Coimbra

09/mar

Homem de temperamento forte e decidido que acompanhou o mercado de arte brasileiro desde  o ano de criação da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro em 1971, faleceu aos 84 anos nesta cidade o senhor José de Almeida Coimbra, o COIMBRA. Como diretor da casa, tornou-se uma figura ímpar no setor, foi amigo dos pintores Di Cavalcanti e Sigaud e do arquiteto Oscar Niemayer.

 

Natural de Recreio, MG, acompanhou os leilões de arte moderna e contemporânea, a valorização de nomes consagrados e o surgimento de novos artistas desde os primeiros leilões realizados pela Bolsa de Arte do Rio de Janeiro no Copacabana Palace Hotel. Podemos afirmar, sem dúvida, que Coimbra ajudou a sedimentar e foi um marco no mercado de arte brasileiro.

Esculturas de Leandro Gabriel

02/fev

O livro “Leandro Gabriel. Esculturas”, edição do autor e patrocínio Vallourec, projeto gráfico Clara Gontijo, foi lançado no final de 2015. E o crítico de arte Jacob Klintowitz escreveu um texto especialmente para esta edição.

 

Depoimento de Jacob Klintowitz

 

Há muito eu acredito que o maior mistério não é a morte ou o nascimento, ainda que impactantes. Penso, como Oscar Wilde, que o maior mistério do nosso planeta é a existência do amor. Tenha o amor o nome que tiver – maternal, paternal, misericórdia, caridade, amizade, filial, terreno, sagrado, profano – ele é feito de transcendência e empatia e isto escapa das justificativas da evolução das espécies ou do materialismo histórico. Pessoalmente considero sagrado o amor, o único sentimento que nos permite a intuição do cosmos. Este texto, a seguir, que escrevi sobre a obra de Leandro Gabriel é significativo para mim, pois é a primeira vez que junto estes dois conceitos: o do amor agregador e o do processo criativo capaz de gerar a forma. O artista repete em si o mito ancestral da criação do mundo: ele converte a matéria inerte (o caos) em forma (o cosmos). De repente habitou em mim a certeza de que o gesto criador é um ato amoroso.

 

É um livro antológico com vários textos de críticos de arte, artistas e jornalistas. Eu escrevi o meu texto especialmente para esta edição sem saber quais seriam os meus companheiros de jornada e fiquei feliz ao verificar a alta qualidade da companhia e ter nela alguns amigos diletos: Angela Ancora de Luz, Carlos Perktold, Luis Sérgio de Oliveira, Marcus Lontra, Miguel Gontijo, Paulo Laender, Sérgio Vaz e Tatiana Lima da Silva.

 

 

Leandro Gabriel.

 

A primeira vez.

por Jacob Klintowitz

 

É possível que estas formas inusitadas e originais nos lembrem do vocabulário mecânico e industrial da nossa época. Há nelas alguma coisa de construído, de encaixe, a aparência de conexões, o tom terroso e uniforme que costuma assumir o que é eminentemente prático e objetivo. Mas esta percepção é desmentida porque estas formas resultam inobjetivas, elas não produzem nada e também não são condutos a ligar à fonte ao consumo.

 

Quem sabe estas formas nos remetam à natureza, já que podem tão facilmente serem associadas às árvores e, em conjunto, a pequenos bosques? Contudo, falta certa simetria e a emergente pulsação que até o mais severo dos cactos possui.

 

E, no entanto, estas formas criadas pelo escultor Leandro Gabriel, além da extrema sedução de sua aparência que induz às associações imagéticas, se impõe por sua inteireza, por estar em si mesmo e não conexa com formas históricas, e por existir pela primeira vez. O prazer que ela provoca durante a contemplação se deve à surpresa que o olhar encontra e ao lúdico desejo de decifração. A relação imediata é de acréscimo e, portanto, de verdadeira comunicação, aquela que acrescenta ao receptor enriquecimento do seu repertório.

