MON realiza exposição do premiado artista Schwanke 

21/jun

 

 

O Museu Oscar Niemeyer, MON, Curitiba, Paraná, apresenta a exposição “Schwanke, uma Poética Labiríntica”, uma retrospectiva de Luiz Henrique Schwanke (1951-1992), desde a década de 1970 até as últimas produções, num total de mais de 150 obras, sendo boa parte inédita. A curadoria é de Maria José Justino.

 

 

“Ao realizar a exposição, que é inédita e foi idealizada especialmente para o espaço do Olho, o MON reverencia esse artista pesquisador tão importante que, com seu trabalho, explorou magistralmente as mais diversas linguagens, o que faz com que sua obra permaneça tão atual”, afirma a diretora-presidente do Museu, Juliana Vosnika. “Ao visitar a mostra, o público terá a oportunidade de encontrar um conjunto de obras múltiplas que permitem não apenas contemplar, mas que instigam”, comenta.

 

 

“Trata-se de uma retrospectiva de toda a produção de Schwanke desde 1976, percorrendo experiências múltiplas. Mais de 70% das obras apresentadas são inéditas, pertencentes ao acervo da família e de colecionadores”, explica Juliana.

 

 

A superintendente-geral de Cultura do Paraná, Luciana Casagrande Pereira, destaca a onipresença do artista no cenário das artes entre as décadas de 1970 e 1990. “Com a exposição em seu mais icônico espaço expositivo, o MON reconhece a importância desse profícuo e premiado artista, que viveu alguns anos em Curitiba, cidade que certamente o inspirou”, afirma Luciana.

 

 

O premiado artista tem em sua obra a singularidade de permitir diferentes abordagens e se estender por variadas formas, o que inclui desenhos, pinturas, livros, objetos, esculturas e instalações, num conjunto complexo e surpreendente.

 

 

“A obra de Schwanke é um campo de inquietação e desassossego e se constitui em um verdadeiro labirinto”, diz a curadora Maria José Justino. “Entrar em sua obra é um convite a percorrer caminhos que oferecem diversas linguagens e, quando acreditamos encontrar a saída, não passa de novas sendas para outras rotas, outras paragens e novos sentidos”, afirma.

 

 

A exposição “Schwanke, uma Poética Labiríntica”, realizada pelo MON, conta com o apoio do Instituto Luiz Henrique Schwanke.

 

 

Linguagem abstrata

18/jun

 

 

 

Em homenagem aos 70 anos da I Bienal Internacional de São Paulo, evento artístico significativo como a Bienal de Veneza e a Documenta de Kassel, e, decisivo, como principal ponto de conexão da arte brasileira com a internacional, a Pinakotheke, Morumbi, São Paulo, SP, faz um recorte específico sobre o movimento da abstração no Brasil.

 

 

A exposição destaca artistas exponenciais que obtiveram relevância no país e no exterior como Antonio Bandeira, Bruno Giorgi, Iberê Camargo, Ivan Serpa, Jorge Guinle, Manabu Mabe, Maria Polo, Samson Flexor, Tomie Ohtake, Wega Nery e Yolanda Mohaly.

 

 

“Em geral, entende-se como abstração toda atitude mental que se afasta ou prescinde do mundo objetivo e de seus múltiplos aspectos. Refere-se, por extensão, no que tange à obra de arte e ao processo de criação, suas motivações e origens, a toda forma de expressão que se afasta da imagem figurativa”, assinala Luiz Fernando Marcondes, in “Dicionário de Termos Artísticos”, Ed. Pinakotheke, RJ, 1998.

 

 

Antes da I Bienal, a abstração já se instalara no Brasil e a tendência na busca de formas abstratas mostrou-se  definitiva. Em 1945, ocorreu a “II Exposição Francesa” em São Paulo, mostrando um novo tipo de procedimento artístico. Em 1946 Samson Flexor instala-se na cidade e mantém intensa atividade didática e, em 1951, organiza o “Atelier Abstração”. Em 1948, Jorge Romero Brest profere seis conferências sobre as tendências contemporâneas da arte, com foco na arte abstrata. Em 1949, Bandeira desponta em Paris; o MAM-SP é inaugurado com a exposição “Do Figurativismo ao Abstracionismo”, tendência à qual estava filiado Leon Degand, primeiro diretor do MAM-SP e Waldemar Cordeiro cria o “Art Club”, para promover o intercâmbio internacional de arte. Em 1950 o MASP faz uma grande exposição de Max Bill, importante personagem na corrente abstrata.

 

 

A crítica de arte Lisbeth Rebolo Gonçalves ao observar as primeiras exposições da Bienal de São Paulo, comentou: “… a V Bienal significou a culminância de aceitação, tanto por parte dos artistas como dos críticos componentes dos júris de seleção, da abstração como a palavra de ordem internacional”

 

 

Apresentada na Pinakotheke São Paulo durante a SP-Arte 2021, a exposição ficará em cartaz até o dia 25 de Julho.

 

 

Planeje sua visita:

Pinakotheke São Paulo

Rua Ministro Nelson Hungria 200 | Morumbi São Paulo

11-3758-5202 – contato@pinakotheke.com.br

 

Escrito no corpo

 

 

Com curadoria de Keyna Eleison e Victor Gorgulho, a Tanya Bonakdar Gallery, Nova York, apresenta de 25 de Junho até 30 Julho, uma exposição coletiva com obras de Abdias Nascimento, Agrippina R. Manhattan, Antonio Tarsis, Ayrson Heráclito, Carla Santana, Davi Pontes & Wallace Ferreira, Diambe, Dona Cici, Efrain Almeida, Herbert de Paz, Marcia Falcão, Melissa de Oliveira, Moisés Patrício, Panmela Castro, Paulo Nazareth, Rodrigo Cass e Sonia Gomes.

