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AGENDA CULTURAL

Exposição de Fernando Vilela

22/nov

Nova série de trabalhos em pinturas e desenhos de Fernando Vilela será o próximo cartaz da Biblioteca Mario de Andrade, República, São Paulo, SP. A exibição recebeu o curioso título de “Enquanto isso”.

 

 

 

A palavra de Rodrigo Villela – Curador e Gestor Cultural

 

Os desenhos e pinturas de Fernando Vilela apresentam narrativas que se acumulam, se sobrepõem e gritam. Permeados de acontecimentos e memórias, os fragmentos embaralhados de histórias cotidianas, atravessados pela violência, trazem a síntese de um pensamento gráfico, no qual a cidade, o convívio, a agressividade e a crueza da vida se dão em desenhos (à carvão, nanquim e óleo – Enquanto isso), em instalação (Coleção 1968-1973) e em objetos (Arsenal). Com densidade, antagonismos e complementos explícitos – como guerra e paz, silêncio e explosão – esses trabalhos dão forma a complexos mundos internos, do prosaico ao sublime. As perguntas de Vilela se movem em direções variadas, repletas de indignação. A assertividade livre no uso das linguagens faz com que cada assunto se desdobre para além dos suportes utilizados. O imaginário do artista, forjado na belicosidade da ditadura, encontra ecos no mundo do pré-guerra com as touradas de Lorca ou as urgentes questões do mundo contemporâneo – dos conflitos, passando por Alepo, Síria ou Turquia – no entanto, nenhum desses fatores históricos contextualizam seu trabalho. Eles representam, na verdade, um chamamento de fúria e de desejo – de atenção e de movimento em direção ao desconhecido.

 

 

Sobre o artista

 

Fernando Vilela nasceu em 1973, em São Paulo, Brasil. Vive e trabalha em São Paulo. Artista, autor e ilustrador de livros. Utiliza diversas linguagens, como gravura, desenho, colagem, escultura, instalação e fotografia. Realizou exposições na Pinacoteca do Estado de São Paulo, Centro Cultural São Paulo, e foi contemplado pelo Prêmio Funarte de Arte Contemporânea. No exterior, expôs na Bélgica, França, Espanha, Portugal, Estados Unidos e México. Possui obras nas coleções do MoMA, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo e na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Como autor e ilustrador, já publicou em oito países. Por seus livros ilustrados recebeu cinco prêmios Jabuti e a Menção Honrosa Novos Horizontes do Prêmio Internacional Bologna Ragazzi Award.

 

 

De 27 de novembro a 24 de fevereiro de 2019.

Hiper-realismo no CCBB/SP

21/nov

Trabalhos ligados ao hiper-realismo são o ponto de partida da nova exposição no CCBB, São Paulo, SP, “50 Anos de Realismo – Do Fotorrealismo à Realidade Virtual”. O público encontrará em exibição cerca de 90 obras, entre pinturas, esculturas, vídeos e instalações interativas, feitas por 30 artistas de vários lugares do mundo. Um dos destaques é o trabalho hiper-realista de Giovani Caramello. Tereza de Arruda responde pela curadoria. Há obras de que participaram da Documenta de Kassel em 1972, pioneira em dar visibilidade a essa tendência no campo internacional.

 

Um dos destaques é o inglês John Salt, que mudando-se para os Estados Unidos na década de 1960, passou a registrar em suas pinturas as paisagens suburbanas ou parcialmente rurais do país, como carros abandonados e trailers dilapidados. Neste setor também estão as obras a óleo e aquarelas do norte-americano Ralph Goings (1928 – 2016), que retratam caminhonetes, restaurantes populares e naturezas-mortas de produtos triviais, como embalagens de ketchup e mostarda.

 

No 2º e no 3º andares, os trabalhos foram divididos em quatro temas: paisagem e paisagem urbana, retrato e natureza-morta, onde encontram-se pinturas em grandes dimensões baseadas em espaços arquitetônicos e urbanos do britânico Ben Johnson, as paisagens naturais da inglesa Raphaella Spence e as representações geométricas inspiradas em fachadas de prédios modernistas do brasileiro Hildebrando de Castro.

