Curso de Arte na Sancovsky

30/ago

Da Arte Moderna à Arte Contemporânea Brasileira por Pollyana Quintella

 

O curso tem como finalidade apresentar, através do trabalho de 8 artistas, os caminhos da arte moderna e contemporânea no Brasil, dos anos 1910 aos dias de hoje. Destinado a todos os públicos, serão abordados os contextos histórico e social, textos de críticos e artistas, fotos e documentos que discutam as linguagens e principais movimentos da Arte Brasileira. Os participantes poderão analisar, a cada aula e com o auxílio da professora, as principais obras dos artistas em questão, aprimorando a leitura de imagens e obras de arte através de critérios e metodologias exercitados. Serão estudadas as obras de Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi e Alberto Guignard, Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape, Cildo Meireles e Tunga, reservando um momento para revisão, levantamento de aspectos gerais e apontamentos e conclusões sobre a Arte Brasileira.

 

 

Sobre Pollyana Quintella

 

Pollyana Quintella é curadora e crítica de arte, colunista de artes visuais do jornal Agulha. Atuou como pesquisadora e curadora adjunta da Casa França-Brasil e editora da revista USINA. Passou pelo Museu de Arte do Rio e Museu da Chácara do Céu. Curou exposições na Casa França-Brasil, no CCJF, no Centro Cultural Calouste Gulbenkian, n’A MESA e no espaço SARACURA. É formada em História da Arte pela UFRJ e mestranda em Arte e Cultura contemporânea pela UERJ, onde pesquisa a obra de Mário Pedrosa.

 

 

Datas: Segundas, 25-Set, e 2,9,16-Out, das 20h às 22h.

Local: Galeria Sancovsky, Pça Benedito Calixto,103, Pinheiros – São Paulo – SP

Investimento: R$ 400,00 (Parceláveis)

 

No Instituto Tomie Ohtake

21/jun

A mostra inédita, organizada e realizada pelo Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, sob a curadoria de Paulo Herkenhoff, coloca em destaque a produção e a trajetória de diversas mulheres que desafiaram convenções e limites de suas épocas, nos séculos XIX e XX no Brasil, seja no campo estético ou social. “Invenções da Mulher Moderna, Para Além de Anita e Tarsila” é o resultado de uma extensa pesquisa que o curador Paulo Herkenhoff desenvolve há décadas, alimentada pela contínua reflexão sobre a obra de diversas mulheres artistas brasileiras. Esta mostra, portanto, desdobra o já conhecido comprometimento de Herkenhoff com o registro histórico da produção feminina e com a reflexão teórica sobre suas invenções.

 

Para a exposição, com cerca de 300 obras, além de fotos e documentos, o curador toma como referência dois pilares do modernismo no Brasil, Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, e apresenta novos apontamentos sobre suas obras e histórias. Em torno dessas referências, a maior parte das obras e das narrativas presentes na exposição vai mais longe, e apresenta mulheres que são em sua maioria desconhecidas do grande público.

 

Entre mostra e catálogo, o curador não pretende organizar um dicionário/glossário de nomes e imagens, muito menos construir uma grande narrativa completa e acabada, mas situar de maneira historiográfica e crítica diversas personagens que complementam e transformam a história da cultura e da arte no país.

 

Assim, ao invés de uma narrativa linear, a mostra elege diversos núcleos, que se distribuem como uma rede ou uma constelação. Núcleos heterogêneos são estabelecidos e dão visibilidade a questões e temas relevantes, que abrangem tanto dados históricos e factuais quanto tentam evidenciar a subjetividade das artistas escolhidas. As invenções, como sugere o título, dizem respeito às criações dessas mulheres e também à construção da imagem da mulher que foi sendo aberta e lapidada ao longo dos séculos XIX e XX. Além de seu pioneirismo, essas personagens têm em comum o enfrentamento de tensões e conflitos de diversas ordens.

 

Em “Mulheres de Vassouras” – trocadilho entre as mulheres e a cidade carioca que foi polo do café do século XIX e de revoltas de escravos – estão: retratada em pintura anônima, Eufrásia Teixeira Leite (1850 – 1930), intelectual que se relacionava com Joaquim Nabuco e se notabilizou por libertar seus escravos e por seus atos de filantropia; registros da prisão, oriundos do Arquivo Nacional, de Mariana Crioula, negra, casada com o quilombola Manoel Congo e que, ao seu lado, participou da maior fuga de escravos ocorrida em 1838; e obra de Abigail de Andrade (1864 – 1890, França) que, segundo o curador, foi uma das primeiras a executar no Brasil as chamadas pinturas de gênero, pautadas nas cenas cotidiana de interiores doméstico.

 

Para pensar as “Mulheres do Século XIX”, Paulo Herkenhoff se vale da ideia do “muxarabi”. O elemento da arquitetura que lembra uma grade de madeira, de origem árabe, permite entrada da luz, se pode ver de dentro para fora, mas não de fora para dentro. Essa posição representa o lugar protegido e reservado que era designado à mulher e foi, gradualmente, superado conforme mulheres decidiam abandonar tal “mediação” ao pintar e registrar a cidade, encarando e sendo encaradas de volta. No século XIX houve cerca de 50 mulheres conhecidas como pintoras e a exposição reunirá cerca de 15 delas.

 

Já o núcleo “Modernas antes do Modernismo” elenca nomes de artistas que marcaram a época e o local em que viveram, por estarem desvinculadas dos princípios da arte acadêmica, porém não integrando o modernismo organizado como vanguarda no país no começo do século XX. É o caso da espanhola, que chegou ao Brasil nos anos de 1890, Maria Pardos em Juiz de Fora, Minas Gerais, uma pintora da intimidade e do mundo privado e que ganhou diversos prêmios em salões. Outra artista pertencente a este grupo é Nair de Teffé (1886 – 1981, RJ) que, segundo o curador, foi a primeira caricaturista mulher de quem se tem notícia em escala mundial.

