros e naturezas mortas, criando uma continuidade do interesse de longo prazo do artista em cenas cotidianas, natureza e retratos.

 

Neste conjunto, Bivar voltou-se à representação de elementos que poderia nomear, orientando-se para o seu entorno. Na série “Bípedes”, fez retratos de passarinhos, explorando um recorte de imagem que se assemelha a uma fotografia, explorando um olhar que humaniza esses animais. O artista ressalta, nesta mostra, a efemeridade, o curto instante que temos para observar um pássaro, que geralmente rapidamente alça voo.

 

Em “Breve” observamos o esforço de captar o transitório e registrá-lo por meio da tinta na tela. A exposição fica aberta até 18 de setembro, uma rara oportunidade de adentrar o universo proposto por Rodrigo Bivar.

 

Duas mostras no MASP

 

 

O MASP, Avenida Paulista, São Paulo, SP, abriga duas exposições poderosas que apontam uma parte da diversidade nacional: “Dalton Paula: Retratos Brasileiros”, com pinturas sobre lideranças e personalidades negras; e “Joseca Yanomami: Nossa Terra-Floresta”, com obras sobre a vida e a cosmologia do povo Yanomami. As duas mostras ficam em cartaz de 29 de julho a 30 de outubro.

 

Arte negra

 

Com curadoria de Adriano Pedrosa, Glaucea Britto e Lilia Schwarcz, a mostra “Retratos Brasileiros” reúne 45 pinturas – muitas delas inéditas – do artista contemporâneo brasiliense Dalton Paula. Ele produziu 12 desses trabalhos com apoio do MASP, e, por isso, as obras foram doadas para a instituição. As pinturas retratam lideranças e personalidade negras que foram historicamente invisibilizadas no Brasil. As obras são o resultado de um longo processo criativo, que passa por um estudo de biografias dos homenageados e a coleta de documentos sobre eles, como fotos e recortes de jornal. Entre essas figuras, estão a escritora Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista negra no país; Manuel Congo, o líder da maior rebelião de escravos no Vale do Paraíba; e Assumano Mina do Brasil, um famoso alufá (nome dado aos líderes religiosos muçulmanos no norte da África) no Rio de Janeiro. Em sua investigação, o artista busca ressignificar e dar protagonismo às contribuições de personalidades afrodescendentes.

 

Arte Yanomami

 

Já a mostra “Nossa Terra-floresta” é pautada pela celebração aos 30 anos da homologação da terra indígena Yanomami. Com curadoria de Adriano Pedrosa e David Ribeiro, a exposição reúne 93 desenhos do artista Joseca Yanomami, que retrata personagens, cenas, paisagens, mitologia desse povo indígena. O artista adota como referência a floresta amazônica e os vários seres que a habitam. Os cantos xamânicos, a vida cotidiana dos Yanomami e as lutas das lideranças indígenas e dos espíritos também são elementos presentes nas obras, que foram produzidas entre 2011 e 2013. Muitos dos desenhos são acompanhados por descrições feitas originalmente em yanomami pelo artista e que dão conta das dimensões cosmológicas presentes em sua narrativa visual. A obra “Urihi xi wãrii tëhë thë urihi huëmaɨ wihi thëã (Os xamãs seguram a terra quando esta entra em caos)”, de 2011, por exemplo, se preocupa em demonstrar o trabalho de preservação da terra pelos xamãs.

 

 

A geometria de Luciano Figueiredo

20/jul

 

 

A LURIXS: Arte Contemporânea, Leblon, Rio de Janeiro, RJ – apresenta até 19 de agosto – exposição individual de Luciano Figueiredo. Com texto de Paulo Venancio Filho, a mostra reúne obras recentes do artista produzidas em sua residência no Rio de Janeiro durante o período do isolamento imposto pela pandemia de covid-19.

 

Construir reconstruindo

 

Esses últimos trabalhos de Luciano Figueiredo reafirmam seu inconformismo com o confinamento da tela; o limite que a separa do espaço circundante. As dobras e recortes, práticas de longa data, nada mais faziam que demonstrar essa pretensão; romper a estabilidade geométrica pelos próprios meios da geometria. Desestabilizar o estável e encontrar outra estabilidade, ainda inédita, como um “ponto” geométrico futuro e imprevisto. Poderia se imaginar o quadrado como o núcleo inicial e gerador de todos os desdobramentos e variações. Dobrar desdobrando, rompendo recompondo, construir reconstruindo; o grau de insistência no construtivismo coincide com a ânsia de renová-lo – uma inesgotável e irresistível pressão. O que parecia exaurido revela cada vez mais surpresas insuspeitas, como ocorre agora. Ou seja, nada mais do que ativar as potencialidades geométricas ainda irreveladas.

