Olá, visitante

AGENDA CULTURAL

Coleção Emanoel Araújo

05/set

Em paralelo com a Bienal de São Paulo, a Bolsa de Arte apresenta – desde o dia 06 de setembro – uma exposição e leilão destacando a coleção de Emanoel Araujo (1940-2022), o renomado artista brasileiro que, também foi diretor de museu e curador.
O leilão ocorrerá nas noites de 25 a 28 de setembro, a partir das 20h.
Devido à importância de Emanoel Araújo, esta exposição atrairá colecionadores e diretores de museus de todo o mundo, incluindo os que vieram a São Paulo para participar da feira de arte bienal. Um público altamente qualificado.
Image item
Emanoel Araujo reuniu uma impressionante coleção de mais de 4.000 obras, celebrando a riqueza e a diversidade da cultura brasileira por meio de old masters, pinturas, esculturas brasileiras, design, fotografia, arte sacra, jóias coloniais, cerâmicas e artesanato. No próximo ano, outro leilão será realizado, apresentando peças da coleção do Museu Afro Brasil, fundado por Emanoel Araújo em 2004.
Uma coleção que reflete a riqueza da cultura brasileira
A exposição destaca a coleção de Araújo, oferecendo uma visão mais ampla da riqueza cultural do Brasil. A importância do legado de Emanoel Araújo e de sua coleção transcende as fronteiras da arte.
A coleção de Emanoel Araújo abrange desde representações de Orixás na religião afro-brasileira até representações europeias em bronzes coloniais.

Passabilidade

01/set

Sob o título geral de “Novo Poder: Passabilidade, Miss Brasil” trata da série de pinturas que Maxwell Alexandre fez em papel pardo com imagens de pessoas negras em um cubo branco, relacionadas ao conceito de passabilidade – isto é, caminhar seguro e despercebido no espaço público –  no mundo da arte.
As pessoas retratadas adotam postura debochada; outras refletem o dia a dia, como uma senhora com saia florida e estudantes. Na Casa SP-Arte,  Jardins. São Paulo, SP.

Arte fluminense em Madrid

A mostra “Notícias do Brasil: Carybé, Cícero Dias e Glauco Rodrigues”, composta por obras dos três artistas pertencentes ao acervo do Sesc RJ que foram recuperadas e recolocadas no circuito expositivo, entram em exibição em Madri, Espanha, de 08 de setembro a 07 de outubro. A mostra será na Casa de América, um dos mais importantes centros de arte da Espanha.

A exposição é uma das atrações do Festival ¡Hola Rio!, ação inédita de internacionalização da arte produzida no estado do Rio de Janeiro e realizada pela Casa de América, Sesc RJ e Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa com o apoio de diversos parceiros, entre eles, a prefeitura da capital espanhola.

A mostra estreou em janeiro de 2022 no Espaço Cultural Arte Sesc em celebração ao centenário da Semana de Arte Moderna. Ela marcou a reabertura do ambiente, após a instituição restaurar a Mansão Figner – casarão centenário que foi residência do empresário considerado o pioneiro da indústria fonográfica no Brasil, Frederico Figner.

A proposta do espaço cultural localizado no bairro do Flamengo, além de apresentar uma série de manifestações artísticas, foi publicizar o acervo de obras de arte do Sesc RJ. São mais de 500 peças que estão sendo recuperadas e tornadas públicas por meio de diferentes recortes curatoriais – entre eles a exposição “Notícias do Brasil”.

Com curadoria de Marcelo Campos e Pollyana Quintella, “Notícias do Brasil” é composta por 48 gravuras através das quais é possível perceber um Brasil de forte tradição popular, nas festas, nas relações interétnicas, nas vendedoras de tabuleiro, nas janelas e sacadas dos sobrados coloniais.

“Carybé, Cícero Dias e Glauco Rodrigues noticiaram um Brasil por entre as frestas das janelas, nas praças públicas, nas festas de largo. E, assim, escancararam singularidades étnico-raciais, tanto em personagens quanto nos fatos culturais que vão das tradições afro-religiosas, do catolicismo popular à prostituição. Esses artistas perceberam que o país do futuro já se desenhava pelos avessos da história. Seus heróis advêm do povo. Seus afetos se revelam através das janelas, nos interiores das casas. Suas praças são repletas de comércios informais, vendedoras de acarajé, na compra e venda do pescado”, reflete Marcelo Campos.

