Onze artistas na Casa Roberto Marinho

04/dez

A exposição de obras múltiplas criadas por onze artistas contemporâneos e suas concepções específicas sobre o tema “Jardim”, é o atual cartaz da Casa Roberto Marinho, Cosme Velho, Rio de Janeiro, RJ. Em exibição obras assinadas por Maria Bonomi, Carlos Carvalhosa, Angelo Venosa, Vânia Mignone, Paulo Climachauska, Hilal Sami Hilal, Suzana Queiroga, Iole de Freitas, Regina Silveira, Luciano Figueiredo e Beatriz Milhazes.

 

A palavra do curador

 

O Instituto Casa Roberto Marinho, centro de referência do modernismo brasileiro, estrutura-se no tripé casa, coleção e jardim. No ano de sua abertura como espaço cultural, em 2018, dez artistas contemporâneos foram convidados para realizar impressões sobre o tema “Casa”. Em 2019, onze artistas criaram múltiplos sobre o jardim, nesta exposição que ora apresentamos.

 

Stella e Roberto Marinho dedicaram especial atenção ao parque vegetal em torno da residência. Uma versão, parcialmente executada, foi a de Attilio Corrêa Lima – expoente moderno, precocemente desaparecido em acidente aéreo na inauguração de sua estupenda Estação de Hidroaviões, hoje sede do Clube da Aeronáutica. O projeto definitivo do Jardim do Cosme Velho é de Roberto Burle Marx, numa das primeiras obras em terrenos particulares de sua autoria. A área verde, situada em uma franja da Floresta da Tijuca, funciona como transição da mata, sem pretensão de submetê-la a um ordenamento rígido. Trata-se de um jardim para ser vivenciado, e não apenas olhado como ornamento. O paisagista utilizou ali espécies nativas, as quais, até então, eram relegadas aos quintais nos fundos das residências. A Casa do Cosme Velho é, nesse sentido, um exemplo precoce e bem-sucedido do paisagismo tropical, que viria a notabilizar nosso expoente maior. Nos anos 1980, Isabel Duprat conduziu a renovação da área verde seguindo, em sua quase totalidade, os registros de Burle Marx.

 

Os múltiplos aqui expostos, além da qualidade artística intrínseca, trazem o interesse das concepções específicas de nossos convidados sobre o tema “Jardim”: lugar de memória, afirmação do homem sobre a natureza, referências literárias, oníricas, local da infância, afetos ou das representações da arte ao longo dos tempos… O espectador encontrará objetos, xilogravuras e serigrafias individualmente interferidas, assim como as matrizes, registros do processo e das reflexões de cada artista. Um mergulho nos jardins concretos e imaginários de cada um.

 

Lauro Cavalcanti

Diretor-Executivo
Instituto Casa Roberto Marinho

 

Milhazes em NY

13/ago

A Fortes D´Aloia & Gabriel, anuncia a presença da artista visual Beatriz Milhazes, em segmento à sua vitoriosa projeção internacionalq que estará, a partir de 15 de agosto e até novembro, com “Aquarium”, na Cartier, Hudson Yards.

 

#tbt na Carpintaria

25/jun

A Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a mostra coletiva #tbt com seleto elenco de artistas da cena contemporânea nacional como Adriana Varejão, Barrão, Beatriz Milhazes, Carlos Bevilacqua, Erika Verzutti, Ernesto Neto, Iran do Espírito Santo, Jac Leirner, Janaina Tschäpe, Leda Catunda, Lucia Laguna, Luiz Zerbini, Mauro Restiffe e Valeska Soares.

 

De acordo com a linguagem do Instagram, a hashtag #tbt – sigla para “throwback thursday” ou em tradução livre “lembrança de quinta-feira” – é utilizada para legendar imagens que datem de algum momento do passado, seja ele longínquo ou recente. A exposição toma este deslocamento temporal como mote para reunir obras realizadas entre a década de 80 e o início dos anos 2000, investigando as diferentes poéticas e temáticas presentes no limiar da produção dos artistas que integram o conjunto. O impulso de lançar um olhar retroativo ao presente evoca o famoso quote do teórico canadense Marshall McLuhan: “olhamos o presente através de um espelho retrovisor, marchamos de costas em direção ao futuro”.

 

Na ocasião da abertura, a Editora Cobogó promove o lançamento do livro de Carlos Bevilacqua no Rio de Janeiro, monografia que percorre os 30 anos de carreira do artista carioca através de reproduções de obras, estudos e anotações. A publicação conta com introdução do próprio artista, depoimentos de colegas, texto crítico de Paulo Sergio Duarte e entrevista concedida a Luiz Camillo Osorio.

 

De 27 de junho a 27 de agosto.

 

 

Pinturas de Lucia Laguna no MASP

14/dez

Entra em exibição noMASP, Paulista, São Paulo, SP, exposição individual de pinturas de Lucia Laguna. A paisagem é o ponto de partida para as pinturas da  artista nascida em 1941, em Campos dos Goytacazes, RJ. Atualmente Lucia Laguna vive no Rio de Janeiro. Dos arredores de seu ateliê, no bairro de São Francisco Xavier, subúrbio do Rio de Janeiro, a artista extrai o vocabulário de formas, de cores e de imagens que vão compor suas pinturas. Laguna passou a dedicar-se à pintura depois de se aposentar como professora de literatura portuguesa e latina, e frequentar os cursos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, nos anos 1990. A artista buscou na janela de sua casa-ateliê – com vista para o morro da Mangueira – a paisagem, os modos de construção e a arquitetura do subúrbio para definir sua maneira de pintar.

