Fotos de Luiza Baldan

08/mar

A artista Luiza Baldan, realiza sua primeira exposição individual na Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, na qual exibe trabalhos inéditos resultantes de sua intensa pesquisa de quase um ano navegando na Baía de Guanabara observando seu cotidiano e suas paisagens.

 

A exposição “Estofo”,  exibirá fotogravuras e suas matrizes, uma videoinstalação e um texto da artista. “Estofo”, que na linguagem náutica significa intervalo de tempo onde não há corrente de maré, é o desdobramento do projeto “Derivadores”, feito em 2016 em parceria com o artista Jonas Arrabal, dentro da bolsa “Viva a Arte!” (Secretaria Municipal de Cultura), com o apoio da empresa Prooceano e do Projeto Grael, publicado pela Automática Edições.

 

Luiza Baldan iniciou sua trajetória em 2002, e poucos anos depois já era reconhecida na cena contemporânea. Em 2009, fez uma residência no Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (conhecido como Pedregulho), projetado por Affonso Eduardo Reidy, e desde então seus trabalhos envolvem deslocamentos e imersões em residências temporárias diversas. A partir de 2014, com o projeto “Perabé”, realizado entre São Paulo e Santos, seus projetos passaram a ter longa duração.

 

No grande espaço térreo da galeria estará uma série de 22 fotogravuras feitas a partir dos registros fotográficos da artista em câmeras analógicas e celular durante suas incursões pela Baía de Guanabara. Serão expostas as matrizes de fotopolímero originais, uma série de fotogravuras emolduradas e outra disposta em uma caixa para o manuseio do público. O projeto foi produzido no Estúdio Baren, junto com João Sánchez. Em outra parede, o público verá instalado um texto de Luiza Baldan escrito ao longo da realização do projeto, ao lado de uma carta náutica dos terminais da Baía de Guanabara.

 

No andar superior ficará a videoinstalação “Suspiro” (2017, HD, p/b, áudio em 8 canais). Luiza Baldan captou som e imagem do detalhe de um dos pilares da ponte Rio-Niterói, por onde se percebe o movimento das águas dentro da estrutura oca. “Através desses furos, o pilar respira”, destaca a artista. Para este trabalho, ela contou com a câmera de David Pacheco e tratamento de áudio de Nico Espinoza.

 

 

 

Uma profunda imersão, um mergulho, sem nunca ter enfiado o corpo inteiro n’água

 

O contato de Luiza Baldan com a Baía de Guanabara foi poético, e seu interesse abrangeu também sua história, porta de entrada da cidade pelos descobridores portugueses, e o fato de estar presente “na vida de todos, embora talvez sem que tenham noção desta grandeza”. A artista fez “uma profunda imersão, um mergulho, sem nunca ter enfiado o corpo inteiro n’água”.

 

Luiza Baldan navegou pela Baía durante mais de nove meses, a maior parte deles duas vezes por semana, a bordo de um barco com uma equipe que monitora o lixo flutuante. Na primeira etapa do projeto, ela e o artista Jonas Arrabal transformaram um derivador, artefato científico usado para o estudo do comportamento das correntes marítimas, em uma câmera pinhole, para fotografar a deriva na Baía de Guanabara.

 

O projeto “Estofo” é um desdobramento desta pesquisa, uma consequência da observação nos deslocamentos frequentes da artista pela Baía – orla da Urca, Aterro até os portos, cruzando a ponte até a Ilha do Governador, praia do Galeão e canal de Ramos; orla de Niterói até a boca da Baía de volta à Urca – em que percorreu a Baía em toda a sua extensão, incluindo a área que margeia Magé, a APA de Guapimirim, além de diversas ilhas, como Jurubaíba, Paquetá e Pombeba.

 

Ela conta que “foi um privilégio estar na Baía de Guanabara, fora do roteiro habitual das barcas”. “Chorei, quando vi o Rio Macacu desembocar na Baía”, lembra. Luiza Baldan conta que a segunda vez que chorou, por razões opostas, foi quando entrou na Ilha de Pombeba, em frente à região portuária, onde encontrou “uma grande concentração de lixo, tanto o carregado pelas marés quanto o depositado pela a extração de metal pesado”.

 

 

Sobre a artista

 

Nascida no Rio de Janeiro, em 1980, Luiza Baldan graduou-se em belas artes, com foco em Fotografia e time-based media, e história da arte pela Florida International University, Miami, em 2003. Foi aluna e atualmente é professora na EAV Parque Lage. Em 2010 concluiu seu mestrado e hoje é doutoranda em belas artes (linguagens visuais), na EBA/UFRJ. Dentre as exposições individuais recentes, destacam-se “Perabé” (Centro Cultural São Paulo), em 2015; “Build Up” (MdM Gallery, Paris), em 2014; “Corta Luz” (Pivô, São Paulo) e “Índice” (MAM Rio), em 2013; “São Casas” (CCD/Studio-X, Rio), em 2012; “Algumas séries” (MAC Niterói), em 2011;  e “Sobre umbrais e afins” (Plataforma Revólver, Lisboa), e “Luiza Baldan” (Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo), em 2010. As mostras coletivas recentes destacadas são “Finalistas PIPA” (MAM Rio), em 2016; “Fotografia Contemporânea Brasileira: Novos Talentos” (Caixa Cultural Rio e Brasília), em 2015; “Cruzamentos: Contemporary Art in Brazil”, The Wexner Center for the Arts (Columbus, EUA) em, 2014; “Lugar Nenhum” (Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro), “Travessias 2: Arte Contemporânea na Maré” (Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro); “Rumos Artes Visuais 2012-2013 (Itaú Cultural, São Paulo, MAMAM, Recife, e Paço Imperial, Rio), em 2013; “Collecting Collections and Concepts” (Fábrica ASA, Guimarães, Portugal), em  2012; “Mapas Invisíveis” (Caixa Cultural Rio), 2010; “O Lugar da Linha” (Paço das Artes, São Paulo, MAC, Niterói), em 2010;   “37º Salão de Arte Contemporânea de Santo André”, “Nova Arte Nova” (CCBB Rio de Janeiro e São Paulo), em 2009.Luiza Baldan ganhou diversos prêmios e bolsas de residência artística, está presente em várias publicações, e seu trabalho integra prestigiosas coleções públicas como as do MAM Rio, MAM SP, IPHAN, e as prefeituras de São Paulo e de Santo André.

 

 

De 16 de março a 28 de abril.

