Suzana Queiroga no Paço Imperial

20/mar

No dia 21 de março, será inaugurada a exposição Miradouro, com obras recentes e inéditas da artista plástica Suzana Queiroga, que ocuparão três salas do segundo andar do Paço Imperial, Centro Histórico, Rio de Janeiro, RJ, em uma área total de 300 m2. Com curadoria de Raphael Fonseca, serão apresentados cerca de quinze trabalhos em grandes dimensões, dentre pinturas, esculturas, instalações e vídeos, que mostram a pesquisa da artista sobre o tempo, a paisagem e a cartografia. A exposição também terá uma parte documental, com diversos estudos, mapas, pesquisas e o processo de trabalho da artista no ateliê. A mostra comemora os dez anos do projeto “Velofluxo”, em que a pesquisa de Suzana Queiroga sobre a cartografia, as cidades, os fluxos e o tempo, culminou com voos no balão Velofluxo, criado pela artista, em que a experiência do voo foi compartilhada com o público no CCBB de Brasília, em 2008. Para este ano, a artista também tem uma exposição programada na Cassia Bomeny Galeria, em Ipanema.

 

“A exposição traz ao público algo da variedade de mídias com as quais Suzana tem trabalhado. Há trabalhos na linguagem da pintura, área na qual seu trabalho foi inicialmente institucionalizado nos anos 1980 e o qual pesquisa sistematicamente. Há trabalhos realizados na linguagem mais próxima ao desenho e à pesquisa de diferentes materialidades de papel. E há também, por fim, trabalhos em vídeo que exploram a relação entre a documentação da paisagem e sua exploração por meio do desenho e da pintura”, conta o curador Raphael Fonseca. 

 

As obras da exposição se relacionam entre si e o percurso da mostra foi criado de forma a aproximar o público. Logo na entrada, estará uma grande pintura redonda, de 1,5m de diâmetro, em óleo sobre tela, com veios em tons de azul, verde e laranja, que representam os fluxos. Nesta mesma sala, haverá desenhos e sketches, montados sobre a parede, sem moldura, trazendo um pouco da atmosfera do ateliê da artista para o museu.

 

Adentrando o grande salão principal, que tem área total de 182m2, estarão cinco pinturas em grande formato, que representam paisagens, não só urbana, mas também aérea e marítima. “No meu trabalho, penso a cartografia de forma ampla. Minha pesquisa envolve a cartografia do tempo, do infinito”, afirma. Nesta mesma sala estará a obra Nuvem”, composta por 24 papéis vegetais, que recebem banhos de pigmentos em tons de cinza, violeta e rosados. “A obra tem uma palheta de nuvem carregada, prestes a chover, quando recebe os últimos raios de sol do dia”, explica a artista, que deu os banhos de pigmento com a intenção de “retirar a rigidez do papel, transformando-o em um campo atmosférico”. Este trabalho, de 2013, é inédito e foi criado como base para os vídeos Mar”, em que a artista vai folheando esses papéis mesclados com imagens de nuvens, e “Cais”, em que os papéis se misturam com ondas do mar.

 

Também estará na exposição o vídeo Atlas” (2015), em que um olho observa o interior de um globo terrestre em constante rotação. “Esse trabalho é uma cartografia mutante, fala do tempo e do fluxo. Em ‘Atlas’, somos observados e ao mesmo tempo observamos a este olho que oprime e inebria, como num voo ou circunavegação infinita às avessas na cartografia terrestre”, conta a artista.

 

A grande instalação Topos”, que ocupará o chão da última sala, é composta por diversos recortes em feltro, que representam as cartografias de várias cidades, reais e imaginárias. “O feltro bruto, feito de aparas de refugo de indústria têxtil possui uma massa corpórea espessa que se projeta no espaço e estabelece uma relação direta com a escala humana e arquitetônica. Ao mesmo tempo possui uma carga simbólica: é um tipo de manta utilizada pela indústria mas também pelo indivíduo morador de rua como cobertor, veste e abrigo”, diz a artista, que ressalta que nesta obra estão presentes elementos que atravessam o seu trabalho nos últimos anos: o fluxo, o tempo, o infinito, as cidades e as cartografias.   

 

A exposição também terá uma grande parte documental, com pesquisas e estudos de ateliê. O espectador entrará em contato com os fragmentos deste percurso através de uma montagem pouco ortodoxa e suportes variados, que incluem desenhos, estudos, mapas, entre outros. Uma oportunidade única e rara de adentrar o ateliê da artista e seu processo de trabalho.