 

O segmento dedicado à “Fotografia” evoca a atuação da mulher no século XIX, como a chegada, em 1842, de cinco daguerreotipistas no Rio de Janeiro, dentre eles, uma mulher. A mostra traz a figura que modificou os parâmetros da fotografia no século XIX, Fanny Volk, alemã radicada em Curitiba no ano de 1881. Com interesse voltado ao social, uma de suas pesquisas constava de fotografar o trabalho masculino ao ar livre. Já entre as presenças no início do século XX o curador ressalta as fotografias de Hermínia Nogueira Borges (1894, RJ – 1989, RJ), fundadora do Foto Clube Brasileiro, no Rio de Janeiro, e as cerca de 10 mulheres que dirigiram estúdios, a primeira em 1908, no Estado de São Paulo, e em 1910, na capital. As lentes estrangeiras que chegam ao Brasil no século XIX também são investigadas pelo curador que, no caso, envolve mulheres e homens com olhares não modernista, pois se afastavam de questões nacionalistas e preocupavam-se com a subjetividade e os registros sociais.

 

Um dos pilares da mostra, Anita Malfatti (1889 – 1964, SP), além de pinturas, comparece acompanhada de uma análise crítica do texto “Paranoia ou mistificação?” (1917), de Monteiro Lobato. Para dissecar o texto de Lobato, que ficou célebre pelo impacto que teve na percepção da trajetória da artista, Paulo Herkenhoff   baseia-se no código civil da época. Lobato era Procurador do Estado e os termos de seu artigo refletiam o pensamento retrógrado que tratava a mulher como cidadão minoritário, parcialmente incapaz de tomar decisões. Já sobre Tarsila do Amaral (1886 – 1973, SP), além de uma série de pinturas, a exposição apresenta desenho/estudo do Abaporu (obra de 1928).

 

Em “Escultoras” há obras a partir da primeira metade do século XX, concebidas por artistas como: Nicolina Vaz de Assis (1874, SP- 1941, RJ), que na cidade de São Paulo tem uma de suas mais conhecidas esculturas, a Fonte Monumental na Praça Julio de Mesquita (1927), participa com algumas de suas peças em bronze e um retrato seu pintado por Eliseu Visconti; Zelia Salgado (1904, SP – 2009, RJ), que foi professora da Lygia Pape, ganhará destaque a partir de alguns momentos de sua obra, como o que faz referência à “Unidade tripartida”, de Max Bill; e Adriana Janacopoulos (1897, RJ), reconhecida por conceber monumentos, cabeças e bustos, tem um de seus trabalhos representado.

 

Maria Martins (1894, MG – 1973, RJ) é um núcleo em si. A curadoria evidencia a ousadia de sua produção ao abordar diretamente o desejo como centro poético de sua obra e a cópula como tema direto de algumas. A abordagem do trabalho enfatiza o contraste dessa atitude com o pudor vigente no Brasil naquele período.

 

Já para Lygia Clark (1920, MG – 1988, RJ), a mostra constrói um percurso pelas noções poéticas fundamentais de sua obra, com leitura e análise de conceitos como o de “espaço modulado”, enquanto Lygia Pape (1927 – 2004, RJ) é apresentada por meio de alguns de seus vídeos, como “Eat me” (1975) e “Divisor” (1967). Tomie Ohtake (1913, Kioto, Japão – 2015, SP) é aproximada da pintura de Alina Okinaka (1920, Hokkaido Japão – 1991, SP), formando o núcleo “Mulheres Japonesas”, que traz questões sobre o silêncio, a fala e a escrita, análogas à obra de Mira Schendel que acrescenta, ao silêncio e à fonética, o indivisível.

 

Por fim, produções pouco conhecidas pelo grande público, por partirem de personagens que não vêm do eixo Rio-São Paulo compõem “As Amazonas”, com Julieta de França (1872 – 1951, PA) e Antonieta Santos Feio (1897 – 1980, PA), ambas de Belém e com estudos em arte na França e Itália.  Julieta de França aproximou-se do Art Nouveau e expôs junto de Rodin, na França. Foi uma das primeiras mulheres a enfrentar o regime acadêmico e disputar os espaços com os homens artistas, sendo duramente criticada por isso. Antonieta Santos Feio usou seu olhar atento para representar figuras e personagens locais e seus costumes. Em um primeiro momento suas obras dedicam-se à figura da mulher engajada no trabalho e na religião e depois passa a mostrar a extração da borracha, universo majoritariamente masculino.

 

 

Até 20 de agosto.

Escultura Contemporânea

11/abr

Livro de autoria do professor e curador carioca Marcelo Campos – resultado de três anos de pesquisa – mapeia a produção escultórica brasileira a partir dos anos 1950 sob dez critérios temáticos e terá lançamento no dia 11 no Rio (Casa França-Brasil) e dia 19 de abril em Salvador (Palacete das Artes). Trata-se de um espaço rarefeito na bibliografia da arte brasileira que será ocupado com o lançamento da edição bilíngue de “Escultura Contemporânea no Brasil – Reflexões em dez percursos”, pela Caramurê Publicações.

 

Convidado pela editora baiana para destacar, a princípio, um pequeno grupo de escultores, Campos contrapropôs um contorno conceitual mais abrangente. O editor Fernando Oberlaender aceitou o desafio que resultou em uma obra de fôlego, com suas 420 páginas e 300 ilustrações. O patrocínio é da Global Participações em Energia S.A. (GPE), através da Lei de Incentivo à Cultura do MinC.

