Marcel Broodthaers: Décor

30/mar

 

Marcel

 

Venho usando telas fotográficas, filmes e slides para estabelecer relações entre o objeto e a imagem desse objeto, além das relações que existem entre o signo e o significado de um objeto particular: a escrita.

M.B., 1968

A Gomide&Co, Jardins, São Paulo, SP, apresenta “Marcel Broodthaers: Décor”, primeira exposição individual do artista belga em galeria comercial no país, abarcando cerca de doze anos de um processo criativo marcado pela crítica institucional e a crítica da representação. Pouco conhecido no Brasil, o artista foi mostrado em duas notáveis ocasiões: na 22ª Bienal de São Paulo, em 1994, com curadoria de Nelson Aguilar, e na 27ª edição do mesmo evento, em 2006, com curadoria de Lisette Lagnado, em homenagem aos trinta anos de sua morte. Repetição e rasura; escritura e imagem; cânones e ficções. Na aparente oposição desses termos, é possível localizar alguns dos principais traços que constituem o horizonte conceitual da produção de Marcel Broodthaers (1924-1976). Com grande dose de ironia, colocou em evidência a questão do gosto e a subscrição de uma assinatura. Sabendo que a finalidade dessa invenção burguesa sempre visou forjar uma ideia de singularidade, resolveu associá-la com o seu princípio o oposto, o da tiragem ilimitada, no título “La Signature”, série 1, Tirage illimité (1969) – que, em contrapartida, se refere a um trabalho ele mesmo de tiragem limitada. Broodthaers foi poeta até sua entrada estratégica no campo das artes visuais com “Pense-bête” (1964), primeiro trabalho escultórico a partir de seu livro de poemas que, imobilizados em gesso, adquirem tridimensionalidade. Desde então, a poesia visual nunca mais será a mesma. Suas experimentações incidem, de saída, sobre a banalidade da cultura cotidiana, como vemos em trabalhos com panelas, frigideiras, carvão, mexilhões, cascas de ovo etc. Ainda que o pintor René Magritte (1898-1967), célebre artista belga com quem estabeleceu intenso diálogo, também tenha questionado a relação entre as palavras e as coisas, Broodthaers irá expandir esta reflexão para fora dos conhecidos limites do quadro. Em meio aos convulsivos eventos de Maio de 1968, Broodthaers participou, com outros artistas, da ocupação do Palais de Beaux Arts de Bruxelas, cujo intuito consistia em contestar o papel daquele museu na capital, ou seja, a relação entre arte e sociedade. A partir disso, resolve fundar, em sua casa, o Musée d’Art Moderne – Département des Aigles, seu projeto mais complexo e hoje um divisor na história da arte do século 20. Estruturado em doze seções, esse “museu fictício” tem seu encerramento decretado em 1972. Durante os cinco anos de existência, em paralelo às seções de seu museu (1968 – 1972), o artista produziu as placas industriais que constituem uma parte importante de sua obra. Broodthaers dedicou todo esse período a legitimar e denunciar, simultaneamente, o funcionamento das coleções e os mecanismos arbitrários do papel da instituição e, em última instância, da Arte. O aparato institucional da Arte seria identificado, assim, a partir de uma série de interdições e elementos operacionais que o constituem. Daí a produção de placas que emulam o sistema de sinalização, como as setas em Museum – musée, Section Cinéma (1971) que, espirituosamente, apontam para direções opostas. Os convites das inaugurações permitem acompanhar o perfil de sua missão, como em seu Musée d’Art Moderne, Département des Aigles, Section Cinéma (1971). Ainda na chave institucional, Marcel Broodthaers introduziu o conceito de Décor, fazendo de cada exposição uma obra em si – donde o desafio constante de reunir peças soltas que possam ser novamente apresentadas como um conjunto organizado. Não seria exagero afirmar que o artista foi um exhibition maker, alguém que dominou tão profundamente a arte do display que conferiu à exposição um estatuto de linguagem, chegando a inserir trilhas sonoras para conectar palavras, objetos, palmeiras no espaço etc. Entre os trabalhos mais representativos desse momento de sua produção, figuram “Un Jardin d’Hiver” e “Ne dites pas que je ne l’ai pas dit”, ambos de 1974. Este último, consiste no arranjo entre uma gaiola com um papagaio-cinzento vivo, duas palmeiras e uma mesa sobre a qual vê-se o catálogo de uma exposição de 1966 que reproduz seu texto “Ma Rhétorique”, que, por sua vez, ecoa em uma gravação em que ouvimos o artista dizer: “Je tautologue. Je conserve. Je sociologue. Je manifeste manifestement.” (Eu tautologo. Eu conservo. Eu sociólogo. Eu manifesto manifestamente). Texto e voz, objeto e imagem, bicho e planta sintetizam o esforço de Broodthaers em explodir os sentidos e abraçar trabalhos multimídia. Sobre isso, o artista comentaria: “Tenho procurado reacomodar objetos e pinturas, que foram feitos entre 1964 e este ano, com o objetivo de formar nas salas um espírito décor. Ou seja, com o objetivo de restituir uma função real ao objeto ou à pintura. O Décor não é um fim em si.”¹