 
Esta exposição reúne 21 obras da produção recente da artista realizadas entre 2012 e 2018, e dos três principais temas trabalhados por ela: Jardins, Paisagens e Estúdios. Parte desta mostra é composta pelas “Paisagens” que Lucia Laguna realizou tendo como tema bairros da Zona Norte do Rio de Janeiro. Com essas obras, a artista propõe outro imaginário do subúrbio carioca, incorporando sua experiência e memória. Nesta série, a artista expande sua “vizinhança” para o espaço do museu: em uma tela realizada especialmente para esta mostra – Paisagem nº114 (MASP) (2018) -, a artista absorve os objetos de seu ateliê, as plantas do jardim de sua residência, elementos arquitetônicos do edifício do MASP e das obras da coleção do museu.

 

Ao visitar o ateliê de Lucia Laguna percebe-se uma extensa lista de artistas fixada em uma das paredes, na qual constam nomes canônicos da história da arte ocidental, como Paolo Uccello, William Turner, Paul Cézanne, Henri Matisse, Pablo Picasso, mas também artistas contemporâneas como Beatriz Milhazes e Paula Rego. Ao definir esses artistas como sua “família artística” e viver diariamente com essas referências em seu ateliê, Laguna os traz para o convívio com o morro da Mangueira, com o barulho do trem, com os muros de contenção dispostos nos “pés” da favela, com a trepadeira que cresce no jardim e invade o estúdio, com os passarinhos que entram pela janela – enfim, com toda essa simultaneidade de camadas que compõem o subúrbio e a natureza do quadro de Lucia Laguna. A exposição “Lucia Laguna: vizinhança” tem curadoria de Isabella Rjeille, assistente curatorial do MASP.

 

 

Até 10 de março de 2019.

Novo livro de Beatriz Milhazes

05/dez

A Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, lança o livro “Beatriz Milhazes Colagens”, pela Editora Cobogó. Durante o evento – 05 de dezembro – 19hs – , uma conversa entre a artista e a curadora Luiza Interlenghi. É a primeira monografia dedicada às colagens da artista. A edição conta com organização e ensaio crítico de Frédéric Paul, curador do Centre George Pompidou, e entrevista realizada por Richard Armstrong, diretor do Guggenheim Museum de Nova York.

 

Durante uma residência na Bretanha, em 2003, Beatriz Milhazes ofereceu chocolates e doces para a equipe do centro de arte, pedindo que cada um lhe devolvesse os papéis das embalagens depois de comerem. Em sua mala, ela já havia trazido do Brasil toda uma seleção de embalagens. Foi desse modo que a artista iniciou um novo projeto: o de colagens.

 

Até então, a colagem era, para Beatriz, uma atividade secundária, uma espécie de rascunho das pinturas. “Ajudou a desenvolver minha linguagem sobre pintura apenas com tinta, desenhos originais criados por mim mesma, mantendo a intensidade, a lealdade das cores. Eu podia justapor e conferir as imagens antes de colá-las na tela, e também a textura da superfície era lisa”, relembra Milhazes.

 

Com o tempo, a técnica das colagens foi ganhando um rumo próprio e destaque dentro do atelier de Milhazes. “Existe uma troca muito interessante entre minhas colagens em papel e minha pintura. Cada processo tem seu próprio tempo e suas necessidades. Só precisamos ouvir”, explica a artista em entrevista dada a Richard Armstrong publicada no livro.

 

“As colagens têm uma espécie de diálogo com um diário imaginário. Os papéis colecionados vêm de uma variedade de interesses: às vezes é uma atração estética, em outras são parte de uma rotina, como embalagens de chocolate ou recortes que sobraram de impressões existentes. Por isso a construção da composição da colagem cria um diálogo que só existe na colagem”, afirma a artista.

 

Para o organizador do livro, o curador do departamento de arte contemporânea do Centre George Pompidou, Frédéric Paul, ao utilizar ingredientes descartáveis para suas colagens, Milhazes enfatiza a aceleração dos ciclos do gosto artístico. “A futilidade da guloseima e das compras são a expressão da fútil versatilidade dos indicadores de tendências. São também, seguramente, a expressão da presumida futilidade decorativa. A obra de Milhazes possui a extraordinária complexidade das coisas simples, e nos coloca diante de uma estonteante evidência plástica”, conclui Paul.

 

 

Beatriz Milhazes, Colagens
Editora Cobogó 2018
Organização: Frédéric Paul
Textos: Frédéric Paul e Richard Armstrong
Português/Inglês Capa dura
240 páginas 20 x 24 cm
ISBN: 978-85-5591-064-7
Preço de capa: R$ 125,00

Nova Gravura

06/jun

O Museu da Chácara do Céu, Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, terça-feira, dia 06 de junho, a exposição “Análise Aleatória”, de Felipe Barbosa com o lançamento da obra inédita do artista para o projeto “Os Amigos da Gravura”. Além da tradicional gravura e da mostra nas salas de exposições temporárias, Felipe Barbosa ocupará as demais dependências do museu com intervenções site specific na sala de jantar, na biblioteca e no jardim. O evento faz parte da programação comemorativa dos 200 anos de museus no Brasil.

