Três: Xico, Vasco e Iberê

03/set

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS,  abriga, no quarto andar de sua sede, a exposição “Xico, Vasco e Iberê – O ponto de convergência“, que propõe conexões entre as obras desses três artistas ligados por dimensões temporais e espaciais. Trabalhando simultaneamente na Porto Alegre dos anos 80, os três pensaram os mesmos temas e estabeleceram uma relação de coleguismo e amizade. A fim de ilustrar essa ligação, a mostra traz retratos feitos por Iberê Camargo de Vasco Prado e de Xico Stockinger, as cabeças de Iberê e de Xico esculpidas por Vasco e outras duas feitas por Xico retratando Vasco e Iberê. Esse triângulo formado pelos artistas tem curadoria do crítico de arte e professor da USP, Agnaldo Farias. Partindo da volta de Iberê a Porto Alegre em 1982, após 30 anos no Rio de Janeiro, ela apresenta uma seleção de obras que versam sobre a condição humana, a qual – seguida pelo desenho – é ponto de convergência entre as ideologias e poéticas próprias de cada um dos artistas.

 

Entre as principais obras de Xico Stockinger expostas, destacam-se os “Gabirus”, série de esculturas que ressalta as condições de vida do homem nordestino. Os corpos deformados e nus, com características animalescas que enfatizam o horror social, são uma espécie de denúncia à inércia e ao pouco caso nacional. Em oposição a eles e no mesmo espaço de tempo, encontram-se as “Magrinhas”, série de figuras femininas longilíneas de forte aspecto sensual.

 

Vasco Prado é representado por “Acrólito”, escultura em madeira e bronze na qual trabalhou durante quase trinta anos. Nela, o tempo se sobrepõe em camadas marcadas pelo buril do artista, evidenciando seu processo de trabalho com a madeira a cada pequena decisão tomada. Segundo Agnaldo Farias, a obra, carregada de certo aspecto mágico ou religioso, evoca não apenas esculturas tradicionais de tribos africanas, mas ainda máscaras mortuárias (representadas pela cabeça e pelos pés em bronze) que carregam as feições do morto através do tempo – promovendo um encontro entre presente, passado e futuro.

 

“Tudo te é falso e inútil V” e “No vento e na terra”, de Iberê Camargo, ressaltam a mudança ocorrida nessa época em seu trabalho – que passa de telas carregadas, com uma espessa camada de tinta, grande força gestual e um gradual afastamento da representação a figuras humanas  e uma camada mais fina de tinta sobre a tela. Aqui, o homem é representado  em toda sua desgraça e solidão, em telas amplas e cheias de espaço vazio; são postos em evidência os abismos humanos, que também são os abismos do artista.

 

Nesse sentido, a condição humana como ponto de convergência leva o espectador ao longo da exposição, evidenciando tanto as peculiaridades, semelhanças e relações entre os trabalhos dos três artistas gaúchos quanto ao coleguismo estabelecido por eles no ofício artístico. Dois escultores e um pintor ligados não apenas pelo contexto histórico e social, mas também por suas próprias inquietações e angústias.

 

 

De 05 de setembro a 17 de novembro.

O carretel de Iberê Camargo

27/mar

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura nova exposição, com a duração de um ano, na qual serão exibidas 21 pinturas, 32 gravuras e 4 desenhos de Iberê Camargo. entre 23 de março de 2013 e 23 de março de 2014. A curadoria é de Michael Asbury. Esta exposição apresenta o desenvolvimento da temática do carretel dentro da trajetória pictórica de Iberê Camargo. Sendo esta sua mais prolongada série de trabalhos, a mostra explora sua significação cambiante, da suposta aproximação às vanguardas construtivas do pós Guerra no Brasil, à relação da matéria da tinta ao drama psicológico do gesto.

 

O carretel é o tema mais recorrente na obra de Iberê, aludindo às memórias de sua infância. A exposição Iberê Camargo: o carretel – “meu personagem” exibe um mapeamento da trajetória do artista, mostrando o objeto representado de diversas formas: desde o gênero natureza-morta, inspirado no trabalho de Giorgio Morandi, até as interpretações mais abstratas.