 

– Decidi fazer uma pesquisa mais extensa, olhando para artistas e obras canônicas, trabalhos que estabeleceram ou consolidaram mudanças de paradigma. Percebi, nesse levantamento, vertentes conceituais que me chamaram a atenção e optei por essa configuração, explica o autor.

 

Dos 200 artistas listados num primeiro apanhado, Campos selecionou 91 escultores (relacionados abaixo), cujo trabalho se desenvolveu a partir dos anos 1950. Eles estão distribuídos em dez capítulos-conceito, a partir do que o autor chama de “sintoma”: a reunião de “parentescos, células, lugares de encontro, onde a junção das poéticas as torna firmemente históricas”, ele define na introdução do livro.

 

A organização, portanto, não faz o caminho histórico-evolutivo, de alinhamento meramente temporal; também não segue o critério que reúne artistas e obras em movimentos ou grupos. Campos buscou a ampliação do raio de busca para além dos eixos geográficos tradicionais da produção artística brasileira.

 

 

– Pesou também minha identificação crítica com o trabalho. Não incluí os coletivos, mesmo que produzam objetos. E não enveredei pela instalação, privilegiando a tridimensionalidade; a manufatura, que me interessou bastante no livro, de certa forma, se apresenta como um contraponto à teatralidade da instalação. Campos reafirma que não houve intenção de esgotamento da pesquisa ou do olhar enciclopédico.

 

Os temas propostos pelo autor são: 1 – Herança construtiva, geometria revisada; 2 – Corpo, organicidade ; 3 – Atlas, mapas, localizações; 4 – Apropriação conceitual, imagéticas populares; 5 – Eu-objeto, relicários, espólios; 6 – Paisagem, casa e jardim; 7 – Tecnologia, mídias, comunicação; 8 – Ritual, totemismo, ídolos; 9 – A infância, o brinquedo; 10 – Hibridação, rotinas, alquimias.

 

 

Escultura Contemporânea no Brasil – Reflexões em dez percursos: Artistas

 

Abraham Palatnik (RN) | Afonso Tostes (MG) | Agnaldo dos Santos (BA), Alexandre da Cunha (RJ) | Almandrade (BA) | Amílcar de Castro (MG), Ana Linmemann (RJ) | Ana Maria  Tavares (MG) | Ana Miguel (RJ), Angelo Venosa (SP) | Anna Bella Geiger (RJ) | Anna Maria Maiolino (ITA), Artur Bispo do Rosário (SE) | Ascânio MMM (POR-RJ) | Ayrson Heráclito (BA), Bel Borba (BA) | Brennand (PE) | Brígida Balltar (RJ) | Camille Kachani (LIB), Carmela Gross (SP) | Celeida Tostes (RJ) | Cildo Meireles (RJ), Cristina Salgado (RJ) | David Cury (PI) | Edgard de Souza (SP), Edson da Luz (BA) | Eduardo Coimbra (RJ) | Eduardo Frota (CE), Emanuel Araujo (BA) | Efrain Almeida (CE) | Erika Verzutti (SP), Ernesto Neto (RJ) | Felícia Leirner (POL) | Fernanda Gomes (RJ), Flávio Cerqueira (SP) | Franz Weissman (AUT) | Hélio Oiticica (RJ), Iole de Freitas (MG) | Iran do Espírito Santo (SP) |Ivens Machado (SC), Jac Leirner (SP) | Jarbas Lopes (RJ) | Jorge Barrão  (RJ), José Bechara (RJ) | José Bento (BA) | José Damasceno (RJ), José Rufino (PB) | José Tarcisio (CE) |Juarez Paraíso (BA), Juraci Dórea (BA) | Laerte Ramos (SP) | Laís Myrrha (MG), Leonilson (CE) | Lia Menna Barreto (RJ) | Livia Flores (RJ), Luiz Hermano (CE) | Lygia Clark  (MG) | Lygia Pape (RJ), Márcia X (RJ) | Marcius Galan (EUA) | Marcone Moreira (MA), Marepe (BA) | Maria Martins (MG) | Milton Machado (RJ), Nelson Felix (RJ) | Nuno Ramos (SP) | Otavio Schipper (RJ), Paulo Nenflídio (SP) | Paulo Paes (PA) | Paulo Vivacqua (ES), Ramiro Bernabó (AR) | Raul Mourão (RJ) | Renata Lucas (SP), Renato Bezerra de Mello (PE) | Ricardo Ventura (RJ) | Ricardo Basbaum (RJ), Rodrigo Sassi (SP) | Rogério Degaki (SP) | Ronald Duarte (RJ), Rubem Valentin (BA) | Sandra Cinto (SP) | Sergio Camargo (RJ), Tatiana Blass (SP) | Tiago Carneiro da Cunha (SP) | Tonico Lemos Auad (PA), Tunga (PE) | Vanderlei Lopes (PR) | Vinicius S.A (BA), Wagner Malta Tavares (SP) | Waltercio Caldas (RJ) | Zélia Salgado (SP).