 

Neste espaço há também obras tridimensionais de escultores do hiper-realismo que mostram representações do corpo humano. Além do trabalho de Caramello, – único brasileiro na exposição dedicado a este estilo -, há esculturas do dinamarquês Peter Land.

 

No 1º andar e no subsolo estão as artes que exploram a realidade virtual. Neste setor, destacam-se o japonês Akihiko Taniguchi, que desenvolve modelos detalhados em 3-D de espaços do cotidiano e os insere na realidade virtual de sua obra; e a brasileira Regina Silveira, que explora mídias distintas em uma mesma obra, sendo precursora em trabalhos com vídeo, fotografia, colagem, xerox e postais. Na exposição, apresenta uma animação digital.

 

Desde a abertura, o CCBB São Paulo já realizou um bate-papo gratuito sobre realismo na contemporaneidade aberto ao público. Participaram Tereza de Arruda (curadora), Bianca Kennedy, Fiona Valentine Thomann, Hildebrando de Castro, Rafael Carneiro, Regina Silveira, Ricardo Cinalli, The Swan Collective (artistas) e Maggie Bollaert (consultora).

 

Até 14 de janeiro de 2019.

Rubem Valentim no MASP

A exposição “Rubem Valentim : Construções afro-atlânticas” reúne no MASP 90 obras do pintor, escultor e gravador Rubem Valentim (Salvador, 1922 – São Paulo, 1991), figura fundamental da arte brasileira e das histórias afro-atlânticas no século 20.
A partir dos anos 1950, Valentim se apropria da linguagem da abstração geométrica para construir complexas composições que redesenham e reconfiguram símbolos, emblemas e referências afro-atlânticos. Nesse processo, ele transforma linguagens artísticas de origem europeia que dominaram boa parte da produção de arte no Brasil e no mundo, nos anos 1950 e 1960 (a abstração geométrica, o construtivismo, o concretismo), submetendo-as a referências africanas, sobretudo através dos desenhos e diagramas que representam os orixás das religiões afro-brasileiras – como o machado duplo de Xangô, a flecha de Oxóssi e as hastes de Ossaim.

 

Apesar de sua importância, Valentim ainda não obteve o devido reconhecimento, e essa exposição e o catálogo que a acompanha buscam reposicionar o artista na história da arte brasileira e internacional. O enfoque busca uma abordagem mais ampla de sua obra, sublinhando seus aspectos políticos, religiosos e sobretudo afro-brasileiros, para além das abstrações, construtivismos e geometrias.

 

O período coberto pela mostra vai desde 1955, quando, ainda em Salvador, Valentim assumiu decididamente suas referências do candomblé e da cultura afro-brasileira, até 1978, quando se encerra seu período mais fértil. A exposição atravessa cronologicamente as diferentes fases e locais onde o artista trabalhou: Bahia (1949-1956), Rio de Janeiro (1957-1963), Roma (1964-1966) e Brasília (1967-1978). O conjunto inclui agrupamentos  fundamentais, como a série Emblemas logotipos poéticos da cultura afro-brasileira, exposta na Bienal Nacional de São Paulo de 1976, e os Relevos emblemas de 1977-1978.

 

Em seu Manifesto Antropofágico, de 1928, um texto primordial do modernismo brasileiro, Oswald de Andrade (1890-1954) propunha de forma poética um verdadeiro programa para o intelectual e o artista nativo: o de deglutir o legado cultural europeu para digeri-lo e construir, de maneira antropofágica, uma obra própria, híbrida, brasileira, mesclando referências indígenas, africanas e europeias. Valentim é um dos artistas que, de maneira mais completa e ambiciosa, levou a cabo o projeto antropofágico. Nesse processo, ele realizou uma das mais radicais operações na história da arte brasileira, submetendo um idioma europeu a uma linguagem afro-brasileira, numa contribuição efetivamente singular e potente, descolonizadora e antropofágica.