Marcel Broodthaers criou para si um sistema de signos recorrentes a partir de elementos que serão recombinados em diferentes suportes e situações. É o caso das moules – palavra ambígua que, em francês, designa tanto mexilhões como moldes – e das cascas de ovo que aparecem em diversas obras tanto apropriadas in natura como desenhadas, fotografadas ou escritas em textos. Outros exemplos podem ser encontrados nas cores da bandeira da Bélgica e no carvão de “Trois tas de charbon” (1966 – 67). A repetição de imagens variadas de uma mesma figura em “Bateau Tableau”, que consiste em 80 slides projetados, e o livro e filme “A Voyage on the North Sea” ambos de 1973, operam uma espécie de reunião iconográfica (pintura, fotografia e filme) de um mesmo motivo – uma pintura do século XIX – para construir uma imagem relacional e temporalizada: um barco ao mar.

Venho usando telas fotográficas, filmes e slides para estabelecer relações entre o objeto e a imagem desse objeto, além das relações que existem entre o signo e o significado de um objeto particular: a escrita.

M.B., 1968

A poesia visual acompanhou a produção de Marcel Broodthaers ao longo de toda a sua trajetória. Seu interesse pela linguagem escrita seguiu sendo nutrido e exercitado sobretudo através de trabalhos em que aproximações entre palavra e referente são tensionadas de maneiras diversas: seja em uma espécie de investigação da correspondência entre o elemento nomeado e o termo que o designa, como quando repete incessantemente a palavra pot (pote, recipiente) e desenha ao lado um pot; ou em uma espécie de exercício de confusão das correspondências quando escreve a palavra moules ao lado de imagens de ovos. Já a imbricação da gestualidade com a escrita se vê tanto na sua caligrafia por vezes trêmula, rasurada e errante, quanto em trabalhos como “La Pluie” (Projet pour un texte) (1969), em que, debaixo de um temporal, a escrita se resume ao ato, já que quem escreve tem suas palavras diluídas e apagadas pela chuva, mas persiste no gesto. Há, ainda, um frequente jogo entre o significante e o significado, como em “Les Poissons” (1975) quando, sobre a tela, vemos os nomes dos elementos que ali estariam retratados, e não a sua forma, incluindo supostos intrusos em meio aos “peixes”, notadamente o “ovo” ao lado dos “arenques”. Ao ser questionado por seu editor acerca do motivo de publicar um livro, Broodthaers respondeu: “Para fazer dedicatórias e estabelecer essa relação arte/mercadoria.” Este diálogo integra a folha colada nas páginas iniciais da obra “Vingt Ans Après”, de Alexandre Dumas, escrito em 1845, do qual Broodthaers se apropria em 1969 adicionando uma cinta com seu nome e o de seu editor sobre a capa da edição de bolso de Dumas. Segundo Rosalind Krauss, se devêssemos nomear o principal medium de Broodthaers, seria a ficção.² Não se trata de mera coincidência, portanto, que o artista se valha de um romance do século XIX para intervir no imaginário da criação. Se o romance foi o “suporte técnico através do qual a ficção virou convenção durante o século XIX”³, o artista amplificou seu campo especulativo, já que, usando suas palavras, “a ficção nos permite compreender a realidade e, ao mesmo tempo, o que ela esconde.”

