Mostra de Luiz Ernesto

02/jun

O artista visual Luiz Ernesto apresenta no OI Futuro Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, a mostra” EQUILIBRANDO-SE EM LUZ REVELAVA -SE”.  A curadoria é de Alberto Saraiva.

 

Artista plástico e ex-diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, desenvolve seu trabalho em diversos meios – desenho, pintura, objetos e fotografia, tendo como ponto de partida os objetos banais do cotidiano. O crítico Agnaldo Farias assim se referiu à obra do artista, durante uma exposição, em 1999: “As pinturas, desenhos e assemblages de Luiz Ernesto sempre se propuseram a animar as coisas de sua letargia para deixá-las transbordar, fazê-las abandonar seu estado inicial rumo a uma condição próxima”.

 

 

Até 07 de junho.

Miró no Instituto Tomie Ohtake

O Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, organizou e inaugurou “Joan Miró. A força da matéria”. Esta é a maior mostra dedicada a Joan Miró no Brasil. A exposição reúne mais de 100 obras do artista, entre pinturas, esculturas, desenhos, gravuras e objetos (pontos de partida para a criação de suas esculturas). Na composição da mostra, fotografias sobre a trajetória do genial pintor catalão.
A mostra ficará em cartaz em São Paulo até 16 de agosto, e seguirá para o MASC – Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis, de 02 de setembro a 14 de novembro.
Texto
O texto de “Joan Miró – a força da matéria” , do escritor Valter Hugo Mãe, integra o catálogo da exposição. Confira um trecho abaixo:

 

A reinauguração da cultura, sobre Joan Miró

 

“Las miradas son semillas, mirar es sembrar Miró trabaja como un jardinero y con sus siete manos traza incansable – círculo y rabo, io! y ah! – la gran exclamación con que todos los dias comienza el mundo.”
Octavio Paz

 

A morte da pintura está para Joan Miró como a morte de deus esteve para Friedrich Nietzsche. Foi fundamental que saísse da equação para que o exercício da arte, que é o mesmo que dizer vida, correspondesse à mais do que genuína personalidade do mestre catalão.

 

 
A desmistificação é ponto essencial para o domínio da identidade. Alguns artistas não consentem, nem remotamente, com propagar o expectável. A arte, em sua superior oportunidade, é mais o enunciado de um novo postulado do que a obediência a quaisquer premissas estabelecidas. Ou, como diria Merleau-Ponty, a arte “é antes a realização de uma verdade do que o reflexo de uma verdade prévia” (Merleau-Ponty, 1999). Para Miró, por essência, a arte foi sempre um imperativo de liberdade. Se quisermos simplificar o seu aparecimento no mundo podemos declarar que se definiu exatamente por uma fúria imprescindível pela liberdade. Ao manifestar-se interessado em assassinar a pintura está a dizer que quer ser sem ser o mesmo. Quer ser sem ser o mesmo, o que justificaria o seu constante modo de fuga, desatando obrigações para com academismos prévios e, sobretudo, impiedosamente divergindo de si, a cada tempo começando outros métodos, explorando outros materiais, problematizando estilos, tão surpreso quanto sempre angustiado pela compulsiva busca.

 

 
Joan Miró atravessa o pior do século XX. Numa Europa em guerra, plena de ideologias totalitárias e predadoras, a sua origem catalã será invariavelmente um radical para permanente inconformismo e protesto. Uma espécie de mácula afetiva, como um pecado original de que ele se orgulharia e pelo qual se bateria sempre. A passagem por Paris, fundamental para a sua depuração, nunca lhe roubaria a convicção de ser catalão, coisa que evidenciaria constantemente na obra como linha de força e também como digno sofrimento. A liberdade possível é sempre uma ansiedade na assunção de uma identidade. Para Joan Miró, a Catalunha foi a base para todas as ansiedades, lugar plástico e espiritual de onde retiraria as referências mais recorrentes e inelutáveis, como quem cataloga os tópicos materiais de uma alma. Faria arte como quem é e como quem luta.

 

 
Discursando na sua distinção durante o Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Barcelona, em 1979, Miró terá dito: “Quando um artista se expressa num contexto em que a liberdade é difícil, deve converter cada uma das suas obras numa negação das negações, numa libertação de todas as opressões, de todos os preconceitos e de todos os falsos valores estabelecidos.” (Punyet-Miró 2014). Antoni Tàpies, claramente influenciado pela obra de Miró e por ele também instigado a um mesmo brio para com a Catalunha, viria a declarar que “o impacto clandestino da obra de Joan Miró, como também a de Picasso, foi uma contribuição importantíssima para uma tomada de consciência que não se reduzia, é claro, aos problemas da estética, mas sim, como provoca todo o criador, se estendia a toda a vida. (…) Miró gozou com todos os oficialmente bem pensantes, porque ninguém demonstrou como ele o fracasso e a inutilidade de todas as falsas hierarquias que perdem o tempo a condecorarem-se, e depois têm de correr precipitadamente atrás dos passos dos que realmente fazem caminho.” (Tàpies, 2002). Neste sentido, é importante entender que a assunção de uma identidade nunca foi um modo de fechar o sujeito, ou a arte, num lugar ou num tempo, muito pelo contrário. A identidade é o único modo de converter um sujeito, ou a arte, num tópico de respeito universal. Vale a pena atentar no diz Joan Punyet-Miró, ponderando acerca da atenção de Miró à cultura de outros lugares, como a chilena, e estabelecendo um paralelo com outros génios seus contemporâneos, como seriam Picasso e Dalí: “havendo criado uma poética artística universal, transladam-se mais além do limite nacional, político ou geográfico, para acabar sendo de qualquer lugar e de lugar nenhum por vezes.” (Punyet-Miró, 2014).
De outro modo, a urgência pela oportunidade de uma realidade própria era já coisa antiga no espírito de Joan Miró. Contrário à padronização e fascinado com a amplificação dos sentidos, diria: “Quando saía com o meu pai de casa e lhe dizia que o céu era violeta, zoava de mim. E isso dava-me muitíssima raiva.” (Dupin, 2004). Para Miró era claro que o artista não podia simplesmente existir à maneira do mundo. O mundo precisava também de existir à maneira do artista.

