Coleção Maxxi no Rio

01/jul

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e a Fundação PROA apresentam, a partir de 05 de julho, a exposição “Arte em Cena: Obras da Coleção MAXXI – Museu de Arte do Século XXI”, com cerca de 30 obras do museu italiano, inaugurado em 2010, com projeto arquitetônico de Zaha Hadid (1950-2016). Com curadoria de Anna Mattirolo, a exposição mostra a abrangência e diversidade do acervo italiano, que vai da arte povera ao uso de tecnologia. A exposição reúne fotografias, desenhos, pinturas, gravuras, instalações e vídeos, além de maquetes e projetos arquitetônicos. São ao todo 19 artistas: Mario Airo, Carlo Aymonino, Matthew Barney, Maurizio Cattelan, Gino De Dominicis, Massimiliano e Gianluca De Serio, Gilbert & George, Danilo Guerri, Ilya Kabakov, William Kentridge, Armin Linke, Luigi Ontani, Yan Pei-Ming, Michelangelo Pistoletto, Aldo Rossi, Grazia Toderi e Francesco Vezzoli.

 

O patrocínio é da Enel, que na Itália juntou-se em 2015 à Fundação MAXXI National, tornando-se o primeiro sócio fundador do Museu inaugurado em 2010 em Roma. Esta é a quinta parceria do MAM Rio de Janeiro com a Fundação PROA, prestigiosa instituição de Buenos Aires, que resultou nas exposições “Louise Bourgeois”, “Giacometti”, “América do Sul – A Pop Arte das contradições” e “Ron Mueck”.

 

 

 

Arte em Cena: Espaço Cênico, Quase Teatral

 

A curadora Anna Mattirolo explica que “Arte em cena” configura a coleção do MAXXI National “como um espaço cênico, quase teatral”. “As obras com ícones, símbolos de imagens de uma representação do desejo individual e coletivo que, em seu conjunto representam uma sensibilidade abrangente e uma ideia da cena italiana, envolvendo o imaginário político, ético, social e existencial que os artistas italianos e internacionais mais de uma vez cruzam para refletir e gerar proposições”. Ela observa que o “compromisso público do MAXXI em dedicar à contemporaneidade um projeto arquitetônico de tão grande relevância internacional garante que a comunidade conte com uma estrutura capaz de abrigar um laboratório de atividades que, com vistas ao futuro, abra suas portas a todos os aspectos da contemporaneidade global, mas ao mesmo tempo está bem enraizado em um contexto cultural único no mundo: o italiano”. Diretora do MAXXI National desde sua criação até 2015, Anna Mattirolo agora está à frente da pesquisa científica, documentação e atividades educativas do Museu.

 

 

Percurso da exposição

 

“Arte em Cena: Obras da Coleção MAXXI” vai ocupar mais de mil metros quadrados no terceiro andar do MAM, e será dividida em quatro espaços. Na sala 1, estarão o desenho, o projeto e a fotografia “Teatro del Mondo a Venezia: 1979-1981”, do arquiteto italiano Aldo Rossi (1931-1997), criado para a Bienal de Veneza, em que sobre o Gran Canal flutua um teatro construído sobre uma embarcação de madeira, como um teatro-gôndola, efêmero, em alusão ao carnaval da cidade. Na mesma sala estará a videoprojeção “Random” (2001), de Grazia Toderi (Pádua, Itália, 1963), em que se vê, do ponto de vista do palco, o público do Teatro Massimo, em Palermo, colocando o espectador no lugar do ator que vê os flashes dos registros feitos pelas câmeras fotográficas.

 

A Sala 2 reúne trabalhos de Matthew Barney, Maurizio Cattelan, Gino De Dominicis, Luigi Ontani e Yan Pei-Ming. “Cremaster 5” (1997), litografia e serigrafia em relevo e intervenção de Matthew Barney (São Francisco, EUA, 1967), integra o famoso “Ciclo Cremaster”,  uma sequência de cinco filmes que o artista produziu entre 1994 e 2002. “Mother, 2000” (1999), fotografia em preto e branco de Maurizio Cattelan (Pádua, Itália,1960), registra a performance em que um faquir indiano, soterrado na areia até o pescoço, só tem à mostra suas mãos em súplica.

 

A instalação “Statua (figura estendida)”, 1979, de Gino De Dominicis (Ancona, Itália, 1947 – Roma, 1998), traz um chapéu e um par de chinelos sobre uma base de madeira, que sugere a presença de uma pessoa, embora invisível. O artista lembra a frase de Fernando Pessoa: “morrer é apenas deixar de ser visto”.

 

“As Horas” (1975), de Luigi Ontani (Bologna, Itália, 1943), é uma série de 24 fotografias em grande formato que retratam o artista em tamanho real, em poses que remetem a emblemáticos personagens da história da arte. Entre outros, podem ser reconhecidos Narciso, Leda e o cisne, Dante e São Sebastião. A performance foi feita na Galeria L’Attico, em Roma, em 1975, por uma semana em cada hora do dia, mostrada em um relógio.

