Recorte contemporâneo

26/jun

A exposição que está em cartaz no Grande Hall do Santander Cultural, Porto Alegre, RS, denominada “RSXXI – o Rio Grande do Sul Experimental”, recebeu a assinatura de Paulo Herkenhoff na curadoria.

 

A exibição reúne 80 obras de 12 destacados artistas da nova cena contemporânea gaúcha.
Esta exposição, que parte de uma sigla de fácil memória e que provoca curiosidade, “RSXXI”, se propõe a articular a força do processo de criação contemporâneo de artistas locais. Ainda que sem a pretensão de um levantamento completo, a iniciativa se firma como um foro de reconhecimento com um relevante recorte: André Severo, Cristiano Lenhardt, Daniel Escobar, Laura Cattani e Munir Klamt (Ío), Isabel Ramil, Ismael Monticelli, Leandro Machado, Marina Camargo, Michel Zózimo, Rafael Pagatini, Romy Pocztaruk e Xadalu apresentam fotografias, livros, instalações, vídeos, objetos, esculturas, serigrafias e documentos.

 

 

Até 29 de julho.

Aline Pascholati em Piracicaba

14/jun

A artista plástica Aline Pascholati exibe “Projeto Quotidiano” exposição inspirada na rotina dos centros urbanos que chega à Piracicaba, São Paulo, SP, na Sala Da Vinci, Centro Cultural Martha Watts.

 

A exposição é composta por uma instalação, uma colagem e vídeos que retratam o cotidiano e o compartilhamento do espaço coletivo urbano. A ideia surgiu da experiência de morar em Paris, devido ao caos da metrópole e a repetição do dia a dia. A reflexão deu origem à tela que dá nome ao projeto e é composta de um fundo branco imaculado e atemporal sobre o qual foram coladas em forma de círculo figuras recortadas de revistas, um material bastante comum.

 

O círculo é uma representação abstrata da imagem antiga do “Ouroboros”, serpente que come o próprio rabo e representa o eterno retorno. Essa colagem também foi a primeira obra que a artista expôs em sua carreira, no Salon Art en Capital – Salon des Indépendants no Grand Palais, em Paris, em 2011. A instalação é uma transposição material em 3D da tela, com objetos reais dos mais diversos cotidianos. Os visitantes poderão participar ativamente da obra, onde será possível deixar objetos que passarão a compor a instalação. A video-instalação propõe uma reflexão sobre a repetição diária e a rapidez do mundo contemporâneo através de imagens de pés caminhando em duas grandes estações de metro, São Paulo (Paulista-Consolação) e Düsseldorf (Hauptbanhof). A escolha de retratar apenas os pés representa o anonimato das grandes cidades e a maneira como somos frequentemente vistos – muitas vezes como números.

 

 

Sobre a artista

 

Artista plástica que também escritora sobre Arte e Cultura, Aline Pascholati, é diplomada em História da Arte pela Université Paris 1 –  Panthéon-Sorbonne, Paris, com grandes exposições e projetos acumulados em sua carreira. Com apenas 27 anos, Aline explora as mais diversas técnicas para se expressar, dentre elas pintura, fotografia, vitral, instalação, ilustração e vídeo arte. Já participou de exposições individuais e coletivas em sete países (Brasil, França, Itália, Eslovênia, Peru, Irã e Síria). Além de criar, a artista também tem seu próprio site sobre arte e cultura, o Artrianon, e um canal no YouTube no qual explica arte de maneira divertida, o Art Insider.

 

 

Até 29 de junho.

No Museu da República

04/jun

Em pleno ano eleitoral, a artista Simone Michelin dá um toque de crítica e ironia à história do Brasil na exposição “Corte Matuta, o musical”, que será inaugurada no dia 9 de junho, às 15h, na Galeria do Lago, no Museu da República. Sob curadoria de Isabel Sanson Portella, a mostra será composta por uma videoinstalação que apresenta um concurso para escolha de representantes de quadrilhas juninas como metáfora ilustrativa do processo eleitoral.

 

No trabalho, a artista apresenta uma votação para a escolha da Corte Matuta, Rei Matuto e Rainha Caipira, realizada em Boa Vista (RR), além de animações de maquetes 3D do Palácio do Planalto, águias e cowboys. A trilha sonora foi feita a partir de uma colagem dos comandos originais da quadrilha com fragmentos de músicas brasileiras, abrangendo diferentes períodos históricos.