 

Nesses trabalhos, vemos linhas cruzando o plano da tela em várias direções, porém não são apenas linhas; são finas varetas de madeira revestidas do tecido da tela. Desse modo, pertencem e não pertencem à tela. Superpostas à tela, são linhas que ativam a superfície e parecem vir de fora; atravessar e sair do quadro. Esse vocábulo gráfico – uma novidade recente – faz pensar nos cabos de energia que cruzam o céu nas cidades. Tais ligeiras e delicadas presenças tridimensionais insinuam direções e movimentos rápidos, velozes, marcam uma presença na tela ao mesmo tempo momentânea e permanente. Tais delicados condutores de uma energia plástica poderiam seguir para outro lugar; para outra tela, sem dúvida, e ali permanecer ou ir além. Esse parece ser o móbile novo dessa pintura/objeto; a linha, ou linhas, desconcertantes; impondo seu desígnio visual – do qual não há como escapar -; só resta ir para onde elas vão, segui-las com o olhar. Vejo também, quando elas se tornam essas delicadas varetas, a tentativa de fixá-las, de inseri-las no espaço material da tela e trazê-las pelo artifício da colagem para um espaço que faz a pintura adquirir uma materialidade objetal. Surge no espaço um momento de calculada tensão, contido e liberto em sua potencial expansão. Tais linhas não estabelecem limites, não obedecem a um esquema prévio, e afirmam sua própria independência. Cortam, ou melhor, riscam, atravessam, os planos de cor. Dão às telas um ritmo visual veloz, diríamos elétrico. Os planos de cor delimitam a estabilidade de certas áreas, impondo enfaticamente a inescapável determinação cromática, mas o que se manifesta é uma calculada disputa visual entre linha e cor. Assim, novamente encontramos a vivacidade do espaço, a renovada revelação do substrato pulsante do construtivo, sua inesperada e surpreendente agitação, surpreendente porque ainda pressiona há mais de um século. É o novo que se apresenta; novo porque podemos medi-lo com o passado. Aí a surpresa; especialmente porque é algo que é parte, e parte decisiva da nossa história artística.

 

Ainda – outra surpresa – encontramos espaços vazados na tela. E estes apresentam o que a tela de fato é: transparências que denunciam o objeto mesmo, aquilo que ele é, sem disfarces, expondo o vazio, tornando-o ativo. O olhar ultrapassa a tela, ali o espaço vazio da tela, o negativo da linha, buraco através do qual se vê a parede, desnuda a estrutura do quadro/objeto. Não há como esquecer a colagem; mas de elementos do mesmo léxico, afins e complementares, e as infinitas combinações que cada uma possui e contém. É como um vaivém óptico interminável, o mesmo renovado, e tendo a audácia de isto fazer. Cortes e recortes se alternam; o dobrar e o desdobrar imprevisíveis surpreendem a cada momento num movimento cinemático. A tela se mostra na sua plasticidade literal, flexível, dobrável, manipulável; é a matéria primeira, mais, muito mais, do que o mero suporte da pintura. A materialidade do tecido é libertada da rígida planaridade e se expande, há muito ultrapassou a estrita imposição ortogonal do quadro, tal como se o quadro se reconstruísse de dentro dele.

 

É notória a vinculação da obra de Luciano com o jornal e o cinema. Vejo até e principalmente a interseção entre jornal e cinema. Duas expressões visuais que se cruzam aqui, criando esse novo mutante, direto, ágil, imprevisível, que quer se libertar do aprisionamento do enquadramento. Disse atrás que são quadros que contêm uma eletricidade; não seria esta a mesma que se originou no construtivismo russo, no cinema de Eisenstein? Cinema, jornal e colagem não poderiam deixar de estar presentes nesta exposição. Vemos isso claramente em três colagens. Em duas delas, a presença de atrizes emblemáticas do cinema: Anna Karina e Monica Vitti – aí inclusos, indiretamente, Godard e Antonioni. E numa pequeníssima imagem, efêmera e casual – é preciso prestar atenção -, temos, poderíamos dizer, uma perfeita tradução da Kinomania de Luciano: na foto, recorte de um jornal, Antonioni e Monica Vitti estão na calçada, cada um lendo um jornal.