 

 
 
Sobre a artista
 
Suzana Queiroga nasceu no Rio de Janeiro, em 1961, e atua nas artes plásticas desde a década de 1980, suas poéticas atravessam a ideia de fluxo e tempo. Traz à tona questões da expansão da pintura e do plano dialogando com diversos meios, entre os quais instalações, performances, infláveis, audiovisual e escultura. Participou de importantes exposições, no Brasil e no exterior, como “ÁguaAr”, no Centro para Assuntos de Arte e Arquitetura, em Guimarães, Portugal, 2015, onde também foi artista residente e a individual “Prelúdio”, na Galeria Siniscalco, em Nápolis, 2014; realizou uma individual para o Projeto Ver e Sentir do Museu Nacional de Belas Artes, 2017. Acumulou cerca de 12 prêmios como o Prêmio de Aquisição na XVIII Bienal de Cerveira, em Portugal, 2015; 5º Prêmio Marcantônio Vilaça/Funarte para aquisição de acervos, 2012, pelo qual apresentou a individual “Olhos d’Água” no Museu Nacional de Arte Contemporânea de Niterói no ano seguinte; o I Prêmio Nacional de Projéteis de Arte Contemporânea/Funarte, 2005, e a bolsa RIOARTE, 1999. Foi também finalista do 6º Prêmio Marcantônio Vilaça para as Artes Plásticas, cuja coletiva aconteceu no Museu Brasileiro da Escultura e da Ecologia, 2017. Foi artista residente na Akademia der Bildenden der Künste Wien, na Áustria, 2012, no Instituto Hilda Hilst, em São Paulo, 2012, na IV Bienal del Fin del Mundo, na Argentina, 2014, entre outros.
 
De 21 de março a 27 de maio.

70 anos de Arruda/MAM-Rio

14/mar

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no próximo dia 17 de março de 2018, às 15h, a exposição ARRUDA, Victor”, que homenageia o artista Victor Arruda, um dos grandes nomes da arte contemporânea. A exposição, que tem curadoria de Adolfo Montejo Navas, percorre os quase 50 anos de trajetória do artista, com cerca de cem trabalhos produzidos desde o início dos anos 1970 até 2018.  A mostra é não recomendável para menores de 18 anos.

 

Victor Arruda é conhecido por sua pintura rude, bruta, sem concessões, com uma feroz crítica contra a hipocrisia e o abuso de poder, e a presença, desde sempre, de questões de gênero, com cenas explícitas de sexo. Para o artista, sua arte é conceitual, em que a “pornografia” (“nas aspas”, ele ressalta) e a agressividade estão a serviço da discussão de temas internos e também sociais, como o assédio denunciado na pintura “Salário mais justo”, de 1975. Suas obras estão em coleções importantes como as de Gilberto Chateaubriand, Luiz Schymura, João Sattamini, Hélio Portocarrero e a do crítico italiano Achille Bonito Oliva, que conheceu seu trabalho por intermédio do artista Antonio Dias.

 

Adolfo Montejo Navas apontou dois grandes temas para aproximar os trabalhos de Victor Arruda na exposição: O primeiro é Palavras e Textos, que estrutura grande variedade de obras e suportes. A escrita é uma característica marcante na pintura do artista, e ora aparece como frases ou palavras soltas, ora como narrativa.  As demais pinturas estarão agrupadas por décadas: 1970, 1980, 1990, 2000 até o momento. Além de pinturas, a exposição terá uma instalação – “Homenagem às vítimas do dinheiro” (2014) – desenhos, fotografias, vídeos e cadernos de anotação do artista.

 

O segundo tema coloca a ênfase no lado culturalista que tem sua obra, cheia de diálogos heterodoxos com artistas de diversas épocas. Os trabalhos de Victor Arruda trazem referências à história da arte, como os suprematistas russos ou Magritte – “o artista que mais admiro, que já disse tudo o que tinha que dizer” – embora nem sempre aparentes.  Quando ao terminar uma tela percebe que ela contém elementos conhecidos, de outros artistas, Victor Arruda deixa clara a homenagem no título da pintura.  Estarão na exposição várias dessas pinturas feitas “em homenagem” a outros artistas. “Penso muito nos títulos”, explica. “Quero deixar tudo explícito, facilitar a comunicação com o espectador”, diz Victor.

 

Nascido em Cuiabá, Mato Grosso, em 1947, Victor Arruda se mudou para o Rio aos 14 anos. Estudou museologia na UniRio, com especialização em arte contemporânea. “Eu era um artista contemporâneo antes mesmo de este termo ser usado, porque não me identificava com nada do que se fazia na época. Tudo era moderno e eu não era moderno”, conta.

 

 

 

Carlos Zéfiro e Nelson Rodrigues

 

Ele conta que alguns fatos foram decisivos para ele se convencer do caminho a trilhar em seu trabalho. Em 1973, viajou para Paris.  Ao entrar no Grand Palais, a claridade do dia de verão parisiense contrastou com a penumbra do interior do museu. Isso fez com que pensasse que uma tela do pintor abstrato Ad Reinhardt, exposta na grande galeria, era toda pintada  de preto.  Não entendeu o sentido daquilo, pois Malevich já havia pintado o célebre “branco sobre branco” há décadas, e o quadrado preto sobre preto; e, depois, Robert Rauschenberg mostrou só a tela branca. Foi então que o olhar se acostumou à luz do salão, e ele pode perceber que na verdade se tratava de cruzes em um tom muito escuro de púrpura – “praticamente berinjela” – sobre um fundo negro. “Aquilo era de uma tal sofisticação cromática, uma coisa tão transcendental, que pensei: isso não é pro meu bico”. “E o que era o meu bico? As pinturas que eu já estava fazendo, impulsionado pelo processo psicanalítico”.

