Artistas brasileiros contemporâneos em Paris.

25/jun

A mostra coletiva “Le Brésil illustré” é uma revisão histórica. A exposição, sediada na Maison de l’Amérique Latine, em Paris, reúne obras de 15 artistas brasileiros contemporâneos que confrontam, ressignificam e desviam a iconografia do pintor francês Jean-Baptiste Debret – autor da célebre “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil”.

Com curadoria de Jacques Leenhardt e Gabriela Longman, a exposição propõe um mergulho crítico sobre como a imagem do Brasil foi construída a partir de um olhar europeu. E mais: mostra como artistas indígenas, negros e mestiços brasileiros vêm hoje subvertendo esse imaginário, criando novas narrativas para os corpos antes silenciados ou exotizados por Debret.

Entre os participantes estão nomes como Denilson Baniwa, Gê Viana, Jaime Lauriano, Livia Melzi e Anna Bella Geiger. Utilizando linguagens diversas – fotografia, vídeo, escultura, instalação -, suas obras não apenas comentam Debret, mas inserem-se como resposta direta ao projeto colonial que ele, ainda que involuntariamente, ajudou a consolidar. A proposta não é destruir o passado, mas criar novos significados a partir dele – muitas vezes com humor, ironia e potência simbólica. A mostra integra a programação do Ano do Brasil na França e deve chegar ao Museu do Ipiranga, em São Paulo, no segundo semestre deste ano. “…Mas o mais importante é o que ela revela: uma geração que não aceita ser apenas retratada. Uma geração que reivindica o direito de imagem – e que faz disso um gesto político”, diz Matheus Paiva, internacionalista, formado pela Universidade de São Paulo, e produtor cultural.

Um olhar afetivo para a arte brasileira.

10/dez

A Galeria FLEXA, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, recebe a exposição “Um olhar afetivo para a arte brasileira: Luiz Buarque de Hollanda”, com curadoria de Felipe Scovino e expografia de Daniela Thomas. A exposição examina a figura de Luiz Buarque de Hollanda (1939-1999), advogado e colecionador que criou, com o sócio Paulo Bittencourt (1944-1996), a Galeria Luiz Buarque de Hollanda & Paulo Bittencourt, cuja atuação se deu entre 1973 e 1978, no Rio de Janeiro.  Em exibição até 15 de março de 2025.

Sobre Luiz Buarque de Hollanda

Ao longo de mais de tres décadas, Luiz Buarque de Hollanda foi um dos nomes centrais do colecionismo no Brasil, além de pioneiro na colaboração com projetos de artistas que se tornariam seminais para a história da arte brasileira. Entre eles, destacam-se nomes como Carlos Vergara, Carlos Zilio, Cildo Meireles, Debret, Glauco Rodrigues, Iberê Camargo, Iole de Freitas, J. Carlos, Mira Schendel, Rubens Gerchman, Sergio Camargo, Thereza Simões e Waltercio Caldas. A programação reunia diferentes gerações, fazendo coabitar em seu espaço vanguarda e tradição.

Reunindo cerca de 150 obras de artistas presentes na coleção e nas exposições promovidas, a mostra se divide em 4 núcleos de interesse do colecionador-galerista. São eles: Paisagem: do encantamento à hostilidade, Aproximações improváveis: o retrato entre o social e o libidinoso, Corpo partido e Linguagens construtivas e desdobramentos disruptivos. De acordo com Felipe Scovino, “a presente exposição investe, tanto curatorial quanto expograficamente, em como Luiz adquiria, organizava e mostrava a sua coleção. Ele se cercava daquilo que lhe dava prazer e conscientemente construía um modo muito singular de olhar para a arte brasileira. A galeria da qual foi sócio nos anos 1970 foi inovadora ao responder pela interdisciplinaridade de gerações, mas, acima de tudo, na constituição de um ambiente acolhedor e próximo aos artistas. Sua imagem e memória estão ligadas ao campo do afeto e da inteligência.”.

A amizade de Luiz Buarque de Holanda com os artistas e sua paixão pela arte podem ser exemplificadas na generosidade em produzir edição de obras especiais, como um livro de Mira Schendel – que hoje integra a coleção do MoMA em Nova York – e o disco Sal sem carne, de Cildo Meireles, ambos nos anos 1970. Luiz teve participação direta na edição dos exemplares do Livro-obra de Lygia Clark, em 1984, e na pesquisa, junto com Noêmia Buarque de Hollanda, para exposição e catálogo da retrospectiva da mesma artista, que começou em 1997 na Fundación Tàpies (Barcelona) e circulou por 5 países. A exposição na Flexa conta ainda com farta documentação: impressos, cartazes, convites, críticas e notícias sobre as exposições. O material nos recorda como a galeria foi um local de convívio e reflexão, que reuniu artistas, colaboradores e público interessado em debater o cenário das artes.

A diretora de cinema e teatro Daniela Thomas, que assina a expografia da mostra, escreve: “O espaço que antes me pareceu imenso, da galeria de três andares, revelou-se exíguo quando me deparei pela primeira vez com a lista de obras da coleção de Luiz Buarque, selecionada por Felipe Scovino.  Logo me dei conta, por outro lado, que esta é a questão central para o colecionador: nunca há espaço suficiente para expor os itens da sua coleção, e mesmo assim ele tenta, quando decide que tudo é superfície: as paredes da escada que leva aos andares superiores da sua casa, por exemplo. Do chão ao teto, tudo está sempre em jogo”.

Na Galeria Nara Roesler/Rio

29/jan

O artista colombiano Alberto Baraya, artista-viajante contemporâneo que já participou, entre outras, da 27ª Bienal Internacional de São Paulo (2006) e da 53ª Bienal de Veneza (2009), desta vez tem o Rio de Janeiro como fonte de seu “Estudios Comparados de Paisaje”.  Esteve duas vezes no Rio de Janeiro em 2018 para conceber a nova série de mais de 20 trabalhos que apresenta na Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ.

 

A exemplo dos europeus que empreendiam expedições botânicas no período colonial, suas obras investigam territórios para criar poéticas ficcionais que refletem sobre o poder e os resquícios do colonialismo, questionando tanto o impulso de controlar o mundo por meio do ato de nomeá-lo e classificá-lo quanto a construção de identidades nacionais. Em sua última exposição na galeria, em 2010, o artista apresentou um desdobramento de seu emblemático projeto “Herbario de Plantas Artificiales”, séries concebidas a partir de plantas e flores de plástico das mais diversas procedências e fotos que registram o procedimento de trabalho, apropriando-se dos métodos dos naturalistas botânicos para colocar em questão o pensamento positivista, numa resistência aos princípios da educação ocidental.