 

“Para a pesquisa musical, utilizei o livro “Quem foi que inventou o Brasil?”, de Franklin Martins, que reúne mais de mil canções que contam a história da República de 1902 a 2002. Deslocando o contexto original da festa popular, minha intenção é parodiar a estrutura do estado brasileiro”, conta Simone Michelin.

 

 

Sobre a artista

 

Simone Michelin é artista e pesquisadora. Nascida em Bento Gonçalves (RS), vive e trabalha no Rio de Janeiro. Expõe seu trabalho e faz conferências no Brasil e exterior desde os anos 1980. Participa da segunda geração da Videoarte Nacional, pioneira nas investigações em arte e tecnologia no Brasil.

 

Sua última individual no Rio de Janeiro foi em 2013, na galeria A Gentil Carioca. No momento, seus trabalhos podem ser vistos nas exposições “Feito Poeira ao Vento”, fotografia na coleção do MAR – Museu de Arte do Rio, e “Todas as Mulheres do Mundo”, presenças femininas na coleção EAV Parque Lage, na Galeria EAV do Parque Lage.

 

Até 16 de agosto.

A obra de Bill Viola

30/mai

Pioneiro e nome incontornável no campo da videoarte, Bill Viola e sua obra são tema da exposição especialmente preparada que inaugurou o novo Sesc Avenida Paulista

 

A abertura do Sesc Avenida Paulista inaugura um período de muitos “primeiros”, que certamente marcarão a história da unidade e da relação dos frequentadores com o espaço. A primeiraexibição de vídeos integrada à primeiraexposição da nova unidade (Bill Viola – Visões do Tempo) aconteceu no início de maio.
Enquanto a exposição, em cartaz até 09 de setembro, apresenta, por meio de doze obras, um recorte de videoinstalações de Bill Viola (1951) produzidas de 2000 para cá, os quatro programas mensais de exibição de vídeos percorrem a produção anterior do artista norte-americano e oferecem uma retrospectiva de trabalhos seminais e consagrados no campo da videoarte e da expressão audiovisual, como The Reflecting Pool(A Piscina Refletora, 1977-9). É difícil observar as experimentações de Viola na edição das sequências de imagens e também na banda sonora desse vídeo ou de Ancient of Days(Ancião dos Dias, 1979-81) e Anthem(Hino, 1983), por exemplo, e não refletir sobre como a videoarte dos anos 70 e 80 conversa com impressionante desenvoltura com o que se produz e circula em vídeo, memes e gifs hoje nas redes sociais a partir dos onipresentes smartphones.

 

A câmera lenta, as transições inusitadas, o fast forwarde o rewind, a tela dividida e as ilusões provocadas deliberadamente por Bill Viola, pela proximidade com as práticas cotidianas de quem gera e compartilha conteúdo audiovisual pela internet, têm talvez a capacidade de provocar ainda mais curiosidade no visitante de 2018 – justamente pelo contexto e pelos instrumentos utilizados no momento de criação – do que geraram em suas primeiras exibições – feitas por canais de televisão.

 

Mas Viola não foi apenas visionário, em seu trabalho durante o século XX, quanto ao potencial formal do vídeo que se produziria para dentro e para fora das galerias de arte nas décadas seguintes. O artista, que trabalhou com outros grandes nomes da videoarte, como Nam June Paik e Peter Campus, desenvolveu um olhar particular e instigante sobre a experiência humana, a partir de influências ocidentais e orientais. Seus vídeos mais antigos, exibidos na programação integrada, e, sem dúvida, as instalações mais recentes, em exposição no 5º andar do Sesc Avenida Paulista, convidam a reflexões profundas sobre o corpo, a vida, a morte e o tempo – que é experimentado hoje em ritmo mais acelerado do que nunca!