 

Bandeiras&Cores

31/ago

Depois de passar por São Paulo, Vaduz (capital de Liechtenstein), Bruxelas, Búzios e mais recentemente Guajiru e Fortaleza, o projeto “Bandeiras e Cores Entre Nós” chega ao Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, onde vai reunir 36 bandeiras customizadas por artistas de várias procedências. Mantendo sua vocação itinerante, o evento tem como proposta levar as obras a galerias e espaços culturais que ultrapassam as fronteiras continentais, levantando bandeiras – literalmente – como mobilizadoras sociais e vitais em diferentes formatos, com temas atuais e de relevância para o país.

Selecionados através de uma convocatória, já estiveram presentes mais de 120 profissionais, residentes em diferentes regiões do Brasil do exterior. A realização é da Arte2 Produtora, representada pela artista plástica e curadora Angela de Oliveira junto com a galerista, fotógrafa e curadora Ana Arcioni, que assinam e dirigem o projeto. Nesta edição, elas contam com a colaboração da também artista plástica Renata Costa, que se une a elas na co-curadoria.

Sobre as obras

Cerca de 36 bandeiras em tecido de voal, medindo 2,50 por 1.,0 cm, ocuparão o espaço expositivo, impressas e costuradas em varão de madeira e fixadas nos perfis metálicos existentes no teto por fios de nylon, conferindo leveza e fluidez às obras, cujo tema é livre.

 

Entre os artistas confirmados, estão Acácio Pereira, Ara Vilela, Carla Barros, Carlos Sulian, Cati Alionis, Colenese, Cristhina Bastos, Cristina Pacheco, Deborah Netto, Emanuelle Calgaro, Francisco Ivo, Gray Portela, Gualton Remo, Gui Brescia, Henrique Diogo, Hermano Cananea, India Prado, Jansen Vichy, Josephine Di Giovanna, Ju Moraes, Justina D´Agostino, Lenny Lopes, Marcia Fontenelle, Mari Pereira, Miguel Nader, Miriam Gonçalves, Paula Loraine, Renata Costa, Ricardo Massolini, Roberto Vamos, Rose Maiorana, Silvana Ravena, Soraya Boechat, Simone Bellusci, Tarso Sarraf, Thais Moraes e Valéria Oliveira.

 

Nova instalação de Siron Franco

A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, na Universidade de São Paulo (USP), inaugura a exposição “Garimpo, o carvão e o ouro”, de Siron Franco. O evento de abertura será às 18h desta quinta-feira (31/8), na capital paulista.
Conhecido por entrelaçar arte com temas sociais e políticos, Siron Franco traz uma coletânea de trabalhos atualíssimos que abordam as riquezas e desafios daAmazônia.

Sob a curadoria de Luiz Armando Bagolin, com o auxílio de Fabrício Reiner e em parceria com a galeria Almeida & Dale, a exposição promete ser uma experiência única e imersiva. A exposição segue até 03 de novembro.

 

O legado de Emanoel Araujo

30/ago

 

Texto de apresentação da Galeria Jack Shainman que agora representa o legado de Emanoel Araujo!

 

A Galeria Jack Shainman tem a honra de anunciar a representação do Espólio de Emanoel Araújo e a próxima exposição Emanoel Araújo. Esta não será apenas sua apresentação de estreia na galeria, mas também o primeiro grande levantamento de sua obra em Nova York desde os anos 1980. O falecido artista, curador e colecionador brasileiro teve uma carreira que desafiou qualquer categorização; Emanoel Araújo forjou plataformas pessoais e públicas para expressar as nuances da vida e da cultura afro-brasileira – repensando as filosofias da estética moderna, criando espaço para artistas marginalizados exibirem seus trabalhos e preservando a história material de sua herança ancestral em uma época anterior à cultura afro-brasileira. vozes foram defendidas por audiências regionais ou internacionais.