Permissão para falar

19/fev

A Athena Contemporânea, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, terá a palavra como ponto de partida em sua próxima exposição. A mostra reúne obras recentes e inéditas de destacados artistas da cena contemporânea brasileira e recebeu o significativo título de “Permissão para falar”. Com curadoria de Fernanda Lopes, apresenta obras de nove artistas: Beto Shwafaty, Diego Bresani, Jaime Lauriano, Lais Myrrha, Laura Belém, Paula Scamparini, Sara Ramo, Vanderlei Lopes e Yuri Firmeza (em parceria com Frederico Benevides), em diferentes técnicas e suportes, como vídeos, objetos, fotografias, gravuras e desenhos. Este recorte curatorial, permitiu que mostrar a mais nova produção de artistas que estão ganhando cada vez mais reconhecimento na cena artística nacional, como Lais Myrrha, que foi um dos destaque da última Bienal Internacional de São Paulo. Em comum, todas as obras fazem referência ao discurso e à história como construções, com interesse especial nos usos e variações de significados que as palavras podem assumir, dependendo de quem fala, de quem escuta ou mesmo quando são silenciadas.

 

 

A palavra da curadora

 

“A exposição tem como ponto de partida a palavra. Não a palavra isolada, com significado único e fixo, mas sim a palavra como construção e como discurso, que pode assumir diferentes características e leituras a partir do ponto de vista e do contexto de leitura. Nenhuma palavra pode ser lida sozinha, isolada, fora de contexto. Toda fala é construída, se constrói a partir de pontos de vista e referências, e não elimina a possibilidade de existência de outros olhares”,essa é uma exposição interessada em pensar o lugar da fala e da escuta”.

 

 

Sobre os artistas e as obras

 

Beto Shwafaty, São Paulo, SP, 1977, terá duas obras na exposição. Em “Anhanguera/Bandeirantes” e “Abstrações Sujas”, ambas de 2015, o artista explora a história, a memória e utiliza textos extraídos da imprensa. No primeiro, trata da exploração da cidade de São Paulo pelos Bandeirantes e o desenvolvimento econômico representado pelas principais vias de acesso da cidade. Na segunda, mostra momentos na história do edifício Edise – sede da Petrobras no Rio de Janeiro. A obra é dividida em três partes independentes e uma delas estará na exposição.

 

Diego Bresani, Brasília, DF, 1983, apresentará fotografias feitas em Paris, durante o ano que viveu na França. A observação do mundo, suas paisagens e personagens, compõem a essência do trabalho, uma espécie de diário pessoal onde tenta reconstruir sua própria história.

 

Jaime Lauriano, São Paulo, 1985, mostrará obras das séries “Vocês nunca terão direito sobre seus corpos”, 2015, – um entalhe em madeira de frases de racismo institucional, encontradas em comunicados oficias e boletins de ocorrência, da Policia Militar Brasileira – , e “Bandeira Nacional”, 2015, em que busca subverter, a partir de técnicas de tecelagem artesanal, o controle e a regulação deste símbolo. Ou seja, registrar diferentes maneiras de apropriação e alienação da Bandeira Nacional.

 

Lais Myrrha, Belo Horizonte, MG, 1974, terá na exposição quatro trabalhos da série “Reconstituição”, 2008, em que seleciona as páginas da Constituição em que aparece a palavra “exceção” e as destaca, colocando desfocado o restante do texto.

 

Laura Belém, Belo Horizonte, MG, 1974, apresentará uma obra da série “Hoje tem cine”, 2015, em que a artista cria letreiros em neon com títulos dos filmes que marcaram a história do Cine Palladium, que foi um dos cinemas mais importantes de Belo Horizonte. Na exposição, estará o letreiro de “Jardim de Guerra”, de Neville D’Almeida, recolhido pela censura em 1968.

 

Paula Scamparini, Rio de Janeiro, RJ, 1980, mostrará a videoinstalação “Nós-Tukano”, 2015, em que, em uma das telas, o índio Carlos Doethiro Tukano, líder político e cacique da maior aldeia urbana no Brasil, a Aldeia Maracanã, narra a história de sua terra para um grupo de crianças, em sua língua-mãe. No vídeo ao lado, que acompanha a fala de Doethiro, homens-brancos de diversas origens procuram reproduzir as palavras dele mesmo sem entender seus significados.

 

Sara Ramo, Madri, 1975, apresentará a série de fotografias “O ensino das coisas”, 2015, em que mostra como é difícil definir certos conceitos com palavras. O ponto de partida são cartazes encontrados pela artista em uma escola de design abandonada no Uruguai. Os alunos tratavam de expressar o conteúdo da palavra através da forma.

 

Vanderlei Lopes, Paraná, 1973, participa da exposição com a obra “EEDDM II (El encuentro de dos mundos)”, realizada em 2013. As formas orgânicas das folhas, fundidas em bronze, apresentam recortes geométricos e precisos feitos pela mão do homem (recortes tão precisos que não encontramos na natureza). Aqui, os “dois mundos” citados no título, podem ser a natureza e a cultura (que por muitos autores é considerada uma invenção do homem, como uma tentativa de domar a natureza).

 

Yuri Firmeza, São Paulo, 1982, & Frederico Benevides apresentam o curta-metragem “Entretempos”, selecionado para o 62º Festival Internacional de Curtas-Metragens de Oberhausen, na Alemanha. O filme também participou da Semana dos Realizadores em 2015 e levou o prêmio de Menção honrosa do Júri Oficial. O trabalho parte do material arqueológico encontrado na região portuária do Rio de Janeiro, fotografias, imagens de arquivo, documentos oficiais e de negociações dos escravos, para pensar o atual processo de gentrificação que atravessa, hoje, esta região.

 

 

Sobre a curadora

 

Fernanda Lopes é curadora assistente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e professora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, RJ, e do Departamento de Arquitetura da PUC-Rio. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ, é organizadora, ao lado de Aristóteles A. Predebon, do livro Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite, Tamanduá-Arte, 2016. Em 2012 recebeu Bolsa de Estímulo à Produção Crítica, Minc/Funarte, com pesquisa publicada sobre a Área Experimental do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro,  Funarte/Figo Editora, 2013, Área Experimental: Lugar, Espaço e Dimensão do Experimental na Arte Brasileira dos Anos 1970. Foi Membro do Conselho Cultural da Galeria IBEU, RJ, 2013-2014, Curadora associada de Artes Visuais do Centro Cultural São Paulo – CCSP, 2010-2012)e editora dos sites ARTINFO Brasil, 2012-2013, e Obraprima.net, 2000-2004. Mestre em História e Crítica de Arte pela EBA/UFRJ, 2006, sua tese de mestrado, “Éramos o time do Rei” – A Experiência Rex, ganhou o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, da FUNARTE, em 2006, e em 2009 foi publicada pela Alameda Editorial, SP. Entre as curadorias que vem realizando desde 2009 está a Sala Especial do Grupo Rex na 29a Bienal de São Paulo, 2010.