 

O catálogo “Rubem Valentim: Construções afro-atlânticas”, com organização editorial de Adriano Pedrosa e Fernando Oliva, com edições separadas em português e inglês, inclui reproduções de 99 trabalhos do artista; textos de autores convidados a produzir novas reflexões sobre a obra de Valentim, caso de Abigail Lapin Dardashti, Adriano Pedrosa, Artur Santoro, Fernando Oliva, Lilia Schwarcz e Helio Menezes, Lisette Lagnado, Marcelo Mendes Chaves, Marta Mestre, Renata Bittencourt e Roberto Conduru; e republicações de textos históricos, de Clarival do Prado Valadares, Frederico Morais, Giulio Carlo Argan, José Guilherme Merquior, Mário Pedrosa, Roberto Pontual e Bené Fonteles. A publicação traz ainda reproduções inéditas dos cadernos de Rubem Valentim da década de 1960, material raro que virá a público pela primeira vez, trazendo croquis, projetos para obras, anotações e pensamentos do artista.
A curadoria é de Fernando Oliva, curador do MASP.

 

 

 

Até 10 de março de 2019.

Anita Schwartz exibe duas artistas 

A Anita Schwartz Galeria, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta as exposições “Entre Águas”, de Maritza Caneca, e “Revoada”, de Claudia Melli, ocupando o térreo e o segundo andar da galeria. Maritza Caneca dá continuidade à pesquisa com piscinas, tema que permeia sua trajetória artística desde 2012. Já em Revoada”, Claudia Melli apresenta um conjunto de desenhos realizados entre 2017 e 2018, numa alusão ao movimento da vida e a passagem do tempo.

 

Em sua segunda individual no Rio de Janeiro, a fotógrafa Maritza Caneca expõe o resultado de suas andanças por Budapeste em julho de 2018, onde visitou 56 piscinas em cinco dias. Com 9 imagens inéditas, de 100 X 150cm e ampliadas em papel algodão, a seleção traz o registro das termas Rudas, Szechenyi, Gellert, Kiraly, Lukacs, Palatinus e Römai e inclui, ainda, a foto da instalação “Swimming Pool” (2016), de Leandro Erlich, que fica no Museum Voorlinden, em Wassenaar, na Holanda. Além das 9 imagens inéditas fará parte da exposição a obra “Swimming Pool”, 2018, que foi apresentada na ArtRio, e três obras em formato redondo em metacrilato, fineart, em tamanhos variados. A mostra terá um texto de apresentação assinado por Vanda Klabin. “Este ainda é o trabalho das piscinas, mas em evolução. Quando chego em uma piscina é sempre uma surpresa. Por isso escolhi Budapeste, com suas termas de origem árabe, turca, romana. É um universo vasto de diferentes formas”, comenta Maritza.

 

Tendo como referência a obra de David Hockney e James Turell, o olhar da artista, que começou a carreira nos sets de cinema, está refletido na geometria dos elementos com que trabalha. “Busco a simetria nas imagens, mas não tenho compromisso com o local. A ideia ao registrar este ambiente é que ele se torne atemporal, único”, explica. Maritza Caneca completa a mostra com um vídeo em looping e duas esculturas de cubo em azulejo, cada uma com seis placas de 14 x 14cm, fruto da temporada em Lisboa no início de 2018. “Desde o início busco diferentes maneiras de registrar esta experiência. Em 2017 fiz o primeiro trabalho com azulejos, com a instalação de um grande painel com fotos da piscina do Copacabana Palace. Quando estive em Portugal, tive a oportunidade de aprimorar a técnica com azulejo queimado e produzir as placas com diferentes desenhos em cima das fotos de Budapeste”, completa.

 

Paulista radicada no Rio de Janeiro, após três anos sem expor na cidade, Claudia Melli faz sua primeira individual na Anita Schwartz Galeria. “Revoada” é um conjunto de 80 desenhos em nanquim sobre placas de vidro, com dimensões variadas, realizados entre 2017 e 2018. No contêiner, no terraço da galeria, Claudia Melli complementará a exposição com o vídeo “Imagens da Lua” (2007, 14’8”), da Sonda Espacial Kaguya do Japão, com imagens de diferentes momentos da lua ao longo de sua rotação. A mostra aborda um tema recorrente no trabalho da artista, antes representado pelos mares, árvores e vento: a passagem do tempo. Inspirada pela Andorinha do Mar do Ártico (Sterna Paradisaea), espécie que entre as aves realiza extensas migrações, alcançando ao final do ciclo uma distância equivalente a uma volta completa ao redor da Terra, a artista se apropria do voo das aves em uma mesma direção para representar os ciclos naturais da vida. “Assim como a migração de certos animais, a passagem das estações, o movimento das marés, o dia e a noite, a nossa respiração. Sendo a Terra um sistema fechado, o nosso ar, água, vida, alimento e tudo mais, não vem de outro lugar senão do eterno e sistemático movimento que acontece em nosso planeta através dos ciclos da natureza, mantendo o fluxo da vida contínuo fazendo com que estejamos todos conectados. Não se trata de uma visão ecológica, mas da minha perplexidade diante de tamanha perfeição e beleza”, comenta.