 

 

Um ano depois, outra experiência marcante. Decidiu morar um tempo em Londres, e viu na Tate uma exposição de Lichtenstein. “Quando vi aquelas telas enormes, uma metralhadora mandando bala em um avião que já está explodindo (“As I Opened Fire”, 1964), quase caí pra trás. Pensei, uau, é por aqui que tenho que ir. Mas espera aí: isso é a pop art americana, e eu não vou agora copiar o Lichtenstein, eu não nasci pra isso. Eu não tinha a menor chance de competir com aquilo que eu admirava tanto. Não ia ser o seguidor de última categoria do Picasso”.  Então, Arruda escreveu em um pedaço de papel: “não pinto para virar verbete”, conceito escolhido por Adolfo Montejo para nomear a exposição.

 

 

Victor Arruda conta que foi a partir de então que decidiu persistir no que já vinha fazendo. “Não vou fazer arte de Nova York. Sou brasileiro, de Cuiabá, Mato Grosso.  Vou procurar meu jeito de me expressar”. Além da psicanálise que também tem um papel relevante na produção do artista. “A psicanálise revirou tudo, o sentimento de culpa por ser homossexual, por não ser uma pessoa dita normal, e resolvi enfrentar as questões que vinham de fora: o dedo acusador. Passei a questionar quem era o homem normal, maravilhoso, o pai de família sério, que usava terno & gravata. Aquele mesmo que acha normal assediar a empregada, dentro da normalidade escravagista,  prometendo-lhe pagar um “Salário mais justo”. O tal “normal” é machista, racista, explorador, homofóbico! Entendi isso aos vinte e poucos anos. Decidi que minha pintura tinha que ser uma reação contra essas pessoas conservadoras pois eram as donas do poder. Com as minhas pinturas, aponto o dedo de volta. para toda essa nojeira que é o abuso do poder do dinheiro. Contra essas pessoas que ditam as regras. Só que não podia falar sobre isso. Por quê? Porque a arte ainda era a arte moderna. Não podia ter texto, não podia ter narrativa, não podia ter perspectiva, frente e fundo, não podia ser autobiográfica. Não podia sexo, não podia nada! Sabe o que resolvi fazer? Resolvi usar tudo o que não podia ao mesmo tempo!”.

 

 

Victor Arruda enfatiza que na época recebeu um importante apoio de Antonio Dias. “Ele me ajudou muito. Um amigo importantíssimo. Foi ele quem me apresentou ao Achille Bonito Oliva, ao João Sattamini. Muito generoso. Depois, com o surgimento da transvanguarda – termo cunhado justamente por Achille Bonito Oliva – e a bad art, Victor Arruda sentiu-se encaixado, e identificado com esses movimentos.

 

Ele lembra que Gilberto Chateaubriand uma vez disse: “o que mais me espanta em seu trabalho é a sua coragem”. Victor destaca que não está preso a nenhuma data. “O trabalho “Salário mais justo”, de 1975, uma pintura brutal, malfeita, está ligado ao néon de “Homenagem às vítimas do dinheiro”, de 2014, super elaborado, uma traineira que navegou nas águas da Baía de Guanabara em frente à ArtRio. As duas obras estão na exposição, ligadas pelo mesmo conceito que faz com elas existam”, afirma. Os temas sociais permeiam toda a exposição, como “a tortura, que existente em qualquer lugar do mundo, uma coisa pavorosa”.

 

Desde o início dos anos 2000, Victor Arruda passou a usar mais cor em seus trabalhos. “Sabe que durante 35 anos eu não usei verde? Olha que coisa louca. Eu pintava o verde e depois acabava cobrindo de cinza, conta”.

 

 

O artista tem o hábito de desenhar durante telefonemas, muitas vezes tarde da noite, quando amigos o procuram para comentar o dia, ou filmes a que assistiram. Para isso, ele se vale de qualquer papel a sua frente, muitas vezes precisando dobrar a folha para continuar desenhando. Depois, o mosaico formado pelas várias imagens se transformam em pintura. “As imagens são tão diferentes que lembra a prática surrealista de desenhos produzidos coletivamente”, explica. A obra “Kadavre exquis, meu somente” (2017), em acrílica sobre tela, de 120 x 80 cm, é um exemplo disso. A família materna de Victor Arruda é russa e quando imigravam para o Brasil, sua mãe nasceu, em Harbin, na Manchúria, no período em que a Rússia ocupou a cidade, de 1896 a 1924. “Eles eram muito brancos, de olhos claros. Já a família de meu pai é uma mistura de portugueses com índios, negros,  provavelmente cristãos novos, por isso me considero um coquetel molotov”, brinca. Fiel as suas próprias pulsões internas, Victor Arruda mantém uma trajetória pulsante e coerente, que o público poderá conhecer, de forma abrangente, com esta exposição no MAM Rio.