Setembro: 33ª Bienal de São Paulo

29/mai

Intitulada “Afinidades afetivas”, mostra com curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro busca modelo alternativo ao uso de temáticas, privilegiando o olhar dos artistas sobre seus próprios contextos criativos

 

De 07 de setembro a 09 de dezembro, a 33ª Bienal de São Paulo – Afinidades afetivas vai privilegiar a experiência individual do espectador na apreciação das obras, em detrimento de um tema que favoreceria uma compreensão pré-estabelecida. O título escolhido pelo curador Gabriel Pérez-Barreiro – apontado pela Fundação Bienal de São Paulo para conceber a mostra – remete ao romance de Johann Wolfgang von Goethe Afinidades eletivas (1809) e à tese “Da natureza afetiva da forma na obra de arte” (1949), de Mário Pedrosa.

 

O título não tem o intuito de dar direcionamento temático à exposição, mas caracteriza a forma de organizar a exposição a partir de vínculos, afinidades artísticas e culturais entre os artistas envolvidos. Como no texto de Pedrosa, há uma proposta de investigação das formas pelas quais a arte cria um ambiente de relação e comunicação, passando do artista para o objeto e para o observador. Presença, atenção e influência do meio são as premissas que norteiam a curadoria desta edição, numa reação a um mundo de verdades prontas, no qual a fragmentação da informação e a dificuldade de concentração levam à alienação e à passividade.

 

O curador crê no aspecto positivo de uma mudança radical do sistema operacional da Bienal. Para esta edição, ao lado dos doze projetos individuais eleitos por Pérez-Barreiro, os sete artistas-curadores escolhidos por ele já definiram suas propostas expositivas, com total liberdade na escolha dos artistas e seleção das obras – a única limitação imposta a eles foi que incluíssem em suas exposições trabalhos de sua própria autoria.

 

 

Proposições curatoriais concebidas pelos artistas-curadores

 

A partir de seu interesse em questões como repetição, narrativa e tradução, Alejandro Cesarco (Montevidéu, Uruguai, 1975) realiza uma curadoria de obras de artistas que compartilham de suas inquietações conceituais e estéticas. Intitulada Aos nossos pais, “a mostra propõe questionamentos acerca de como o passado (a história) ao mesmo tempo possibilita e frustra potencialidades e de como ele pode ser reescrito pelo trabalho do artista, gerador de diferenças a partir de repetições”, explica. Além de Cesarco, participam da mostra artistas de três diferentes gerações, entre os quais Sturtevant (EUA, 1924 – França, 2014), Louise Lawler (EUA, 1947) e Cameron Rowland (EUA, 1988). “Dedicar esta exposição a uma relação primária (biológica ou adotiva, literal ou metafórica) é construir uma genealogia e uma tentativa de aproximação da fonte central de nossas interpretações, métodos, inibições, possibilidades e expectativas”.

 

Antonio Ballester Moreno(Madri, Espanha, 1977) aborda sua curadoria na 33ª Bienal como forma de contextualizar um universo baseado na relação íntima entre biologia e cultura, com referências à história da abstração e sua interação com natureza, pedagogia e espiritualidade. Para tanto, ele relaciona a produção de filósofos, cientistas e artistas: “somos todos criadores de nosso próprio mundo, mas entendo que tamanha variedade de linguagens nos separou da noção do que nos é comum, então esta proposta salienta o estudo de nossas origens, sejam elas relacionadas a aspectos naturais, sociais ou subjetivos — os três eixos que organizam a exposição”, afirma. Intitulada sentido/comum, a mostra abarca desde brinquedos educativos das vanguardas históricas e obras da Escuela de Vallecas à presença de artistas contemporâneos. Dentre os participantes, encontram-se o filósofo e pedagogo Friedrich Fröbel (Alemanha, 1782-1852); Andrea Büttner (Alemanha, 1972); Mark Dion (EUA, 1961); e Rafael Sánchez-Mateos Paniagua (Espanha, 1979), que contribuiu também com a publicação educativa Convite à atenção.

