Três séries em exposição

09/abr

A exposição de Luciana Maas na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, mostrará – até 09 de junho – as técnicas possíveis da pintura tendo o tênis como objeto principal. “Balanço” abrirá no dia 13 de abril, às 14h, no Átrio, seguido de visita guiada pela artista. Esta será a primeira exibição individual de Luciana Maas (SP) em um museu. Com curadoria de José Augusto Pereira Ribeiro, a artista apresenta, pela primeira vez, as três principais séries a que se dedicou nos últimos 15 anos: os Tênis, as Lonas, e os Balanços, todas em grandes formatos e com liberdade nos golpes dos pincéis e nas articulações entre figura e fundo. São cerca de 20 trabalhos que permitem um mergulho completo em sua obra e no seu imaginário. No processo de cada pintura, entram em disputa pensamentos contrários, gestos largos e mínimos, ligeiros e lentos, sujos e minuciosos, materiais distintos (a tinta a óleo, o bastão oleoso, o spray) na obsessiva atividade de colocar, espalhar, raspar e retirar tinta, depintar, apagar, sujar e pintar de novo, de mexer e mexer em franco vaivém.

“Fazer” implica a destruição – e implica, por consequência, a contradição -, nos processos de trabalho de Luciana Maas (…) As obras são inteiras, carregadas, densas. Resultam em superfícies preenchidas por sobreposição e mais sobreposição de matéria e atividade. Outro paradoxo aparente se refere justamente ao fato de que pinturas tão impregnadas de substância e ação sejam povoadas por corpos descarnados, mutilados, por objetos em desmancho, metidos em espaços incertos, envolvidos por luzes fluorescentes, nuvens de fumaça e gás – que, a julgar pelo brilho e pelas cores, são radioativos. Agora, se ainda assim os trabalhos inspiram inacabamento é porque, prontos, restam ainda como se estivessem em aberto, com seus acontecimentos em marcha contínua, de formação, distorção, desmoronamento e construção, de novo, de suas partes, de maneira diferente a cada vez, a cada exame – sobretudo nas telas pintadas por Luciana Maas a partir de 2012″, destaca José Augusto Pereira Ribeiro em seu texto curatorial.

Sobre a artista

Luciana Maas nasceu em 1984, na cidade de São Paulo, onde trabalha como pintora há mais de 20 anos. Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, frequentou os ateliês dos artistas Osmar Pinheiro e Carlos Fajardo durante anos. Participou de inúmeros cursos promovidos pelo Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro; pela Tate Modern, em Londres, Inglaterra, entre outros. Iniciou sua prática através da figuração e do desenho de observação, mas logo expandiu seu repertório para a pintura gestual de linguagem mais abstrata. Atualmente, seu trabalho tem como tema o encontro visual com o inesperado, no próprio movimento de pintar, em tentativas de capturar a metamorfose do plano pictórico nele mesmo. Cada obra sua possui singularidades e demanda um longo processo para lograr seu resultado: que pareça inacabado e, ainda em transformação. Luciana Maas teve uma importante experiência na residência que frequentou em 2018, na cidade de Salzburg, na Áustria. Sob a orientação do artista Ei Arakawa, produziu uma música e duas pinturas que foram expostas com o grupo no Salzburger Kunstverein Museum. Participou de diversas exposições coletivas, entre elas “No Body Yet”, na Galeria Simone Subal, Nova York, EUA (2023); “Obra em Processo. Olhar Impertinente”, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC USP (2004) e “Diante do desconhecido: o Outro”, na Galeria de Arte Solar, Rio de Janeiro (2017). Em 2022, realizou a exposição individual “Palafitas”, no Projeto Vênus, em São Paulo, SP, com a curadoria de Ivo Mesquita. No mesmo ano, a artista iniciou seus estudos em gravura em metal no Atelier Piratininga, em São Paulo, onde investiga traços finos por meio de técnicas que deram início à sua fase atual, dos fios dos balanços.

Sobre o curador

José Augusto Pereira Ribeiro é mestre e doutor em Teoria, História e Crítica de Arte pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Trabalhou como curador sênior da Pinacoteca de São Paulo, de 2012 a 2022, e diretor do núcleo de artes visuais do Centro Cultural São Paulo, entre 2010 e 2012.

Conversa com artista na FIC

08/mar

Waltercio Caldas é o convidado da Conversa com Artista na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. O bate-papo, comandado por Felipe Scovino, curador de Narrativas em Processo: Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural, em cartaz na Fundação Iberê Camargo, tem como tema as obras de Waltercio Caldas, que integram essa mostra. 

No dia 16 de março (sábado), às 16h, o Itaú Cultural e a Fundação Iberê realizam mais uma edição da Conversa com Artista, um bate-papo entre o artista Waltercio Caldas e o curador Felipe Scovino sobre as sete obras de Caldas presentes na exposição Narrativas em Processo: Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural, em cartaz até 31 de março. Ao final, a conversa é aberta às perguntas do público. Por volta de uma hora e meia, eles exploram os processos de produção e os contextos dos livros Simétrica (1995), O Livro Velázquez (1996), Momento de Fronteira (1999), Estudo sobre a Vontade 1975 (2000), De Arte (2001), Outra Fábula (2009) e Como Imprimir Sombras (2012), todos de autoria de Waltercio Caldas. “Waltercio Caldas é o artista mais bem representado nesse recorte de livros de artista da exposição. Por isso, faremos uma mesa focada na fala dele sobre esses trabalhos e a relação deles com as suas outras obras, como as esculturas e desenhos”, adianta Felipe Scovino. “A ideia é contar essa história, não só da produção dos livros dele, mas da importância desse tipo de arte na produção plástica brasileira”, completa.

 

A exposição

Porto Alegre é a oitava cidade a receber essa mostra, que exibe mais de 40 obras do acervo do IC com foco nos artistas brasileiros na transição entre o moderno e o contemporâneo. Elas estão distribuídas em cinco eixos: Rasuras, Paisagens, Álbuns de Gravura, Uma Escrita em Branco e Livros-objetos. Rasuras reúne peças que se colocam à margem de uma narrativa obediente ao pragmatismo. Em Paisagens os livros podem problematizar a paisagem enquanto um labirinto sensorial. Álbuns de gravura concentra distintas análises, que exploram a reflexão sobre o diálogo entre a produção artística e os meios de experimentação. No núcleo Uma escrita em branco, os visitantes encontram obras livros que evidenciam a forma, o peso e a estrutura da obra ao invés da palavra. Por fim, o eixo Livros-objetos reúne e homenageia os pioneiros no Brasil dos chamados livros-objetos e sua intersecção direta com a poesia concreta.

 

Sobre a Fundação Iberê Camargo

Iberê Camargo construiu, ao longo de sua carreira, uma imagem sólida de trabalho e profissionalismo. O resultado desse esforço e olhar para a arte estão preservados em uma fundação que leva o seu nome. Neste espaço, o objetivo é o de incentivar a reflexão sobre a produção contemporânea, promover o estudo e a circulação da obra do artista e estimular a interação do público com a arte, a cultura e a educação, a partir de programas interdisciplinares. O artista produziu mais de sete mil obras, entre pinturas, desenhos, guaches e gravuras. Somando-se a esta ampla produção artística, estão diversos documentos que complementam suas obras e registram sua trajetória, já que o artista e sua esposa, Maria Coussirat Camargo, tiveram como preocupação constante a preservação da documentação e de sua produção. Toda a coleção compõe o Acervo Artístico e o Acervo Documental da instituição. São 216 pinturas que abrangem o período de 1941 a 1994; mais de 1500 exemplares de gravuras em metal, litografias, xilogravuras e serigrafias; e mais de 3200 obras em desenhos e guaches. Entre suas obras, destaque para um autorretrato pintado a óleo sobre madeira. Livre das regras do academicismo, Iberê sempre buscou o rigor técnico, mantendo-se fiel às suas memórias (o “pátio da infância”), e ao que considerava ético e justo. Sua pintura expressa este não alinhamento com os movimentos e as escolas. Dentre as diferentes facetas de sua vasta produção em desenho, gravura e pintura, o artista desenvolveu as conhecidas séries Carretéis, Ciclistas e As Idiotas, que marcaram sua trajetória.