O caráter inesgotável dos problemas abordados por Marcel Broodthaers em sua obra é o que nos convida à viagem: é como se, de alguma forma, estivesse tudo ali. Sempre bom lembrar quão carregada de humor é essa produção, conferindo leveza ao estranhamento que pode provocar. Seu recado não poderia ser mais jocoso:

“À mes amis,

… peuple non admis. On joue ici tous les jours, jusqu’à la fin du monde.”

M.B., 1968 ⁴

 

¹ Marcel Broodthaers, L’Angélus de Daumier, vol. II, 1975.

² Rosalind Krauss, A Voyage on the North Sea: Art in the Age of the Post-Medium Condition, 2000.

³ Idem

⁴ “Aos meus amigos, … pessoas não permitidas. Aqui brincamos todos os dias, até o fim do mundo.”

 

Até 28 de maio.

 

Uma celebração: Ser Mulher

10/mar

 

 

A determinação e o espírito empreendedor de uma mulher são o coração da Art Lab Gallery, Jardins, São Paulo, SP. Firme no propósito de dedicar-se a expandir os limites da arte e dos artistas, possibilitando que suas criações cheguem aos mais diversos públicos, a galerista e curadora Juliana Mônaco abre a exposição “ARTE E MULHER” com, aproximadamente, 300 trabalhos criados por 100 artistas mulheres. Mulheres de diferentes idades e culturas trazendo suas próprias versões do feminino em suportes variados como pinturas, desenhos, esculturas, fotografias e objetos.

“Perspectivas e expressões diversas geradas pela potência do cerne feminino de mais de cem mulheres artistas, entre elas uma adolescente em sua primeira exposição, uma muçulmana, e também uma índia, em pares com as consagradas Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Lina Bo Bardi, Fayga Ostrower, Tomie Ohtake, entre outras como Noemia Mourão – 1° esposa de Di Cavalcanti, e Eleonore Kock – aluna do Volpi, mulheres intensas que nos convidam à adentrar em seus íntimos através da arte. Basta observar e sentir”, explica a curadora.

Entre essas artistas, que através de suas obras discutem os desafios e sensações do que é ser mulher em sociedade hoje, podemos citar nomes como Silvia Borini, artista convidada, que apresenta um recorte da série de 1985 sobre os estágios emocionais da gestação – a fase azul; Ana Goulart, Carol Moraes, Elis Regina Mancini, Graça Tirelli, Lu Gerodetti, Luiza Whitaker, Marcia Cavinati, Mariana Naves, Mariella Morrone, Rebeca Bedani, Renata Kandelman além de nomes como Eliana Minilo, Fayga Ostrower, Renina Katz, Lina Bo Bardi, Lucy Citti, Maria Helena Chartuni, Maria Leontina, Rosina Becker, Yolanda Mohalyi, entre muitas.

“Distribuídas por toda a extensão da galeria, as obras contemporâneas em multilinguagens, abordam manifestos particulares das mulheres artistas. Um espaço de inflexão para coexistir mulher. Através da ressignificação do feminino, honrar no sangue e no querer, a força e o amor de milhares que vieram antes de nós.” Juliana Mônaco

 

De 11 a 19 de março.

 

 

Comemoração

22/jun

 

 

 

A galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura dia 23 de junho, a exposição “Modo Contínuo”, em comemoração aos seus três anos de atividades.

 

A mostra apresenta uma seleção de 35 obras inéditas e emblemáticas – em vídeo, pintura, escultura, fotografia, objeto, e instalação – dos artistas Claudio Tobinaga, Gabriela Noujaim, Isabela Sá Roriz, Jeane Terra, Jimson Vilela, Leandra Espírito Santo, Pedro Carneiro, PV Dias, Roberta Carvalho e Virgínia Di Lauro, representados pela galeria.

