Livro de Ascânio MMM

26/mar

 

“Um imenso desafio de levantamento historiográfico à altura da obra de Ascânio MMM”. É assim que Paulo Herkenhoff, um dos mais respeitados curadores e críticos de arte do Brasil, define o livro “Ascânio MMM: Poética da Razão”, BEĨ Editora, que o autor lança, na Livraria da Travessa, Ipanema, Rio de Janeiro. A publicação é resultado de quatro anos e meio de trabalho. Foram mais de 50 conversas entre o crítico e o artista, que também abriu seus arquivos, depósito de obras e mapotecas, no ateliê, além de uma intensa troca de e-mails.

 

Nas quase 300 laudas de seu ensaio inédito, Herkenhoff propõe uma revisão crítica da trajetória e da obra do escultor carioca, como Ascânio MMM gosta de ser chamado – radicado no Rio de Janeiro desde 1959, quando tinha 17 anos, Ascânio nasceu em Fão, vila de origem medieval localizada no norte de Portugal.

 

“O sistema de valores da obra de Ascânio solicita que se examine sua gênese, até aqui insuficiente ou mesmo equivocadamente explorada. (…) Essa obra precisa ser explorada num plano retrospectivo que lhe defina com mais vigor o lugar histórico”, aponta o crítico, logo no primeiro dos 22 capítulos do livro.

 

O ensaio “historiográfico e teórico” de Paulo Herkenhoff reconstrói a trajetória de Ascânio MMM, desde a influência de aspectos culturais de sua origem portuguesa; sua formação na Escola Nacional de Belas Artes, 1963-1964 e na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 1965-1969 – ambas da Universidade Federal do Rio de Janeiro; o esforço de construção da linguagem e de seus signos materiais; as proposições fenomenológicas e simbólicas de sua obra; sua participação no processo histórico da arte brasileira, sobretudo na Geração MAM (formada entre os anos 1960 e 1970 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro); o âmbito de sua produção, seu programa estético, a poética e o sentido da obra; a vontade construtiva e o viés arquitetônico de sua escultura vinculado à questão social da habitação.

 

A história de Ascânio também é reconstruída ao longo das quase 400 imagens reunidas na publicação. Através delas, o leitor tem um panorama de sua produção artística, desde as torções da primeira escultura de 1964, passando por suas obras no espaço público do Rio de Janeiro, até chegar aos “Flexos” e às “Qualas”, seus trabalhos mais recentes.

 

Texto e imagens de Ascânio MMM: Poética da Razão revelam a obra de um artista construída a partir de diferentes influências e questões centrais na arte brasileira dos últimos 50 anos, suscitando ao longo de sua análise revisões críticas e historiográficas.

 

Este livro se configura como uma leitura obrigatória e uma nova possibilidade de encontro com a obra de Ascânio MMM e até mesmo com a história recente da arte brasileira. Para Paulo Herkenhoff, por mais de quatro décadas, desde os primórdios de seus estudos de arte em 1963, Ascânio MMM manteve uma produção consistente. Das torções da primeira escultura de 1964 aos Flexos e às Qualas não foi a forma que regeu as decisões, mas seu fundamento matemático e arquitetônico, os problemas espaciais convertidos em experiências do tempo.

 

Lançamento: 27 de março.

Kilian Glasner na galeria Laura Marsiaj

13/mar

 

O estilo promissor e intrigante da obra de Kilian Glasner, um dos nomes mais promissores da nova safra de artistas plásticos pernambucanos, chega ao Rio de Janeiro através da exposição individual denominada “Obscura” em cartaz na Galeria Laura Marsiaj, Ipanema. Nesta primeira exposição individual no Rio de Janeiro, o artista, que já expôs na Europa com obras em importantes instituições como a Calouste Gulbenkian de Lisboa, 2010, apresenta dez desenhos que marcam uma nova fase em sua trajetória, à começar pelo material escolhido. Desta vez Kilian utiliza o nanquim preto para cobrir quase todo o papel, revelando cuidadosamente pequenos pontos de luz que formam desenhos impactantes.

