Enredos para um corpo

23/fev

Sob a curadoria de Raphael Fonseca, Paulo da Mata e Tales Frey, apresentam a partir de 01 de março, “Enredos para um corpo”, nas Galeria do 1º andar do Centro Cultural da Justiça Federal, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

 

Paulo da Mata e Tales Frey desenvolvem suas pesquisas em parceria há cerca de uma década. Mais do que cocriadores, os dois também são parceiros no campo dos afetos e possuem uma relação em que amor e trabalho se conectam. Desse encontro nasce a Cia. Excessos e essa mistura possibilita a experimentação entre as artes visuais e performativas. Porém, como se nota nessa exposição, estas metades têm pesquisas individuais que, mesmo dialógicas, demonstram suas peculiaridades. Distribuída em duas salas, “Enredos para um Corpo” parte do elemento mais investigado pelos dois: o corpo humano.

 

Na pesquisa de Paulo da Mata, a figura humana aparece de modo virtual em registros fotográficos e em vídeo. As tatuagens e a possibilidade de escrever palavras e imagens em seu próprio corpo são formas recorrentes para se refletir, por exemplo, sobre a sexualidade, os relacionamentos amorosos e questões de gênero. O vídeo “Romance Violentado” e o cartão postal impresso em série para “El Minotauro” testam o público quanto aos seus limites perante o som e a visão que insinuam o sexo ou a nudez masculina. Já em “Eu Gisberta” o artista aciona o seu interesse no estudo da História e, por meio de uma tatuagem em seu rosto, escancara o nome e o caso de Gisberta, transexual brasileira assassinada de forma brutal em 2006, no Porto, em Portugal – a mesma cidade em que os dois artistas vivem há dez anos.

 

Enquanto isso, a pesquisa de Tales Frey advém de sua experiência com as artes cênicas. O artista está interessado na sua presença física perante o olhar do público e seus trabalhos muitas vezes acontecem de maneira efêmera. As fotos que compõem “O Outro Beijo no Asfalto” trazem essas relações desde o seu título, uma citação à peça “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues. Duas pessoas se beijam no espaço público; o homem está vestido de noiva e seu par é uma mulher vestida de noivo. As fotos trazem um pouco do incômodo gerado quando algo foge, mesmo que sutilmente, da heteronormatividade. Enquanto isso, em “Re-banho” novamente a sexualidade é abordada, porém em relação à religião cristã. Um grupo de pessoas lava suas partes do corpo perante uma igreja e lembramos dos atos de censura e cerceamento impostos por diferentes religiões quanto à potência libertadora do sexo.

 

Por fim, “Estar a Par” é o trabalho mais recente mostrado e também executado em parceria. Assim como os outros trabalhos refletem, a partir do corpo, sobre sexualidade, homoafetividade e violência, nessa conjunção entre vídeo, objeto e performance, os artistas trazem essa discussão para uma interseção com sua própria relação afetiva. Dois pares de sapatos são transformados em uma única peça que, calçada pelos dois, possibilita uma dança que envolve cautela para que ambos performers não caiam.

 

O ato de se envolver em uma relação tão duradoura – assim como a opção por pinçar temas tão cautelosos nos tempos recentes – é certamente um balanço entre construção e queda, confiança e precaução. Esses são alguns dos enredos compostos por Paulo da Mata e Tales Frey para os seus corpos. Fica o convite à fruição por parte do público e o desejo de que os espectadores também sejam capazes de relacionar esses enredos com os seus próprios – independentemente de credo.

 

 

Obs: o artista Tales Frey fará uma visita orientada no dia 03 de março.

 

 

 

De 01 de março a 29 de abril.

Jorge Feitosa na Galeria VilaNova

A Galeria VilaNova, localizada Vila Nova Conceição, São Paulo, SP, inicia seu calendário expositivo de 2018 com “Lágrimas de Ouro”, do artista visual Jorge Feitosa, sob curadoria de Bianca Boeckel. Por meio de doze fotografias, oito objetos/esculturas, dois vídeos-performance, uma instalação e um painel formado por vinte imagens, a mostra apresenta um mergulho nas emoções mais íntimas do artista e propõe reflexão sobre a memória do corpo, trazendo a tona questões como deslocamento, identidade e morte.

 

“Nasci em Porto Velho (RO) e me mudei para São Paulo ainda adolescente. Desde pequeno, quando saía com meu pai, costumava ficar sempre olhando para o lado de fora do carro para não perder nada do que se passava, e são algumas dessas imagens e paisagens que permanecem na minha memória, mesmo que fragmentadas.” Ao se aprofundar nessas lembranças ou fragmentos de memórias, Jorge Feitosa extrai de si tudo que há de mais íntimo e pessoal, como afetividades, deslocamentos, informações, emoções e sentimentos, dos quais resultam sua produção artística. Em “Lágrimas de Ouro”, o artista performa frente à câmera cenas advindas de seu próprio subconsciente e as fotografa, criando assim uma forte carga imagética e que, em alguns trabalhos, se aproxima da foto-performance. “Ao interagir com o meio, animais vivos e mortos e matérias orgânicas, suas fotografias e vídeos ganham genuinidade e textura – é como se embarcássemos juntos em suas viagens”, comenta Bianca Boeckel, curadora da exposição.