 

Já não é necessário ao artista referenciar diretamente ao conhecido. É evidente que o conhecido não é sinônimo de existente. E o que em certo momento foi chamado de arte não objetiva não tem mais sentido se compararmos a expressão  puramente emocional com a fotografia do macro e do micro. Cósmica ou partícula, o seu registro visual foi antecipado pela arte. O que Leandro Gabriel faz é tornar forma as suas sensações e intuições ainda não contaminadas por uma civilização que incessantemente produz formas consumíveis.

 

Leandro Gabriel pertence à família artística que concebe formas originais porque aquém da sua personalidade social. É uma tribo rara, mas que tem o seu direito à existência graças ao habeas corpus preventivo inventado pelo século vinte europeu.

 

A humanidade se defronta com dois mistérios. O primeiro é a capacidade de inventar seres, entidades com vida própria, de origem razoavelmente desconhecida, que nos abrem o horizonte para uma realidade última e alargam o nosso conceito de real. Estes seres tem o nome de formas e estão abrigados numa vaga entidade conceitual chamada arte. O segundo mistério é o amor, mais significativo do que o nascimento e a morte. No campo da arte, dos artistas e da criação de formas, estes dois mistérios, a invenção e o amor, podem andar juntos. É o caso do escultor Leandro Gabriel.

 

 

Galeria A2 inaugura com Daisy Xavier

28/nov

O Vale das Videiras, Petrópolis, RJ, um espaço bucólico, aconchegante e rodeado de natureza, reserva muitas surpresas para quem quer fugir do dia a dia corrido das cidades grandes. Uma delas é a galeria de arte A2, que abre suas portas em dezembro. Idealizada pelo fotógrafo Alexandre Salgado e pelo advogado André Faoro, a galeria nasceu do desejo de aproximar arte e natureza, levando para o Vale das Videiras exposições de artistas plásticos e fotógrafos reconhecidos que possam apresentar suas obras para os visitantes deste recanto.

 

Para a inauguração do espaço, foi convidada uma recente sitiante do Vale, a artista plástica Daisy Xavier. Com várias exposições individuais e coletivas no currículo, ela desenvolve desde 1992 uma elogiada trajetória artística, já tendo exposto em renomadas galerias como Anita Schwartz, MAM (Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro), Paço Imperial e na Galeria Florencia Loewenthal (Santiago, Chile).

 

Nesta mostra Daisy apresentará  três momentos diferentes de sua carreira, expressos em trabalhos sob os temas “Anfíbios” (fotos de corpos submersos envoltos em redes azuis), “Arqueologia da perda” (onde utiliza partes de móveis antigos, fazendo um exercício de reconstrução e reinvenção de uma memória) e “Natureza artificial” (série de desenhos e esculturas que foram realizadas a partir da estada da artista num sítio no Vale das Videiras), onde utiliza como matéria-prima a natureza da região.

 

 

Apresentada em fotos, instalações e desenhos, a exposição fica em cartaz até o dia 11 de janeiro de 2015.

Galeria Modernistas exibe cerâmicas contemporâneas

27/nov

 

A galeria Modernistas, Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ, que investe em exposições a cada dois meses, sempre com curadoria do expert Wilson Lázaro, neste verão terá um charme a mais, pois a mostra “Modelador de Paixão” terá na abertura o Happy Art, uma apresentação de jazz para convidar o público à visitação da exposição. O happening ainda terá edições em janeiro e fevereiro.

 

“Modelador de paixão” é o nome da coletiva de cerâmica que une obras de seis artistas reconhecidos no cenário brasileiro e internacional de cerâmica contemporânea, como Mariana Canepa, Sylvia Goyanna, Solange Mano, Clara Fonseca, Dony Gonçalves e Thelma Innecco.

 

A mostra tem como objetivo fazer com que o público conheça os trabalhos de ceramistas que seguem fazendo a história da cerâmica brasileira e apresentará obras conceituais desses artistas, além de lançar a marca de cerâmicas Modernistas. E, além disso, fomentar e difundir a cerâmica como suporte, tornando-a mais presente no âmbito da arte atual, enriquecendo o circuito artístico na cidade. A exposição ficará na galeria durante dois meses, e ao longo desse período, serão promovidos Work Shops sobre o tema. A apresentação dos trabalhos será feita em todo o espaço onde está inserida a galeria.