 

Sobre a Coleção Itaú

Todas as peças desta exposição pertencem ao acervo do Banco Itaú, mantido e gerido pelo Itaú Cultural. A coleção começou a ser criada na década de 1960, quando Olavo Egydio Setubal adquiriu a obra Povoado numa planície arborizada, do pintor holandês Frans Post. Atualmente reúne mais de 15 mil itens entre pinturas, gravuras, esculturas, fotografias, filmes, vídeos, instalações, edições raras de obras literárias, moedas, medalhas e outras peças. Formado por recortes artísticos e culturais, abrange da era pré-colombina à arte contemporânea e cobre a história da arte brasileira e importantes períodos da história de arte mundial. Segundo levantamento realizado pela instituição inglesa Wapping Arts Trust, em parceria com a organização Humanities Exchange e participação da International Association of Corporate Collections of Contemporary Art (IACCCA), esta é a oitava maior coleção corporativa do mundo e a primeira da América do Sul. As obras ficam instaladas nos prédios administrativos e nas agências do Banco no Brasil e em escritórios no exterior. Recortes curatoriais são organizados pelo Itaú Cultural em exposições na instituição e exibidas em itinerâncias com instituições parcerias pelo Brasil e no exterior, de modo a que todo o público tenha acesso a elas e tendo alcançado cerca de 2 milhões de pessoas. Em sua sede, em São Paulo, o Itaú Cultural dedica duas mostras voltadas para as coleções Brasiliana e Numismática, expostas de forma permanente no Espaço Olavo Setubal e no Espaço Herculano Pires – Arte no dinheiro.

 

Exposições de Paulo Pasta e Iberê Camargo 

05/mar

 

Paulo Pasta retornou à Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. Em diálogo com sua exposição, Paulo Pasta fez a curadoria de obras de seu professor e amigo Iberê Camargo para “Eclipses”. São 19 obras, algumas de grandes dimensões, em que percebe cores crepusculares na produção do pintor. As duas aberturas ocorreram no dia 02 de março. O artista e Lorenzo Mammì, um dos nomes mais importantes da crítica cultural brasileira, conversaram sobre a sua produção.  

Após um hiato de dez anos, Paulo Pasta, um dos artistas mais respeitados e bem-sucedidos do país, retornou à Fundação Iberê Camargo – em exibição até 19 de maio – para celebrar 40 anos de trajetória. A exposição “Paulo Pasta Para que serve uma pintura conta com 40 trabalhos de formas distintas faixas horizontais e verticais, quadros, retângulos que desafiam o artista a enfrentar a superfície das telas. A pintura de Paulo Pasta é uma forma de construir um lugar, um ambiente que se transforma conforme as variações de cor e de luz.    

Por outro lado, suas combinações cromáticas, marcadas por baixos contrastes e passagens suaves entre um tom e outro, acabam por tensionar os limites dessas divisões. Paulo Pasta cria a sensação de que áreas do quadro parecem pulsar para fora da tela, como se quisessem se espalhar pelo mundo. Seu processo de construção, em algumas obras, inclui também a utilização da cera, que tira o brilho do óleo, dando “lentidão” para a cor. O trabalho de acrescentar e testar misturas dá origem aos tons impuros e únicos que caracterizam sua pintura.   

No catálogo da mostra, Lorenzo Mammì, doutor em Filosofia pela USP, onde é professor de História da Filosofia Medieval desde 2003, escreve: “Os retângulos não são apenas combinações de linhas e planos: parece que alguma vez, num passado semiesquecido, foram alguma coisa como portas, vigas, colunas, reais ou pintadas, sem que o pintor nos diga (o saiba) o que foram. O mesmo quanto às cores. Elas funcionam, em parte, como timbres musicais, determinando a estrutura do espaço. É um princípio da pintura tonal: cada instrumento de uma orquestra tem um som específico que faz com que pareça mais próximo ou distante. Instrumentos mais carregados de harmônicos (sons secundários que envolvem o som principal) parecem naturalmente mais longínquos: uma trompa será sempre mais distante que um trompete, um oboé de uma clarineta. Da mesma forma, um vermelho, no limite inferior do espectro cromático, será sempre mais encorpado que um azul, que pertence ao limite superior; portanto, o vermelho será mais profundo, o azul mais superficial. Mas o uso da cor nas pinturas de Pasta não leva em conta apenas essas relações físicas e sim, também, o caráter afetivo que toda cor carrega e que é dado tanto pelas experiências anteriores de cada um, quanto, no caso das pinturas, por ser o resultado de uma série de operações e decisões calculadas. Nos trabalhos de Pasta, estas não se revelam por rastros do movimento do pincel na superfície da tela, que costuma ser muito lisa, mas pelo esforço perceptível com que cada cor procura um ajuste com aquelas que estão ao redor. As cores de Pasta são geralmente muito elaboradas, fruto de uma combinação minuciosa de pigmentos. Se, uma vez distendidas na tela, elas parecem simples, é porque atribuímos boa parte de suas características à luz atmosférica, e não à matéria pictórica. Nesse sentido também, as obras de Pasta conservam algum ilusionismo.”   

 

Os Eclipses de Iberê pelo olhar de Pasta  

Em diálogo com sua exposição, Paulo Pasta fez a curadoria de obras de seu professor e amigo Iberê Camargo para “Eclipses”. São 19 obras, algumas de grandes dimensões, em que Pasta percebe cores crepusculares: “Iberê lançava mão da matéria, quase um barro original, de onde tudo poderia brotar. Suas cores também não estariam dissociadas dessa matéria, lugar do qual, no dizer de Ferreira Gullar, elas surgiriam “como gemas sujas da noite, arrancadas ao caos” (…) A melhor metáfora, para mim, sobre as cores de Iberê, é a do eclipse. Para além do aspecto noturno de seus trabalhos, a luz construída por ele parece não iluminar, não aquecer, mais ou menos como a sugestão de um sol que foi fechado.”   

Paulo Pasta conheceu Iberê Camargo no início da década de 1990, em um workshop com artistas consagrados, no Centro Cultural São Paulo. A partir daí, começaram a trocar cartas e telefonemas. Para Paulo Pasta, aquele encontro foi a confirmação de sua vocação, a prova da existência da pintura, e do pintor.  “Naquele momento (que conheceu Iberê), ele representou, para mim, a confirmação da vocação, a prova da existência da pintura, do pintor. No final da década de 1970, quando comecei a fazer faculdade, existia um predomínio da arte conceitual. Também nesse sentido, Iberê representava uma exceção: ele vivia a vida da própria pintura, perfazendo uma relação simbiótica entre arte e vida. Na contramão das tendências nacionais/populares, ele se evidenciava como uma espécie de outsider, construindo uma visão singular dentro da pintura brasileira. Seu realismo era uma escavação interior, o que fazia repercutir, em seu trabalho, um raro acento subjetivo e expressionista. Desde então, eu o vi como uma espécie de exilado, buscando arquitetar uma “pintura grande”, no Brasil, enfrentando o mal-estar de ser um pintor em um contexto carente de tradição (ou, pelo menos, a tradição que ele gostaria). Iberê buscava, assim, criar um lugar de origem, onde memória e autobiografia pudessem se unir para fundar essa espécie de pátria real: a de pintura. Concentrando-se na experiência da pintura e do pintor, e longe de quaisquer bairrismos, sua obra revelava, por meio do seu fazer obsessivo, a gênese do próprio indivíduo, uma verdadeira condensação do próprio tempo. (…) Também penso as cores de Iberê como sendo crepusculares. Elas nos remeteriam a uma escuridão primordial, mesmo porque, na sua prática, o pintor anoitecia as cores, criando uma espécie de blackout. Só assim, talvez, ele poderia terminar uma pintura e se reconhecer nela. Possivelmente, a melhor metáfora, para mim, sobre as cores de Iberê, seja a do eclipse. Para além do aspecto noturno de seus trabalhos, a luz construída por ele parece não iluminar, não aquecer, mais ou menos como a sugestão de um sol que foi fechado. A palavra eclipse vem do grego, que significa despedida, abandono. A experiência com as cores de Iberê, para mim, obedeceria a esse mesmo conteúdo poético. Nelas, no seu sentido de não cor, somos desertados da luz solar, apesar de toda a intensidade reinante”, escreveu Paulo Pasta.    