 

O vazado, talvez a maior novidade, é uma surpresa; mas uma surpresa que já se veria antecipada. A não-tela se revela também como um espaço da obra; o vazio é obra. É o reverso das linhas, contido dentro de limites, é um vazio recolhido à obra. A dobra leva ao recorte, e a tela, a sua materialidade, é um plano flexível, dobrável, recortável; problematiza o que parecia estável, estabilizado, cristalizado. Daí recortes, telas vazadas, manobras e desvios da ortodoxia, verdadeira desmontagem da tela. Tais combinações, passagens, interrupções, deslocamentos, revelam a inquietude do plano, sua predisposição em se mostrar como tal; disponível às manobras que a obra exige a todo momento, em cada trabalho: construir reconstruindo.Paulo Venancio Filho

 

Para conhecer e debater

 

 

O Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, Portão 10, São Paulo, SP, tem buscado, ao longo de seus quase dezoito anos de existência, valorizar e promover a herança de matriz africana no Brasil por meio do mapeamento, preservação, pesquisa e difusão de suas diferentes manifestações culturais e das múltiplas criações delas originadas. O histórico de encontros, palestras, congressos e cursos realizados e acolhidos pelo museu desde sua inauguração, em 2004, é vasto e compreende, igualmente, eventos que buscam refletir e discutir sobre as produções no próprio continente africano, tanto as contemporâneas quanto aquelas que refletem diferentes momentos de sua história.

 

Com o objetivo de diversificar ainda mais essa atuação e se consolidar como um espaço de encontro, reflexão e construção coletiva de conhecimento e de partilha de saberes e experiências, o Museu Afro Brasil lançou, no primeiro semestre de 2022, a Escola MAB – Escola do Museu Afro Brasil.

 

Artes Visuais e História da Arte a partir do MAB, no qual serão abordadas e discutidas questões formais e conceituais acerca de obras e coleções que integram o acervo do Museu Afro Brasil, assim como das temáticas que as cercam e que delas emanam, compreendendo as lacunas e ausências em sua constituição. Tais cursos compreenderão também aspectos relacionados às exposições temporárias realizadas no museu.

 

Cursos de aperfeiçoamento técnico voltados à gestão de acervos, sua conservação, documentação e estratégias de difusão, além de montagem de exposições, restauro, entre outros, oferecidos por especialistas e profissionais renomados na área.

 

Cursos na área do Patrimônio material e imaterial africano e afro-brasileiro, contemplando diferentes linguagens e manifestações como a música, a literatura e as artes cênicas. Serão igualmente oferecidos cursos de introdução a idiomas falados no continente africano.

 

E, finalmente, a série O Pensamento de …  oferecerá cursos que abordarão a produção de intelectuais africanas(os) em diferentes áreas de conhecimento, trazendo ao público uma introdução a uma produção ainda pouco conhecida e debatida no Brasil e no mundo.

 

Em seu curso inaugural, “Artistas Africanas – Olhares Contemporâneos”  lançado no mês de maio, a Escola MAB apresentou um panorama contemporâneo do trabalho de oito artistas mulheres, originárias de distintas regiões do continente africano. Da cerâmica à pintura, da performance à instalação, da fotografia ao vídeo, suas obras abarcam múltiplas linguagens e revelam a diversidade da produção artística africana contemporânea.

 

No segundo semestre de 2022, a Escola MAB dará continuidade e aprofundará a reflexão sobre as formas e caminhos pelos quais a produção artística africana e seus artistas se fizeram e se fazem presentes nas instituições museológicas e no circuito artístico do Brasil e do mundo. Serão oferecidos cursos sobre as cenas artísticas em países como Angola, Moçambique e Senegal e as aulas serão ministradas tanto por professores brasileiros quanto do continente africano. O público terá igualmente oportunidade de participar do curso “Introdução à arte africana a partir do acervo do MAB”.

 

Dentro do Eixo Cursos de aperfeiçoamento técnico, os cursos “Gestão de acervos em Museus” (em formato de workshop presencial de um dia e, posteriormente, de curso extensivo virtual) e “Exposição de arte e o olhar do conservador” ampliarão o campo de atuação da Escola, abarcando os diferentes aspectos técnicos envolvidos no trabalho de um profissional de museu.

 

Finalmente, a série “O Pensamento de …”  terá início com uma introdução ao pensamento do intelectual ugandense Mahmood Mamdani, reconhecido como um grande especialista em política africana e internacional, autor de obras que exploram a interseção entre política e cultura, os estudos comparativos do colonialismo, a história da guerra civil e do genocídio na África e a história e teoria dos direitos humanos, dentre outros temas.