 

Para sua exposição intitulada O pássaro lento,Claudia Fontes(Buenos Aires, Argentina, 1964) parte de uma metanarrativa: um livro fictício homônimo cujo conteúdo é desconhecido, salvo por alguns fragmentos e por seus vestígios materiais. Fontes e os artistas convidados apresentam trabalhos que ativam as aproximações entre artes visuais, literatura e tradução através de experiências que propõem uma temporalidade expandida. “A experiência de velocidade e lentidão são experiências políticas enraizadas no corpo. Ambas influenciam nossos entendimentos de espaço, distância e possibilidade”, afirma Fontes. Em um processo curatorial horizontal e colaborativo, todos os participantes, à exceção de Roderick Hietbrink (Holanda, 1975), desenvolvem obras comissionadas para a ocasião: Ben Rivers (UK, 1972), Daniel Bozhkov (Bulgária, 1959), Elba Bairon (Bolívia, 1947), Katrín Sigurdardóttir (Islândia/EUA, 1967), Pablo Martín Ruiz (Argentina, 1964), Paola Sferco (Argentina, 1974), Sebastián Castagna (Argentina, 1965) e Žilvinas Landzbergas (Lituânia, 1979).

 

Para sua exposição, Stargazer II [Mira-estrela II], Mamma Andersson(Luleå, Suécia, 1962) reúne um grupo de artistas que têm inspirado e nutrido sua produção como pintora. A seleção inclui uma ampla gama de referências, como ícones russos do século 15, os “outsiders” Henry Darger (EUA, 1892-1973) e Dick Bengtsson (Suécia, 1936­-1989); e artistas contemporâneos como a cineasta Gunvor Nelson (Suécia, 1931) e o piloto de caça e artista sonoro Åke Hodell (Suécia, 1919-2000), entre outros. Em comum, todos os participantes compartilham o interesse pela figuração expressiva e pelo corpo humano. “Estou interessada em artistas que trabalham com a melancolia e a introspecção como um modo de vida e uma forma de sobrevivência”, afirma Andersson. A exposição inclui também uma quantidade significativa de pinturas de Andersson, estabelecendo um diálogo vibrante entre sua obra e suas inspirações artísticas.

 

A curadoria de Sofia Borges (Ribeirão Preto, Brasil, 1984), A infinita história das coisas ou o fim da tragédia do um, parte de interpretações filosóficas sobre a tragédia grega para mergulhar em uma colagem de referências mitológicas e investigar os limites da representação e da impossibilidade da linguagem enquanto instrumento de mediação do real. “Eu passei anos procurando, através da imagem, desvendar o estado de representação das coisas, até que entendi se tratar de uma questão sem solução, visto que ela é na verdade o problema do significado. A linguagem é em si trágica, porque ambígua, e não se pode usar uma matéria para falar de outra”, explica. Seu projeto expositivo se constrói a partir de um modelo curatorial misto em que a seleção de peças específicas é acompanhada por trabalhos comissionados. Uma das particularidades da proposta — que inclui obras de Jennifer Tee (Holanda, 1973), Leda Catunda (Brasil, 1961), Sarah Lucas (UK, 1962) e Tal Isaac Hadad (França, 1976), entre outros — é sua ativação por um programa de experimentações ao longo da duração da Bienal.

 

Waltercio Caldas (Rio de Janeiro, Brasil, 1946), que sempre considerou a história da arte como material de trabalho, projeta um espaço em que obras de diversos artistas são confrontadas com trabalhos de sua autoria. “Visto que a produção de um artista trata de inúmeras questões que variam ao longo do tempo, escolhi obras que desviam do que mais se conhece de cada um deles e se destacam por seu valor e especificidade. O resultado da relação entre as peças escolhidas passou a ser o principal interesse desta seleção”, explica. Caldas propõe uma reflexão sobre a poética, a natureza das formas e das ideias e suas implicações na atividade artística desde o final do século 19. “Procurei, através da tensão entre obras muito diversas, as surpresas esclarecedoras que resultam destes confrontos”, comenta. A partir de uma visão desafiadora do artista sobre sua própria obra e dos enfrentamentos muitas vezes inusitados — como entre trabalhos de Feliciano Centurión, que deixou seu país natal, o Paraguai, para radicar-se na Argentina, onde se tornou expoente da chamada geração “Rojas” (primeiros artistas a expor na galeria do Centro Cultural Rector Ricardo Rojas, da Universidad de Buenos Aires (Líbano, 1974) para criar, assim como ela, novos trabalhos em um processo curatorial colaborativo e horizontal. A produção dessas seis artistas “concilia aspectos íntimos (como corpo, memória e gesto) a épicos (arquitetura, história, nação)”, explica Ogunji. “Em diálogo aberto e contínuo, nossos projetos individuais abarcam práticas e linguagens distintas, que convergem em ideias e questões cruciais para a experimentação, a liberdade e o processo criativo”. O trabalho dessas artistas é afetado por suas histórias individuais e pelas complexas relações que mantêm com suas terras, nações e territórios. “Suas obras quebram as narrativas hegemônicas e abraçam interrupções como aberturas necessárias”, complementa a artista-curadora.