 

 

De 14 de fevereiro até 25 de março.

 

Em Salvador

27/jan

O Instituto Cervantes de Salvador, Bahia, apresenta na Galeria Massarda, no Palacete das Artes, no bairro da Graça, a videoinstalação “Doze Pinturas Negras”. Trata-se de um projeto audiovisual do artista ÁngelHaro, que promove uma dramatização de doze das “Pinturas Negras” do renomado pintor espanhol Francisco de Goya.

 

Francisco de Goya representa um marco na história da pintura. Como pintor da Corte Real Espanhola, criou trabalhos excepcionais que influenciaram diretamente o movimento Impressionista. Suas “Pinturas Negras”, no entanto, vão além no que diz respeito à técnica e à temática. Além de marcarem o início do Surrealismo e Expressionismo do século XX, expõem o clima sociopolítico da Espanha de então ao explorar a psiquê e os conflitos internos e externos do país. Em sua obra, Goya revelou fatos que não faziam parte do discurso oficial espanhol, descobrindo, assim, novo uso para sua arte: a pintura como forma de denúncia.

 

As “Pinturas Negras” desafiaram o regime político da época e, ao sobreviverem à Inquisição e se tornarem patrimônio cultural contemporâneo, simbolizaram um grito que não é facilmente silenciado. Nascidos da condição isolada do artista em sua Quinta delSordo, nos arredores de Madri, os conflitos internos de Goya não eram independentes da circunstâncias políticas que o cercavam. Com o fim do Iluminismo e a volta do regime Absolutista, sua loucura é, também, a loucura de seu tempo. Justamente por estar no limite da própria sanidade, Goya pode retratar os horrores do regime de Fernando VII através da representação de seu próprio horror.

 

Cinquenta anos após a partida de Goya para a França, em 1874, o barão Emile d’Erlanger, novo proprietário da Quinta delSordo, comissionou o francês Jean Laurent para fotografar os murais que adornavam várias das salas da propriedade. Essas fotografias, cujos negativos em vidro originais estão atualmente sob os cuidados do IPCE (Instituto do Patrimônio Cultural da Espanha), serviram de guia para transferir os trabalhos para a tela, possibilitando, assim, a restauração posteriormente feita por Salvador Martínez Cubells. Strappo, o processo de separação adotado por Cubells, é uma técnica agressiva que não garante a efetiva transferência de tinta e requer extensivo trabalho nas imagens. Isso significa que as obras que vemos hoje no Museu do Prado não são exatamente aquelas que Goya pintou nas paredes da Quinta delSordo, pelo menos no que diz respeito à sua qualidade plástica.

 

O artista multimídia ÁngelHaro partiu das fotografias de Laurent para reinterpretar as “Pinturas Negras”, criando uma análise do gesto e do impulso físico presente nas obras. Em cada peça audiovisual, o artista alude aos diversos métodos pictóricos empregados por Goya e traduz sua gestualidade em vários registros de movimento, luz, figurino e maquiagem. Todas as cenas foram captadas em alta resolução com câmeras HD 4k utilizando sistema de chromakey. A imagem de fundo criada por Haro é inserida na pós-produção e, por final, as tonalidades são corrigidas digitalmente para equilibrar a gama de cores.

 

O tratamento da iluminação respeita o compromisso de Goya com a subjetividade em cada um de seus trabalhos. Assim, uma iluminação dramática é combinada com efeitos de luz pintados em alguns dos personagens, como em “Saturno devorando um filho”. Além disso, os figurinos são baseados na gestualidade de cada cena. Dos trapos de “BruxasSabá” ou as deformidades de “Saturno devorando um filho” ao realismo de “Leocadia” e a volatilidade de “Visão fantástica”.

 

 

Sobre o artista

 
ÁngelHaro nasceu em Valência, Espanha, em 1958, e passou a infância em Paris até mudar-se com sua família para Murcia, onde estudou engenharia. Atua não só como artista visual, mas também como diretor artístico de teatro, cenógrafo, diretor de cinema e artista gráfico. Sua primeira mostra individual aconteceu em Murcia no ano de 1979. Já realizou exposições nas principais cidades da Espanha, e também em Chicago, Nova York, Paris e países como África do Sul, República Dominicana, Lituânia e Bélgica. Dentre suas principais exposições estão: Estrelladel Norte, na Iglesiadel Salvador del Convento de Verónicas, em Murcia, Espanha, 2015; La Tregua, na Tabacalera, Madri, Espanha, 2014; WaysofanUnruly Man, na Res Gallery, em Johannesburgo, África do Sul, 2012; Suitemelancolie, na Galerie Lina Davidov, Paris, França, 2011; Belfegor, no Museo de Bellas Artes de Murcia, Espanha, 2009; e OnPaper, na HaimChanin Fine Arts, Nova York, EUA.

 

 

Até 05 de março.

Artista pioneiro do graffiti

18/jan

A CAIXA Cultural Brasília, apresenta a exposição “Ozi – 30 anos de Arte Urbana no Brasil”, sob a curadoria de Marco Antonio Teobaldo. Ozi é o nome artístico de Ozéas Duarte, um dos pioneiros da arte urbana brasileira, que celebra com esta exposição, três décadas de trabalho. Ozi se destaca, no Brasil e no exterior, pela pesquisa sobre a técnica de estêncil, com forte influência da estética Pop. No espaço expositivo, o visitante irá conhecer um inventário de uma importante parte da Street Art brasileira, com documentos, registros fotográficos, depoimentos e obras do artista em diferentes tipos de suportes, que datam desde 1984 até o período atual. A exposição abriu com bate-papo com o artista e o curador, seguido de visita mediada.

 

De acordo com o curador, Marco Antonio Teobaldo, graças ao patrocínio da CAIXA, a exposição conseguiu reunir pela primeira vez um material raro, que remonta à história do graffiti no Brasil. Agora, depois de ser visitada por mais de 47 mil pessoas em Recife, o público brasiliense vai poder conferir um pouco de toda essa trajetória. Segundo revela Marco Antonio Teobaldo, durante a pesquisa para realização da mostra, foram entrevistados desde artistas que fizeram parte da primeira geração da cena urbana até os novos, traçando um panorama da Arte Urbana no Brasil e comprovando a importância da obra de Ozi neste contexto.

 

 
A exposição

 

A exposição está dividida em quatro segmentos: Rua, Arte fina, Matrizes e Bio. No segmento “Rua”, são expostas obras em grandes dimensões, trazendo a linguagem utilizada por Ozi nos espaços públicos dos grandes centros urbanos. Em “Arte Fina”, estão as obras criadas em suportes variados, normalmente expostas em galerias e adquiridas por colecionadores durante a trajetória do artista. São telas emolduradas, madeiras, metais, objetos de uso doméstico, latas de spray e outros itens. Entre as obras, há uma série de estêncil sobre bolsas falsificadas com marcas de luxo, compradas no mercado popular da Rua 25 de Março, em São Paulo.