 

 

Tanya Bonakdar Gallery e Fortes D’Aloia & Gabriel têm o prazer de apresentar “Escrito no corpo”, na Tanya Bonakdar Gallery. A coletiva é um desdobramento da pesquisa realizada para a mostra homônima ocorrida na Carpintaria, Rio de Janeiro, em 2020. A exposição costura as produções de jovens e consagrados artistas brasileiros com o acervo fotográfico do Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado e dirigido por Abdias Nascimento (1914 -2011). “Escrito no Corpo” toma parte do acervo fotográfico do TEN como marco e ponto de partida para a discussão de questões relacionadas à raça, identidade e corpo. Em uma época em que experiências de injustiça e racismo sistêmico se tornaram áreas cada vez mais urgentes de investigação cultural, esta exposição estabelece um diálogo entre as histórias de raça e representação em ambos os países, enfatizando as especificidades e circunstâncias que tanto as aproximam quanto as diferem O legado multidisciplinar de Nascimento, que desenrolou-se nos campo da arte, da política e do meio acadêmico, torna-se evidente na mostra também pela exibição de duas de suas pinturas – Composição n. 1 e Frontal de um tempo -, datadas do início da década de 1970 e produzidas em território norte-americano. Autoexilado do Brasil em 1968, quando uma ditadura militar esteve em curso no País, o artista viaja aos Estados Unidos – apoiado pela Fundação Fairfield – com o objetivo de realizar um intercâmbio entre os movimentos norte-americano e brasileiro na promoção dos direitos civis da população negra. Nessa época torna-se professor emérito da Universidade do Estado de Nova York, em Buffalo, EUA, aprofundando também seu interesse pela pintura. Para Abdias, a representação visual de signos e divindades ligadas às religiões afrobrasileiras se mostra um poderoso instrumento de comunicação não apenas com seu entorno, em um plano terrestre, como também com realidades extrafísicas, planos espirituais. Abdias retorna ao Brasil somente em 1978. Abdias Nascimento fundou o Teatro Experimental do Negro no Rio de Janeiro em 1944, com o propósito central de reivindicar espaço para pessoas negras no teatro da época. A estratégia inicial de apropriação do teatro como espaço de poder, revela-se um tanto mais tentacular e amplia-se em novas frentes de articulação. O TEN foi pioneiro em organizar, por exemplo, cursos de alfabetização, frentes trabalhistas e até concursos de beleza que enalteciam a cultura negra em uma sociedade profundamente racista, apesar de ainda pautada pelo mito da “democracia racial”. As atividades do TEN encerraram-se em 1961, mas o pensamento de Abdias continuou a ecoar nas décadas seguintes e até hoje. “Escrito no corpo” toma como ponto de partida parte do acervo fotográfico do TEN para discutir questões ligadas à raça, identidade e corpo. A dimensão narrativa do corpo aparece em vários trabalhos da mostra, especialmente nas foto-performances de Antonio Tarsis, Ayrson Heráclito e Carla Santana. Através de diferentes abordagens, suas obras partilham a ideia de uma escrita de si através do ato performativo. A fotografia de Melissa de Oliveira, por sua vez, caminha em via oposta ao arquitetar um olhar sobre o outro, entendendo a fotografia como exercício de alteridade e construção de subjetividade em retratos realizados no Morro do Dendê, um complexo de comunidades na periferia do Rio de Janeiro, onde nasceu e vive. Obras em vídeo também servem de suporte para gestos performáticos, seja na busca por seu próprio reflexo empreendida por Rodrigo Cass em Narciso no mijo, ou na documentação da ação Devolta, de Diambe, em que a artista coreografa um círculo de fogo ao redor do monumento público em homenagem à Princesa Isabel, figura da família imperial brasileira responsável pela assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no país, em 1888 – 23 anos depois dos Estados Unidos. Se a atitude de Isabel foi digna de homenagem em praça pública, no Rio de Janeiro, seu papel histórico é, há muito questionado como apenas um gesto ilustrativo que não oferecia perspectiva para o modelo escravagista no país, à época. Já o filme de Davi Pontes & Wallace Ferreira reflete sobre a racialidade e flerta com a física quântica em uma performance que se instaura em um território híbrido entre a dança e a autodefesa. A problematização em torno do imaginário colonial também aparece na obra de Herbert de Paz, em que o artista preenche a silhueta de uma figura indígena com imagens retiradas da revista História do Brasil, editada há décadas pela Biblioteca Nacional, perpetuando uma narrativa histórica forjada no seio do colonialismo. As esculturas de Paulo Nazareth reafirmam a negação da lógica colonial e imperialista. O corpo enquanto narrativa encarnada reaparece nas pinturas de Márcia Falcão, Moisés Patrício e Panmela Castro. Ao passo em que as obras de Falcão usam o corpo feminino como significante de violência e também de liberdade nas esferas público e privada, as pinturas de Castro são retratos de pessoas próximas à artista que se dispuseram a posar à noite, em vigília comum, durante a pandemia do Covid 19. Os personagens das telas de Patrício, por sua vez, incorporam a ancestralidade do candomblé, uma das vertentes da religiosidade afro-diaspórica mais fortes no Brasil. A relação entre a representação do corpo e a religiosidade é temática frequente também na produção de Efrain Almeida, cujas esculturas de madeira e bronze compreendem o imaginário popular do Nordeste do Brasil, onde o artista nasceu. O interesse por materiais cotidianos marca o fazer escultórico de Sonia Gomes, cuja gaiola envolta por pedaços de tecidos torcidos sugere a liberdade almejada pela frase de autoria de Agrippina R. Manhattan, em sua obra de led: Antes de caírmos, nos tornaremos o sol. Agradecimento especial à Elisa Larkin Nascimento e ao IPEAFRO (Instituto de Pesquisas e Estudos Afrobrasileiros).

