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AGENDA CULTURAL

Ivan Serpa no CCBB/Rio

05/mar

O Centro Cultural Banco do Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “Ivan Serpa: a expressão do concreto”, uma ampla retrospectiva de um dos mais importantes artistas da História da Arte Brasileira. Reunindo cerca de mais de 200 trabalhos, a mostra exibe diversas fases de suas obras que abrangem uma grande diversidade de tendências, utilizando várias técnicas, tornando-se uma referência para novos caminhos na arte visual no país. A exposição percorre a rica trajetória do artista, expoente do modernismo brasileiro através de obras de grande relevância selecionadas em diversos acervos públicos e privados.

Os curadores Marcus de Lontra Costa e de Hélio Márcio Dias Ferreira selecionaram uma ampla gama de trabalhos situados entre a figuração e o concretismo, além de desenhos e objetos.

Sobre o artista

Ivan Ferreira Serpa, Rio de Janeiro, RJ, 1923 – 1973. Pintor, gravador, desenhista. Artista plástico e professor. A partir de 1946 inicia seus estudos em arte com o gravador Axel Leskoschek e em 1947 expõe na divisão moderna do Salão Nacional de Belas Artes. No início da década de 1950, seu trabalho já se identifica com a abstração geométrica e sua participação na I Bienal Internacional de São Paulo, realizada em 1951, exibe essa tendência e recebe o Prêmio Jovem Pintor Nacional. A partir de 1952 passa a dedicar-se também a atividades didáticas em cursos de pintura realizados no Museu de Arte Moderna. Em 1953 participa da I Exposição Nacional de Arte Abstrata realizada na cidade de Petrópolis, RJ. No ano seguinte, juntamente com outros artistas, cria o Grupo Frente, assumindo sua liderança. Participa em 1957 da I Exposição Nacional de Arte Concreta no Rio de Janeiro, quando recebe o Prêmio de Viagem ao Exterior do Salão Nacional de Arte Moderna. Viveu na Europa entre os anos de 1958 e 1959, quando volta ao Brasil e participa, no Rio de Janeiro, da I Exposição de Arte Neoconcreta. No início dos anos 1960 realiza algumas experiências no campo da figuração, entre as quais a “Fase negra”, de tendência expressionista, que se desenvolve num momento de crise política, que culmina com o golpe militar de março de 1964. A partir de 1965 retorna o Abstracionismo geométrico, introduzindo elementos ligados à sensualidade das formas. Participou das mais importantes exposições ocorridas ao longo da década de 1960 como “Opinião 65”, “Opinião 66” e “Nova Objetividade Brasileira”. Nas décadas de 1960 e no início de 1970 desenvolve trabalhos com Lygia Pape, Antonio Manuel e Dionísio del Santo. Recebeu diversos prêmios no Brasil e participou de diversas edições da Bienal de São Paulo, além da Bienal de Veneza, em 1952,1954, 1962, e Zurique, 1960, onde recebeu premiação. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro realizou algumas retrospectivas de sua obra nos anos 1965, 1971 e 1974.

 

Individual de Lucia Laguna

03/mar

A Fortes D’Aloia & Gabriel, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta até 16 de maio, a nova exposição de Lucia Laguna. Esta é a segunda individual da artista na Galeria, e sua primeira exposição após “Vizinhança”, mostra panorâmica dedicada à sua obra no MASP em 2018. Neste novo conjunto de pinturas, Lucia dá continuidade à divisão entre as séries de “Jardins”, “Paisagens” e “Estúdios” que norteia sua produção desde o início. Tal divisão aponta para a indissociabilidade que há entre o processo artístico de Laguna e o espaço de seu ateliê, situado na Zona Norte do Rio de Janeiro. É a partir dele – e da observação de seu entorno, que vai de seu jardim até o Morro da Mangueira – que a artista compõe paisagens híbridas, mesclando arquitetura e vegetação, planos geométricos e elementos figurativos.

 

“Paisagem n. 121” evidencia bem o método da artista. De início, Lucia permite que seus assistentes comecem o processo, delimitando linhas sobre a superfície da tela e inserindo desenhos e outros sinais gráficos. Quando a artista assume o comando da obra, dá-se início a desconstrução do que ali já estava, para que então se construam novos cenários por cima de sobreposições que acumulam dezenas de camadas até o resultado final.