 

Em “Matrizes”, será exibido pela primeira vez um conjunto de máscaras de estêncil dos trabalhos mais emblemáticos da carreira de Ozi, criados entre 1984 e 2015. São verdadeiras raridades que estarão disponíveis para a observação dos visitantes, como as obras da série “Museu de Rua”, com referências a artistas como Anita Malfatti, Van Gogh, Di Cavalcanti, Roy Lichtenstein e Picasso. Em “Bio”, dois vídeos reúnem depoimentos do artista e de parceiros de profissão, que percorrem a história da Arte Urbana no Brasil. Do acervo pessoal do artista, são exibidas imagens históricas dos primeiros grupos de grafiteiros e suas intervenções na cidade de São Paulo, materiais gráficos de época e recortes de jornal.

 

 

Origem da Arte Urbana

 

A Street Art no Brasil surgiu em 1978, em São Paulo, durante o período da ditadura militar, com Alex Vallauri, que reuniu outros artistas como Waldemar Zaidler e Carlos Matuck, e posteriormente Hudnilson Jr., John Howard, Julio Barreto, Ozi e Maurício Villaça. Este último abriu as portas de sua casa e transformou-a na galeria Art Brut, que se constituiu em um espaço da cena underground daquela época e acolheu artistas visuais e performáticos, poetas e toda sorte de visitantes atraídos por aquela nova forma de pensamento artístico. Foi a partir do encontro destes artistas, que se iniciou uma série de intervenções e ações públicas na capital paulistana, que fariam história na constituição do graffiti brasileiro.

 
Sobre o artista

 

Ozi é paulistano e faz parte da primeira geração do graffiti brasileiro, quando em 1985 iniciou suas primeiras intervenções urbanas, junto com Alex Vallauri e Maurício Villaça. Desde então, vem desenvolvendo sua pesquisa sobre a técnica de estêncil, criando suas obras a partir de uma estética Pop. Durante sua trajetória profissional, participou de diversas exposições coletivas e individuais no Brasil e exterior. Atualmente é representado pelas galerias Espace-L, em Genebra (Suíça), e A7MA, em São Paulo. Seus trabalhos figuram em publicações nacionais e estrangeiras. O artista nunca parou de estudar e hoje é pós-graduado em História da Arte pela FAAP. Ozi viveu uma época em que a repressão sufocava e em que, segundo ele mesmo conta, fugir da polícia e das bombas de gás era costumeiro. “Lembro que o Alex Vallauri escrevia “Diretas já” e o Maurício Villaça chegou a pintar uma Salomé dançando com a cabeça do Sarney em suas mãos. O pensamento geral era que qualquer pessoa ligada à arte era subversiva ou comunista”, recorda. Ozi aprendeu a fazer estêncil com Villaça, que o instruiu tecnicamente a recortar as máscaras. Em 1985, registrou na rua a sua primeira arte com estêncil, técnica que acabou se tornando a sua marca registrada durante toda a carreira artística.

 

 

Sobre o curador

 

Marco Antonio Teobaldo é jornalista, curador e pesquisador. Mestre em Curadoria em Novas Tecnologias pela Universidad Ramón Llull, de Barcelona, Espanha. Desde 2007, vem trabalhando como pesquisador e curador de Artes Visuais, com especial atenção à Arte Urbana. Atualmente, Teobaldo dirige a Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea (Região Portuária do Rio de Janeiro), situada em um dos mais importantes sítios arqueológicos da Rota dos Escravos (Unesco), onde realiza propostas curatoriais com artistas brasileiros e estrangeiros, reunindo mídias tradicionais (pintura, desenho e escultura), fotografia, novas tecnologias (vídeo, arte sonora e arte digital), arte urbana e performance. É curador residente da Casa da Tia Ciata, com exposição permanente sobre a memória de uma das maiores referências da história do samba. Junto com o artista visual Eduardo Denne, idealizou o Parede – Festival Internacional de Pôster Arte, em 2008 e 2010, no Rio de Janeiro, que reuniu em sua última edição 175 artistas de diferentes partes do mundo.

 

 

Serviço

 

Ozi – 30 anos de Arte Urbana no Brasil Bate-papo com artista e curador e visita mediada; realização: Quimera Empreendimentos Culturais; patrocínio: Caixa Cultural / Governo Federal; curadoria: Marco Antonio Teobaldo; projeto gráfico: Fernando Sato e Murilo Thaveira; fotografia: Zeca Caldeira; expografia: Carlos Chapéu e Marco Antonio Teobaldo; produção executiva: Carlos Chapéu; produção local: Monica Monteiro Produções; iluminação: Dalton Camargos e Carlos Peukert; montagem: Manoel Oliveira; assessoria de imprensa: Objeto Sim

 

 

 

Vídeo

 

Direção: Marco Antonio Teobaldo
Fotografia: Tais Thaverna
Edição: Guta Pacheco
Imagens de acervo: Mel Duarte
Digitalização de acervo: Morena Calazans

 

 
Até 26 de fevereiro.

O Galpão exibe “Hallstatt”

14/dez

O Galpão, da Fortes D´Aloia& Gabriel, Barra Funda, São Paulo, SP, apresenta a mostra coletiva “Hallstatt”, cuja curadoria traz os nomes de Maria do Carmo M. P. de Pontes e KikiMazzucchelli. O elenco de expositores é composto por nomes nacionais e internacionais como Alexandre da Cunha, AmieSiegel, CandiceLin, CaraghThuring, Daniel Sinsel, ImanIssa, Joshua Sex, Manoela Medeiros, Mauro Restiffe, Nuno Ramos, Oliver Laric, Tamara Henderson e Tobias Hoffknecht.

 

 

Sobre a exposição

 
“Hallstatt” toma a noção de dualidade como ponto de partida para uma reflexão sobre o significado da repetição de signos, imagens e formas no contexto contemporâneo. A ideia de dualidade estrutura o pensamento ocidental desde o mito fundador da criação, estabelecendo-se como tema recorrente na literatura e na psicanálise a partir do século XIX. A exposição reúne a obra de treze artistas que, em suas práticas, lidam com o duplo por meio de diferentes estratégias, seja em seu entendimento mais fundamental – através de simetrias formais – ou filosóficos e existenciais: o duplo como um estado alterado de percepção, cópia, reciclagem ou índice de realidades paralelas. Ao propor mais questões do que respostas definitivas, a mostra visa ampliar a discussão em torno do tema, tão urgente em um momento em que verdades absolutas são cada vez mais propagadas – e o lugar da verdade, cada vez mais difícil de se identificar.