 

A palavra do curador Michael Asbury

 

Ao considerar a significância da temática do carretel na obra de Iberê Camargo, verifica-se o desenrolar de argumentos muitas vezes antagônicos. Se para o artista essa forma tinha características afetivas vindas das suas mais longínquas memórias – seus brinquedos de infância que ele desenterrara do “fundo do rio da vida” –, a crítica, apesar do consenso sobre a posição privilegiada como tema na obra, tem apresentado ao longo dos anos várias hipóteses sobre o que leva o carretel a ter tal importância.

 

Organizados inicialmente em um arranjo frontal rítmico, primeiramente sobre mesas, os primeiros carretéis de Iberê invocam o legado de Morandi. Mais tarde, com o crescente abandono do artifício da perspectiva, apresentam-se cada vez mais próximos à superfície da tela que, à medida que a tinta engrossa, parece os engolir. É a partir desse procedimento que descrições contemporâneas sobre a metamorfose a que Iberê sujeita os carretéis vieram a considerá-los o último estágio do artista a caminho da abstração. Tal procedimento foi visto, no calor da hora, como prova de sua passagem ao informalismo, tendência bastante em voga no final dos anos 50 e início dos 60. Entretanto, a evidência de estudos preparatórios para suas composições, mesmo aquelas de aparência abstrata, nega tal associação, convidando, a partir dos anos 1990, hipóteses que aproximavam o artista das vanguardas construtivas, que, então, ganhavam crescente reconhecimento no incipiente cânone da arte brasileira. Os carretéis levariam o artista, dessa forma, a um processo que considerava o objeto forma autônoma na pintura, em que a memória pessoal vem a ser mera anedota. Há ainda outro posicionamento que considera a maestria da matéria pintada posição singular de um expressionismo levado a seus limites. O artista vem a ser o solitário, sobrecarregado pela dor da vida, melancólico sobre a irreversível perda da inocência que expressa sua condição existencial através de grossas tintas que, agora, se tornam metáforas de uma escorregadia, movediça e pessimista apreensão da vida.

 

Todas essas dimensões críticas privilegiam, no entanto, a pintura sobre os outros meios empregados por Iberê. A atual exposição visa justapor pinturas e gravuras com a intenção de provocar um desequilíbrio à estrutura crítica a qual os Carretéis têm sido submetidos, sugerindo uma ênfase na questão da repetição da forma ao ponto de reconsiderá-la, em toda sua ambiguidade entre o lúdico e o melancólico, signo do próprio ser.

 

De 23 de março de 2013 a 23 de março de 2014.

Morandi no Brasil

13/dez

 

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, realiza, com o apoio do Museo Morandi, Itália, sua última exposição temporária do ano. Trata-se de exposição restrospectiva  dedicada à obra do pintor e gravador Giorgio Morandi. Com curadoria de Alessia Masi e Lorenza Selleri, “Giorgio Morandi no Brasil” traz para o espaço expositivo da Fundação cerca de 40 pinturas e 15 gravuras organizadas cronologicamente.

 

O conjunto permite a aproximação do público com o processo criativo e produtivo do artista italiano, calcado em questões como a forma, a significação dos objetos, o ritmo das pinturas e a influência da luz na representação pictórica – esta ultima a grande guia da obra de Giorgio Morandi. Quatro obras nunca antes apresentadas em solo brasileiro também compõem a seleção, além da projeção do documentário “La polvere di Morandi”, do cineasta Mario Chemello, sobre a vida do artista.