 

Um peculiar cruzamento entre abstração e figuração, em jogo em sua produção, torna-se evidente no díptico “Paisagem n. 118”. Ao passo em que a pintura à esquerda revela uma paisagem dissolvida, quase líquida – portanto, mais abstrata -, à direita vemos uma composição mais fincada na figuração, com a presença de elementos como pássaros e um semáforo de trânsito. Este convívio entre registros pictóricos de naturezas distintas também está em “Paisagem n. 120”, obra em que a artista experimenta com o formato vertical, pouco usual em sua produção.

 

Já em “Jardim n. 44”, destaca-se uma outra característica da metodologia de Laguna: a tela, em formato quadrado, que é virada de ponta-cabeça diversas vezes durante sua feitura. Assim, a profusão de cores e figuras que desabrocham do centro da pintura pode assumir aparências ambíguas, ora evocando um buquê de flores, ora um galo, dependendo da direção em que é vista. Completa a exposição sua série “Desenhos”, em que Lucia cria composições sobre papel a partir dos pedaços remanescentes de fita crepe do início da produção das obras. Vestígios iniciais – e também póstumos – da engenhosa arquitetura de suas pinturas.

 

Sobre a artista

 

Lucia Laguna nasceu em Campo dos Goytacazes (RJ) em 1941. Formou-se em Letras em 1971, passando a lecionar Língua Portuguesa. Em meados dos anos 1990, começou a frequentar cursos de Pintura e História da Arte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, e realizou sua primeira individual em 1998. Ganhou em 2006 o Prêmio Marcantônio Vilaça do CNI SESI. Entre suas exposições individuais recentes, destacam-se: “Vizinhança”, MASP (São Paulo, 2018); e “Enquanto bebo a água, a água me bebe”, MAR (Rio de Janeiro, 2016). Suas principais coletivas incluem participações em: 30ª Bienal de São Paulo (2012), 32º Panorama da Arte Brasileira, MAM-SP (2011), Programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural (São Paulo, 2005 – 2006). Em abril deste ano, a artista estará na 12ª Bienal do Mercosul em Porto Alegre, RS. Sua obra está presente em importantes coleções públicas, como MASP, MAM-SP, MAM-RJ, MAR, entre outras.

 

Acontece no MAR

18/fev

O Museu de Arte do Rio, MAR, Centro, Rio de Janeiro, RJ, conquistou, – em seis anos de existência -, um lugar ímpar na programação cultural carioca.

 

O Rio dos Navegantes

 

A exposição faz uma abordagem transversal da história do Rio de Janeiro como cidade portuária, apresentando as diversas vozes dos povos que desde o século XVI passaram, aportaram e aqui viveram. A mostra apresenta cerca de 550 obras de artista como Ailton Krenak, Antonio Dias, Arjan Martins, Carybé, Floriano Romano, Guignard, Kurt Klagsbrunn, Rosana Paulino e Virginia de Medeiros. Evandro Salles é o idealizador e curador e Francisco Carlos Teixeira, o consultor histórico. Também assinam a curadoria e a pesquisa Fernanda Terra, Marcelo Campos e Pollyana Quintella.

Até março de 2020

 

Pardo é Papel

 

A individual do artista Maxwell Alexandre reafirma a vocação que o Museu de Arte do Rio conquistou em seis anos de existência: enfrentar o espelho, se reconhecer, escutar, afirmar o que interessa e prosseguir. Aos 29 anos, o jovem carioca retrata em sua obra uma poética urbana que passa pela construção de narrativas e cenas estruturadas a partir de sua vivência cotidiana pela cidade e na Rocinha, onde nasceu, trabalha e reside. Com obras no acervo do MAR, Pinacoteca de São Paulo, MASP, MAM-RJ e Perez Museu, Maxwell apresenta “Pardo é Papel” no Brasil após levar sua primeira exposição ao Museu de Arte Contemporânea de Lyon, na França.
Até maio de 2020

 

UÓHOL, de RAFAEL BQUEER

 

Interessado em questões que perpassam o corpo e as discussões de decolonialidade, gênero e sexualidade, o jovem artista transita entre linguagens como a performance, o vídeo e a fotografia. A mostra, em cartaz na Biblioteca MAR, joga com o sobrenome do ícone pop norte-americano Andy Warhol (1928-1987) e o termo “Uó” – gíria queer e popular para designar algo ou alguém irritante ou de mau gosto.
Até abril de 2020.