 

Sobre o artista 

 

Paulo Pasta nasceu em 1959, em Ariranha, São Paulo, e hoje vive e trabalha na cidade de São Paulo. Formou-se no curso de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), em 1983, tornando-se mestre e doutor pela mesma universidade. Em 1984, realiza sua primeira exposição individual na Galeria D. H. L., em São Paulo. Recebe a Bolsa Emile Eddé de Artes Plásticas do MAC/USP, em 1988. Impacta na formação de uma nova geração de pintores através de relevante atividade docente, lecionando pintura na Faculdade Santa Marcelina e desenho na Universidade Presbiteriana Mackenzie, na USP e na Fundação Armando Álvares Penteado FAAP. Atualmente, ministra um curso livre de pintura. Entre as exposições individuais realizadas, destacam-se: Pintura de bolso, Millan, São Paulo (2023); Recent Paintings, David Nolan Gallery, Nova York, EUA (2022); Paulo Pasta, Cecilia Brunson Projects, Londres, Reino Unido (2022); Correspondências, Millan, São Paulo (2021); Paulo Pasta: Luz, Museu de Arte Sacra de São Paulo (2021); Projeto e Destino, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2018); Lembranças do futuro, Millan, São Paulo (2018); Setembro, Palácio Pamphilj, Roma, Itália (2016); Correntes, Sesc Belenzinho, São Paulo (2014); A pintura é que é isto, Fundação Iberê, Porto Alegre (2013); Sobrevisíveis, Centro Cultural Maria Antonia, São Paulo (2011); Paulo Pasta, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2008) e Paulo Pasta, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2006). Entre suas participações em exposições coletivas estão: Abstração: a realidade mediada, Millan, São Paulo (2022); Os Muitos e o Um, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo (2016); Quase figura, quase forma, Galeria Estação, São Paulo (2014); 30x Bienal, Pavilhão da Bienal, São Paulo (2013); Europalia, International Art Festival, Bruxelas, Bélgica (2011); Matisse Hoje, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2009); Panorama dos Panoramas, Museu de Arte Moderna de São Paulo MAM-SP (2008); MAM [na] Oca, Oca, São Paulo (2006); 3ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2001); Brasil +500 Mostra do Redescobrimento, Pavilhão da Bienal, São Paulo (2000); Panorama das Artes Visuais, Museu de Arte Moderna de São Paulo recebe o Grande Prêmio (1997); Havana São Paulo, Junge Kunsthaus Lateinamerika, Haus der Kulturen Der Welt, Berlim, Alemanha (1995); XXII Bienal de São Paulo (1994) e III Bienal de Cuenca, Equador (1991). Suas obras integram importantes coleções, entre as quais: Museu Reina Sofía, Madri, Espanha; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo MAC/USP; Museu de Arte Moderna de São Paulo MAM-SP; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro MAM-Rio; Museu de Belas-Artes do Rio de Janeiro; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP;  Instituto Itaú Cultural, São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Kunsthalle, Berlim, Alemanha, e Kunstmuseum Schloss Derneburg, Hall Art Foundation, Holle, Alemanha.   

 

Sobre o crítico Lorenzo Mammì  

Lorenzo Mammi é formado em Matérias Literárias pela Universidade dos Estudos de Florença e doutor em Filosofia pela USP, onde é professor de História da Filosofia Medieval desde 2003. Como crítico de música e de arte, organizou e publicou ensaios em diversos livros, como Volpi (Cosac Naify, 1999), Carlito Carvalhosa (Cosac Naify, 2000) e Carlos Gomes (Publifolha, 2001). Parte expressiva deles foi reunida nos livros “O que resta: arte e crítica de arte” (Companhia das Letras, 2012), com foco em artes visuais e “A fugitiva” (Companhia das Letras, 2017), que reúne os ensaios musicais. De 1999 a 2005, foi diretor do Centro Universitário Maria Antonia (USP), em São Paulo. De 2015 a 2018, foi curador-chefe de Programação e Eventos do Instituto Moreira Salles.  

 

  

 

Duas vezes Carlos Vergara

20/fev

Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Secretaria de Estado da Cultura, Museu de Arte do Rio Grande do Sul e Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, apresentam a exposição “Carlos Vergara – Poética da exuberância”.

A parceria entre o MARGS e a Fundação Iberê Camargo, que se dá por ocasião dos 70 anos do Museu, consiste em um modelo de colaboração até então inédito entre as instituições, resultando em um projeto de formato inovador. A exposição foi pensada como uma ampla e histórica individual sobre a produção e a trajetória de Carlos Vergara (Santa Maria/RS, 1941), porém dividida em 2 partes apresentadas simultaneamente, uma na Fundação Iberê Camargo e outra no Museu. Para a sua organização, foi convidado o curador Luiz Camillo Osorio, que há muito acompanha a produção do artista, que é um dos principais nomes da arte contemporânea brasileira.

A inauguração será no dia 24 de fevereiro, em eventos gratuitos e abertos ao público nas duas instituições, com encontro e visitas guiadas pelo artista e pelo curador: primeiramente no MARGS, às 11h; e depois na Fundação Iberê Camargo, a partir das 14h, seguida por uma conversa no auditório, às 16h. “Carlos Vergara – Poética da exuberância” traz um panorama retrospectivo da carreira do artista, reunindo mais de 90 obras pertencentes a coleções do Rio de Janeiro e de Porto Alegre. Na Fundação Iberê Camargo, a seleção apresentada no segundo andar enfatiza a produção em desenho e pintura, destacando obras desde a década de 1960, algumas delas expostas pela primeira vez, como as realizadas quando Carlos Vergara era assistente de Iberê Camargo no Rio de Janeiro. Já no MARGS, a mostra ocupa duas salas do segundo andar, destacando os processos experimentais desenvolvidos pelo artista envolvendo monotipia e pintura, com a reunião de trabalhos em grande formato que integram as séries “São Miguel” e “Boca de forno”.

O projeto realizado em parceria entre o Museu e a Fundação Iberê Camargo reforça ainda vínculos. A parte da exposição de Carlos Vergara no MARGS tem lugar em duas galerias, não por acaso uma que leva o nome de Iberê Camargo, de quem foi aluno e assistente. Vinculações também se dão com relação à história das exposições do Museu. Em 2009, Carlos Vergara apresentou a mostra “Sagrado coração, Missão de São Miguel”, que até aqui figurava como sua primeira e única individual no MARGS. Na ocasião, exibiu a produção que realizou em viagem às ruínas da redução de São Miguel das Missões, em seu interesse artístico por investigar a experiência jesuítica no Rio Grande do Sul. Agora, “Carlos Vergara – Poética da exuberância” conta no MARGS com um segmento dedicado a obras desse projeto. Por todos esses sentidos, a exposição integra no Museu o programa expositivo “História do MARGS como História das Exposições”, que trabalha a memória da instituição abordando a história do museu, as obras e constituição do acervo e a trajetória e produção de artistas que nele expuseram, a partir de projetos curatoriais que revisitam, resgatam e reexaminam episódios, eventos e exposições emblemáticas do passado do MARGS, de modo a compreender sua inserção e recepção públicas. A exposição permanecerá em exibição até 05 de maio. “Carlos Vergara – Poética da exuberância” é apresentada como parte da ampla programação comemorativa iniciada em 2023, alusiva ao aniversário de 70 anos do MARGS, a ser celebrado em 27 de julho.