 

Sobre o artista

 

Giorgio Morandi nasce em 20 de julho de 1890, em Bolonha, cidade onde passa toda sua vida. Nas primeiras pinturas, datadas a partir dos anos 1910, demonstra uma precoce atenção aos impressionistas franceses e, em especial, por Cézanne; logo em seguida, se interessa por Derain, Henri Rousseau, Picasso e Braque. Concentra-se na grande tradição italiana estudando Giotto, Masaccio, Paolo Uccello e Piero della Francesca. Em meados dos anos 10, pinta obras que atestam uma experimentação futurista e, a partir de 1918, atravessa de modo muito pessoal uma breve fase metafísica. Em 1918 entra em contato com a revista e com o grupo “Valores Plásticos”, com quem expõem em Berlim, em 1921. A partir dos anos 20, inicia um percurso pessoal que perseguirá com particular coerência, mas também com resultados sempre novos, dedicando sua pintura a apenas três temas: naturezas mortas, paisagens e flores. Em 1930 obtém a cátedra de gravura na Academia de Belas Artes de Bolonha, cargo que ocupará até 1956. Inicialmente apoiado e admirado por escritores, em 1934 é apontado por Roberto Longhi como “um dos melhores pintores vivos da Itália”, durante aula inaugural na Universidade de Bolonha. Em 1939 recebe o segundo prêmio de pintura durante a III Quadrienal romana.  Em 1943, no auge da guerra, deixa Bolonha e se refugia em Grizzana, onde permanece até 25 de julho de 1944. Nesse período pinta numerosas paisagens. Em 1948, depois de ter exposto ao lado de Carrà e de De Chirico na Bienal de Veneza, recebe da Prefeitura de Veneza o prêmio de pintura.  Em 1953 conquista o I Prêmio de Gravura na II Bienal de Arte de São Paulo, onde expõe 25 águas-fortes. Em 1957, a Bienal de São Paulo lhe confere o Grande Prêmio de Pintura, tendo concorrido com Marc Chagall. Na última década, chega a uma pintura cada vez mais rarefeita. Morre em Bolonha, em 18 de junho de 1964.

 

Até 24 de fevereiro de 2013.

Obra revisitada

03/set

Waltercio Caldas

A Fundação Iberê Camargo uniu-se ao Blanton Museum of Art para conceber a exposição “O Ar Mais Próximo e Outras Matérias”, lançando um olhar sobre a carreira de Waltercio Caldas e reunindo pela primeira vez as mais de quatro décadas de produção do artista. Walter Caldas é um dos mais importantes nomes da arte contemporânea brasileira com ressonância internacional. As instalações, esculturas, objetos e desenhos– com diversos trabalhos inéditos – serão exibidos sob a dupla curadoria de Gabriel Perez-Barreiro e Ursula Davila-Villa, curadora adjunta do Blanton Museum of Art. Em 2013, a mostra segue carreira na Pinacoteca do Estado de São Paulo e  após, será exibida na programação do Blanton Museum of Art, no Texas.

 

Até 18 de novembro.

PINTURAS CEGAS DE TOMIE OHTAKE

14/jun

Tomie Ohtake

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, apresenta em seu 4º andar, a exposição “Pinturas cegas”, individual de Tomie Ohtake. Realizadas entre 1959 e 1962, as pinturas cegas de Tomie Ohtake compõem um grupo de obras criadas com os olhos vendados. Apesar da riqueza de sentidos que as pinturas emanam, foi só em 2011 que elas receberam um olhar atento para então se tornarem objeto de exposição particular. Assim, a Fundação Iberê Camargo apresenta em seu espaço expositivo este conjunto pouco antes visto, mostrando uma faceta peculiar do trabalho de Tomie Ohtake.

 

As cerca de 30 obras que a Fundação Iberê Camargo agora exibe, representam a experiência de imersão da artista em questões que se estabelecem entre luz e sombra, presença e falta. Sua produção se deu na tentativa de ajustar o olhar ao ponto cego (região no campo visual do disco ótico no qual a visão entra em colapso), e dialogar com o acaso e a intencionalidade. Na cegueira, ela buscou o fazer através do não-ver, materializando pictoricamente questões de profundidade e transparência.

 

Pode-se reconhecer nas pinturas cegas, além do dinamismo, a presença de elementos constantes ao longo de toda a produção posterior da artista, como o seu diálogo com o tempo, a importância do gesto e certa tensão em relação ao espaço.