 

 

Tanya Bonakdar Gallery 521 West 21st Street New York, NY 10011

 

Simões de Assis na SP-Arte

11/jun

 

 

Schwanke, pintor, desenhista, escultor, ator, dramaturgo, cenógrafo e publicitário é o destaque da Galeria Simões de Assis. Formado em comunicação social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), foi autodidata em desenho, pintura e escultura. Desde o fim dos anos 1970, teve presença constante em exposições e salões nacionais, destacando-se com diversas premiações. Em 1980, realiza mostra individual na Galeria Sérgio Milliet, na Funarte do Rio de Janeiro. Em 1989, apresenta trabalhos tridimensionais e seriados no Museu de Arte de Joinville, inclusive instalando algumas obras em espaços públicos. Participa da 21ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1991, com o projeto Cubo de Luz – escultura feita a partir de um imenso feixe luminoso.

 

 

Foi através de seus desenhos, pinturas, esculturas e instalações, que Schwanke desenvolveu uma constante reflexão sobre o lugar da arte no mundo contemporâneo. Ele articula procedimentos característicos da pop art, do conceitualismo e do minimalismo, tais como a citação de obras paradigmáticas na história da arte; o seu interesse pela dicotomia entre claro e escuro (uma influência direta à obra do pintor italiano Michelangelo Caravaggio); e a apropriação e criação em série de imagens e objetos industrializados.

 

 

No conjunto de desenhos e pinturas intitulado Linguarudos, produzido na segunda metade dos anos 1980, o artista apresenta centenas de variações de um mesmo perfil masculino enraivecido, com a língua e dentes à mostra, gritando ou vomitando. Alguns são feitos sobre páginas de jornal ou folhas de livros contábeis, incorporando os elementos gráficos e as manchetes no plano pictórico. Com traços e as pinceladas profundamente gestuais e espontâneos, seus trabalhos são carregados de uma vibração corporal intensa, como se não houvesse intermediação entre o impulso que os gerou e a imagem final.

 

Latinidade no MALBA

07/jun

 

 

A mostra “Fuora de serie” no MALBA, Buenos Aires, Argentina, propõe um diálogo entre duas artistas latino-americanas unidas no mesmo ponto criativo: o trabalho e a redefinição dos limites da pintura. Por meio de procedimentos e conhecimentos sobre pintura – e também sobre cultura urbana, arte moderna, design e natureza -, Leda Catunda (São Paulo, 1961) e Alejandra Seeber (Buenos Aires, 1968) produzem obras que absorvem tudo ao seu redor.

 

 

Exibem imagens de uma beleza estranha que aparecem entre camadas de tecidos, pinceladas e espaços alterados. Atendendo a este fio condutor que conecta cenas culturais e épocas distintas, a exposição reúne obras, estudos, esquetes e documentos históricos e recentes que permitem enfocar os seus percursos iniciados entre as décadas de oitenta e noventa no caso de Catunda e no final dos anos noventa para Seeber. Da mesma forma, no âmbito da exposição, será desenvolvido um programa público de palestras, workshops e ativações para pensar os modelos e discursos artísticos que foram determinantes nesta genealogia da arte contemporânea.

 

 

Curador: Francisco Lemus.

 

 

Até 09 de agosto.

 

 

Di Cavalcanti, Muralista

04/jun

 

 

Esta exposição inédita organizada pelo Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, com curadoria de Ivo Mesquita, busca enfatizar a produção de murais e painéis de Di Cavalcanti (1897, RJ – 1976, RJ), dedicada à gente brasileira, como toda a sua obra. A brasilidade moderna de Di Cavalcanti está impressa nos 23 trabalhos dispostos em ordem cronológica “de 1925 a 1950” e “de 1950 a 1976”, nos quais pode-se perceber como vai sendo construída a sua figuração, as estratégias no implante das composições, as elaborações formais da sua plástica para essa arte.

 

 

A mostra, patrocinada pelo Bradesco, traz os painéis “Trabalhadores” (óleo sobre tela, 1955) e “Brasil em 4 fases” (óleo sobre tela, 1965) e mais 19 pinturas (óleo sobre tela) em grandes dimensões que aludem à mesma técnica e temas utilizados pelo artista para a composição de murais e painéis. Entre as pinturas exibidas estão “Serenata” e “Devaneio”, ambas de 1927, que preconizaram o primeiro mural modernista brasileiro, criado por Di em 1929 para o Teatro João Caetano, o díptico “Samba e Carnaval”, representado na mostra por duas reproduções em vinil na mesma escala. Para que o público possa identificar essa produção, quase impossível de ser transportada, a exposição conta com uma linha do tempo que recupera datas e locais em que as peças foram instaladas.

 

 

Conforme a pesquisa de Mesquita, após os murais para o Teatro João Caetano – que ainda permanecem lá -, Di Cavalcanti realiza mais três outros na década de 1930: no Cassino do Quartel do Derby, no Recife, na Escola Chile, no Rio de Janeiro, ambos em 1934 e pintados diretamente na parede, e o painel para o Pavilhão da Cia. Franco-Brasileira de Cafés na Exposição Internacional de Artes e Técnicas na Vida Moderna, em Paris. Este último parece estar desaparecido, mas ganhou medalha de ouro no evento enquanto o do Cassino do Derby foi destruído pelos militares em 1937, período em que o artista depois de preso, exilou-se na França (1936 e 1940). A grande produção dessa arte por Di Cavalcanti se desenvolve no início da década de 1950, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com a rápida industrialização do país e a construção de um Brasil moderno e democrático.