 

No atual projeto, para criar seus “Estudios Comparados de Paisaje”, Baraya baseia-se na tradição das pinturas de paisagens – também conhecidas como “Panoramas” – retratadas por viajantes ou residentes, procurando debater, entre outros aspectos, a noção de paisagem nacional. Para sua “Expedición Rio de Janeiro”, especialmente realizada para sua nova exposição na galeria, o artista selecionou uma série de vistas panorâmicas da cidade, produzindo por meio da técnica da pintura novas telas nos mesmos locais onde estiveram os pintores acadêmicos. Baraya em seguida levou as obras ao ateliê e, por meio de intervenções, desconstruiu narrativas, convertendo as pinturas em objetos. “Algumas dessas paisagens-impressão funcionam como estágios nos quais desenvolvo comentários de interesse pessoal e social”, explica o artista. Segundo Baraya, nessa série, isso é feito através da introdução de animais-personagens estranhos àquela natureza originalmente representada. “A migração das espécies ou a qualificação de espécies exóticas se inscrevem na tradição literária e gráfica da fábula”, comenta. Ainda para ele, as paisagens-impressões são suscetíveis de serem lidas e reinterpretadas sob a perspectiva de outras categorias do conhecimento e da arte.

 

Para Baraya, no caso particular dos “Estudios Comparados de Paisaje”, os objetos à óleo são propostos como partituras em potencial para serem interpretadas no piano. Daí a realização de uma performance – realizada em novembro no Parque Lage – com paisagens-partituras, em parceria com Benjamin Taubkin. Como um laboratório experimental, o piano é retirado de seu cenário habitual e levado ao espaço exterior, os jardins, onde o pintor e o pianista realizam suas próprias interpretações da paisagem ao redor. Ao final do primeiro ato, as obras da exposição na Galeria Nara Roesler levadas ao local tornam-se partituras, sendo reinterpretadas pelo músico ao piano.

 

 

 

Alberto Baraya: estudios comparados de paisaje

 

Texto crítico por Pedro Corrêa do Lago

 

A série Expedición Rio (2018), parte do projeto Estudios Comparados de Paisaje (1998-2018) de Alberto Baraya, oferece a rara oportunidade de observar uma relação direta entre a obra dos pintores viajantes que retrataram a paisagem do Rio de Janeiro no século XIX e o trabalho recente de um notável artista contemporâneo. Ainda que colombiano, Alberto Baraya bebeu claramente na fonte dos grandes paisagistas atuantes no Brasil, pois parece às vezes transpor quase ipsis litteris imagens produzidas por eles como pano de fundo para suas próprias paisagens oníricas, nas quais o artista acrescenta animais quase míticos, totalmente inesperados nesse contexto. Na verdade, apesar do parentesco óbvio com a obra de artistas do século XIX, a semelhança provém não da simples repetição, mas da mesma postura que Baraya assume ao registrar a paisagem incomparável do Rio de Janeiro, com o objetivo de incorporála como cenário de suas intervenções fabulosas. O tratamento da paisagem por Alberto Baraya procede da mesma contemplação embevecida da paisagem que caracterizou a obra dos autores das vistas panorâmicas do Rio de Janeiro do século XIX. Também pintadas en plein air, não são, no entanto, concebidas por Baraya como as dos artistas que pretendiam apenas captar o cenário exótico para propô-lo à apreciação do espectador europeu. É verdade que o resultado é de tal forma semelhante ao que os viajantes obtinham que poderia apenas remeter integralmente às outras obras de artistas que precederam Baraya nos últimos 200 anos. De fato, a preocupação com a “documentação da paisagem” que caracterizava o trabalho de muitos desses artistas viajantes os tornava extremamente ciosos da precisão no registro dos contornos, diante da paisagem arrebatadora que se perfilava sob seus olhos na topografia única da baía do Rio de Janeiro. Também Baraya declara seu espanto diante da natureza que observa para alavancar sua criação, e é palpável seu domínio de uma técnica precisa que é tão fiel ao que vê quanto ao que Baraya imagina que os artistas viajantes viram: um Rio de Janeiro limpo de suas edificações atuais. Los músicos de Rio, um trabalho a óleo medindo mais de 4 metros, nos traz ecos de um grande panorama, o Panorama do Rio de Janeiro (1873) de Emil Bauch, uma litografia a cores sobre papel medindo 75 x 242,5 cm, assim como de um pastel de Hagedorn de 1860 retratando o Pão de Açúcar visto de trás, num ângulo menos utilizado por outros pintores viajantes. Outros trabalhos, como Rio de Janeiro desde Niterói, con pez volador falso (Dactylopterus volitans), que mostra um exemplar da espécie de peixe conhecida como falso voador, incomum no Rio de Janeiro, saltando das águas da baía, nos lembra as grandes aquarelas de E. E. Vidal, marinheiro inglês e pintor viajante especializado em panoramas extensos da baía do Rio de Janeiro. Já a vista da Águia-pescadora en Playa Vermelha, en Pan de Azucar, Rio de Janeiro assemelha-se mais aos quadros da paisagem carioca realizados no início do século XX, e Baraya volta ao mesmo ângulo inusitado do Pão de Açúcar de Hagedorn com o Macaco comiendo goji berries en Pan de Azucar. A floresta virgem que os artistas viajantes descobriram estarrecidos no Brasil tornou-se um dos temas de predileção em suas obras, e Baraya parece inspirar-se claramente nas versões que nos deram Debret e Rugendas da vegetação brasileira quando coloca seu Caracol gigante africano sobre palo brasil (Achatina fulica sobre Caesalpina echinata) num fundo de floresta tropical – também evocada em Macaco con caracol gigante africano (Callithrix jacchus con Achatina fulica). O Pão de Açúcar foi, como era inevitável, um dos focos principais de atração dos pintores viajantes (profissionais ou amadores) que passaram pela cidade nas primeiras décadas do século XIX, no momento em que a abertura dos portos permitiu restabelecer o fluxo de visitantes estrangeiros, até então interrompido pelo colonizador português. Quando Alberto Baraya sobrepõe pedras e caveiras à paisagem tradicional do Pão de Açúcar, ele nos traz uma evocação renovada de uma paisagem tantas vezes repetida pelos paisagistas do século XIX, a ponto de se tornar o principal cartão postal avant la lettre da então capital. A vista do morro Dois Irmãos antes das muitas edificações em seu entorno (tal como poderia ter sido observado da praia do Leblon no século XIX ou no começo do século XX) apresenta mesmo assim uma mancha indistinta que evoca a atual favela do Vidigal, mostrando o que Baraya quer lembrar sem ver. Sobre essa paisagem, o artista sobrepõe agora pedras envoltas em cânhamo, voltando a surpreender o espectador e reforçando o tema do par com duas pedras sobre a areia da praia. O Rio de Janeiro atual ressurge no Rio desde Parque das Ruínas e no Caballo (Equus ferus caballus) en Lagoa, obras nas quais Baraya abandona a referência aos pintores viajantes e recupera com a mesma postura a paisagem atual da cidade, sempre sobreposta por pedras encontradas em seu caminho ou animais que parecem caídos do céu. A produção atual do artista é constante na referência ao passado, pois o grupo de obras de Alberto Baraya intitulado Nuevas Hierbas de Palermo y Alrededores – Una Expedición Siciliana (2018), parte de seu projeto Herbário de Plantas Artificiales (2002-em andamento), realizado para a Manifesta 12 Palermo no Jardim Botânico da cidade a partir da coleta de plantas falsas (Made in China) e representações botânicas locais em cerâmica relembra também o trabalho impresso dos grandes naturalistas europeus que visitaram o Brasil ao longo do século XIX, documentando sua flora e sua fauna. O relato das expedições desses grandes naturalistas deu oportunidade para a criação de magníficos álbuns com finas gravuras da flora brasileira, muitas vezes coloridas à mão, que aliavam a exatidão científica a um extraordinário impacto visual. O Brasil forneceu assim o tema para alguns dos mais belos livros de botânica do século XIX, e poucos países tiveram sua flora documentada com igual precisão e beleza. Com elementos capturados em Palermo e seus arredores, no caso de sua série siciliana, Baraya recria delicadamente a atmosfera dos herbiers dos séculos passados, dando-lhes uma interpretação que incorpora as novas técnicas agora à sua disposição. Para um estudioso dos artistas do passado que enriqueceram a cultura brasileira com seus relatos visuais, é especialmente instigante apreciar o trabalho de um artista contemporâneo com uma compreensão tão profunda de trajetórias comparáveis trilhadas muito antes dele.