 

 

A exposição permancerá em cartaz até 27 de agosto.

 

 

A visitação é por agendamento prévio, pelos telefones+55 21 3496-6821 e +55 21 99842-1323 (WhatsApp).

 

 

O Campo Cego de Padovani

05/ago

O artista Ivan Padovani apresenta 30 trabalhos em “Campo Cego”, sua primeira exposição individual na Galeria da Gávea, Rio de Janeiro, RJ. As fotografias representam de forma sistemática as paredes laterais cegas de edifícios em São Paulo.

 

Segundo Ivan Padovani, “Campo Cego” tem como base um procedimento com regras muito bem definidas, o que lhe confere um caráter de coleção e inventário, até o momento formado por cerca de 150 imagens de empenas realizadas na capital paulista. Por meio de tais convenções, a pesquisa procura tornar mais claro seu objetivo enquanto representação de uma experiência pessoal frente à cidade, assim como sugerir questões relativas à visualidade e percepção em meio ao ambiente urbano.

 

“O processo de produção tem como ponto de partida minha relação com a cidade no dia a dia. Nos últimos anos, a atitude de procurar essas ocorrências em São Paulo me conduziu a um exercício constante de caminhar mais lentamente e com um olhar mais atento, não só a essas fachadas, mas também a todo o seu entorno”, diz o artista.

 

A partir de um olhar que revela o que pode ser considerado o verso da cidade, Ivan Padovani busca certo silêncio visual, uma ordem no caos, um respiro em meio à saturação. “O interesse principal não é tentar retratar os contrastes, o movimento caótico, a desordem, o excesso de SP. Busco o oposto, como se a cidade estivesse sendo vista em um só plano, silenciosa e estática. Paradoxalmente, um espaço que nega e afirma tudo ao seu redor”, complementa.

 

A fotografia é a ferramenta utilizada para a criação deste inventário. Mas ao abdicar da perspectiva, a imagem afirma sua bidimensionalidade de tal forma até ganhar a estética de desenho. As fotografias são apresentadas em suportes que sugerem experiências visuais e táteis para quem entra em contato com o trabalho. Desta forma, a fotografia é pensada de forma expandida, assumindo um caráter de objeto.

 

“Campo Cego” foi um dos trabalhos selecionados em 2014 no Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia e no Programa Descubrimientos do Festival PhotoEspaña.

 

 

Sobre o artista

 

Natural de São Paulo e fotógrafo profissional desde 2004, Ivan Padovani é formado em administração pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, com pós-graduação em fotografia pela mesma instituição. Realiza trabalhos nas áreas de fotografia esportiva, documental e retratos, atendendo clientes para fins editoriais e publicitários.

 

Ivan é artista representando pela Galeria da Gávea e frequenta o grupo de acompanhamento de projetos orientado por Nino Cais e Marcelo Amorim no ateliê Hermes Artes Visuais. É colaborador da revista Digital Photographer Brasil, ministra cursos de fotografia no Hermes Artes Visuais, edita o blog Marcador e coordena o F+, núcleo educativo da Fauna Galeria voltado para a reflexão e prática em arte contemporânea.

 

 

De 05 de agosto a 19 de setembro.

Alexandre Mury, Fricções históricas

19/jul

 

A Caixa Cultural, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe em sua Galeria 1, a exposição“Fricções históricas”, mostra individual do artista plástico Alexandre Mury, com curadoria de Vanda Klabin e coordenação geral do marchand Afonso Costa. Nessa que será a primeira mostra institucional individual do artista, o espectador terá a oportunidade de conferir um panorama de imagens que, muito mais que se prestarem ao julgamento estético, instigam e provocam a reflexão sobre temas extremamente presentes. Os trabalhos de Mury evocam questões antropofágicas de autoria, tais como cópia, citação, releitura, recriação, crítica, apropriação, paródia, pastiche, já que ele trabalha a partir de obras consagradas, canônicas, portanto, de rápido reconhecimento. Sua proposta faz, assim, a discussão enveredar pelo questionamento do próprio papel da obra de arte em nossa sociedade.