 

 

Sobre o autor

 

Marcelo Campos nasceu, vive e trabalha no Rio de Janeiro. É diretor da Casa França-Brasil, desde 2016, professor Adjunto do Departamento de Teoria e História da Arte do Instituto de Artes da UERJ e professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. É doutor em Artes Visuais pelo PPGAV da Escola de Belas Artes/ UFRJ. Desenvolveu tese de doutorado sobre o conceito de brasilidade na arte contemporânea. É autor de “Um canto, dois sertões: Bispo do Rosário e os 90 anos da Colônia Juliano Moreira” (MBrac/Azougue Editorial, Rio de Janeiro, 2016) e  “Emmanuel Nassar: engenharia cabocla” (Museu de Arte Contemporânea de Niterói/MAC, Niterói, 2010). Foi curador das exposições: “Viragens: arte brasileira em outros diálogos na coleção da Fundação Edson Queiroz”, Casa França-Brasil, 2017; “Orixás”, Casa França-Brasil, 2016; “A cor do Brasil”, cocuradoria com Paulo Herkenhoff, MAR (Museu de Arte do Rio), 2015; “Tarsila e Mulheres Modernas”, cocuradoria com Paulo Herkenhoff, Hecilda Fadel e Nataraj Trinta, 2014, MAR (Museu de Arte do Rio); “Guignard e o Oriente”, junto com Priscila Freire e Paulo Herkenhoff, 2014, MAR (Museu de Arte do Rio).

Coleção Fundação Edson Queiroz

24/mar

A Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “VIRAGENS: arte brasileira em outros diálogos na coleção da Fundação Edson Queiroz”. Construída há mais de três décadas com obras de variados períodos da arte brasileira, esta coleção caracteriza-se por ser uma das mais importantes do país, e encontra-se sediada na Universidade de Fortaleza, no Ceará. Curadoria de João Paulo Quintella, Laura Consendey, Marcelo Campos e Pollyana Quintella e expografia de Helio Eichbauer.

 

A proposta é construir diálogos múltiplos que perpassam alguns capítulos da arte brasileira com obras desde 1913, como a emblemática pintura de Lasar Segall, “Duas amigas”, até os anos 1980. A exposição é constituída por núcleos que apresentam abordagens mais amplas do que os convencionais movimentos e cronologias da história da arte, identificando obras que se relacionam às discussões da forma, aos referenciais da cultura, aos interesses psicológicos e a outros atravessamentos possíveis, observando não só a influência de um artista sobre seus sucessores, mas, antes, as evidências de que arte e sociedade são indissociáveis.

 

Dentre os 43 artistas participantes, constam nomes como Abraham Palatnik, Alfredo Volpi, Amilcar de Castro, Anita Malfatti, Antonio Bandeira, Antonio Gomide, Bruno Giorgi, Candido Portinari, Cícero Dias, Danilo Di Prete, Emiliano Di Cavalcanti, Ernesto de Fiori, Flávio de Carvalho, Frans Krajcberg, Franz Weissmann, Guignard, Hélio Oiticica, Hercules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Iberê Camargo, Ione Saldanha, Ismael Nery, Ivan Serpa, José Pancetti, Judith Lauand, Lasar Segall, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, Lygia Clark, Maria H. Vieira da Silva, Maria Leontina, Maria Martins, Maurício Nogueira de Lima, Milton Dacosta, Mira Schendel, Rubem Valentim, Samson Flexor, Sérgio Camargo, Sérvulo Esmeraldo, Tomie Ohtake, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret e Willys de Castro.

 

A exposição também prevê um ciclo de falas com pesquisadores voltados para as questões da arte moderna brasileira.

 

 

De 25 de março a 25 de junho.

Lygia Pape em NY

Lygia Pape ganha primeira grande retrospectiva nos EUA

 

POR MARCELO BERNARDES

 

Os mais importantes museus de Nova York estão vivendo um verdadeiro caso de amor com o movimento neoconcretista, originado no Rio de Janeiro em 1959.

 

Depois de uma abrangente exposição do trabalho de Lygia Clark (1920-1988), organizada pelo Museu de Arte Moderna, o MoMA, em 2014, e antes de uma superlativa examinação da obra de Hélio Oiticica (1937-1980), que o museu Whitney inaugura em julho, o MetBreuer (anexo do Metropolitan especializado em arte moderna) lança,dia 21, a exposição “A Multitude of Forms”, primeira grande retrospectiva dedicada ao trabalho da artista Lygia Pape (1927-2004) a ser montada nos Estados Unidos.

 

Organizada pela curadora espanhola Iria Candela, expert do Metropolitan em arte latino-americana contemporânea, a mostra de Lygia Pape não supera, em número de trabalhos expostos, a da abrangente exposição “Espaços Imantados”, organizada no museu Rainha Sofia, em Madri, em 2011. Mas Nova York pode ver duas obras não apresentadas na Espanha: a tela “O Livro dos Caminhos” (1963-1976) e as esculturas “Amazoninos” (1991-1992).

 

O fato de a retrospectiva de Pape ter sido organizada no museu MetBreuer tem caráter bastante especial. A artista carioca era grande fã do prédio modernista criado pelo arquiteto húngaro baseado em Nova York, Marcel Breuer (1902 -1981), em 1966. “Lembro-me que, em nossa primeira visita ao local, quando o prédio pertencia ao museu Whitney, Lygia ficou olhando o piso, o teto, as janelas, as formas generosas do museu, e disse que seria fantástico poder exibir aqui um dia”, diz Paula Pape, filha da artista, em entrevista ao blog, na manhã de hoje (20).

 

A curadora Candela contextualiza o diálogo entre as obras de Pape com a arquitetura de Breuer. “Trata-se de uma conexão muito clara, pois é uma ligação histórica. O trabalho de ambos cresceu a partir dos legados do avant-garde europeu”, explica a curadora ao blog. “O neoplasticismo, o suprematismo, a Bauhaus, Mondrian e Kazimir Malevich foram abraçados por ambos”, prossegue. “Lygia foi uma grande herdeira daquele movimento, não só criando um vocabulário universal de cores e formas, mas como também guiando todas aquelas influências em direção completamente inédita”.