 

Sobre o artista

 

Nascido em 1940 em Santo Amaro da Purificação, Bahia, em uma família modesta de ourives afro-brasileiros, a adolescência de Araújo orbitou a produção criativa – ao longo de sua juventude trabalhando tanto com o marceneiro e entalhador Eufrásio Vargas quanto como designer gráfico para sua Imprensa Oficial da cidade natal. Após sua primeira exposição individual em Santo Amaro da Purificação, em 1959, matriculou-se na Escola de Belas Artes da Bahia, em Salvador. Ainda na escola, estudou gravura – na linha de seus predecessores modernos e contemporâneos Lygia Clark, Hélio Oiticica e Lygia Pape – desenvolvendo uma prática orientada para a expressão comunitária e a abstração geométrica. Desde o início, Emanoel Araújo se preocupou em trabalhar com mídias gráficas e tridimensionais, divergindo da apropriação da abstração da tradição colonial européia – visualizando o Modernismo nascido de um contexto singularmente brasileiro e compreendendo a capacidade da abstração de inflamar o poder político e a transformação social.

 

O trabalho de Araújo funciona em múltiplos registros, mesclando a linguagem formal desenvolvida em seus estudos, o abraço sem remorso de sua identidade queer, negra e brasileira e as intrincadas ideologias de sua vida como curador e colecionador de arte e artefatos afro-brasileiros. Com figuras simplificadas, estruturas primárias e palatos de alto contraste, suas gravuras, relevos e esculturas são montagens de referência: um mosaico de sua criação na capital afro-brasileira, traumas herdados do comércio transatlântico de escravos no Brasil, padrões nigerianos e beninenses têxteis e símbolos iorubás dos espíritos dos orixás. Embutida em seu trabalho está uma crioulização, reunindo segmentos de obras anteriores e objetos encontrados que cortam, interferem, refratam no plano da imagem – refletindo a grande dimensão da sociedade em camadas do Brasil; celebrando a vida cotidiana além dos epicentros internacionais do Rio de Janeiro e desmantelando o racismo sistêmico de dentro do estúdio e da instituição para promover, exibir e colecionar seu trabalho e o de outros artistas afro-brasileiros.

 

No centro da carreira criativa e profissional de Emanoel Araújo estava a ambição de desafiar a si mesmo e ao seu país para superar as adversidades e imaginar uma sociedade mais inclusiva através da arte, em vez de se contorcer ao mercado ou ao establishment. Ao longo de sua vida, suas realizações incluíram transformar a Pinacoteca de São Paulo em um museu de renome internacional, fundar a primeira instituição estabelecida por artistas no Brasil dedicada a promover o trabalho de artistas negros (Museu Afro-Brasil) e acumular um arquivo de cerca de seis mil objetos e quatro mil documentos da diáspora afro-brasileira. Emanoel Araújo era um visionário, afirmando corajosamente sua presença criativa de uma forma grandiosa, totêmica e vibrante; sua vida compreende um retrato de uma nação e geração, e as infinitas complexidades dentro delas.

 

Luiz Hermano no Recife

29/ago

 

A exposição “Vinte Palavras Girando ao Redor do Sol”, individual de Luiz Hermano sob curadoria de Walter Arcela é o atual cartaz da Amparo 60, praia de Boa Viagem, no Recife, PE.

A palavra do curador

“Luiz Hermano @luizhermanof é um artista da síntese. As obras selecionadas nesta exposição estruturam-se a partir da seriação geométrica, do apinhamento e da reiteração de um mesmo elemento, deslizado da sua função original, mas nunca da sua forma. Os elementos combinados são entrelaçados por simples arames de cobre e, em algumas ocasiões, um mesmo fio é o elo do todo da estrutura. Essa delimitação consciente de materialidades e recursos da feitura nos rendeu o mote curatorial, a partir do qual friccionamos a poesia do pernambucano João Cabral de Melo Neto com a poética de Luiz Hermano, percebendo em ambos a tendência do que o primeiro escreveu no poema: “Falo somente com o que falo: / com as mesmas vinte palavras/ girando ao redor do sol.” (1961)”