 

 
O criador é um distúrbio no universo da continuidade. Lembro sempre uma passagem de Clarice Lispector, no livro Água Viva, para ponderar acerca destes assuntos: “Minha liberdade pequena e enquadrada me une à liberdade do mundo – mas o que é uma janela senão o ar emoldurado por esquadrias?” (Lispector, 2012). Do mesmo modo, a tela branca de um pintor, como assim a folha de um escritor, se apresenta também como uma ordem já bastante imposta à imaginação que se debate para materializar. A tela branca é uma regra, que Miró haveria de problematizar e contra a qual haveria de se rebelar inúmeras vezes. Miró foi a mais frequente perturbação de toda e qualquer continuidade artística.
Miró, que se assumiu um pessimista, um homem profundamente insatisfeito, buscava na arte a transgressão a todas as coisas, não apenas aos cânones estabelecidos, ele lidava com algo incrivelmente mais poderoso e que se punha como uma revelação cosmogónica, uma certa reinauguração da expressão, para uma expressão mais pessoal e, ao mesmo tempo, universal. O caminho mais verdadeiro para a universalidade acabou por encontrá-lo no aprofundamento constante da sua própria consciência. É na meditação sobre si mesmo e suas raízes que o mestre pode tornar-se infinitamente sapiente e conservar todo o esplendor e a frescura mais típicos do que é começador ou menino. A verdade, dentro dele, é um diamante que se reparte em todos os gestos, sempre puro na sua essência. Fácil se torna de entender porque na candura de tantos dos seus trabalhos, mesmo dos que discorrem sobre assuntos difíceis ou violentos, há uma espécie de reaprendizagem do gesto artístico ou um primitivismo que tinge tudo de espontaneidade, de originalidade. Nenhum outro artista moderno logrou tal grau de originalidade.
[…]

Arte africana contemporânea

01/jun

O Museu Afro Brasil, Portão 10, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP,  promove a maior mostra de arte contemporânea africana já realizada no Brasil. Com programação que inclui instalações, pinturas, vídeos, esculturas, moda e um encontro para discussões com os artistas, o projeto “Africa Africans”, que conta com o patrocínio do Banco Itaú e da Odebrecht, traça um panorama da recente criação visual do continente por meio de obras de artistas de diversos países africanos.

 

 
A exposição

 
A exposição conta com cerca de 100 obras, de mais de 20 artistas, em diversos suportes e linguagens, além de outras obras de arte africana, pertencentes ao acervo do museu e à coleção particular de Emanoel Araujo, diretor curatorial do Museu, focalizando a criação de artistas africanos, nascidos e residentes no continente ou fora dele, assim como artistas de origem africana que, mesmo tendo nascido fora da África, dialogam com a pluralidade de experiências estéticas e sociais presente nas diversas regiões do continente.

 
Uma das obras de maior destaque de “Africa Africans” será a colossal “The British Library”, do artista plástico nigeriano-britânico Yinka Shonibare MBE. Nascido em Londres em 1962, Shonibare foi criado na Nigéria e voltou para capital inglesa para estudar Artes, dando início à sua trajetória artística. Sua instalação é formada por 6.225 livros coloridos encapados por tecidos dutch wax – conhecidos como “tecidos africanos”, mas fabricados na Holanda com uso de técnicas inspiradas na arte milenar do batik indonesiano. O uso deste material é uma marca registrada do artista. Shonibare debate nesta obra questões que lhe são caras como colonialismo, pós-colonialismo e hibridismo e explora o impacto da imigração sobre todos os aspectos da cultura britânica, considerando as noções de território e lugar, identidade cultural, deslocamento e refúgio. A obra também usa recursos multimídia, a exemplo de iPads.

 
Também com presença confirmada está “Skylines”, de El Anatsui, ganês radicado na Nigéria. Nascido em 1944, ele é considerado o mais importante artista africano da atualidade, com grande prestígio na Europa e nos Estados Unidos e foi recém premiado, no dia 9 de maio de 2015, com um Leão de Ouro, na Bienal de Artes de Veneza. Suas obras estão nas coleções públicas do Metropolitan Museum of Art em Nova York; Museum of Modern Art em Nova York; Los Angeles County Museum of Art; Indianapolis Museum of Art; British Museum em Londres; e Centre Pompidou em Paris, entre outras instituições. Muitas das esculturas de El Anatsui possuem formas mutáveis e são concebidas para serem livres e flexíveis de modo que se adaptem visualmente em cada instalação. Ao trabalhar com madeira, barro, metal e, mais recentemente, tampas metálicas de garrafas de bebidas alcoólicas, Anatsui rompe com a tradicional adesão da escultura às formas fixas, embora faça visualmente referência à história da abstração na arte europeia e africana.