A palavra do curador 

Estas duas exposições de Carlos Vergara em Porto Alegre, na Fundação Iberê e no MARGS, são uma verdadeira ocupação Vergara na cidade. Além de gaúcho, ele foi assistente de Iberê, em meados dos anos 1960. Esse período foi uma escola sem igual, em que rigor poético e liberdade criativa eram transmitidos em ato. Nestes 60 anos de produção, sua poética deslocou-se incansavelmente entre linguagens, suportes e atmosferas poéticas. As duas salas aqui do MARGS concentram-se na figura do artista viajante, iniciada nos anos 1980, e na produção realizada nas Missões Jesuítas de São Miguel, na fronteira Sul do Brasil. As monotipias que começam neste período, feitas nos fornos, nos chãos e nas paredes, na natureza e na arquitetura, impregnadas de tempo e de vida, estruturam-se posteriormente no ateliê. Depois de deslocadas do contexto da impressão, via impregnação, são retrabalhadas com cor ou simplesmente com uma fixação mais rigorosa com resina. Só a partir deste complemento realizado no ateliê as obras ganham corpo e densidade. Olhar retrospectivamente para o que aconteceu nas Missões requer cuidado justamente por conta da impossível imparcialidade no tratamento do assunto. No século XVII, as diferenças culturais eram tratadas de forma opressiva e violenta. O outro inexistia no imaginário ocidental. Como poderia a arte revelar um acontecimento singular, um momento em que culturas e formas de vida entraram em uma deriva desorientadora? Como partir deste resíduo fixado nas ruínas de um mundo perdido e trazê-lo para o presente, desarmando a desconfiança diante daquilo que não sabemos exatamente o que foi? É essa experiência do sem nome, do que não sabemos como classificar, como identificar, que parece se entranhar em alguns dos lenços e dos registros pictóricos de São Miguel. A fragilidade dos lenços, sua transparência, a reminiscência dos sudários, tudo isso é memória de gestos que sobrevivem no tempo. Repetição e mistério restituem no agora o que, de outra forma, ficaria para sempre vedado no que já foi, no outrora. Ao longo de 60 anos de trajetória, Vergara transformou continuamente sua linguagem e procedimentos criativos – desenho, gravura, fotografia, pintura, monotipias, audiovisual, instalação -, tomando caminhos inesperados, assumindo riscos e recusando todo tipo de acomodação. A cada deslocamento, a obra se renova. É raro vermos um artista tão ávido pela aventura poética e pelo encantamento visual.

Luiz Camillo Osorio, curador convidado

Sobre o artista

Carlos Vergara nasceu em Santa Maria (RS), em 1941. Filho de reverendo anglicano, aos 2 anos de idade acompanhou a mudança da família para São Paulo. Desde 1954, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Iniciou sua trajetória nos anos 1960, no Rio, tendo sido aluno e assistente de Iberê Camargo. Depois de um período explorando o viés expressionista em desenho e pintura, absorveu elementos gráficos e da cultura de massa, integrando, ao lado de nomes como Antonio Dias, Rubens Gerchman e Roberto Magalhães, a chamada Nova Objetividade, uma manifestação politizada da pop art no Brasil no contexto em que a resistência à Ditadura civil-militar era incorporada ao trabalho de jovens artistas. Nos anos 1960, participa de salões e importantes exposições e eventos de vanguarda, como “Opinião 65″ e “Nova objetividade brasileira” (1967) no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, além de “Bandeiras na praça” (1968) e Salão da Bússola (1969). Essas mostras se tornaram marcos da história da arte brasileira ao evidenciar a postura crítica dos novos artistas diante da realidade social e política da época. Nos anos 1970, passou a explorar a fotografia e o filme, com destaque para os trabalhos que realizou documentando festejos populares como o Carnaval. Em 1975, integrou o conselho editorial da revista Malasartes, importante publicação organizada por artistas e críticos de arte, com o intuito de criar debates e reflexões sobre o meio de arte no Brasil. Em 1977, participou da fundação da Associação Brasileira de Artistas Plásticos Profissionais, chegando a ser presidente da entidade, criada para reivindicar a participação dos artistas nos debates e decisões das políticas culturais nas artes visuais. Na década seguinte, retomou a pintura, pesquisando técnicas e processos experimentais e inovadores. Nos anos 1990, prosseguiu nessa orientação, aprofundando o uso de elementos da natureza e minérios como pigmentos. Também começou a fazer viagens para realizar seus trabalhos. Desde então, a pintura e a monotipia têm sido o cerne de um percurso de experimentação. Novas técnicas, materiais e pensamentos resultam em obras contemporâneas, caracterizadas pela inovação e pela expansão do campo da pintura. Em 2009, apresentou no MARGS a mostra “Sagrado coração, Missão de São Miguel”. Em 2011, apresentou o “Projeto Liberdade”, impactante trabalho sobre a implosão do Complexo Penitenciário Frei Caneca, no Rio. Fez pinturas e filmes, além de uma instalação em que usou as portas das celas do presídio. Ao longo de mais de 200 exposições, já participou da Bienal de São Paulo (1963, 1967, 1985, 1989 e 2010), Bienal de Veneza (1980) e Bienal do Mercosul (1997 e 2011), entre outras. Em 2015, apresentou “Sudários”, no Instituto Ling, que até aqui figurava como sua mais recente individual em Porto Alegre.

Sobre o curador

Luiz Camillo Osorio nasceu em 1963 no Rio de Janeiro.  Realizou Pós-doutorado na Universidade de Lisboa e Universidade Católica do Porto, 2023. Doutor em Filosofia, PUC-Rio, 1998. Trabalha na área de Estética e Filosofia da Arte. Principais focos de interesse na pesquisa: As articulações entre arte, estética e política; Autonomia e engajamento; Teorias do gênio, desinteresse e sublime; Curadoria, crítica e história da arte; As relações entre arte, museu e mercado. Paralelamente à pesquisa acadêmica atua como crítico e curador. É curador do Instituto PIPA desde 2016. Foi curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro entre 2009 e 2015 e curador do Pavilhão brasileiro na Bienal de Veneza de 2015. Fez várias curadorias independentes em instituições brasileiras e internacionais. Assinou coluna de crítica de arte nos Jornais O Globo (1998/2000 e 2003/2006) e Jornal do Brasil (2001) e da revista espanhola EXIT Express (2006/2007). Membro do grupo de Pesquisa cadastrado no CNPQ – Arte, Autonomia e Política – junto com os professores Pedro Duarte (Filosofia PUC-Rio) e Sergio Martins (História PUC-Rio).

Nomeação de comissário cultural internacional

29/jan

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, informa: Emilio Kalil foi nomeado Comissário-Geral do Brasil para o ano do intercâmbio cultural Brasil-França. Os ministérios das Relações Exteriores – Itamaraty e da Cultura – anunciaram a nomeação de Emilio Kalil como Comissário-Geral do Brasil para o ano do intercâmbio cultural Brasil-França 2025, acordado em encontro presidencial, ocorrido em Paris, em junho de 2023. Ele terá como missão levar projetos em todas as áreas da cultura para França, com destaque para o meio ambiente, a diversidade e relações com a África.