 

Em “Obscura”, Kilian Glasner propõe uma reflexão filosófica investigando a relação do homem com a luz, capturando a presença da vida na luz de cada imagem. Uma preocupação constante do artista é manter em suas obras um canal de comunicação com o público. Ele procura deixar claro seus objetivos, com o intuito de “tentar entrar numa consciência coletiva”, dosando o subjetivismo em nome de objetivos didáticos.

 

Sobre o artista

 

Kilian Glasner nasceu em 1977 na cidade de Recife, PE. Sua obra foi premiada no 39º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, 1999, quando o artista tinha apenas 22 anos. Realizou seus estudos de graduação e mestrado na École Nacionale Superieure de Beaux-Arts, em Paris, onde morou entre 2000 e 2007. Em 2009 foi contemplado pelo Programa Rumos Artes Visuais no Instituto Itaú Cultural e participou de mostras em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Branco e Brasília. No mesmo ano realizou mostra individual no Instituto Cultural Santander, em Recife. Em 2010 realizou a obra “O Brilhante Futuro da Cana-de-Açúcar”, na Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa. Em 2011 participou do programa “About Change the World Bank”, em Washington, além de mostra individual na galeria Moura Marsiaj, São Paulo. Em 2012 realizou individual na galeria Vitrine da Paulista, com projeto premiado pelo Instituto Caixa Cultural São Paulo. O artista mantém ateliê em Berlim e na Ilha de Itamaracá.

 

Até 06 de abril.

Marta Jourdan na Laura Alvim

05/mar

A Galeria Laura Alvim, Ipanema, Rio de janeiro, RJ, inaugura a maior exposição da carreira da carioca Marta Jourdan, com esculturas e um filme, feitos entre 2008 e 2012. A artista apresenta esculturas cinéticas que dão forma a experiências sutis, como condensações, fusões e evaporações, para levar o espectador a perceber o acontecimento, às vezes, desprezível.

Na Laura Alvim, ela propõe um trajeto de situações ao visitante, começando por “Zona de lançamento”: uma pequena bomba envia água para a cabeça de um retroprojetor tradicional, modificado pela artista. Uma válvula acoplada ao aparelho faz pingar o líquido sobre a lente do retroprojetor, que agiganta e projeta as gotas nas paredes  ininterruptamente.

 

Na maior sala da exposição, estará o filme “Súbita matéria”, em que, com uma câmera de altíssima velocidade que registra até mil quadros por segundo, a artista filma a poesia das explosões. A captura mostra os movimentos no milésimo de segundo, revelando a delicadeza das partículas de uma explosão, a magia da água na luz,  a força de um jato que surpreende uma mulher pelas costas. Marta usou dinamites, canhão de ar e 30 mil litros de água para compor as cenas.

 

Em “InSólidos”, um dispositivo eletrônico aciona um ferro de solda que derrete barras de estanho. O estanho derretido pinga em um copo com água formando gotas sólidas.

 

No trabalho intitulado “Óleo”, a artista usa um recipiente com óleo, que espelha o ambiente. Ao se acionar um motor, o cilindro de alumínio gira em alta velocidade e desfaz a imagem refletida sobre o óleo, do ambiente e/ou do público. Quando o motor para, a imagem se recompõe. A operação dura 23 segundos.

 

“Líquidos perfeitos” é um conjunto de 11 esculturas, em que gotas d’água de recipientes de vidro pingam sobre chapas quentes de ferros industriais de passar roupa. Ao tocar a placa de 100º C, as gotas evaporam formando pequenas nuvens e produzindo um som de tzzzzziiii. Os ferros são instalados sobre bancos de madeira de diversas alturas.

 

No texto do folder, o crítico Fernando Cocchiarale diz que “Marta não quer dar forma permanente à matéria sólida. Ela cria, inversamente, máquinas voltadas não só para a alteração de estados físicos da matéria, sobretudo aqueles da transformação da solidez (condição permanente da matéria escultórica), em líquido (InSólidos) e deste, em gasoso (Líquidos perfeitos), como também para a alternância de movimento e repouso (Óleo).”