 

 

Sobre Pedro Corrêa do Lago

 

Mestre em Economia, é autor de 20 livros sobre temas da cultura brasileira. Bibliófilo, colecionador, livreiro e editor, foi curador de diversas mostras no Brasil e no exterior. Em 2000, organizou o módulo “O olhar distante na Mostra do Redescobrimento”, na Fundação Bienal de São Paulo. Em 2005, foi curador em Paris das exposições “O Império brasileiro e seus fotógrafos” no Museu d’Orsay e “Frans Post: o Brasil na corte de Luís XIV” no Museu do Louvre. De 2003 a 2005, presidiu a Fundação Biblioteca Nacional. Em 2006, publicou, com sua mulher, Bia Corrêa do Lago, “Frans Post – Obra Completa”. Nos anos seguintes, escreveu ou colaborou com os catálogos raisonnés de Debret, Taunay e Pallière e editou os de Rugendas e Eckhout. Em 2008, novamente com Bia Corrêa do Lago, publicou “Coleção Princesa Isabel – Fotografia do século XIX”, vencedor do Prêmio Jabuti, e, em 2009, lançou “Brasiliana Itaú” – uma grande coleção dedicada ao Brasil e organizou o catálogo raisonné “Vik Muniz 1987 – 2009 Obra Completa”. Sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), organizou em 2014 o livro Brasiliana IHGB e, em 2015, a segunda edição (1987-2015) da obra completa de “Vik Muniz, Tudo até agora”.

 

 

Até 09 de fevereiro.

Modernos & Arte Sacra no MAS/SP

18/jan

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS-SP, Luz, São Paulo, SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, exibe “O Sagrado na Arte Moderna Brasileira”, com obras de Agostinho Batista de Freitas, Alberto Guignard, Aldo Bonadei, Alex Flemming, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Antonio Poteiro, Arcângelo Ianelli, Cândido Portinari, Carlos Araújo, Clóvis Graciano, Cristina Barroso, Emeric Marcier, Fé Córdula, Fúlvio Pennacchi, Galileu Emendabili, Glauco Rodrigues, Ismael Nery, José Antonio da Silva, Karin Lambrecht, Marcos Giannotti, Mestre Expedito (Expedito Antonio dos Santos), Mick Carniceli, Miriam Inês da Silva, Nelson Leirner, Nilda Neves, Oskar Metsavaht, Paulo Pasta, Raimundo de Oliveira, Raphael Galvez, Rosângela Dorazio, Samson Flexor, Sérgio Ferro, Siron Franco, Tarsila do Amaral, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret e Willys de Castro, sob curadoria de Fábio Magalhães e Maria Inês Lopes Coutinho. A mostra expõe cerca de 100 obras – entre esculturas, desenhos, gravuras e pinturas – que formam um conjunto expressivo de artistas cujas produções abordam poéticas que aludem à fé e à religião, algumas de modo claro e explícito, outras, por meio de metáforas.

 

Até 1808, a temática religiosa dominou por completo a produção artística no país, entre o período que engloba o século 16 até a primeira década do século 19 – com exceção das obras de Franz Post e Albert Eckhout, que retrataram a paisagem, a flora, a fauna, a dança dos índios Tapuias, os tipos humanos e os empreendimentos açucareiros em Pernambuco. A partir de 1808, com a chegada da família real ao Brasil, os temas profanos passaram a ser adotados pelos artistas brasileiros, e algumas décadas depois já prevaleciam nas artes plásticas em nosso país.  “No século XIX, com a presença da missão francesa de arquitetos e artistas no Brasil, também ocorreu a representação do país e de sua sociedade por artistas como Debret e Taunay, entre outros. No correr do segundo império, os temas das pinturas brasileiras serão sobretudo patrióticos. Com o advento da semana de Arte moderna em 1922, inverteu-se a situação com o predomínio do profano e nossos modernistas e depois nossos contemporâneos se fizeram conhecidos do grande público por obras que não expressavam o sentimento religioso”, comenta o diretor executivo do MAS-SP, José Carlos Marçal de Barros.

 

Este conjunto de obras que compõem a nova mostra temporária do MAS-SP pode ser dividido entre os artistas modernos – Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Victor Brecheret, Vicente do Rego Monteiro, Ismael Nery, Cândido Portinari, entre outros -, os populares – entre eles José Antonio da Silva, Agostinho Batista de Freitas, Antonio Poteiro – e os artistas contemporâneos, como Alex Flemming, Marcos Giannotti, Nelson Leirner, Oskar Metsavaht, entre outros. Nos dizeres de Fábio Magalhães e Maria Inês Lopes Coutinho: “Os modernistas foram, antes de tudo, transgressores e não apenas na expressão artística, também adotaram novos modos de vida, muitos deles, incompatíveis com os hábitos da sociedade brasileira, ainda fortemente rural. Influenciados pela grande metrópole francesa que vivia sua “folle époque”, esses jovens transgressores trouxeram novas ideias que tumultuaram os costumes até então estabelecidos na conservadora sociedade brasileira”.

 

A expressão do artista popular parte na maioria das vezes de experiências vividas, das crenças, dos rituais e das festas da sua comunidade. Procissões, as festas juninas, tão populares no Nordeste, e o folclore regional nutrem, muitas vezes, os temas religiosos. Em relação à arte contemporânea, os curadores destacam a presença não rara do tema religioso, “se o entendemos como manifestação de poéticas do sagrado, do sobrenatural, como forças da natureza que inquietam a cultura, ou mesmo os aspectos intangíveis que pressentimos nas coisas e nas pessoas, ou como apropriação de símbolos consagrados”. “Lograram o magnifico resultado que o Museu de Arte sacra apresenta nesta mostra, pois todos e cada um de nossos grandes artistas continuaram mantendo dentro de si a antiga religiosidade com que conviveram desde a sua infância”, conclui José Carlos Marçal de Barros.