 

 

De 17 de março a 17 de junho.

Ícone da Arte contemporânea

28/fev

Baró Galeria, Jardins, São Paulo, SP, tem o prazer de apresentar a mostra “ZAZEN”, individual do artista Daniel Arsham, importante ícone da arte norte-americana contemporânea. O ato de sentar e permitir o fluxo livre e contínuo de pensamentos recebe, no budismo, o nome de zazen. “Za” significa “sentar” e “zen” refere-se a um estado de concentração profunda. Zazen existe enquanto estado mental, no qual espaço e tempo são suspensos. Em “ZAZEN”, os trabalhos reunidos propõem uma outra experiência e percepção do fluxo do tempo.

 

Conhecido por trabalhos situados entre arte e arquitetura, nos quais intervém em nossas impressões sobre o espaço, a poética de Arsham também tange a dimensão temporal. Os trabalhos do artista tensionam a temporalidade na qual se inscreve a arquitetura onde se instalam: suas obras apresentam-se, no momento e espaço contemporâneos, como objetos que tem permanência em uma escala temporal quase geológica. O tempo, para o artista, não parece ter início ou fim absoluto, pois ele é percebido como uma longa duração, que atravessa e suspende a espacialidade.

 

Dentre os trabalhos que compõe a mostra, destacam-se “Ash and Rose Quartz Eroded Televisions” e o vídeo “Future Relic”. Tais trabalhos fazem parte da série “Fictional Archeology”, no qual o artista se coloca como um arqueólogo do futuro e convida os espectadores a fazerem o mesmo: objetos do presente são recriados como esculturas e expostos como relíquias. Nessa arqueologia ficcional, os artefatos contemporâneos parecem ter sido petrificados, pois são compostos por uma mistura de materiais rochosos, minerais e cimento. Ao contrário do que são hoje, objetos feitos em escala massiva e industrial, marcados pela rápida obsolescência do mundo do consumo, eles assumem um caráter único. Colocamo-nos diante deles como se estivéssemos diante de preciosidades, que resistiram ao tempo e às intempéries, mas que nos fazem rememorar nosso presente.

 

As obras “Blue Gradient Teddy Bear” e “Blue Gradient Seated Female Figure” integram uma instalação semelhante a “Blue Garden”, site specific realizado no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro, em 2017, no qual Daniel Arsham recria um jardim zen com areia e duas esculturas.  Na cultura milenar japonesa, tal jardim é um refúgio para concentração e para o fluxo de energia.  As marcas na areia realizadas com um restelo simbolizam, deste modo, o fluxo de água.  No jardim de Arsham, a figura da mulher sentada e de um urso de pelúcia também petrificados substituem as tradicionais pedras como elemento decorativos e criam uma situação de simultaneidade entre o universo tradicional, que se estende temporal e espacialmente, e o mundo contemporâneo fugidio e acelerado. Nos trabalhos que compõem a mostra, Arsham propõe ao espectador a experiência de um tempo que não é concreto – apesar da materialidade dos objetos de suas esculturas e instalações. O tempo, como no budismo, aparece como amplo e cíclico. Ele é, simultaneamente passado, presente e futuro, em um contínuo sem começo, meio e fim.

 

 

De 03 a 31 de março.

 

Prêmio na Arco

23/fev

A Galeria Cavalo, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, recebeuprêmio de melhor stand do setor Opening, destinado a jovens galerias, na feira de arte Arco Madrid 2018. Com obras de Marina Weffort e Pablo Pijnappel, a galeria carioca foi escolhida entre 19 espaços internacionais no setor que conta com curadoria de Stefanie Hessler e Ilaria Gianni. O prêmio foi entregue aos galeristas Ana Elisa Cohen e Felipe Pena por um júri de curadores e profissionais da arte. Com apenas dois anos de existência, essa é a segunda vez que a galeria recebe um prêmio em uma feira internacional, após o de melhor stand no setor New Entries da feira italiana Artissima em 2016.

 

O projeto desse ano conta com a video instalação “Exercícios Sensuais” de Pablo Pijnappel baseada em dois best-sellers americanos de 1968 e 1971 que ensinam homens e mulheres como seduzir seus parceiros, resultando em situações frustrantes quando adaptadas para o Rio de Janeiro atual. Estabelecendo um diálogo com a sensualidade desses vídeos, Marina Weffort exibe obras de sua série “Tecidos”, parte de sua pesquisa na elaboração de composições que se movimentam organicamente no ambiente em que são expostas.