 

Como o nome didaticamente oferece, a mostra “A Multitude of Forms” reúne o trabalho de Pape em diversas mídias experimentadas ao longo de sua carreira, iniciada com o concretismo na década de 50, e que incluiu pintura, gravura, escultura, dança, filme, performance e instalação. “Lygia costumava dizer que o grande termômetro de uma exposição vem das pessoas que tomam conta das galerias dos museus”, diz Paula. “E o pessoal responsável pela segurança que encontrei por aqui parece instigado, reagindo com grande interesse pelas obras. É como se estivessem felizes com o que vêem”, conclui.

 

A obra mais representativa do trabalho de Pape, e que serve de pôster da exposição, é “Divisor” (1968), uma performance em que várias pessoas enfiam as cabeças em buracos abertos num gigantesco lençol branco, trabalho que a carioca explicou ser tanto uma celebração do corpo, espaço e tempo (como boa parte de sua obra), mas também uma crítica à burocracia moderna.

 

No sábado (25), como uma espécie de complemento para a instalação em vídeo, o MetBreuer vai apresentar, em alguns quarteirões do Upper East Side (onde está localizado o museu), uma “peregrinação” baseada na obra. Paula Pape, que é fotógrafa, vai filmar a performance. “Divisor” foi o primeiro trabalho de Pape que a curadora Candela tomou conhecimento. “Ao fazer minha dissertação em arte pública, rapidamente me interessei pelo trabalho de Pape”, explica. “Ela foi a pioneira em trabalhos em espaços públicos, mudando a face das performances”.

 

Também chama a atenção a monumental obra “Ttéia, C1” (1976-2004), que encerra a exposição com chave, ou melhor, fios de ouro. A obra é feita por uma sucessão de fios dourados que atravessam o ambiente, dando a sensação de uma tempestade de linhas ou feixes de luz. Onde quer que seja montada, a instalação parece sempre ganhar nova leitura, uma vez que os fios precisam se adequar aos novos espaços ou mudanças na iluminação.

 

Não poderia ser diferente no MetBreuer. “O teto aqui não é plano, mas sim de módulos vazados, então foi-se criada toda uma estrutura para afixar as placas que sustentam os fios no teto”, explicou ao blog o engenheiro e artista plástico Ricardo Forte, genro de Lygia Pape. Por questão de segurança, o MetBreuer vetou que “Ttéia” ficasse muito rente ao chão. “Isso nos obrigou a montar a peça numa plataforma de 30 centímetros de altura, quando o normal é 5 centímetros”, explica Forte.

 

A exposição de Pape reúne cinco décadas do trabalho da artista carioca. Paula Pape disse ter ficado “emocionada” já na primeira galeria, onde as séries “Pintura” “Relevo” e “Tarugo”, da fase concretista, foram montadas de maneira criativa. Há galerias especiais para o manifesto neoconcreto, criado por artistas e poetas cariocas, entre as Lygias e Oiticica, também Ferreira Gullar, Amílcar de Castro e Reynaldo Jardim – e para filmes do Cinema Novo, em alguns dos quais Pape colaborou no projeto gráfico.

 

A proposta do movimento neoconcretista, de favorecer relações mais interativas entre artes e espectadores, é semi-obstruída na exposição do MetBreuer por questões de preservação. As séries “Livro de Arquitetura” e “Poema-Objeto”, livros com elementos arquitetônicos semi-abstratos que as pessoas eram encorajadas a manusear, agora ficam inacessíveis ao tato, trancadas numa caixa de vidro. Mas ainda é possível experimentar, com o auxílio de conta-gotas descartáveis, os sabores da instalação “Roda dos Prazeres” (1967), com vasilhas de porcelana carregadas de líquidos multicoloridos.

 

A retrospectiva Pape é uma das exposições que comemoram o primeiro ano de funcionamento do MetBreuer. A diretora do museu, a inglesa Sheena Wagstaff, que veio do Tate Modern, de Londres, apontou na manhã de hoje que, em 12 meses de funcionamento, o museu teve quatro grandes exposições de mulheres artistas. Começou com a pintora indiana Nasreen Mahamedi (1937-1990), seguida da fotógrafa americana Diane Arbus (1923-1971), da escultora e pintora italiana Marisa Merz, 91, (essa ainda em cartaz até maio) e agora Pape.

 

Candela ressalta que a igualdade de gêneros, tão discutida hoje nas narrativas artísticas, nunca foi problema no Brasil. “Na verdade, o Brasil sempre foi muito inclusivo nas artes plásticas”, explica. “Mulheres sempre destacaram-se muito cedo, como Tarsila do Amaral (1886-1973), por exemplo. Até hoje essa representação é muito igual, com grandes artistas saídas do Rio, São Paulo e mais recentemente de Belo Horizonte também”.

Leda Catunda – I love you baby

21/dez

Ainda que tardiamente, discute-se hoje a grande discrepância entre a representação feminina e masculina nos acervos, museus e publicações de arte relativos às produções modernas e contemporâneas. Particularmente no Brasil, o fato chama atenção uma vez que é possível traçar um resumo da arte do século XX, tendo artistas mulheres como um dos pilares: Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Lygia Clark, Mira Schendel, Tomie Ohtake e Anna Maria Maiolino são alguns exemplos.

 

O projeto “Nossas Artistas”, criado pelo Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, parte desta percepção e propõe uma sequência de mostras individuais dedicadas a artistas que fizeram e fazem a história da arte brasileira. Leda Catunda, São Paulo SP, 1961, inaugura o programa com a exposição “I love you baby”, sob curadoria de Paulo Miyada, também curador do Instituto Tomie Ohtake. Egressa da geração 80, Catunda é exemplar, segundo Miyada, da potência de uma obra que não se pode (ou deve) explicar exclusivamente pelo gênero da artista ou por qualquer generalização do “universo feminino”.