 

O artista Yan Pei-Ming (Xanghai, 1960) está presente em duas pinturas em óleo sobre tela, cada uma com 3 metros de lado, de 2005: “Mao” e “Papa”. Na primeira, vê-se Mao Tse-Tung, principal líder político da China, presença constante na produção do artista, e na segunda o Papa João Paulo II, líder carismático da igreja católica entre 1978 e 2005. Feitos com pinceladas enérgicas, os dois retratos comentam o mundo do espetáculo, a partir de imagens massivamente reproduzidas.

 

Na Sala 3 serão vistos trabalhos dos artistas Carlo Aymonino, Gilbert & George, Danilo Guerri, William Kentridge, Armin Linke, Michelangelo Pistoletto, Aldo Rossi e Francesco Vezzoli.

 

Do artista Carlo Aymonino (Roma, 1926 – 2010), estará a agua-forte “Il teatro di Avellino” (2009). A dupla de artistas Gilbert & George – Gilbert Proesch (Dolomitas, Itália, 1943), e George Passmore (Plymouth, Inglaterra, 1942) – está representada na exposição com quatro desenhos em grande formato feitos com carvão sobre papel entelado, da serie “The General Jungle or Carrying on  Sculpting” (1971). Os desenhos retratam os dois artistas em meio a uma selva, e se inserem em um amplo ciclo de trabalhos sobre papel, “The Charcoal on Paper Sculptures”, que por sua vez remetem a uma série fotográfica anterior chamada “Nature Photo-Pieces”.

 

A precisão e o rigor técnico dos desenhos do arquiteto Danilo Guerri (Ancona, Itália, 1939), podem ser vistos no trabalho “Teatro comunale delle Muse, Ancona” (1978), projeto de restauro do edifício do século 19, que manteve a fachada original em diálogo com o interior moderno. Feita com marcadores coloridos e giz de cera, a obra foi inserida na exposição para reforçar a ideia do espaço arquitetônico como espaço cênico.

 

A videoprojeção “Zeno Writing” (“A consciência de Zeno”, de 2002), de William Kentridge (Johannesburgo, África do Sul, 1955), com 11’12”, integra a produção do artista baseada no romance “A consciência de Zeno”, de Italo Svevo, um clássico da literatura italiana, publicado em 1923. Desenhos a carvão, imagens documentais da Primeira Guerra Mundial, teatro de sombras e música de ópera,  frases escritas e apagadas em nuvens de fumaça, formam o pano de fundo para a reflexão sobre conflitos pessoais em meio a situações de violência.

 

Armin Linke (Milão, Itália, 1966) está na exposição com duas fotografias de 1,5m x 3m, “Janela dentro do Ski Dome” e “Janela fora do Ski Dome”. Na primeira, vemos milhares de pessoas esquiando dentro do imponente estádio de Tóquio, e na segunda, em meio à metrópole, pode ser vista sua gigantesca estrutura. Seu trabalho discute as mudanças urbanísticas, antropológicas e culturais nas cidades.  “MICA” (1966), de Michelangelo Pistoletto (Biella, Itália, 1933), é uma pintura de acrílico e cristal de mica sobre tela, de 2,3m x 2m, pertencente à série “Objetos de menos”, em que o artista usa materiais cotidianos para criar o que definiu como “objetos” em lugar de “obras”, um conjunto de coisas díspares, ligadas exclusivamente por sua origem comum no pensamento criativo do autor. Mica é usado em uma série de aparelhos eletrodomésticos. Esta série é considerada chave para o desenvolvimento da arte povera.

 

O arquiteto Aldo Rossi está presente também nesta sala, com a maquete do Teatro “Carlo Felice”, de Gênova (1982-1984), correspondente ao projeto de restauro do edifício do século 19, destruído pelos bombardeios da Segunda Guerra Mundial. A relevância desta obra está na capacidade de dialogar entre arte e arquitetura.

 

“The kiss (let’s play DINASTY!)”, de 2000, de Francesco Vezzoli (Brescia, Itália, 1971), é um vídeo de 6’, com referências a filmes como “Violência e paixão” (1974), de Luchino Visconti, e à famosa série americana “Dinastia”, exibida na televisão nos anos 1990.

 

A Sala 4 é dedicada à instalação “Where is our place?” (“Onde é nosso lugar?”, 2003) do casal de artistas Ilya Kabakov (Ucrânia, 1933) e Emilia Kabakov (Ucrânia, 1945), que trabalha em conjunto desde 1989, em uma produção marcada pelas dimensões monumentais, que criam para o espectador jogos de mudanças de escalas e outras ficções teatrais. “Onde é nosso lugar?” combina três escalas. Acima do público, os pés de dois personagens gigantescos observam quadros emblemáticos da pintura tradicional. Na altura média do olhar do espectador, aparecem quadros menores, cada foto flanqueada por um texto; e sob o piso estará uma fotografia plotada no chão, com paisagens. “Ilya e Emilia Kabakov propõem uma inusitada viagem no tempo e no espaço para induzir uma reflexão crítica coletiva sobre o valor da arte contemporânea e do seu desfrute, em que todo é relativo e, ao mesmo tempo, o passado desacreditado sobrevive no presente, com a expectativa das novas gerações”, explica a curadora. Nesta mesma sala estará a obra “Aurora” (2003), de Mario Airò (Pavia, Itália, 1961), que recria, com uma tecnologia caseira, uma paisagem ao amanhecer.