 

A exposição “Alexandre Mury | Fricções históricas” apresenta um vídeo e 42 fotografias em grandes formatos, metade delas inéditas, todas protagonizadas pelo próprio artista, com provocativas releituras de obras consagradas da história da arte, ícones da cultura e do imaginário coletivo. São releituras do olhar único de Mury, que desenvolve um estudo não linear da história da arte, percorrendo do renascentista ao contemporâneo, passando pela Antiguidade e indo ao moderno. Uma das obras inéditas bastante esperadas para esta exposição é a versão de Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. Para aparecer em sua leitura da obra renascentista, Mury raspou o cabelo, a barba e as sobrancelhas.
A alquimia poética que envolve os trabalhos de Alexandre Mury tem a capacidade de nos trazer questionamentos, inquietações, provocações e até um insistente desconforto aliado às ambiguidades de um prazer libidinoso. Desdobrar-se e despersonalizar-se ao estabelecer o seu eu como centro de todas as suas obras, por meio de um procedimento descontínuo e lacunar, gerado ao transformar a própria imagem constantemente e introduzir o seu ser como agente de suas investigações históricas, é exatamente a junção de acontecimentos que o torna portador de uma experiência artística bastante singular, diz a historiadora de arte e curadora da exposição, Vanda Klabin.

 

 

Sobre o artista

 

Alexandre Mury nasceu em São Fidélis, RJ, 1976, onde reside. Artista por vocação, desde criança desenhou e pintou e aos 16 anos começou a fotografar. Em 1997, ingressa na Faculdade de Filosofia de Campos cursando Publicidade e Propaganda, que conclui em 2001. Lecionou em algumas faculdades entre 2003 e 2006, nos cursos de Comunicação Social e Design Gráfico. Atuou profissionalmente como diretor de arte em agências de publicidade de 2001 até 2010. Desde então, dedica-se exclusivamente ao trabalho de fotografia, participando de importantes coleções, como as de Gilberto Chateaubriand e Joaquim Paiva.

 

 

Sobre a curadora

 

Vanda Klabin é historiadora de arte, curadora de diversas exposições de arte e autora de artigos e ensaios sobre arte contemporânea. É formada em Ciências Políticas e Sociais, pela PUC-Rio e em História da Arte e Arquitetura pela Uerj. Fez pós-graduação em Filosofia e História da Arte, PUC-Rio. Nasceu, vive e trabalha no Rio de Janeiro.

 

 

De 20 de julho a 8 de setembro.

Um olhar sobre o Brasil/CCBB-Rio

28/fev

Com mais de 300 imagens de diferentes acervos públicos e coleções privadas, chega ao CCBB-Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, a exposição “Um olhar sobre o Brasil. A Fotografia na construção da Imagem da Nação”, realizada pela Fundación Mapfre, com a colaboração do Instituto Tomie Ohtake. O projeto inédito, de pensar 170 anos de história do país, 1883-2003, a partir do registro fotográfico, tem curadoria do especialista em história da fotografia Boris Kossoy e curadoria adjunta da antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz.

 

A mostra, com cenografia assinada por Daniela Thomas e Felipe Tassara, percorre caminhos de luz e sombra, costurando história e iconografia. Tomando como ponto de partida o momento próprio de invenção da técnica fotográfica, a exposição revisita o olhar “científico” que guiava as expedições estrangeiras, o gosto de D. Pedro II pelo novo suporte e os registros de revoltas populares como a de Canudos, até chegar à grande multiplicação de temas, ângulos, acontecimentos e reviravoltas que compuseram o longo século 20.

 

Cada fotografia se faz acompanhar por um pequeno texto; na verdade, sua micro-história, com informações que vão muito além da tradicional legenda (título, data, autor). Esse diferencial é conseqüência da ampla pesquisa realizada para a mostra, tanto referencial quanto iconográfica (essa última assinada por Vladimir Sacchetta). Ao refletir sobre as fotos escolhidas, o curador destaca o esforço em ”valorizar o simbólico, tentar evitar a redundância, destacar o anônimo e o cotidiano naquilo que têm de aparente e oculto, rever criticamente as imagens conhecidas e ideologicamente comprometidas com as histórias oficiais.”