Visitação: Até 30 de setembro

Duas exposições na Fundação Iberê Camargo

18/ago

No dia 26 de agosto, a Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura a exposição “Palavras cruzadas, sonhadas, rasgadas, roubadas, usadas, sangradas”, do fotógrafo multimídia, artista plástico e cineasta, Miguel Rio Branco. Organizada pelo próprio artista e por Thyago Nogueira, coordenador da área de Fotografia Contemporânea do Instituto Moreira Salles (IMS) e editor da revista ZUM, “Palavras” foi vista no IMS São Paulo (2020) e IMS Rio de Janeiro (2022-23). São 127 obras que mostram a vivência de Miguel Rio Branco pelas cidades por onde andou, com as pessoas com quem cruzou e os ambientes que explorou, de uma maneira muito particular de escrever com imagens. “Vejo que a maior parte da população é marginal. Eu fui atraído por umas situações humanas que me chocavam e que, ao mesmo tempo, me atraíam porque havia uma força vital ali de resistência”, diz o artista. Para Thyago Nogueira, “É possível dizer que Miguel Rio Branco dedicou sua carreira a construir uma elegia da experiência urbana e coletiva, encenada pelas pessoas que cruzaram seu caminho. Rever suas obras hoje é perceber a potência que desperdiçamos e lidar com um sentimento profundo de melancolia. Mas é também encarar nossas contradições com uma nitidez atordoante e abrir-se à oportunidade corajosa de entender como chegamos até aqui. Múltiplas e mutantes, essas obras cruzadas ecoam não apenas o pensamento original do artista, mas uma nova e perturbadora sinfonia”.

Um artista pleno

A fotografia só como documento nunca interessou a Miguel Rio Branco. As referências que o tornaram um dos maiores nomes da fotografia e da arte contemporânea brasileira vêm quase sempre da pintura e do cinema. Conhecido por seu trabalho com a cor, o ponto principal da sua obra é justamente a construção. Em 1983, por exemplo, a 17ª Bienal de São Paulo apresentou, pela primeira vez, a instalação “Diálogo com Amaú”, uma projeção de imagens de um índio caiapó, o Amaú, em diálogo com imagens de sexualidade e morte advindas de outros trabalhos, ao som de um ritual na Aldeia Gorotire, no sul do Pará. Esta instalação foi um marco em sua carreira, onde fica perceptível a força que a imagem em movimento, a música e a montagem têm em sua trajetória. “Palavras cruzadas, sonhadas, rasgadas, roubadas, usadas, sangradas” começa nos anos 1970, por um momento pouco conhecido do artista, quando Miguel Rio Branco se muda para Nova York. Ele pega uma câmera e começa a fazer as primeiras fotografias em preto e branco, algo raro em seu trabalho, ao redor do bairro boêmio East Village e da Rua Bowery, onde conviveu ao lado de artistas como Antonio Dias (1944-2018), Hélio Oiticica (1937-1980) e Rubens Gerchman (1942-2008). Miguel Rio Branco tocava na ferida, registrando os contrastes sociais das metrópoles e a exclusão dos marginais. A mostra avança para trabalhos mais conhecidos, mas com imagens novas, quando o artista viaja pelo interior do Brasil na tentativa de elaborar uma síntese da identidade brasileira através da fotografia. Depois caminha para notórias obras, como a série dos boxeadores da Academia Santa Rosa, na Lapa, Rio de Janeiro, onde Miguel Rio Branco fotografou com uma câmera analógica de médio formato. São imagens mais calmas, mais paradas e mais contemplativas, diferente das em 35 milímetros do começo da carreira, com uma velocidade intensa. A exposição vai mostrando a mudança para uma fotografia mais pictórica, o que ele fez mais recentemente. Imagens que possuem bastante textura, jogo de luzes, elementos muito simples, mas com uma força expressiva muito grande. “Gosto de dizer que esta exposição é uma espécie de antirretrospectiva. Apesar de tentar traçar o desenvolvimento complexo da linguagem do Miguel Rio Branco, tudo que aparece foi montado para este projeto”, afirma Thyago Nogueira.