 

Segundo o curador da mostra, Julio Martins, “esta é uma exposição pensada em termos site-specific: além do espaço expositivo, foram dispostos vários trabalhos de Felipe Barbosa que dialogam com as salas do Museu. Assim, a memória do passado é mobilizada por um artista que se vale de objetos bastante sintomáticos de nossa cultura urbana contemporânea. Há nesta montagem de temporalidades um notável contraste entre o valor histórico e consagrado do acervo em contágio com apropriações de objetos absolutamente banais, o que propõe reativar camadas de significado mútuas, na urgência do presente, e em atrito”, explica.

 

O trabalho para o projeto Os Amigos da Gravura –  normalmente uma tiragem exclusiva para o museu de 50 exemplares – desta vez será constituído de peças únicas. Usando 14 cores diferentes e consequentemente 14 opções de “passadas”, Felipe produzirá 50 exemplares únicos utilizando as diversas possibilidades combinatórias do processo de serigrafia. “Em vez de repetir, eu modifico a ordem das cores, como numa análise aleatória e combinatória”, informa  artista.

 

A exposição fica em cartaz até 18 de outubro e as gravuras podem ser adquiridas diretamente no museu.

 

 

 

Sobre o artista

 

Felipe Barbosa nasceu em Niterói em 1978. É artista visual, mestre em Linguagens Visuais pela UFRJ, bacharel em Pintura pela Escola de Belas-Artes da UFRJ. Tem participado de importantes exposições no Brasil e no exterior, ressaltando-se as individuais Jardins Móveis no Museu Vale, Vila Velha e Belo Horizonte, 2017; Galería Blanca Soto, Madri, 2014; Cavalariças do Parque Lage, 2013. Entre as mostras coletivas pode-se destacar: Cap sur Rio, The Olympic Museum, Lausanne, 2016; The record: contemporary art and vinyl, Henry Art Gallery, Seattle, EUA, 2012; This is Brazil!, Kiosko Alfonso / Palexco, Espanha, 2012; Ya sé leer, Centro de Arte Contemporáneo Wilfredo Lam, Havana, 2011; Parangolé: fragmentos desde los 90 em Brasil, Portugal y Espanha, Museo Patio Herreriano, Valladolid, Espanha, 2008; Nova arte nova, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo, 2008; The beautiful game: contemporary art and football, Brooklyn Institute of Contemporary Art (Bica) e Roebling Hall Gallery, Nova York, 2006; Human Game.Winners and losers, Fondazione Pitti – Stazione Leopolda, Florença, Itália, 2006; InSite05 – Trienal Internacional, Tijuana/San Diego, EUA, 2005; Unbound: installations from seven artists from Rio, Parasol, Londres, 2003; MAD03 Centro Cultural Conde Duque, Madri, 2003; Caminhos do contemporâneo, Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2002; Rumos da nova arte contemporânea brasileira, Palácio das Artes, Belo Horizonte, 2002.

 

 

Sobre o projeto “Os Amigos da Gravura”

 

Raymundo Ottoni de Castro Maya criou a Sociedade dos Amigos da Gravura no Rio de Janeiro em 1948. Na década de 1950 vivenciava-se um grande entusiasmo pelas iniciativas de democratização e popularização da arte, sendo a gravura encarada como peça fundamental a serviço da comunicação pela imagem. Ela estava ligada também à valorização da ilustração que agora deixava um patamar de expressão banal para alcançar status de obra de arte. A associação dos Amigos da Gravura, idealizada por Castro Maya, funcionou entre os anos 1953-1957. Os artistas selecionados eram convidados a criar uma obra inédita com tiragem limitada a 100 exemplares, distribuídos entre os sócios subscritores e algumas instituições interessadas. Na época foram editadas gravuras de Henrique Oswald, Fayga Ostrower, Enrico Bianco, Oswaldo Goeldi, Percy Lau, Darel Valença Lins, entre outros.

 

Em 1992 os Museus Castro Maya retomaram a iniciativa de seu patrono e passaram a imprimir pranchas inéditas de artistas contemporâneos, resgatando assim a proposta inicial de estímulo e valorização da produção artística brasileira e da técnica da gravura. Este desafio enriqueceu sua programação cultural e possibilitou a incorporação da arte brasileira contemporânea às coleções deixadas por seu idealizador. A cada ano, três artistas plásticos são convidados a participar do projeto com uma gravura inédita. A matriz e um exemplar são incorporados ao acervo dos Museus e a tiragem de cada gravura é limitada a 50 exemplares. A gravura é lançada na ocasião da inauguração de uma exposição temporária do artista no Museu da Chácara do Céu. Neste período já participaram 44 artistas, entre eles Iberê Camargo, Roberto Magalhães, Antonio Dias, Tomie Ohtake, Daniel Senise, Angelo Venosa, Emmanuel Nassar, Carlos Zílio, Beatriz Milhazes e Waltercio Caldas.