 

Sobre a artista

 

Marta Jourdan, nasceu no Rio de Janeiro, em 1972. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Graduada em Teatro pela Escola de Artes de Laranjeiras, RJ, em História pela PUC-Rio, a artista completou seus estudos em Cinema na Escola Jacques Le Coq, em Paris, onde desenvolveu técnicas de construção de objetos cênicos. Neste período trabalhou no acervo do Centro Georges Pompidou, Paris. Suas principais exposições individuais foram na Galeria Artur Fidalgo, RJ, 2012; Mercedes Viegas Arte Contemporânea, RJ, 2008 e na Fundação Eva Klabin, RJ, “Projeto Respiração”, 2007.

 

Entre as coletivas das quais participou estão “Super 8″, Christopher Grimes Gallery, Los Angeles, 2011; “Nova Escultura Brasileira”, Caixa Cultural, RJ, 2011; “Projeto Coleções Instituto Inhotim”, BH, MG, 2010; Projeto “2 em 1” Cavalariças do Parque Laje, RJ, 2009; Instituto Goethe de Nova York, 2008; Festival Multiplicidade, Sesc Pompéia, SP, 2008; Jeu de Paume, Paris, 2007; Gandy Gallery, Bratislava, Eslováquia, 2007 e Kunstverein Hamburgo, Alemanha, 2001.

 

A curadoria da programação da Galeria Laura Alvim é do crítico carioca Fernando Cocchiarale, que se despede com a exposição de Marta Jourdan, depois de dois anos.

 

Até 28 de abril

Paulo Meira e Carolina Martinez

18/jan

Como é de praxe, a galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta simultaneamente dois artistas. Os escolhidos para a abertura da temporada 2013 são: Paulo Meira e Carolina Martinez.

 

Paulo Meira apresenta sua exposição individual “La cumparsita”, composta de pinturas e um vídeo performance. As pinturas de “La cumparsita” representam diversos personagens, em estilo clássico do gênero “pintura de retrato” (óleo sobre tela em dimensões variadas), em metamorfoses de seres humanos e animais selvagens. O antropomorfismo, nas pinturas de “La cumparsita” decorre inicialmente da exploração exaustiva da própria imagem do homem, num exame cruel de suas possibilidades através da combinação da figura humana com uma infinidade de outros seres.

 

No vídeo “La cumparsita”, um homem dança ao som de “La cumparsita”, tango dos mais conhecidos de Carlos Gardel, tendo como parceria, um compasso de dimensões alteradas (medindo 1,78 metros).

 

A dança, que ocorre em diversos ambientes, sugere uma íntima relação entre o homem e o “seu” objeto técnico (o compasso gigante). De tal intimidade, emerge a perversão própria desta relação, na qual o dançarino, ao compactuar com o compasso, distorce e reloca o destino que o funda: entre as funções de um compasso, destaca-se a leitura de mapas e cartas náuticas para calcular equivalências entre tempo e espaço de deslocamentos. Ora, em “La cumparsita” a dança executada com esse instrumento de precisão, como se vê no vídeo, compactua antes com a arte, pois desafia a ordem de um mesmo e preciso compasso.

 

Carolina Martinez no Anexo

 

Aproveitando-se do formato de cubo branco e da falta de janelas do Anexo, a exposição de “Às avessas”, individual de Carolina Martinez assume uma engenhosa e delicada operação metafórica: trazer o exterior para dentro de uma casa. Deslocando a imagem do cubo como lugar expositivo para a de um cômodo, a artista confunde a nossa percepção sobre o espaço. É um cômodo/casa às avessas. Suas pinturas alegoricamente transformam-se em fachadas ou janelas, não apenas pelo fato do objeto (pintura) possuir um tamanho aproximado de janela mas pelo que ilustra ou exibe: são persianas, beirais, correspondências imagéticas à ideia de exterioridade. Porém ao mesmo tempo em que “exibe”, a obra de Martinez oculta. São janelas que não se abrem ao exterior mas que mimetizam a ideia de um outro lugar. Não há nada para ser visto, apenas imaginação, especulação. Contudo, há um investimento romântico nesse trabalho que nos leva a acreditar que naquele fragmento, em um pedaço metafórico de paisagem, pode estar o todo, e que essa experiência não pode ser desqualificada por uma racionalidade inibidora.