 

 

Sobre o museu

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, é uma das mais importantes do gênero no país. É fruto de um convênio celebrado entre o Governo do Estado e a Mitra Arquidiocesana de São Paulo, em 28 de outubro de 1969, e sua instalação data de 28 de junho de 1970. Desde então, o Museu de Arte Sacra de São Paulo passou a ocupar ala do Mosteiro de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Luz, na avenida Tiradentes, centro da capital paulista. A edificação é um dos mais importantes monumentos da arquitetura colonial paulista, construído em taipa de pilão, raro exemplar remanescente na cidade, última chácara conventual da cidade. Foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1943, e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Estado de São Paulo, em 1979. Tem grande parte de seu acervo também tombado pelo IPHAN, desde 1969, cujo inestimável patrimônio compreende relíquias das histórias do Brasil e mundial. O Museu de Arte Sacra de São Paulo detém uma vasta coleção de obras criadas entre os séculos 16 e 20, contando com exemplares raros e significativos. São mais de 18 mil itens no acervo. O museu possui obras de nomes reconhecidos, como Frei Agostinho da Piedade, Frei Agostinho de Jesus, Antônio Francisco de Lisboa, o “Aleijadinho” e Benedito Calixto de Jesus. Destacam-se também as coleções de presépios, prataria e ourivesaria, lampadários, mobiliário, retábulos, altares, vestimentas, livros litúrgicos e numismática.

 

 

 

De 26 de janeiro a 31 de março.

Escola de Belas Artes, 200 anos

11/nov

O Museu Nacional de Belas Artes, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “Escola de Belas Artes:1816-2016 Duzentos anos construindo a arte brasileira”. Sob a curadoria de Angela Ancora da Luz, a mostra faz um recorte da produção artística da instituição que formou e ainda forma centenas de artistas brasileiros desde Vítor Meireles, Antônio Parreiras, Eliseu Visconti, passando por Burle Marx, Goeldi, Portinari, Weissmann, Anna Maria Maiolino, Roberto Magalhães, Lygia Pape, Celeida Tostes, Mauricio Salgueiro até Felipe Barbosa, Bruno Miguel, Jarbas Lopes entre muitos outros.

 

Criada por Decreto Real de D. João em 12 de agosto de 1816, a primeira sede da Escola de Belas Artes foi na Travessa das Belas Artes, próxima a Praça Tiradentes. O prédio, de Grandjean de Montigny, foi projetado para receber a então Academia Imperial das Belas Artes e foi inaugurado em 5 de novembro de 1826. Em 1908, já com o nome de Escola Nacional de Belas Artes, a instituição transferiu-se para seu segundo prédio, com projeto de Morales de los Rios, na Avenida Rio Branco, onde hoje situa-se o Museu Nacional de Belas Artes.

 

Segundo a curadora da exposição, Angela Ancora da Luz, que dirigiu a EBA entre 2002 e 2010, “…a presença da Escola no contexto da sociedade brasileira revelou sua identidade por aspectos pouco conhecidos, mas de grande interesse social e político, além de seu princípio norteador fundamental: o ensino artístico. Uma escola de grande peso no Império e que esteve aberta a todos os que desejassem buscar o caminho das artes, sendo aceitos pelos grandes mestres dos ateliês. O que contava na hora da seleção era o talento, sem restrição ao grau cultural, à raça ou situação econômica. Cândido Portinari, por exemplo, mal havia completado o terceiro ano do curso “primário” quando foi aceito pela instituição, tornando-se a grande referência da pintura brasileira”.

 

“São incontáveis os pintores, escultores, desenhistas, gravuristas, cenógrafos, indumentaristas, designers, restauradores e paisagistas que saíram dos ateliês e salas da escola. O grande desafio que a presente exposição nos trouxe foi o de apresentar apenas alguns destes artistas e suas obras. Mesmo se ocupássemos todas as salas deste museu (…) ainda assim seria impossível apresentar a excelência de tudo que aqui se produziu”, completa a curadora.

 

A exposição ocupará dois salões expositivos do MNBA abrangendo a produção dos artistas que passaram pela Escola de Belas Artes, desde sua criação até a presente data. A dificuldade de selecionar as obras desta mostra comemorativa foi muito grande. Pela excelência dos artistas que passaram por seus ateliês – impossível trazer um representante de cada período – a opção da curadoria foi privilegiar os que tiveram a formação da escola. Muitos desses artistas foram alunos do Curso Livre, admitidos pela avaliação dos Mestres. Passaram pela instituição artistas de todas as classes sociais, a escola sempre foi uma unidade que presava pela diversidade. De todos que cursaram a Escola de Belas Artes, mesmo os que não a concluíram, ficou o reconhecimento do papel fundamental que ela representou em suas trajetórias.

 

O eixo curatorial enfatizou a Escola de Belas Artes como instituição que preserva a preocupação social, política e intelectual das diferenças individuais, o que não impede a formação de um corpo e de uma identidade. A curadoria buscou evidenciar as diferenças e afinidades em desenhos, gravuras, pinturas, esculturas, instalações, vídeos e performances que fizeram da escola um paraíso vocacionado para a arte e a cultura no Rio de Janeiro, potente e famosa caixa de ressonância artística do Brasil.

 

O projeto conta com patrocínio integral da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e a produção/idealização da exposição está a cargo de Anderson Eleotério e Izabel Ferreira – ADUPLA Produção Cultural, que já realizou importantes publicações e exposições itinerantes pelo Brasil, como Farnese de Andrade, AthosBulcão, Milton Dacosta, Miguel Angel Rios, Raymundo Colares, Carlos Scliar, Debret, Aluísio Carvão, Henri Matisse, Bruno Miguel, Antonio Bandeira, Manoel Santiago, Teresa Serrano, Regina de Paula, Nazareno, entre outros.