 

 

Como aponta o curador, Di Cavalcanti no lugar da retórica dramática de outros muralistas seus contemporâneos, privilegiou narrativas líricas e sensuais, em formas e cores exuberantes. “Sejam esses murais paisagens com mulheres, pescadores, operários, malandros ou candangos, em situação de festa ou trabalho, transmitem sempre certa leveza em levar a vida, a despeito da realidade social que evocam. É o artista inserido no coletivo, reconhecendo-se como parte dele. Di Cavalcanti foi um grande vocal da gente das ruas, dos mercadores e trabalhadores urbanos – incluindo as prostitutas –, de suas famílias, pequenas alegrias, afetos, tragédias e desejos”.

 

 

Debruçado sobre a obra de Di Cavalcanti, Mesquita em seu ensaio para a exposição reflete, entre vários aspectos, sobre a relação do artista com os muralistas mexicanos, Diego Rivera, Orosco e Siqueiros, iniciada em 1922 no Rio Janeiro, um ano antes de sua primeira viagem à Paris, assim como com seu contemporâneo Portinari. “Portinari configura o pintor heroico, solitário, militante, comprometido com a gente humilde e despossuída, narrador eloquente da injustiça e da desigualdade, que morre envenenado pelo chumbo de suas tintas. Di Cavalcanti, por sua vez, foi um artista boêmio, o pintor das mulatas, do samba, do carnaval e das festas populares, num mundo de formas sensuais, perverso, que, a seu modo, provocava o maniqueísmo moralista das normas e regras sociais. Dono de uma alma brejeira, hedonista, é o trovador da mestiçagem, o pintor que dá visibilidade à vida dos invisíveis, à força de trabalho suburbana na base da sempre desigual sociedade brasileira.”

 

 

Segundo o crítico ainda, o caráter figurativo da produção de Di Cavalcanti destinada aos edifícios e espaços públicos, com base no programa do Muralismo histórico, representava um esforço contrário aos programas da arquitetura moderna, racional e funcionalista, que se desenvolveu no Brasil sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial, e que se associava a uma arte abstrata, autônoma, sem narrativas, que se integrasse à lógica da forma e do espaço. “Daí que, talvez por conta disso, entre o final dos anos 1940 e a década de 1960, seus painéis e murais tenham sido mais encomendados para projetos em edifícios particulares do que da administração pública”, completa.

 

 

 

Bruno Miguel na Kogan Amaro

01/jun

 

A Galeria Kogan Amaro, São Paulo, SP, exibe de 05 de junho até 17 de julho, “A Beautiful Image”, a nova exposição de Bruno Miguel.

 

 

 

Texto de Ulisses Carrilho

 

 

Smile at least / You can’t say no to the Beauty and the Beast

                                                                                David Bowie

 

 

Palavras ou imagens são sempre provocações. O inconsciente não cessa de se inscrever: o fabulado e o imaginado se fazem presentes a cada salto dado pelo sujeito. No fluxo contrário, o real não se deixa inscrever – esgueira-se, escapa e acontece no mundo. Faz-se perceber na vida da matéria, apresenta-se como fenômeno sentido. Na pintura de Bruno Miguel, entre os códigos dos quais lança mão e as fartas doses de cor, em tinta e objetos, sobre a superfície de suas pinturas, há também uma dupla ocorrência: de maneira flagrante, percebemos um artista que apresenta hipóteses à história da pintura e, concomitantemente, a um regime das imagens que não acontece apenas no entorno do objeto de arte, mas no campo ampliado das visualidades. O título da mostra, tomado por empréstimo da inscrição na pintura que abre a exposição, deixa essa relação evidente: falemos sobre a imagem.

 

 

Muito embora o artista perambule por referências biográficas em seu trabalho, essa vontade não é memorial, não resulta do desejo de versar sobre um mundo particular do indivíduo. Parece lembrar que a matéria primeira da arte se constitui justamente por um salto entre uma imagem que é criada e outra que é percebida. Bruno Miguel é professor na Escola de Artes Visuais do Parque Lage há mais de uma década e é flagrante o seu interesse em elaborar uma pesquisa poética que investiga a formação de um certo olhar: o artista busca apurar uma sensibilidade em relação às imagens que já estão no mundo. Em outra oportunidade, seria interessante apurar essa hipótese à luz de sua série “Marina Ajuda Bruno”, que merece atenção e oportunidade de exposição, pois levanta uma discussão urgente que reajusta não apenas a ideia de função na arte, mas também a problemática noção da qualidade. Será que, frente a uma sociedade corrompida pelo excesso, pela saturação, pelo espetáculo e pela excludente e elitista ideia de que haveria, a priori, um “bom gosto”, as visualidades não apuradas pelo sistema artístico mereceriam menor oportunidade de investigação?

 

 

No discurso do artista, nota-se insistentemente ganas de versar sobre um mundo externo a ele: sobre imagens que o circundam, imagens de objetos que coleciona, mas que estão também impregnadas no seu corpo. Tais imagens não são convocadas pelo artista por um simples interesse de representação das mesmas no campo pictórico. Bruno Miguel explora, por meio da pintura, as imagens de um mundo fraturado pela desintegração; acelerado pelo entretenimento; enganado pela promessa da globalização.