 

A mostra

 

Para organizar o grande número de imagens, a curadoria estruturou o material a partir de quatro grandes eixos temáticos: política, sociedade, cultura/artes e cenários. Ao mesmo tempo, os 170 anos foram divididos em sete períodos, demarcados por fatos marcantes da história nacional: 1833 -1889/Luzes sobre o Império; 1889 – 1930/Urbanidade, conflitos, modernidade; 1930 -1937/Ideologias, revoluções, nacionalismos; 1937 -1945/Autoritarismo, repressão, resistência; 1945 -1964/Industrialização, desenvolvimento, anos dourados; 1964 -1985/Tempos sombrios e 1985 – 2003/O reacender das luzes.

 

Escolhida como ponto de partida da exposição, a data de 1833 refere-se às experiências precursoras de Antoine Hercule Romuald Florence, 1804–1879, levadas a efeito na vila de São Carlos (Campinas) e que o conduziram a uma descoberta independente da fotografia, pioneira nas Américas e contemporânea às que se realizavam na Europa, na mesma época.

 

Pensando ainda no século 19, Lilia Schwarcz ressalta os fotógrafos itinerantes que varreram o país de ponta a ponta – motivados, a princípio, pelo desejo de conhecer esse Império dado a costumes, climas e políticas em tudo tão distintos.

 

Hobby do imperador D.Pedro II, a fotografia tornou-se ferramenta para registrar um número cada vez maior de famílias da elite, em cenas devidamente posadas.  Junto com o registro da paisagem urbana, rural e natural, os retratos de estúdio introduziram a prática fotográfica no cotidiano das sociedades em todo o mundo.

 

Ao longo de todo o século 20 e com cada vez mais intensidade, a nova arte tomou as páginas das revistas e dos jornais, diversificou seus temas e, saindo às ruas, acompanhou os momentos mais marcantes da vida brasileira – alguns gloriosos, outros bastante sombrios.

 

Técnica documental, mas também plataforma da criação e profusão de sentido, a fotografia fez parte da construção da identidade nacional desde a época de sua invenção não só retratando, mas também contribuindo para definir costumes, numa intrincada rede de relações.

 

De 01 de março a 07 de abril.

Fialdini na Raquel Arnaud

30/jan

Um dos principais fotógrafos brasileiros, Romulo Fialdini, nesta sua primeira individual na Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, revela a sua poética singular ao apresentar 24 fotografias autorais. A exposição “Pensei que fosse só eu”, reúne imagens selecionadas pela curadora Galciani Neves, que fazem parte de um livro de mesmo nome, que será lançado pela editora Superbacana +, na abertura da exposição, com cerca de 100 fotografias, em preto e branco, concebidas ao longo da extensa carreira do fotógrafo.

 

Para a exposição, a curadora destaca as imagens que evidenciam a singularidade das composições do fotógrafo a partir de seu olhar sobre a arquitetura e os espaços urbanos. Para o livro a curadora pesquisou o arquivo autoral de Romulo Fialdini que contém mais de 8 mil fotos. As obras selecionadas “são recortes de tempo distanciadas do fluxo da vida, como uma pausa ao ritmo do consumo das imagens rápidas atadas aos apelos artificiais”.

 

Depois de 12 anos dedicados ao design, o estúdio Superbacana ampliou a sua atuação ao criar a editora Superbacana +, com a proposta de desenvolver projetos culturais que conjuguem a produção de livros-objeto com exposições das obras publicadas. “Pensei que fosse só eu”, de Romulo Fialdini, é o projeto de estreia da editora, com tiragem inicial de 1500 exemplares, sendo 100 em formato de livros-objeto, em caixa acrílica, numerados, assinados e acompanhados de jogo da memória baseado nas fotos do livro.