 

 

A palavra do curador

 

Análise aleatória

 

Felipe Barbosa vem elaborando uma obra de singular visualidade e vontade construtiva na arte brasileira contemporânea. Em suas peças estabelece trânsitos semióticos e materiais por operações que conciliam rigor (do ponto de vista das escolhas de repertório geométrico em exemplares mundanos, das buscas por simetrias, por seu pensamento espacial e escultórico, suas práticas colecionistas, composições sofisticadas aliadas a procedimentos simples) com um sentido muito particular de apropriação de objetos industriais e elementos do mundo cotidiano, de bolas de tênis utilizadas para uma espécie de Action Painting lúdica; de bolas de futebol cujos gomos hexagonais são recosturados e estruturados de forma planar sob diversas propostas; de guarda-chuvas reunidos numa forma geométrica regular e impenetrável chamada “Abrigo”. O artista trabalha com métodos de recombinação e reestruturação de objetos por ele apropriados e inseridos numa reconstrução que é intuitiva e, igualmente, matemática e projetiva, sendo importante observar com Fernando Cocchiarale que “são trabalhos compostos a partir de modulação, inserção e montagem ditadas pela configuração formal dos objetos apropriados pelo artista. Por isso sua configuração geométrica final supõe, sobretudo, a experimentação concreta e não apenas a execução de projetos”. Felipe Barbosa seinteressa pela latência das coisas, afeiçoa-se a matérias ordinárias e investiga seusatributos formais inesperados, reestruturando sua inteligência compositiva.

 

Muitas dessas construções estabelecem diálogos com a história da arte e, portanto, motivam a interlocução com a arquitetura, os mobiliários, os acervos e, sobretudo, com as obras de arte da coleção da Chácara do Céu. Esta é uma exposição pensada em termos site-specific: além deste espaço expositivo, foram dispostos vários trabalhos de Felipe Barbosa que dialogam com as salas do Museu. Assim, a memória do passado é mobilizada por um artista que se vale de objetos bastante sintomáticos de nossa cultura urbana contemporânea. Há nesta montagem de temporalidades um notável contraste entre o valor histórico e consagrado do acervo em contágio com apropriações de objetos absolutamente banais, o que propõe reativar camadas de significado mútuas, na urgência

Raro Percurso – 52 anos da Galeria de Arte Ipanema

24/nov

A Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, abre no próximo dia 28 de novembro, às 19h, a exposição “Raro Percurso – 52 anos da Galeria de Arte Ipanema”, marcando a inauguração de sua nova sede em prédio com projeto arquitetônico de Miguel Pinto Guimarães. Dirigida por Luiz Sève e sua filha Luciana Sève, a Galeria de Arte Ipanema passará a ocupar o andar térreo e metade do primeiro andar da construção com quatro andares e dois subsolos, que abriga ainda três unidades destinadas a escritórios empresariais. Ao longo do período de exposição será lançado o livro “Raro Percurso – 52 anos da Galeria de Arte Ipanema”, pela Barléu, com texto do crítico Paulo Sergio Duarte, capa dura, formato de 21cm x 25cm, e 100 páginas. “Espero que um jovem que começa sua coleção, um jovem artista ou, mesmo, crítico possam ter uma ideia, embora tênue, do contexto em que nasce a Galeria de Arte Ipanema”, escreve Paulo Sergio Duarte. Para ele, o percurso de Luiz de Paula Sève no mercado de arte e de sua galeria é “coisa raríssima, para não dizer única no Brasil”.

 

Com atividades ininterruptas, a Galeria de Arte Ipanema volta assim ao seu tradicional endereço no número 27 da Aníbal de Mendonça, onde se instalou em 1972, e mostra nesta exposição inaugural de seu novo espaço sua íntima relação com a história da arte, e a força de seu acervo. Serão exibidas cerca de 60 obras de mais de 50 artistas de várias gerações e diferentes pesquisas, expoentes da Arte Contemporânea e do Modernismo, entre eles grandes mestres da Arte Cinética, do Concretismo e do Neoconcretismo. Junto a pesos-pesados da arte, a exposição também reunirá pinturas de artistas mais jovens, como a norte-americana Sarah Morris, conhecida por suas pinturas geométricas de cores vibrantes, inspiradas principalmente na arquitetura das grandes metrópoles – e os paulistanos Henrique Oliveira e Mariana Palma.

 

Em uma verdadeira festa para o olhar, a exposição se inicia com seis pinturas cinéticas da série “Physichromie” de Cruz-Diez – artista representado pela galeria -, que oferecem três diferentes conjuntos de cores de acordo com a posição do espectador: de frente, caminhando da esquerda para a direita, ou no sentido contrário. Esses trabalhos se juntam a outros grandes nomes da arte cinética, como um óleo sobre tela da década de 1970 e um móbile dos anos 1960 de Julio Le Parc; uma versão em formato de 55 cm da espetacular “Sphère Lutétia” , uma das três obras de Jesús Soto na mostra; uma pintura de mais de 1,60m da série “W” de Abraham Palatnik , entre trabalhos de outros cinéticos, como o relevo de quase três metros de largura de Luis Tomasello.

 

 

Construtivismo e Neoconcretismo

 

De Sérgio Camargo estarão três significativos relevos em madeira pintada, e um deles, “Relief 13-83”, participou da Bienal de Veneza em 1966, onde o artista tinha uma sala especial com 22 obras. De Waltercio Caldas, integrará a mostra a escultura “Fuga”, esmalte sobre aço inox e lã. Um núcleo da exposição é composto por uma gravura de Richard Serra, pela obra “Maquete para interior”, de Lygia Clark, uma escultura em aço pintado de Franz Weissmann, uma escultura e uma pintura de Amilcar de Castro, duas pinturas de Aluísio Carvão e dois trabalhos de Ivan Serpa. A “Pintura nº 355”, do argentino Juan Melé , também integrará a mostra.