 
Hallstatt é um vilarejo cinematográfico situado à beira de um lago rodeado por montanhas na Áustria. Há cerca de cinco anos, passou a receber um enorme fluxo de turistas chineses – mais do que o habitual, mesmo para um lugar cuja principal economia é o turismo. Um deles, desavisado, revelou a um local que na província de Guangdong, na China, uma cópia idêntica de Hallstatt encontrava-se em estado já avançado de construção, para a surpresa dos menos de mil habitantes do vilarejo, que não haviam sido consultados. De fato, a China tem a prática de reproduzir monumentos ocidentais em seu solo, mas pela primeira vez copiava-se uma cidade inteira. Essa apropriação é especialmente simbólica considerando-se que Hallstatt possui a mais antiga mina de sal do mundo e um dos mais antigos sítios arqueológicos da Europa. De certa forma, trata-se assim da cópia por excelência: a apropriação da matriz de uma cultura.

 

 

Sobre os artistas

 
Alexandre da Cunha, Rio de Janeiro, 1969. Vive em Londres, é mais conhecido por esculturas que revisitam e ressignificam objetos cotidianos. Suas telas – que o artista enxerga antes como esculturas de parede do que como pinturas – seguem a mesma lógica ao incorporar materiais como esfregões, chapéus, conchas e escovas. A série Amazons (2014 – em andamento) tem como matéria prima toalhas de praia com estampas extravagantes. Cada uma das obras de Amazons reúne um grupo de toalhas a princípio idênticas, que Da Cunha tinge – dando a cada parte diferentes graus de nitidez – e costura em sequência, enfatizando noções de acúmulo e repetição.

 
AmieSiegel, Chicago, 1974. Vive em Nova York, trabalha majoritariamente com instalações audiovisuais que lidam, de diversas maneiras, com noções de dualidade. O vídeo Genealogies (2016) é uma espécie de arqueologia de referências da artista, em que ela articula a ideia de que há sempre citações a outras obras em projetos supostamente originais, tomando “O Desprezo”, filme de 1963 de Jean-Luc Godard, como estudo de caso. O clássico de Godard é também o tema de The NoonComplex (2016) uma projeção dupla acompanhada de um televisor em que ela desconstrói o filme, removendo digitalmente Brigitte Bardot da narrativa. O televisor mostra uma atriz reencenando os movimentos de Bardot, incitando o espectador a um processo dialético de sobreposição de imagens para obter uma narrativa completa.

 
CandiceLin, Concord, Massachusetts, 1979. Vive em Los Angeles, faz uso de diversos suportes para elaborar uma investigação minuciosa sobre o reino animal, focando sobretudo em fenômenos naturais e microrganismos como fungos e bactérias. Por exemplo, Hormonal Fog (Study #1) (2016, em colaboração com Patrick Staff) consiste em uma máquina de fumaça emitindo periodicamente uma substância que bloqueia a produção de testosterona. Nas colagens apresentadas em “Hallstatt”, a artista explora narrativas sobre fenômenos naturais que foram historicamente marginalizadas pela ciência: registros sobre homens que produzem leite materno, histórias sobre médiuns do sexo feminino que canalizam grandes figuras políticas, entre outras. Apresentadas como as amostras de espécies características dos museus etnográficos, esses trabalhos traçam uma história paralela da ciência que desafia categorias binárias tradicionais relativas ao gênero, às práticas culturais e à reprodução.

 
As pinturas de CaraghThuring, Bruxelas, 1972. Vive em Londres, perpassam noções de dualidade através de diferentes gestos. Por exemplo, o híbrido entre um vulcão e uma pirâmide – e, em nível mais fundamental, o tijolo que constitui esse híbrido – é uma imagem recorrente em sua obra. Outras de suas telas são inspiradas por composições de artistas canônicos, como Édouard Manet e FilippoBrunelleschi. Há ainda pinturas que Thuring enxerga simplesmente como duplas, uma precisando da outra para existir. Aqui, a artista mostra três telas quase idênticas nas quais retrata vulcões – versões em bordado de um desenho que ela realizou no início de 2016, que por sua vez é inspirado em guaches napolitanos do século XIX –, fagocitando a própria obra ao mesclar noções de fundo e figura. Thuring mostra também duas outras telas em que usa tijolos para construir figuras humanas executadas em escalas contrastantes: três homens diminutos posando em David Gandy (2014) e uma mulher agigantada em BrickLady (2013).

 
Daniel Sinsel, Munique, 1976. Vive em Londres, incorpora materiais orgânicos como sementes ou peles de animais em composições que perpassam a superfície bidimensional da tela, conferindo-lhes uma qualidade escultórica. Seus primeiros trabalhos, produzidos no início da década de 2000 – muitos dos quais retratavam jovens homens nus ou seminus – já apontavam explicitamente o seu interesse em explorar a noção de erotismo na pintura. Esse tema recorre em toda a sua produção, mesmo nos trabalhos onde a referência é menos evidente. Nas duas obras recentes apresentadas em “Hallstatt”, por exemplo, o erotismo é evocado a partir da relação criada entre aquilo que está dentro e fora da tela, daquilo que sua superfície oferece ou oculta ao espectador. Além disso, ao incorporar objetos cuja materialidade não é completamente identificável, cria uma espécie de trompl’oeil que levanta dúvidas sobre o que é realidade ou representação. Pintura/escultura, dentro/fora, realidade/representação são apenas alguns dos dualismos que perpassam a obra de Sinsel, calcada, acima de tudo, no jogo de sedução que o artista estabelece entre espectador e obra.

 
Na série de esculturas intitulada Lexicon (2012 -em andamento), ImanIssa, Cairo, 1979. Vive entre Cairo e Nova York, revisita obras de arte que são apresentadas na forma de estudos para remakes contemporâneos. Embora retenham os títulos dos desenhos, pinturas, esculturas e fotografias originais, os trabalhos resultantes não são reproduções fiéis ou cópias das obras originais, mas interpretações cujas formas diferem significativamente de suas fontes. Ao propor novas formas para esses trabalhos, Issa busca comunicar algo mais familiar e consistente com sua própria experiência a partir das ideias sugeridas pelos títulos. As esculturas são acompanhadas de legendas museológicas que contém breves descrições dos elementos originais, bem como sua procedência e data, oferecendo pistas sobre a identidade de seus duplos originais sem revelá-los completamente.