 

Tomie Ohtake nasceu em 1913, na cidade de Kyoto, no Japão. Ao visitar um irmão no Brasil, em 1936, ela foi impedida de retornar ao país devido à Guerra do Pacífico. Estabelecida em território brasileiro, Tomie começa a pintar, já por volta dos 40 anos, por influência do artista japonês Keiya Sugano. Aos 50, sua carreira já era reconhecida e sua obra era difundida em diferentes países e cidades. Seu currículo contabiliza mais de 90 exposições individuais e participações em mais de 20 bienais internacionais ao redor do mundo.

 

 

Texto do curador Paulo Herkenhoff:

 

Existe uma região no campo visual do disco ótico no qual a visão entra em colapso, o ponto cego – punctum cecum – também chamado de escotoma fisiológico. No início da década de 1960, Tomie Ohtake confrontou sua pintura com questões óticas e oftalmológicas para discutir o estatuto de seu saber pictórico ao vedar os olhos para pintar. Era como se buscasse ajustar seu olhar ao ponto cego e a partir dele se engajar na experiência. A essas obras denominamos, conforme o testemunho da artista sobre seus procedimentos e método de trabalho, de “pinturas cegas”, feitas sob um estado de não-ver.

 

Esta série forma um corpus estimado em pouco mais de trinta telas, uma singularidade na história da arte brasileira. Na época em que foram produzidas, de 1959 a 1962, artistas como Willys de Castro e Mira Schendel interessaram-se pela experiência de Ohtake. Malgrado sua importância intelectual, o conjunto permanece desconhecido pelo grande público e ignorado mesmo por segmentos da historiografia, posto que até aqui só mereceu referência em textos dedicados a outras questões da obra de Ohtake, mormente o substrato espiritual em sua pintura.

 

No final da década de 1950, o crítico de arte Mário Pedrosa retorna ao Brasil, depois de passar um largo período no Japão em processo de pesquisa de sua história da arte, buscando estabelecer um diálogo com a produção contemporânea ocidental de então. Quando chega ao País, passa a propor e a reivindicar que os artistas brasileiros, de origem nipônica ou não, dessem maior atenção a certos aspectos da cultura japonesa: a caligrafia, a pintura sumi, a arquitetura, o espírito Zen, entre outras questões. Pedrosa também volta sua atenção para alguns nomes de origem japonesa, como Tomie Ohtake.

 

Em sua obra, contudo, Ohtake não reduz sua pincelada à relação formal com a pincelada de escritura ideogramática. Ela desloca a questão para uma relação entre valores e procedimentos Zen e a concepção do signo pictórico em seu processo de constituição de linguagem. Por isso, as vendas nos olhos tinham o sentido de realizar uma ação pictórica no limite da percepção. O pincel não buscava demarcar território ou produzir a figuração possível. Tratava-se da pura experiência da passagem do tempo no processo Zen. A pintura de Ohtake nos submete a um paradoxo poético, é simultaneamente produção de linguagem e de conhecimento, experiência do não saber e da intuição.

 

De 14 de junho a 12 de agosto.

RETROSPECTIVA DE IONE SALDANHA

13/jun

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, apresenta no atrio e em seu 3º andar, a exposição “Ione Saldanha: o tempo e a cor”, retrospectiva da artista que, “situando-se no limiar entre o moderno e o contemporâneo, encontrou sobretudo na cor o lirismo de sua expressão artística”. Com este caráter panorâmico sobre a produção da artista, a exposição apresenta desde suas figuras e fachadas dos anos 1940 e 1950 até o amadurecimento do uso da cor em sua obra, passando pelas aproximações construtivas que inspiraram seu trabalho. “Ione Saldanha: o tempo e a cor” apresenta obras em suportes tradicionais e experimentais, lançando um olhar amplo sobre trajetória da artista. As décadas de 1960 e 1980 ganham foco por tratarem-se de períodos em que a produção de Ione atingiu uma poética madura e particular, materializada pelo uso sensível da cor. A curadoria é de Luiz Camillo Osório.