 

 

 

Sobre Maritza Caneca

 

Há cinco anos, Maritza Caneca se dedica a fotografar piscinas pelos quatro cantos do mundo. Já esteve em Israel, Suíça, Cuba e clicou o espelho d´água mais antigo de Lisboa. Seus trabalhos são conhecidos no circuito da arte internacional, em exposições coletivas na Arte Cartagena, Art Copenhagen, Scope Miami Beach, Scope Basel Suíça e Scope Nova York. Recentemente, a artista foi selecionada para uma residência artística no disputado BakehouseArtComplex, em Miami, onde tem um estúdio ao lado de mais de 50 artistas. Seu percurso artístico começa nos anos 1980 como fotógrafa de still em filmagens cinematográficas. Desde então, assinou importantes projetos no cinema e na TV, entre eles “A luz do Tom” (2013), de Nelson Pereira dos Santos; “Carlos Burle Gigantes por Natureza” (2012), de Felipe Jofily; e “Viver com Fé, em Jerusalem”, com Cissa Guimarães, para o GNT. Suas fotos podem ser vistas no Rio de Janeiro, São Paulo, Los Angeles, Barcelona, Genebra e Londres. Entre as individuais estão as exposições “Water Diaries”, na Clima Art Gallery (2018), e “Pool Series”, na Bossa Gallery (2016), ambas em Miami.

 

 

 

Sobre Claudia Melli

 

Expondo desde 2007, Claudia Melli atua na fronteira entre o desenho e fotografia, sempre indagando sobre a natureza dos mecanismos de percepção. Participou de algumas coletivas como o projeto de interferência no Museu da República, no Rio de Janeiro em 2007, “3 atos 3 artistas” na Galeria Eduardo Fernandes, em São Paulo (2009) e “Monumental”, na Marina da Glória (Rio de Janeiro, 2018). Entre as individuais estão a mostra “ONDE”, galeria Durex, Rio de Janeiro em 2008, “Série Azul” na Fundação Walter Wulltrich – Projeto Brasiléia (Basel, Suíça – 2014) e “Lugares onde nunca estive”, no MAM Rio (2015).

 

 

 

De 22 de novembro a 12 de janeiro de 2019.

Ai Weiwei no Brasil

12/nov

Agora, as obras de Ai Weiwei – que passaram por exposições na Argentina e no Chile – encontram-se no Brasil. Com curadoria de Marcelo Dantas, “Ai Weiwei Raiz” está em exibição na Oca, Parque Ibirapuera, em São Paulo. A mostra é a primeira individual do artista no Brasil, e uma das maiores realizadas por ele, com quase 8 mil metros quadrados de extensão e cerca de setenta obras.

 

Em 2011, quando o curador Marcello Dantas teve a ideia de fazer uma grande retrospectiva do artista e ativista Ai Weiwei no Brasil, ele não imaginava que demoraria cerca de oito anos para concluir o projeto. A demora é justificada: nesse meio tempo, Weiwei, conhecido por suas críticas ao regime da China, foi preso e impossibilitado de sair de seu país de origem. Quando ele sinalizou que teria o passaporte de volta, Dantas foi à Pequim e posteriormente à Berlim – onde o artista se estabeleceu – para retomar as negociações do que seria a maior individual já realizada do artista chinês.