 

 

Os projetos individuais selecionados por Gabriel Pérez-Barreiro

 

Entre os doze projetos individuais escolhidos pelo curador, três deles são de artistas homenageados: Aníbal López (Cidade da Guatemala, Guatemala, 1964-2014), Feliciano Centurión (San Ignacio, Paraguai, 1962 – Buenos Aires, Argentina, 1996) e Lucia Nogueira (Goiânia, Brasil, 1950 – Londres, Reino Unido, 1998). “Eu queria artistas que fossem históricos, mas ao mesmo tempo não consagrados, ou seja, que esses núcleos não fossem apenas a reiteração de nomes que já conhecemos. Os artistas homenageados são pouco conhecidos na América Latina, mas são expoentes de sua geração, então trazê-los à Bienal é uma forma de resgatá-los do desaparecimento da história da arte e mostrá-los para as novas gerações”, diz Pérez-Barreiro. Para o curador, a realização dessas exposições também significa uma contribuição expressiva da Fundação Bienal na pesquisa, catalogação e recuperação desses acervos.

 

Aníbal López, também conhecido por A-153167, o número de sua cédula de identidade, foi um dos precursores da performance em seu país. Sua obra, que inclui vídeo, performance, live acte intervenções urbanas, entre outras formas de expressão, tem forte caráter político e se volta para questões de disputas entre fronteiras nacionais, culturas indígenas, abusos militares e até do mercado de arte. Registros em vídeo e fotografias de ações efêmeras, realizadas como forma de protesto à objetificação e fetichização da arte, compõem a mostra.

 

O universo queeré abordado com delicadeza por Feliciano Centurión, que deixou seu país natal, o Paraguai, para radicar-se na Argentina, onde se tornou expoente da chamada geração “Rojas” (primeiros artistas a expor na galeria do Centro Cultural Rector Ricardo Rojas, da Universidad de Buenos Aires) até ser vitimado por complicações decorrentes da AIDS, aos 34 anos. Centurión trabalhava primordialmente com tecidos e bordados, incorporando peças como lenços e crochês comprados em feirinhas portenhas. Descendente de uma família de bordadeiras, ele se apropria de práticas artesanais como linguagem artística para expressar elementos de sua história pessoal a partir de uma tradição familiar comum na cultura paraguaia.

 

Ainda pouco conhecida no Brasil, a goiana Lucia Nogueiraé uma figura essencial para compreender a arte britânica do período e desenvolveu uma carreira internacionalmente reconhecida. Suas esculturas e instalações, foco da individual incluída na 33ª Bienal, subvertem o utilitarismo de objetos com um humor sutil, tanto pela associação inusitada entre elementos quanto pelo jogo semântico constantemente presente em seus títulos, criando uma atmosfera de estranheza e poesia.

 

Projetos individuais de outros nove artistas, dos quais oito foram especialmente comissionados, completam a seleção de Pérez-Barreiro. Do grupo, o único a exibir um trabalho histórico é Siron Franco (Goiás Velho, Brasil, 1950), com a série de pinturas Césio/Rua 57.Nela, Franco eterniza a impressão de horror e isolamento causada pelo acidente radioativo acontecido em 1987 no Bairro Popular, em Goiânia, com o elemento Césio 137. Nascido e criado naquele bairro, o artista retornou à sua cidade natal logo após o acidente, na contramão da população local, deixando definitivamente o eixo Rio-São Paulo. Seus registros da catástrofe ambiental marcaram uma guinada em sua carreira, antes de temática irônica, para o uso de alegorias com elementos simbólicos.

 

Os oito artistas com projetos comissionados têm em comum o desenvolvimento de trabalhos que não se encaixam numa estrutura temática. “São pesquisas complexas que funcionam individualmente e não precisam de um contexto adicional para que o espectador se relacione com os trabalhos”, explica Pérez-Barreiro.