 

 

Muitos dos objetos impregnados nas camadas de tinta sobre tela ou nas resinas que aludem às diferentes configurações de plásticos-bolhas são objetos de consumo: patches comprados em larga quantidade, indiscriminadamente, em plataformas de compra na Internet. De origem militar, usados desde os anos 1800 na Inglaterra, para fins bélicos, os patches começaram a se popularizar na década de 1930, como forma de identificar exércitos e patentes ­– questões da ordem de pertencimento. No final dos anos 1950 e nos primeiros anos da década de 1960, foram adotados por “adolescentes rebeldes” na baila do movimento MOD, que teve origem em Londres, na Inglaterra. O símbolo usado pelo movimento, um alvo, é originário do símbolo usado nos aviões da RAF, braço aéreo das forças armadas do Reino Unido, durante a Segunda Guerra Mundial. E foi assim que eles foram introduzidos na indumentária do rock’n’roll, onde se popularizaram na cultura popular. Rapidamente os patches começaram a ser veículos para expor ideias, posição política e amor por bandas. Os pequenos objetos são espécies de escudos que operam culturalmente, gerando pertencimento e denotando ou confrontando identificações. Tais emblemas são partes fundamentais dos trabalhos que vemos na mostra.

 

Em “Against Interpretation”, livro de Susan Sontag, no seu ensaio “One Culture and the New Sensibility”, encontro linhas em ricochete à profusão dos tais caminhos concomitantes que dão corpo às pinturas de Bruno Miguel. A arte é compreendida como um instrumento que modifica nossa consciência e organiza novos modos de sensibilidade. Viveríamos, segundo a autora, uma asfixiante pressão pela interpretação, que aniquila nossa sensibilidade a partir de uma visão causal, lógica, reacionária e interpretativa do mundo. Tal ideia cientificista, segundo algumas das hipóteses de Sontag, invadiram o campo artístico-literário na modernidade. Como resistir à lógica e confiar naquilo que sente o indivíduo perante um estímulo? É possível superar a ideia de gosto e gozar com o que o corpo vê, percebe e sente?

 

 

Na série de pinturas que vemos, o artista oferece, em telas, campos cromáticos repletos de referências a um mundo que, apesar de não ser externo à arte, é frequentemente subestimado por artistas, em nome de uma sofisticação e de um apuro intelectual. Com sorte, a pintura de Bruno Miguel insubordinadamente resiste a essa ideia, instaurando um campo onde é possível elaborar outras hipóteses, outrora já afirmadas pelos teóricos da cultura: uma ideia de cultura mais generosa, encharcada de complexidade, pouco binária. As várias manifestações da cor e da forma eclodem na tela sem a pretensão de confirmar a tradição, mas de atualizar os problemas nela elaborados. Suas estratégias artísticas, no entanto, também não desconfiam da pintura. Ao contrário disso, o artista ostensivamente confia nesse procedimento.

 

 

Não à toa, este texto começa pela inscrição e pela irrupção daquilo que não se deixa inscrever. Nas inscrições pintadas pelo artista, ele constitui imagens. As palavras apresentam-se como elementos visuais que integram, de maneira fundamental, a composição dos trabalhos. Sontag, nos anos 1960, colaborou para a compreensão de que a arte produzida naquele momento valia-se de elementos produzidos pela sociedade de consumo menos por um simples interesse visual, mas sobretudo para criar a oportunidade de que nós, o público, possamos reconfigurar nossos próprios critérios preconcebidos a respeito do que pode ou não ser considerado arte. Não há outro modo de terminar este texto: mas, afinal, o que é a beautiful image?

 

 

 Sobre o artista

 

 

Nasceu no Rio de Janeiro, 1981.Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Bruno desenvolve desde 2004 sua pesquisa em torno da construção e da representação da paisagem na contemporaneidade, atuante em diversas linguagens, o mesmo elege a pintura como tema principal de sua rotina obsessiva de produção. Nos últimos anos as questões acerca da paisagem começaram a dar lugar a uma investigação maior da pintura como linguagem e suas interfaces na vida cotidiana contemporânea. Mas acima de qualquer retórica que Bruno desenvolva para justificar suas opções, a verdadeira força de sua pesquisa está no trabalho. Não na obra em si, mas na labuta do atelier, onde sua curiosidade e inquietação fazem com que sua pintura se mantenha em transformação. Onde suas compulsões buscam erros ansiosos por soluções imprevisíveis, tão generosas que se escondem por trás do deslumbre banal das imagens fáceis. Sua pesquisa é um tipo de pós-pop periférico, sempre relacionando alta e baixa cultura. Uma maquiagem vulgar e exuberante que superficialmente disfarça sua condição de eterna busca pela beleza. Não da pintura, mas do pintar.

 

Dois na Capa e Contracapa

25/mai

 

A Anexo LONA, Centro, São Paulo, SP, recebe (de 29 de maio a 28 de julho) exposição, com curadoria e conceito de Marcio Harum – “CAPA e CONTRACAPA” – cuja sugestão de unicidade, é “2”. O espaço abre as mostras simultâneas dos artistas Fabio Menino e Viviane Teixeira que exaltam o pictorialismo, cada um à sua maneira, utilizando-se da técnica de representação artística mais antiga do mundo: a pintura. O conceito expositivo pensado por Marcio Harum subverte paradigmas uma vez que o conteúdo é sempre buscado no miolo e não nas capas e contracapas.

“As duas exposições individuais simultâneas (…..) irrompem no espaço como som, com dois lados dissonantes, mas complementares. A proposição surge movida pela inspiração gráfica do ato de se criar uma incerta e possível ligação tátil; como frente e verso de um álbum musical, em que pinturas exibidas nas paredes são as próprias gravações sonoras” explica o curador.