 
Outro destaque fica por conta da obra “Cloud Earth Twist”, do nigeriano Bright Ugochukwu Eke. A instalação que vem ao “Africa Africans” tem inspiração autobiográfica. Após sofrer uma infecção na pele decorrente de uma chuva ácida, Eke desenvolveu a obra que consiste em milhares de sacos plásticos cheios de água acidificada. O trabalho de Eke tem sido exposto em cidades como Durban, Lagos, Londres, Nova York e Verona, entre outras. Bright Eke cria uma arte socialmente orientada, explorando os caminhos pelos quais as pessoas interagem com seu meio. Usando água como tema e meio, ele desafia o espectador a pensar sobre este precioso recurso, politica, ética e ecologicamente.
Será produzido também um catálogo trilíngue (português-inglês-francês) sobre a exposição, a mostra de moda e o seminário.

 
A primeira etapa do “Africa Africans” aconteceu no último dia 17 de abril, parte do calendário da 39ª edição do São Paulo Fashion Week (SPFW), onde o museu teve a honra de receber a mostra “Africa Africans Moda” e apresentou os trabalhos de cinco estilistas africanos: Palesa Mokubung, África do Sul; Amaka “Maki” Osakwe, Nigéria; Jamil Walji’, Quênia; Xuly Bët, Mali e Imane Ayissi, de Camarões. A mostra de moda ocorreu no espaço central do museu e teve a curadoria do nigeriano Andy Okoroafor, reconhecido editor e diretor de arte, clipes musicais e moda em Paris, França.

 

 
Até 30 de agosto.

1ª COLETIVA EXPERIMENTA

29/mai

A Galeria Lume, Jardim Europa, São Paulo, SP, inaugurou a “1ª Coletiva Experimenta”, com curadoria de Paulo Kassab Jr e coordenação de Felipe Hegg e Victoria Zuffo. O projeto propõe divulgar e exibir a produção de artistas brasileiros e estrangeiros que já possuem uma trajetória artística mas que não são representados por nenhuma galeria, em São Paulo. Nesta edição inaugural, os artistas selecionados são Cecília Walton, Claudio Alvarez, Gian Spina, Maximilian Magnus e Renato Dib.

 

Em continuação à intensa programação de mostras, feiras nacionais e internacionais e eventos culturais, a Galeria Lume inaugura o projeto “Coletiva Experimenta”. Anualmente, a galeria abrirá inscrições para receber portfólios de artistas, os quais serão analisados por um conselho de curadores convidados pela galeria.

 

Nesta primeira edição, Cecília Walton apresenta “Bruxas no Ar” e “A Liberdade Guia o Povo”, nas quais emoldura telas em branco contendo informações estéticas apenas na parte inferior dos quadros, em uma proposta minimalista; além da série “Coleção de Arte da Cidade”, na qual exibe apenas a moldura de obras famosas e seus respectivos nomes, em uma crítica aos visitantes de exposições que veem nome, mas não a obra. Claudio Alvarez expõe “Mole”, uma peça em aço inox que segue o princípio de estruturação do artista baseado no movimento, reflexo da influência da arte cinética em sua produção. Gian Spina, por sua vez, traz “A Cada Minuto Morre um Poema” e “Não Param Nunca de Morrer”, fotografia composta por vários cliques da frase, escrita na mão esquerda do artista, em diferentes situações; e “The Day When my Rage Woke Up Before Me”, performance que realizou em Bordeaux, França, “colocando fogo” na Place de la Bourse, cartão postal desta cidade que arrecadou grande parte de sua riqueza com o tráfico de escravos, tendo seu auge no século XVII. Selecionado como destaque na residência da Tofiq House, o alemão Maximilian Magnus exibe “I’m Sorry” e “Thank You”, séries que tratam de sua vivência com o “jeitinho” brasileiro e suas consequências no mundo do trabalho. Por fim, Renato Dib participa com o projeto “Linhas da Mão”, utilizando luvas de lã como suporte para suas intervenções artísticas, e a série “Air Embroidery – Bordados no Ar”, composta por objetos em tecido suspensos.

 

Com mais este projeto inovador, a Galeria Lume abre espaço para artistas que não possuem nenhuma representação no circuito cultural de São Paulo, no intuito de diversificar a sua programação de seu espaço e exibir novas propostas criativas ao público.

 

 

De 29 de maio a 04 de julho.       

No Museu de Arte do Rio/MAR

O Museu de Arte do Rio, MAR, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Tarsila e Mulheres Modernas no Rio”. Por meio de 200 peças (entre pinturas, fotografias, desenhos, gravuras, esculturas, instalações, documentos, material audiovisual e objetos pessoais), a exposição explicita a maneira pela qual a atuação de figuras femininas foi fundamental no que diz respeito à construção das sociedades carioca e brasileira, entre os séculos 19 e 20, nas mais diversas áreas – como artes visuais, literatura, música, teatro, dança, medicina, arquitetura, esporte, religião, política etc. Hecilda Fadel, Marcelo Campos, Nataraj Trinta e Paulo Herkenhoff assinam a curadoria da mostra.