Enredos para um corpo

Sob a curadoria de Raphael Fonseca, Paulo da Mata e Tales Frey, apresentam a partir de 01 de março, “Enredos para um corpo”, nas Galeria do 1º andar do Centro Cultural da Justiça Federal, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

 

Paulo da Mata e Tales Frey desenvolvem suas pesquisas em parceria há cerca de uma década. Mais do que cocriadores, os dois também são parceiros no campo dos afetos e possuem uma relação em que amor e trabalho se conectam. Desse encontro nasce a Cia. Excessos e essa mistura possibilita a experimentação entre as artes visuais e performativas. Porém, como se nota nessa exposição, estas metades têm pesquisas individuais que, mesmo dialógicas, demonstram suas peculiaridades. Distribuída em duas salas, “Enredos para um Corpo” parte do elemento mais investigado pelos dois: o corpo humano.

 

Na pesquisa de Paulo da Mata, a figura humana aparece de modo virtual em registros fotográficos e em vídeo. As tatuagens e a possibilidade de escrever palavras e imagens em seu próprio corpo são formas recorrentes para se refletir, por exemplo, sobre a sexualidade, os relacionamentos amorosos e questões de gênero. O vídeo “Romance Violentado” e o cartão postal impresso em série para “El Minotauro” testam o público quanto aos seus limites perante o som e a visão que insinuam o sexo ou a nudez masculina. Já em “Eu Gisberta” o artista aciona o seu interesse no estudo da História e, por meio de uma tatuagem em seu rosto, escancara o nome e o caso de Gisberta, transexual brasileira assassinada de forma brutal em 2006, no Porto, em Portugal – a mesma cidade em que os dois artistas vivem há dez anos.

 

Enquanto isso, a pesquisa de Tales Frey advém de sua experiência com as artes cênicas. O artista está interessado na sua presença física perante o olhar do público e seus trabalhos muitas vezes acontecem de maneira efêmera. As fotos que compõem “O Outro Beijo no Asfalto” trazem essas relações desde o seu título, uma citação à peça “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues. Duas pessoas se beijam no espaço público; o homem está vestido de noiva e seu par é uma mulher vestida de noivo. As fotos trazem um pouco do incômodo gerado quando algo foge, mesmo que sutilmente, da heteronormatividade. Enquanto isso, em “Re-banho” novamente a sexualidade é abordada, porém em relação à religião cristã. Um grupo de pessoas lava suas partes do corpo perante uma igreja e lembramos dos atos de censura e cerceamento impostos por diferentes religiões quanto à potência libertadora do sexo.

 

Por fim, “Estar a Par” é o trabalho mais recente mostrado e também executado em parceria. Assim como os outros trabalhos refletem, a partir do corpo, sobre sexualidade, homoafetividade e violência, nessa conjunção entre vídeo, objeto e performance, os artistas trazem essa discussão para uma interseção com sua própria relação afetiva. Dois pares de sapatos são transformados em uma única peça que, calçada pelos dois, possibilita uma dança que envolve cautela para que ambos performers não caiam.

 

O ato de se envolver em uma relação tão duradoura – assim como a opção por pinçar temas tão cautelosos nos tempos recentes – é certamente um balanço entre construção e queda, confiança e precaução. Esses são alguns dos enredos compostos por Paulo da Mata e Tales Frey para os seus corpos. Fica o convite à fruição por parte do público e o desejo de que os espectadores também sejam capazes de relacionar esses enredos com os seus próprios – independentemente de credo.

 

 

Obs: o artista Tales Frey fará uma visita orientada no dia 03 de março.

 

 

 

De 01 de março a 29 de abril.

Jorge Feitosa na Galeria VilaNova

A Galeria VilaNova, localizada Vila Nova Conceição, São Paulo, SP, inicia seu calendário expositivo de 2018 com “Lágrimas de Ouro”, do artista visual Jorge Feitosa, sob curadoria de Bianca Boeckel. Por meio de doze fotografias, oito objetos/esculturas, dois vídeos-performance, uma instalação e um painel formado por vinte imagens, a mostra apresenta um mergulho nas emoções mais íntimas do artista e propõe reflexão sobre a memória do corpo, trazendo a tona questões como deslocamento, identidade e morte.

 

“Nasci em Porto Velho (RO) e me mudei para São Paulo ainda adolescente. Desde pequeno, quando saía com meu pai, costumava ficar sempre olhando para o lado de fora do carro para não perder nada do que se passava, e são algumas dessas imagens e paisagens que permanecem na minha memória, mesmo que fragmentadas.” Ao se aprofundar nessas lembranças ou fragmentos de memórias, Jorge Feitosa extrai de si tudo que há de mais íntimo e pessoal, como afetividades, deslocamentos, informações, emoções e sentimentos, dos quais resultam sua produção artística. Em “Lágrimas de Ouro”, o artista performa frente à câmera cenas advindas de seu próprio subconsciente e as fotografa, criando assim uma forte carga imagética e que, em alguns trabalhos, se aproxima da foto-performance. “Ao interagir com o meio, animais vivos e mortos e matérias orgânicas, suas fotografias e vídeos ganham genuinidade e textura – é como se embarcássemos juntos em suas viagens”, comenta Bianca Boeckel, curadora da exposição.