 

A ilusão óptica que habita suas primeiras pinturas – uma suave combinação entre tinta automotiva e verniz sobre madeira – criando uma dualidade entre a ideia de figura e fundo é transferida para esse ambiente instalativo. Estes trabalhos possuem pontos de contato com os Espaços virtuais: Cantos (1967-68) e os Volumes virtuais (1968-69) de Cildo Meireles. Tal como esses últimos, as obras de Martinez são “desenhos” que utilizam três planos para definir uma figura no espaço. Ademais, cada um dos dois artistas a seu modo, realiza a transição do espaço bidimensional para um ambiente escultórico que se assemelha a uma casa. Paira sobre essas obras uma inversão das escalas. No caso de Martinez, o cubo/quarto/cômodo vira casa; o rodapé deixa de lado a sua insignificância e passa a ser o eixo central constituindo perímetros, áreas ou cantos de sólidos assim como ocorre nos Volumes Virtuais; e, finalmente a natureza é reduzida ou ampliada dependendo de como o espectador investe o seu olhar para o território criado pelas linhas econômicas, suaves e delicadas de suas pinturas.

 

A linha que atravessa a exposição – presentificada no rodapé que perde a sua função utilitária e ganha corpo, volume e massa adquirindo por si só um estatuto escultórico – é aquela presente nas obras pictóricas de Martinez. O rodapé que foge ao controle da racionalidade significa a transposição de sua pesquisa pictórica para a tridimensionalidade. Ao mesmo tempo em que a artista constrói um espaço que ao invés de oferecer a paisagem ao espectador encerra-se nele mesmo (estão ali contidos a casa, a paisagem e a arquitetura), tudo na exposição está em movimento. Não são, portanto, imagens ou objetos estacionários, mas em constante trânsito. Figuram paradoxalmente entre a máxima presença e a máxima ausência.

 

O artificial e o real, o inventado e o concreto, o original e a cópia, a imagem e seu referente não “se dividem mais segundo uma dicotomia serena, mas mantêm relações fluidas” (1), que abrem caminho a um pensamento do verossímil. “Às avessas” nos revela que a realidade não é mais exatamente a mesma: ela é duplicada, confrontada, e reforçada pela ficção.

 

(1) Cauquelin, Anne. A invenção da paisagem. São Paulo: Martins, 2007, p. 109.

 

De 22 de janeiro a 28 de fevereiro.

Mostra de Fernanda Gomes

26/nov

A Galeria Laura Alvim, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, sob a curadoria do crítico Fernando Cocchiarale,  a exposição individual de Fernanda Gomes. Há mais de vinte anos, a artista  vem construindo uma obra singular, inclassificável dentro dos parâmetros tradicionais das artes visuais, com repercussão Brasil e no exterior. O trabalho de Fernanda Gomes é muito particular, diferente de tudo a que se está acostumado, mas seu currículo demonstra que ela é incensada mundo afora. Um exemplo: o Centre Pompidou (Beaubourg), Paris, acabou de adquirir uma obra da artista que em suas palavras, “dá importância ao que a maioria acha banal”.

 

Fernanda Gomes realizou mostras individuais e coletivas em quase todos os países da Europa, além dos Estados Unidos, México, Austrália, Nova Zelândia e Japão. Participou das bienais internacionais de São Paulo, 1994, Istambul, 1995, Sydney, 1998 e Veneza, 2003. Neste momento, participa da Bienal Internacional de São Paulo. Seu trabalho faz parte, entre outras, das coleções do Miami Art Museum, Tate Modern, Fundación/Colección Jumex, Vancouver Art Gallery, MAM-Rio e Museu Serralves, em Portugal, onde também desenvolveu escultura permanente para o parque do museu.