 

Sobre a técnica, Jorge Feitosa prefere que ela seja desenhada e utilizada naturalmente, para não limitar as possibilidades de suporte. “Fico sempre aberto e atento, observando cada detalhe de tudo, só ai decido a técnica e suporte.” Para esta nova mostra na Galeria VilaNova, a temática do resgate da memória afetiva e emocional continua sendo sua escolha, mas agora na condição de um indivíduo que sofreu um deslocamento físico – remetendo principalmente a sua mudança de Porto Velho (RO) para São Paulo, quando adolescente. Em suas palavras: “Quando estou com uma imagem na cabeça e quero torná-la física, busco fazer isso no menor espaço de tempo para que ela não se perca. Ganho tempo já na seleção do que levo para minhas locações – duas câmeras, um tripé, três baterias, além e claro de contar com a luz natural do ambiente. Gosto que tudo seja rápido, pois na minha cabeça já tenho toda imagem resolvida. Acredito que isso conserva o frescor e a fidelidade que quero transmitir com um trabalho”.

 

A partir da pesquisa de imagens e fragmentos de memória, o artista dá início a um trabalho, revendo a origem dessas imagens. O próximo passo desse processo é sair a campo, geralmente entre São Paulo e Rondônia, onde tenta tornar física a inspiração estética que seu subconsciente buscou. Nas palavras de Ananda Carvalho, professora, crítica de arte e curadora: “Jorge Feitosa reflete sobre as buscas de uma identidade mestiça. O artista nasceu e cresceu em Porto Velho (Rondônia), mas vive na cidade de São Paulo há mais de 30 anos. Mas, além das referências biográficas, seu trabalho procura discutir uma concepção ampliada entre as forças que interferem na constituição das subjetividades do indivíduo contemporâneo”.

 

 

Sobre o artista

 

Jorge Feitosa nasceu em Porto Velho, RO, 1969. Vive e trabalha em São Paulo. É graduado em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2013) e também possui formação em fotografia pelo MAM de São Paulo, onde participou junto ao coletivo de fotógrafos da publicação do livro Luz Marginal Procura Corpo Vago. Pesquisa a performance e sua relação com a fotografia e vídeo, trazendo à tona um imaginário que apresenta questões inerentes ao homem contemporâneo, como por exemplo, a ideia de enraizamento e deslocamento. Entre suas principais exposições destacam-se Foto-Performance, Oficina Cultural Oswald de Andrade, SP (2015), Mappa Dell’arte Nuova – Imago Mundi Art – Fondazione Giorgio Cini, Veneza-Itália (2015), 2ª Bienal de Veneza/Neves, MG, (2015), Das Matizes as matrizes, SP ESTAMPA, Verve Galeria (2015), Performa-Projetos Curados/Curated Projects, SP-Arte – Feira Internacional de Arte de São Paulo (2015), Impressões Impressas, SP ESTAMPA, Verve Galeria (2014), Da Luz ao Inacabado, Galeria 13 – Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2014), Transfigurações – O que precede o corpo, Verve Galeria (2013) e Diálogos e Expressões Gráficas, SP ESTAMPA, no Museu de Belas Artes de São Paulo (2012).

 

 

 

Sobre a Galeria VilaNova

 

Localizada na região do Parque Ibirapuera, a Galeria VilaNova promove artistas em ascensão e consagrados, e tornou-se ponto de encontro para quem aprecia boa arte. Em sua 22ª exposição, a galeria atende a um público exigente, sempre em busca de novidades em fotografia, pinturas, esculturas e diversas mídias. Através de intensa pesquisa e de uma curadoria detalhista, exibe uma grande variedade de arte conceitualmente significativa e visualmente estimulante. Uma combinação de mostras coletivas e solo, além de um acervo eclético e em constante renovação, permitem que colecionadores apreciem trabalhos sempre novos e aprendam sobre as últimas tendências. Bianca Boeckel, proprietária e diretora, atua também como consultora de artistas e clientèle, lançando mão de sua experiência internacional.

 

 

De 1º de março a 07 de abril.

Fotos na Galeria da Gávea

07/fev

A Galeria da Gávea, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou com a exposição “Vadios e Beatos”, a primeira de uma trilogia relacionada ao Carnaval brasileiro. Em cada ano galeria terá um curador convidado e a exposição será sempre inaugurada uma semana antes do sábado de Carnaval. A mostra “Vadios e beatos” reúne cerca de 47 obras, entres eles dois vídeos (Bárbara Wagner e Benjamim Búrca/ Karim Aïnouz e Marcelo Gomes), e 45 fotografias de tamanhos variados, em cor e em preto e branco, em impressões de papel algodão e cópias vintage em gelatina de prata (impressas pelo artista na época em que as imagens foram feitas). As obras abrangem o período dos anos de 1970 até 2018. Participam, Antonio Augusto Fontes, Arthur Scovino, Bina Fonyat, Bruno Veiga, Carlos Vergara, Celso Brandão, Cláudio Edinger, Evandro Teixeira, Guy Veloso, Miguel Rio Branco, Rafael Bqueer, Ricardo Azoury, Rogério Reis, Shinji Nagabe e Walter Carvalho.