Nota curricular

Emilio Kalil exerce, desde 2018, o cargo de diretor-superintendente da Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. Teve atuação destacada em Belo Horizonte como diretor do grupo Corpo, na década de 1980, e dos Teatros Municipais de São Paulo (1988 – 1992) e do Rio de Janeiro (1995-1999). Emilio Kalil também exerceu, de 2000 a 2011, a função de diretor de produção e projetos da Fundação Bienal de São Paulo. Esteve, ainda, à frente da Secretaria de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro entre 2011 e 2016.

Residências artísticas cruzadas

13/dez

Aliança Francesa e Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, apresentam o resultado da residência artística do pintor francês Louis Guillaume. “Synchretismo” é a primeira produção realizada no ateliê localizado na casa onde viveu o pintor Iberê Camargo, no bairro Nonoai.

No próximo sábado, 16, a Aliança Francesa Porto Alegre e a Fundação Iberê Camargo apresentam “Synchretismo: mostra de residência de Louis Guillaume”. O evento acontece na Casa Iberê, Rua Alcebíades Antônio dos Santos, 110 – bairro Nonoai, das 11h às 17h, e contará com interpretação de LIBRAS e tradução.   

Aos 28 anos, o artista francês vive e trabalha em La Rochelle, onde desenvolve uma prática artística ligada à natureza e às estações, na qual cada mês do ano permite a colheita de materiais do meio ambiente. Através de seu olhar e manipulação, esses elementos, recolhidos em passeios e deambulações no espaço natural e urbano, transformam-se em instalações orgânicas que preservam os atributos originais dos materiais e enfatizam suas capacidades plásticas, sem deixar, portanto, de evocar a natureza. Em Porto Alegre, o artista recolheu materiais na Trilha Iberê – localizada atrás do prédio da Fundação Iberê Camargo, na orla do rio Guaíba e no Mercado Público. Além de se hospedar na casa que viveu Iberê Camargo, foi no ateliê do pintor que Louis produziu as obras desta mostra. 

 

Camila Proto: uma artista brasileira na França

A residência cruzada acontece no âmbito do 6º Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea, que também selecionou a artista brasileira Camila Proto para uma residência artística no Centre Intermondes de La Rochelle, em 2024. O prêmio é promovido pela Aliança Francesa Porto Alegre, com apoio da Fundação Iberê Camargo, Consulado da França em São Paulo, Centre Intermondes de La Rochelle e Prefeitura Municipal de Porto Alegre, e conta com o patrocínio da Timac Agro. 

Aos 27 anos, Camila é doutoranda em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Dentre sua participação em exposições, destacam-se o Prêmio de Arte Contemporânea da Aliança Francesa (2019 e 2020, Porto Alegre), o 10º Festival Novas Frequências (2020, Rio de Janeiro), a Exposição Internacional “ComCiência” (2019, Belo Horizonte), o I Circuito Latino-americano de Arte Contemporânea (2021, Porto Alegre) e a exposição Abre-Alas 18, na Galeria A Gentil Carioca (2022, Rio de Janeiro). Ela também se consagrou como uma das artistas mais novas a ter uma exibição individual no MARGS. TERRALÍNGUA, que especulou a composição da linguagem e do planeta, integrou em 2023 o programa público Poéticas do Agora.  

 

 

Diversas premiações

06/dez

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, venceu duas categorias do Prêmio Açorianos de Artes Plásticas: Destaque Instituição e Destaque Publicações, com o catálogo “Magliani”. 

Realizado pela Coordenação de Artes Visuais da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa, a cerimônia ocorreu no Teatro Renascença. Também foram entregues os prêmios concedidos por parcerias. Carolina Grippa, curadora da exposição “Trama: Arte Têxtil no Rio Grande do Sul”, realizada em dezembro do ano passado pela Fundação Iberê Camargo e Ministério da Cultura/Governo Federal, com patrocínio da Petrobras, levou o prêmio de Jovem Curador(a), oferecido pela Aliança Francesa de Porto Alegre. Já Mauro Espíndola venceu o Prêmio de Residência Artística no Ateliê de Gravura, oferecido pela Fundação.

A Fundação Iberê Camargo tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner; apoio da Renner, Dell Technologies, Pontal Shopping, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/ Governo Federal. 

 

Direitos autorais em debate na FIC

25/out

Os limites da liberdade artística e da apropriação de obras anteriores a partir do Caso Andy Wharhol é tema de debate da Associação Brasileira da Propriedade Intelectual na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS.

No dia 31 de outubro, terça-feira, das 19h às 21h, a Fundação Iberê Camargo sedirá um debate inédito sobre a decisão da Suprema Corte norte-americana, com potencial de impactar a criação na arte contemporânea. O evento, coordenado pela representação no Rio Grande do Sul da ABPI – Associação Brasileira da Propriedade Intelectual, terá ainda o apoio do Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS e da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Os interessados poderão assistir às palestras presencialmente, no auditório da Fundação Iberê Camargo, ou através da plataforma Zoom. As inscrições são gratuitas.

Com o tema “Liberdade Artística e o Caso Andy Wharhol”, a ABPI vai debater os limites da liberdade artística e da apropriação de obras anteriores na arte contemporânea, após a recente decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos no caso entre a Fundação Andy Warhol para Artes Visuais e a fotógrafa Lynn Goldsmith, envolvendo um retrato do cantor Prince. Os juízes – 7 a 2 votos – decidiram que a Fundação Andy Warhol, voltada à promoção da obra do pai da Pop Art americana, desrespeitou a lei de direitos autorais quando licenciou a reprodução de obra baseada em fotografia do astro musical Prince, de autoria de Lynn Goldsmith. O caso vinha sendo observado de perto no mundo da arte e na indústria do entretenimento.

A partir dessa polêmica decisão, o evento abordará as várias perspectivas sobre a liberdade artística nas artes visuais na atualidade: a do artista, a do curador, a do colecionador e a das instituições, bem como o ponto de vista da legislação sobre direitos de autor.

Emilio Kalil, diretor-superintendente da Fundação Iberê Camargo, abrirá o evento ao lado de Claudia Lima Marques, diretora da Faculdade de Direito da UFRGS. Com mediação de Rodrigo Azevedo, representante Seccional da ABPI no Rio Grande do Sul, o debate contará com a participação do curador islandês Gunnar Kvaran, Francisco Dalcol, diretor-curador do Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS e o artista Guilherme Dable.

Para entender o caso

Andy Warhol (1928-1987) se tornou um dos ilustradores mais bem sucedidos da década de 1950. Mas foi a partir dos anos de 1960 que as características de suas obras ganharam maior notoriedade e o tornaram um ícone para a História da Arte e ajudaria a consolidar a Pop Art como movimento artístico de vanguarda. Explorando técnicas de reprodução mecânica como meios de produção e criação artística, criou pinturas serigráficas e outras obras reverenciadas – e financeiramente valiosas – inspiradas em fotos de celebridades, como Marilyn Monroe, Elvis Presley, Rainha Elizabeth 2ª, Elizabeth Taylor, Pelé, Mao Tse Tung, Muhammad Ali e a litigiosa série “Orange Prince”.

Em 1984, Andy Warhol foi convidado pela revista Vanity Fair para criar uma obra que ilustrasse um artigo sobre o cantor Prince. Ele se baseou numa fotografia em preto e branco do cantor tirada em 1981 pela fotógrafa Lynn Goldsmith. Na época, a revista pagou a Lynn 400 dólares em taxas de licenciamento e prometeu usar a imagem apenas naquela edição. Em 2016, quando Prince morreu, a Fundação Andy Warhol para Artes Visuais licenciou outra obra retratando o astro da música a partir daquela mesma foto, agora para a editora Condé Nast, grupo dono da Vanity Fair, que pagou à instituição 10 mil dólares. Lynn Goldsmith não recebeu nada e alegou que seus direitos autorais foram desrespeitados. O caso passou por tribunais inferiores e distritais antes de chegar na Suprema Corte, cuja decisão se concentrou especificamente na obra licenciada por Andy Warhol para a Condé Nast e considerou sua finalidade comercial – o que foge do pressuposto de que haveria caráter “transformador”, do ponto de vista artístico, na nova obra.