 

Sobre a técnica, Jorge Feitosa prefere que ela seja desenhada e utilizada naturalmente, para não limitar as possibilidades de suporte. “Fico sempre aberto e atento, observando cada detalhe de tudo, só ai decido a técnica e suporte.” Para esta nova mostra na Galeria VilaNova, a temática do resgate da memória afetiva e emocional continua sendo sua escolha, mas agora na condição de um indivíduo que sofreu um deslocamento físico – remetendo principalmente a sua mudança de Porto Velho (RO) para São Paulo, quando adolescente. Em suas palavras: “Quando estou com uma imagem na cabeça e quero torná-la física, busco fazer isso no menor espaço de tempo para que ela não se perca. Ganho tempo já na seleção do que levo para minhas locações – duas câmeras, um tripé, três baterias, além e claro de contar com a luz natural do ambiente. Gosto que tudo seja rápido, pois na minha cabeça já tenho toda imagem resolvida. Acredito que isso conserva o frescor e a fidelidade que quero transmitir com um trabalho”.

 

A partir da pesquisa de imagens e fragmentos de memória, o artista dá início a um trabalho, revendo a origem dessas imagens. O próximo passo desse processo é sair a campo, geralmente entre São Paulo e Rondônia, onde tenta tornar física a inspiração estética que seu subconsciente buscou. Nas palavras de Ananda Carvalho, professora, crítica de arte e curadora: “Jorge Feitosa reflete sobre as buscas de uma identidade mestiça. O artista nasceu e cresceu em Porto Velho (Rondônia), mas vive na cidade de São Paulo há mais de 30 anos. Mas, além das referências biográficas, seu trabalho procura discutir uma concepção ampliada entre as forças que interferem na constituição das subjetividades do indivíduo contemporâneo”.

 

 

Sobre o artista

 

Jorge Feitosa nasceu em Porto Velho, RO, 1969. Vive e trabalha em São Paulo. É graduado em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2013) e também possui formação em fotografia pelo MAM de São Paulo, onde participou junto ao coletivo de fotógrafos da publicação do livro Luz Marginal Procura Corpo Vago. Pesquisa a performance e sua relação com a fotografia e vídeo, trazendo à tona um imaginário que apresenta questões inerentes ao homem contemporâneo, como por exemplo, a ideia de enraizamento e deslocamento. Entre suas principais exposições destacam-se Foto-Performance, Oficina Cultural Oswald de Andrade, SP (2015), Mappa Dell’arte Nuova – Imago Mundi Art – Fondazione Giorgio Cini, Veneza-Itália (2015), 2ª Bienal de Veneza/Neves, MG, (2015), Das Matizes as matrizes, SP ESTAMPA, Verve Galeria (2015), Performa-Projetos Curados/Curated Projects, SP-Arte – Feira Internacional de Arte de São Paulo (2015), Impressões Impressas, SP ESTAMPA, Verve Galeria (2014), Da Luz ao Inacabado, Galeria 13 – Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2014), Transfigurações – O que precede o corpo, Verve Galeria (2013) e Diálogos e Expressões Gráficas, SP ESTAMPA, no Museu de Belas Artes de São Paulo (2012).

 

 

 

Sobre a Galeria VilaNova

 

Localizada na região do Parque Ibirapuera, a Galeria VilaNova promove artistas em ascensão e consagrados, e tornou-se ponto de encontro para quem aprecia boa arte. Em sua 22ª exposição, a galeria atende a um público exigente, sempre em busca de novidades em fotografia, pinturas, esculturas e diversas mídias. Através de intensa pesquisa e de uma curadoria detalhista, exibe uma grande variedade de arte conceitualmente significativa e visualmente estimulante. Uma combinação de mostras coletivas e solo, além de um acervo eclético e em constante renovação, permitem que colecionadores apreciem trabalhos sempre novos e aprendam sobre as últimas tendências. Bianca Boeckel, proprietária e diretora, atua também como consultora de artistas e clientèle, lançando mão de sua experiência internacional.

 

 

De 1º de março a 07 de abril.

Fotos na Galeria da Gávea

07/fev

A Galeria da Gávea, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou com a exposição “Vadios e Beatos”, a primeira de uma trilogia relacionada ao Carnaval brasileiro. Em cada ano galeria terá um curador convidado e a exposição será sempre inaugurada uma semana antes do sábado de Carnaval. A mostra “Vadios e beatos” reúne cerca de 47 obras, entres eles dois vídeos (Bárbara Wagner e Benjamim Búrca/ Karim Aïnouz e Marcelo Gomes), e 45 fotografias de tamanhos variados, em cor e em preto e branco, em impressões de papel algodão e cópias vintage em gelatina de prata (impressas pelo artista na época em que as imagens foram feitas). As obras abrangem o período dos anos de 1970 até 2018. Participam, Antonio Augusto Fontes, Arthur Scovino, Bina Fonyat, Bruno Veiga, Carlos Vergara, Celso Brandão, Cláudio Edinger, Evandro Teixeira, Guy Veloso, Miguel Rio Branco, Rafael Bqueer, Ricardo Azoury, Rogério Reis, Shinji Nagabe e Walter Carvalho.