 

A exposição “Tarsila e Mulheres Modernas no Rio” retrata mulheres com importante atuação em seus campos, do final do século XIX até hoje, e suas contribuições para a história da arte brasileira. O visitante se depara com mulheres com uma visão moderna não apenas nas artes visuais, mas nas ciências, na saúde, na segurança pública, na música, na dança. A exposição faz uma homenagem também às mulheres anônimas que revolucionaram nossa história ao demonstrar coragem e firmeza para fazer valer seus direitos.

É a primeira vez que Tarsila é contextualizada para além do campo das artes, abordando também o período pelo qual o Brasil e o Rio passaram, de lutas pelos diretos das mulheres que assumiam seu papel na sociedade, seus corpos e desejos. Nesse contexto, a vida e a obra da artista, representada com 25 pinturas e dez desenhos, serve como ponto de partida para a mostra da qual também fazem parte outros grandes nomes como Djanira, Maria Martins, Maria Helena Vieira da Silva, Anita Malfatti, Lygia Clark, Zélia Salgado e Lygia Pape.

 

O percurso tem inicio com as mulheres retratadas por Debret no século XIX, em ilustrações que evidenciam o uso de muxarabis – treliças de madeira que ocultavam a figura feminina nos recônditos do lar. A evolução da mulher na sociedade passa pelo direito ao voto e o reconhecimento do trabalho das domésticas no Brasil – incluindo a primeira publicação de reportagem sobre o assunto nos anos de 1950. O Aterro do Flamengo e o papel feminino na arquitetura do Rio moderno estão representados por Lota de Macedo Soares e Niomar Moniz Sodré, entre outras.

 

O momento em que as mulheres despontam na música, com apresentações em night clubs – até então um ambiente predominantemente masculino –, é contado por meio das histórias e canções de grandes divas do rádio, como Marlene e Emilinha Borba. As tias do samba e a mistura entre música e religião aparecem em fotos que revelam as feijoadas e os encontros nas comunidades da cidade, antes de se tornarem acessíveis ao publico em geral nas escolas de samba. Na dança, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal, Mercedes Baptista, e outros nomes do balé clássico e contemporâneo, como Tatiana Leskova e Angel Vianna, também fazem parte da mostra.

 

O espaço dedicado à literatura lança luz sobre outras facetas de Clarice Lispector – as crônicas femininas publicadas sob o pseudônimo Helen Palmer, o trabalho como pintora e fotos de sua intimidade registradas pelo filho. Raridades como o manuscrito de O quinze, de Rachel de Queiroz, também fazem parte da seleção. A mostra reúne ainda fotografias e recortes de jornais para contar a história de mulheres que, ao contrário das retratadas por Debret, foram às ruas para lutar por seus direitos e de seus familiares, como a Pagu, primeira presa política do país, e a viúva de Amarildo, que enfrenta a polícia na busca pelo corpo de seu marido.

 

 

Até 20 de setembro.

Julia Csekö e o público

28/mai

A MUV Gallery, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, representa obras de artistas da nova geração da arte contemporânea, um projeto de Camila Tomé e Stéphanie Afonso, acaba de completar um ano. Para comemorar a data as sócias convidaram a artista americana Julia Csekö para apresentar a exposição individual “VOCÊ/EU”, com abertura marcada para o dia 17 de junho, onde o público poderá interagir e participar da montagem e resultado da obra. A mostra começa com o espaço expositivo praticamente vazio, a não ser por uma grande instalação de corações rosas e vermelhos afixados por fios prateados ao teto.

 

Por alguns meses Julia Csekö produziu uma grande quantidade de corações de veludo, pelúcia, cetim; tecidos brilhantes e texturizados. Cada coração é uma unidade de tempo, fazendo parte de uma longa meditação sobre o amor. A partir do momento da abertura o público é convidado a trazer objetos para serem trocados por estes corações. Aos poucos a Galeria será preenchida por objetos trazidos pelos visitantes. Os objetos trocados devem representar de alguma forma afetos e ideias/imagens que remetam ao amor.

 

Feitos de material macio, eles são fechados com fios metalizados, numa referência a prática Japonesa Kintsugi onde um objeto que se quebra é remendado usando ouro, prata ou platina. Cada cicatriz deixada, ao invés de ser escondida é ressaltada como um acréscimo ou elemento estético.

 

Alguns assuntos recorrentes na obra de Julia Csekö, como o trânsito entre micro e macro perspectivas, repetição e replicação versus originalidade estão presentes nesta exposição. Cada coração é único, feito a mão pela artista porém ao serem exibidos em um conjunto, sua singularidade é temporariamente atenuada. O processo de troca é imprevisível, a cada troca efetuada a exposição se torna mais plural e menos autoral. Cada coração é um objeto único e contém uma interação e relação interpessoal com o espectador em estado de latência. A cada troca a singularidade de cada coração é ressaltada. Quanto mais trocas efetuadas, mais plural a exposição se torna.

 

A penca de corações passa por uma transformação, começando como um conjunto de objetos similares e tornando-se a cada troca um conjunto de objetos díspares, fragmentos que juntos compõe uma narrativa sobre afetos, trocas, amores e desejos.  Os objetos se transformarão, mas o motivo que os une dentro do mesmo espaço permanece. Cada coração é uma ponte entre a artista e o público e entre a obra e o espectador. Os objetos trocados serão documentados e colocados num arquivo e catálogo digital, para que o exposição possa novamente transitar entre o material e o imaterial, entre o espaço físico, idéias, afetos e memórias.