CAPA, com a artista plástica carioca Viviane Teixeira, permite um passeio por seu universo pictórico ficcional, onde uma corte fantasiosa possui figuras femininas como soberanas. Referências históricas da Família Real Brasileira, games, contos dos irmãos Grimm, as cartas de baralho, os jogos de tabuleiro, o jogo de xadrez, músicas, músicos, livros e artistas como Philip Guston, Paula Rego, Louise Bourgeois, Pia Fries, Laura Lima, Cristina Canale, etc., permeiam os questionamentos que gestam a obra. “Tais questões estão vinculadas às escolhas cromáticas contundentes, aos objetos associados ao desenho e às formas híbridas e fluidas que remetem a cenas e personagens arquetípicos saídos dos contos de fadas e que travam intensos duelos e diálogos”, diz Viviane Teixeira.

“A produção da artista vem sendo publicamente acompanhada mais de perto desde sua participação no edital Programa de Exposições do CCSP em 2015, e de lá pra cá tem marcado em suas obras de pintura uma vívida sucessão de alter egos e avatares anacrônicos, estando fixados em uma mise-­‐en-­‐scène bastante singular de cenários e figurinos voltados aos jogos, rituais, hábitos e costumes de outrora”, diz Marcio Harum.

Em “CONTRACAPA”, o artista paulistano Fabio Menino apresenta telas figurativas com forte apelo realista onde as cores e formas definidas de objetos do cotidiano, ou não, mas conhecidos e quase comuns, produzidos em escala industrial, mas agora vistos por suas funções, significados e potencias pictóricas. As escolhas não são aleatórias. Os objetos representados por Fabio Menino possuem um ponto de convergência. Como explica o artista: “são suas funções: de proteção, segurança ou mesmo como ferramenta; executando um papel que um coro sozinho não pode realizar”.

“Há entre o conjunto de telas do artista uma menção a ‘99,00’ -­‐  se tal cifra é sobre o preço da carne, o valor de materiais artísticos ou um mal-­‐entendido visual qualquer,na realidade não importa. Com a seleção exposta de pinturas, a indagação que fica acerca do vínculo identitário com o mundo físico das imagens de Fabio Menino traduz-­‐se por ser pura ficção, ou não”, elucida Marcio Harum.

Sobre o curador

Marcio Harum vive em São Paulo. Trabalha na interseção entre curadoria, programas públicos e educação. Coordenou o programa “CCBB – Arte e Educação” no Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo, entre 2018 e 2020. Foi curador de artes visuais do Centro Cultural São Paulo entre 2012 a 2016 e dirigiu o programa “experiências dialógicas” no Centro Cultural de España, São Paulo, entre 2009 a 2011. Tem participado de comissões julgadoras dos mais diversos editais de artes visuais do país. Vem realizando cursos, interlocuções, laboratórios e acompanhamentos artísticos em diversos formatos on-line. Integra o comitê curatorial da 1ª Bienal de Arte Contemporânea SACO no Chile.

Sobre os artistas

Fabio Menino vive e trabalha em São Paulo. Bacharelando em Arte e Design na Universidade Federal de Juiz de Fora-MG. Possui cursos de apoio e aperfeiçoamento em artes plásticas – Arte no Brasil, Relatos Alternativos | Tadeu Chiarelli; Arte Contemporânea | Pedro França; Conversa Circular | Leda Catunda (Instituto Tomie Ohtake, SP); Arte Contemporânea: História | Mirtes Marins, entre muitos, além de atuar como assistente direto de artistas como Stephan Doitschinoff, Paulo Nimer PJ e Hildebrando de Castro. Em sua trajetória artística, participou de mostras coletivas em galerias e instituições, tais como Cartografias , Instituto de Artes e Design, UFJF , Juiz de Fora-MG, SAV – Salão de Artes Visuais de Vinhedo, Vinhedo-SP, 15º Salão Nacional de Arte de Jataí, Museu de Arte Contemporânea de Jataí – Jataí-GO, Prêmio aquisitivo – 45º Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto, Santo André-SP, 26º Salão de Artes Plásticas de Praia Grande, Praia Grande-SP, 44º SARP – Salão de Arte de Ribeirão Preto Nacional – Contemporâneo – MARP, Ribeirão Preto, SP, Mostra de Arte da Juventude-MAJ – SESC Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, SP, Sauna Mística – Galeria AM – São Paulo, SP, Casa Carioca – MAR | Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, RJ.

Viviane Teixeira vive e trabalha no Rio de Janeiro. Bacharel em Pintura pela EBA, UFRJ (2003) e cursou EAV do Parque Lage, RJ (2004-12). Foi selecionada para as exposições individuais: The Queen seated inside her Castle – A Rainha Suplente, Capítulo II, CCSP/SP (2015-16) e The Queen seated inside her Castle – A Sala do Trono, Paço Imperial, RJ (2016) e para as coletivas: Arte Londrina 7 (2019), 14° Salão de Artes de Itajaí, SC (2018), 18° Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, Panoramas do Sul, Sesc Pompéia, SP (2013-14), 4° Salão dos artistas sem galeria, Zipper Galeria e Casa da Xiclet, SP (2013), 36° SARP, Salão de Arte de Ribeirão Preto Nacional-Contemporâneo, SP (2011), 17° Salão UNAMA de Pequenos Formatos, Galeria de Arte Graça Landeira, Belém, PA (2011), Abre Alas 5, Galeria A Gentil Carioca, Barracão Maravilha, RJ (2009), Artistas selecionados na Universidarte XIV, Intervenção no Museu da República, RJ (2007), Novíssimos 2007, Galeria de Arte IBEU, RJ e Selecionados Universidarte XIV, Casa França-Brasil, RJ (2006) além de participar de outras exposições em galerias e centros culturais no Brasil ao longo desses anos, como a individual As múltiplas faces da Rainha, na Galeria Movimento,RJ (2017).