 

A curadoria de Marcelo Campos tem como ponto de partida a afirmação de um dos primeiros teóricos da arte brasileira, Gonzaga Duque, do final do século XIX, que demonstrava desencantamento com o futuro para as artes no Brasil. O critico observava personagens sociais, capadócios de importância que viviam “à boêmia” , “tocando viola nos fados”, jogando capoeira. Assim, foi-se criando uma análise que, anos depois, configuraria uma das mais importantes compreensões sobre os modos como o Brasil lidava com ritos identitários, como o carnaval.

 

 

Até 17 de abril. 

São Paulo Cultural

05/fev

Inaugurado em 1947, oito anos – Centro, São Paulo, SP -, após o início de sua construção, o edifício Altino Arantes foi inspirado no famoso Empire State Building, de Nova Iorque. Mas sua aparência inicial não foi planejada assim. Aliás, o prédio teve três projetos antes de ganhar a estrutura e altura que vemos, de 161 metros. Na primeira sala, coberta do chão ao teto por vermelho, a cor do banco Santander, já é possível sentir que experiências diferentes aguardam à frente. Essa sensação, por sinal, se confirma. No próximo ambiente, retangular, só o que há são espelhos. Mas logo uma guia avisa: “Um vídeo de três minutos será exibido. Caso alguém se sinta mal, pode segui adiante, pela porta na outra extremidade”. Depois do alerta, quase não há tempo para a curiosidade florir e diversas imagens são exibidas por todos os cantos da sala, em várias direções. Com isso, o verdadeiro show se forma e os visitantes passam a conhecer um pouco mais sobre o icônico edifício Altino Arantes, e como ele se tornou um ícone para a cidade. É o novo espaço cultural do Santander onde funcionou o antigo Banco do Estado.

 

 

Vista 360° do 4, por Vik Muniz

 

No 4º andar, entre a antiga rotina bancária e o hall dos presidentes, está uma exposição fotográfica que é um verdadeiro presente, não só para o Edifício, pois se trata de uma mostra permanente, mas também para a cidade. Criadas por Vik Muniz, as fotos retratam uma vista 360º dos prédios de São Paulo, o que inclui o Farol Santander no centro, como painel principal. As imagens expostas representam a vista que o artista tinha, do entorno do prédio, quando ele era criança e caminhava pelo local, com sua mãe. Essa obra, porém, não é uma fotografia da cidade, nem uma pintura. Muniz é um artista plástico famoso por seu apelo sustentável e por produzir experimentos/esculturas com diversos tipos de materiais, de cabelo a alimentos. Para criar a “Vista 360º do 4″, o artista utilizou mais de 20 toneladas de sucatas retiradas da reforma que transformou o antigo Edifício Banespa no atual Farol Santander. Para perceber isso, no entanto, é preciso se aproximar bem dos quadros, dada a perfeição do que ele construiu.

 

 

 

Exposições itinerantes

 

Essa é uma das grandes novidades do Edifício. Agora, o 22º, 23º e 24º andar do antigo Banespão respiram arte! A ideia é que o 22º e o 23º abriguem instalações de artistas nacionais e internacionais, sempre sobre temas interligados. Durante os primeiros meses após a inauguração do Farol Santander, o destaque entre as exposições fica por conta de um coletivo russo, chamado Tundra, com “The Day We Left Field”, que em português significa “O dia em que Saímos do Campo”. Lá, a recomendação é clara: não use celular, deite-se em um dos puffs da sala escura e aproveite a instalação audiovisual, que transporta qualquer pessoa para um mundo fictício, repleto de lasers e paisagens sonoras. A experiência é única e incrível!

Paulo Bruscky em Paris

09/jan

Paulo Bruscky durante a montagem de sua exposição no Centre Pompidou, Paris. A mostra, integra o programa “L’oeil écoute”, apresenta um recorte panorâmico da produção do artista desde o final dos anos 60, incluindo poemas/processo, filmes de artista, poesia sonora/áudio arte, classificados, arte correio, poesia visual, projetos conceituais, etc. Há ainda uma seção em homenagem/diálogo com o multiartista pernambucano Vicente do Rego Monteiro.

 

Parte dos trabalhos expostos será incorporada ao acervo da instituição francesa após o término da exposição, em cartaz até abril de 2018.

Prova de Artista/Fortes D’Aloia & Gabriel

18/dez

Já está aberta ao público a exposição “Prova de Artista” que encerra a programação 2017 da Fortes D’Aloia & Gabriel. A mostra permanecerá em cartaz até 24 de fevereiro na Galeria, Vila Madalena, São Paulo, SP. “Prova de artista” traz obras assinadas por Cabelo, Cristiano Lenhardt, Jac Leirner, Leda Catunda, Lucia Laguna, Luiz Zerbini, Mauro Restiffe, Odires Mlászho, Pedro França, Rodrigo Cass, Rodrigo Matheus e Sara Ramo.