 

 

A partir de 06 de dezembro.

Catálogo da Pinacoteca Ruben Berta

26/nov

Em 4 de dezembro de 2014, às 19h, no casarão da Rua Duque de Caxias 973 será lançado o catálogo com as obras do acervo da Pinacoteca Ruben Berta, Centro Histórico, Porto Alegre, RS. A publicação apresenta as obras desta coleção, considerada em sua origem heterogênea, mas que mostra um predomínio da produção artística nacional e internacional da década de 1960. As peças carregam assinaturas de artistas consagrados no século XIX, tais como Almeida Júnior, Pedro Américo e Eliseu Visconti, modernos como Di Cavalcanti, Portinari, Flávio de Carvalho, e os – naquele período – promissores Tomie Ohtake e Manabu Mabe. O Catálogo estampa criadores orientais como Afandi, um dos autores mais importantes do modernismo indonésio e o chinês Chang Dai Chien, artista que vem sendo redescoberto no Brasil e colocado em seu país no mesmo patamar de Picasso.

 

A Pinacoteca Ruben Berta também se destaca por possuir obras do movimento pop britânico como as assinadas por Allen Jones e Alan Davie, entre outros. A arte naïf está representada por Manézinho Araújo e João Alves. Do Rio Grande do Sul comparecem Glênio Bianchetti, Angelo Guido, Oscar Crusius entre outros. A publicação possui textos de orientação e analíticos descrevendo o cenário que originou o acervo e identificando a importância desta coleção – no campo das artes – no país. Merece destaque o fato de que a realização do Catálogo só foi possível graças ao patrocínio da ALGO MAIS GRÁFICA E EDITORA e de seus parceiros PORTFOLIO DESING e SCAN – EDITORAÇÃO E PRODUÇÃO GRÁFICA.

 

 

 Abertura da exposição

“20 x Anos 60: um quadro a ser compreendido”

 

Paralelamente ao lançamento do Catálogo da Pinacoteca Ruben Berta será aberta a exposição “20 x Anos 60: um quadro a ser compreendido” com vinte obras pertencentes a coleção.

 

 

Texto de apresentação assinado por Paulo Gomes

 

“A exposição apresenta vinte obras exemplares do período em que foi formada a Pinacoteca Ruben Berta. Esta coleção reflete os embates estéticos e estilísticos da década de 1960. As obras dos artistas brasileiros (natos ou radicados) são o que de mais importante apresenta: um recorte de grande qualidade e de notável relevância para o estudo dos caminhos trilhados pela arte no período. Também se pode afirmar que a coleção permite o conhecimento de uma produção ignorada do grande público e mesmo dos historiadores e críticos. A contemporaneidade deste acervo está, evidentemente, na datação das obras e no recorte geracional de seus autores, mas, fato notável, está principalmente na evidência de apresentar, em obras, as principais tendências e vertentes desse conflitante período da arte brasileira.

 

O recorte da coleção aqui apresentado, dos anos 1960, conta além da numerosa participação de artistas nas Bienais de São Paulo com um expressivo número de premiados em diversas edições do evento. Essas premiações dão a ver uma representação visual das tendências mais evidentes no período, como podemos constatar nas obras de Fayga Ostrower (premiada em 1957), Manabu Mabe (premiado em 1959), Isabel Pons (premiada em 1961) e Maria Bonomi (premiada em 1965). Podemos inferir que a proximidade dos organizadores da coleção, baseados em São Paulo, naturalmente os levaria àquela produção com maior visibilidade no momento, isto é, aqueles artistas destacados e premiados nas Bienais, o maior evento de artes plásticas do Brasil.