 

 

Sobre a artista

 

Julia nasceu no Colorado, EUA, e cresceu no Rio de Janeiro. Voltou ao seu país de origem para cursar mestrado em artes visuais na School of the Museum of Fine Arts, em Boston, e suas obras estão em importantes coleções como na Morris and Helen Belkin Art Gallery, British Columbia University Museum, Canada e MAM Rio. Já participou de mostras na Galeria A Gentil Carioca, Caixa Cultural – RJ, Centro Cultural Banco do Barsil – SP, MAM- BA, Fundação Eva Klabin e em galerias em Portugal, Estados Unidos, Canadá e França.

 

 

De 17 de junho a 17 de julho.

(Sábados mediante agendamento pelo tel: (21) 3988-0600).

 

Curso no MAM-Rio

27/mai

Aula inaugural: 27 de maio, das 18h30 às 20h30 – Período: 3, 10, 17 e 24 de junho  e 1 e 8 de julho de 2015, das 18h30 às 20h30

 

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, realiza, de 27 de maio a 8 de julho de 2015, o curso “Amor: do Banquete ao Museu”, organizado pelo psicanalista Guilherme Gutman e pelos curadores Luiz Camillo Osorio e Marta Mestre que abordará o amor, através da arte e da psicanálise. O curso será realizado sempre às quartas-feiras, das 18h30 às 20h30, na Cinemateca do MAM Rio.

 

A aula inaugural, no dia 27 de maio, será gratuita, ministrada pelo psicanalista Guilherme Gutman com o tema “De volta ao Banquete”, onde serão apresentadas as principais ideias do diálogo platônico, já numa perspectiva da psicanálise. O custo total do curso, com sete aulas, é de R$150, ou R$50 cada aula avulsa. Inscrições pelo email: atendimento@mamrio.org.br.

 

Desde “O Banquete” de Platão – o ponto mais alto do cânone literário sobre o amor no Ocidente e verdadeira matriz de discursos e de formas de relacionamentos amorosos – até a música “All you need is Love”, dos Beatles, espécie de representação imaginária daquelas que seriam, então, as potencialidades ultra-humanas do amor, o leque de abordagens é extenso. Aqui o tema Amor é tomado junto com os seus correlatos, tais como a paixão ou o encantamento, movimentos que, ainda que admitamos como nossos, não estão definitivamente sob a nossa gerência.

 

Com Freud, aprendemos a reconhecer como dor psíquica a incapacidade (latu senso) de trabalhar ou de amar. Aprendemos ainda que a promessa será sempre a de que algo ou alguém nos proporcione interminavelmente a conjugação entre as formas sublimada e erotizadas de amor. Luta inglória e, eventualmente patética. Tal como personagens de uma ópera bufa, insistimos onde o que na verdade insiste são os rigores do automatismo do simbólico. Aí, talvez, uma obra – efeito ou página de todo um percurso de trabalho – possa exceder outros encontros. Do cinema à literatura e à filosofia, da psicanálise à pratica de artistas contemporâneos, várias são as portas de entrada no amor.

 

 

PROGRAMAÇÃO:

QUARTAS-FEIRAS | 18h30 às 20h30

Dia 27 de maio de 2015 – Aula inaugural – gratuita

 

Guilherme Gutman | De volta ao Banquete

 

Apresentação do contexto e das principais ideias do diálogo platônico, já numa perspectiva da psicanálise. A partir disso, procuraremos localizar em que medida “O Banquete” é simultaneamente matriz e depositário das formas de amor no Ocidente.

 

 

Dia 3 de junho de 2015

 

Marcela Oliveira | A cinta de Afrodite

 

Antes do Banquete de Platão, Homero já nos havia legado, em seu grande banquete poético, uma visão nada romântica do amor (distinguindo-se da moderna) e desatrelada da verdade (distinguindo-se da platônica). Na Ilíada, o amor é assunto de Afrodite, “urdidora de enganos”. Graças aos poderes contidos na cinta de Afrodite, Hera é capaz de iludir Zeus, que diz nunca ter sentido tanto desejo, e Helena se unira a Páris, dando origem à sangrenta Guerra de Tróia.

 

 

 

Dia 10 de junho de 2015

 

Cristina Franco Ferraz | Do amor fusional ao risco dos encontros: perspectivas críticas

 

 

A partir da crítica nietzschiana ao amor fusional, de matriz romântica, tematizaremos o caráter crescentemente problemático do vínculo amoroso em regimes de vida pautados por valores ligados ao empreendedorismo, pela ideologia securitária e pela crise da confiabilidade no outro e no mundo. Exploraremos, a seguir, uma performance de Marina Abramovic em que a disponibilidade perceptiva, sensorial, e a abertura ao outro se fazem amorosamente obra.

 

 

Dia 17 de junho de 2015

 

Pedro Duarte | O amor romântico

 

O Romantismo não foi só um movimento estético. Foi uma erótica, um modo de sentir, de se enamorar, de viver e de morrer. Sobretudo, foi um modo de amar. Literatura e arte abriram historicamente uma forma moderna de amar baseada na liberdade individual, ao mesmo tempo que lamentaram a perda do amor antigo, ligado a deuses, como aparecia em Platão. Esta palestra, transitando entre arte e filosofia, apresentará o ideal romântico de amor, deixando a questão sobre o que dele ainda resta hoje.