 

A curadoria de Marcelo Campos tem como ponto de partida a afirmação de um dos primeiros teóricos da arte brasileira, Gonzaga Duque, do final do século XIX, que demonstrava desencantamento com o futuro para as artes no Brasil. O critico observava personagens sociais, capadócios de importância que viviam “à boêmia” , “tocando viola nos fados”, jogando capoeira. Assim, foi-se criando uma análise que, anos depois, configuraria uma das mais importantes compreensões sobre os modos como o Brasil lidava com ritos identitários, como o carnaval.

 

 

Até 17 de abril. 

São Paulo Cultural

05/fev

Inaugurado em 1947, oito anos – Centro, São Paulo, SP -, após o início de sua construção, o edifício Altino Arantes foi inspirado no famoso Empire State Building, de Nova Iorque. Mas sua aparência inicial não foi planejada assim. Aliás, o prédio teve três projetos antes de ganhar a estrutura e altura que vemos, de 161 metros. Na primeira sala, coberta do chão ao teto por vermelho, a cor do banco Santander, já é possível sentir que experiências diferentes aguardam à frente. Essa sensação, por sinal, se confirma. No próximo ambiente, retangular, só o que há são espelhos. Mas logo uma guia avisa: “Um vídeo de três minutos será exibido. Caso alguém se sinta mal, pode segui adiante, pela porta na outra extremidade”. Depois do alerta, quase não há tempo para a curiosidade florir e diversas imagens são exibidas por todos os cantos da sala, em várias direções. Com isso, o verdadeiro show se forma e os visitantes passam a conhecer um pouco mais sobre o icônico edifício Altino Arantes, e como ele se tornou um ícone para a cidade. É o novo espaço cultural do Santander onde funcionou o antigo Banco do Estado.

 

 

Vista 360° do 4, por Vik Muniz

 

No 4º andar, entre a antiga rotina bancária e o hall dos presidentes, está uma exposição fotográfica que é um verdadeiro presente, não só para o Edifício, pois se trata de uma mostra permanente, mas também para a cidade. Criadas por Vik Muniz, as fotos retratam uma vista 360º dos prédios de São Paulo, o que inclui o Farol Santander no centro, como painel principal. As imagens expostas representam a vista que o artista tinha, do entorno do prédio, quando ele era criança e caminhava pelo local, com sua mãe. Essa obra, porém, não é uma fotografia da cidade, nem uma pintura. Muniz é um artista plástico famoso por seu apelo sustentável e por produzir experimentos/esculturas com diversos tipos de materiais, de cabelo a alimentos. Para criar a “Vista 360º do 4″, o artista utilizou mais de 20 toneladas de sucatas retiradas da reforma que transformou o antigo Edifício Banespa no atual Farol Santander. Para perceber isso, no entanto, é preciso se aproximar bem dos quadros, dada a perfeição do que ele construiu.

 

 

 

Exposições itinerantes

 

Essa é uma das grandes novidades do Edifício. Agora, o 22º, 23º e 24º andar do antigo Banespão respiram arte! A ideia é que o 22º e o 23º abriguem instalações de artistas nacionais e internacionais, sempre sobre temas interligados. Durante os primeiros meses após a inauguração do Farol Santander, o destaque entre as exposições fica por conta de um coletivo russo, chamado Tundra, com “The Day We Left Field”, que em português significa “O dia em que Saímos do Campo”. Lá, a recomendação é clara: não use celular, deite-se em um dos puffs da sala escura e aproveite a instalação audiovisual, que transporta qualquer pessoa para um mundo fictício, repleto de lasers e paisagens sonoras. A experiência é única e incrível!

Paulo Bruscky em Paris

09/jan

Paulo Bruscky durante a montagem de sua exposição no Centre Pompidou, Paris. A mostra, integra o programa “L’oeil écoute”, apresenta um recorte panorâmico da produção do artista desde o final dos anos 60, incluindo poemas/processo, filmes de artista, poesia sonora/áudio arte, classificados, arte correio, poesia visual, projetos conceituais, etc. Há ainda uma seção em homenagem/diálogo com o multiartista pernambucano Vicente do Rego Monteiro.

 

Parte dos trabalhos expostos será incorporada ao acervo da instituição francesa após o término da exposição, em cartaz até abril de 2018.

Prova de Artista/Fortes D’Aloia & Gabriel

18/dez

Já está aberta ao público a exposição “Prova de Artista” que encerra a programação 2017 da Fortes D’Aloia & Gabriel. A mostra permanecerá em cartaz até 24 de fevereiro na Galeria, Vila Madalena, São Paulo, SP. “Prova de artista” traz obras assinadas por Cabelo, Cristiano Lenhardt, Jac Leirner, Leda Catunda, Lucia Laguna, Luiz Zerbini, Mauro Restiffe, Odires Mlászho, Pedro França, Rodrigo Cass, Rodrigo Matheus e Sara Ramo.