 

Sobre o artista

 

Rômulo Fialdini foi fotógrafo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand de 1971 a 1974, onde produziu imagens para catálogos, livros de Pietro Maria Bardi e para o arquivo de documentos de Lina Bo Bardi. Essa experiência repercutiu em sua carreira e até hoje destaca-se como fotógrafo especialista na reprodução de obras de arte. Desde 1975 trabalha como fotógrafo independente, atuando também no campo editorial e de publicidade. Em paralelo, dedica-se à fotografia urbana e de arquitetura, realizando ensaios em preto e banco sobre cidades como Nova Iorque, Chicago e Montevidéu.

 

De 02 de fevereiro a 09 de março.

Maureen Bisilliat lança livro

09/nov

A consagrada Maureen Bisilliat lança, na Livraria Cultura, Conjunto Nacional, São Paulo, SP, pela editora Terra Virgem, o livro “Maureen Bisilliat”, contendo 50 imagens registradas ao longo de sua trajetória fotográfica. A origem desse trabalho remonta a cópias manuseadas pela autora há décadas, entre fotografias em branco e preto, coloridas,  tonalizadas, alteradas, interferidas e guardadas. Essas obras estão reproduzidas da maneira em que foram encontradas: ampliações dobradas, amassadas, manchadas e metamorfoseadas pelo esquecimento.

 

A seleção de imagens que compõem a publicação obedece a uma metodologia básica e intuitiva, que permitiu criar um fluxo abrangente, atemporal e descompromissado, diferente das cronologias anteriores que Bisilliat estabeleceu em seus projetos.

 

O livro “Maureen Bisilliat” apresenta fotografias já conhecidas do público, marcantes na carreira da fotógrafa, além de imagens inéditas e faz parte da coleção “Fotógrafos Viajantes”, da editora Terra Virgem, da qual já foram lançados exemplares de Pierre Verger, Cássio Vasconcellos, Pedro Martinelli e Loren McIntyre, sob a batuta do editor Roberto Linsker.

 

Sobre a artista

 

Fotógrafa e documentarista, Maureen Bisilliat foi bolsista da Fundação Guggenheim, do CNPq e da FAPESP. Nascida na Inglaterra, a artista vive no Brasil desde 1952, radicando-se no país. Iniciou na fotografia em 1962, tendo atuado por dez anos nas revistas Realidade e Quatro Rodas. Estas “andanças” resultaram na elaboração de um projeto traçando equivalências fotográficas dos mundos retratados por Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto e Adélia Prado; publicou em livros os resultados desse traçado. De 1972 a 1977 visitou diversas vezes o Xingu. Em 1979, lançou, em coautoria com os irmãos Villas-Bôas, a publicação “Xingu / Terra” e participou com uma sala especial da XIII Bienal Internacional de São Paulo, 1975. Em 1988, foi convidada por Darcy Ribeiro para contribuir na criação de um acervo de arte popular latino-americana, do qual nasceu o Pavilhão da Criatividade no Memorial da América Latina. Foi diretora deste espaço de 1989 a 2010. Em 2003, o Instituto Moreira Salles adquiriu seu acervo fotográfico, publicando, em 2009, o livro “Fotografias / Maureen Bisilliat”. O interesse do Instituto Moreira Salles pela sua obra reavivou o interesse da própria autora pelos seus trabalhos, até então esquecidos nos armários do tempo. O “Prêmio Porto Seguro de Fotografia”, a Ordem do Ipiranga, a Ordem do Mérito Cultural e a Ordem do Mérito da Defesa, recebidos todos no ano de 2010, indicam a repercussão desta redescoberta.

 

Lançamento: 13 de novembro.

Miro no século XVII

25/out

A FASS, Vila Madalena, São Paulo, SP, galeria especializada em fotografias do início do século XX, além de cópias de época, ou vintage, apresenta “Miro – Um fotógrafo no século XVII”, exposição composta por onze trabalhos de Miro, releituras de  pinturas do século XVII, entre as quais, telas de Caravaggio.