A Fundação Iberê tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner; apoio da Renner, Dell Technologies, Pontal Shopping, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/ Governo Federal.

Duas exposições na Fundação Iberê Camargo

23/out

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, abrirá no dia 04 de novembro a exposição “Resistência”, exposição individual do artista do maranhense Thiago Martins de Melo, 41 anos. No mesmo dia, inaugura “Iberê Camargo: Vivo como as árvores, de pé”. Com curadoria de Martins de Melo e Gustavo Possamai, responsável pelo acervo da Fundação, a mostra destaca a forte relação do pintor gaúcho com o meio ambiente.

Em “Resistência”, com curadoria do islandês Gunnar B. Kvaran, a mostra confronta o espectador com quatorze obras de grandes dimensões e complexidade. Com cores fantasmáticas, seu trabalho articula uma densidade narrativa excepcional, feita de referências autobiográficas e mitológicas, sincretismo religioso e ambiência surreal. No centro dessa articulação, emergem, ora de forma sutil ora contundente, temas da política brasileira e da história do país. Tal iconografia crítica faz de Martins de Melo um dos pintores brasileiros contemporâneos a abordar aspectos do cotidiano social. “Eu venho de uma região marcada pela violência; não temos tempo para tratar de questões acadêmicas. Ser artista é um ato político, expor é o nosso poder de fala”, diz.

“Resistência” abre com “A queima do templo do conhecimento” (2021), uma escultura-vídeo-pintura em que o fogo assume o papel principal, fazendo referência ao incêndio que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro em 2018 e que possuía a quinta maior coleção arqueológica do mundo. Em e-mail enviado a Gunnar, que acompanha a trajetória do artista há mais de uma década, Martins de Melo destaca que a obra foi motivada, sobretudo, pelo que está por trás dessa tragédia. “Isso ocorreu devido a uma queda no investimento em políticas públicas culturais e seus mecanismos. Os cortes na educação e na cultura se aprofundaram nas administrações de direita de Temer e Bolsonaro. O Museu Nacional, agora em recuperação, tem sido a vítima e o símbolo maior desse projeto de desmonte da cultura e da educação no Brasil”, escreveu o artista.

A mostra segue com três pinturas intensas e de grande formato, “Escadaria do decapitado” (2019), “Tupinambás, Léguas e Nagôs guiam a libertação de Pindorama das garras da quimera de Mammón” (2013) e “A Rébis mestiça coroa a escadaria dos mártires indigentes” (2013), onde saltam aos olhos o estado de conflito e violência contínuos. Thiago Martins de Melo associa a opressão dos povos indígenas a importantes figuras libertadoras. Também há, nessas pinturas, uma clara resistência exercida pelos oprimidos, que, muitas vezes, se aliam a entidades divinas e espirituais.

As pinturas da segunda parte da exposição são mais pacíficas, incorporando uma reflexão sobre a origem do mundo, da humanidade e da linguagem, “uma transição entre a besta e o humano”, como escreve o artista. Os sujeitos estão ancorados no mundo real e no metafísico. As narrativas meditativas mostram diálogos sutis entre realidade, religião e mitologia, deixando mais espaço para a interpretação do espectador. Há menos ação e mais silêncio.

“As obras selecionadas para esta exposição formam um todo. Elas nos contam histórias do Brasil, assim como pensamentos e reflexões de Thiago Martins de Melo. Por meio de sua narrativa pintada, ele conduz o espectador através da história complexa e multifacetada do país, referindo-se a eventos que considera marcados por uma profunda injustiça. Ele descreve visualmente as relações problemáticas entre os brasileiros, seus colonizadores históricos e um capitalismo desenfreado. Os temas dessas pinturas giram em torno de questões fundamentais, como os direitos dos nativos, a luta pela terra e a violência que ela pode causar. Trata-se, mais ou menos, de uma história de luta de classes diante de um “Estado corrupto e devorador”, primeiro sob o domínio dos tribunais europeus e depois sob o capitalismo selvagem emoldurado por uma democracia brasileira. Ele também descreve as relações extremamente complexas entre os diferentes grupos étnicos e sociais: os indígenas colonizados, os escravizados africanos, os colonizadores brancos, especialmente os europeus, e a grande mistura de raças com todas as suas diferenças culturais, religiosas e espirituais. Em suas obras há um grande senso de moralidade. Muitas vezes, o artista parte de seu próprio estado, o Maranhão, e de sua cidade, São Luís, que ele conhece muito bem, em termos tanto culturais quanto políticos, antes de estender sua temática a todo o Brasil e à América do Sul. Os comentários e as questões que o artista levanta podem ser adotados em todos os continentes, pois tratam basicamente de direitos humanos e respeito ao próximo. Esses são assuntos universais”, escreve Gunnar B. Kvaran, no texto para o catálogo.

A psicologia para pintar os problemas políticos e sociais

Thiago Martins de Melo é filho de mãe psicóloga e pai artista plástico. Mesmo convivendo em meio as tintas desde criança, foi aos 16 que a pintura se tornou uma paixão. Fez curso de pintura e, anos depois, foi admitido no curso de artes visuais da Universidade Federal do Maranhão, mas não chegou até o final. O universo acadêmico tendeu para o lado materno. Thiago é mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Pará. Chegou a cursar o doutorado, mas abandonou para se dedicar exclusivamente à arte.

“Apesar de ter participado em vários projetos institucionais desde os 16 anos, considero que a maturidade da minha produção começou a se estabelecer em 2008. A psicologia teve um papel preponderante na forma como via o signo pictórico e na articulação de narrativas visuais. (…) Eu tinha o título de mestre em análise do comportamento e, apesar de ser uma área empírica-analítica, meu interesse pelas humanidades foi crescendo. Então, abordei clandestinamente a psicologia social e, mais secretamente, Jung, que desempenhou um papel muito importante no modo como eu encarava o signo pictórico. A compreensão da importância da construção simbólica me fez refletir sobre meus próprios interesses espirituais. Tive experiências de espiritismo na família desde a infância, tanto o espiritismo kardecista quanto a religiosidade afro-brasileira. Essa visão de mundo espiritual afro-brasileira me apresentou ao sincretismo, o que sempre me intrigou. Então me interessei por tarô e outros oráculos. A união com minha primeira esposa Viviane foi providencial nesse sentido. Entre 2008 e 2011, minha produção esteve imersa em questões pessoais que passaram pela paternidade, casamento, papéis de gênero, espiritualidade, etc. Até que meus interesses foram cada vez mais direcionados da micropolítica para uma compreensão do mundo que passa pela luta social”, conta.

Sobre o curador

Gunnar B. Kvaran nasceu em Reykjavík, Islândia, em 1955. Possui doutorado em História da Arte pela Université de Provence, Aix-en-Provence, França, obtido em 1986. Foi diretor do Museu de Arte de Reykjavík, de 1989 a 1997, do Museu de Arte de Bergen, na Noruega, de 1997 a 2001, e do Museu Astrup Fearnley, em Oslo, também na Noruega, de 2001 a 2020. Foi curador de inúmeras exposições de arte contemporânea internacional, incluindo a 2ª Bienal de Moscou, Rússia, em 2007 (junto com Daniel Birnbaum e Hans Ulrich Obrist). Também esteve envolvido na Bienal de Lyon, França, em 2013, e na Bienal de Belgrado, Sérvia, em 2018 (junto com Danielle Kvaran). Atualmente, trabalha como curador independente e reside em Oslo.