 

Prova de Artista toma o título de empréstimo do termo originário da gravura – as provas de artista são as cópias que o autor reserva para si, à parte da edição final de uma obra – para investigar a relação de intimidade que o artista mantém com o próprio trabalho. Concebida e organizada pela equipe da Fortes D’Aloia & Gabriel, a coletiva reflete o desejo de desvelar questões próprias do fazer artístico que muitas vezes ficam restritas aos bastidores da produção.

 

Ao debruçar-se sobre as decisões que levam o artista a reconhecer a obra já em seu estado final ou compreendê-la como experimento de sua vivência no ateliê, a exposição promove a redescoberta de obras como Retalhos de Plástico (1996) de Leda Catunda. Tido pela artista como um estudo, o trabalho permanecia inédito e “esquecido” até então, podendo agora adentrar novos territórios semânticos. Rodrigo Cass exibe, em sequência, quatro vídeos realizados entre 2006 e 2007. São seus primeiros flertes com essa mídia, cuja mise-en-scène caseira revela um vínculo íntimo e afetivo. Contents (2017), uma pintura de concreto sobre linho, também desenvolve essa noção ao reinterpretar a pauta de seu caderno de anotações com alguns conceitos-chave que norteiam sua pesquisa.

 

Em conjunto, os trinta desenhos Sem título (2017) de Cabelo denotam um ritmo intenso de produção, excerto de uma série de 140 estudos a óleo realizada em apenas três dias. Antes de ganharem painéis, telas e murais de maior escala, seus seres híbridos convivem com anotações processuais, onde o próprio artista assinala a intensidade de sua práxis ao afirmar em um dos desenhos: “não paro”. A palavra também é explorada nas Cartas para Poemas Automáticos (2012) de Odires Mlászho, nas quais fragmentos de clichês tipográficos se mesclam ao fundo reticulado para dar origem a composições abstratas.

 

Retrato (2008) de Luiz Zerbini representa um ponto de virada em sua carreira e exemplifica sua diversificada investigação pictórica. Exibida originalmente como parte de uma instalação no Centro Universitário Maria Antonia (São Paulo, 2008), a obra é uma grande tela negra que vai à divisa da problemática da representação na pintura: sua superfície reflexiva é preenchida por vultos do entorno.

 

Jac Leirner apresenta duas obras que demonstram um contínuo compromisso de explorar os materiais até o limite. Osso 008 (40 Desenhos) (2008) é concebida a partir dos estudos de sua série com sacolas de plástico, enquanto Timeline (2008-2014) é feita com aparas de papel de outra obra, elegidas e agrupadas por inscrições das datas. De maneira análoga, os Desenhos (2016) de Lucia Laguna ganham forma a partir das sobras materiais de sua atividade: são colagens com as fitas utilizadas nas suas telas que traduzem de forma autônoma a abstração desenvolvida nas pinturas. Sara Ramo, por sua vez, cria esculturas de gesso pedra em Matriz e a Perversão da Forma (2015) a partir das máscaras de papel presentes em seu vídeo Os Ajudantes (2015).

 

O Radiador Bruto 5 (2017) de Cristiano Lenhardt é parte de um série iniciada em 2014. Retiradas do mundo em seu estado cru, a obra revela uma curiosa abstração espontânea, cuja geometria flerta com o aspecto randômico de outros trabalhos do artista. Em processo similar, Rodrigo Matheus instala a carcaça de um aparelho antigo de ar-condicionado no canto superior de uma das paredes da Galeria. Potencializado pela ambiguidade permissiva do teste, o corpo estranho adere ao espaço e instaura-se entre a dúvida e a possibilidade do pertencimento real.

 

A série Vermeer (1997-2002) de Mauro Restiffe esgarça os limites da metalinguagem ao explorar as possibilidades de presença de uma mesma fotografia em diferentes contextos. Se Vermeer (1997) apresentava uma pintura entrecortada de Johannes Vermeer no museu, Wrapped Vermeer (1999) é a foto da foto de 1997 embrulhada em plástico bolha, enquanto em Hanging Vermeer (2002) a mesma reaparece pendurada no laboratório fotográfico. Essa última, editada pela primeira vez especialmente para esta exposição, é apresentada com uma sequência de folhas de contato fotográficas que explicitam diferentes momentos da série e o processo de escolhas do artista.

 

Com Environ (2017), Pedro França ocupa o segundo andar da Galeria criando um ambiente distópico em tons verdes e azuis de chroma key. As peças são ambivalentes e podem ser lidas tanto como esculturas autônomas quanto como objetos de cena cuja presença converge no trabalho em vídeo que completa a instalação. Usando as superfícies de chroma key para inserir efeitos visuais, o artista continuará editando o vídeo ao longo da mostra, oferecendo uma obra em mutação que se coloca incessantemente à prova.

 

 

A galeria cumprirá o recesso de fim de ano: fechada entre 22 Dezembro 2017 e 07 Janeiro de 2018. No Carnaval: fechada entre 10 e 14 Fevereiro de 2018.