 

A palavra da artista

 

“Penso uma exposição como um momento preciso em uma atividade contínua, aberto para uma dimensão comum a todos. Inclui o lugar, em toda sua amplitude. O espaço da galeria é também lugar, território ao mesmo tempo mítico e familiar, Ipanema! Inclui a praia, a rua, a praça, o morro. Expande-se esta dimensão na experiência do encontro, em um espaço da cidade, para a cidade, com possibilidades infinitas e imprevisíveis.”

 

“Será uma exposição que parte mais de princípios do que de projetos, como me agrada fazer. Sem temas ou sistemas determinados, mas pensando também no desenho como início de tudo. Desenho: verbo e substantivo. Desenho que é também risco na superfície do mundo, ação e tempo, o inseto e seu trajeto e o vento na areia. Registro de vôo, mapas, cartas de navegação, marcas que tentamos apagar, nódoas nos tecidos, aquarelas da umidade dos dias, e o pó, terra, ferrugem! Ver as coisas, todas as coisas, em sua beleza. Desenho que é pensamento plástico essencial, vocabulário ancestral que cria outros roteiros para a imaginação. Todos desenhamos quando crianças. Porque tantos param de desenhar?”

 

Até 17 de fevereiro de 2013.

Coletivo na amarelonegro

13/nov

Moleculagem

A galeria amarelonegro Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “CAPUT X KAPUT”, realizada pelo Coletivo “MOLECULAGEM”. Em sua primeira exposição, o coletivo “MOLECULAGEM” apresenta na amarelonegro, série de trabalhos que exploram a relação contraditória e intrínseca entre criação e destruição. O antagonismo entre as palavras Caput (termo latino que significa cabeça) e Kaput (gíria alemã que significa destruído) sugere uma tensão que serve como ponto de partida no qual cinco cabeças, os artistas Alexandre Aranha, Bernardo Varela, Pablo Ribeiro, Pedro Conforti e Sol Galvão se inspiram para gerar experimentos visuais e sonoros.

 

De 13 de novembro a 07 de dezembro.

Na Galeria Laura Marsiaj

10/nov

O pintor Alan Fontes exibe suas versões de casa e cidades ideais na Galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. O artista apresenta duas pesquisas em pintura: uma sobre a paisagem urbana (a série “A Cidade”) e outra sobre ambientes privados, interiores de ambientes domésticos (a série “A Casa”). Natural de Ponte Nova, MG, as duas séries foram iniciadas entre 2004 e 2005, essas pesquisas partem do universo pessoal do artista. A série “A Cidade”, é composta de paisagens urbanas cujo início ocorreu através da experiência de Alan fontes andar pela cidade e coletar imagens para a produção de pinturas que estética e simbolicamente falam dessa experiência de ver e viver na cidade.

 

As pinturas desta série apresentam uma cidade afetiva, uma visão mais poética do que documental.  A gama de cores frias e uma pintura que caminhava para uma desconstrução da forma refletiam de algum modo a maneira como ele se encaixava no mundo. Uma cidade concreta, vazia, onde a expectativa de vida observada secretamente nas casas era seu objeto de interesse.  Experiência análoga a um exercício de voyeurismo.

 

No espaço anexo da galeria, o artista mineiro expõe a obra “La Foule”, um projeto de uma instalação pictórica-sonora. O trabalho parte de uma relação poética com a música “La Foule”, de Edith Piaf, na qual uma metáfora entre o conceito de multidão e a narrativa de uma relação amorosa iniciada, vivida e findada num baile de carnaval é construída. A letra cria uma analogia entre uma história acontecida em um efêmero baile de carnaval para tratar da vida, do tempo, da impotência do homem em lidar com a imprevisibilidade dos acontecimentos.