 

Além de trabalhos icônicos, a exposição reúne peças recentemente confeccionadas, muitas delas em ateliês brasileiros. “Nos dois casos, é importante destacarmos o processo de inoculação pelo qual essas obras passaram. Chamamos essa ideia de ‘mutuofagia’. Esse conceito, que permeia a mostra como um todo, é representativo de um intercâmbio cultural extremo pelo qual Ai Weiwei e o Brasil passaram, em que o artista incorporou-se ao país, ao mesmo tempo que o país incorporou-se ao artista e à exposição, por meio de elementos culturais e processos produtivos.

 

O artista exibe peças da obra “Sunflower Seeds” (Sementes de girassol),  uma das obras mais conhecidas, trabalho composto por milhões de sementes de girassol feitas em porcelana e pintadas à mão por artesãos chineses; “Straight” (Reto), instalação feita com 164 toneladas de vergalhões de aço recuperados dos escombros de escolas em Sichuan (China), após o forte terremoto que abalou o país em 2008; e “Forever Bicycles” (Bicicletas Forever), obra de caráter arquitetônico que utiliza bicicletas como blocos de construção. O nome da instalação é inspirado na famosa marca chinesa de bicicletas Forever, popular na infância do artista.

 

Já entre as peças produzidas no país, destaca-se “F.O.D.A”, múltiplo formado pelos moldes em porcelana de quatro elementos encontrados no Brasil: Fruta do Conde, Ostra, Dendê e Abacaxi. As peças foram todas produzidas em um galpão em São Caetano do Sul, SP, com a consultoria de designers brasileiros. A mostra apresenta ainda uma série de trabalhos feitos com centenárias raízes de pequi-vinagreiro, espécie da Mata Atlântica em risco de extinção. Esses resíduos foram descobertos no meio da floresta, selecionados e trabalhados pelo artista ao lado de carpinteiros chineses e brasileiros.

 

Engana-se quem acha que o título da exposição vem exclusivamente daí: “É um pouco mais profundo que isso. Nesta retrospectiva, tivemos o trabalho de buscar raízes culturais perdidas por Weiwei. A revolução cultural chinesa taxou de burguesa certas técnicas como a porcelana, e muitas delas foram desaprendidas. Recuperar isso está muito presente no trabalho do artista, por exemplo, em peças como “Sunflower Seeds”. Além disso, o nome tem um trocadilho com a palavra raiz, já que as vogais presentes nela são “ai”, o sobrenome de Weiwei,” revela o curador Marcelo Dantas.

 

Conhecido por tratar de importantes questões sociais e humanas, como liberdade de expressão e crise de refugiados, o artista tem um modo de produzir peculiar. O curador destaca que este esquema de pensamento é um ponto essencial para se entender a reflexão em torno da mostra. “O que está em jogo aqui é o processo mental de Weiwei. Quando ele recupera fragmentos de ferro, como na obra “Straight”, ou raízes de uma árvore para compor uma obra, vemos um jeito de trabalhar muito peculiar. O mesmo acontece com “Sunflowers Seeds” e “F.O.D.A” – nas quais o artista movimenta toda uma comunidade no processo de produção das peças. Como o tema dele é a vida, não temos como fazer uma exposição com um único mote. Por isso, demos prioridade a conectar e refletir sobre o jeito que ele pensa, sua obra enquanto método.”

 

 

Até 20 de janeiro.

Thereza Miranda, no MNBA

“Instantes Múltiplos”, é o título da exposição de 67 das premiadas gravuras de Thereza Miranda, incorporadas ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, Cinelândia, Rio de Janeiro, RJ, através do Prêmio Marcantonio Vilaça de Artes Plásticas FUNARTE/MinC. A mostra também celebra os 90 anos da artista, possuidora de uma trajetória ímpar e que a situa entre as mais importantes gravadoras brasileiras.

 

Em sua proposta conceitual, a exposição “Instantes Múltiplos”, com curadoria da técnica do MNBA Laura Abreu, é dividida em núcleos temáticos que proporcionam a visão tanto da apresentação de gravuras feitas em metal, do início da carreira da artista, como as das séries “Germinação”, “Nova Germinação” e “Germinação Vida”, obras das décadas de 1960 e início de 1970 e das fotogravuras, técnica que une a fotografia às técnicas da gravura e que foi muito difundida pela artista no Brasil, datadas de meados da década de 1970 àquelas do início dos anos 2000.