 

A Escola MAB oferecerá materiais de apoio aos alunos, assim como certificados aos participantes (mediante comprovação de 75% de frequência às aulas), além de bolsas de estudos a professores da rede pública de ensino e a pessoas pretas, indígenas, trans, travestis e em situação de vulnerabilidade social. Os cursos serão propostos em diferentes modalidades, virtual, presencial ou híbrida,  e em diferentes horários. A carga horária também terá variação de acordo com o programa do curso oferecido.

 

Iberê no Festival de Cinema de Gramado

 

 

O filme em curta-metragem sobre a produção de Iberê Camargo será exibido no Festival de Cinema de Gramado. O documentário “Tudo permanece em constante movimento”, da artista visual Cristine de Bem e Canto, foi selecionado para o 50° Festival de Cinema de Gramado, na categoria Curta-metragem Gaúcho. Com sete minutos de duração, o filme será exibido no dia 14 de agosto, no Palácio dos Festivais, com entrada gratuita.

 

O filme nasceu a partir da participação da artista no XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, cujo resultado pode ser conferido no Google Arts & Culture da Fundação Iberê Camargo, instituição parceira do projeto “Iberê Camargo: um corpo fotográfico”.

 

Em 1992, ao acompanhar a produção de guaches das séries “Andando contra o vento” (1993) e “O homem da flor na boca – um ato de amor à vida” (1992) e da pintura “Tudo te é falso e inútil V” (1993), no ateliê da rua Alcebíades Antônio dos Santos, Cristine produziu aproximadamente 500 fotogramas em preto e branco. As imagens ficaram guardadas durante 30 anos e foram retomados em 2022 para a produção de um livro digital.

 

Com o transcorrer do tempo, essas fotografias revelaram uma nova potência: ao dedicar-se a transposição do analógico para o digital, no tratamento das imagens, a artista percebeu a integração do corpo do pintor com o próprio corpo da pintura e, também, do espaço que ambos habitavam.

 

“Porque tu tiras tantas fotos?” – perguntou Iberê a Cristine. Esta resposta só viria décadas depois: para colocar o corpo do pintor uma vez mais em movimento. Para isso, ela precisou também da animação que o vídeo possibilita. Aliado ao trabalho de design de som, que reforça a corporificação do espaço e seus afetos, assim surgiu o documentário. No tratamento das fotografias, alguns movimentos e gestos de Iberê Camargo quase imperceptíveis – como abrir e fechar a boca, para assimilar a mesma expressão de seu modelo, foram reativados na sequência animada das fotografias.

 

Reflexões em torno da mostra de Hal Wildson

19/jul

 

 

Convite conversa aberta com Clarissa Diniz, Hal Wildson e Sandra Benites – “Re-Utopya: reflexões para um futuro possível”, dia 20 de julho, às 18h, na Galeria Movimento, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, no ambiente da exposição “Re-Utopya”, de Hal Wildson com as curadoras e críticas Clarissa Diniz e Sandra Benites. A mediação é de Érika Nascimento. A entrada é gratuita, e o agendamento via Whatsapp: 21 97114-3641.

 

No evento, será lançado o NFT da videoarte “Reflorestar Nossa Gente” pela plataforma Tropix, onde parte do valor da venda será revertido para a aldeia Rio Silveira, da etnia Guarani Mbyá, no litoral de São Paulo.

 

Érika Nascimento observa que “ao trazermos reflexões sobre a vasta história do Brasil, buscamos refletir sobre o lugar de sobrevivência da memória, dos povos originários e da natureza, como um dever de proteção global. Com isso buscamos traçar uma ponte do passado a um projeto de futuro. Um futuro que possamos repensar estratégias de sobrevivência coletiva”.

 

A exposição “Re-Utopya” fica em cartaz na Galeria Movimento até 30 de julho. É a primeira grande individual de Hal Wildson, artista e poeta que investiga a história do Brasil, onde memória, esquecimento, identidade e a palavra são suas ferramentas para pensar em um futuro possível para o país, e para o povo brasileiro, “ainda em formação”. Atualmente morando em São Paulo, Hal Wildson é conhecido principalmente por seu trabalho com imagens criadas a partir de uma datilografia. “Re-Utopya” reúne sua produção inédita e recente, em vários suportes. Símbolos nacionais, máquina de escrever, digitais, primeiros registros históricos do povo brasileiro são usados neste processo crítico que compõe sua poética.