 

O portenho Alejandro Corujeira(Buenos Aires, Argentina, 1961) possui uma concepção formal leve e fluida, que parece querer captar o movimento da natureza. Ele terá esculturas e pinturas apresentadas na mostra.Denise Milan (São Paulo, Brasil, 1954) cria esculturas e instalações com grandes pedras e cristais. Na 33ª Bienal, a artista exibirá novos trabalhos nesses formatos.

 

O cotidiano serve de inspiração às obras de Maria Laet(Rio de Janeiro, Brasil, 1982), que exibirá um novo vídeo na 33a Bienal, e de Vânia Mignone(Campinas, Brasil, 1967), que trará pinturas inéditas. Nelson Felix (Rio de Janeiro, Brasil, 1954), que em seu “trabalho formal parece materializar uma consciência planetária”, nas palavras de Pérez-Barreiro, mostrará uma nova instalação escultórica.

 

As pesquisas de Bruno Moreschi(Maringá, Brasil, 1982) e Luiza Crosman(Rio de Janeiro, Brasil, 1987) se relacionam com a corrente da crítica institucional e fogem de suportes artísticos tradicionais. “Com esses artistas teremos, dentro da exposição, um olhar crítico sobre como a arte funciona, é exibida e justificada”, afirma Pérez-Barreiro. Partindo de uma abordagem pessoal e poética, Tamar Guimarães (Viçosa, Brasil, 1967), que une uma abordagem crítica sobre as instituições a preocupações poéticas e narrativas, apresentará um novo vídeo.

Ismaïl Bahri no Brasil

25/mai

Apresentada pela primeira vez no Jeu de Paume, de Paris, exposição “Instrumentos”traz seleção de nove vídeos do artista visual franco-tunisiano Ismaïl Bahri. Tomar o particular para refletir sobre o todo. Voltar-se para uma gotícula de água sobre a pele e chamar atenção para o tempo que nos cerca. Tomá-la como uma ferramenta de auscultação, que revela e amplia a força vital pulsante para, no fim, explicitar o desejo por um ritmo orgânico, avesso à agitação do mundo contemporâneo e da vida nas grandes metrópoles. É este o norte de “Ligne”,obra que sintetiza e abre a exposição que Espaço Cultural Porto Seguro, Campos Elíseos, São Paulo, SP,exibe até 22 de julho.

Assinada por Marie Bertran, curadora independente, e por Marta Gili, diretora do Jeu de Paume, de Paris, a exposição reúne nove videoinstalações do artista visual, a maior parte delas apresentada no centro de arte contemporânea parisiense entre junho e setembro de 2017. Em São Paulo, a mostra – primeira individual do artista na América Latina – conta com a correalização de Expomus Exposições, Museus, Projetos Culturais Ltda.

 

Os vídeos da exposição voltam-se para movimentos e elementos singelos: a veia pulsa, a linha separa, a mão amassa, o vento sopra, o fogo queima. Água, papel e tinta transformam-se de objetos a sujeitos protagonistas. “Na maioria das obras de Ismaïl Bahri, os instrumentos atuam como meio de intersecção entre o mundo físico e o mundo das ideias, liberando sutilmente uma série de hipóteses, cujos vereditos parecem ser indefinidamente adiados”, afirma Marta Gili.

“Valorizo em meu trabalho a busca pela simplicidade. O desafio está em, justamente, arranjar uma maneira de como expor uma questão pessoal para tratar um problema que é de todos”, afirma o artista. Nesta empreitada, Ismaïl dispõe-se a investigar, de modo extenuante, objetos, escalas, ângulos e linguagens. Ao longo dos trabalhos, o artista percorre um caminho crescente: o plano, que no início toma como foco uma gota de não mais que dois, três milímetros, vai se alargando até compreender uma paisagem inteira dentro dos limites da projeção. O mesmo ocorre com o conteúdo, material e mais figurativo em um primeiro momento, fluído e mais abstrato ao final.