 

A Pinacoteca Ruben Berta também permite rastrear uma considerável parte da vida cultural nacional, com as obras dos artistas que estavam atuando no calor da hora dos acontecimentos. O recorte aqui apresentado é particularmente significativo pela representatividade de seus artistas em alguns dos mais destacados momentos da arte brasileira dos anos 1960. Na sua diversidade e riqueza, a Pinacoteca possibilita a percepção de um momento histórico da produção plástica brasileira e a perspectiva de seus instituidores do ponto de vista das escolhas realizadas. As obras que integram esta exposição indicam nas suas trajetórias de objetos as marcas do tempo de origem e de seus autores, estando em aberto a leituras, percepções e ao estabelecimento de novos circuitos.”

 

 

De 04 de dezembro a 27 de fevereiro de 2015.

No Instituto Brennand

09/set

O Instituto Ricardo Brennand, Recife, PE, recebe a exposição retrospectiva do precursor do modernismo brasileiro, o pintor, desenhista e designer, um dos fundadores da Escola Nacional de Belas Artes, o ítalo-brasileiro Eliseu Visconti (1866-1944). Intitulada ” A Modernidade Antecipada” , a mostra, sob a curadoria de Mirian Seraphim, Rafael Cardoso e Tobias Stordzé Visconti (neto do artista), é composta por 70 obras criteriosamente selecionadas em museus e coleções particulares de todo o Brasil, para registrar os 70 anos do falecimento do artista, e chega pela primeira ao nordeste brasileiro, após temporada na Pinacoteca do Estado de São Paulo e no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

 

Eliseu Visconti utilizava técnicas  e influências naturalistas, renascentistas, realistas, impressionistas e neo-realistas em suas obras, que incluem quadros, painéis, desenhos, selos, porcelana, cartazes e luminárias. O público terá a oportunidade de conhecer trabalhos do artista que raramente são expostos, como uma gigantografia do pano de boca do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, a maior tela pintada no Brasil.

 

Dentre as obras expostas, destacam-se “Uma rua da favela” (c. 1890), o primeiro trabalho que se tem notícia, nas artes plásticas brasileiras, reproduzindo uma  favela; “Volta as Trincheiras”, “Auto-retrato” (1902) “, “Na alameda” (1931) e “O colar” (1922).

 

 

Até 02 de novembro.

Vanderlei Lopes: Tudo que reluz é ouro

21/ago

Artista que vem se destacando no cenário da arte contemporânea brasileira, Vanderlei Lopes tem participado de diversas exposições individuais em espaços como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Com seus trabalhos presentes em coletivas como “Nova Arte Nova”, “Desenho Contemporâneo Brasileiro” e a Bienal do Mercosul, e em feiras internacionais como a Pinta (Nova York) e ArteBA (Buenos Aires), também possui obras em importantes coleções como a da Pinacoteca do Estado de São Paulo e a de Gilberto Chateaubriand / MAM-RJ.

 

Vanderlei abre exposição individual no Rio de Janeiro, na Galeria Athena Contemporânea, Copacabana, Rio de janeiro, RJ. A mostra
“Tudo que reluz é ouro”, com curadoria de Fernanda Pequeno, inaugura dois dias antes da abertura da exposição “Grilagem”, que o artista realiza no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

 

A exposição “Tudo que reluz é ouro” é composta por seis esculturas em bronze polido e um desenho, obras inéditas, que se relacionam com o espaço expositivo. As obras problematizam a relação entre a noção de autoria e a ideia de atuação como o Rei Midas, personagem da mitologia grega, que transforma em ouro tudo o que toca. Por seu acabamento muito polido, as esculturas produzem espelhamentos que refletem o espaço físico da galeria. A partir disso, o título acrescenta uma interessante camada irônica.

 

Por exemplo, a obra “Enxurrada”, escultura que materializa o fluxo líquido em bronze dourado completamente polido, surge e desaparece por meio de pequenos orifícios abertos nas paredes da galeria. Outra obra da exposição é “Marcas de Copo”, que lida com a tradição escultórica do molde, do positivo e do negativo, pois é formada pelo resíduo, a marca da presença ausente do copo. Os resquícios impressos sobre a prateleira de madeira repetidamente também escorrem, friccionando sua materialidade e formato.