 

 

Mais pinturas – Abstracionismo, Expressionismo, Nova Figuração

 

Quatro pinturas de Alfredo Volpi – uma dos anos 1960 e três da década seguinte – também estarão na exposição, bem como conjuntos das famosas séries “Ripa” e “Bambu”, dos anos 1970, de Ione Saldanha, em têmpera sobre madeira. “52 anos – Um raro percurso” mostrará óleos sobre tela dos anos 1960 e 1950 de Tomie Ohtake e Manabu Mabe, dois artistas que participaram da exposição inaugural da Galeria Ipanema, em 1965. Arcangelo Ianelli, Abelardo Zaluar e Paulo Pasta também terão obras na mostra. A exposição apresentará pinturas de Iberê Camargo, Milton Dacosta, Maria Leontina, Jorge Guinle e Beatriz Milhazes. Raymundo Colares, artista que fez sua primeira individual na Galeria de Arte Ipanema, estará representado pela pintura “Midnaite Rambler”, em tinta automotiva sobre madeira. Wesley Duke Lee terá na exposição três pinturas em nanquim, guache e xerox sobre papel: “Nike descansa ”, “O Alce (Sapato com fita amarrando), e “Os mascarados”. “Tô Fora SP”, de Rubens Gerchmann, e duas pinturas de Wanda Pimentel, das décadas de 1970 e 90, se somam a quatro obras de Paulo Roberto Leal, artista que também teve sua primeira individual realizada pela Galeria Ipanema. Outros grandes nomes da arte contemporânea que integrarão a mostra são Frans Krajcberg, Cildo Meireles, Nelson Félix, Antonio Manuel e Vik Muniz.

 

 

Modernismo

 

Luiz Sève teve um contato privilegiado com grandes artistas, entre eles sem dúvida está Di Cavalcanti, de quem serão exibidas três óleos sobre tela. Outros grandes nomes do modernismo que estarão na exposição são Portinari, com a pintura “Favela”, Djanira, com “Sala de Leitura”, e Pancetti , com “Farol de Itapoan”.

 

 

Breve história de um raro percurso

 

A história da Galeria Ipanema se mistura à da arte moderna e sua passagem para a arte contemporânea, e seu precioso acervo é fruto de seu conhecimento privilegiado de grandes nomes que marcaram sua trajetória. Fundada por Luiz Sève, a mais longeva galeria brasileira iniciou sua bem-sucedida trajetória em novembro de 1965, em um espaço do Hotel Copacabana Palace, com a exposição de Tomie Ohtake e Manabu Mabe, entre outros. Até chegar à casa da Rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema, em 1972, passou por outros endereços, como o Hotel Leme Palace e a Rua Farme de Amoedo.

 

 

Presença em São Paulo

 

De 1967 a 2002, Frederico Sève – irmão de Luiz – foi sócio da Galeria Ipanema, onde idealizou e dirigiu de 1972 a 1989 uma expansão em São Paulo, inicialmente na Rua Oscar Freire, em uma casa construída e especialmente projetada pelo arquiteto Ruy Ohtake. A Galeria Ipanema foi uma das precursoras a dar visibilidade ao modernismo, e representou, entre outros, com uma estreita relação, os artistas Volpi e Di Cavalcanti , realizando as primeiras exposições de Paulo Roberto Leal e Raymundo Colares. Nascido em uma família amante da arte, Luiz Sève aos 24 anos, cursando o último ano de engenharia na PUC, decidiu em 1965 se associar à tia Maria Luiza (Marilu) de Paula Ribeiro na criação de uma galeria de arte. Na família amante de arte, outro tio, o pneumologista Aloysio de Paula, médico de Pancetti, havia sido diretor do MAM. Luiz Sève destaca que é na galeria que encontra sua “fonte de prazer”. Uma característica de sua atuação no espaço de arte é “jamais ter discriminado ou julgado qualquer pessoa pela aparência”. “Há o componente sorte também”, ele ressalta, dizendo que já teve acesso a obras preciosas por puro acaso. A Galeria Ipanema mantém em sua clientela colecionadores no Brasil e no exterior, e já atendeu, entre muitas outras, personalidades como o mecenas da arte David Rockefeller, Robert McNamara – Secretário de Defesa do Governo Kennedy -, e o escritor Gabriel Garcia Marquez.

 

 

Até 23 de dezembro.

Burle Marx na Alemanha

06/jul

Roberto Burle Marx (1909-1994) foi um homem renascentista do século XX: arquiteto paisagista, pintor, escultor, set designer, ativista ambiental. Projetou, durante sua longa carreira, mais de 2.000 jardins ao redor do mundo e, em expedições, descobriu quase 50 novas espécies de plantas. Ao mesmo tempo, criou objetos independentes de extraordinária beleza. Em seu país natal, o Brasil, Burle Marx, juntamente com os arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, é reverenciado como pioneiro no Modernismo Brasileiro. Seus projetos para a capital Brasília e, acima de tudo, para o Rio de Janeiro, tiveram um impacto duradouro sobre essas cidades. Ainda hoje, sua arquitetura de paisagem revolucionária, orientada para a pintura abstrata, gozam de repercussão internacional, porém uma boa parcela de sua obra, no entanto, é praticamente desconhecida.