Vik Muniz em Ipanema

11/dez

 

A Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, traz para a sua sede carioca “Handmade”, exposição de Vik Muniz, cuja primeira versão foi apresentada em seu espaço paulistano em 2016. A série Handmade chega ao Rio com obras inéditas nas quais Vik renova caminhos e procedimentos presentes em sua produção, ao investigar a tênue fronteira entre realidade e representação, entre o objeto original e sua cópia. Sem recurso narrativo, as obras revelam explicitamente o processo do trabalho, ao mesmo tempo em que brinca com as certezas do espectador.

 

Segundo o artista, o que você espera ser uma foto não é, e o que você espera que seja um objeto é uma imagem fotográfica. “Em uma época em que tudo é reprodutível, a diferença entre a obra e a imagem da obra quase não existe”, diz. Em seu texto sobre a série, Luisa Duarte aponta a dificuldade de se distinguir onde termina a cópia e onde começa a intervenção manual do artista. “É nesse limbo das certezas que o artista deseja nos inserir”.

 

Duarte ressalta que, em Handmade, diferentemente de suas obras realizadas a partir de imagens conhecidas e referências a materiais mundanos, “Vik alude à vasta tradição da arte abstrata, destilando para isso suas fórmulas básicas na criação de maneiras inusitadas de meditar sobre a imagem e o objeto, sobre a ambiguidade dos sentidos e a importância da ilusão”. Em seu texto, Luisa Duarte conclui: “Handmade traça a constante preocupação do artista em transcender as dimensões simbólicas da imagem”.

 

Além da paradoxal relação entre imagem e objeto e do recorrente uso de estratégias ilusionistas – “A ilusão é um requisito fundamental de todo tipo de linguagem”, diz -, esses trabalhos flertam com a arte conceitual e estabelecem um intenso diálogo com a arte abstrata, cinética e concreta. Sobretudo, segundo Vik, pelo interesse comum em relação às teorias da Gestalt, mais especificamente nos campos da psicologia e da ciência.

 

 

Sobre o artista

 

Vik Muniz nasceu em 1961, São Paulo, Brasil. O artista vive  e trabalha entre Rio de Janeiro e Nova York)  e destaca-se como um dos artistas mais inovadores e criativos do século 21. Conhecido por criar o que ele descreve como ilusões fotográficas, Muniz trabalha com uma vasta gama de materiais não convencionais – incluindo açúcar, diamantes, recortes de revista, calda de chocolate, poeira e lixo – para meticulosamente criar imagens antes de registrá-las com sua câmera. Suas fotografias muitas vezes citam imagens icônicas da cultura popular e da história da arte, desafiando a fácil classificação e a percepção do espectador. Sua produção mais recente propõe um desafio ao público ao apresentar trabalhos que colocam o espectador constantemente em xeque sobre os limites entre realidade e representação, como atesta a obra Two Nails (1987/2016), cuja primeira versão pertence ao MoMA de Nova York. Vik Muniz iniciou sua carreira artística ao chegar em Nova York em 1984, realizando sua primeira exposição individual em 1988. Desde então, vem conquistando enorme reconhecimento, expondo em prestigiadas instituições em todo o mundo. Podemos destacar entre elas: Vik Muniz: Handmade (Nichido Contemporary Art, NCA, Tóquio, Japão, 2017); Afterglow: Pictures of Ruins (Palazzo Cini, Veneza, Itália, 2017); Vik Muniz (Museo de Arte Contemporáneo, Monterrei , México, 2017); Vik Muniz: A Retrospective (Eskenazi Museum of Art, Bloomington, EUA, 2017); Vik Muniz (High Museum of Art, Atlanta, EUA, 2016); Vik Muniz: Verso (Mauritshuis, The Hage, Holanda, 2016); Lampedusa, 56a Bienal de Veneza (Naval Environment of Venice, Itália, 2015); Vik Muniz: Poetics of Perceptions (Lowe Art Museum, Miami, EUA, 2015); edição de 2000 da Bienal de Whitney (Whitney Museum of American Art); 46ª Exposição Bienal Media/Metaphor (Corcoran Gallery of Art, Washington, EUA, 2000); e da 24ª Bienal Internacional de São Paulo (1998). Seus trabalhos fazem parte de importantes coleções públicas como a do Museum of Modern Art, Nova York; Guggenheim Museum, Nova York; Metropolitan Museum of Art, Nova York; Los Angeles Museum of Contemporary Art, Los Angeles; Tate Gallery, Londres; Museum of Contemporary Art, Tóquio; Centre Georges Pompidou, Paris; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri, entre várias outras no Brasil e no exterior. Em 2001, Muniz representou o Brasil na 49a Bienal de Veneza. Muniz também é tema do filme Waste Land, indicado ao Oscar de melhor documentário em 2010, e em 2011, foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da UNESCO.

 

 

Até 07 de fevereiro de 2018

Luciana Caravello na Untitled

04/dez

A Luciana Caravello Arte Contemporânea participa pela segunda vez da Untitled, em Miami Beach, EUA. Para esta importante feira de arte contemporânea, que este ano acontece de 6 a 10 de dezembro, a galeria levará trabalhos dos artistas Ivan Grilo e Lucas Simões.