 

 

Artistas

 

Abelardo Zaluar, Adir Botelho, Alfredo Galvão, Almeida Reis, Amés de Paula Machado, Anna Maria Maiolino, Antonio Manuel, Antônio Parreiras, Arthur Luiz Pizza, Augusto Müller, Bandeira de Mello, Barbosa Júnior, Batista da Costa, Belmiro de Almeida, Bruno Miguel, Burle Marx, Carlos Contente, Cândido Portinari, Celeida Tostes, Décio Vilares, Eduardo Lima, Eliseu Visconti, Estêvão da Silva, Felipe Barbosa, Franz Weissmann, Georgina de Albuquerque, Glauco Rodrigues, Grandjean de Montigny, Henrique Cavaleiro, Hugo Houayeck, Isis Braga, Ivald Granato, Jarbas Lopes, Jean-Baptiste Debret, João Quaglia, Jorge Duarte, KazuoIha, Lourdes Barreto, Lygia Pape, Manfredo de Souzanetto, Marcos Cardoso, Marcos Varela, Marques Júnior, Mauricio Salgueiro, Maurício Dias & Walter Riedweg, Newton Cavalcanti, Oscar Pereira da Silva, Oswaldo Goeldi, Patrícia Freire, Paulo Houayek, Pedro Américo, Pedro Varela, Quirino Campofiorito, Renina Katz, Ricardo Newton, Roberto Magalhães, Rodolfo Amoedo, Rodolfo Chambelland, Ronald Duarte, Rui de Oliveira, Vítor Meireles e Zeferino da Costa

 

 

 

Até 12 de fevereiro de 2017.

Estandartes de Heberth Sobral

19/out

A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, vai inaugurar a exposição “Estandartes”, de Heberth Sobral, sob curadoria de Marco Antonio Teobaldo, no dia 29 de outubro, a partir de uma inusitada releitura das obras de Jean-Baptiste Debret sobre os costumes de africanos escravizados no Rio de Janeiro. O artista cria as mesmas cenas retratadas pelo artista francês no passado, a partir do uso de peças de plástico da marca de brinquedos Playmobill. As nove obras da exposição são apresentadas em formato de estandartes de grandes dimensões, com forte influência dos festejos populares  e do Barroco de Minas Gerais, terra natal do artista.

 

Em 2010, Heberth Sobral exibiu pela primeira vez a série “Violência não é brincadeira”, na qual retratava cenas e tipos urbanos cariocas em situações de violência divulgadas nos meios de comunicação. A característica marcante dessas obras é o uso da estética do universo Playmobill que fazem as vezes dos personagens retratados pelo artista. Esta criação acabou por se tornar a marca registrada de Sobral, que continuou a explorar este recurso, partindo também para reproduções de cenas de obras de arte icônicas, e, posteriormente, na releitura de padronagens de azulejaria portuguesa que desenvolveu em uma residência artística em Cascais, Portugal.

 

De acordo com o curador da exposição, o artista teve uma grande dificuldade em encontrar no Brasil as figuras de Playmobill de personagens negros, deparando-se com o desafio em importá-las, para que pudesse criar seus dioramas e fotografá-los, com o enquadramento muito aproximado aos apresentados nas pranchas de Debret. Em alguns casos, foi necessário criar adereços de forma artesanal, como as máscaras de ferro, abanadores e algumas peças de vestuário. Em outros, houve intervenções para que a cenografia e figurino apresentassem aspectos de desgaste do tempo, como revela o curador Marco Antonio Teobaldo.

 

 

De 29 de outubro até 14 de janeiro de 2017.

Carlos Scliar em panorâmica

06/jul

A Caixa Cultural Rio de Janeiro, Centro, inaugura, no dia 05 de julho, às 19h, a exposição "Carlos Scliar, da reflexão à criação", sob a curadoria de Marcus de Lontra Costa. Será apresentado um panorama da obra de Carlos Scliar, com cerca de 150 trabalhos, entre pinturas, gravuras e desenhos, realizados ao longo de mais de seis décadas. A mostra marca os 15 anos de falecimento do artista e é patrocinada pela Caixa Econômica  Federal e Governo Federal.

 

A curadoria buscou selecionar imagens em consonância com o espírito de Scliar, sintetizando uma vida inteira dedicada à construção de uma iconografia nacional. As obras expostas integram, num mesmo espaço, a participação política e social coletiva em defesa dos verdadeiros ideais democráticos, a pureza das pequenas histórias e a beleza contida nas coisas simples, nos objetos e vivências cotidianas do ser humano: bules, lamparinas, velas, frutos e flores, documentos, bilhetes, lembranças, saudades, desejos, memórias, resíduos, ruídos, sussurros, silêncios.

 

“Em qualquer técnica, em qualquer período de sua vida, Carlos Scliar é o artista do método e da métrica. A linha é o elemento que organiza a sua aventura artística; a partir dela, de seus vetores, ele constrói formas, acrescenta cores, desenvolve a sua poética particular. Para ele, o Brasil é assunto permanente: em busca das névoas do passado, encontrou-as (e se encontrou) entre as montanhas”, comenta o curador Marcus de Lontra Costa.

 

Na mostra serão exibidas desde as primeiras pinturas de Scliar, dos anos 1940, até sua produção dos anos 2000, passando pelas gravuras gaúchas dos anos de 1950, pela série “Território Ocupado” até chegar ao impressionante álbum “Redescoberta do Brasil”, obra final e definitiva de Carlos Scliar.

 

O projeto conta o apoio do Instituto Cultural Carlos Scliar e a produção da exposição está a cargo de Anderson Eleotério e Izabel Ferreira – ADUPLA Produção Cultural, que já realizou importantes publicações e exposições itinerantes pelo Brasil, como Farnese de Andrade, Athos Bulcão, Milton Dacosta, Miguel Angel Rios, Raymundo Colares, Carlos Scliar, Debret, Aluísio Carvão, Henri Matisse, Bruno Miguel, Teresa Serrano, Regina de Paula, Nazareno, entre outros.

 

 

 

Até 21 de agosto.

Farnese, melhores do ano

07/jan


A mostra “Farnese de Andrade – arqueologia existencial” realizada na CAIXA Cultural Brasília e CAIXA Cultural São Paulo foi indicada como uma das pelo programa de televisão “Metrópolis” – um programa da TV Cultura, como uma das 10 melhores mostras de 2015 e pelo Guia da Folha de São Paulo ao Prêmio Melhores do Ano de 2015 na categoria Exposições e anteriormente pela revista Veja como a primeira das cinco melhores mostras de Brasilia.

 

 

 

Sobre a exposição

 

 
A exposição apresentou obras de Farnese de Andrade (1926-1996), provenientes de coleções públicas e particulares, além do acervo familiar. Com curadoria de Marcus de Lontra Costa, um dos mais respeitados e engajados curadores do Brasil o projeto “Farnese de Andrade – arqueologia existencial” se constitui na primeira exposição itinerante póstuma em sua homenagem e já foi contemplado com Patrocínio da CAIXA através de Edital Público de Patrocínio CAIXA e apresentado na Caixa Cultural Brasília (2014/2015) e Caixa Cultural São Paulo (2015). A mostra abrangente e de qualidade curatorial única, reuniu as obras mais representativas de sua trajetória artística, privilegiando a produção do artista ao longo de mais de 30 anos.

 

 

Além de obras, foram apresentados material iconográfico e documental, uma cronologia ilustrada, textos críticos, fotos e vídeos sobre sua trajetória artística. A produção ficou a cargo de Anderson Eleotério e Izabel Ferreira – ADUPLA Produção Cultural -, que tem em seu curriculo mostras de importantes artistas, como: Antonio Bandeira, Debret, Manoel Santiago, Di Cavalcanti, Emeric Marcier, Carlos Scliar, Carybé, Cícero Dias, Henri Matisse, Raymundo Colares, Aluísio Carvão, Bandeira de Mello, Almir Mavignier, Athos Bulcão, Milton Dacosta, Mário Gruber, dentre outros.