 

São onze imagens que capturam por linguagem fotográfica obras renascentistas italianas, flamengas, francesas e espanholas, uma seleção que Miro utilizou como referência, para admirar a semelhança, atingida sem qualquer tipo de intervenção ou manipulação digital. As fotos, com tiragem de cinco, foram feitas em estúdio, apenas com os recursos à mão do fotógrafo na década de 1980: câmeras de grande formato e filmes positivos em placas de 4×5 polegadas.

 

As fotografias reunidas na mostra refletem um momento de introspecção do autor, às voltas com questões existenciais como a finitude e transitoriedade da vida, temas caros aos mestres daquele período.  Na versão de Miro, obas como “São Jerônimo”, de 1606, “São João Batista”, de 1604, e “Flagelação de Cristo”, de 1607, encantam e emocionam pela sensação de presença que exalam os personagens, os corpos que, vindos da pintura, parecem avançar em nossa direção reivindicando humanidade.

 

Nas naturezas mortas, essa procura obsessiva por um vislumbre da verossimilhança representada em telas de 400 anos atrás alcança um grau de expressividade que transcende a mera reprodução e gera uma nova mensagem.  Exemplos desse estilo recriados por Miro são as telas “Bodegon de Cocina”, de 1665, de Mateo Cerezo e “Bodegon e Paisagem”, atribuída a Juan Van Der Hamen y Léon.

 

Sobre o artista

 

Azemiro de Souza, o Miro, nasceu em 1949, na cidade de Bebedouro, SP. Foi laboratorista, assistente e nos anos 70 e 80 tornou-se um dos fotógrafos de publicidade e moda mais influentes do Brasil. Com um estilo influenciado pelas artes cênicas, pintura e cinema, Miro criou não só belos trabalhos fotográficos, mas tendências, além de dar cara a várias marcas. Sua busca quase obsessiva pela imagem precisa e fiel à sua imaginação moldou o mito criado em torno de sua obra. Em 2010 lançou o livro “Artesão da Luz”, pela Luste Editores.

 

 

Até 22 de dezembro.

Um olhar livre

23/out

Antanas Sutkus

Pela primeira vez encontra-se em exibição 120 retratos de um dos mais importantes fotógrafos do século XX. Aos 73 anos, o lituano Antanas Sut­kus ganha retrospectiva no Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, Centro, Belo Horizonte, MG. A mostra compõem-se de imagens da vida cotidiana na União Soviética (da qual a Lituânia fazia parte) dos anos 50 aos 90. Antanas Sutkus abordou com delicadeza e certa intimidade cenas comuns de sua terra. Um dos exemplos mais famosos nessa exposição é a premiada foto “Pioneiro”, que mostra um melancólico menino mas também são evidentes na produção do artista reflexos de sua biografia. Por ter sido criado pelos avós no meio rural, ele registra com ternura pessoas idosas e camponeses. Outra preciosidade, que surgiu do seu acervo de quase 1 milhão de negativos, é uma série de fotografias da visita dos filósofos Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir à Lituânia, em 1965. Essa sequência de imagens ganhou lugar de destaque no mezanino da galeria.

 

Segundo o curador Luiz Gustavo Carvalho, “o principal interesse do lituano eram as pessoas simples, a rotina e a expressão particular de cada um, além de posicionar-se contra os arbitrários do movimento realista soviético”, o crador afirma ainda que “cada imagem (de Antanas) contém uma dose de subversão tingida com a doçura do olhar deste fotógrafo excepcional. O olhar de Antanas Sutkus é o olhar de um homem livre”.

 

Em 1969, fundou a Sociedade da Arte da Fotografia, em Vilnius, na Lituânia, que reunia fotógrafos que possuíam as mesmas aspirações. Em 1976, Antanas Sutkus foi condecorado com um prêmio da Associação Internacional de Fotografia Artística, associação da qual ele até hoje é membro, e é também, desde 1996, presidente da Associação Lituana de Fotógrafos.

 

A exposição já foi apresentada em Curitiba e, depois da capital mineira, segue para Salvador e Fortaleza.

 

Até 04 de novembro.