 
Joshua Sex, Dublin, 1985. Vive em Londres, é um pintor e escritor cuja pintura está intrinsecamente ligada a noção de reciclagem. Durante o seu mestrado no Royal CollegeofArts, em Londres (2011 – 2013), o artista passou a se apropriar de fragmentos de telas descartados nos corredores da universidade, usando-os como base para as suas composições. O que começou por necessidade ou diversão tornou-se um modus-operandi de Sex, que a partir de então passou a sempre necessitar dessas pistas na forma de vestígios para compor suas telas. O artista apresenta um conjunto de cinco pinturas realizadas entre 2012 e 2015.

 
As esculturas, pinturas, performances e instalações de Manoela Medeiros, Rio de Janeiro, 1991. Vive no Rio de Janeiro, têm como foco o corpo e suas relações com o tempo e o espaço. A alusão à pele e à permeabilidade são elementos recorrentes tanto nos trabalhos em que utiliza seu próprio corpo como nas instalações site-specific em que trabalha sobre as superfícies da parede para criar composições ambientais. Nessas últimas – a exemplo da instalação que a artista desenvolveu especificamente para “Hallstatt”, Manoela Medeiros descasca obsessivamente seções do revestimento das paredes e cria espelhamentos das formas produzidas pela sua ação, às vezes utilizando o próprio detrito de tinta produzido em sua feitura ou elementos tridimensionais incorporados ao trabalho.

 
As fotografias de Mauro Restiffe, São José do Rio Pardo, 1970. Vive e trabalha em São Paulo, são invariavelmente produzidas por meio de procedimentos analógicos e sempre em P&B, o que lhe permite obter uma gama de tonalidades e texturas muito mais ampla do que na fotografia digital. Ao longo das últimas três décadas, Mauro Restiffe desenvolveu um sólido corpo de trabalhos no qual a arte e a arquitetura são assuntos recorrentes. A arquitetura de Brasília e seu simbolismo cultural e político são pano de fundo para duas séries produzidas respectivamente à ocasião do empossamento do Presidente Lula (Empossamento, 2003) e do enterro de Oscar Niemeyer (Oscar, 2012), da qual uma das imagens está presente em “Hallstatt”. Ao registrar o mesmo local após um intervalo de tempo, o artista estabelece uma relação de dualidade entre as séries, que faz com que as imagens sejam atualizadas e ressignificadas. A exposição inclui ainda dois trabalhos da série Rússia (2015), que evidenciam o interesse de Restiffe em capturar imagens (pinturas, fotografias, etc) dentro da imagem fotográfica, ressaltando a relação dialógica entre espectador e imagem e a natureza ilusória da imagem.

 
Nuno Ramos, São Paulo, 1960, onde vive e trabalha, explora noções de dualidade, mimese, intertextualidade e repetição através de diferentes linguagens e materiais, que vão do texto à imagem, do som à encenação. Em “Hallstatt”, Nuno Ramos apresenta 3 cinzas (Ai, pareciam eternas!), uma instalação efêmera composta por cal, cinza e sal. O artista reproduz no chão do Galpão a linha da fachada de três casas em que morou ­­– a da avó, a da mãe e a casa onde os filhos nasceram – utilizando um pó diferente para cada contorno. Ao longo da exposição, as linhas desmancham-se e rearranjam-se com pisadas e vento. A obra alude a 3 lamas (Ai, pareciam eternas!), instalação site-specific realizada por Nuno Ramos em 2012 mas, sobretudo, ao deslocamento de lugares afetivos, da memória. O artista exibe também a obra “Un Coup de Dés”, que é uma versão em vidro e ácido do poema de Stéphane Mallarmé, “Un Coup de Dés Jamais N’Abolira leHasard” (1897), tido como o primeiro poema tipográfico da história. Na versão de Ramos, as lâminas de vidro são sobrepostas, permitindo que os versos, gravados no vidro em ácido, sejam lidos em sua totalidade. O artista contribui ainda com o ensaio Bonecas russas, lição de teatro, publicado originalmente em seu livro “Ó”, de 2008, e republicado no catálogo da exposição.

 
Desde o início de sua prática artística há cerca de dez anos, Oliver Laric, Innsbruck, Austria, 1981. Vive em Berlim, toma a cópia, apropriação e ressignificação como nortes de sua obra. Em “Hallstatt”, Laric mostra duas esculturas que integraram sua exposição recente no Secession, em Viena (Photoplastik, abril – junho de 2016), em que ele produz scans em 3D de esculturas públicas localizadas na mesma cidade – no caso, o Monumento à Auguste Fickert de Franz Seifert (1929) e Polar Bearand Seal, de Otto Jarl (1902) – e os reimprime em poliamida. O artista disponibiliza todos esses scans em um website, onde qualquer um pode baixá-los, apontando assim também para a noção de dispersão.

 
Tamara Henderson, New Brunswick, Canadá, 1982. Vive no Canadá, produz majoritariamente esculturas e instalações – por vezes funcionais – que ela imagina enquanto em um estado alterado de percepção, seja sob hipnose, barbitúricos ou durante o sono. Em “Hallstatt”, Henderson mostra duas grandes cortinas que produziu durante uma residência em HospitalfieldHouse, em Arbroath, na Escócia. As obras funcionam como um portal para uma realidade paralela imaginada pela artista, um elemento de transição que assinala o movimento de passagem de uma dimensão a outra. Cada uma das peças sintetiza o imaginário subjetivo associado a essas realidades, consistindo, nas palavras da artista, em “cartões postais de paisagens enxergadas através de escotilhas”.

 
Tobias Hoffknecht, Bochum, Alemanha, 1987. Vive em Colônia, formou-se na Kunstakademie de Dusseldorf, em 2013, onde estudou sob a orientação de RosemarieTrockel. Adotando uma estética minimalista, Hoffknecht produz instalações geralmente compostas de duplas de elementos escultóricos que criam diferentes relações entre o espectador e o espaço expositivo. Com acabamento preciso, suas peças se assemelham a ready-mades industriais, embora sejam trabalhos únicos fabricados de acordo com as especificações do artista. Assim, estabelecem um diálogo estreito com o design, muitas vezes evocando mobiliários ou interferindo diretamente na arquitetura do espaço expositivo. Em “Hallstatt”, Hoffknecht apresenta duas esculturas inéditas em madeira e aço inoxidável, materiais recorrentes em sua prática.

 
Ainda em exposição estão cinco duplas de pratos que pertencem a duas coleções particulares de São Paulo e datam entre 1750 e 1860. Alguns foram adquiridos já em pares; em outros casos, os colecionadores compraram um e esperaram anos até encontrar o seu duplo. Por serem manufaturados, cada peça apresenta pequenas diferenças em relação a seu par – uma flor maior, uma árvore com folhagem mais espessa e assim por diante – convidando o espectador a inspecioná-los minuciosamente, como em um jogo dos sete erros. Há uma exceção curiosa, em que a discrepância é a princípio óbvia; após uma análise próxima, percebe-se que enquanto ambas caldeiras apresentam diferentes cenas palacianas, suas bordas repetem o mesmo padrão.