 

 

A equipe produtora A Dupla Produção Cultural Ltda veio a público agradecer a todos os envolvidos nesse processo, em especial a realizadora CAIXA Cultural, ao herdeiro Atabalipa de Andrade Filho, aos familiares Marcelo de Andrade, Marcelo Sharp de Freitas, Mauricio Carvalho de Andrade, Murilo Sharp de Andrade e Yrys Albuquerque, e aos colecionadores Diógenes Paixão, Dominga Gomes Barbosa, Elio Scliar, Elizabeth e Jorge Fergie, Eunice de Medeiros Scliar, Fernanda Feitosa e Heitor Martins, Gotffried Stutzer Junior, Isa Gontijo e Nicola Calicchio, Jones Bergamin, Paulo Darzé, Luis Alberto Barbosa, Sebastião Aires de Abreu, ao cineasta Olívio Tavares de Araújo e ao curador Marcus de Lontra Costa. Afirmando ainda que “…Nosso trabalho em parceria com os herdeiros de tão importantes artistas, visa o enriquecimento e resgate da memória artística nacional, promovendo o acesso do público aos bens culturais de forma democrática e igualitária. Por fim, agradecemos a patrocinadora CAIXA ECONÔMICA FEDERAL pelo incentivo constante aos nossos projetos, pois, para nossa produtora é uma honra manter essa profícua parceria com a Insitituição Cultural que mais democratiza a arte em território nacional”.

Caixa Cultural Curitiba

06/jan


A CAIXA Cultural Curitiba, Centro, Curitiba, PR, inaugura a exposição “A VIAGEM PITORESCA – Bruno Miguel”. Com curadoria de Bernardo Mosqueira, a mostra reúne parte da produção mais recente de Bruno Miguel, com algumas das obras mais representativas de sua trajetória artística que foca na investigação sobre a pintura, o universo doméstico, a lógica do consumo e o imaginário pop. A mostra inédita, que apresenta resultados de um artista que está experimentando a pintura no mundo contemporâneo, visa nos introduzir a uma parte importante desse pensamento que mescla referências das chamadas alta e baixa culturas.

 

 

A exposição apresenta a linguagem única e singular do artista, de forma a mostrar sua personalidade e trajetória fundidas com as fases de sua obra. Bruno Miguel desenvolve desde 2004 sua pesquisa em torno da construção e da representação da paisagem na contemporaneidade. Atuante em diversas linguagens, o mesmo elege a pintura como tema principal de sua rotina obsessiva de produção. Nos últimos anos as questões acerca da paisagem começaram a dar lugar a uma investigação maior da pintura como linguagem e suas interfaces na vida cotidiana contemporânea. Mas acima de qualquer retórica que Bruno desenvolva para justificar suas opções, a verdadeira força de sua pesquisa está no trabalho. Não na obra em si, mas na labuta do atelier, onde sua curiosidade e inquietação fazem com que sua pintura se mantenha em transformação. Onde suas compulsões buscam erros ansiosos por soluções imprevisíveis, tão generosas que se escondem por trás do deslumbre banal das imagens fáceis. Sua pesquisa é um tipo de pós-pop periférico, sempre relacionando alta e baixa cultura. Uma maquiagem vulgar e exuberante que superficialmente disfarça sua condição de eterna busca pela beleza. Não da pintura, mas do pintar.

 

 

Desde 2006, o artista vem reunindo louças, porcelanas, tapeçarias, tecidos inusitados e antiguidades em leilões e antiquários, tanto pela internet quanto pela cidade do Rio de Janeiro. Tudo isso poderia se tornar parte de alguma das muitas coleções que Bruno mantém em sua casa, mas não. Somados às telas, tintas, à uma pesquisa radical, um extenso repertório imagético e a uma rara capacidade de experimentação técnica do pintar, esses materiais coletados por Bruno Miguel se tornam pintura. Como o próprio artista diz: “A história desses suportes e materiais é tão importante quanto a que será construída no atelier. O resultado dessas transformações é mostrado como uma grande instalação pictórica, relacionando a pintura e o espaço, o artista e o mundo.”

 

 

Conjuntos de pratos e tapetes decorativos de origens diversas serão suportes inesperados para grandes pinturas. Tais quais tecidos estampados reunidos, transformados em telas. Nesses trabalhos, vemos imagens originadas de estampas de camisetas dos anos 80, embalagens de chiclete, letreiros de propaganda, antigos anúncios de TV, publicidade socialista, personagens atuais da internet e referências diretas ou indiretas às ideias de paisagem e de natureza morta.Telas, objetos, tapetes, pratos e louças são elementos heterogêneos porém extremamente coerentes na proposta de montagem pensada especialmente para a galeria da CAIXA Cultural Curitiba, pois criam uma paisagem lúdica que remete à narrativa fantástica da paisagem pintada ganhando vida no plano do real.

 

 

Bruno Miguel parte do entendimento da pintura como linguagem híbrida, fluída, é o que torna impossível limitá-la à tradição e antigos dogmas. A pintura contemporânea tem vocação para o protagonismo desde que entenda suas interfaces com outras linguagens. As obras escolhidas para essa “instalação pictórica visual” tem uma relação direta com a memória colonial brasileira. O gênero de pintura escolhido como foco nos últimos anos pelo artista é a natureza morta, exercício obrigatório nas academias, historicamente bem representada pelos grandes mestres. Pratos, louças, porcelanas, tapeçarias, tecidos, azulejos, garrafas, copos, tigelas, enfim, todo o repertório já imortalizado nas composições do gênero, aqui se tornam antagonistas à ação da pintura. A tinta, a forma, os procedimentos, mesmo que aparentemente, pareçam esculturas, desenhos ou objetos, neles o artista apenas enxerga exercícios de pintura, além da pintura.

 

 

Segundo o curador Bernardo Mosqueira: “Entendemos a necessidade da circulação do pensamento e a ampliação do campo de discussão dos limites da linguagem e do circuito, tanto no que se refere à arte contemporânea quanto às suas possibilidades de comunicação com o espectador. A pintura para além do campo ampliado da tela é o “leit motiv” dessa exposição. Bruno Miguel busca apresentar em suas obras questões além dos dogmas da representação clássica com as novas possibilidades técnicas e de conceitos desenvolvidos, tanto no circuito, quanto nas salas das principais escolas de arte do Brasil. Nossa intenção com essa mostra é proporcionar através de oposições simples de símbolo, signo e significado um campo de discussão interessante entre obra e espectador.”

