Iole de Freitas no Instituto Tomie Ohtake

17/jul

 

Em instalação monumental inédita, a artista retoma a dança para sublinhar o movimento, o espaço e a forma. Ao entrar no grande hall do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, – até 17 de setembro – o visitante vai se deparar com uma surpreendente instalação de dimensão monumental concebida pela artista visual que completa cinco décadas de carreira. “Iole de Freitas: Colapsada, em pé”, com curadoria de Paulo Miyada, é uma mostra organizada em torno desta instalação, produzida com tubos metálicos e placas de policarbonato marcados pelo uso prévio como partes de instalações feitas pela artista nos últimos vinte e cinco anos. Essa nova peça apoia-se sobre o solo e se ergue como um abrigo aberto repleto de movimento.

“Ela dispensou a possibilidade de criar novas linhas e planos suspensos na idiossincrática arquitetura desse espaço de passagem e cruzamento desenhado por Ruy Ohtake, e desceu ao chão de seu ateliê as peças constituintes de dez de suas exposições. Tubos metálicos e placas de policarbonato marcados pelo uso (com arranhões, manchas, sujidades e desgastes) foram então girados, recombinados, aparafusados, soldados”, explica o curador chefe do Instituto Tomie Ohtake.

Para a concepção da obra, pela primeira vez em seis décadas, a dança retornou direta e explicitamente ao seu fazer artístico, como modo de apreensão do espaço e concepção da forma. Neste processo ela começou a experimentar fragmentos de dança, cenas curtas ou anotações corporais em meio à obra em construção. Conforme Paulo Miyada, mover-se, só ou na companhia de seu neto, Bento, transformou-se numa espécie de notação que antecipa e testa relações entre partes e formas. “Trata-se da dança como régua, sismógrafo, desenho, maquete, laboratório”, ele destaca.

A questão com o corpo contida neste imenso “acontecimento da obra construída” convida as pessoas a percorrer a instalação em livre movimento. “Essa peça é um abrigo aberto, uma cena à espera de atores voluntários, uma partitura espacializada de dança, um dispositivo de medição do corpo e do espaço; é uma máquina para a vivência de múltiplos estados de presença, para a experimentação de modos de aparecer e perceber-se”, completa Paulo Miyada. Os fragmentos filmados dessa experiência com a dança integram duas videoinstalações inéditas como parte da exposição desenvolvida em diálogo entre artista e o curador, que resultará ainda em uma publicação a ser distribuída gratuitamente.

Enquanto no Instituto Moreira Salles, em “Iole de Freitas, anos 1970 / Imagem como presença”, exposição em cartaz com curadoria de Sônia Salzstein, a artista apresenta uma parte de sua história reelaborada por uma instalação contemporânea, no Instituto Tomie Ohtake, ela abre novos caminhos em sua obra ao reprocessar elementos constitutivos de sua trajetória: a dança e a própria matéria de suas instalações.

Sobre a artista

Nascida em Belo Horizonte (MG), em 1945, Iole de Freitas mudou-se aos seis anos para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua formação em dança contemporânea. Estudou na Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), cidade em que hoje vive e trabalha. A partir de 1970, viveu por oito anos em Milão, onde começou a desenvolver e expor seu trabalho em artes plásticas a partir de 1973. A artista participou de importantes mostras internacionais, como a 9ª Bienal de Paris, a 16ª Bienal de São Paulo, a 5ª Bienal do Mercosul e a Documenta 12, em Kassel, Alemanha. Além de comparecerem a individuais e coletivas em várias cidades do mundo, seus trabalhos integram importantes coleções, entre as quais, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP); Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP); Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Museu Nacional de Belas Artes, RJ; Museu do Açude, RJ; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio); Museu de Arte do Rio (MAR); Bronx Museum (EUA); Winnipeg Art Gallery (Canadá); e Daros Collection (Suíça).

Mostra panorâmica de Jaime Lauriano

25/abr

 

O Museu de Arte do Rio (MAR) e Nara Roesler convidam para uma visita prévia à exposição “Aqui é o fim do mundo”, uma panorâmica da trajetória de quinze anos do artista Jaime Lauriano, no Museu de Arte do Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Será no dia 27 de abril, às 18h, com a presença do artista e do curador Marcelo Campos. Em seguida, será oferecido um coquetel no mirante do MAR. A exposição abre ao público no dia seguinte, 28 de abril.