 

 
Até 10 de fevereiro de 2017.

A Sereia e o Sapo

29/nov

“A Sereia e o Sapo”, é primeira exposição individual de Amanda Seiler. Em exibição, duas obras projetadas sobre um véu suspenso por cabos, na parede central da Galeria Cela, Centro Cultural Justiça Federal, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A curadoria é de Marco Antonio Teobaldo. As obras se alternam em um pulsar de imagens: o ambiente aquático de uma sereia aprisionada (Mermaid – 2015), e o brejo soturno, cenário do namoro de um casal de sapos (Blue and his vie en rose – 2008/2015). O ritmo das projeções ganha força com a instalação sonora criada por Flávio Lazarino, exclusivamente para esta mostra.

 

 

A palavra do curador
Amanda Seiler desenvolve um fascinante trabalho de fotomontagens digitais desde 2005, quando começou a experimentar sobreposições de imagens na tela do computador. A partir de suas fotografias e de imagens capturadas na Internet, a artista visual pesquisa composições que exigem apurado conhecimento espacial, até conseguir produzir um repertório que parece ter saído dos livros de fábulas. Contudo, seus enredos não são infantis, mas românticos, e por certas vezes, até melancólicos, quando suas cores saturadas remetem a um sentimento de desencanto, com reconhecida influência da estética kitsh.
No espaço quase tomado por completo pelas projeções, duas outras obras (Golden ball – 2008/2016 e Burst your bubble – 2009/2016) são apresentadas em impressão digital sobre tela, com intervenções em colagem, bordados e pintura, contrapondo-se às dimensões e ao suporte das outras duas. Apesar das mídias distintas, o conjunto possui uma coerência temática, que coloca o seu observador numa posição de voyeur destas cenas, cujo universo fantástico se completa com a arquitetura da própria galeria.
O método hightech de criação deste acervo onírico se rende à delicadeza da artista para narrar suas histórias, como prova de que existe espaço para a leveza no mundo contemporâneo.

 

Jorge Salomão no Oi Futuro

22/nov

A exposição “Jorge Salomão – No meio de tudo isso”, tem curadoria de Alberto Saraiva. Jorge Salomão é um dos convidados do Projeto Poesia Visual 2 está em cartaz na Galeria 1 (primeiro andar) e Vitrine do Oi Futuro, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. Poeta, letrista, diretor de teatro, irmão de Waly, Jorge Salomão nasceu na Bahia e mora no Rio de Janeiro desde 1969, onde sempre marcou presença na cena cultural. É autor de canções gravadas por nomes como Marina Lima, Adriana Calcanhotto, Cássia Eller, Barão Vermelho, Zizi Possi e Zé Ricardo, entre outros. Figura cultuadíssima no Rio de Janeiro, completou 70 anos em o3 de novembro e está lançando novo livro de poesias, “Alguns poemas e + alguns”.

 

 

Até 08 de janeiro de 2017.

Na CAIXA Cultural Rio 

01/nov

A CAIXA Cultural, Galeria 4, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta “Mostra Bienal CAIXA de Novos Artistas”, que reúne trabalhos de jovens talentos das artes visuais de todo o Brasil. A exposição apresenta 36 obras em diversos formatos: fotografia, escultura, pintura, gravura, desenho, objeto, instalação, videoinstalação, intervenção e novas tecnologias. A seleção das obras traz a assinatura da curadora Rosemeire Odahara Graça.

 

Resultado de projeto de apoio à cultura promovido pela CAIXA, a exposição recebeu 1.977 obras inscritas por 860 artistas iniciantes de todo o Brasil e selecionou trabalhos de 24 participantes. Os critérios de escolha foram originalidade, experimentação, inovação, conceito, qualidade artística e contemporaneidade. “Escolhemos as obras que tivessem um valor em si mesmas e que conversassem com as propostas contemporâneas de arte”, explica Rosemeire. Seguindo o regulamento da Seleção, foram escolhidos artistas que ainda não haviam exibido trabalhos em exposição individual.

 

A curadora avalia que a “Mostra Bienal CAIXA de Novos Artistas” foi bem sucedida em sua proposta de divulgar artistas ainda iniciantes ou recém-saídos da universidade, numa época de esvaziamento de espaços físicos de exibição nas artes visuais, com o fim dos grandes salões de arte e a chegada da internet. “Nesse novo momento de reformulação das artes visuais no Brasil, a Mostra Bienal CAIXA trouxe uma solução interessante para dar visibilidade a esses artistas”.

 

A Mostra Bienal CAIXA de Novos Artistas encerra esta edição no Rio de Janeiro depois de passar por todas as unidades da CAIXA Cultural: Curitiba, São Paulo, Brasília, Fortaleza, Recife e Salvador.

 

 

De 01 de novembro a 31 de dezembro.

 

Fotografias de César Fraga

25/out

Uma viagem afetiva do fotógrafo e designer gráfico Cesar Fraga por nove países africanos resultou em uma exposição que lança um olhar sobre os lugares de memória do tráfico de escravos para o Brasil. A mostra “Sankofa: Memória da Escravidão na África”, em cartaz na Caixa Cultural Rio de Janeiro, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta um total de 250 itens, incluindo 54 fotos, totens multimídia, textos com descrições dos países visitados e recursos de interatividade.

 

A curiosidade pelos fatos que antecederam a história da escravidão e o fascínio em relação às proximidades culturais entre o Brasil e os países africanos que comercializavam escravos foram os fios condutores que levaram César Fraga à expedição, na qual investigou as próprias origens. O fotógrafo e designer é bisneto de uma beneficiária da Lei do Ventre Livre, que libertava os filhos das mulheres escravas nascidos a partir de 1871, quando essa legislação pré-abolicionista foi aprovada.

 

Durante um ano na África do Sul, ele percebeu a necessidade de dar sua contribuição para encurtar a distância cultural que separa o Brasil do continente africano. As fotografias que integram a exposição foram publicadas no livro “Do Outro Lado”, resultado da expedição de Fraga, que documenta a cultura e o cotidiano das localidades visitadas e, por vezes, sua correlação próxima com os costumes brasileiros.

 

“Grande parte do povo brasileiro vem da mistura entre colonizadores brancos, indígenas nativos e negros trazidos à força da África. Referências europeias não faltam, basta ligar a TV. Mas há muito ainda a se descobrir sobre nossos ancestrais índios e negros, os grandes silenciados da história. Foi assim que nasceu o projeto Do outro lado”, conta Cesar Fraga. Designer formado pela Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj),  ele é fotógrafo autodidata e já atuou em projetos na América do Sul, Europa, África, Ásia e Antártica.