Até 28 de janeiro de 2024.

Iberê Camargo: Vivo como as árvores, de pé

Thiago Martins de Melo foi convidado para fazer uma imersão na obra de Iberê Camargo e realizar a curadoria de uma exposição em parceria com Gustavo Possamai, responsável pelo acervo do pintor gaúcho. Iberê se preocupava com as questões político-socioambientais. Ele produziu obras e escreveu sobre o tema: “O homem é o único animal que destrói sua casa, sem pensar na continuidade da prole. Em nome do consumismo desvairado, o inconsciente coletivo da humanidade encaminha o mundo para o apocalipse.” Defensor fervoroso da preservação da natureza e do desenvolvimento de uma “consciência ecológica”, Iberê Camargo dizia viver como as árvores, de pé. Embora não se definisse como um ativista, era crítico ao descuido com o meio ambiente, a exploração e apropriação de recursos naturais, além da relação entre o progresso tecnológico e as consequências ambientais de tais avanços quando geridos de forma irresponsável: “Me sinto na obrigação de dizer um basta a este extermínio da natureza. Não por mim, mas pelas novas gerações que virão.”

Nesta mostra, Thiago Martins de Melo e Gustavo Possamai apresentam um recorte de 146 trabalhos, revelando um aspecto fascinante da personalidade e da obra de Iberê Camargo a partir do acervo da Fundação, além de três guaches da série “Ecológica (Agrotóxicos)” gentilmente cedidos por colecionadores. A série, criada por Iberê Camargo em 1986, foi produzida com a colaboração da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz. Iberê Camargo os viu realizando no Parque da Redenção a intervenção cênica chamada “A dúzia suja”, em referência aos doze agrotóxicos mais prejudiciais ao ser humano e à fauna silvestre. Reproduzindo falas do importante ambientalista José Lutzenberger, o grupo alertava o público quanto ao uso indevido de agrotóxicos nas lavouras gaúchas. Depois disso, a Terreira da Tribo, como é chamado o espaço do grupo, transformou-se em ateliê durante um final de semana, para que Iberê Camargo realizasse os desenhos com os atuadores caracterizados e posando. Entre as personagens estavam o indígena, o FMI, o Tio Sam, o DDT e o militar, entre outros. À época, declarou: “Simpatizo com este projeto. Veja só, já mataram o nosso Guaíba”, referindo-se à poluição do rio que delineia grande parte da cidade. Disse também: “O gato, que é onívoro como homem, sabe exatamente qual a erva que deve comer. Já o homem se envenena. Foi por isso que eu achei que deveria tomar como mestres da minha vida os animais.”.  “Vivo como as árvores, de pé” inclui, ainda, uma série de falas do artista que mantém vivo o seu pensamento. “Com frequência, suas metáforas invocavam imagens da natureza e são um convite para olharmos mais de perto para o mundo finito que habitamos e para as conexões que mantemos com ele. Afinal, como dizia Iberê Camargo, “vivemos num universo que é o resto de uma grande fogueira e as estrelas são suas últimas brasas”, diz o texto dos curadores.

A Fundação Iberê tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo GPS, Grupo IESA, CMPC, Savarauto Perto, Ventos do Sul, DLL Group, Lojas Pompéia e DLL Financial Solutions Partner; apoio da Renner, Dell Technologies, Pontal Shopping, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, e realização do Ministério da Cultura/Governo Federal.

Até 18 de janeiro de 2024.

Dois conceituados artistas na Paulo Darzé

19/set

 

Com abertura no dia 21 de setembro, a Paulo Darzé Galeria, Corredor da Vitória, Salvador, inaugura as exposições de Paulo Pasta, um dos mais conceituados pintores brasileiros do cenário contemporâneo, (Galeria 1, andar térreo), e com o título de “Linha em expansão”, em sua primeira exposição na Bahia, pinturas de Lúcia Glaz (Galeria 2, segundo andar). As mostras ficam abertas ao público até o dia 21 de outubro.

Sobre o artista

Paulo Pasta nasceu em Ariranha, São Paulo, em 1959, e com suas pinturas busca construir uma temporalidade na pintura. As cores e as formas dos trabalhos do artista parecem planificar a percepção da passagem do tempo: diante de suas telas, o presente se coloca de maneira quase absoluta. As formas e as geometrias representadas nas atmosferas espessas desenhadas pelo artista são vagarosamente reconhecidas através do olhar atento do espectador, que é, por sua vez, colocado entre horizontes e obstáculos que impedem que se veja o espaço da representação com nitidez. A densidade e o tempo criados por Paulo Pasta são contrários a qualquer concessão ao mundo prático e a suas necessidades de presteza e prontidão: é no rumor e na abertura ao tempo presente que recaem sua poética. Doutor em Artes plásticas pela Universidade de São Paulo (2011), realizou as exposições individuais Pintura de bolso (2023), Correspondências (2021) e Lembranças do futuro (2018), na Millan (SP), além de outras mostras individuais em instituições como: David Nolan Gallery (Nova York, EUA, 2022); Cecilia Brunson Projects (Londres, Reino Unido, 2022); Museu de Arte Sacra de São Paulo (SP, 2021); Instituto Tomie Ohtake (SP, 2018); Palazzo Pamphilj (Roma, Itália, 2016); Sesc Belenzinho (SP, 2014); Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, RS, 2013); Centro Cultural Maria Antônia (SP, 2011); Centro Cultural Banco do Brasil (RJ, 2008); e Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP, 2006). Entre suas participações em exposições coletivas estão: Abstração: a realidade mediada (Millan, SP, 2022); Os muitos e o um (Instituto Tomie Ohtake, SP, 2016); 30xBienal (Pavilhão da Bienal, SP, 2013); Europalia, International Arts Festival (Bruxelas, Bélgica, 2011); Matisse hoje (Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP, 2009); Panorama dos panoramas (MAM-SP, 2008); Mam (na) oca: Arte Brasileira do Acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo (Oca, SP, 2006); Arte por toda parte (3ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS, 2001); Brasil + 500 – Mostra do Redescobrimento (Pavilhão da Bienal, SP, 2000); III Bienal de Cuenca (Equador, 1991); entre outras. Suas obras integram diversas coleções, entre as quais estão: Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (Madrid, Espanha), Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP), Museu de Arte Moderna de São Paulo (SP), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (RJ), Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (SP), Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (RJ), Kunsthalle (Berlim, Alemanha), Kunstmuseum Schloss Derneburg (Hall Art Foundation, Holle, Alemanha) e Instituto Figueiredo Ferraz (Ribeirão Preto, SP).

Apresentação da mostra

por Jacopo Crivelli Visconti – “Ser pintura”