Projeto “INTERAÇÕES 3”

13/mai

 

 

 

O projeto “INTERAÇÕES 3” chega à sede da LONA Galeria, Barra Funda, São Paulo, SP, com quatro forças artísticas do movimento e permanecerá em cartaz entre 15 de maio  e 24 de julho. São 15 trabalhos de Daniel Mello, Gustavo Aragoni, Lucas Quintas e Sueli Espicalquis. Em uma seleção que inclui pinturas, desenhos e objetos, onde “o universo abstrato norteia o trabalho destes quatro artistas e o movimento é a linha condutora do processo. Os trabalhos deste grupo têm uma pulsação que é capaz de fazer o visitante ser engolido pelas composições”, explica Duilio Ferronato, coordenador do projeto.

 

 

A pintura abstrata de Daniel Mello explora a relação e ressonâncias produzidas entre contrastes de cores, formas e texturas. Inspirado pela pluralidade de formas da arquitetura e pelas marcas de ocupação e transgressão humana, como o vandalismo e a pichação, utiliza diferentes mídias em conjunto, como tinta óleo, acrílica e spray sobre tela, papel e madeiras de descarte. A composição da pintura acontece em camadas onde a obra é resultado de um jogo de construção e desconstrução de formas. Já, Gustavo Aragoni possui um processo de criação que se desenvolve a partir de um encontro, de uma relação de forças entre o seu corpo e o corpo dos materiais disponíveis. Não há um plano totalmente pré-determinado, a criação surge de um caos, de uma tensão, de um fluxo de movimentos que se dá em função do contexto de espaço e tempo.

 

 

Lucas Quintas desenvolve trabalhos em diferentes mídias como desenhos, pinturas, esculturas e instalações. Sua pesquisa gira em torno dos materiais, onde explora questões como continuidade, tensão, leveza, rigidez e equilíbrio. Procura subverter seu uso, tentando controlar o incontrolável e transmitir de forma natural. Por meio de fenômenos óticos seus trabalhos são produzidos nas retinas dos espectadores. Com Sueli Espicalquis, construção e apagamento são presentes no processo de trabalho, com sobreposição de camadas, tendo interesse em vincular a cor à materialidade de tinta a óleo, com variações dadas pela mistura de cera de abelha e solventes.  As imagens resultantes da justaposição de cores, numa geometria apropriada e formas orgânicas, remetem a paisagens vistas através de mapas digitais.

 

 

Reunidos pela primeira vez em um mesmo espaço expositivo, os próprios criadores dão sua visão de como seus trabalhos conversam entre si. Daniel Mello “Apresento uma série de pinturas/desenhos abstratos (….) sempre flertando com as potências que nascem das relações e contrastes entre cores, formas e símbolos”, define Daniel Mello. As pinturas de Sueli Espicalquis “a guache e óleo sobre tela, com formas orgânicas e/ou de uma geometria apropriada, com ênfase na cor e fatura pictórica, dada pela mistura de solventes à espessa tinta a óleo, sobrepondo camadas de tinta, de forma que construção e apagamento de imagens convivem; assim, suponho haver interação (diálogo), entre essa e a produção dos artistas”. Para Gustavo Aragoni, “Meus trabalhos falam de gestualidade, de materialidade, de desenho e sobretudo, de processualidades. Acredito que estes sejam elementos comuns à prática dos artistas que participam da exposição e nesse sentido é possível se criar uma relação entre os trabalhos, que juntos podem produzir um efeito estético diverso, mas conceitualmente aproximados”. Por outro lado, Lucas Quintas explica: “Meu trabalho possui algumas interações, mas acredito que a com o espectador seja a mais relevante, pois através da sua movimentação ele se torna o fio condutor de novas descobertas de cores, e imagens, sendo a transformação da cor no tempo e espaço.”

 

 

Projeto INTERAÇÕES

 

 

Por falta de imunidade, foram excluídas as possibilidades de encontros. A simples perspectiva de interação sugere contaminação.” As relações dos últimos 2 anos entre os artistas da Lona Galeria têm se mostrado fecundas e incomuns. O grupo vem mantendo constante contato, trocando ideias e analisando ações mútuas. O contato artístico é tanto antropofágico como apropriador; basta um olhar e a transformação já principia. Artistas se contaminam de propósito com ideias, imagens e conversas. Não há lugar para barreiras. Os processos artísticos interessam tanto quanto o resultado e, as provocações constantes que surgem de todas as partes, sejam na área criativa ou comercial, nos mantém em alerta constante”, explica o coordenador Duílio Ferronato.

 

 

Com “INTERAÇÕES”, pretendem discutir os processos e alcançar uma nova etapa de amadurecimento artístico, institucional e comercial. “Os 2 primeiros anos nos mostraram diversas possibilidades, que firmamos nossa convicção de que incentivar o processo artístico é o que nos deixa animados para os próximos lances.” LONA Galeria

 

 

Amilcar de Castro: na dobra do mundo

05/mai

 

Cerca de 120 obras do artista plástico neoconcretista e designer gráfico Amilcar de Castro passam a compor as instalações internas e externas do MuBE (Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia), São Paulo, SP. A exposição “Amilcar de Castro: na dobra do mundo” é uma homenagem ao centenário do multifacetado artista, que integra o rol dos maiores expoentes brasileiros na arte e cultura, acumulando títulos como o prêmio da Fundação Guggenheim e Prêmio Nacional da Funarte. A mostra é gratuita e pode ser visitada mediante agendamento prévio.