 

 

Roteiro

 

Elaborado pelo professor e escritor João Reis, considerado um dos mais importantes africanistas brasileiros, o roteiro da viagem abrangeu cidades e regiões protagonistas do tráfico de escravos. Entre 2013 e 2014, foram 60 dias percorrendo Cabo Verde, Senegal, Guiné-Bissau, Gana, Togo, Benim, Nigéria, Angola e Moçambique, países de onde saíram boa parte dos 11 milhões de homens e mulheres vendidos como escravos – quase metade tendo o Brasil como destino –ao longo de 350 anos.

 

O nome da exposição – “Sankofa” – refere-se a um mítico pássaro africano de duas cabeças, que, segundo a concepção nativa, simboliza voltar ao passado para dar outro sentido ao presente.

 

 

 

Até 22 de dezembro.

Na Athena Contemporânea

18/out

A galeria Athena Contemporânea apresenta, a exposição “Saudade e o que é possível fazer com as mãos”, com obras inéditas da artista mineira Raquel Versieux. Com curadoria de Raphael Fonseca, será apresentada uma grande instalação, composta por cerca de 200 objetos de cerâmica, que ocupará o chão da galeria, além de fotografias, esculturas e vídeos. Raquel Versieux nasceu em Belo Horizonte, em 1984, e possui obras na coleção do Museu de Arte do Rio (MAR), já tendo participado de importantes mostras como “Rumos”, do Itau Cultural, além de exposições no Paço Imperial, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Centro Cultural Banco do Nordeste, entre outras importantes instituições.

 

As obras que serão apresentadas na galeria Athena Contemporânea foram produzidas este ano, a partir de sua recente experiência na cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, onde é professora de Artes Visuais na Universidade Regional do Cariri, e de uma residência artística na Cidade do México. “Essas experiências fizeram com que a artista travasse contato com novas concepções em torno da relação entre imagem, natureza e cultura”, afirma o curador Raphael Fonseca.

 

No chão da galeria, estará a grande instalação “Quenga coco loco”, composta por cerca de duzentos objetos cerâmicos, feitos a partir da modelagem do barro em contato com cascas de coco-da-baía e de carnaúba, chamadas de “quenga”. A artista coloca o barro dentro dessas cascas e as deixa dentro de seu carro. “Com isso, elas ficam impregnadas desta viagem, vão pegando uma impressão do tempo e destes deslocamentos”, explica Raquel Versieux. O barro depois é queimado em um forno a lenha, “que tem a ver com o contexto local”, e dá origem aos objetos que formam a instalação. Um vídeo desse processo em que os cocos acompanham a artista em seus trajetos de carro também estará na exposição. A escolha do coco é proposital, a artista o utiliza como um “signo de representação da paisagem local”. “É como os coqueiros e as palmeiras, que desde o século XIX são usadas em pinturas e desenhos para representar o Brasil”, ressalta a artista.

 

A exposição terá, também, cinco versões da obra “Coração seguro”, escultura feita em metal com 1,20m de altura. No topo dela há uma pedra vermelha bem característica da região do Cariri, uma rocha sedimentar do tipo “Arenito da Formação Exu”, que tem 96 milhões de anos. Essa pedra é usada no calçamento da cidade, no revestimento de muros, e também está presente na fundação das casas. “A coloração avermelhada me faz lembrar um coração. Criei a escultura de forma que a pedra ficasse na altura do meu coração”, diz a artista. Essas esculturas estarão expostas na mostra e também haverá uma fotografia delas feita por Raquel Versieux, com a chapada do Araripe ao fundo.

 

Na exposição estarão, ainda, oito fotografias, que retratam a paisagem e o uso da terra. A artista destaca que os trabalhos têm uma relação entre si, não só por tratarem da saudade, mas também pela relação entre imagem, natureza e cultura. “A saudade a que me refiro não é só minha, mas também uma saudade do material com o qual trabalho. Penso na saudade que uma pedra é capaz de sentir ao ser quebrada, por exemplo, é uma saudade pré-histórica”, conta a artista. “A forma como observo e reconheço a terra e as práticas que nela acontecem, somada ao estado solitário em um novo contexto geográfico onde predomina a caatinga brasileira, me levaram à reflexão em torno dos sentidos de distância e saudade”, diz.

 

 

Residência artística no México

 

Raquel Versieux está há oito meses morando no Ceará. Durante este período, esteve também em residência artística por duas semanas no México, que foram importantes para ela concretizar tudo o que estava vendo e vivendo no nordeste do Brasil. A escultura “Coração Seguro”, por exemplo, surgiu no México e foi finalizada no Ceará. “Vi um operário construindo uma espécie de cone na Cidade do México, que seria preenchido de concreto e que serviria de base para um poste de luz. Ou seja, depois ele retornaria a terra. Me apropriei da forma, que me fez chegar nesta estrutura. Nela, vejo a relação entre um coqueiro e um poste de luz”, afirma.

 

 

Sobre a artista

 

Raquel Versieux nasceu em Belo Horizonte, em 1984. Dentre suas principais exposições individuais estão a mostra “Antes da última queima”, na Galeria de Arte IBEU, em 2015; “When the houses live”, na Six Galerija, na Croácia, e “A feira da incoerência”, na galeria Athena Contemporânea, ambas em 2013. Dentre suas principais exposições coletivas estão “Pavilhão Casa França-Brasil” (2016); “Aparição” (2015), na Caixa Cultural Rio de Janeiro; “Encruzilhada” (2015) e V Mostra/ Programa Aprofundamento, ambas na EAV Parque Lage; “Em desencanto” (2014), no Museu Mineiro, em Belo Horizonte; “Encontros Carbônicos” (2014), no Largo das Artes; “Imaginário (2013), no Museu de Arte do Rio; “Fronteiras (2013), no Espaço Cultural Sérgio Porto, no Rio de Janeiro; “Convite à viagem: Rumos Artes Visuais 2011 – 2013”, no Paço Imperial, Rio de Janeiro; “Entrecruzamentos” (2013), na Galeria Athena Contemporânea; “Á deriva: Rumos Artes Visuais 2011 -2013”, no Museu de Arte de Joinville, “Deslocamento F(R)Icção” (2012), no Galpão Capanema – Funarte, no Rio de Janeiro; “Perpendicular Fortaleza” (2012), no Centro Cultural Banco do Nordeste, em Fortaleza; “Convite À Viagem: Rumos Artes Visuais 2011-2013”, no Itaú Cultural, em São Paulo; “Mostra Energias na Arte Edp” (2010), no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; “Hélio Oiticica: Museu É o Mundo”, no Itaú Cultural, em São Paulo, entre outros.

 

De 20 de outubro a 19 de novembro.