Sobre o artista

A bagagem genética. Filho de diplomatas, bisneto do Barão de Rio Branco e tataraneto do Visconde de Rio Branco por parte de pai, a genética bateu forte para o lado materno. Miguel Rio Branco é neto de J. Carlos (1884-1950), um dos maiores caricaturistas e cronistas de costumes do início do século 20 no Rio de Janeiro, a quem Miguel dedicou o catálogo desta exposição no Instituto Moreira Salles. Nasceu em 1946 e viveu até os três anos de idade em Las Palmas de Gran Canarias, na Espanha, de onde partiu e passou a infância entre as cidades de Buenos Aires, Lisboa e Rio de Janeiro.  Entre os anos 1961 e 1963, morou na Suíça, onde estudou e desenvolveu os primeiros trabalhos como ilustrador de um jornal local e cenografia de uma peça teatral. Em 1964, envolvido pelo desenho e pela pintura, realizou a primeira exposição “Paintings and drawings”, na Galeria Anlikerkeller, em Berna. Neste mesmo ano, mudou-se com os seus pais para Nova York, onde fez um curso básico de fotografia no New York Institute of Photography. A partir de então, realizou uma série de fotografias nas ruas desta cidade que serviram, principalmente, como colagens em suas pinturas. Em 1972, com a morte de sua mãe, Miguel Rio Branco retornou ao Rio de Janeiro e dedicou-se, principalmente, ao cinema, trabalhando, ao longo desta década, como diretor de fotografia e câmera. Dirigiu 14 curtas-metragens e fotografou oito longas. Ganhou o prêmio de melhor direção de fotografia por seu trabalho em “Memória Viva”, de Otavio Bezerra, e “Abolição”, de Zozimo Bulbul, no Festival de Cinema do Brasil de 1988. Também dirigiu e fotografou sete filmes experimentais e dois vídeos, incluindo “Nada levarei quando morrer aqueles que mim deve cobrarei no inferno”, que ganhou o prêmio de melhor fotografia no Festival de Cinema de Brasília e o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio da Crítica Internacional no XI Festival Internacional de Documentários e Curtas de Lille, França, em 1982. Em 1980, tornou-se correspondente da Magnum Photos. Como registrado no site da empresa, “Miguel Rio Branco, fascinado por lugares de forte contraste, na força das cores e da luz tropical, fez do Brasil sua principal área de exploração.” Em 1985, publicou “Dulce Sudor Amargo”, livro em que traçou um paralelo entre o lado sensual e vital de Salvador, Bahia, e o lado histórico da cidade, que na época (1979) era habitada por prostitutas e marginais. É um ensaio sobre a vida e a morte, sobre as cicatrizes deixadas pelo tempo e pela vivência. Em 1996 veio “Nakta”, uma publicação que explora o tema do bestiário no homem e no animal, seguido de um projeto visual e poético alimentado por um feliz encontro com o poema “Nuit Close”, de Louis Calaferte, colaboração que ganhou o Prix du Livre Photo.  “Silent Book” (1997) trouxe quadros de corpos e espaços afetados pelo tempo; a decrepitude é ampliada pela luz, e a carne ferida, o envelhecimento e a morte assombram a obra por meio de cores terrosas e vermelho-sangue. Já em “Miguel Rio Branco” (1998), Lélia e Sebastião Salgado escreveram no posfácio: “Miguel Rio Branco usa a cor como um pintor e a luz como quem faz cinema.” O livro “Entre os Olhos o Deserto” (2001) aponta uma evolução para uma forma híbrida, usando imagens de fotografias e vídeos extraídos dos filmes experimentais do artista. Da mesma forma, suas exposições funcionam como instalações, conceito crucial para o seu trabalho, pelo qual – sem descurar a importância da imagem única – criar um discurso através das imagens é o objetivo final. A publicação e a exposição “Plaisir la douleur” (2005) confirmam isso. “Você Está Feliz?” (2012) explora diferentes possibilidades de felicidade e de infância, sem excluir os aspectos difíceis do crescimento e do ambiente em que o ser humano se desenvolve. Miguel Rio Branco se distancia de uma concepção romântica, provocando o leitor a refletir sobre os significados atribuídos à felicidade. Em “Maldicidade” (2014), o artista reúne, em fotografias, cenas urbanas de metrópoles de diversas partes do mundo – Japão, EUA, Brasil, Cuba, Peru -, captadas entre 1970 e 2010, abordando o isolamento dos marginalizados das grandes cidades.

Até 12 de novembro.

Afonso Tostes: a arte no desequilíbrio para destacar a fragilidade da vida.

“A realização da escultura, na maneira de trabalho, passa pela tentativa de associar coisas naturais e misteriosas à previsibilidade humana. Busco naquilo que está morto alguma vida escondida. Assim a madeira, antes árvore, deixa de ser apenas material, e, pelo esforço físico, se torna escultura e campo de reflexão. Não obstante, tento encontrar beleza na poética mais simples possível”, afirma Afonso Tostes.