A exposição apresenta recentes projetos de Vanderlei Lopes, nos quais o artista vem operando  relações entre espaço e duração, aludindo a presença dos elementos naturais. O emprego do bronze traz a memória do material ainda incandescente, em estado de transformação, e  se relaciona com  o escoamento da água. Vanderlei Lopes nasceu em Terra Boa, Paraná, em 1973. Vive e trabalha em São Paulo.

 
 
 

De 04 de setembro a 04 de outubro.

O Campo Cego de Padovani

05/ago

O artista Ivan Padovani apresenta 30 trabalhos em “Campo Cego”, sua primeira exposição individual na Galeria da Gávea, Rio de Janeiro, RJ. As fotografias representam de forma sistemática as paredes laterais cegas de edifícios em São Paulo.

 

Segundo Ivan Padovani, “Campo Cego” tem como base um procedimento com regras muito bem definidas, o que lhe confere um caráter de coleção e inventário, até o momento formado por cerca de 150 imagens de empenas realizadas na capital paulista. Por meio de tais convenções, a pesquisa procura tornar mais claro seu objetivo enquanto representação de uma experiência pessoal frente à cidade, assim como sugerir questões relativas à visualidade e percepção em meio ao ambiente urbano.

 

“O processo de produção tem como ponto de partida minha relação com a cidade no dia a dia. Nos últimos anos, a atitude de procurar essas ocorrências em São Paulo me conduziu a um exercício constante de caminhar mais lentamente e com um olhar mais atento, não só a essas fachadas, mas também a todo o seu entorno”, diz o artista.

 

A partir de um olhar que revela o que pode ser considerado o verso da cidade, Ivan Padovani busca certo silêncio visual, uma ordem no caos, um respiro em meio à saturação. “O interesse principal não é tentar retratar os contrastes, o movimento caótico, a desordem, o excesso de SP. Busco o oposto, como se a cidade estivesse sendo vista em um só plano, silenciosa e estática. Paradoxalmente, um espaço que nega e afirma tudo ao seu redor”, complementa.

 

A fotografia é a ferramenta utilizada para a criação deste inventário. Mas ao abdicar da perspectiva, a imagem afirma sua bidimensionalidade de tal forma até ganhar a estética de desenho. As fotografias são apresentadas em suportes que sugerem experiências visuais e táteis para quem entra em contato com o trabalho. Desta forma, a fotografia é pensada de forma expandida, assumindo um caráter de objeto.

 

“Campo Cego” foi um dos trabalhos selecionados em 2014 no Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia e no Programa Descubrimientos do Festival PhotoEspaña.

 

 

Sobre o artista

 

Natural de São Paulo e fotógrafo profissional desde 2004, Ivan Padovani é formado em administração pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, com pós-graduação em fotografia pela mesma instituição. Realiza trabalhos nas áreas de fotografia esportiva, documental e retratos, atendendo clientes para fins editoriais e publicitários.

 

Ivan é artista representando pela Galeria da Gávea e frequenta o grupo de acompanhamento de projetos orientado por Nino Cais e Marcelo Amorim no ateliê Hermes Artes Visuais. É colaborador da revista Digital Photographer Brasil, ministra cursos de fotografia no Hermes Artes Visuais, edita o blog Marcador e coordena o F+, núcleo educativo da Fauna Galeria voltado para a reflexão e prática em arte contemporânea.

 

 

De 05 de agosto a 19 de setembro.

Bechara na Simões de Assis

25/jul

O artista plástico José Bechara inaugurou exposição individual de seus trabalhos na Simões de Assis Galeria, conceituado espaço situado no Batel, Curitiba, PR. A mostra recebeu edição de um esmerado catálogo com reproduções das atuais criações do importante artista contemporâneo. O texto de apresentação traz a assinatura do crítico de arte e curador Felipe Scovino.