Encontro com Yuko Mohri

17/fev

Construída por meio de conversas e relações, a 34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto, busca se expandir no espaço e no tempo por meio de exposições e eventos em curso até setembro de 2020 – muitos em colaboração com outras instituições da cidade. Na Oficina Cultural Oswald de Andrade serão realizados encontros públicos com artistas e curadores convidados, onde será possível conhecer suas pesquisas, discursos e práticas artísticas em proximidade e diálogo.

 

Sobre a artista

 

Yuko Mohri nasceu em 980, Kanagawa, Japão. A artista produz instalações compostas por elementos mecânicos vindos de utensílios domésticos e de outros objetos cotidianos. Muitas vezes, se pauta pela filosofia japonesa do You-no-bi, ressignificando esses objetos com um olhar apurado, observando o belo no ordinário. Dentre suas individuais, destacam-se as apresentadas no Camden Arts Centre (Londres, Inglaterra, 2018); Mori Art Museum (Tóquio, 2016). Seu trabalho foi incluído em diversas exposições coletivas, dentre elas: a 5ª Bienal de Arte Contemporânea de Ural (Rússia, 2019); Centro de Arte Contemporáneo Wifredo Lam (Havana, Cuba, 2018); 14ª Bienal de Lyon (França, 2017); Kochi-Muziris Biennale 2016 (Índia, 2016); Yokohama Triennale 2014 (Kanagawa, Japão, 2014). Vive em Tóquio. A conversa com o público na Oficina Cultural Oswald de Andrade acontece na quarta, 19 de fevereiro, às 19h30.

 

Entrada gratuita / 50 vagas (participação por ordem de chegada).

 

Dupla no Pérez Art Museum

12/fev

Encontra-se em exibição até 29 de março no Pérez Art Museum Miami, Florida, USA, o vídeo de 2016 “You Are Seeing Things” (Está vendo coisas) da dupla Bárbara Wagner e Benjamin de Burca.

 

Sobre a projeção

 

Os artistas Bárbara Wagner, nascida em 1980, em Brasília; mora em Recife, PE, e Benjamin de Burca, nascido em 1975, em Munique; que também vive em Recife, concentram sua prática no “corpo popular” e suas estratégias de visibilidade e subversão entre os campos da cultura pop e da tradição. Seu vídeo de 2016 “Estás vendo coisas” (You Are Seeing Things) retrata a subcultura da música brega – uma combinação de melodias românticas fundidas com hip hop americano, techno brasileiro e reggaeton caribenho que surgiu no Nordeste do Brasil. No cenário social e profissional deste gênero, os videoclipes são o catalisador de um futuro imaginado pontuado por um poderoso apetite pelo sucesso como incentivado pelo capitalismo. Com o acesso fácil de hoje à tecnologia, o estilo brega incorporou métodos sofisticados de produção e distribuição, dando conta da visibilidade de uma sociedade de classe média que sai das favelas do Brasil.

Roteirizada e interpretada por membros reais da cena brega, a “Estás vendo coisas” segue dois personagens principais enquanto traçam seu curso desde seu cotidiano até o ambiente de palco, submergindo em um mundo onde a autorregulação e a gestão de imagens desempenham um rumo crucial do papel na construção de voz, status e identidade de toda uma nova geração de artistas populares. Diferente das abordagens que muitas vezes satirizam o tema ampliando seus aspectos carnavalescos, o filme adota um tom psicológico e mais melancólico, refletindo como os julgamentos estéticos herdados diferem entre as classes sociais nas economias em desenvolvimento.

Objetos na Kogan Amaro

A Galeria Kogan Amaro, Jardim Paulista, São Paulo, SP, exibe até 21 de março, “Arapuca”, mostra individual de objetos de Marcia Pastore com apresentação de Ricardo Resende.