 

As fotogravuras têm como temas os diferentes lugares e países que Thereza Miranda conheceu. Viajante, através de uma câmara fotográfica e de seu olhar sensível, a artista registrou a paisagem urbana, a natureza, detalhes arquitetônicos como telhados, janelas, portas, ruas, etc.

 

Como professora, Thereza Miranda, que dá aulas de gravura e ilustração na PUC-RJ desde 1974,  tem generosamente compartilhado seu conhecimento, contribuindo para a difusão da gravura e sua valorização como meio de expressão artística. Seus primeiros passos na gravura aconteceram no MAM-RJ, em 1963, e daí  em diante impulsionou sua carreira participando de diversas bienais de gravura, no Brasil e no exterior, como no Chile, Inglaterra e Polônia. Em 2008, comemorou com uma grande retrospectiva seus 45 anos de carreira, no MAM-RJ.

 

 

Até 16 de dezembro.

Três mestres gravadores

A mostra “Três gravuristas e o exílio no Brasil: Fayga Ostrower, Axl Leskoschek, Lasar Segall” apresenta 32 obras originais dos três mestres da gravura que chegaram ao Brasil no século 20, fugindo do nazismo na Europa e aqui se estabeleceram, influenciando várias gerações de artistas no país. O propósito é lançar o foco sobre como a vivência de partida, migração e exílio marcaram o estilo dos artistas, e como eles, por sua vez, trouxeram novas técnicas, novos olhares e novas formas de pensar a arte e o processo de criação.

 

O judeu ucraniano Lasar Segall (1891-1957) chegou ao Brasil já na década de 1920. Voltou para a Europa, mas regressou em definitivo para São Paulo com o recrudescimento das manifestações antissemitas de extrema direita. Em suas gravuras, o autor do famoso “Navio de Emigrantes” evoca temas judaicos e a sua aldeia nativa, além do cotidiano do país que o acolheu.

 

Polonesa de origem, Fayga Ostrower (1920-2001) viveu com a família na Alemanha até a fuga noturna atravessando florestas para a Bélgica e, de lá, para o Brasil, em 1934. Dedicou-se durante meio século à arte e passou do figurativo ao abstrato em suas gravuras. Além do seu legado artístico, foi uma pensadora que refletiu sobre arte e estética em diversos livros.

 

O austríaco Axl Leskoschek (1889-1975), de orientação política de esquerda, precisou sair da Áustria quando se filiou ao partido comunista. No Brasil, foi professor na Fundação Getúlio Vargas e teve um ateliê famoso na Glória. Formou uma geração de expoentes da gravura, como a própria Fayga Ostrower. O visitante poderá ver o seu delicado livro “Miniaturas brasileiras”, com cenas do cotidiano.

 

A exposição “Três gravuristas e o exílio no Brasil: Fayga Ostrower, Axl Leskoschek, Lasar Segall”, com obras do acervo do MNBA, pretende despertar a reflexão sobre uma temática cada dia mais atual – o sofrimento do exílio, o acolhimento, a riqueza que reside no olhar de uma outra cultura. Esta mostra inaugura uma parceria entre o MNBA e a Casa Stefan Zweig, de Petrópolis, RJ, dedicada ao tema do exílio. A mostra é complementada por painéis, cartas, fotos e filmes.

 

 

Até 03 de fevereiro de 2019.

Gravuras na Baró Galeria

09/nov

A BARÓ Galeria, São Paulo, SP, apresenta a mostra “O Sentido do Original na Gravura”, composta por gravuras em diálogo com trabalhos originais de artistas e poetas visuais contemporâneos. As gravuras apresentadas são editadas e impressas por Gravuras no Brasil, parceira da BARÓ Galeria para esta ocasião. Destacam-se na sala principal obras gráficas do artista Almandrade e nas salas seguintes obras de Cezar Brandão, Jorge Francisco Soto, Clemente Padin e Falves Silva. O conjunto da mostra oferece um pequeno panorama de uma experiência visual latinoamericana (Brasil e Uruguai) e sua dimensão poética, buscando cativar um olhar crítico e sensível, além do desenvolvimento do gosto pela arte.

 

Até 12 de janeiro de 2019.