 

 

Dia 24 de junho de 2015

 

Tadeu Capistrano | Imagens do amor em pânico

 

“Dance Me to The End of Love”.A utilização da melancólica música de Leonard Cohen na abertura de Miss Violence, recente filme de Alexandro Avranas, embala o frio aniversário de uma menina de onze anos, Angélica, que após uma “troca de olhares” com o espectador, joga-se da janela de seu prédio finalizando a comemoração. A partir de uma análise sobre o destino sombrio que este filme grego sugere para o amor, o objetivo desta apresentação é problematizar as imagens dos crimes que envolvem laços afetivos e explorar as relações entre cinismo, crueldade e frieza presentes nas discussões atuais em torno à “moral do espectador”.

 

 

Dia 1 de julho de 2015

 

Auterives Maciel | A experiência do amor na filosofia materialista de Spinoza

 

Mostrando a sua singularidade pelo esclarecimento dos principais aspectos do seu sistema ético.Trabalharei o desejo, a distinção entre ética e moral, a potência do corpo e a relação deste com o pensamento, com o propósito de analisar as nuances existentes entre esta ética e a concepção de amor que dela emergirá.

 

 

Dia 8 de julho de 2015

 

Laura Erber | Envio e extravio: infinito, urgência e impossível na correspondência

 

 

Na tentativa de atingir uma época, um objeto de amor ou de simplesmente deixar um rastro de si mesmo, todo envio comporta sempre um risco de extravio que lhe é constituinte.Toda correspondência lida com a perda de sentido, a falta de resposta e a ausência daquele a quem se destina. Se toda carta de amor é ridícula e se toda carta é sempre, em alguma medida, uma carta de amor, o abismo aberto pelo gesto de endereçamento põe em cena ritmos de espera que vão da urgência a certa experiência de suspensão temporal, de contato mórbido com o infinito. Kafka enviava várias cartas diárias a Felice e sonhava com uma máquina de telegramas instantâneos. Anna Akhmátova escreveu cartas com perguntas para Rilke depois de sua morte. On Kawara escreveu telegramas diários para testemunhar sua existência. Ghérasim Luca escreveu cartas a um destinatário desconhecido movidas pelo anonimato do remetente. Alejandra Pizarnik escreveu poemas que eram missivas de suicídio. A palestra discute diferentes modos de correspondência através de exemplos retirados da literatura e da arte moderna e contemporânea. Abordará também a experiência da exposição Musa sem cabeça, uma fábula do contemporâneo (MAM-Rio 2013) que consistia no envio de telegramas ao Senhor MAM.

 

 

Sobre os professores

 

Guilherme Gutman é médico psiquiatra e psicanalista, professor de psicologia da PUC-Rio, mestre e doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Uerj, crítico de arte.

 

Laura Erber é escritora, artista visual e crítica. Autora de Ghérasim Luca (2012) e Esquilos de Pavlov (2013). Professora adjunta do departamento de Estética e Teoria do Teatro Unirio e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da mesma univerisdade. Integra o Núcleo de investigações em teatro e outras artes.

 

Marcela Oliveira é professora do Departamento de Filosofia da PUC-Rio, onde se formou doutora e mestre, atuando na graduação e na pós-graduação com especialização em Arte e Filosofia. Desenvolve estudos em filosofia contemporânea, estética e teoria do teatro.

Maria Cristina Franco Ferraz é professora titular de Teoria da Comunicação da UFRJ, e doutora em Filosofia pela Universidade de Paris I – Sorbonne (1992), publicou, entre outros, Nietzsche, o bufão dos deuses (1994), Platão: as artimanhas do fingimento (1999), Homo deletabilis – corpo, percepção, esquecimento: do século XIX ao XXI (2010) e Ruminações: cultura letrada e dispersão hiperconectada.

 

Pedro Duarte é doutor e Mestre em Filosofia pela PUC-Rio, onde atualmente é Professor na Graduação, na Pós-Graduação e na Especialização em Arte e Filosofia. Foi Professor Visitante nas universidades Brown (EUA) e Södertörns (Suécia). É autor dos livros “Estio do tempo: Romantismo e estética moderna” (Zahar) e “A palavra modernista: vanguarda e manifesto” (Casa da Palavra).

 

Tadeu Capistrano é professor de Teoria da Imagem na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizou tese de doutorado sobre cinema, tecnologia e percepção pela Uerj, pesquisou na Universidade de Columbia, em Nova York, onde foi Visiting Scholar. Auterives Maciel mestre em Filosofia e doutor em Psiquiatria, Psicanálise e Saúde Mental ambos pela UFRJ.

Encontro na OMA |Galeria

26/mai

Na próxima sexta-feira, 29, a partir das 19h, a OMA |Galeria, São Bernardo do Campo, SP, promove mais um evento público em comemoração aos dois anos da galeria que une, mais uma vez, um dos espaços mais antigos e importantes da região, que é a Pinacoteca de São Bernardo, e a OMA | Galeria, que é o espaço “caçula” da cidade. Em formato de bate-papo, o convidado da vez é João Delijaicov Filho, curador da Pinacoteca. O evento que tem como objetivo colocar o público frente a frente com importantes nomes do universo das artes e levantar questões atuais acerca da produção nacional, dos novos rumos da arte no Brasil e no mundo, e também fazer um resgate da história artística da região.