 

Há coerência em sua obra dos primeiros trabalhos aos mais recentes. Marcia Pastore engendra formas escultóricas e instalativas dotadas de compreensibilidade e de autonomia próprias, como atos puros de invenção. A articidade, por sua vez, está na escolha dos materiais e articulações desses no espaço que lhe é dado. Trabalha com a fisicidade dos materiais, dos mecanismos, das forças energéticas, do peso, do equilíbrio, do obstáculo e das linhas visíveis e invisíveis resultantes dessas forças. O vazio do campo é preenchido por essas linhas e energias que cria, fazendo reviver a experiência do fruidor nas suas arapucas espaciais. É assim que executa a obra.

 

Essa execução é um tentar, um proceder e um planejar mental. É sua forma peculiar de pensar e fazer arte. Não esboça sobre uma folha de papel a ideia física. Essa fica no plano mental e é executada em tempo real no espaço. Pode dar certo como pode não dar. A artista vai para o campo com suas ideias e para executá-las debruça-se sobre os materiais e as articula, cria engrenagens, tensões e distensões espaciais.

 

É um corpo a corpo que pode tornar-se um embate exaustivo, tamanha a fisicalidade, movimentos espaciais, peso dessas articulações e esforço físico desprendido nas ações. Os trabalhos tornam-se pacientes interrogações da matéria, é o que deixa entrever.

 

Pedras, pó de gesso, gesso endurecido, cabos, roldanas, materiais inusitados como a rede de pescar. Física, energia, linhas, formas e desformas, água, vidro, cabos, anzóis, grafite, metais, pesos de halterofilistas, e assim por diante, em uma diversidade calculada dos materiais, elementos e forças que formam sua obra. Forças que desenham, claramente, o espaço. De alguma maneira, tenta evitar as evidências dos corpos.

 

Forças concêntricas, pendulares, de tensão e de equilíbrio ao buscar a estabilidade no vazio a ser preenchido por essas linhas de força. É sua forma de construção ao inventar desenhos espaciais que criam centros, perspectivas e preenchem todo o espaço expositivo.

 

As esculturas, se é que poderíamos chamar de esculturas pensando nos cânones dessa linguagem, na sua apresentação clássica e moderna, monolíticas, simulam forças sobre si mesmas. Pode ser uma roldana, um pêndulo com uma pedra cortada toscamente. Uma pedra cavada da parede, uma rede de pesca prendida nas paredes da sala e esticada ao ponto de criar um desenho aéreo delicado nessa tensão exercida sobre a matéria esbranquiçada e translúcida. Um processo formativo da escultura de aproximações e retornos, de puxar e distender, de cruzar e tensionar até virarem armadilhas concretas e abstraídas de sentido, obrigando quem as observa a desviar da natureza dessas coisas no ambiente real, criado pela artista.

 

Não é escultura como monólito esculpido…Também não pensa a escultura como uma pintura, representando um corpo (humano, animal ou vegetal). São esculturas de superfícies, de movimento, de articulações, das engrenagens dos mecanismos, de organicidade controlada e das relações de corpos no espaço arquitetônico.
Equilíbrio e estabilização no espaço atravessados por linhas motrizes. O vazio do espaço da sala expositiva ou o espaço arquitetônico são preenchidos por essas forças concêntricas, pendulares e gravitacionais que formam linhas que desenham no espaço. Traços visíveis e traços invisíveis da relação entre os corpos e linhas que descrevem e preenchem pacientemente o espaço.

 

O vídeo da ação, as fotos still do vídeo são como imagens das ações gravadas no tempo. Gravuras que carimbam o espaço aéreo e a camada de gesso acumulada no chão. A cena montada vira paisagem cósmica no vídeo-ação. Imagens congeladas transformam–se em uma quase figuração de galáxia no simples gesto de jogar bolas coloridas e espirrar o pó branco do gesso. Traz cor para a exposição e deixa a obra aberta para a incorporação do outro.

 

Os trabalhos são interrogações dos materiais e suas forças que evitam a figuração. Apenas índices abstratos da fisicalidade e do real e do irreal. Não há interpretação definitiva e exclusiva, não há também interpretação provisória e aproximativa. Não há narrativas.