 

Nascida em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 1919, Ione ainda criança viu a família envolvida no movimento de 1923, que marcou a história do estado pelo conflito entre chimangos e maragatos. Devido às ligações políticas, o pai da artista integrou o governo de Getúlio Vargas em 1930, o que determinou a ida da famíçia para o Rio de Janeiro – cidade onde Ione Saldanha residiu até seu falecimento, em 2001. O flerte com a arte se deu desde cedo, através dos primeiros estudos com Pedro Corrêa de Araújo e das viagens a Florença e Paris para realizar cursos de afresco. Durante os anos 1950 e 1960, participou de exposições em diversas cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Santiago do Chile, Roma, Berna e Houston. No início de sua trajetória, as obras são marcadas por um figurativismo de cores escuras que aos poucos deram lugar à geometria lírica, conferindo também outro ritmo cromático para as pinturas. O protagonismo da cor, do pigmento, vai assumindo diferentes faces no decorrer do desenvolvimento da poética da artista.

 

Foi no ano de 1968 que ela expôs pela primeira vez os característicos bambus e ripas pintadas. A partir do uso de suportes experimentais, Ione incorporou algumas das características da contemporaneidade para dentro de sua produção, sem distanciar-se de certo caráter formal do concretismo e do uso da cor. Transitou, assim, entre o moderno e o contemporâneo, como bem observou o curador Luiz Camillo Osório.

 

Texto do curador Luiz Camillo Osório:

 

A obra da artista Ione Saldanha segue ainda desconhecida do grande público e à margem da história da arte brasileira recente. Nascida em Alegrete no Rio Grande do Sul, mas tendo vivido grande parte de sua vida no Rio de Janeiro, teve sua formação marcada pela sensibilidade cromática de Volpi e pela desconstrução figurativa de Vieira da Silva. Passados dez anos de sua morte, está na hora de rever seu percurso artístico.

 

A exposição, tendo caráter retrospectivo, procurará realizar um recorte panorâmico em sua trajetória, desde suas figuras e fachadas das décadas de 1940 e 1950, desdobrando-se pelo flerte construtivo no começo da década seguinte, até sua grande aventura de liberação da cor do final dos anos 1960 até a década de 1990.

 

Sua obra consegue combinar o rigor formal da tradição concreta com a experimentação constante de novos materiais e suportes, sem abrir mão, entretanto, da dimensão lírica da cor. Trata-se, portanto, de uma artista que viveu de dentro a passagem do período moderno para o contemporâneo.

 

Apesar da concentração nas décadas de 1960 e 1980, quando sua obra atinge maturidade poética, procuraremos nesta exposição traçar o seu desenvolvimento desde a década de 1940, mostrando seu período formativo e a longa maturação de sua sensibilidade para a cor. Combinando desenhos, estudos, pinturas e a experimentação com os mais variados suportes – ripas, bambus, bobinas e empilhados. Sua obra está presente nas principais instituições e coleções brasileiras, predominantemente no Rio de Janeiro e em São Paulo.

 

De 14 de junho 12 de agosto.

UMA NOVA LEITURA DE IBERÊ CAMARGO

12/jun

Convite da exposição

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, exibe em seu 2º andar, a exposição “O “outro” na pintura de Iberê Camargo”. O “outro” na pintura de Iberê Camargo apresenta ao público visitante a alteridade na produção do artista. Propõe-se uma desconstrução do estereótipo do excesso e da tonalidade sombria que cerca a produção de Iberê, ao mostrar que sob o “caos” pictórico está a ordem construtiva deste processo. Entre os momentos em que  configura-se este outro, a curadora Maria Alice Milliet destaca as vielas de Santa Tereza, os objetos alinhados sobre a mesa, o raio de sol sobre a parede do ateliê. A ideia da duplicidade já habitava os pensamentos de Iberê Camargo. No mês em que faleceu, março de 1994, o artista escreveu o conto “O duplo”, em que narra em primeira pessoa uma perseguição protagonizada pelo  outro.  Assim, ele constatou seu próprio medo em encarar-se: “Falta-me coragem para ver o outro que vive fora de mim”, termina a pequena história.