 

 

Bruno Miguel é um dos artistas contemporâneos mais atuantes de sua geração e já expôs em diversos museus e galerias do Brasil, Chile, Bolivia, Argentina, Colômbia e EUA. Premiado nacional e internacionalmente, possui obras em coleções públicas e privadas, como MAM RJ, MAR RJ e Deutsche Bank Collection. Artista representado pela Galeria Luciana Caravello Arte Contemporânea no Rio de Janeiro.

Filho de imigrantes portugueses e moçambicanos radicados no Brasil, fruto de uma história familiar de altos e baixos financeiros, pintor formado pela Escola de Belas Artes da UFRJ e, desde 2010, professor de pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, a partir da Ilha do Governador onde cresceu, pensa o mundo através de suas pinturas. Esse artista lê e constrói o mundo por aquilo que habita o imaginário de uma especial geração brasileira que se formou de maneira global, sendo nutrida e inundada por imagens urbanas em movimento, pela MTV com seus videoclipes, a Hollywood barata da sessão da tarde, McDonalds e seus McLanches felizes, letreiros brilhantemente encardidos, Fanta Laranja, pasta de dente de ursinho, Sonic, Mario Bros, Cavaleiros do Zodíaco, fitas piratas de videogame, Super Xuxa contra o Baixo Astral, Woopi Goldberg e sua “Mudança de hábito” em São Francisco que poderia ser o Queens, o Bexiga ou a Ilha do Governador.

 

 

Bruno Miguel apropria em uma das séries apresentadas na mostra, citações de músicas populares brasileiras ou internacionais e traduz a estética pop urbana do grafite e da pichação pra pintura contemporânea utilizando técnica minuciosa. O humor, o tom kitsch latino de Don Juan depois da linha do trem, a forte densidade conceitual e o cuidadoso apreço pelo resultado estético, além de uma crítica social feita a partir do próprio núcleo objeto dessa crítica, são dados importantes na produção de Bruno Miguel.

 

 

Sendo parte relevante e representativa de uma especial geração de jovens artistas brasileiros, Bruno Miguel apresenta essa exposição em Curitiba que carrega forte apelo visual e é uma importante amostra da ponta da experimentação das possibilidades do pintar hoje: conjugando alta cultura e baixa cultura, erudito e popular, cavalete do ateliê e muro da rua, história e agora, arte e vida, artifício e natureza, construção e paisagem.

 

 

Por tratar-se de uma exposição de um artista contemporâneo o público está convidado à novas sensações e análises, re-significando o caráter restritivo dos demais centros culturais, mantendo a CAIXA como principal incentivadora de arte contemporânea, através do pioneirismo na apresentação de novas mídias e seus respectivos artistas atuantes, já que a mostra vai de encontro à tendência de fusão de mídias na arte contemporânea, reunindo no mesmo espaço expositivo diferentes tipos de suporte, como: instalação, pintura, objetos, esculturas e tecnologia sonora/visual, interferindo visualmente na galeria e interagindo diretamente com o público.

 

 

A produção da mostra está a cargo de Anderson Eleotério e David Motta – ADUPLA Produção Cultural, empresa que vem realizando importantes exposições itinerantes pelo Brasil, como: Athos Bulcão, Farnese de Andrade, Milton Dacosta, Cícero Dias, Di Cavalcanti, Raymundo Colares, Bandeira de Mello, Carlos Scliar, Debret, Aluísio Carvão, Mário Gruber, Abelardo Zaluar, Antonio Bandeira, Manoel Santiago, Nazareno, Bruno Miguel, Analu Cunha, Denise Cathilina, Cezar Bartholomeu, Regina de Paula, entre outras.

 

 

 

Sobre o artista

 

 

Bruno Miguel nasceu no Rio de Janeiro, em 1981, cidade onde vive e trabalha. Formou-se em artes plásticas e pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2009. Fez diversos cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Em 2007, realizou a exposição “Homenagem à pintura contemporânea”, sua primeira individual, na Vilaseca Assessoria de Arte, Rio de Janeiro. Recebeu Menção Honrosa Especial na V Bienal Internacional de Arte SIART, em La Paz, Bolívia, também em 2007. No mesmo ano, ganhou bolsa da Incubadora Furnas Sociocultural para Talentos Artísticos. Participou da exposição “Nova Arte Nova”, apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, em 2008, e em São Paulo, no ano seguinte. Em 2009, participou novamente da Bienal de La Paz, e da mostra “Nouvelle Vague”, na galeria Laura Marsiaj Arte Contemporânea. Em 2010 participou das mostras “Tinta Fresca”, na galeria Mariana Moura em Pernambuco, do Salão de artes de Itajaí, e da mostra “Latidos Urbanos” no MAC – Museu de Arte Contemporânea de Santiago, Chile. Realizou, no Rio de Janeiro, as exposições individuais “Spring Love”, no Largo das Artes, em 2010, e “Have a Nice Day!”, na Luciana Caravello Arte Contemporânea, em 2011. Neste ano, também participou das mostras “Nova Escultura Brasileira”, na Caixa Cultural, Rio de Janeiro, e “Fronteiriços”, nas galerias Emma Thomas, São Paulo, e Luciana Caravello Arte Contemporânea. Em 2012, participa das mostras “Novas Aquisições – Gilberto Chateaubriand”, no MAM, Rio de Janeiro, e “Gramática Urbana”, no Centro de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, além da Individual “DVCO, NON DVCOR”, na galeria Emma Thomas, em São Paulo. Em 2013 apresentou em dupla com Alessandro Sartore a exposição “Ex-culturas” no Museu da República. Em Nova Iorque, apresentou a individual “Make Yourself at Home”, na S&J Projects, além de participar das coletivas “Sign of the Nation” e “Etiquette for a Lucid Dream”, em Newark. Ainda nesse ano apresentou a individual “Tudo posso naquilo que me fortalece” na galeria Luciana Caravello e “Todos à mesa” na galeria Emma Thomas em São Paulo. Em 2014, participa da coletiva Encontro dos mundos e Tatu: Futebol, Adversidade e Cultura da Caatinga no MAR – Museu de Arte do Rio de Janeiro. Em 2015, participou da “Trio Bienal” no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro e realizou a individual “Sientase em casa” na Sketch Gallery em Bogotá, e as mostras “A cristaleira” no Oi Futuro Flamengo – Rio de Janeiro e “Essas pessoas na sala de jantar” no Paço Imperial Rio de Janeiro. Vem atuando como curador junto a um grupo de jovens pintores, no projeto Mais Pintura desde 2013. Deu aulas, em 2010, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e é professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage desde 2011.