 

 

A palavra do artista

 

“Observar a cidade do alto trazia de início uma experiência de deslocamento da paisagem, um afastamento reflexivo de onde o espectador consegue ver privilegiadamente a cidade. Ver a cidade por fora das casas e o que se encontra por dentro dos muros das casas. A ação de observar a cidade por cima permitia perceber a paisagem urbana, coletiva, pública e ao mesmo tempo micro paisagens onde cada indivíduo modifica e adapta o espaço às suas necessidades pessoais”.

 

“A casa nesse sentido representaria um auto-retrato em campo ampliado onde minhas questões pessoais e artísticas poderiam ser tratadas intrinsecamente. Falando inicialmente das imagens, comecei criando individualmente cada ambiente da casa. Cada cômodo possuía uma pintura principal em formato maior e os respectivos objetos e móveis reais pintados em cinza. Todo cômodo tinha uma referência principal que dava título à tela. Um artista, um filme ou uma personalidade dominante dentro do ambiente com coisas que eu tinha ou gostaria de ter. Também inclui imagens de trabalhos de artistas e obras que tenho como inspiração e por fim, me apropriava de tudo colocando em cada ambiente criado um auto-retrato”.

 

De 13 de novembro a 22 de dezembro

Esculturas de Isaque

18/set

Isaque Pinheiro, artista português, realiza sua segunda exposição individual na galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. Desta vez o artista ocupará os dois espaços expositivos, a galeria e o anexo, em uma mostra que contará com 7 esculturas realizadas com diferentes materiais: mármore, couro, aço inox e madeira.

 

O trabalho de Isaque Pinheiro floresce nos limites dos procedimentos hegemônicos da arte contemporânea.  Em sua obra coexistem rasgos de noção greco-romana, renascentista, iluminista e, com certeza, de uma narrativa contemporânea. De fato, o trabalho de Isaque Pinheiro rebela-se contra a própria historia recente da escultura, atendendo tanto ao seu passado como a seu presente, assumindo seus últimos logros sem abandonar a condição formal, o oficio de escultor.

 

Resulta evidente que a evolução escultórica desde o classicismo das estátuas até hoje tem sido um universo de desencontros, inclusive poderíamos falar que a escultura assume uma repetida traição a si mesma em cada novo passo que dá.

 

Tradicional em sua forma de “fazer”, Isaque Pinheiro resolve conceitualmente, desde a tensão própria da poesia, buscando a incongruência do objeto, sua condição abstrata ainda quando se trata de uma proposta figurativa.

 

De 29 de setembro a 27 de outubro.

Panorâmica de Ubi Bava

24/ago

A Ronie Mesquita Galeria, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, mostra exposição panorâmica der Ubi Bava, um dos mais significativos representantes de múltiplas correntes do pensamento artístico no Brasil como o abstracionismo, concretismo, construtivismo, arte cinética, abstração informal, abstração geométrica e op arte.

 

A mostra da Ronie Mesquita Galeria apresenta 22 obras realizadas no período compreendido entre as décadas de 1940 até 1970, que serão reproduzidas também em um catálogo elaborado pela galeria com tiragem de mil exemplares. São obras de técnicas diversas que em conjunto constroem uma síntese da poética e rica trajetória do artista.

 

Os trabalhos de Ubi Bava apresentam características resultantes de pesquisas na linha geométrica, da cor pura versus forma e pinturas com uma nítida vibração de superfícies abstratas. Sua obra pictórica exibe extremo rigor, sintetizando as leis da geometria como instrumento de ordenação das emoções através de linhas e cores íntegras e de espaços com sentido preciso de infinitude. Sobressaem a importância da educação visual e o poder das imagens, que não são estáticas e incitam a vibração ótica que as modificam e as deslocam do ponto de apoio num ritmo preciso e constante.

 

Os trabalhos com espelhos, os objetos óticos e cinéticos, os de multivisão e tubos sensibilizados são considerados os mais importantes legados de Ubi Bava. Alguns em caixas de acrílico perfuradas em pequenos círculos onde foram inseridos espelhos côncavos coloridos concretizam sua proposta fenomenológica. Não obstante a busca  incansável e sistemática de espaços, estruturas, equilíbrio e forma, o trabalho do artista procura também um constante diálogo com o espectador/fruidor.