 

Jaime Lauriano (1985, São Paulo) é um dos expoentes do novo momento da arte brasileira, que repensa a história oficial do Brasil. Ele tem participado de importantes antologias a respeito, e já integrou oito exposições no MAR, uma delas como um dos curadores, junto com Flávio Gomes e Lilia Scwarcz.  É dele o calçamento em pedras portuguesas na entrada do Museu, em que estão gravados os nomes das doze regiões da África que forneceram, por meio de seqüestros e outras ações violentas, a mão de obra escravizada levada ao Brasil. “Aqui é o fim do mundo” reúne mais de 40 trabalhos, produzidos entre 2008 e 2023. Cinco obras foram comissionadas especialmente para esta exposição, e são: as pinturas “Invasão da cidade do Rio de Janeiro” (2023); “Na Bahia é São Jorge no Rio, São Sebastião” (2023); as instalações “Afirmação do valor do homem brasileiro” (2023), e “Experiência concreta #9 (roda dos prazeres)” (2023), com bacias de ágata e desinfetante, e o vídeo “Justiça e barbárie #2″ (2023). A exposição integra a programação de dez anos do MAR.

Outros trabalhos nunca mostrados antes são “E se o apedrejado fosse você? #3″ (2021), desenho feito com pemba branca (giz usado em rituais de umbanda) e lápis dermatográfico sobre algodão; e o conjunto das três obras “Bandeirantes #1″ (2019), “Bandeirantes #2″ (2019) e “Bandeirantes #3″(2022), miniaturas de 20cm de monumentos em homenagem aos bandeirantes, fundidas em latão e cartuchos de munições utilizadas pela Polícia Militar e pelas Forças Armadas brasileiras, sobre base construída de taipa de pilão.

As obras de “Aqui é o fim do mundo” estão distribuídas em cinco núcleos: Experiência concreta, Colonização, Afirmação do valor do homem brasileiro, Recanto e Justiça e barbárie.

 

O retrato do Brasil

16/mar

 

O Bastardo inaugura no próximo sábado, 18 de março, a sua exposição individual “O Bastardo: O retrato do Brasil é Preto” no Museu de Arte do Rio – MAR, Cntro, Rio de Janeiro, RJ, com a curadoria de Marcelo Campos e Lilia Schwarcz. A mostra, primeira individual do artista em uma instituição, faz parte das comemorações dos 10 anos do MAR. Em exibição até 18 de maio.

Personagens negras, célebres ou anônimas, compõem o repertório visual de O Bastardo. Divididas em quatro núcleos – “Sobre os começos”, “Pretos de griffe”, “Assinaturas pretas” e “Narrativas pretas: identidade e imaginário popular” – as obras expostas retratam personagens negras que vão do Salão de Tia Nenê, em Mesquita – onde o artista cresceu, a cenas emblemáticas do blues e do rap norte-americanos; bem como ídolos pretos contemporâneos, passando por ícones do esporte, do samba e das artes cênicas.

Em “O Bastardo: O Retrato do Brasil é Preto”, o artista faz um mergulho tanto nas suas vivências no Rio de Janeiro quanto na observação de trajetórias vitoriosas de vidas negras que admira. “Todo retrato é um autorretrato, mas é, igualmente, uma somatória da comunidade, mostrando como essas são obras ao mesmo tempo individuais e coletivas”, diz o artista.

As gravuras de Santidio Pereira no Uruguai

02/mar

 

Exposição do brasileiro Santídio Pereira abre o calendário de 2023 no dia 10 de março (sexta-feira), da Galeria Xippas Punta del Este. Esta é a primeira exposição individual do artista Santídio Pereira no Uruguai.

“Da Mata ao Morro” apresenta quatro pinturas, seis xilogravuras e seis guaches, um trabalho centrado na grandeza da Natureza, provocando ecos de atenção e reflexões sobre um tema tão latente. Ainda este ano, a mostra segue para a sede da Xippas em Paris.