 

 

Sobre a ENEL

 

A Enel é uma das empresas multinacionais de energia mais atuantes nos mercados globais de energia e gás, com foco na Europa e na América Latina. A Enel opera em mais de 30 países em quatro continentes, com capacidade de geração instalada de cerca de 90 GW e uma rede de distribuição de energia e gás que totaliza, aproximadamente, 1,9 milhão de quilômetros de extensão. No Brasil, a Enel tem uma capacidade instalada de cerca de 1.530,0 MW e atua em diversos segmentos do setor de energia, como geração, transmissão, distribuição e microgeração de energia solar. O grupo também atua no país com geração de energias renováveis por meio da Enel Green Power, que já detém a maior capacidade instalada em energia solar no Brasil.

 

 

Até 11 de setembro.

Brennand por Emanoel Araújo

07/jun

A exposição “Francisco Brennand – Senhor da Várzea, da Argila e do Fogo”, no Santander Cultural, Centro Histórico, Porto Alegre, com curadoria de Emanoel Araújo, nas palavras de Sérgio Rial, presidente da entidade,  servirá de “…motivo de dupla comemoração para o Santander por reunir e trazer para Porto Alegre dois nomes consagrados nos meios cultural e artístico brasileiro. O olhar apurado do curador evidencia a grandiosidade das obras do artista pernambucano e enfrenta com maestria o desafio de colocar um trabalho tão cheio de significados e mitologia, em um espaço com arquitetura eclética e rico em detalhes como o Santander Cultural. Os visitantes poderão viver por alguns momentos o universo mágico criado por Francisco Brennand, a partir de 1971, data em que transforma em ateliê as antigas ruínas da abandonada Cerâmica São João, de propriedade do seu pai. Num terreno de 14 mil metros quadrados, duas mil esculturas se espalham por jardins, pátios e lagos deixando o lugar “prenhe de uma atmosfera profana e ao mesmo tempo quase sagrada”, na sensível visão de Emanoel Araujo. Pela busca de recriar, ou pelo menos se aproximar, desse ambiente tão rico de sentimentos, histórias e mistérios, a exposição foi dividida em quatro vertentes: o teatro das representações mitológicas; o corpo em transmutação interior; os frutos da terra e as vítimas históricas”. Em exibição, esculturas, pinturas e vídeos distribuídos pelas galerias do Santander Cultural. Paralela à mostra, serão apresentados na sala de cinema quatro filmes com o artista como tema central.

 

 

De 07 de junho a 04 de setembro.

Marcel Odenbach no Brasil

11/mai

O MARGS Ado Malagoli, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, apresenta nas galerias João Fahrion, Pedro Weingartner, Ângelo Guido, Iberê Camargo e Oscar Boeira, exposição individual “Stille Bewegungen/Movimentos Silenciosos”. A mostra em parceria com o Instituto de Relações Exteriores, ifa, Alemanha, apresenta a obra de Marcel Odembach, um dos mais importantes videoartistas alemães através de diversas mídias como videoteipes, videoinstalações e obras em papel das últimas três décadas.

 

O tema do pós-guerra alemão abre-se com Odenbach desde cedo para uma perspectiva mais ampla, na medida em que diferentes culturas e constelações políticas são observadas e impregnadas no conjunto da obra. O artista desenha um retrato ao mesmo tempo analítico e emocional do ser humano na sociedade globalizada. Simultaneamente à mostra, que ocorre no MARGS, o Goethe-Institut Porto Alegre apresenta também 6 vídeos de Odenbach selecionados especialmente pelo artista para o espaço expositivo do instituto.

 

Organizada pelo ifa em colaboração com o curador Matthias Mühling, a seleção dos trabalhos apresentada em “Movimentos Silenciosos” combina um enfoque retrospectivo com a tentativa de cobrir as principais temáticas abordadas pelo artista. O intenso questionamento da problemática da elaboração do passado ilustra, em especial, como as obras de Odenbach refletem a Alemanha pós-guerra e a situação de sua sociedade. Esse foco temático, entretanto, foi situado já bem cedo pelo artista dentro de um horizonte mais amplo, que abria o questionamento especificamente alemão para uma perspectiva mais geral. Ele aproximou-se de diferentes culturas e constelações políticas e integrou suas observações dentro da obra, traçando, assim, linhas de conexão do trauma alemão com o regime nazista até o genocídio em Ruanda, do imaginário sobre o masculino na Turquia até o papel da mulher na Venezuela, do familiar até o desconhecido, da própria biografia até a história dos outros.

 

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1953, em Colônia, Marcel Odenbach é um pioneiro da videoarte. Seus trabalhos são narrativas complexas criadas por meio de uma técnica de colagem de trechos de produções para cinema e televisão, material de arquivo e imagens feitas por ele mesmo. A edição de imagens públicas e privadas gera enredos que conectam sutilmente a história, num nível superior, com o sentimento do ser humano individual e a biografia do artista.

 

Até 29 de maio.

Na galeria do IBEU

12/abr

A Galeria de Arte IBEU, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, duas exposições individuais simultâneas das artistas Leandra Lambert e Mari Fraga: “Passagens Atlânticas” e “Tempo Fóssil”, com curadoria de Cesar Kiraly e Michelle Sommer, respectivamente. As artistas foram selecionadas através do edital do Programa de Exposições Ibeu 2016/2017.