 

De Ivan Grilo, serão apresentados o vídeo “Não é um muro. É um abismo” e placas em bronze, que se referem ao vídeo. As placas possuem frases em alto relevo, tanto em português quanto em inglês, tais como: “Não é um muro, é um abismo” e “Eu já sabia que aquilo era uma despedida”. O vídeo foi desenvolvido a partir da descoberta de uma tradição da cidade de Alcântara, no Maranhão, em que acontece uma festa popular desde os tempos da escravidão em homenagem a São Benedito. Incomodada com a festa, a elite branca da cidade contratou conjuntos de música de câmara para tocarem nos espaços públicos nos mesmos dias da festividade do povo negro numa tentativa de encobrir o som quente e contagiante dos tambores com música erudita europeia. Desde então, se tornou comum nos ares daquela cidade que todo ano houvesse o cruzamento simultâneo entre os sons de origem europeia e africana. Ivan Grilo recria no vídeo esse embate sonoro e social, colocando frente a frente dois trios de músicos: um trio de música de câmara tocando clássicos da música erudita europeia e um grupo de três músicos tocando atabaques reproduzindo toques característico do sistema polirrítmico ligado à religiosidade e à musicalidade afro-brasileira. Cada trio está reproduzido em um canal de vídeo, e entre eles um terceiro canal com uma imagem dramática de um mergulho em um abismo.

 

De Lucas Simões serão apresentadas cinco esculturas em concreto e papel, produzidas este ano, das séries “White Lies” e “Corpo de Prova”. A primeira é composta por colunas feitas de pilhas de concreto e papel. As obras estão dispostas em uma estrutura de metal, como se fossem pilares de um edifício imaginário em processo de construção ou demolição. O papel e o concreto parecem cair em cascata em direção ao solo ou subir para o céu em um padrão regular, congelados um momento antes de cada pilar cair. Os elementos concretos são inspirados no movimento pós-moderno, na arquitetura e no contraste com o papel fino que o suporta. Em “Corpo de Prova”, as estruturas de concreto parecem se equilibrar sobre o bloco de papel, dando a impressão de que podem se movimentar a qualquer momento.

 

O principal objetivo da Luciana Caravello Arte Contemporânea, fundada em 2011, é reunir artistas com trajetórias, conceitos e poéticas variadas, refletindo assim o poder da diversidade na Arte Contemporânea. Evidenciando tanto artistas emergentes quanto estabelecidos desde seu período como marchand, Luciana Caravello procura agregar experimentações e técnicas em suportes diversos, sempre em busca do talento, sem discriminações de idade, nacionalidade ou gênero.

 

De 6 a 10 de dezembro – Ocean Drive and 12th Street, Miami Beach – Luciana Caravello Arte Contemporânea – Stand B07

 

Celina Portella na Inox

01/dez

A Galeria Inox, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, abriu a exposição “Dobras” de Celina Portella. A artista mostra uma nova série de foto-objetos e outros trabalhos em fotografia e vídeo. Ao usar o corpo e sua interação com o espaço físico em que se encontra, Celina propõe a ação entre a expressão corporal e a mídia e com isso torna a fotografia e o vídeo partes estruturais do próprio trabalho.

 

Na exposição, a artista explora as possibilidades a partir do 2D, da fotografia impressa. Por meio de uma dobra, ela confere volume e movimentação à figura e assim busca provocar a percepção do espectador. Tratam-se de imagens de partes do corpo que se transformam em foto-objetos, esculturas e interagem com o espaço ao se acoplarem na arquitetura. As obras são fixadas em cantos, no chão, no teto e ocupam o ambiente em função do gesto expresso em cada trabalho.

 

“Dobras” apresenta uma metáfora sobre o funcionamento orgânico do corpo, que se subdivide em linhas que nunca são retas. Em contrapartida, temos a arquitetura e tudo aquilo que é criado a partir de linhas retas e quadrados métricos. Celina transporta esse corpo orgânico para fotografias chapadas e métricas inserindo-o em quadros que questionam as curvas e movimentações naturais.

 

 

Sobre a artista

 

Celina Portella vive e trabalha no Rio de Janeiro, estudou design na Puc-Rio e se formou em artes plásticas na Université Paris VIII. Trabalha com artes plásticas e dança. A partir do vídeo e da fotografia, suas obras dialogam com a arquitetura, o cinema, a performance e ultimamente com a escultura, caracterizando-se especialmente por um questionamento sobre a representação do corpo e sua relação com o espaço. Foi contemplada recentemente pela Bolsa do Programa de Estímulo à Criação, Experimentação e Pesquisa Artística SEC + Faperj e também pelo I Programa de Fomento a Cultura Carioca em Artes Visuais, com a Bolsa de Apoio a Criação da Secretaria de Estado de Cultura e com a bolsa do Núcleo de Arte e Tecnologia da EAV Parque Lage no Rio de Janeiro. Recebeu indicação ao prêmio da Bolsa ICCO/sp-arte 2016, ao prêmio de aquisição EFG Bank & ArtNexus na SP Arte 2015 e ao prêmio Pipa 2013 e 2017. Foi premiada na XX Bienal Internacional de Artes Visuales de Santa Cruz na Bolivia em 2016, assim como no II Concurso de Videoarte da Fundação Joaquim Nabuco em Recife. Participou da residência no Centre international d’accueil et d’échanges des Récollets em Paris, da residência LABMIS, do Museu da imagem e do Som em São Paulo, na Galeria Kiosko em Santa Cruz de La Sierra na Bolívia, entre outras. De participações em mostras coletivas, destacam-se a Frestas Trienal de Artes no Sesc Sorocaba, São Paulo, Dublê de Corpo na Galeria Carbono, Esboço para uma coreografia na Galeria Central, Verbo na Galeria Vermelho, III Mostra Do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo, o 60°  Salão de Abril, Fortaleza, e o 15º Salão da Bahia. Como bailarina e co-criadora trabalhou com os coreógrafos Lia Rodrigues e João Saldanha.