 

A mostra reúne mais de uma centena de trabalhos, realizados de 2003 a 2016, entre pinturas, colagens, gravuras, desenhos e objetos, além de obras feitas especialmente para as paredes das salas do Instituto. Neste conjunto, o uso do desenho como estrutura pictórica estabelece uma síntese inédita do transbordamento de imagens e matérias recorrente na obra de Catunda. Como uma catalizadora da cultura material, a artista constrói reflexões sobre assuntos tais como o consumo, as várias estridentes linguagens comportamentais, a efemeridade e a espetacularização, a partir da utilização de elementos cotidianos, como toalhas, tapetes, lonas, plásticos, camisetas, janelas, fórmicas, entre outros.

 

Nesses novos trabalhos, a artista ressalta ainda o auto-espetáculo fertilmente disseminado pelo uso das novas tecnologias. “Recentemente, ao deixar-se elaborar frente à sua pesquisa pictórica e à transformação gradual das noções de gosto, da moda, do popular, do consumo e do ornamento, a artista levou sua obra a entrar em potente ressonância com o mundo habitado por “pessoas imagens”, histericamente dedicadas a arrasar no look, tirar foto no espelho e, claro, postar no facebook”, explica Miyada.

 

Para o curador, ainda, “I love you baby” demonstra como Leda Catunda lida diretamente com o mundo atual, com seus encantos, fantasias, ilusões e mentiras. “A sensibilidade de Catunda nasce do convívio constante com a pintura, sua história e seus desdobramentos contemporâneos – e se expande em choque apaixonado pela abundância de imagens, marcas e estilos que rege o cotidiano de quase todo cidadão atual, dentro e fora das grandes cidades”.

 

 

 

 

Até 22 de janeiro de 2017.

Ricardo Nauenberg | Entre Terra

16/dez

Fotografia
Curadoria Marc Pottier

 

Centro Cultural Correios RJ

 

Abertura: terça, 20 de dezembro, 19h
Aventura visual

 

Imagens de um subterrâneo urbano desaparecido

 

Ricardo Nauenberg tem um extenso currículo em TV, cinema e design, mas no começo de sua formação artística a fotografia foi seu principal instrumento de trabalho. Em maio de 2015, ele decidiu voltar ao imediatismo do clique.O cenário escolhido foi o subterrâneo da construção da Linha 4 do metrô carioca, inaugurada em agosto desse ano para a Olimpíada: uma paisagem à qual o público não teve acesso e desapareceu definitivamente quando a obra ficou pronta.Entre milhares de cliques, Nauenberg e o curador Marc Pottier escolheram 89 para compor a mostra “Entre Terra”, que abreem 20 de dezembro no Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ, ocupando 600 metros quadrados de área expositiva. Acrescido de mais imagens, esse conjunto renderá também um livro a ser lançado no ano que vem.

 

As fotografias em cor e preto e branco não são sobre a obra de engenharia, mas sobre a capacidade de o homem interferir no meio ambiente. Nauenberg conta: “Decidi mergulhar em um ensaio sobre o tema e durante um ano fotografei essas interferências, procurando focar se eram cicatrizes (se mal feitas) ou tatuagens (se bem planejadas)… uma ação forte do homem no meio ambiente, com imagens e formas que surpreendem e que desapareceram, pois o processo se completaria em aproximadamente um ano”.

 

“Entre Terra” é um registro estético, distante do fotojornalismo. O que interessa a Nauenberg é, por exemplo, documentar uma paisagem transitória que ninguém captou, uma “Serra Pelada” submersa, como ele descreve. A lente de 600 mm, que achata planos, e a 7 mm, que distancia e cria linhas e perspectivas, foram sua escolha para se afastar do enfoque documental, jornalístico. Afinal, o que mais o atrai é a “interpretação do real” e não o factual.

 

O curador Marc Pottier diz que “[…] o que é essencial aqui é o que permanece invisível: a impressão, fotografia após fotografia, de um fascínio notável e imenso que vem da repetição e da revelação do poder de um artista que consegue impor a realidade a este mundo abarrotado com leis desconhecidas e a confirmação de que este trabalho é realmente o resultado de uma aventura espiritual profundamente vivida no limiar entre o consciente e o inconsciente. É a vitória do efêmero. Nas fotografias de Ricardo Nauenberg, o tempo parece já ter destruído a criação do homem.”Esse ensaio fotográfico sobre as variações humanas e geográficas foi realizado nas escavações do Itanhangá(Barra da Tijuca), da Antero de Quental e Igarapava (Leblon) e Praça Nossa Senhora da Paz (Ipanema).

 

 

Sobre o artista

 