Brennand no Rio

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, exibe de 10 de novembro a 15 de dezembro a exposição “Francisco Brennand”, que reúne 44 peças representativas da grandeza e da diversidade complementar de sua obra, todas elas procedentes do acervo Brennand, com a curadoria de Evandro Carneiro, Maria Helena e Maria da Conceição Brennand.

 

A mostra inclui 13 desenhos e pinturas – dentre as quais algumas telas da série As névoas de Caspar (Caspar David Friedrich) -, cinco lindas cerâmicas vitrificadas, 15 ovos cerâmicos e, ainda, 11 esculturas seriadas. Algumas obras são inéditas ao público, pois serão exibidas pela primeira vez no Rio de Janeiro. Todas as peças estarão à venda.

 

 

Sobre o artista

 

Natural de Recife, Brennand é ceramista, escultor, desenhista, pintor, tapeceiro, ilustrador e gravador. É autor de importantes espaços culturais de Recife: a Oficina Cerâmica Francisco Brennand, o Parque das Esculturas Francisco Brennand e a Academia de Arte Brennand. Francisco Brennand nasceu em 1927, no Recife, em uma família tradicional, ligada à aristocracia rural, e por outro lado, descendente de empreendedores ingleses que trouxeram o nome com o qual o artista ficou conhecido. Ricardo Brennand, seu pai, herdou o Engenho São João da Várzea, que inicialmente produziu açúcar e mais tarde se tornou uma importante olaria. Em 1917 Ricardo fundou a primeira fábrica de cerâmicas da família. Cinquenta e cinco anos depois, sobre as ruínas da Cerâmica São João, Francisco recriou o espaço de territorialidade familiar, construindo ali a sua moradia, mas também a famosa Oficina Brennand, o Parque de esculturas e, mais recentemente a sua Academia. Neste complexo, repleto de significados afetivos, simbólicos e fabris, Francisco Brennand vem desenvolvendo a sua arte, há mais de 60 anos. Uma arte totalizante e complementar nas facetas de pintura, escultura, cerâmica, desenho, gravuras, mas também paisagismo e museologia. Em entrevista concedida a Walnice Nogueira Galvão para a revista Artes e Letras (março de 2000), ele diz: “E posso lhe dizer mais: hoje sou um ceramista porque sou um pintor. E não sei mesmo como alguém pode ser um ceramista se não for pintor ou escultor.” (p.147). Conforme o belo e importante texto de Alexei Bueno no livro O Universo de Francisco Brennand (2011), “Graças a Francisco Brennand, de fato, essa mais primeva entre as matérias, o barro, saiu, entre nós, da categoria do puramente utilitário ou do artesanal para alcançar o patamar da grande arte.” (p.22). Seu trabalho magistral reúne o seu talento nato àquelas aptidões complementares e ainda se somam a sua erudição e o seu humanismo, conferindo sentidos mitológicos, históricos e literários à totalidade de sua obra. Suas esculturas, cerâmicas e pinturas encarnam tradições nas referências que delas emanam, mas recriam significados em sua originalidade. Grécia antiga (O nascimento de Vênus, Lilith, Gnose, Halia…), cabala judaica (Árvore da vida), romantismo alemão (Caspar David Friedrich!), cultura nordestina (Gilberto Freyre, Ariano Suassuna e “a onça castanha” das “terras cor de vinho”…), pintura moderna (Balthus, Klimt, Schiele, Picasso, Miró, Cezánne…) são algumas das referências recriadas em ressurgências artísticas e intelectuais com a marca de Brennand. O artista não possui somente uma assinatura, mas uma marca mesmo: Francisco Brennand é também fábrica de arte e cultura do homo faber. Em telas costuma assinar por extenso, mas também assina F.B. de maneira estilizada e outras vezes carimba a sua marca com um símbolo de Oxossi, referenciando também a tradição afro-brasileira. São signos complementares, como as modalidades artísticas que (re)inventa: “(…) Até a minha assinatura caligráfica foi motivo de especulação e eu que pretendo reduzi-la a um mero F. e um B. desenhados como ornatos, para que não destroem do próprio grafismo das pinturas e, pelo contrário, se identifiquem com ele e até se percam dentro dele.” (trecho de seu diário O nome do livro, 5 de janeiro de 1960, apud. BUENO, 2011, p. 116). Em outra parte de seu diário, o artista ilumina o que dissemos acima: “Jamais esteve nas minhas divagações a possibilidade de criar uma forma nova. Uma forma nova só pode parecer nova à medida de sua paixão. Os olhos que a descobrem nova são igualmente apaixonados. Na verdade – em qualquer arte – a ideia de conceber uma forma inteiramente nova já é em si uma monstruosidade. Seria, em todos os sentidos, invisível aos olhos humanos, uma vez que desconhecida. Nós só ´vemos aquilo que conhecemos´. Trabalhei nesse projeto visionário durante vinte anos, sempre à procura de um mundo genésico, onde, com o decorrer do tempo, isso sim, consegui expressar uma mitologia pessoal. Acrescente-se a esse tempo mais cem anos e não seria ainda suficiente para terminar projeto tão atroz. O seu desgaste natural e os olhos arrebatados das novas gerações saberão como mantê-lo vivo, novo e cada vez mais antigo como o futuro.” (O nome do livro, 11 de setembro de 1992, apud. BUENO, 2011, p. 55).