 

É a pessoa que observa quem faz o acesso à obra, revelando a sua natureza e exprimindo a si mesma. Torna-se ao mesmo tempo, diríamos, a obra e o seu modo de ver a obra (Umberto Eco), nas articulações e desarticulações dos objetos e das linhas no espaço da exposição. A obra mostra-se como modo de pensar.________________________________________

 

Ricardo Resende
Diretor Artístico

“Portal” de Alexandre da Cunha

10/fev

A Galeria Luisa Strina, Cerqueira Cesar, São Paulo, SP, exibe sua exposição inaugural de 2020, “Portal”, mostra solo de Alexandre da Cunha, a sexta do artista na galeria. Ocupando as duas salas expositivas, pode-se dizer que Da Cunha apresenta duas individuais simultâneas, separadas e distintas. Na sala principal, o artista mostra esculturas baseadas na estrutura de biombos: divisórias feitas de materiais e objetos diferentes, como um pára-quedas, esfregões ou bandejas de alumínio.
Já na sala 2, Alexandre expõe duas séries de desenhos que, datadas de 1987 e 1998, pressagiam vários dos temas e inquietações de toda a sua produção posterior. A maioria das obras estruturadas como biombos é inédita. Existe apenas uma peça dessa nova família de trabalhos que já foi mostrada, em 2017, na exposição do artista no Pivô. “Era uma espécie de porta que na verdade surgiu da apropriação do trabalho manual do cotidiano da indústria do ferro; são placas originalmente utilizadas para recortar pequenos perfis para fazer reparos que, depois de ficarem esburacadas, são descartadas. O que eu fiz foi interromper no meio do processo de cortes uma das chapas que me interessou formalmente, pelos desenhos involuntários gerados pela ação dos operários da indústria”, conta Da Cunha. Essa espécie de estética involuntária, ou expressividade encontrada, é um dos principais leitmotivs da obra do artista, e está presente também nas esculturas feitas de betoneiras, cujas marcas de amassado não foram feitas pelo artista, mas sim vistas por ele como expressão material de interesse. Na obra exposta no Pivô, intitulada Portal, outro leitmotiv de Alexandre se evidencia: a apropriação da estética da escultura modernista feita em metal, como em Anthony Caro, William Tucker ou Phillip King. Com este último, Alexandre realizou uma exposição em 2018 (Duologue, The Royal Society of Sculptors, Londres). Na exposição “Portal”, Alexandre da Cunha apresenta todo o conjunto de obras alinhado, algumas peças presas perpendicularmente às paredes e, outras, autossustentadas sobre o chão, sem diagonais: uma coisa depois da outra. Apesar de terem partido da estrutura de biombo, cada obra possibilita observar através dela, abarcando o conjunto de maneiras diversas, conforme se caminha pelo espaço. “Muita gente fala sobre a criação de um ambiente nas minhas exposições, o que na realidade não é algo que procuro, pois penso cada obra como um elemento autônomo; eu faço esculturas, não faço instalações”, afirma. Outra característica desta nova série é que a ideia das bordas, das divisões, das fronteiras, já trabalhada de outras maneiras pelo artista, ressurge aqui de forma especial, por causa da inversão proposta por Da Cunha: em lugar de criar uma série que é reconhecível pela escolha dos materiais utilizados, prática mais recorrente em sua obra, na exposição apenas a estrutura se repete, enquanto os materiais e objetos utilizados em sua confecção mudam de uma peça para a outra. “Decidi experimentar essa fricção de um material “contra” o outro. Trata-se de um conjunto Página 1 / 3 definido apenas pela tipologia da peça. São esculturas que dividem o espaço.” Uma vez instaladas no espaço da galeria, as novas esculturas estabelecem um diálogo potente com a arquitetura. As duas peças que o artista concebeu a partir de bandejas de alumínio evocam a arquitetura modernista adaptada às necessidades do clima nos trópicos. No final dos anos 1940, o arquiteto francês Jean Prouvé projetou uma casa modular que seria de fácil reprodução, com o objetivo de sanar a falta de moradia nas colônias francesas na África; dois protótipos de sua Maison Tropicale foram construídos, um na Nigéria e outro no Congo, mas a utopia do design de impacto social não foi produzida em larga escala. A ideia do objeto pré-fabricado que se transmuta em obra de arte, entretanto, respira nessas divisórias prateadas de Da Cunha: leves e ventiladas, elas são constituídas de padronagens pré-fabricadas e invertidas (da horizontal para a vertical, da mesa ou do forno para um agrupamento empilhado e elegante dentro de um cubo branco), sua função social (prato-feito, cozinha industrial) escamoteada para que os materiais se sustentem na vertical como presença escultórica. Sobre os desenhos, Alexandre explica que teve uma surpresa ao revisitar esses dois grupos de trabalhos, um que enfatiza a linha do desenho, deliberadamente figurativo e narrativo, o outro constituído de volumes desenhados, algo que se poderia considerar mais próximo da pesquisa pela qual ficou mais conhecido. O que lhe interessou compartilhar desta (re) descoberta foi a presença de temas e de gestos naqueles desenhos que seguem protagonizando a sua obra, como o erotismo, por exemplo.