Depois de uma rápida passagem pela pintura, estudando com Ivan Serpa, Ricardo Nauenberg se dedicou a colagens a partir de imagens reais. Na pesquisa por texturas e formas, passou, muitas vezes, a produzi-las com uma câmera fotográfica. Daí à fotografia pura foi um passo: estagiou no lendário estúdio Plug, de David Drew Zingg e Eduardo Clark, filho de Lygia Clark. Quem também trabalhava nesse estúdio como designer era um jovem alemão chamado Hans Donner, que acabou levando Nauenberg para a TV Globo, onde iniciou uma trajetória no design, na televisão e no cinema, seguida até hoje através de sua produtora de conteúdo Indústria imaginária.Durante dez anos na Globo, Nauenberg transitou do time de programação visual como diretor de arte a direção de Caso Verdade, Primo Basílio, de musicais como Free Jazz, Sting e Tina Turner e videoclips para o Fantástico. Deixou a TV Globo para se dedicar à montagem da TVA, primeira televisão a cabo no Brasil (do grupo Abril), e no desenvolvimento de série de ficção para a Rede Manchete.Com formação polivalente, em Design, Arquitetura e Economia, Nauenberg assina a criação e direção de séries de TV aberta e fechada sobre teatro, dança, meio ambiente e futebol; de espetáculos multimídias, de som e luz. É dele a criação e produção dos museus de Pierre Cardin na França, Japão, China e Austrália. Dirigiu o longa “O inventor de sonhos”, em 2013, com Sheron Menezes, Stenio Garcia, Icaro Silva, entre outros.Junto com a preparação da mostra Entre Terra, Ricardo dirige a série “Nas nuvens” (canal Arte 1), o doc “Cruzada São Sebastião” (Globo News) e a quarta temporada de “Audioretrato” (Music Box Brazil).“Nas nuvens” é sobre a feitura de super hits de Lulu Santos, Paralamas, Titãs, Paula Toller, Fernanda Abreu entre outros, nesse estúdio carioca histórico que dá nome ao programa. Em “Cruzada São Sebastião”, ele propõe uma radiografia humana desse “bairro” dentro do Leblon. “Audiorretrato”, já na quarta temporada, é um seriado sobre a “pessoa física” e não a jurídica de músicos brasileiros de tendências diversas.
De 21 de dezembro a 02 de março de 2017.

Doação histórica

24/out

O MoMA recebeu uma doação histórica de arte latino-americana da Coleção Cisneros. A colecionadora venezuelana Patricia Cisneros anunciou a doação de 102 obras ao Museu de Arte Moderna, MoMA, de Nova York. São pinturas, esculturas e outras peças de autoria de 37 artistas do Brasil, Venezuela, Argentina e Uruguai, criadas entre as décadas de 1940 e 1990. No total, Patricia Phelps de Cisneros doou 102 obras, de diversos formatos e técnicas, incluindo trabalhos de 64 de artistas brasileiros.

 

 

Artistas brasileiros

 

A doação inclui telas, esculturas e trabalhos sobre papel realizados entre 1940 e 1990 por 37 artistas trabalhando no Brasil, na Venezuela, na Argentina e no Uruguai. Entre os brasileiros, há obras de Hélio Oiticica, Lygia Clark, Luiz Sacilotto, Ivan Serpa, Mira Schendel, Lygia Pape, Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros, Hercules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Aluisio Carvão, Willys de Castro, Rubem Valentim e Franz Weissmann.

 

 

Outros latinos

 

A doação inclui trabalhos dos venezuelanos Jesús Rafael Soto, Carlos Cruz-Díez e Alejandro Otero e do argentino Tomás Maldonado, entre outros. Patricia Cisneros faz parte do Conselho Diretivo do MoMA há varias décadas e participa de várias comissões de aquisição e gestão, incluindo o Fundo Latino-americano e Caribenho, do qual ela é presidente e fundadora.No últimos dezesseis anos, a Família Cisneros doou mais de quarenta obras ao museu.

Escapando do Caos

06/out

Após inúmeras exposições individuais em diferentes galerias e museus de cidades do mundo, a holandesa radicada no Rio de Janeiro, Thera Regouin, realiza sua primeira exposição individual na cidade na Galeria Cor Movimento, no Leblon. A artista apresenta nove pinturas inéditas, em azul, com grandes superfícies brancas em seu interior, da nova série “Escapando do caos”, e outras com obras de diversos períodos, todos em óleo sobre tela. A curadoria é da respeitada escritora, crítica e historiadora de arte Gloria Ferreira, que também escreveu o texto do novo catálogo de Thera Regouin.

 

“As transparências desses brancos deixam aparecer camadas carregadas de tintas azuis ou de outras cores como vermelho e amarelo, frutos do processo de preparação da tela e de uma pintura, características da artista. Em toda sua pintura estão presentes linhas, qual sulcos, contornando ou criando espaços.”, explica a curadora Glória Ferreira.

 

TheraRegouin deixou a pintura figurativa no curso de seus estudos para abraçar o universo do abstrato. Nestas composições abstratas, às vezes, planos urbanos ou paisagens parecem esconder-se. “Meu desejo é expor, através da expressão abstrata, uma realidade que é para mim mais pura e mais real do que qualquer resultado ao qual eu possa chegar através da representação figurativa”, analisa.

 

Nessas pinturas azuis, as linhas contornam quase por inteiro essas superfícies interiores, deixando, no entanto, espaços para a respiração; delimitam espaços e se misturam com o próprio campo pictórico como matéria.”Tal como a crosta da terra a explodir, a tinta cobre a tela e não raro o espectador tem a impressão que a história geológica das pinturas seria guardada num registro momentâneo que está longe de acabar”, analisa Moritz Wullen, historiador de arte e diretor da Biblioteca de Arte dos museus de Berlim.

 

Segundo Gloria Ferreira, no trabalho de TheraRegouin, as bordas parecem tentativas de incorporar a moldura à própria pintura, em diálogo com a longa tradição de ruptura que podemos remontar aos impressionistas; ou a Seurat, com suas molduras pintadas de acordo com a luz desejada. Ou ainda ao início do século XX, em especial em Mondrian, mas também em Lygia Clark e outros. Nas telas de Thera, as “molduras” são igualmente constituídas pelas finas camadas de tinta colocadas sobre outras finas camadas, com as pinceladas visíveis em suas pinturas azuis. Molduras que, ao mesmo tempo, expandem a pintura para o espaço, sem deixar, contudo, de servir de proteção para as grandes áreas brancas do seu interior.