 

 

Até 23 de dezembro.

Lucio Salvatore no MAM/Rio

30/nov

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com apoio do Istituto Italiano de Cultura, inaugura no próximo dia 9 de dezembro a exposição “Metaelementi”, que reúne trabalhos emblemáticos e inéditos do artista Lucio Salvatore, como instalações, vídeos, fotografias e pinturas, produzidas entre 2004 até os dias de hoje. Com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, “Metaelementi” (metaelementos, em português) apresenta obras “ontológicas, que partem dos elementos da natureza – identificados pelos filósofos pré-socráticos como princípios do universo – para transcendê-los a partir de contextos socioeconômicos e políticos, sempre centrais nas obras do artista”,palavras do curador. “A poética de Salvatore explora o ‘humanismo’ dos elementos dentro das dinâmicas da produção industrial, tecnológica, da disputa de poder e da própria arte”, explica Fernando Cocchiarale.

 

“A visão curatorial oferece uma oportunidade única de leitura transversal de trabalhos inéditos de Lucio Salvatore, juntando obras do começo de sua pesquisa artística – como as da série “Combustioni”, que usa o fogo – a trabalhos recentes, como a obra “É Pão É Pedra” (2017), que traz seu título inscrito repetidamente sobre uma fôrma de pão recheado de pedras, unindo o visível e o invisível, colocados em referências circulares”, afirma o curador.

 

Incêndios criminosos que devastaram em 2004 o sul da Itália, na região onde o artista tem seu ateliê, foram assunto de vários trabalhos de Lucio Salvatore. O vídeo “The Road Ahead”, de quatro minutos, traz registros desses incêndios. “Essas imagens são representativas das paisagens de todo o sul do mundo que continuam nas mesmas condições de territórios de exploração, e contrastam com a imagem positivista do livro escrito por Bill Gates em 1995, que dá o título à obra, e que propõe uma visão otimista da estrada construída pelas empresas de tecnologia”, diz Cocchiarale.

 

A inédita “Apagões – Amnésias” consiste em dois conjuntos de oito fotografias com tamanho de 31cm x 41cm cada, com intervenções de tinta a óleo, pintura usada pelo artista como anulação, negação da imagem e da matéria. Sobre fotografias dos incêndios de 2004, Salvatore apagou com tinta as imagens das chamas. Desta maneira, buscou “anular simbolicamente os efeitos devastadores de atos criminosos, causados por ‘amnésias’, por ignorância, cuja cura pode ser inspirada pela arte”, explica. “Diante do recorrente fenômeno dos incêndios ficamos impotentes, assustados, aterrorizados e ao mesmo tempo fascinados, atraídos, como se o instinto de morte se reencontrasse na visão da destruição que é também transformação”, observa o artista.

 

 

Rituais de fogo

 

“Combustioni” Top of Form é uma das primeiras séries de trabalhos do artista relacionados aos processos de transformação dos elementos. Depois dos vídeos e fotografias que registraram incêndios que devastaram o sul da Itália no verão de 2004, Salvatore começou a experimentar o fogo em seu estúdio, ao ar livre. Usado por Salvatore como agente de transformação no trabalho artístico, o fogo foi produzido para queimar os elementos fundamentais da pintura tradicional, como tábuas, pincéis, e especialmente a pintura, em forma de pigmentos, que foi retratada pelo artista durante o processo de combustão. Esses rituais da queima de matéria pictórica e orgânica, todos criados entre 2004 e 2007 na Itália, resultaram em vários trabalhos, como “Sem Título”, uma impressão sobre tela de 2m x 4m. O momento da criação, a origem das coisas, é o que fascinou o artista. “Esta série contém toda a força material e movimento do Início”. O processo foi registrado no vídeo “Sem Título”. Lucio Salvatore cita o filósofo Heráclito (535 a.C. – 475 a.C.): “Este cosmos não foi criado por nenhum dos deuses ou dos homens, mas sempre foi, é e será um fogo eternamente vivo”.

 

Em “Post-Ar”, Salvatore deslocou ar de Florença para o Rio de Janeiro através do correio internacional. O artista explica que pretendeu “separar o elemento inseparável, identificando o elemento elusivo, embalando o elemento livre e que por essência não conhece fronteiras”. Dessa maneira, inscreveu este elemento “no sistema burocrático surreal da sociedade global contemporânea”.