 

Após sua estréia no The Jewish Museum de Nova York em 2016, a mostra “Roberto Burle Marx: modernista brasileiro” está agora em exibição no Deutsche Bank KunstHalle, Berlin, Alemanha. A exposição ilustra a gama completa de sua produção artística, vista pela primeira vez na Alemanha, e apaga as fronteiras entre as diferentes mídias e disciplinas. Isso é documentado sobretudo pelas aquarelas e desenhos de Burle Marx para desenhos urbanos e paisagísticos que abrem a exposição, por exemplo, para o jardim do telhado projetado em 1938 para o Ministério da Educação e Construção da Saúde erigido por Niemeyer, Lucio Costa Costa e Le Corbusier; O Parque do Flamengo no Rio de Janeiro (1961) e o mundialmente famoso pavimento ondulado da Avenida Atlântica (1970) em Copacabana. Muitos desses projetos são semelhantes à arte abstrata e ressoam com as obras de arte contemporâneas apresentadas na exposição, como a pintura de 2003 da artista brasileira Beatriz Milhazes. Para ilustrar a influência artística de Burle Marx, seus trabalhos entram em diálogo com obras de artistas internacionais contemporâneos. Entre eles estão Juan Araujo, Paloma Bosquê, Dominique Gonzalez-Foerster, Veronika Kellndorfer, Luisa Lambri, Arto Lindsay e Nick Mauss.

 

Quando o jovem Burle Marx viajou para Berlim procedendo do Rio de Janeiro com sua família em 1928, a capital alemã era um laboratório de modernismo. Neste momento, há muito tempo já conhecia a cultura alemã. Seu pai, Wilhelm Marx, um judeu alemão, imigrou para o Brasil de Trier, na Alemanha, no final do século XIX. O amor pela ópera e arte alemãs estava profundamente enraizado na família próspera e educada. Outro foco da exposição, portanto, é a metrópole de arte e cultura de Berlim, que impressionou, influenciou e ocupou continuamente Burle Marx. Por exemplo, pouco antes de sua morte ele criou um projeto para a Rosa-Luxemburg-Platz que não foi realizado.

 

Na Berlim da República de Weimar, Burle Marx resolveu ser artista e arquiteto paisagista. Suas visitas à coleção de arte moderna no Kronprinzenpalais, onde viu obras de expressionistas alemães e Van Gogh, contribuíram para sua decisão. Mas ele fez outra descoberta: nas estufas do Jardim Botânico em Dahlem, reconheceu a beleza da flora brasileira: os filodendros, bromélias e nenúfares que foram ignorados nos jardins brasileiros, mas cultivados com carinho aqui. “Odeio a ideia de que um arquiteto paisagista só deveria conhecer as plantas”, disse o artista décadas depois. “Ele também tem que saber o que é Piero della Francesca, o que constitui um Miró, um Michelangelo, um Picasso, um Braque, um Léger”.

 

Como é aparente nos estudos de plantas de Burle Marx e desenhos iniciais, pinturas e projetos de jardins, seu caminho, tanto nas artes visuais quanto na arquitetura paisagística, o conduziram à abstração. Em seus projetos de jardins, ele transferiu imagens bidimensionais para três dimensões. Enquanto a arquitetura da paisagem brasileira convencional ainda estava orientada para o design do jardim Belle Époque europeu, e flores e plantas eram importadas do exterior, Burle Marx trabalhava exclusivamente com a flora doméstica. Ele estava principalmente interessado nas formas, texturas e cores das folhas, o artista optou muito claramente pela cor, massa e superfície, por fortes contrastes, formas sinuosas e quadradas, campos geométricos.

 

No decorrer da exposição, os aspectos arquitetônicos e artísticos de sua carreira, inextricavelmente entrelaçados, são documentados repetidamente. As formas abstratas em seus projetos para jardins privados e praças públicas se refletem nos princípios de design, na pintura, e na arte aplicada de Burle Marx. Além das pinturas abstratas, cerâmicas, jóias, conjuntos de palcos e figurino são apresentados. Mostram como ele casou seu amor com as tradições brasileiras e com o modernismo europeu. Isso é aparente nas versões abstratas dos azulejos que ele usou nas paredes e na construção de paredes.

 

Burle Marx não era apenas um inovador, mas também um conservador e colecionador. Em sua propriedade de 365.000 m², uma antiga plantação de café perto do Rio de Janeiro, cultivou uma das maiores coleções mundiais de plantas tropicais. O Burle Marx Landscape Studio foi fundado por Roberto Burle Marx em 1955. Depois da morte do artista, Haruyoshi Ono – seu parceiro de negócios e parceiro criativo por mais de 30 anos – continuou seu legado por mais de 20 anos liderando o Estúdio, tornando-se responsável pelo desenvolvimento criativo de novos Projetos de escritórios e jardins. Esta exposição foi possível por causa de seu excelente trabalho e apoio. Mostramos aqui sua última entrevista para um programa brasileiro de arquitetura bem conhecida, chamado “Casa Brasileira”. Ono faleceu em janeiro de 2017. Perpetuou o legado artístico da paisagem de Roberto Burle Marx, tendo sido responsável pelo Landscape Studio e sua coleção por mais de 20 anos após a morte de Roberto Burle Marx.

Para ver o Brasil

14/jun

A Oca, Parque do Ibirapuera, Portão 3, São Paulo, SP, exibe a exposição “Modos de ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos”. O evento celebra os 30 anos de atividades do Itaú Cultural e exibe cerca de oitocentas peças de um acervo de 15 mil obras do Banco Itaú. A mostra tem curadoria de Paulo Herkenhoff, em colaboração com Thais Rivitti e Leno Veras, e ocupa os 10 mil metros quadrados do espaço.