 

Para o crítico e curador François Piron, a impermanência está no cerne do trabalho de Ismaïl. “O artista se posiciona como um observador, anda por aí e fala de miopia em relação ao seu trabalho. Ele então configura o que ele chama de dispositivo de captura para esses gestos, geralmente usando vídeo, mas também fotografia e som, sem distinção. É muitas vezes fora do quadro da imagem que o significado emerge, na presença perceptível do mundo circundante, que de repente é revelado”, afirma. “A obra de Ismaïl Bahri tem uma atuação potente e transformadora. Ela opera a partir de elementos muito sutis, mas que em seus trabalhos, passam a ser instrumentos de conexões inesperadas”, afirma Rodrigo Villela, diretor executivo do Espaço Cultural Porto Seguro.

 

 

Sobre o artista

 

Ismaïl Bahri nasceu em 1978, em Túnis, capital da Tunísia. Atualmente, vive e trabalha entre sua cidade natal e as francesas Paris e Lyon. O vídeo ocupa um lugar importante em seu trabalho, embora o artista crie também desenhos, fotografias e instalações. Sua obra volta-se a elementos simples da vida cotidiana, sobre os quais desenvolve processos e atribui questões universais. Participou da 13ª Bienal de Sharjah, nos Emirados Árabes, e expôs em instituições culturais como o Centro de Arte Contemporânea La Criée, em Rennes; no Jeu de Paume, em Paris; Les Églises, em Chelles; e no museu alemão Staatliche Kunsthalle, em Karlsruhe. Seus vídeos já foram exibidos nos festivais internacionais de cinema de Toronto, Nova York, Roterdam e Marselha; e a obra “Filme em branco” fez parte da exposição Levantes, de Georges Didi-Huberman, no Sesc Pinheiros (2017). Seus trabalhos apresentam relações profundas com a obra de artistas como o chileno Alfredo Jaar (com quem dividiu mesa na abertura da Paris Photo em 2017), o albanês Anri Sala, o belga Francis Alÿs ou o brasileiro Jonathas de Andrade, com os quais participou da Bienal de Sarjah (2013).

Visita guiada no Paço Imperial

17/mai

Neste sábado, dia 19 de maio, às 15h, a artista plástica Suzana Queiroga e o curador Raphael Fonseca farão uma visita-guiada pela exposição “Miradouro”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com entrada franca. A mostra, que pode ser vista até o dia 27 de maio, traz obras recentes e inéditas da artista, dentre pinturas, esculturas, instalações e vídeos, que mostram a pesquisa sobre o tempo, a paisagem e a cartografia.

Gryn&Reinhardt ArtRio 2018

07/mai

A ArtRio apresenta o curador do programa MIRA para 2018: David Gryn. O MIRA, que teve sua primeira edição em 2017 com uma agenda focada em vídeo arte, cresce este ano e incorpora também a música, sendo complementado pelo som ao vivo do DJ Max Reinhardt. As exibições serão em espaço ao ar livre na Esplanada da Marina da Glória.

 

As inscrições para o programa MIRA estão abertas. As galerias podem enviar suas propostas através do site http://artrio.art.br/mira-application. Todas as propostas e obras apresentadas serão avaliadas pelo curador do programa. A ArtRio 2018 acontece de 26 a 30 de setembro na Marina da Glória, Rio de Janeiro, RJ.

 

 

Sobre David Gryn

 

David Gryn é diretor da Daata Editions, plataforma online líder para o comissionamento, venda e exibição de artistas, mídias digitais, vídeo, som, poesia e web. Gryn é também diretor da Artprojx, consultoria especializada no desenvolvimento de projetos e plataformas de Cultura, curadoria e captação de recursos entre outras atividades sempre com foco no segmento de Arte.

 

Gryn é curador do programa de vídeo da Art Basel Miami Beach. Em 2017, o programa foi exibido em SoundScape Park, com projeção em paredão de cerca de 650 metros quadrados no icônico New World Center, prédio projetado por Frank Gehry.

 

 

Sobre Max Reinhardt

 

O inglês Max Reinhardt é DJ, músico, locutor e apresentador do Late Junction na BBC Radio 3. Reinhardt é parceiro de longa data de David Gryn, já tendo realizado projetos de arte em parceria durante a Art Basel Miami Beach e Moscou Museum Nights, além de ter participado de diversos programas ao vivo realizados em Londres.