 

“Quadrado Preto” integra uma série de obras desenvolvidas dentro de pedreiras, em uma combinação de processos que envolvem performance, escultura e pintura. O artista pintou um quadrado preto na parede de uma pedreira, e depois escavou esta parede com uma lagarta mecânica, própria para mineração, reduzindo-a a centenas de fragmentos de rocha com as marcas pretas da pintura. Depois, Salvatore costurou esses fragmentos na tela demarcada previamente com acrílico preto com a forma da parede antes de ser escavada. “A tensão ontológica (parte da metafísica que trata da natureza, realidade e existência dos seres) entre unidade e multiplicidade se manifesta em relíquias fragmentadas do quadrado preto que ainda carregam sua essência unitária, assim como a multiplicidade fragmentária das identidades contemporâneas são costuradas formando a ideia de indivíduo. O quadrado preto é reduzido a mil peças pela máquina, mas continua existindo nos fragmentos que mantêm sua ideia viva”, destaca Salvatore

 

O vídeo “O Fim do Quadrado Preto” traz todo o processo da obra “Quadrado Preto”. O vídeo “Ilhado” registra a ação de lagartas mecânicas “criam um fosso entorno de si mesmas que delimita um território circular que as isola e, impedindo a saída, as aprisiona”, diz o artista. “Se o ser humano não nasce sozinho em um lugar separado dos outros, parece que o seu destino seja o de trabalhar duramente para que este isolamento aconteça. O progresso tecnológico idealizado a partir da época moderna, da revolução industrial e agora da informática, parece proporcionar, ao mesmo tempo que melhorias na qualidade de vida material e da produtividade do ser humano, um aumento da alienação e do isolamento do indivíduo”. Usando terra, farinha e cinzas embutidas em intestino animal na obra “Dal Monacato”, Lucio Salvatore faz uma alusão aos elementos fundamentais do sistema econômico de Monacato, aldeia rural na região italiana do Lácio, praticamente inalterado desde a idade média, e que floresce apesar do processo de “tecnoglobalização dominante”.

 

“Controvalori” é um desdobramento da série de trabalhos realizados por Salvatore sobre o valor da arte, apresentados na exposição “Arte Capital”, realizada em 2016, no Centro Cultural Correios do Rio de Janeiro. Salvatore trabalhou sobre lâminas de ouro usadas como reservas de valor certificadas pelas autoridades, cobrindo suas superfícies e o seu brilho com óleo. Anulando o característico brilho símbolo de riqueza e poder com aplicações monocromáticas minimalistas, Salvatore usou a arte para negar a aparência e ao mesmo tempo criar um lugar onde o olho pudesse encontrar “novas possibilidades metafísicas de contemplação”, conta o artista. Respiro é uma obra sonora que consiste na gravação do som de uma sessão de meditação do artista realizada com máscara de gás.

 

 

Obras interativas 

 

A exposição terá obras interativas, como “Escreva Algo!”, em que o público é convidado a escrever um pensamento sobre uma tira de papel que é enrolada e colocada na obra de arte, que se transforma na memória temporal do pensamento comunitário. Da série “Escreva Algo!”, será apresentada também uma versão em que o visitante poderá escrever frases ou desenhos com caneta indelével preta sobre um quadrado de madeira pintado também de preto, de modo a que a escrita não seja decifrável. “Autoesquemas” propõe que o público crie uma composição geométrica feita de quadrados de papel a serem colados dentro de uma grelha desenhada pelo artista, em uma tipologia de autorretrato neoconcreto.

 

 

Sobre o artista

 

Lucio Salvatore nasceu em 3 de maio de 1975, em Cassino, Itália, e vive e trabalha na cidade italiana de Sant’Elia Fiumerapido e no Rio de Janeiro. Artista conceitual, multidisciplinar, trabalha com fotografia, texto, pintura, escultura, performance e apropriação de processos. Suas obras lidam com os jogos de significados nas obras de arte, metáforas da vida, desde a sua criação e relacionamento com o público até a posse de colecionadores e instituições. Depois de se formar em economia na Universidade Bocconi de Milão, Salvatore estudou filosofia na Università Statale, na mesma cidade. Estudou fotografia em Nova York, para onde viajou seguidamente entre 1998 e 2010. Depois de visitar em 1999 a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, Salvatore ficou ali suas raízes e passou a estudar na instituição. Salvatore tem participado de exposições em três continentes, em particular nas cidades de Roma (Palazzo Pamphilj, Galleria Cortona e Galleria Portinari, 2017), Nova York (Grant Gallery, 2007 e 2009), Berlim (Potsdamer Platz, 2007), Milão (Superstudio, 2008), São Paulo (Museu Brasileiro de Escultura – MuBE, 2011) e Rio de Janeiro (Centro Cultural Correios, 2010, 2014, 2015, 2017), onde seus trabalhos foram vistos por mais de 70 mil pessoas.

 

 

De 09 de dezembro a 25 de fevereiro de 2018.