 

Entre as obras expostas, estão a tela “Povoado numa planície arborizada”, do pintor holandês Frans Post, e raridades como os mapas do século XVII: “Jodocus Hondius: AmericaSeptentrionalis”, “Henricus Hondius: Accuratissima Brasiliae Tabula”.

 

As peças foram organizadas em vinte núcleos espalhados pelos quatro andares do edifício, projetado por  Oscar Niemeyer. Cada piso tem uma organização temática por período: no térreo estão “São Paulo” e “De memória e matéria”; no subsolo “Da numismática à cibernética”; no primeiro andar, “Expressão e racionalidade”; e no segundo andar, “Uma invenção simbólica do Brasil: África e barroco”.

 

Entre as atrações está uma escultura de mais de cinco metros de altura, de Ascânio MMM, reconstruída para a ocasião. Obras antigas estão lado a lado com peças modernistas e contemporâneos, de artistas como Brecheret, Maria Martins, Hélio Oiticica, Portinari, Adriana Varejão, Gilvan Samico, Beatriz Milhazes, Vik Muniz, Vera Chaves Barcellos, Berna Reale, Siron Franco, Emanoel Araújo, Jaime Lauriano, Paulo Bruscky, Montez Magno, Ayrson Heráclito e Eder Oliveira dentre outros.

 

 

Até 13 de agosto.

Biquínis no CCBB-Rio

17/mai

A exposição “Yes! Nós temos biquíni”, no CCBB Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta os aspectos sociais, históricos e culturais de uma criação revolucionária no mundo da moda e a sua devida apropriação pelos brasileiros, transformando-a em objeto de desejo do mundo todo. O traje nasceu na França, em 1946, mas originou-se há séculos, como mostram as preciosas tangas marajoara do período pré-colombiano. Do pesado traje de banho do século 19 às novas modelagens do século 21, a exposição ressalta as mudanças de comportamento e conquistas da mulher nesse período, os padrões de beleza e sua relação com a arte. A curadoria é de Lilian Pacce.

 

A mostra reúne cerca de 120 obras, entre looks icônicos e históricos de moda praia, fotografias, pinturas, esculturas, vídeos, ilustrações, instalações, artefatos históricos e amplo material iconográfico. Performances, debates e um ciclo de cinema também fazem parte da programação da exposição, que ocupará o 2º andar do Centro Cultural.  A exposição é patrocinada pelo Banco do Brasil.          

 

“A moda, para além de seu propósito inicial que é vestir o corpo, sempre esteve relacionada a questões sociais, culturais, políticas e econômicas. Esta exposição traz uma diversidade, que sempre buscamos para a programação do CCBB e apresenta um diálogo entre o elemento de maior representação brasileira na moda mundial com obras de arte contemporâneas que desafiam o visitante a interpretar essas associações”, comenta o gerente-geral do CCBB Rio, Fabio Cunha.

 

O percurso começa com uma explicação sobre a criação do engenheiro francês Louis Réard, que ousou diminuir a calcinha de cintura alta e revelar o umbigo da mulher – símbolo do vínculo e da ruptura entre duas vidas, zona erógena, centro do corpo humano e do mundo, como se percebe na obra Um.Bigo, de Lia Chaia. Réard queria que sua ideia fosse tão explosiva quanto os primeiros testes nucleares no atol de Bikini – daí surge o nome da peça. Ilustrando modas, modismo e rupturas, uma linha do tempo mostra a evolução do traje de banho, com peças originais desde o século 19 até hoje, looks que sintetizam a imagem de cada década assim como as mulheres que fizeram a fama do biquíni ao longo da história.

 

Na sala seguinte, o visitante descobre que historicamente, apesar de ser uma criação francesa, o crédito pela invenção do biquíni poderia caber aos índios brasileiros e sua forma de cobrir o corpo. Tangas marajoaras datadas do período pré-colombiano, cedidas pelo Museu de Arqueologia e Etnologia – USP, mostram que os trajes já eram usados por aqui muito antes do descobrimento, mas não eram percebidos como “roupa” sob o prisma da moral dos colonizadores portugueses. A sala se completa com obras de artistas nascidos em outros países, mas que escolheram o Brasil para viver, como Claudia Andujar, John Graz e Maureen Bisilliat, que representam o encantamento dos estrangeiros com nossa cultura, e também biquínis inspirados na cultura indígena.

 

Temas fundamentais nos dias atuais, o empoderamento feminino e questões ligadas aos padrões de beleza impostos pela sociedade fazem parte do debate proposto pela exposição. A reflexão sobre o corpo e a praia acontece na próxima sala por meio do diálogo das obras de Marcela Tiboni, Claudio Edinger e Elen Braga com criações dos estilistas Amir Slama, Isabela Frugiuele (Triya) e Adriana Degreas, além da escultura de Tiago Carneiro da Cunha. Já a relação entre moda e arte é tratada pela inspiração mútua e parcerias inusitadas – Beatriz Milhazes, Glauco Rodrigues e Jorge Fonseca para Blue Man, J. Carlos para Salinas, Gonçalo Ivo e J. Borges para Amir Slama, Maria Martins para Adriana Degreas. No centro da sala, em destaque, Stripencores, obra de Nelson Leirner de 1967 que ganha um quinto elemento criado especialmente para a mostra.