 

Sobre o artista

 

Ubi Bava nasceu em Santos, SP, em 1915. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro com Lucílio de Albuquerque e Henrique Cavalleiro na década de 1930. Entre os anos 1940/50 desenvolveu um abstracionismo geométrico a partir do qual foi caminhando a passos largos para a arte cinética e a arte ótica. No inicio da década de 1950, realizou  pesquisas sobre espaços pluridimensionais. Os efeitos ópticos e cinéticos trabalhados, acabam por caracterizar o foco sobre o ritmo dessas estruturas, domando-se aos múltiplos direcionamentos perceptivos no contato com a obra, a que o artista chamou de “multivisão”.

 

Em 1961, recebeu o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro do Salão de Arte Moderna e fixou-se na Europa por dois anos, principalmente, na Itália. Já nos anos 70, trabalhando com espelhos recortados e modulados, calotas de alumínio e canos plásticos, chamava o espectador a participar da obra. Construtivista, ele próprio chegou a se considerar uma espécie de concretista lírico.

 

Além de diversas exposições individuais e coletivas também participou de diversas Bienais de São Paulo nas quais  obteve quatro prêmios de aquisição. Suas obras fazem parte dos acervos  do Museu Nacional de Belas Artes do Rio, MAM-Rio, MAM-SP, Palácio do Itamaraty, MAC-Niterói, e de  grandes coleções particulares do Brasil e exterior como as de  Gilberto Chateaubriand, Roberto Marinho, Hecilda e Sérgio Fadel, Adolpho Leirner e Queiroz Galvão entre outras. No Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, existe a sala UBI BAVA, em homenagem ao artista. Durante toda a sua vida também dedicou-se ao ensino da arte e arquitetura. Faleceu em 1988 na cidade de São Paulo, SP.

 

 

Abertura: 27 de Agosto

 

Até 06 de outubro.

DOIS NA GALERIA LAURA MARSIAJ

07/ago

“Delay”, da artista Waleria Américo apresenta um conjunto de trabalhos inéditos, todos resultados de sua última pesquisa. A exposição na Galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, é composta por vídeos, fotografias, desenhos e indica a temporalidade particular que se articula entre lugar, corpo e deslocamento. Revela uma série de imagens que servem como relatos e notas, que se ativam por um corpo/memória, em fragmentos de vários lugares, tempos e ritualidades.

 

Dessa investigação entre “corpo subjetivo” e “corpo geográfico” surgem questões no qual o corpo é agente determinante, tanto mecanicamente pelo deslocamento entre diferentes geografias e paisagens, quanto, nas construções subjetivas na qual a instância relacional é ativada, “Delay”, reverbera o desejo pelo outro lugar, pelo desconhecido. Os trabalhos compõem uma cartografia, que se conjuga por proximidade e distanciamento, busca e desejo, limite e risco e anuncia o posicionamento do corpo dentro desse rizoma. A curadoria é de Bitu Cassundé.

 

No Anexo da galeria, Carlos Mélo apresenta “Sobre humano”, uma instalação na qual dezenas de ossos de boi colados e sobrepostos formam uma escada-escultura, cuja funcionalidade se encerra na fragilidade. A montagem denuncia a precária condição de um corpo estranho sem pele encostado em uma parede.

 

A exposição divulga uma citação de Félix Guatari: “Quanto mais se sobe numa hierarquia, mesmo pseudorrevolucionária, menos possível se torna a expressão do desejo (em compensação, ela aparece nas organizações de base, por mais deformada que seja) a esse fascismo do poder, nós contrapomos as linhas de fugas ativas e positivas, porque essas linhas conduzem ao desejo, às máquinas do desejo, a organização de um campo social de desejo: não se trata de cada um fugir pessoalmente, mas de fazer fugir, como quando se arrebenta um cano ou um abcesso”.

 

 

De 07 de agosto a 05 de setembro.