 

Em sua segunda individual, “Passagens Atlânticas”, Leandra Lambert apresenta fotografias da série “Entremundos (pelo olho do bicho)”, uma composição sonora e objetos poéticos como as “Luvas de Areia” e a “Gargantilha de pedras portuguesas, asfalto, monóxido de carbono e engasgos”, relacionados à experiência de suas três Atlânticas: a avenida, em Copacabana, a mata e o oceano.

 

A exposição relaciona diversas concepções do termo “passagem” a esse universo: a passagem dos corpos pelos ambientes, o transitório, a passagem do tempo; a noção de passagem literária, passagens entre ficção e história; a passagem de um estado a outro, de uma matéria a outra, transformação; lugar de transição e devir, espaço do que antecede o desconhecido.

 

A galeria apresenta, no mesmo período, a exposição individual “Tempo Fóssil”, da artista Mari Fraga, com curadoria de Michelle Sommer. A partir de uma pesquisa sobre o elemento Carbono, a artista atravessou diversos materiais – nanquim, grafite e carvão – para recentemente se debruçar sobre a energia e os materiais fósseis, como petróleo, asfalto, carvão mineral e gás natural. “O trabalho acabou por adentrar a esfera da política a partir de uma trajetória de investigação da matéria”, conta a artista.

 

A exposição exibirá o vídeo “63 Perfurações”, de 2015. Neste trabalho é observada uma sessão de acupuntura sobre um mapa mundi marcado nas costas da artista por exposição à luz solar. Inédito no Brasil, “63 Perfurações” foi exibido na SU Gallery Konstfack, galeria em Estocolmo, Suécia, em 2015. A distância radical entre as escalas do humano e do planeta desafia nossa percepção de espaço e tempo, temática que é explorada nas obras “Cálculos para Acupuntura Planetária”, de 2015 e na escultura inédita “Fosso Fóssil”. Por fim, a escultura também inédita “Gerações” marca o encontro entre uma madeira nova e uma pedra de carvão mineral – resquícios de florestas que ocuparam o planeta Terra há milhões de anos.

 

No seu processo artístico, Mari Fraga desenterra fragmentos de petróleo, betume, carvão mineral, madeira sedimentada, sal. Molda, então, a matéria que estava escondida sob a terra como as raízes das árvores. Da matéria fóssil, unidas entre si pela presença do elemento químico Carbono, emerge  plasticidade, em suas distintas temporalidades. O Carbono é o nó poético – com cor, rugosidade, textura e crítica – que está contido na escala fractal das obras, em sua maioria inéditas, de Tempo Fóssil”, diz a curadora  Michelle Sommer no texto de apresentação da mostra.

 

 

 

Sobre as artistas

 

Leandra Lambert – É artista multimídia em atividade desde 2009 e compositora-performer em música eletrônica/experimental desde o início dos anos 90. Participou de exposições e eventos no Brasil, EUA, França, Chile, Cuba, Noruega e Rússia. Sua primeira exposição individual foi “Danças Atlânticas”, no CCJF, Rio de Janeiro. Doutoranda em Artes, em co-tutela UERJ / Paris 1 Panthéon-Sorbonne.

 

Mari Fraga – É artista e pesquisadora. A ação humana na natureza é o foco de sua prática recente, que problematiza as fronteiras entre o natural e o artificial. Doutoranda em artes pelo PPGArtes UERJ, desde 2012 é editora da Revista Carbono, publicação online que propõe diálogos entre pesquisas artísticas e científicas. Foi curadora dos Encontros Carbônicos, em 2014 e 2015.

 

 

Até 20 de maio.

Mostra em Joinville

28/mar

O Museu de Arte de Joinville, SC, apresenta a exposição individual “Cosmos”, do artista visual Carlos Wladimirsky. A mostra é constituída de quinze desenhos de pequenas dimensões aproximadas de 28 x 38 cm, em técnica mista sobre papel de algodão. Os desenhos, produzidos em 2015, são resultado de dezenas de diluições de pigmentos e gestos gráficos, com o uso de técnicas do desenho com aquarela, giz, pastel seco e guache, gerando uma veladura. Esta superposição de aguadas criam imagens que remetem a um mundo sideral e cósmico com formas abstratas em contínua transformação.

 

Serão apresentados também ao público, quatro vídeos que abordam os processos de criação do artista, seu ateliê e a performance “Cosmos, Parada 547”; realizada na Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, em 2014. A performance tem roteiro e direção de Carlos Wladimirsky. O artista estará presente na abertura da exposição e conversará com o público.