Também no dia 26 de agosto, a Fundação Iberê Camargo abre a exposição “Afonso Tostes – Ajuntamentos”. Nos 25 trabalhos, a maioria esculturas feitas em madeiras e troncos de árvores, observa-se uma produção irrequieta. Esculturas, pinturas e desenhos que nunca se acomodam no lugar comum; as peças dialogam com os espaços.   Conhecido por suas grandes instalações, Afonso Tostes resgata as histórias preliminares dos materiais, principalmente a madeira, expõe e transforma suas narrativas, de acordo com uma sensível reconstrução no espaço expositivo, ou mesmo com a ressignificação de objetos, como ferramentas e utensílios de trabalho.  “Trabalho sobre o que já existe, o que encontro por aí, materiais que sofreram a interferência da mão humana e do tempo. Me interessa a relação do homem com seu entorno, com a natureza. Não falo apenas da relação com o meio ambiente, mas também das relações pessoais, das nossas expressões visíveis e invisíveis”, explica Afonso Tostes. No livro “Entre a cidade e a natureza”, Daniel Rangel, curador-geral do Museu de Arte Moderna da Bahia, descreve muito bem o espírito livre de um dos principais escultores brasileiros, que tem a cultura de um país e seu povo como inspiração: “Capoeirista, homem do mar, do orixá e do fazer manual, Afonso Tostes utiliza em seu trabalho as mesmas ferramentas que os artesãos, carrega o popular em si mesmo, em suas experiências e nos caminhos que decidiu trilhar. (…) Interessa-se mais pela troca com o grupo e pela riqueza cultural que pelos lugares em si. Apesar de executar suas esculturas por meio da observação, em caminhada pela cidade e na natureza, seu assunto principal é o ser humano. Suas obras revelam pessoas, muitas vezes, invisíveis na sociedade (…) Seus olhos pensam e emite mensagens, e, muitas vezes, precisamos estar livres para entender essa comunicação aberta exuniana. Rompe as estruturas com suas mãos, que curam com sua arte. Prazer, alegria, sensibilidade, emoção, um se dar constante com as diversas linguagens que ele expressa com sua mente plural”. Ainda menino, Afonso Tostes tomou gosto pelas viagens, transitando entre Belo Horizonte, onde nasceu em 1965, e fazendas no interior de Minas Gerais. Contemplador das porteiras e árvores, currais e cavalos, desenvolveu interesse pela investigação da natureza e sua relação com o homem.  Desde sempre, demonstrou aptidão para o desenho, aprimorada na Escola Guignard, principal instituição formadora de artistas em Minas Gerais e onde teve o primeiro contato com as tintas. Em 1987, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu os estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage com Carlos Zílio, Charles Watson e Daniel Senise. Das amizades que fez com artistas, críticos e curadores veio o primeiro trabalho como assistente de Antonio Dias e como cenógrafo para teatro e televisão. Sua obra é marcada por influências brasileira e internacional, que vão da arte contemporânea ao fazer livre e espontâneo, em que o belo não é uma construção teórica, mas uma vontade simples do ornamento, uma necessidade fundamental. Atualmente, sua obra figura em coleções como MAM-RJ (Brasil), MAM-BA (Brasil), MAC Niterói (Brasil), Fondation Cartier pour l’Art Contemporain (França) e Coleção SESC de Arte (Brasil).

Até 22 de outubro.

As cores de Marcus Vinicius

16/ago

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, apresenta, entre 19 de agosto e 30 de setembro, “Quem tem medo do vermelho, amarelo, azul e de outras sessenta e três cores?”, segunda exposição de Marcus Vinicius no endereço de São Paulo. O título da mostra faz referência à icônica série “Who’s Afraid of Red, Yellow and Blue” de Barnett Newman, cujo trabalho com as cores primárias em estruturas sumárias também tem sido explorado por Marcus Vinicius em sua investigação na pintura desde os anos 1990.

“Quem tem medo do vermelho, amarelo e azul e de outras sessenta e três cores?” reúne 6 obras, sendo uma delas formada por um conjunto de 66 pinturas nomeadas pelo artista de “pinturas do avesso” que apresentam as cores utilizadas por ele ao longo de seus 25 anos de trabalho. Intitulada de “Catálogo” (2023), a obra segue uma ordem de funcionamento particular, cujos critérios de composição e display se estabelecem a partir de uma leitura analítica e retrospectiva de sua produção. As pinturas em tinta automotiva sob vidros, montadas com perfis de alumínio anodizado, são distribuídas em 6 fileiras horizontais, em quadros de 3 tamanhos diferentes: 50×50 cm, 50×70 cm e 50×100 cm. A variação das dimensões está associada à frequência do uso das cores ao longo da produção do artista. Elas estão distribuídas na parede não por um critério estético, mas pela ordem em que aparecem no catálogo de cores industriais.