 

Sobre o artista

 

“Meu processo de trabalho é baseado na observação de objetos. Eu sempre fiquei intrigado com a enorme quantidade de coisas que precisamos para viver e os papéis dos objetos ao nosso redor. Estou interessado nos processos de design, fabricação e distribuição deles entre nós. Grande parte do meu trabalho consiste em me forçar a aprender sobre as estruturas dos objetos comuns e as narrativas por trás deles, seus usos culturais e suas implicações na sociedade. O método de transformação ou brincadeira com sua aparência geralmente ocorre por meio de alterações muito sutis; Acredito que esse processo tenha mais a ver com o tempo do que com a intervenção física. Trata-se de criar uma plataforma e permitir que o espectador veja algo familiar de um ponto de vista privilegiado.” (Alexandre da Cunha, em entrevista à Jochen Volz para Mousse, 2017) Exposições individuais recentes incluem: Thomas Dane, Nápoles (programada, 2020); Duologue – colaboração com Phillip King, The Royal Society of Sculptors, Londres (2018); Boom, Pivô, São Paulo (2017); Mornings, Office Baroque, Bruxelas (2017); Free Fall, Thomas Dane Gallery, Londres (2016); Amazons, CRG Gallery, Nova York (2015); Real, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2015). Entre os trabalhos de intervenção urbana, destacam-se as obras comissionadas pelo Art on the Underground para a estação de metrô Battersea, Northern Line Extension, Londres (2021); para a Berkley Square, Londres (programada, 2020); por Samuels & Associates, Pierce Boston Collection, Boston (2017); pelo MCA Chicago, parte do Plaza Project (2015), e pelo Rochaverá Corporate Towers, São Paulo (2015). Exposições coletivas incluem: Mostra de inauguração do museu The Box, Plymouth, Inglaterra (programada, 2020); Contemporary Sculpture Fulmer, Buckinghamshire village of Fulmer, UK (2019); Abstracción Textil, Galería Casas Riegner, Bogotá (2018); Everyday Poetics, Seattle Art Página 2 / 3 Museum, Seattle (2017); Histórias da Sexualidade, MASP, São Paulo (2017); Soft Power, The Institute of Contemporary Art, Boston (2016); Brazil, Beleza?! Contemporary Brazilian Sculpture, Museum Beelden aan Zee, Haia (2016); British Art Show 8, Leeds Art Gallery, Leeds (2015); Cruzamentos Contemporary Art in Brazil, Wexner Center for the Arts, Columbus (2014); When Attitudes Became Form Become Attitudes, Museum of Contemporary Art Detroit (2013); Decorum: Tapis et tapisseres d’artistes, Musée d’art Moderne de la Ville de Paris (2013); 30ª Bienal de São Paulo (2012). Possui trabalhos nas coleções Tate Modern, Inglaterra; Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, Brasil; Instituto Inhotim, Brumadinho, Brasil; CIFO Coleção Cisneros, Miami, EUA; Coleção Zabludowicz, Inglaterra; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil; FAMA, Itu, Brasil.