 

Segundo o galerista do espaço, Thomaz Pacheco, é importante promover a troca de conhecimento com aqueles que viveram e ainda se destacam no circuito de arte. “O João é uma referência como curador. Além de ser o responsável pela criação da Pinacoteca de São Bernardo há mais de 30 anos, durante toda sua carreira teve contato pessoal com os maiores nomes do circuito das artes visuais, conviveu com Sacilotto, Waldomiro de Deus, João Suzuki entre outros nomes, tem uma bagagem incomparável, será uma honra recebê-lo em nosso espaço e uma oportunidade única de reviver bons momentos das artes no ABC. O João é uma livro de recordações vivo.”, comenta.

 

João Delijaicov Filho está à frente da Pinacoteca da cidade há 30 anos e ajudou a construir o que é considerado o maior espaço de exposição permanente de arte moderna e contemporânea da região do ABC.

 

 

Data: 29 de maio, a partir das 19hs – Rua Carlos Gomes, 69, Centro – São Bernardo do Campo – SP.
Gratuito

Em cartaz na A Gentil Carioca

“Djanir”, título da exposição individual de Paulo Paes, é o nome de uma das esculturas chamada fisália que será exibida na galeria A Gentil Carioca Centro, Rio de Janeiro, RJ, a partir de 06 de junho. Djanir, “ sereia cyborg”, como Paulo Paes carinhosamente a intitula, é uma fisália colonizada.

 

Physalia Physalis é um ser marinho, ou colônia de seres, pólipos, cujo nome popular é caravela.Também, fisália é o nome que Paulo Paes dá a suas esculturas subaquáticas. Podem ser fisálias colonizadas, ou seja, esculturas que imersas no mar foram colonizadas por organismos marinhos, como a própria Djanir, ou fisálias virgens, esculturas prontas a entrar no mar e serem adotadas por colecionadores e instituições que se interessem pela participação na pesquisa de Paulo Paes.

O trabalho do artista gira em torno dos processos de adaptação da vida a novos ambientes e condições. Paulo Paes cria e implanta no mar estruturas complexas (fisálias) feitas com descartes do consumo urbano (garrafas plásticas, embalagens de vidro, carcaças metálicas) e materiais naturais (pedra, madeira, osso).Ao interagir com o meio, estas estruturas atraem e fixam vida marinha, consolidando sítios com alta atividade biológica.

 

São abrigos de diversos tamanhos e formas, superfícies rugosas, filamentos, cílios filtrantes, cabos, plataformas etc. cobrindo diversos níveis de profundidade e de iluminação, favorecendo uma gama variada de organismos ao oferecer um substrato para fixação e aproveitamento dos nutrientes disponíveis no meio. Ao cultivo, manutenção e expansão da estrutura colonizada (através de acréscimos demandados pelo seu desenvolvimento), soma-se uma rotina de registros em áudio visual e relatórios de campo.

 

A exposição “Djanir”, primeira exposição de Paulo Paes na galeria A Gentil Carioca, mostrará obras que são resultado da rotina de Paulo Paes. O objeto atual do artista é a rotina (operações e manobras) em torno de aparelhos  marinhos inseridos no bioma para atrair e fixar vida. Esta rotina produz uma cultura material.

 

Serão exibidas na mostra  Djanir, fisália colonizada resultado de 2 anos e 10 meses de vida marítima; amostras de colônias maduras em um aquário de água salgada projetado especialmente para a exposição com o acompanhamento do biólogo Mauricio Andrade; fotografias subaquáticas; esculturas (fisálias virgens); desenhos; quadros (marinhas);  vídeos, textos e relatórios do processo. A exposição conta com o apoio do IEAPM (Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira) cujo coordenador científico é o biólogo Ricardo Coutinho e onde, no campo de provas da Ilha do Farol de Arraial do Cabo, Paulo realiza seus experimentos.

 

 

Sobre o artista

 

Paulo Paes atualmente reside em Cabo Frio, RJ, onde realiza seus experimentos em parceria com o IEAPM (Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira). Desenvolve paralelamente, uma pesquisa com esculturas infláveis de papel de seda, derivadas dos balões juninos de ar quente. Com esse trabalho ganhou o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2012 e fez, em 2013, uma série de intervenções urbanas durante o São João da cidade do Porto, Portugal, em 2013, com patrocínio do Ministério da Cultura do Brasil e a Prefeitura do Porto.

 

 

 

De 06 de junho a 04 de julho.

Contaminação (+ que) cromática

21/mai

A dualidade de interpretações – uma matérica, real, e a outra metafórica –, assim como a multiplicidade de referências, são caraterísticas das pesquisas dos artistas contemporâneos. Essa tendência se manifesta na composição de “Contaminação cromática”, exposição do artista Fernando Limberger na Praça Victor Civita, São Paulo, SP. As formas concretas concebidas nos canteiros promovem a abalroação da fisiologia do olhar contra as leis morfológicas de estruturação da matéria, dos precedentes da arte contra os da natureza. Provoca-se uma tensão óptico-espacial nas sugestões de movimento, mesmo que despontem os contrastes entre os elementos construídos e os orgânicos, a dualidade entre artifício e meio natural. Uma cartografia sensorial posta em prática a partir de um sistema de estratégias aprendidas para tornar as representações cada vez mais adequadas. É uma nova e transitória arquitetura do espaço.