 

 

Pintura contaminada pela poeira do mundo

Texto de Felipe Scovino

 

No Brasil, o legado das tendências construtivas, ao longo da segunda metade do século XX, foi uma constante com algumas variáveis. A geração que se estabeleceu logo após o fim do neoconcretismo teve influências tanto da Pop quanto da arte conceituai, ainda que tenha criado uma linguagem muito própria e inventiva, sem abdicar em maior ou menor grau do abstracionismo geométrico, como foram os casos, por exemplo, de Antonio Dias, Carlos Vergara, Cildo Meireles, José Resende, Rubens Gerchman e Roberto Magalhães. Outras pesquisas estéticas, tais como as de Mira Schendel, Paulo Roberto Leal e Raymundo Colares, tiveram uma aproximação maior com as tendências construtivas e, sem dúvida, arquitetaram uma condição nova e abrangente para essa pesquisa. As obras desses três artistas, por exemplo, criaram uma superfície pictórica orgânica e fluída.

 

 

Era um novo entendimento sobre como o construtivismo tendia cada vez mais a um discurso sobre o sensorial. José Bechara e uma determinada parcela da geração em que está incluído — como Carlos Bevilacqua, (as primeiras obras de) Ernesto Neto e Raul Mourão — estendem essa vertente ao trabalharem de uma forma harmônica e orgânica com o metal – seja o aço, o ferro ou o cobre — como material para esculturas ou, especialmente no caso de Bechara, como matéria pictórica. Um primeiro ponto que sempre me chamou a atenção em sua obra foi o fato de substituir a tela branca por uma superfície suja, poeirenta, impregnada de história, que são as lonas usadas de caminhões. Esse é o primeiro passo para entendermos o aspecto orgânico — expressão clichê, mas que, aqui, perde efetivamente sua impotência para ganhar outra validade — de sua obra e como a forma cria mais uma variável para esse acento geométrico na arte brasileira. O artista sobrepõe camadas de tempo ao fazer uso de processos de oxidação daquele material. Bechara incorpora a morosidade da oxidação como condição para a aparição do aleatório. As modificações que ocorrem — marcas, texturas e manchas — tecem uma sobreposição de volumes, cor e textura. Em outros momentos, ele divide a lona entre uma parte marcada por esse processo de oxidação e outra, pelas marcas que foram adquiridas por aquele material ao longo de seu uso na estrada. São linhas construídas ao acaso, signos de memória, que passam em um gesto poético a serem incorporados como pintura.

 

 

Ademais, o artista faz uso da grade, elemento simbólico da gênese da pintura construtiva (vide os construtivistas russos e Mondrian) que, no pós-guerra, ganha distintas leituras (de Robert Ryman a Agnes Martin, passando por Gerhard Richter e Lygia Pape), como uma possibilidade real e precisa de criar uma perspectiva ilusória. Segundo Dan Cameron, “a grade lentamente se desenvolveu de um dispositivo usado para ajudar a criar uma ilusão espacial para um sistema que se impôs sobre o espaço propriamente dito.” A grade declarou a modernidade da arte ao ajudá-la a conquistar sua autonomia e, “em parte”, a dar as costas à natureza. Para Sennet, “a convicção de que as pessoas podem expandir os espaços infinitamente — através de um traçado em grade — é o primeiro passo, geograficamente, de neutralizar o valor de qualquer espaço específico.” Em Bechara, a grade aparece como um ato transformador. Antes de tudo, porque as linhas que a delimitam são tortas, sujas e erradas, assim como toda a superfície da lona. Há uma outra ordem para essa composição geométrica, minimalista e precisa. Suas obras são sobrevoadas por uma atmosfera ruidosa, poluída, violenta, urbana, na qual caos e ordem estão misturados. E é exatamente por isso que sua obra é extremamente real e viva. De alguma forma, a velocidade e a dinâmica que fizeram parte da história daquelas lonas são transferidas para as composições criadas pelo artista. E, ainda, a grade em determinados momentos parece avançar sobre o espectador, e em outros recua como se o que interessasse fosse tornar visível as figuras que são construídas aleatoriamente pelo processo de oxidação e por suas próprias linhas, tortas e precárias. E esse grito de defeito, de que algo deu errado que faz as obras de Bechara serem demasiadamente humanas. Ao aproveitar o que já vem dado pela lona — riscos e manchas —, o artista cria um novo repertório de traços e linhas que magistralmente equilibra passado (história e memória) e presente (a ressignificação da pintura — e por que não do desenho? — e da própria ideia de gestualidade).