Além de “Catálogo” (2023), obra que ocupa toda a extensão de uma das paredes da galeria, medindo 4,5 X 9 m, a mostra apresenta outros 5 trabalhos inéditos de uma nova série chamada “Aparelhos Analíticos”, sendo 4 deles de grandes dimensões, também realizados com tinta automotiva, técnica utilizada pelo artista pela primeira vez. Marcus Vinicius experimenta as possibilidades da pintura industrial para dar continuidade a sua pesquisa sobre a cor e os efeitos ópticos causados pela interação entre a superfície espelhada e transparente do vidro e a superfície opaca da madeira.

Marcus Vinicius é licenciado em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e inicia sua participação em exposições no Brasil no início dos anos 1990. A partir da ideia de “Estrutura quadro”, conjunto de regras criadas por ele mesmo para guiar o seu processo de produção, Marcus Vinicius explora as propriedades de materiais e cores industriais. Seus quadros dialogam com o universo da indústria, sem, no entanto, estarem de todo entregues a ele. Regidos pela ordem da produção modular em série, esses trabalhos podem se apresentar, inicialmente, impessoais e herméticos, mas, sob um olhar mais atento, revelam a complexa relação entre os seus elementos. Sua feitura é, desde o início, administrada por uma inteligência do sensível: as formas, combinações de cores e variação de materiais são cuidadosamente escolhidas e pensadas por Marcus Vinicius, que, em um tempo bem menos acelerado que o da indústria, os articula na busca pelo ajuste de uma química interna do quadro.

O vidro, por exemplo, é convocado por sua propriedade reflexiva e pela dúvida que seu efeito óptico pode gerar à visão do observador. Não se trata da transparência pura e simples, mas sim da opacidade, das artimanhas visuais. Por outro lado, o uso da tinta sobre madeira em cores tão frequentemente observadas no cotidiano da cidade criaria um terreno seguro para a visão – estaríamos certos do que nosso olho vê -, mas o atrito entre cores distintas acaba por gerar alguma vertigem, terceiras cores que são percebidas só virtualmente. Marcus Vinicius está interessado pela pintura, por aquilo que pode acontecer no espaço bidimensional, mas também por aquilo que pode ser gerado na terceira dimensão. Não somente seus efeitos ópticos, mas suas experiências físicas, através dos suportes geométricos em madeira ou alumínio construídos por ele mesmo em sua oficina.

No Centro Cultural Correios

O Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até o dia 16 de setembro, a exposição “Fronteiras Abertas” que consiste em três exibições individuais simultâneas dos artistas Fábio Carvalho, Luiz Badia e Osvaldo Carvalho, com curadoria de Sonia Salcedo del Castillo. “Fronteiras Abertas” reuniu artistas que têm uma grande conexão de estilo e linguagem entre seus trabalhos. O elo de ligação é uma obra figurativa baseada em elementos simbólicos envolvidos numa abstração lírica e estilizada. Uma corrente da arte contemporânea que assimila aspectos da Pop Art e do Surrealismo, ao mesmo tempo flertando com a Urban Art.

A palavra da curadoria

Os três artistas em suas exposições abrem, literalmente, suas fronteiras numa simbiose que alarga sua conexão, criando assim um corpo só, falando de meio ambiente e brinquedos da infância, que promovem uma reflexão acerca da existência humana, a partir do confronto entre perene e efêmero. À maneira lúdica, tal abordagem – expandida em formas, palhetas, faturas, traços, suportes e meios diversos -, é carregada de valores simbólicos e alegóricos, através dos quais conduzem à indagações em torno da urgência de clareza e equidade à melhoria da condição humana. Embora cada artista se valha de recursos poéticos distintos, operam retóricas subjetivas de maneira coesa. Em todos eles, formas e imagens pré-existentes são reunidas em miríades de escritas possíveis. Relacionada ao conceito de cultura da imagem e seu poder manipulador da massa social, “Fronteiras Abertas” é uma exposição que flerta sonho e realidade por meio de montagens, nas quais se aplicam todos os procedimentos alegóricos, implicados no modus operandi da vida nos dias atuais.

Sua mensagem foi enviada com sucesso!