 

 
A palavra do curador

 
Essa nova contaminação se expande além da referência à função original do recinto expositivo – um antigo incinerador de lixo cujos espaços o artista provê de novas funções/tarefas –, assim como a posição do público perante essas alterações. A estrutura se dilata espacial e funcionalmente a partir das grades plásticas que constrói.

 

Limberger traslada a arte para o real ao colocar areia pigmentada em algumas áreas dos canteiros já existentes na Praça, provocando assim alterações cromáticas e compositivas na estrutura rotineira do espaço público e modificando as particularidades morfológicas do ente vegetal já existente. Já as obras das séries “Um” e “Ação”, da década de 1990, constituem esboços dos projetos de ocupação posteriores, tanto pela questão espacial como pela cromática. Ao acrescer a matéria pictórica em blocos alternados de composição e cromatismo, o artista estabelece uma relação estrutural com a pintura e rejeita qualquer relação ou tradução superficial ou literal das formas da natureza para a arte e vice-versa. O “novo adubo” nos canteiros e a nova matéria na parte inferior da chaminé, onde desta vez a variação cromática é contaminante, contaminam as possibilidades sensórias que oferecem ao articular os elementos plásticos da arquitetura com as obras numa concepção de arte total. Nos desenhos e maquetes – como no múltiplo “Sem retorno”, de 2002/2013 –, evidencia-se a provocação ao inacabado e ao efêmero executado, aos sonhos e desejos. Nas instalações, a inutilidade do utilitário comum e, ao mesmo tempo, as combinações (im)possíveis. Nos canteiros, a absorção do inovador/novo/similar. Efeitos estéticos manifestam-se, assim, na estruturação de processos plásticos que afloram a constante inquietude da pesquisa do artista e constroem um itinerário circular para o espectador.

 
Nas salas do espaço interno da Praça, Limberger mostra várias instalações, esculturas, 1 Espaço público único em São Paulo, a Praça Victor Civita foi construída em uma área anteriormente degradada e agora oferece ao público, gratuitamente, ampla programação cultural, esportiva e de lazer, além de educação ambiental. Com um projeto arquitetônico inovador, a praça dispõe de palco e arquibancada para 290 pessoas, diversos equipamentos, e do prédio do antigo incinerador Pinheiros, também recuperado, aberto para receber exposições e eventos. O incinerador Pinheiros funcionou entre 1949 e 1989. A praça foi construída em 2008.

 
…O paisagismo é assumido pelo artista como acontecimento cultural e, nessa conexão com a arte, ambos são orientados para duas frentes: o entorno e a interlocução. Assim, em todo o conjunto trabalha-se com o papel formativo da arte.   Em todas as obras, os contrastes entre variações cromáticas e texturais intensificam a tensão entre os planos e espaços em múltiplas, singulares formas e estruturas geométricas. Isso se vê já nas séries em que o artista utiliza madeira reciclada com vestígios de fogo, o que evoca e reforça a consciência ecológica de maneira processual, na aparente simplicidade do múltiplo, a partir de uma ação plástica, bem como o compromisso de re-elaboração na própria pesquisa que faz dos elementos da natureza: as ciências e a arte e suas conexões. Essas possíveis incompatibilidades de matérias e referências estão presentes em obras como “Fome, azul” (2002). Já a permanente fertilidade nas relações de contraposição de formas e cores, das obras e do contexto, uma constante na produção do artista, é tangível nas instalações da série Fértil, na Fazenda Serrinha (Bragança Paulista, 2003); em Verde e amarelo, no Centro Cultural São Paulo (2008);

 

Complementares, na exposição Ecológica, MAM-SP (2010); Vermelho-pungente (para Dona Cristina), na Casa M, 8ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2011) e Três canteiros para dois guris, na Fazenda Dois Guris (Sapucaí Mirim, 2012). Verde infinito (2015) faz referência à Coluna sem fim (1938), de Constantin Brancusi (1876-1957), um dos pioneiros da abstração e dos principais nomes da chamada vanguarda moderna. Como o célebre escultor romeno, Limberger nutre a obra de elegância visual. Com a utilização repetida do mesmo objeto/forma, desvenda-se, na peça, a tendência do artista de aproximar o objeto de arte ao objeto de uso cotidiano, tratando ambos como presenças tridimensionais no espaço. Atinge, assim, formas mais despojadas, libertando-as das aparências de superfície para revelar a beleza intrínseca dos próprios materiais utilizados. A partir do uso de materiais sensíveis, ao mesmo tempo o artista elimina a representação clássica da escultura, num questionamento do pedestal a partir da ideia de objeto que media a relação da escultura com a realidade.

 
Na produção de Limberger, a memória é um elemento protagonista. O artista explora a sensorialidade dos suportes tradicionais e a subjetividade da arte. Da expansão e conexão dos canteiros aos desenhos, dos desenhos às maquetes, às instalações, ao público, à arquitetura, na contenção aparente das obras na sala expositiva, na compatibilidade dos materiais reciclados e/ou a reciclar, transformados no mesmo material: o artista reflete e convida o espectador à contemplação, à reflexão, à contenção e à possibilidade de fazer, na mutabilidade permanente em que se faz o olhar, na diferença entre o agora e o ainda há pouco. (Andrés Hernández São Paulo, 2015).

 

 
Até 28 de junho.

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