 

 

Em sua série mais recente, Bechara intensifica a aparição da grade, pois sua composição se torna mais fechada e apresenta sucessivas camadas que, ao se sobreporem, “apagam” a “pele” da lona. Todavia, o plano se torna ainda mais dramático — como se a um olhar leigo fosse possível criar drama apenas e tão somente pelo cruzamento de linhas verticais e horizontais, e é aqui que a deflagração poética transforma a banalidade e o ordinário em um acontecimento mágico e encantador — com a incapacidade em denotarmos o que é figura ou fundo, pois a perspectiva se transforma amplamente em uma experiência ilusória. A oxidação, porém, continua presente e cria zonas gráficas e de interferência cromática que continuam transformando essas obras em uma espécie de canteiro de obras. E um processo sucessivo de decantamento (ao aplicar a emulsão sobre a lona, a oxidação derivada desse processo precisa de um repouso para a sua ação) e encantamento. Bechara é um artista incansável, pois estão lá gravados, na lona, sua força, sua participação, sua investigação de materiais e técnicas; como uma experiência biológica, assistimos ao jogo de forças e presença que a emulsão de cobre ou aço, o uso da palha de aço e a corrosão derivada desse processo realizam sobre a superfície da lona.

 

 

Suas esculturas não constituem uma outra fase de produção em relação às pinturas, pois são diálogos pertinentes e imbricados. Sua mais recente série de obras, denominada Enxame ou estudos para uma aproximação de suspensos (2013-14), torna clara essa aproximação. Ela possui um papel intermediário nessa aproximação entre a bidimensionalidade e o ar. São caixas de madeira cujo interior é formado pela sobreposição, com pequenos intervalos, de placas de vidro. Sobre as placas, há a aplicação de tinta spray de distintas cores que, como um pincel, imprime um preciso e livre jogo de formas geométricas. No fundo de algumas dessas caixas, placas de madeira cortadas, que acentuam não só o legado construtivo na obra de Bechara mas também a pesquisa sobre cor e planaridade que tanto interessa a sua produção. Na construção de uma relação óptica e ilusória, essas obras parecem lançar ao espaço as linhas e campos de cor, fazendo que com que elas bailem por entre os vidros.

 

 

E essa constituição de um desenho no espaço que cria o diálogo entre suas pinturas e esculturas. Especialmente na série Esculturas gráficas, a tridimensionalidade pertence mais ao ar do que à terra. E essa imagem advém principalmente pelo fato de Bechara equilibrar cheio e vazio, o dentro e o fora. Seus volumes preenchidos de ar nos fazem ver aquelas formas como estruturas gráficas suspensas do papel e tendo o espaço como seu habitat. Mesmo sendo esculturas, ficam na fronteira entre a bidimensionalidade e a tridimensionalidade. E mais um fator que nos ajuda a compreender essa fronteira borrada é como o artista continua a investigar a cor. Esses monocromos tridimensionais elevam a cor que estava no plano do papel ou da lona para a superfície. Criam formas gráficas suspensas que se equilibram minimamente, transmitindo uma sensação de precariedade e instabilidade, entre o balanço de preenchidos de vazio e outro com grande carga cromática. Não me parecem que ocupam o espaço de uma forma vigorosa e pesada, mas pousam sobre ele. Há uma sensação de que o peso foi retirado daquelas estruturas, e elas simples e decisivamente ganharam leveza e um ritmo que as leva a ocuparem e se infiltrarem naquela área de uma maneira cadenciada. Por outro lado, a série Open House traz uma velocidade caótica e desorganizada. E importante relatar que, nesse percurso de experimentação acerca do espaço, a casa é um arquétipo freqüente na obra do artista. Entretanto, é uma casa que procura ser esvaziada, como presenciamos na série em questão, pois, ao mesmo tempo que parece desejar ser ocupada pelo vazio, expulsa o que contém ou que estava sendo mantido em âmbito privado. As duas séries de esculturas se situam em uma zona de conflito, porque, nessa imagem dionisíaca e hostil de uma escultura que se faz no turbilhão do caos, o artista quer demonstrar que “o vazio tem solidez, é uma matéria.” E um vazio que se coloca como personagem de um enredo trágico.