Procurar o não visível na obra de Iberê se torna um desafio proposto pela exposição, que tem como fio condutor as afinidades que o artista desenvolveu durante a vida e que se apresentam em sua produção.  O conjunto contempla 69 obras e é guiado por estas diferentes formas de proximidade. A pintura metafísica de Giorgio de Chirico e a construção geométrica de André Lhote exemplificam estas similaridades, mas foi com a obra de Giorgio Morandi que Iberê estabeleceu um íntimo diálogo. Esta relação afinada se construiu a partir de gravuras e pinturas nas quais Iberê apresentou objetos comuns de maneira solene, valorizando processos pessoais e sensoriais na produção artística. Apropriar-se de um olhar diferente para a pintura de Iberê é a provocação lançada na exposição.

 

De 14 de junho de 2012 a 10 de março de 2013.

 

“O duplo”, um conto de Iberê Camargo

Sentado num dos primeiros bancos do ônibus número 15, Praça São Salvador–Rio Comprido, vejo surpreso, e logo com crescente espanto, minha imagem refletida no retrovisor, com traje e movimentos que não são meus. Para afastar a possibilidade de uma alucinação, faço, como prova, exaustivos gestos propositadamente exagerados, que a imagem refletida não repete.

– Um sósia? Mas esse é semelhante, jamais idêntico.

Meu desassossego, meu espanto crescem.

O outro, com roupa e movimentos diferentes, permanece tranquilo, impassível, alheio à minha presença e parece nem se importar em ser réplica.

– Ele não me terá visto? Impossível, estamos próximos. Ele talvez ocupe um assento à minha frente. Não sei.

A ideia do indivíduo de ser dois apavora.

Já agora preso de um terror incontrolável, soo a campainha do coletivo e desço precipitado, sem olhar para trás, sem sequer ousar localizá-lo: falta-me coragem para ver o outro que vive fora de mim.

OBRAS DE LEONILSON NA FIC

15/mar

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura a sua primeira exposição temporária de 2012. Dedicada a Leonilson, um dos grandes nomes da arte contemporânea brasileira, “Sob o peso dos meus amores” reúne mais de 365 obras, um amplo panorama da produção do artista. A seleção abrange desde o início da carreira, na década de 1970, até o período final de produção, no início dos anos 1990. A exposição tem curadoria de Ricardo Resende, diretor geral do Centro Cultural São Paulo e consultor do Projeto Leonilson, e Bitu Cassundé, crítico de arte e curador.

Aos 20 anos, Leonilson ingressou na FAAP, tornando-se aluno de Nelson Leirner, Júlio Plaza e Regina Silveira. Em 1980, realizou sua primeira exposição individual, no Museu de Arte Moderna da Bahia, e desde então produziu intensamente até o ano de seu falecimento, 1993.

Suas obras estiveram presentes em exposições pelo Brasil e pelo mundo, hoje fazendo parte de importantes acervos, entre eles o da Fundación Cisneros, Museo de Arte Contemporáneo de Barcelona, Deutsche Bank Collection, Los Angeles County Museum, Instituto Inhotim, Itaú Cultural, Instituto Moreira Salles, MAM/SP, MRGS/RS, entre outros. Entre os destaques da exposição estarão as agendas e os cadernos que mostram um pouco mais sobre o processo artístico de Leonilson, além de revelar a fixação que ele tinha pelo registro do desenvolvimento das suas idéias.

Também estarão reunidos trabalhos de amigos artistas como Leda Catunda, Sérgio Romagnolo, Daniel Senise, Luiz Zerbini e Albert Hien. Foi com este último que Leonilson estabeleceu uma parceria e amizade duradoura, que seguiria até o fim da vida. Nas mais de 300 obras expostas, percebe-se as preocupações com os dilemas do homem contemporâneo.

De 15 de março até 3 de junho.