 

Milanesa na Anita Schwartz

Será aberta no dia 12 de fevereiro, às 19h, no segundo andar da galeria Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, a exposição “Milanesa”, composta de seis pinturas de Felipe Barsuglia, artista nascido em 1989, Rio de Janeiro, RJ. Felipe Barsuglia é um jovem artista conhecido por transitar por várias mídias. O texto que acompanhará a mostra é de Germano Dushá. A mostra integra o “Projeto Verão#1”, que segue até o dia 14 de março de 2020, com entrada gratuita, e uma programação intensa: performances diversas, com música, poesia, acrobacia, instalações sonoras, exposições-cápsulas, cinema, aula de modelo vivo e bar temático. A exposição permanecerá em exibição até 14 de março.

Cine Desejo

O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Praça Tiradentes, Cenro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no próximo dia 15 de fevereiro, às 12h, a exposição “Cine Desejo”, com obras da artista Caroline Valansi que investigam o universo iconográfico da indústria do cinema pornô e a relação do corpo feminino com o sexo. Com curadoria de Pollyana Quintella, a mostra ocupará todo o andar térreo da instituição. Dentre as obras inéditas, estão algumas sendo criadas pela artista especialmente para a exposição. Alguns trabalhos emblemáticos desta pesquisa iniciada em 2015 também serão mostrados. Em exibição até o dia 28 de março.

 

“Cine Desejo” é uma antologia do interesse de Caroline Valansi sobre os cinemas de rua que passaram a exibir filmes pornôs. A subjetividade construída pelas imagens do cinema, que moldaram a imaginação sexual de várias gerações, e ainda o desdobramento desse universo do ponto de vista feminino, integram também sua investigação. As obras reunidas são intervenções da artista em cartazes históricos, cartografias, fotografias, letreiros, LEDs, colagens e serigrafias. “Cine Desejo” também discute o cinema como espaço de subversão, onde o “escurinho” é situação propícia para “namoricos e intimidades não autorizadas”. Com humor e ironia, a artista constrói espécies de contraimagens para o olhar masculino, também buscando “desierarquizar” o desejo a partir de uma perspectiva feminina e pós-pornô, onde as fronteiras estão esgarçadas.

 

Sobre a artista

 

Caroline Valansi nasceu em 1979 no Rio de Janeiro, RJ, é artista visual, professora e também trabalha com saúde mental na Casa Jangada. Graduada em Cinema na Universidade Estácio de Sá, com pós-graduação em Artes e Filosofia pela PUC-Rio. Completou seus estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e Ateliê da Imagem. Sua produção artística transita entre a palavra, o espaço e a ficção. Suas obras sempre foram enraizadas em seu forte interesse em traços coletivos e histórias íntimas. Caroline utiliza materiais familiares em sua pesquisa: fotos de salas de cinemas, velhos filmes pornográficos, imagens encontradas da internet e suas próprias fotografias e desenhos e, juntos, somam uma ampla exploração de representações da sexualidade feminina contemporânea.

 

Entre suas exposições individuais se destacam: “Corpo Cinético” (CCSP – Centro Cultural São Paulo, SP, 2019), “Carne Viva” (Espaço Subsolo, Campinas, SP 2019) e Memórias Inventadas em Costuras Simples (CCJE – Centro Cultural Justiça Eleitoral, RJ, 2009). Participou de exposições coletivas no Brasil, Cuba, Portugal, França, Colômbia e Argentina. Tem duas publicações lançadas: Sempre um bom Filme e o álbum de figurinhas Boa Para ambos de 2015. Organizou os eventos {|}XANADONA{|} (2016, A Galeria Gentil Carioca) e Feminismo e Feijoada (2015, CAPACETE). Faz parte da Cooperativa de Mulheres Artistas e participou do coletivo OPAVIVARÁ! de 2007 a 2014. Caroline Valansi tem obras em importantes coleções públicas e privadas, como a Biblioteca do Instituto Moreira Salles, em São Paulo; Gilberto Chateaubriand / MAM Rio, Museu de Arte do Rio (MAR), Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro; Museu Nacional de Brasília; Bienal de La Havana; Hillel Brasil, no Rio de Janeiro; Mr. and Mrs. Richard Sandor, Chicago, EUA; e Mr. and. Mrs. Simon Biddle, Londres.

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