 

Prova de Artista toma o título de empréstimo do termo originário da gravura – as provas de artista são as cópias que o autor reserva para si, à parte da edição final de uma obra – para investigar a relação de intimidade que o artista mantém com o próprio trabalho. Concebida e organizada pela equipe da Fortes D’Aloia & Gabriel, a coletiva reflete o desejo de desvelar questões próprias do fazer artístico que muitas vezes ficam restritas aos bastidores da produção.

 

Ao debruçar-se sobre as decisões que levam o artista a reconhecer a obra já em seu estado final ou compreendê-la como experimento de sua vivência no ateliê, a exposição promove a redescoberta de obras como Retalhos de Plástico (1996) de Leda Catunda. Tido pela artista como um estudo, o trabalho permanecia inédito e “esquecido” até então, podendo agora adentrar novos territórios semânticos. Rodrigo Cass exibe, em sequência, quatro vídeos realizados entre 2006 e 2007. São seus primeiros flertes com essa mídia, cuja mise-en-scène caseira revela um vínculo íntimo e afetivo. Contents (2017), uma pintura de concreto sobre linho, também desenvolve essa noção ao reinterpretar a pauta de seu caderno de anotações com alguns conceitos-chave que norteiam sua pesquisa.

 

Em conjunto, os trinta desenhos Sem título (2017) de Cabelo denotam um ritmo intenso de produção, excerto de uma série de 140 estudos a óleo realizada em apenas três dias. Antes de ganharem painéis, telas e murais de maior escala, seus seres híbridos convivem com anotações processuais, onde o próprio artista assinala a intensidade de sua práxis ao afirmar em um dos desenhos: “não paro”. A palavra também é explorada nas Cartas para Poemas Automáticos (2012) de Odires Mlászho, nas quais fragmentos de clichês tipográficos se mesclam ao fundo reticulado para dar origem a composições abstratas.

 

Retrato (2008) de Luiz Zerbini representa um ponto de virada em sua carreira e exemplifica sua diversificada investigação pictórica. Exibida originalmente como parte de uma instalação no Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, 2008), a obra é uma grande tela negra que vai à divisa da problemática da representação na pintura: sua superfície reflexiva é preenchida por vultos do entorno.

 

Jac Leirner apresenta duas obras que demonstram um contínuo compromisso de explorar os materiais até o limite. Osso 008 (40 Desenhos) (2008) é concebida a partir dos estudos de sua série com sacolas de plástico, enquanto Timeline (2008-2014) é feita com aparas de papel de outra obra, elegidas e agrupadas por inscrições das datas. De maneira análoga, os Desenhos (2016) de Lucia Laguna ganham forma a partir das sobras materiais de sua atividade: são colagens com as fitas utilizadas nas suas telas que traduzem de forma autônoma a abstração desenvolvida nas pinturas. Sara Ramo, por sua vez, cria esculturas de gesso pedra em Matriz e a Perversão da Forma (2015) a partir das máscaras de papel presentes em seu vídeo Os Ajudantes (2015).

 

O Radiador Bruto 5 (2017) de Cristiano Lenhardt é parte de um série iniciada em 2014. Retiradas do mundo em seu estado cru, a obra revela uma curiosa abstração espontânea, cuja geometria flerta com o aspecto randômico de outros trabalhos do artista. Em processo similar, Rodrigo Matheus instala a carcaça de um aparelho antigo de ar-condicionado no canto superior de uma das paredes da Galeria. Potencializado pela ambiguidade permissiva do teste, o corpo estranho adere ao espaço e instaura-se entre a dúvida e a possibilidade do pertencimento real.

 

A série Vermeer (1997-2002) de Mauro Restiffe esgarça os limites da metalinguagem ao explorar as possibilidades de presença de uma mesma fotografia em diferentes contextos. Se Vermeer (1997) apresentava uma pintura entrecortada de Johannes Vermeer no museu, Wrapped Vermeer (1999) é a foto da foto de 1997 embrulhada em plástico bolha, enquanto em Hanging Vermeer (2002) a mesma reaparece pendurada no laboratório fotográfico. Essa última, editada pela primeira vez especialmente para esta exposição, é apresentada com uma sequência de folhas de contato fotográficas que explicitam diferentes momentos da série e o processo de escolhas do artista.

 

Com Environ (2017), Pedro França ocupa o segundo andar da Galeria criando um ambiente distópico em tons verdes e azuis de chroma key. As peças são ambivalentes e podem ser lidas tanto como esculturas autônomas quanto como objetos de cena cuja presença converge no trabalho em vídeo que completa a instalação. Usando as superfícies de chroma key para inserir efeitos visuais, o artista continuará editando o vídeo ao longo da mostra, oferecendo uma obra em mutação que se coloca incessantemente à prova.

 

 

A galeria cumprirá o recesso de fim de ano: fechada entre 22 Dezembro 2017 e 07 Janeiro de 2018. No Carnaval: fechada entre 10 e 14 Fevereiro de 2018.