 

“Já nas pinturas quase monocromáticas, as texturas fazem as composições em cores telúricas emitirem energias luminosas”, analisa Gloria Ferreira.

 

O Dr. Axel Rüger, diretor do Museu Van Gogh de Amsterdam, no seu discurso de abertura da exposição de TheraRegouin na galeria da Sotheby’s de Amsterdam, em 2010, analisou: “E por fim, algo que me toca – sendo o diretor do Museu Van Gogh e lembrando que Vincent van Gogh foi um dos artistas que também lidou com a textura da tinta – eu acho que nas pinturas de Thera, possivelmente, de uma maneira mais tímida, nós podemos também ver – este é uma palavra grandiosa – aquela qualidade táctil, aquela linda estrutura de superfície que é tão instigante e que acrescenta uma dimensão adicional à experiência (…de mergulhar nestas obras)”.

 

 

Até 12 de novembro.

Piza, nova exposição

27/set

Gustavo Rebello Arte, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ,  inaugurou a exposição “Piza”, exposição individual do artista plástico Arthur Luiz Piza. Nessa ocasião, o público terá a oportunidade de conhecer um pouco do ateliê do artista em Paris. A mostra, que é um panorama da produção do artista e apresenta trabalhos de diversas  épocas, desde as colagens em madeira e cartão dos anos 1960, passando pelas aquarelas, os corte e recorte, as cerâmicas de Sèvres, os relevos em metal s/sisal, as tramas em aço galvanizado, até os mais recentes, elementos no espaço.

 

Consagrado internacionalmente, sendo um inventor de linguagens e técnicas, em pintura e gravura, Piza fez sua brilhante carreira na capital francesa, desde o início dos anos 1950, sem nunca perder o contato e as raízes com o seu Brasil natal.Nas últimas cinco décadas, seu ateliê fez parte do roteiro de gerações de artistas, historiadores de arte, museólogos e intelectuais brasileiros. Foi neste espaço, imantado por uma força criativa poderosa, que concebeu e consolidou uma obra singular, densa e provocativa: e se transformou – para uma legião de admiradores como Lygia Clark e Sergio Camargo, de quem foi interlocutor privilegiado no conturbado cenário parisiense dos anos 1960/1970.

 

Aluno nos anos 1940 de Antonio Gomide importante nome do Modernismo brasileiro, Artur Luiz Piza, na qualidade de um dos grandes herdeiros dessa tradição, foi personagem chave nos inúmeros embates que marcaram a arte brasileira nas décadas seguintes, para os quais ofereceu brilhantes respostas, como superação entre o impulso libertário do informalismo e o sentido ordenador do construtivismo, que configuraria sua produção daquele período. Incansável explorador de materiais os mais distintos – do papel tradicional à refinada porcelana, dos nobres metais a inusitados capachos – é responsável por uma produção que se estende de diminutos formatos a generosas estruturas em espaços públicos. Em toda sua obra – Piza foi, e continua sendo no presente, um mágico criador de espaços.

 

Por meio da multiplicidade de linguagens utilizadas ao longo dos mais de sessenta anos de sua carreira, o artista instalou um dialogo entre todas as unidades produzidas, quais notas de uma sinfonia em permanente elaboração, que se articulam, e reverberam incessantemente. Seus mais recentes trabalhos são construções engendradas a partir de diferentes sistemas de redes e molas metálicas, muitas delas exibindo as marcas de uso, e que se revelam como constelações gravitando em um território sem limites, definido não pela extensão, mas pelo tempo. Por um tempo de poéticas construídas por delicadas relações cromáticas, que condensam, qual energia pura, todas as sutilezas da alma humana.

 

“No auge dos seus oitenta anos, Artur Luiz Piza continua, com uma generosidade única, a nos presentear com experiências estéticas fascinantes, que guardam o vigor e uma radicalidade próprios da juventude, ao mesmo tempo em que se distinguem por uma depuração e uma concisão que só a maturidade conquistada é capaz de forjar. Seu compromisso ético com a arte é uma referência inspiradora que nos revela, a cada dia, novos espaços”, descreve Marcelo Mattos de Araújo no prefácio do livro sobre a vida de Piza.

 

 

Sobre o artista

 

Arthur Luiz Piza nasceu em 1928, em São Paulo, onde teve seu primeiro contato com as artes. Nos anos 40, estudou pintura e afresco com Antonio Gomide, um dos grandes nomes da Primeira Geração de Modernistas. Mudou-se em 1951 para Paris, onde passou a trabalhar no estúdio do mestre da gravura Johnny Friedlaender. Piza logo se tornou um especialista em todas as suas técnicas. Abandonou as mais tradicionais e desenvolveu uma técnica exclusiva de gravar nas placas com martelos e cinzéis de diferentes formatos. Entre 1951 e 1963, participou das Bienais de São Paulo; em 1959, da Documenta de Kassel, e em 1966, da Bienal de Veneza, ganhando o prêmio de gravura. Seu trabalho encontra-se nos acervos dos principais museus do mundo, como o Museum of Modern Art (MoMA) e o Guggenheim Museum, em Nova York, a Bibliothèque Nationale de France e o Musée National d’Art Moderne Centre Georges Pompidou, em Paris. No Brasil, seus trabalhos estão no Museu de Arte Contemporânea e no Museu de Arte Moderna, ambos em São Paulo. Em 2002, a Pinacoteca do Estado organizou uma importante retrospectiva e a editora Cosac Naify lançou um catálogo de seus relevos. O artista vive e trabalha em Paris desde 1951.

 

 

Até 21 de outubro.