 

 

Sobre a ArtRio 2018

 

Reconhecida como uma das mais importantes feiras internacionais de arte, a ArtRio se destaca pelos bons resultados alcançados pelos galeristas que participam no evento. Além de receber importantes colecionadores e curadores brasileiros e internacionais, a feira desenvolve um importante trabalho de estimular o crescimento de um novo público através do acesso à cultura. O evento faz parte do calendário oficial da cidade do Rio de Janeiro.

 

Além da presença dos nomes de forte relevância já estabelecidos no segmento, a ArtRio possui como foco também apresentar novas galerias e jovens artistas, grandes apostas para o mercado de arte, trazendo frescor e inovação à feira. A ArtRio é apresentada pelo Bradesco, através da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura.

A condição básica

04/abr

No dia 07 de abril, a Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, inaugura “A condição básica”, exposição coletiva que reúne trabalhos de mais de 30 artistas, entre brasileiros e estrangeiros, pertencentes ao acervo artístico da FVCB. A mostra conta também com obras dos artistas Elida Tessler e Guilherme Dable, especialmente convidados.

 

Fotografias, vídeos, serigrafias, livros de artista, obras gráficas e objetos, além de pinturas, esculturas e colagens integram a nova mostra com organização da Fundação Vera Chaves Barcellos que problematiza a questão da apropriação no universo das artes visuais na contemporaneidade.

 

 

Artistas participantes

 

Alejandra Andrade, Alfredo Nicolaiewsky, Ana Miguel, Anna Bella Geiger, Antonio Caro, Carlos Asp, Claudio Goulart, Elida Tessler, Enric Maurí, Fernando Alday, Guilherme Dable,  Guglielmo Achille Cavellini, Helena D’Avila, Hudinilson Jr, João Castilho, Julio Plaza, Klaus Gröh, Lenir de Miranda, León Ferrari,  Lia Menna Barreto, Lluís Capçada, Lurdi Blauth, Marlies Ritter, Nino Cais, Noemí Escandell, Patricio Farías, Sandro Ka, Telmo Lanes, Walda Marques, Vera Chaves Barcellos e Vilma Sonaglio.

Valeska Soares nos EUA

26/mar

“Valeska Soares: Any moment now” que o Phoenix Art Museum, Arizona, exibe  é uma exposição de pesquisa e trata-se do primeiro trabalho de Valeska Soares em um museu dos EUA desde 2003. A exposição apresenta cerca de 45 trabalhos multimídia, esculturas, vídeos e instalações criadas pela artista brasileira durante as últimas duas décadas. Este projeto representa uma parceria histórica entre o Phoenix e o Museu de Arte de Santa Barbara, como parte da hora padrão Getty-LED do Pacífico: la/la Initiative. 

 

Valeska Soares cria obras de arte polidas e minimalistas que incentivam a participação dos visitantes. Através da instalação e assemblage, ela se envolve com tradições da arte internacional e literatura mundial. Em sua arte multifacetada, ela demonstra um fascínio com o espaço e o tempo, bem como o que ocorre além de seus limites percebidos. Suas obras envolvem diretamente a subjetividade dos visitantes, cultivando a experiência pessoal e o conhecimento universal e como cada um deles afeta o outro. As instalações ambientais de Valeska Soares incorporam os efeitos da reflexão, luz, entropia e até aroma. Tais qualidades experienciais são prestados através da incorporação de espelhos suspensos, luminárias, flores perecendo, e vasos de perfume e licor que evaporam lentamente ao longo da exposição. Muitas vezes ela também cria instalações de páginas de livro, capas e ligações para tecer significados entre textos díspares que os telespectadores que se conectam conceitualmente por associação. Passado e futuro, simultaneamente, permeam suas instalações e objetos, sugerindo uma narrativa subjacente que é muitas vezes cíclico. Tecendo juntos os temas da memória, do tempo e do sensorial, Valeska Soares cria obras poéticas que se fundem e expandem sobre as linguagens do Minimalismo e da Arte conceitual. Como o artista brasileiro Vik Muniz afirmou: “…através de uma gama aparentemente inesgotável de técnicas, temas e estratégias, o trabalho de Soares oscila entre a materialidade e a memória, o desejo e a deterioração, a sensação e a intoxicação”.

 

 

Até 15 de julho.