 

 

 

Desde 24 de julho.

A Magia de Miró

24/jul

Obras de Miró para a CAIXA Cultural, Galeria 3, Centro, Rio de Janeiro, RJ, passam a ser exibidas na exposição “A Magia de Miró, desenhos e gravuras”, que reúne 69 trabalhos do artista espanhol e 23 fotografias em preto e branco registradas pelo curador Alfredo Melgar, fotógrafo galerista em Paris e Conde de Villamonte. A mostra já passou pela CAIXA Cultural São Paulo e Curitiba, e por prestigiadas galerias e museus da Europa, América e Oceania.

 

A “Magia de Miró” revela um plano mais íntimo e pessoal do mundo do artista catalão ao exibir esboços ou notas, além de obras produzidas sobre papel, com lápis e giz de cera ao longo dos seus últimos cinco anos de vida. As ilustrações correspondem a diferentes épocas da sua produção, entre 1962 e 1983, e remetem ao universo do processo criativo do artista, que pintou e desenhou sobre qualquer superfície que permitisse exibir sua enorme criatividade e conhecimento.

 

Melgar conheceu Miró quando começou a fotografar profissionalmente, durante uma vernissage no mítico Moulin de La Galette, em Paris. “Vestido como um dândi, de porte e maneiras aristocráticas, seus olhos azuis, penetrantes e sonhadores traziam o ar do mar Mediterrâneo. Ao seu lado, sempre discreta e elegante, Pilar Juncosa completava o quadro do perfeito matrimônio catalão, exalando correção, sobriedade, ordem, trabalho e disciplina. Eu tinha na época menos de 30 anos, minha obra fotográfica era escassa”, declara.

 

 

Sobre Miró

 

Nascido em Barcelona, na Espanha, em 20 de abril de 1893, Miró é um dos mais renomados artistas da História da Arte Moderna. Estudou com Francisco Galí, que o apresentou às escolas de arte moderna de Paris, transmitiu-lhe sua paixão pelos afrescos de influência bizantina das igrejas da Catalunha e o introduziu à fantástica arquitetura de Antonio Gaudí. Em suas pinturas e desenhos, tentou descobrir signos que representassem conceitos da natureza em um sentido poético e transcendental, revelando os aspectos em comum com dadaístas e surrealistas, e sendo influenciado principalmente pelo pintor e poeta Paul Klee.

 

Miró também trazia intuitivamente a visão despojada de preconceitos que os artistas das escolas fauvista e cubista buscavam, mediante a destruição dos valores tradicionais. A partir de 1948, na Espanha e em Paris, realizou uma série de trabalhos de conteúdo poético, entre eles esculturas, com variações temáticas sobre mulheres, pássaros e estrelas. Em 1954, ganhou o prêmio de gravura da Bienal de Veneza e, quatro anos mais tarde, ganhou o Prêmio Internacional da Fundação Guggenheim pelo mural que realizou para o edifício da Unesco, em Paris. Miró faleceu em 25 de dezembro de 1983, em Palma de Maiorca, na Espanha.

 

De 28 de julho a 28 de setembro.

 

Após a temporada no Rio de Janeiro, a exposição segue para as unidades da CAIXA Cultural de Recife, PE, (a partir de outubro de 2014) e de Salvador, BA, (a partir de dezembro de 2014).