Quem acompanha a pintura de Paulo Pasta sabe que ela não opera por meio de saltos ou rupturas, mas por um desenvolvimento silencioso, natural, um prolongar-se de tentativas e exercícios que se dão de uma tela para outra, ao longo do tempo. O prazer de ver, após alguns meses ou anos de intervalo, uma nova exposição de obras do artista é comparável ao de acompanhar, mais ou menos de perto e com uma convivência mais ou menos assídua, o crescimento de filhos de amigos. Pode acontecer que, à distância de meses, eles ainda pareçam iguais, mas pouco a pouco fica evidente que não, eles não são os mesmos. Aliás, já se tornaram totalmente outros. Quando voltei ao ateliê do Paulo, transcorridos anos desde a última vez, para ver as telas que estariam nesta exposição, a conversa se aglutinou ao redor das pequenas mudanças na comparação entre uma tela e outra, ou, para ser mais preciso, na maneira como algo que num quadro chamou a sua atenção e o inspirou, se transforma ao ser levado para outro. Uma linha particularmente sutil, dois retângulos lado a lado contra um fundo homogêneo, uma série de quadrados que se apoiam uns nos outros: diante de um universo tão diáfano e vibrátil, mesmo coisas que a princípio são iguais ou muito parecidas se tornam completamente distintas quando algo ao redor delas muda. A ideia de que um elemento possa “chamar a atenção” do próprio autor do quadro não deve surpreender. Apesar de ter um controle razoável sobre sua composição, como demonstram a nitidez das formas e as variações relativamente limitadas em sua paleta, Paulo é o primeiro a aprender com o resultado. Porque além de pintar, ele olha: é preciso um tempo para fazer, e outro para entender. Não é por acaso que as obras sejam consideradas acabadas, muitas vezes, dias ou semanas depois de terem recebido a última pincelada. É nesse momento que Paulo retira a fita que protege a faixa branca que, frequentemente, fecha a composição em sua parte inferior. Numa das pinturas mais surpreendentes da exposição, na qual três quadrados se empilham num equilíbrio aparentemente instável, ao retirar a fita Paulo percebeu que o branco destoava do resto, e decidiu então transformá-lo num amarelo pálido. O que torna a composição insólita não é tanto esse detalhe, mas a presença dos quadrados. Trata-se de uma forma que também aparece em outras telas da exposição, mas está longe de poder ser considerada frequente no vocabulário do artista. Além disso, a maneira desengonçada como esses quadrados se apoiam uns nos outros, indicando que a torre instável que conformam poderia desmoronar a qualquer momento, sugere um peso, e implicitamente uma tridimensionalidade, ausentes na maioria das outras obras. Apenas outra pintura na exposição sugere algo semelhante ao introduzir um segundo elemento que pode ser considerado raro na poética de Paulo: uma linha diagonal. Nesse caso, a linha fecha na parte superior uma faixa branca vertical, que passa a sugerir, assim, o que poderia ser uma porta ou uma janela entreaberta, e, de novo, a tridimensionalidade. Mas é uma tridimensionalidade que tem a ver antes de mais nada com a própria história da pintura: com o fato de que uma linha diagonal numa tela pode ser usada para sugerir uma perspectiva ou um ponto de fuga. Talvez não seja por acaso, então, que nessa tela, ao invés de uma única faixa branca na parte inferior, Paulo tenha criado uma pequena moldura, quase imperceptível, que percorre os quatro lados da tela, como uma janela por onde olhamos uma cena. Mas é uma cena abstrata, esvaziada, onde as arquiteturas metafísicas de um de Chirico ou as cores de um Piero della Francesca viraram apenas lembranças. É a ideia de uma cena. E uma ideia, no fundo, totalmente alheia a essas pinturas, que nunca contam uma história, nunca pedem para ser “entendidas”, muito menos de um único jeito. As obras de Paulo Pasta parecem afirmar o tempo todo que são apenas campos de cor sobre uma superfície plana, e que qualquer arquitetura ou alusão a elementos do mundo real que possamos ler nelas é apenas isso, uma leitura feita por quem olha, e não algo implícito ou sugerido pela pintura. Não há por que buscar nessas pinturas uma razão de ser ou um significado, não há uma explicação ou uma lógica. Elas apenas existem, como existem uma montanha, uma pedra, uma onda no mar. Essa aparente simplicidade é em realidade o resultado de uma reflexão longa e coerente, a tradução física de um pensamento filosófico, de um olhar e de um profundo conhecimento teórico e prático. As pinturas, porém, não sabem nada disso. Elas são, e nada mais.

Sobre a artista

Lúcia Glaz nasceu em Santos, litoral de SP no ano de 1961. Pintora desde jovem, participou de várias exposições. Entre elas a coletiva “Razão concreta”, ao lado de pintores como Volpi, Rubem Valentim, Judith Lauand e outros, na Galeria Berenice Arvani (SP), em abril de 2016. No ano seguinte participou da coletiva SPART 2001. Em setembro desse mesmo ano na Galeria Berenice Arvani, realizou individual com curadoria de Pedro Mastrobuono, “A beleza é metafísica na pintura de Lúcia Glaz”. Participou da Pinta Miami Art Fair em dezembro de 2017. Em setembro de 2018 fez outra individual, desta vez no Rio de Janeiro, na Galeria Almacén Thebaldi “O diálogo da cor”. Participou da PARTE/Feira de Arte Contemporânea, em 2018. Integrou a exposição coletiva “Modernos Eternos” (Mosteiro de São Bento/SP), em agosto de 2019. Em novembro de 2019 participou do Projeto Felicidade-Clube Hebraica; fez uma individual na Pinacoteca Benedicto Calixto, “A Pintura como processo”, também em novembro de 2019. Participou da feira de arte On Line Arte Viewing Room pela Galeria Berenice Arvani em agosto de 2020, “A geometria como forma de expressão “. Participou da Expo/Sevivon-Beit-Chabat em dezembro de 2020. Em setembro de 2023, individual na Paulo Darzé Galeria, com o título de “Linha em expansão”, com apresentação de Antonio Gonçalves Filho.

Apresentação da mostra

por Antonio Gonçalves Filho – “Liberdade construtiva”

Embora de uma outra geração, a pintura de Lúcia Glaz (1961) guarda uma proximidade com mestres de outras escolas que antecederam sua iniciação na arte nos anos 1980, sendo possível citar pelo menos dois nomes com os quais se identifica: o francês François Morellet (1926-2016), cuja obra, nos anos 1950, prefigura o minimalismo, e o construtivista brasileiro Milton Dacosta (1915-1988). Nesta sua primeira exposição individual na Galeria Paulo Darzé, Lúcia Glaz presta um tributo a Morellet e a Dacosta, exibindo uma nova série de pinturas que evocam tanto a estrutura como a figura do quadrado, marcantes na carreira do francês, de 1953 em diante, como as construções com a referida figura geométrica pintada por Dacosta no mesmo período (e suas composições elaboradas entre 1957 e 1958 justificam essa comparação). Se as primeiras estruturas de Morellet com o quadrado (1953) dividiam a superfície da tela em dezesseis partes iguais, replicando um ordenamento típico de Mondrian, as de Milton Dacosta usavam o quadrado num registro próximo das construções sintéticas de Morandi (sem a pureza formal de Mondrian). Entre os dois, Lúcia Glaz descobre uma solução que não abandona o racionalismo abstrato, mas amplia seu vocabulário. Trata-se de uma investigação que caminha para a forma como Albers caminhou para suas pesquisas sobre a expansão da cor. Uma afinidade, mais que uma influência. Há um projeto gráfico nas pinturas desta exposição que, embora reverente à ortogonalidade, subverte essa ordem para afirmar seu compromisso com a natureza lírica do movimento da figura do quadrado, forma criada pelo homem que, aliás, quer ser perfeita. Pintada sobre a superfície terrosa nas telas de Lúcia Glaz, essa forma, no entanto, resiste à racionalização serialista de Mondrian para sugerir um jogo lúdico com o espectador. A abstração geométrica não extermina a poesia dessa movimentação aleatória de dados que brinca com a aventura cinética de Morellet sem confrontar sua adesão à turma de Sobrino e Julio Le Parc, em 1958. As formas de expressão de Lúcia Glaz não passam pela adesão a qualquer movimento. Antes de se integrar a métodos, ela prefere se render voluntariamente à instabilidade sugerida pela percepção física da figura do quadrado como uma entidade não física que ocupa o espaço, mais ou menos como os quadrados transformados pelas linhas de néon nas pinturas de Morellet. São decisões subjetivas que resistem a uma execução mecânica e revelam o virtuosismo de Lúcia Glaz como renovadora da linguagem construtiva que tanto marcou a arte brasileira. Ela agrega o intimismo de Paul Klee num registro monocromático, sóbrio e próximo das coisas concretas do mundo. Um equilíbrio necessário num mundo desordenado.