 

Sobre o artista

 

Carlos Wladimirsky nasceu em 1956, em Porto Alegre, RS, vive e trabalha na mesma cidade. Foi integrante do “Espaço NO” de 1979 a 1982, grupo pioneiro e de relevante importância para as artes visuais e a contemporaneidade gaúcha. Dedicou-se inicialmente ao teatro, ao cinema experimental e às performances e, nos anos 80, ao desenho e à pintura. Em 1990 fez viagem de residência artística a Portugal e entrou em contato com a pintura de Maria Helena Vieira da Silva e com a joalheria de René Lalique, iniciando trabalhos com joias em prata, e pedras brutas semipreciosas. Wladimirsky iniciou em 2002, sua pesquisa com cerâmica, produzindo pratos, bowls e máscaras esmaltadas que têm configurações enraizadas em suas investigações com o desenho. Em cerca de 40 anos de carreira realizou diversas exposições entre as quais “Desenhos” no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, 1981; “Artistas Gaúchos Contemporâneos”, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP, 1981; “OS NOVOS”, Espaço Cultural Yázigi”, curadoria de Renato Rosa, 1983; “Panorama da Arte Atual Brasileira”, MAM, SP, 1984; Projeto Macunaíma, FUNARTE, RJ, 1985; “Velha Mania – o Desenho Brasileiro”, EAV- Parque Lage, RJ, 1985; Trienal de Desenho de Nuremberg – Alemanha, 1985; “Desenho Contemporâneo Brasileiro”, INAP, Funarte, RJ, 1988. Lançou em 2009 livro sobre sua obra organizado por Mário Röhnelt.

 

Até 1º de maio.

Natureza franciscana

26/fev

O MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, Av. Pedro Álvares
Cabral, s/nº – Portão 3, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Natureza franciscana”, uma noção contemporânea da relação colaborativa entre o ser humano e a natureza. Com curadoria de Felipe Chaimovich, a mostra é organizada a partir das estrofes do “Cântico das Criaturas”, canção escrita por Francisco de Assis, provavelmente entre 1220 e 1226, reconhecida como texto precursor das questões referentes à ecologia.

 

Para contemplar a linha de arte e ecologia, o curador selecionou artistas que utilizam elementos da natureza em suas produções, reunindo 18 obras da coleção do museu somadas a 19 empréstimos, totalizando 37 trabalhos que são exibidos em diferentes suportes como fotografia, desenho, gravura, vídeo,  livro de artista, instalação, obra sonora, objeto, escultura e bordado. “As obras originam-se de relações com os elementos descritos no Cântico: sol, estrelas, ar, água, fogo, terra, doenças e atribulações e, por fim, a morte”, explica Chaimovich, um estudioso da obra de Francisco de Assis há 15 anos.

 

 

Sobre a exposição

 

Dividida conforme os elementos citados na canção” Cântico das Criaturas”, de Francisco de Assis, a mostra começa com o sol representado pela fotografia em cores “Lâmpada”, de 2002, da artista Lucia Koch, ao lado das fotografias em preto e branco “The celebration of light”, de 1991, de Marcelo Zocchio, e dos 12 livros da série “I got up”, 1968/1979, do japonês On Kawara.

 

O elemento água é tematizado pelas fotografias “A line in the arctic #1” e “A line in the arctic #8”, 2012, do paulistano Marcelo Moscheta, e pelas obras relacionados ao projeto Coletas, da artista multimídia Brígida Baltar, que incluem imagens da série “A coleta da neblina”, entre 1998 e 2005, cinco desenhos em nanquim sobre papel de 2004, a escultura em vidro” A coleta do Orvalho” de 2001 e o vídeo “Coletas” de 1998/2005.

 

Em contraponto, o fogo é simbolizado pelo vídeo “Homenagem a W. Turner”, de 2002, de Thiago Rocha Pitta, e pelos vestígios de fumaça sobre acrílico e sobre papel feitos pela escultora e desenhista Shirley Paes Leme. O elemento ar fica a cargo da escultura “Venus Bleue”, do artista francês Yves Klein. As estrelas são apresentadas por meio de sete fotografias do alemão Wolfgang Tillmans. Representando a terra, são expostas 30 caixas de papelão cheias de folhas e galhos de árvore embalados em plástico, papelão e fotografias em cores, instalação feita em 1975, por Sérgio Porto, além do relevo em papel artesanal, de 1981, de Frans Krajcberg.

 

As doenças e atribulações são tematizadas pela instalação “Dis-placement”, 1996-7, de Paulo Lima Bueno: numa sala com mobiliário, frascos de remédio, rosas, lona, giz e tinta, o artista demonstra os caminhos percorridos por ele para alcançar e tomar todos os remédios para combater os efeitos da Aids, antes do surgimento dos coquetéis anti-HIV. A artista “Nazareth Pacheco” exibe série de fotografias em preto e branco, de 1993, que mostram a malformação congênita do lábio leporino, dentes, raio-x e objeto de gesso.
Por fim, a morte é representada pelo último tecido bordado por José Leonilson antes de falecer, em 1993. Permeando a exposição, a instalação sonora “Tudo aqui”, de 2015, da artista Chiara Banfi, alcança todo o espaço expositivo e abrange todos os elementos representados.

 

 

A palavra do curador

 

Francisco de Assis pode ser considerado fundador da ecologia. Para ele, o ser humano tem uma relação de colaboração com os elementos naturais: a natureza não é subordinada aos interesses humanos. Embora o ser humano se posicione como uma parte singular da natureza, os demais elementos devem ser tratados por nós como membros de uma só família universal.

 

Francisco de Assis escreveu uma letra de música com suas ideias: o “Cântico das Criaturas”. Desde jovem ele cantava trovas de amor em francês. Nos últimos anos de sua vida, escreveu o “Cântico” na língua de sua terra natal, na Itália; nele, os diversos elementos naturais e as fases da vida são acolhidos como irmãos e irmãs.