 

A praia como território geográfico, social e até virtual surge em cenas do dia a dia nas imagens captadas pelas lentes de Alair Gomes, Cartiê Bressão, Fernando Schlaepfer, Frâncio de Holanda, German Lorca, Julio Bittencourt, Otto Stupakoff, Pierre Verger, Rochelle Costi,  Thomaz Farkas e Willy Biondani, além de vídeo de Janaína Tschape e de escultura de Eder Santos. Como contraponto, o trabalho elaborado por nomes que ajudaram a criar a identidade da moda praia brasileira (e projetá-la mundialmente) surge em imagens icônicas: Dalma Callado em foto que alavancou sua carreira internacional nos anos 1970, feita por Luiz Tripolli, e Gisele Bündchen clicada por Jacques Dequeker no início dos anos 2000, já famosa – e ainda Antonio Guerreiro, Bob Wolfenson, Claudia Guimarães, Daniel Klajmic, Klaus Mitteldorf, Marcelo Krasilic, Miro e Vavá Ribeiro.

 

Mas muito antes dos editoriais de moda, era o ilustrador e figurinista Alceu Penna quem “ditava” tendências na extinta revista “O Cruzeiro” com “As Garotas do Alceu”, verdadeiras it girls da época. A praia é vista também pelo traço das ilustrações de Carla Caffé, Filipe Jardim e Paulo von Poser. A sala traz ainda uma videoinstalação com grandes momentos da moda praia nas semanas de moda no Brasil, e uma série de manequins com biquínis e maiôs de caráter excepcional, seja pela construção, modelagem, material ou pela criatividade em si – prova de que o biquíni é a peça mais brasileira de todas.

 

Na última sala, o visitante é convidado a compartilhar experiências de praia, diante das obras de Cássio Vasconcellos, Katia Maciel e Leda Catunda – e da pergunta que fica: qual é a sua praia? “A força de uma peça tão pequena como o biquíni brasileiro, basicamente quatro triângulos de tecido, está diretamente ligada ao emporaderamento feminino ao longo do último século e vai muito além da praia em si. A exposição pretende mostrar essas interfaces, seu impacto nas conquistas da mulher e o lifestyle criado em torno dele”, diz a curadora Lilian Pacce, autora do livro O Biquíni Made in Brazil. A cenografia é assinada por Pier Balestrieri, com comunicação visual de Kiko Farkas, consultoria de arte contemporânea de Sandra Tucci, coordenação geral e produção executiva da Com Tato Agência Sociocriativa.  

 

 

Palestra – A Revolução Feminina na Areia

 

31/05/2017, às 18h30 – Painel sobre as mudanças sociais que acompanharam a evolução dos trajes de moda praia e as conquistas femininas.

 

 

A palavra da curadora

 

Yes! Nós Temos Biquíni explora as conexões entre moda, arte, comportamento e história a partir do final do século 19, quando ir à praia era como tomar remédio: tinha apenas função terapêutica. Desde então, a praia se tornou um espaço democrático de lazer, onde convivem jovens e velhos, ricos e pobres, magros e gordos, atletas e sedentários, branquelos, bronzeados e gente de todas as cores com seus “corpos de praia”.

 

Acima de tudo, a exposição pretende mostrar a força da menor peça do vestuário feminino: o biquíni. E mais do que isso: o biquíni made in Brazil que, numa rara virada de jogo, se tornou objeto de desejo mundo afora. Apesar de ter sido criado na França, o Brasil se apropriou tão bem da peça que se tornou referência em moda praia; o Rio de Janeiro, seu melhor cenário, e a Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, sua maior musa, seguida pela modelo Gisele Bündchen.

 

De um exemplar autêntico de 1895 (um vestido de lã com bloomer), passando pela conquista do maiô de perninha até chegar ao mínimo fio-dental, nota-se como os modelos de cada época refletem as respectivas conquistas da mulher – muitas vezes tema de grandes escândalos, seja com a atriz brasileira Leila Diniz expondo sua barriga de grávida num biquíni em 1971, seja com a prisão da nadadora olímpica australiana Annette Kellermann em 1907 por usar o então maiô masculino. A pesquisa deixa claro também que os protagonistas da história, tanto criadores como criaturas, não se deram conta da relevância de seus atos e do impacto que provocariam na sociedade e na arte ao longo do século 20.

 

E através da arte, o biquíni ganha outras perspectivas. A exposição cria diálogos e contrapontos entre arte e moda, de onde surgem texturas, cores e emaranhados ao mesmo tempo que levam para a praia do Rio de Janeiro o despojamento, a diversão, o despudor, o corpo solto. A obra Stripencores de Nelson Leirner de 1967 ganha um quinto elemento, o biquíni, criado especialmente para a mostra.

 

Os vários modos de estar e de ocupar estes territórios de liberdade que a praia, o sol, o mar e o biquíni permitem são retratados em obras de suportes variados como fotografia, pintura, escultura, vídeo, ilustração. De cada um deles surge uma interpretação, uma discussão ou o simples ato da contemplação.

 

As paisagens, a natureza, o comportamento ao ar livre e a apropriação de espaços geográficos, sociais e até virtuais indicam que o biquíni pode se apresentar de muitas formas, mas sempre traz consigo a busca da liberdade feminina e sua relação com o próprio corpo.

Lilian Pacce

   

   

De 17 de maio a 10 de julho.