Pinturas de Cirton Genaro

Exposição de pinturas de Cirton Genaro na GANSARAL, Campo Belo, São Paulo, SP. A apresentação é do crítico de arte Jacob Klintowitz.

Cirton Genaro.

 

A escritura do mundo e a construção do mito.

Jacob Klintowitz

 

Alguns raros artistas desafiam a lógica do mundo social e se tornam, apesar deles mesmos, paradoxais. Cirton Genaro é um destes. Como é possível elaborar uma pintura com a pincelada, a composição e o cuidado renascentista e ter como assunto os cenários da tragédia humana contemporânea?

 

E, no entanto, estas cenas fronteiriças do abismo se revestem da dignidade da reflexão e do seu caráter paradigmático e simbólico. Em nenhum momento estamos diante do episódico. E, na minuciosa descrição do caos, o artista nos impregna de poesia oriunda do caráter simbólico de suas imagens. E a extrema qualidade pictórica de sua saga visual é, por si só, um símbolo, pois com a conquista humana da linguagem confronta a entropia.

 

Certamente para Cirton Genaro, mestre pintor, não existem assuntos menores e menos nobres. E com esta atitude ele é exemplar das conquistas libertárias da arte: a nobreza não pertence ao assunto ou ao suporte, mas ao tema pictórico. E ao não ceder à tentação do consumo e a sua superficialidade perecível, ele se torna adepto da mais antiga tradição cultural conhecida, a da arte como narração do destino humano.

 

É por esta filiação histórica que Cirton Genaro na sua pintura nos dá a sensação de que estamos diante de alguma coisa muito atual e, ao mesmo tempo, de que nos defrontamos com uma expressão do permanente. Ele está narrando o mundo. A sua arte é uma escritura. E esta escritura é filha de Cronos, pois é uma crônica, o registro do nosso percurso no tempo. Os arqueólogos do futuro poderão encontrar nessas pinturas sinais da nossa civilização. Em Cirton Genaro o cotidiano se torna mito.

 

Com estes atributos a pintura de Cirton Genaro se apresenta como um elemento construtor da nossa visualidade. A qualidade é resultado – além da óbvia dedicação ao estudo – da crença de que a arte é fundamental na história das civilizações e que a função do artista se inicia com a responsabilidade do seu trabalho. Não se trata de carreira, mas de destino.

 

Seria possível identificar em cada uma de suas invenções pictóricas elementos visuais que nos remetam diretamente para os arquétipos da formação do psiquismo, como o arco-íris, semicírculo que têm simbolizado a aliança entre os homens e os Deuses; o barraco em favela tornado Piet Mondrian, arte xamânica ; o canto da cidade contaminada, a margem, transformada pela riqueza cromática em à margem da vida. E, assim, se quisermos, sucessivamente, ao longo dessa iconografia. Entretanto, tenho a convicção de que basta para nós neste momento sabermos que estamos diante do que de melhor um artista pode fazer, transformar o seu testemunho em forma.

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