 

Depois da morte de Francisco de Assis, em 1226, os Franciscanos incentivaram um novo olhar para o universo, enxergando nele traços de uma mesma geometria que uniria o pensamento humano aos elementos naturais. Os Franciscanos incentivaram a descoberta da perspectiva a partir dos estudos da geometria da luz e, assim, o nascimento da arte fundada no desenho em perspectiva.

 

Reunimos aqui artistas que colaboram com elementos da natureza e da vida em seus trabalhos. As obras estão agrupadas conforme as partes do “Cântico” de Francisco de Assis: sol, estrelas, ar, água, fogo, terra, doenças e atribulações, morte. A relação entre arte e ecologia torna-se evidente ao compreendermos a posição fundadora de Francisco de Assis em nossa cultura.

 

Artistas convidados: Lucia Koch, Marcelo Zocchio, On Kawara, Marcelo Moscheta, Brígida Baltar, Thiago Rocha Pitta, Shirley Paes Leme, Yves Klein, Wolfgang Tillmans, Sérgio Porto, Frans Krajcberg, Paulo Lima Buenoz, Nazareth Pacheco, José Leonilson e Chiara Banfi.

 

 

De 27 de fevereiro a 05 de junho.

Uma coleção particular

17/dez

A Pinacoteca do Estado de São Paulo, Estação da Luz, São Paulo, SP, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, exibe a exposição “Uma coleção particular – Arte contemporânea no acervo da Pinacoteca” que apresenta um panorama da arte contemporânea no Brasil a partir de sua coleção. Uma seleção que reúne mais de 60 obras, a maioria incorporada recentemente ao acervo da instituição e com trabalhos que vêm a público pela primeira vez – como é o caso dos empréstimos em comodato da coleção Roger Wright, parceria firmada este ano.

 

São pinturas, esculturas, vídeos, fotografias, desenhos, gravuras e instalações, realizadas de 1980 até hoje por artistas nascidos ou radicados no país. “O corte cronológico considera o processo de reorganização da vida política e cultural brasileira com o fim da ditadura militar (1964-1985), mas também leva em conta um período de reestruturação da própria Pinacoteca, que compreende, por exemplo, a reforma de sua sede, entre 1994 e 1998”, explica o curador da Pinacoteca José Augusto Ribeiro.

 

A mostra ocupa todo o primeiro andar do museu com trabalhos históricos como “Ping-ping”, de Waltercio Caldas, além das obras de Iberê Camargo, Gilvan Samico, Regina Silveira, Tunga, Leda Catunda, Beatriz Milhazes, Erika Verzutti, Rosângela Rennó, Ernesto Neto, Rubens Mano, Tonico Lemos Auad, Willys de Castro, João Loureiro, Alexandre da Cunha, entre outros artistas. Nomes de grande projeção internacional e que são referência para as novas gerações, ao lado de artistas em início de suas trajetórias profissionais, todos de diferentes regiões do Brasil. “A seleção confirma a posição da Pinacoteca como uma das instituições museológicas com uma das coleções públicas mais importantes do País”, completa Ribeiro.

 

 

A diversidade de artistas aparece também nas 12 salas expositivas, além do Octógono e do lobby, onde o visitante encontra obras bastante diferentes e, a partir das relações sugeridas pela curadoria, consegue perceber as singularidades de cada peça. Grande parte dos artistas desta mostra compôs a programação da Pinacoteca nos últimos anos, por isso também ela faz parte do calendário comemorativo de 110 anos do museu.

 

Entre os artistas da exposição estão: Alexandre da Cunha | Almir Mavignier | Amilcar Packer | Anna Maria Maiolino | Antonio Lizárraga | Antonio Malta | Beatriz Milhazes | Carlos Fajardo | Carmela Gross | Daniel Acosta | Dudi Maia Rosa | Efrain de Almeida | Emmanuel Nassar | Erika Verzutti | Ernesto Neto | Fabio Miguez | Fabricio Lopez | Flávia Bertinato | Gerty Saruê | Gilvan Samico | Iberê Camargo | Iole de Feitas | Iran do Espirito Santo | João Loureiro | José Damasceno | Leda Catunda | Leya Mira Brander | Lorenzato | Mabe Bethônico | Odires Mlaszho | Paulo Monteiro | Paulo Whitaker | Regina Silveira | Rodrigo Andrade | Rodrigo Matheus | Romy Pocztaruk | Rosângela Rennó | Rubens Mano | Sara Ramo | Tatiana Blass | Tonico Lemos Auad | Tunga | Valdirlei Dias Nunes | Vanderlei Lopes | Vania Mignone | Veio [Cícero Alves dos Santos] | Wagner Malta Tavares | Waltercio Caldas | Willys de Castro.

 

 

Até 31 de janeiro de 2016.