 

 

Dentre a seleção de trabalhos de Amilcar, há obras inéditas como a escultura horizontal, composta por duas partes, da década de 1990, disposta debaixo da marquise do MuBE, e a alta e esbelta escultura, sem título, também da década de 1990, instalada na grama do jardim do museu. Outro destaque é a participação da escultura, sem título, de 1999, com gigantescas dimensões (18 metros de altura e mais de 20 toneladas), pertencente à Universidade de Uberaba (MG) que, pela primeira vez, percorre mais de 480 km para ocupar novo lar temporário no MuBE.

 

 

A mostra é realizada em parceria com o Instituto Amilcar de Castro e conta com a curadoria de Guilherme Wisnik (professor da FAU-USP, crítico de arte e curador), Rodrigo de Castro (filho do artista e diretor do Instituto Amilcar de Castro) e Galciani Neves (curadora-chefe do MuBE). “É realmente uma honra comemorar o centenário de Amilcar em um museu que conversa tanto com a proposta de trabalho do artista. É o encontro da instituição com as obras neoconstrutivas que remontam à universalidade da arte”, celebra Rodrigo de Castro, destacando que as obras sempre estiveram conectadas ao urbanismo.

 

 

Outro ineditismo da exposição é a interação entre o trabalho de Paulo Mendes da Rocha (arquiteto responsável pela concepção do MuBE) e Amilcar de Castro. “O contraste entre a horizontalidade do prédio e a verticalidade das esculturas de aço corten de Castro resultam em uma fricção única entre arte, arquitetura e história”, destaca Guilherme Wisnik, especialista em arquitetura, urbanismo e artes visuais.

 

 

 

As obras estão expostas no pátio do MuBE, ao ar livre, e chamam a atenção de quem passa despretensiosamente na rua pelo lado de fora, mas também atraem quem busca por uma programação cultural ao ar livre. Uma das atrações dentro da exposição é o capítulo matéria-linha, uma seleção de trabalhos contemporâneos de artistas brasileiros diversos, que dialogam com as obras do Amilcar. Carmela Gross, Lia Chaia, Max Willà Morais, Moisés Patrício, Rubiane Maia e Carla Borba, Tomie Ohtake e Wlademir Dias-Pino fazem parte dessa seleção. “Nossa proposta é promover uma outra maneira de nos relacionarmos com o trabalho do Amilcar, trazendo uma visão atual a partir de diálogos que se relacionam com a ideia de linha, explorada pelo artista”, completa Galciani.

 

 

 

Textos curatorais

 

 

Amilcar de Castro no MuBE, de Paulo Mendes da Rocha. Um encontro fundamental entre dois gigantes da arte brasileira. Esculturas que carregam uma expressiva vocação pública, na área externa interagem com uma esplanada aberta. Praça atravessada por uma grande marquise de concreto protendido, que lhe dá escala, e constrói balizas visuais para as esculturas. No caso de Amilcar: chapas de aço cor-ten que, pela ação de corte e dobra, se transformam em espaço, em planos de equilíbrio instável, angulosos, que se afinam para tocar o chão em pontos reduzidos.

 

 

 

No preto e branco do artista, assim como no cinza do arquiteto, não há concessões sentimentais, ou cordiais. Sóbrias e desafiadoras, as suas respostas artísticas se baseiam no conceito virtuoso de projeto. Um projeto entendido como afirmação de desejos que se realizam em conformidade com a técnica e a matéria. Figurando, assim, a ideia de uma sociedade capaz de planejar seu futuro e medir as consequências dos seus atos, responsabilizando-se por eles. Algo que, no Brasil de hoje, volta a ter um urgente significado.

 

 

 

Guilherme Wisnik, curador da exposição

 

 

O início desta trajetória se deu nos anos 1940 quando Amilcar, jovem e estudante de Direito na UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais (formou-se em 1945), passou a frequentar a Escola Guignard onde, durante vários anos, teve aulas com o artista Alberto da Veiga Guignard… Os anos 50 foram decisivos e importantes. Encontrou amigos, fez parte do movimento Neoconcreto junto com Ferreira Gullar, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Aluísio Carvão e Franz Weissmann. E em 1952 fez a “estrela” de cobre, escultura que inaugurou a descoberta da dobra da chapa e deu a direção para tudo o que viria depois…

 

 

Uma longa trajetória de mais de cinquenta anos de arte, produzindo esculturas, pinturas, desenhos e gravuras. E experimentando diversos e diferentes materiais além do ferro para realizar esculturas em madeira, vidro, granito e aço inoxidável… Um dia, conversando com Amilcar sobre a vida e como as coisas mudaram desde que nasceu em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais (Paraisópolis), ele disse: “Tem que acreditar. Acreditar sempre e até o fim…”

 

Rodrigo de Castro, co-curador da exposição   

 

 

Adentrar esse momento histórico da produção artística brasileira é lidar com a complexidade de alguns dos processos que radicalizaram nossas formas de pensar, produzir e vivenciar arte. E nesse sentido, estar em contato com a obra de Amilcar, no MuBE, em uma retrospectiva que comemora seu centenário, acende pensamentos acerca das especulações com geometrias não-euclidianas, das objeções à leitura passiva da obra, das concepções não instrumentalizadas do espaço, de práticas fenomenológicas com a linha. Assim, com o capítulo matéria-linha, propomos um contexto de fluxos e contrapontos entre a linha construtiva dos desenhos, obra gráfica e esculturas de Amilcar e sua presença plural em trabalhos contemporâneos brasileiros.

 

 

 

Galciani Neves, co-curadora da exposição e curadora-chefe do MuBE

 

Até 23 de Maio.