 

 

 
A palavra do curador Bernardo Mosqueira

 

A Viagem Pitoresca de Bruno Miguel

(ao meu amor)
(a Moçambique, ao pardal e ao riso)

 

 

Uma andorinha pode viver entre 8 e 20 anos, de acordo com a espécie à qual pertença. Elas passam mais tempo do dia voando do que pousadas, para caçar os cerca de 200 insetos que precisam diariamente para se alimentar. Esses animais fazem seus ninhos com gravetos, barro, penas e até com a própria saliva, seja na natureza ou em edificações como telhados, postes e caixas de correio. Símbolos das grandes viagens, antes do começo do inverno elas migram para lugares mais quentes e com mais alimentos e depois retornam cantando e para anunciar a Primavera.
Se colocarmos Bruno Miguel na perspectiva das andorinhas, seus insetos são pintura. Seus voos para caça são pintura. As árvores, os telhados, os gravetos, o barro, as penas e a própria saliva de Bruno são pintura. As grandes viagens migratórias e a primavera são pintura. Já o Inverno é para os outros. Na exposição “A Viagem Pitoresca”, reunimos trabalhos de Bruno Miguel produzidos entre os anos 2005 e 2015, pertencentes a diversas séries com pesquisas, processos e faturas muito distintos, mas que têm em comum a gênese na pintura como instrumento de relação entre Bruno e o mundo. Da perspectiva obsessiva de Bruno, o mundo e a pintura se misturam de forma a ser difícil descobrir quem serve a quem.
Em Portugal sempre houve diversas espécies de andorinhas, mas elas se cristalizaram um dos símbolos da identidade do país quando as cerâmicas de Rafael Bordalo Pinheiro, representando essas aves, se popularizaram, no início do século XX. Elas foram reproduzidas, copiadas, transformadas e inspiraram diversas outras andorinhas de porcelana e faiança para serem expostas dentro e fora das casas. A banalidade e a inegável sedução ou carisma desses objetos fazem com que possamos defini-los como produtos kitsch.
O Kitsch tem como características o exagero, o culto e o cálculo da beleza, a intensidade e a rapidez no afetar e a anulação dos limites entre a Alta Cultura e o dia-a-dia. Cópia, adaptação, falsificação, edição e citação são seus procedimentos principais, e a sensação imediata junto a um objeto kitsch é a de que não é preciso esforço intelectual para sua fruição – sem necessidade de distância, sublimação e reflexão. Porém, um olhar mais desenvolvido é capaz de perceber criticamente a presença de uma possível complexidade. Por exemplo, o Kitsch espelha e manipula os sentimentos e a realidade utilizando gradações de banalidade como algo positivo na criação de um discurso. Se o conteúdo for transformador isso pode ser poderoso, afinal: “por que não falar a língua de todo mundo?”.
Nos trabalhos presentes em “A Viagem Pitoresca” há, nos títulos e nas próprias obras, citações e homenagens a importantes artistas e trabalhos da história da arte e da pintura, mas há também referências ao carnaval, à cultura pop, ao cotidiano dos subúrbios, à música popular e ao ambiente doméstico ou familiar. Isso se dá não apenas nas ideias e conceitos, mas também pelos materiais e técnicas utilizados.
Outra característica dos trabalhos de Bruno Miguel é o humor por vezes escrachado, tão potente e sem limites quanto seus usos da pintura. Com o humor, Bruno retira a seriedade e a aura das coisas e as amalgama para deixar claro que, no mundo, tudo tem o mesmo destino. No caso, não a morte ou o desaparecimento, mas sim, virar pintura.
Não é à toa que escolhemos o trabalho da série Kitsch Art Family “Mamãe gosta das cores em minhas pinturas” para ser a imagem do convite e cartaz dessa exposição. Além do bem humorado título que menciona sua mãe portuguesa/moçambicana apontar para o Kitsch como uma das possíveis formas de relação com a produção de Bruno, nessa obra vemos a própria pintura como personagem de uma cena e, o que a presença das silhuetas multicoloridas realiza, é a transmutação do seu contexto em pintura.
As andorinhas são reconhecidas por seus hábitos regulares: saem e voltam aos ninhos nos mesmos horários; migram e retornam para os mesmos lugares; são instintivamente metódicas. Bruno Miguel é compulsivo e absolutamente comprometido com seu processo diário de mundo e ateliê – projeto que necessariamente terá sempre novos insetos, pousos, voos, gravetos e primaveras. O título dessa exposição faz referência à “Viagem Pitoresca” de Debret, um inegável tesouro da História da Arte no Brasil. Porém, as duas palavras também carregam respectivamente as possibilidades de entendimento como “devaneio” e “singular”. Mas que viagem essa de Andorinha!

 

 

 
Até 28 de fevereiro.

Rio setecentista

02/jul

Com a abertura da exposição “Rio Setecentista, quando o Rio virou capital”, o MAR, Museu de

Arte do Rio, comemora os 450 anos de fundação da cidade “…propondo um trajeto visual para

adentrar esse século de sua história” com obras de José Leandro de Carvalho, Mestre

Valentim, Johann Moritz Rugendas, Carlos Julião, Nicolas Taunay, Agostinho de Santa Maria,

André Thevet, Joaquim José da Silva Xavier, René Duguay-Trouin e Jean Baptiste Debret. A

curadoria do evento é de Miryan Andrade Ribeiro, Ana Maria Monteiro de Carvalho,

Margareth Pereira e Paulo Herkenhoff.

 

 

Rio Setecentista, quando o Rio virou capital

 

No século XVIII, o Rio de Janeiro torna-se capital do Vice-reino do Brasil e efetivamente se

transforma na grande cidade que conhecemos: área de encontro entre cultura e comércio,

polo de urbanidade e símbolo privilegiado de brasilidade frente ao mundo. Com a exposição

Rio Setecentista, quando o Rio virou capital, o MAR comemora os 450 anos de fundação da

cidade propondo um trajeto visual para adentrar esse século de sua história.

 

Do Rio setecentista, do Rio do ouro, do barroco e rococó, dos escravos do Valongo e do Paço

dos Vice-reis restam sobrevivências. O que desse Rio foi destruído, o que é herança ingrata?

Certamente foi no século XVIII que o Rio assegurou sua fama estética. A cidade maravilhosa

une beleza natural a beleza urbana, ideia recorrente em propagandas, propostas políticas ou

mesmo críticas. Também naquele momento, a população negra expandiu-se, ainda que

sempre à margem, e os índios, tão importantes na luta pela posse e fundação da cidade junto

aos portugueses, simplesmente desapareceram do registro do desenvolvimento carioca.

 

O encontro da cidade com o poder público é um dos aspectos mais fortes de sua história

setecentista: capital por quase 200 anos, o Rio percebeu o envolvimento do poder com o

dinheiro, com a religião, com a cultura e com a exclusão social. Deixamos de ter vice-reis ou

eles apenas mudaram de nome? Mais de um século após a abolição, estamos livres das

sombras da escravidão? Essas são perguntas que esta exposição não permite calar,

questionando qualquer pretensão a uma ordem natural das coisas. O Rio de Janeiro é um lugar

privilegiado por natureza, mas é também reflexo de sua complexa e contraditória história.

 

Carlos Antônio Gradim (Diretor-Presidente do Instituto Odeon)

 

 

A partir de 07 de julho.