César Meneghetti no MAXXI

11/dez

O artista visual brasileiro César Meneghetti expõe “IO_ IO È UN ALTRO”, no MAXXI – Museo Nazionale Delle Arti Del XXI Secolo, em Roma, Itália, com curadoria de Simonetta Lux. A mostra é composta por 55 vídeos, 2 fotografias e uma áudio-instalação, nos quais o artista coloca em destaque pessoas com deficiências mental, física e psíquica, propondo a desconstrução de padrões de realidade e a criação de novas rotas, que deixam de lado preconceitos sociais e certezas existenciais, no intuito de oferecer ao público a oportunidade de mudar seu olhar além dos estereótipos e julgamentos.

 

 

Ao longo de 5 anos de pesquisas, iniciadas em 2010, César Meneghetti reuniu mais de 200 pessoas com tipos variados de deficiências, através de uma ação multidisciplinar promovida pelos Laboratórios de Arte da Comunidade de Sant’Egidio (periferia de Roma), motivado pela ideia de fragilidade da fronteira da normalidade, num contexto amplo. Os resultados da pesquisa, dos estudos, workshops e atividades criativas deste projeto culminaram no lançamento do livro “IO_ IO È UN ALTRO”, e na presente mostra individual, a primeira de um artista brasileiro no MAXXI.

 

 

“IO” ou “1” – do código binário da informática – é o paradoxo desta fronteira da normalidade, onde uns são 1 e outros 0, mas ambos importantes para a construção de linguagem, de vida, positivo/negativo e todas as leis eletromagnéticas que regulam o planeta. O subtítulo “io è un altro” (“eu é um outro”) contém o conceito de Arthur Rimbaud, “Je est un autre”, que aparece em duas cartas de 1871. Com essas referências, “IO_ IO È UN ALTRO” desconstrói a realidade, criando um outro cenário, e pondo de lado todos os preconceitos aceitos a priori como condição para definir a existência de um indivíduo. “Homens e mulheres, negros e brancos, ricos e pobres, pessoas com deficiência, sem-teto, hetero ou homossexuais, oprimidos de todos os tipos, nesta incompletude é que buscamos dar uma resposta a várias questões e desafios, através da construção de nossa – embora limitada – consciência”, comenta Meneghetti.

 

 

Das 20 peças que perfazem o projeto como todo, 5 foram selecionadas para a exposição no MAXXI. Citando algumas dessas obras, “IO_OPERA #01 VIDEOCABINA #3″ descreve artistas com deficiência em uma espécie de diálogo simétrico, que também envolve o espectador, abordando temas universais como amor, solidão, felicidade, a morte, a normalidade e a diversidade. Em “IO_OPERA #03 EX-SISTENTIA”, César Meneghetti torna visível a consciência de Gabriele Tagliaferro – artista que sofre de uma grave forma de autismo –, revelando como ele vive a distância entre seu corpo e seu plano de ação, ou comunicação, como percebe o espaço a seu redor, como vive seu pensamento. Ainda, “IO_OPERA #08 PASSAGGI-PAESAGGI” é composta por 4 monitores, nos quais são projetadas imagens de pessoas que andam com olhos fechados, em uma metáfora da nossa efêmera existência na Terra. A mostra também inclui o espaço “I/O_OPERA #19 REPERTI / ACHADOS” (SALA DOC), contendo rastros dos 5 anos da pesquisa de Meneghetti, colocados em exposição para o público fazer suas próprias buscas.

 

 

Com este trabalho, César Meneghetti – sempre interessado em fronteiras geográficas, políticas, linguísticas e mentais -, pretende contribuir com o fim do preconceito, mostrando que pessoas com deficiência revelam uma incrível capacidade de imaginar, perceber, pensar, retratar a realidade, e uma faculdade de análise insuspeita. Para tanto, o artista utiliza o potencial transformador da arte, objetivando a mudança de percepção da realidade e de nós mesmos, com a proposta de oferecer oportunidade para compartilhar experiências. Em suas próprias palavras: “Viver é conviver. Somos seres incompletos e inacabados porque um não existe sem o outro. Nós somos incompletos porque não podemos existir sem os relacionamentos, sem aquele com quem interagimos, mas acima de tudo porque somos um fluxo em constante mutação: nós seres humanos, nós vida”.

 

 

 

 

 

 Até 17 de janeiro de 2016.

Inéditos de Thiago Toes

Papeis, escultura e vídeo. São esses os suportes que Thiago Toes, artista representado pela OMA | Galeria, São Bernardo do Campo, São Paulo, SP, utilizou para a criação das obras da mostra “Luminar”. A exposição está acontecendo no espaço Qualcasa e integra o “Projeto No Mesmo Lugar”, do Hermes Artes Visuais – espaço focado em arte contemporânea dirigido e mantido por artistas, que realizam regularmente debates teóricos, mostras, projetos intensivos, palestras e cursos – em que Toes participa de um acompanhamento artístico.

 

 

Assim como define o dicionário, Luminar também resgata a ideia das coisas que espalham luz, como os astros e planetas – tema recorrente e de interesse intrínseco em suas obras. Por isso, para que haja uma real imersão neste conceito, as peças estão inseridas em três ambientes. Assim, em cada um é possível ter contato com um experimento diferente. “Todas as minhas obras são relacionadas ao universo, multiverso, dimensões e lugares que a gente não enxerga a olho nu. Gosto de estudar e trabalhar com o imaginário e as conexões que a gente pode ter quando estamos diante desses conceitos”, comenta Toes. 