 

Sobre o artista

 

Hal Wildson (1991) artista multimídia e poeta, nascido no  Vale do Araguaia, região de fronteira entre Goiás e Mato Grosso. É conhecido pela pesquisa que envolve conceitos de escrita, identidade e a reconstrução de memórias coletivas e autobiográficas, atravessadas por questões sociais e políticas. A pesquisa sobre memória e esquecimento é a base de um trabalho que investiga a criação de territórios narrativos por meio de símbolos e documentos usados como ferramentas de construção e reconstrução no campo pessoal e coletivo. “Sou instigado por coleções documentais, técnicas escritas e materiais de documentação, pois acredito que os documentos são objetos que permitem a criação de narrativas simbólicas da memória, na esfera pessoal, criando ficções sobre a própria existência e em larga escala na fabricação da história de uma nação, uma vez que cada memória carrega consigo o peso do esquecimento – o que estamos esquecendo de contar?”

 

Sobre Clarissa Diniz

 

Clarissa Diniz (1985) nasceu em Recife e atualmente reside no Rio de Janeiro. É crítica de arte e curadora. Graduada em Lic. Ed. Artística/Artes Plásticas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ. Entre 2006 e 2015, foi editora da “Tatuí”, revista de crítica de arte. Publicou diversos livros e realizou curadorias, dentre as quais destacam-se “Contrapensamento selvagem” (cocuradoria com Cayo Honorato, Orlando Maneschy e Paulo Herkenhoff), Itaú Cultural, SP, “Zona tórrida – certa pintura do Nordeste” (cocuradoria com Paulo Herkenhoff), Santander Cultural, Recife, “Ambiguações”, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 2013, “Pernambuco Experimental”, Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, 2013, “Do Valongo à Favela: imaginário e periferia” (cocuradoria com Rafael Cardoso), Museu de Arte do Rio (MAR), 2014, “Todo mundo é, exceto quem não é” – 13ª Bienal Naifs do Brasil, SESC Piracicaba, 2016 e Sesc Belenzinho, 2017, e “Dja Guata Porã – Rio de Janeiro Indígena” (cocuradoria com Sandra Benites, Pablo Lafuente e José Ribamar Bessa), MAR, 2017. Foi curadora assistente do Programa Rumos Artes Visuais 2008/2009 (Instituto Itaú Cultural, São Paulo) e, entre 2008 e 2010, integrou o Grupo de Críticos do Centro Cultural São Paulo, CCSP.

 

Sobre Sandra Benites

 

Sandra Benites (1975) nasceu na aldeia Porto Lindo, no Mato Grosso do Sul, e hoje vive e trabalha entre o Rio de Janeiro e São Paulo. É curadora, educadora e pesquisadora Guarani-Nhandeva. De 2010 a 2013, foi professora de guarani na Associação Indígena Guarani e Tupinikin (AITG), escola indígena na aldeia Três Palmeiras, no município de Aracruz, no Espírito Santo. Benites é doutoranda em antropologia social pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Como curadora, se dedica à arte indígena – conceito bastante amplo, que engloba a produção de diferentes povos, etnias e culturas. Em 2017, juntamente com José Ribamar Bessa, Pablo Lafuente e Clarissa Diniz, foi curadora da exposição “Dja Guata Porã – Rio de Janeiro Indígena”, Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro. Em 2019, foi nomeada curadora adjunta de arte brasileira do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Tratou-se de um marco na história dos museus e da curadoria no Brasil, por ser a primeira curadora indígena a integrar a equipe curatorial de um museu de arte no país.

 

Sobre Érika Nascimento

 

Érika Nascimento (1988) nasceu em Belford Roxo, região da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, vive e trabalha na cidade do Rio de Janeiro. É Bacharel em Cenografia (EBA/UFRJ), Mestre em Cultura e Territorialidades (PPCULT/UFF) e doutoranda na linha Arte, Sujeito e Cidade (PPGARTES / UERJ). Possui MBA em Gestão Cultural (PECS/UCAM). Sua pesquisa está focada em questões territoriais, zonas fronteiriças e a ótica da resistência. Ao longo dos últimos quatro anos, atuou na gestão artística da galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea. Desde 2009 atua na co-gestão de projetos do Centro Cultural Donana, em Belford Roxo. Atualmente é gerente da galeria Movimento e sócia na Sotaque Carregado Artes.