 

 

O texto introdutório da mostra é de Douglas Negrisoli, curador responsável pela primeira exposição individual de Thiago Toes, “Celeste”, na OMA | Galeria, em 2013. Como os trabalhos são resultados de um acompanhamento artístico realizado pela Hermes, a curadoria fica por conta do próprio espaço. Segundo Nino Cais, um dos responsáveis por este trabalho no Hermes, a personalidade inquieta e intrigante de Thiago Toes está explícita nas peças.  “A potência de um artista pode ser medida por sua necessidade de transformação. O admiro por este entusiasmo, por este interesse tanto no que é técnico, quanto conceitual. Ele está sempre disposto a crescer e isso é visível nos trabalhos apresentados no Qualcasa”, fala.

 

 

 

Até 22 de janeiro de 2016.

Individual de Carla Chaim

07/dez

O projeto “Presença” foi desenvolvido como um site specific para o espaço da Casa Nova, Jardim Paulista, São Paulo, SP, com curadoria e texto crítico de Gabriel Bogossian e em parceria com a Galeria Raquel Arnaud. Nele, um conjunto esculturas, fotografias e um vídeo ocupam os espaços do térreo, em um diálogo com a arquitetura do lugar.

 

Cada escultura reproduz um elemento chave da arquitetura: o piso e a coluna, da varanda de entrada, e o tampo da lareira na sala. Deslocadas no espaço como negativos dos elementos reais, elas exploram esses fragmentos arquitetônicos despidos de suas funções decorativas ou estruturais.

 

As fotos e o vídeo, por seu lado, também exploram fragmentos da Casa. Neles, contudo, trata-se de intervir com o corpo sobre os espaços vagos e os intervalos, que têm assim seu significado visual e espacial alterado. Desse modo, escultura e corpo se equivalem no gesto de explorar as brechas nos limites impostos pela arquitetura.

 

Enquanto modos de abordar o espaço, as obras apontam para novas formas de relação com ele, alterando percepções de tempo, escala, volume, superfície e cor. Em um diálogo com (ou sobre) o desenho arquitetônico, o gesto de seleção de elementos e espaços da Casa revela a identidade do lugar, tanto a partir de seus aspectos estéticos (a forma curva da varanda de entrada, que ecoa a varanda de cima) quanto dos estruturais ou decorativos: aqui, a Casa se torna visível para si mesma.

 

Carla Chaim é formada em Artes Visuais pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, 2004, onde também realizou a Pós-graduação em História da Arte, 2007. A artista trabalha diferentes mídias como desenho, escultura, vídeo e instalação. Chaim tenta se aproximar de uma ampla escala de assuntos cotidianos, trazendo-os para seu atelier e repensando novas formas e novas relações. A artista tem o desejo de controlar seus trabalhos, tanto em regras pré-estabelecidas na execução, quanto de seus movimentos físicos durante a feitura de um desenho, trazendo o corpo como importante instrumento neste processo, também pensando-o como local de discussão conceitual explorando seus limites físicos e sociais. A artista não trabalha pensando no resultado final. O que lhe interessa são os movimentos, passos e processos de cada trabalho. Carla define regras e parâmetros e segue com eles até o final. Os trabalhos de Chaim não contam histórias, elas são o próprio fazer, combinando sistemas dicotômicos: regras rígidas e movimentos físicos orgânicos.

 

Carla Chaim recebeu diversos prêmios como em 2015 o Prêmio CCBB Contemporâneo, e o Prêmio FOCO Bradesco ArtRio, ambos no Rio de Janeiro e, em São Paulo, em anos anteriores, o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea e Prêmio Energias na Arte, no Instituto Tomie Ohtake, onde participou também das exposições “Os primeiros dez anos”, 2011, e “Correspondências”, 2013.

 

Participou de residências artísticas como: Arteles, Finlândia, 2013; Halka Sanat Projesi, Turquia, 2012; The Banff Centre for the Arts, Canadá, 2010. Fez, em 2014, sua primeira individual em Lisboa, Portugal, no Carpe Diem Arte e Pesquisa, e participou de exposições como “Afinidades”, no Instituto Tomie Ohtake, e “Entre dois mundos”, no Museu Afro-Brasil, em São Paulo, Brasil. Sua obra faz parte de coleções como Ella Fontanals-Cisneros, Miami, EUA; Museu de Arte do Rio – MAR, RJ, Brasil; e Ministério das Relações Exteriores, Itamaraty, Brasília, Brasil. A Galeria Raquel Arnaud, que representa a artista desde 2012, apresentou a exposição individual “Pesar do Peso” em 2014.

 

Gabriel Bogossian é curador independente, editor e escreve textos críticos. Já trabalhou como tradutor das editoras Hedra, em 2008, e Rocco, em 2011, foi curador da exposição Ensaio para a Loucura, de Gui Mohallem, no Museu Brasileiro de Escultura (MuBE), em 2011, editor para a Red Bull House of Art, em 2013, pesquisador do festival Videobrasil, em 2014, e curador do festival de perfomance Transperformance 3: Corpo Estranho, em 2014. Foi curador da exposição Cruzeiro do Sul, realizado no Paço das Artes, em 2015.

 

 

De 12 de dezembro a fevereiro de 2016.