“À primeira vista, é difícil entender como um artista de 26 anos já expôs em importantes instituições no Brasil e no exterior. Entre eles, o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP); a Pinacoteca do Estado de São Paulo; a Fundação Cartier pour l’Art Contemporain, de Paris; Power Station of Art, Xangai e agora em 2022 sua exposição individual no Iberê em Porto Alegre, Brasil. Além de fazer parte de coleções renomadas, como Cisneros Collection, EUA; Coleção de arte de SESC, São Paulo; Museu de Arte do Rio (MAR), entre muitos outros”, diz Emilio Kalil, diretor-superintendente da Fundação Iberê, que em maio do ano passado recebeu a primeira individual do artista em um museu, “Santídio Pereira – Incisões, recortes e encaixes”.

Nascido num pequeno povoado no interior do estado do Piauí, nordeste brasileiro, desde criança Santídio Pereira já demonstrava aptidão com as artes através das atividades socioeducativas do Instituto Acaia. O interesse pela xilogravura foi tomando corpo e, atualmente, é o principal suporte de sua pesquisa artística, cuja característica mais importante é a utilização de diversas matrizes em uma mesma composição, técnica ao qual ele denomina “incisão, recorte e encaixe”, o que subverte a função da multiplicidade tão característica da gravura. Dessa forma, as impressões sobrepostas acumulam camadas espessas de tinta em cores diferentes para recriar elementos da sua memória afetiva, como a fauna, flora, pessoas e objetos que fizeram parte de seu contexto. Dentre seus trabalhos mais emblemáticos estão os pássaros da Caatinga do Piauí e as bromélias da Mata Atlântica.

A exposição “Da Mata ao Morro” pode ser visitada até 30 de abril.

Galeria Xippas

Ruta 104, km 5 – Manantiales

Punta del Este – Uruguai

Márcia Falcão ilustra Machado de Assis

13/dez

 

Um dos textos mais brilhantes de Machado de Assis, “Pai contra mãe”, de 1906, faz um duro retrato da sociedade brasileira de sua época, expondo com crueza a escravização, a miséria e a violência vivida por negros e pobres no Brasil. O conto desenha a história de sujeitos que vivem na engrenagem da opressão de um sistema capitalista escravocrata, com as violências racial e de gênero que persistem em pleno século XXI.

 

Esta edição ilustrada por uma série de pinturas inéditas da artista carioca Márcia Falcão, criadas especialmente para o livro, conta com um ensaio crítico inédito do professor e pesquisador José Fernando Peixoto de Azevedo e outro da jornalista e escritora Bianca Santana, além de texto assinado pelo jornalista Tiago Rogero, criador do projeto Querino, para quem “Machado escancara não só as muitas formas de tortura naturalizadas pela “boa gente brasileira”, mas especialmente o fato de que, naqueles tempos – e até hoje – a pessoa africana ou afrodescendente era – e é – uma cidadã de segunda classe no Brasil. Uma vida que vale menos e que, muitas vezes, não tem nem o direito de nascer.”

 

Sobre o autor

Machado de Assis, jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, nasceu no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, e faleceu na mesma cidade em 29 de setembro de 1908. Publicou seu primeiro livro de poemas, “Crisálidas”, em 1864 e seu primeiro romance, “Ressurreição”, em 1872. Mantinha forte colaboração com jornais e revistas da época, como O Cruzeiro, A Estação e Revista Brasileira, nos quais publicava crônicas, contos, romances e poemas, que vinham a público em forma de folhetim antes de serem publicados em livros. Assim, saíram as primeiras versões de “A mão e a luva” (1874), “Memórias póstumas de Brás Cubas” (1880), “Quincas Borba” (1886-1891), entre outros. Em 1881, publicou em livro “Memórias póstumas de Brás Cubas”, inaugurando assim sua fase realista, a qual inclui suas obras mais conhecidas: “Quincas Borba”, “Dom Casmurro”, “Esaú e Jacó” e “Memorial de Aires”. Em 1897, foi eleito presidente da Academia Brasileira de Letras, cargo que ocupou por mais de dez anos. A instituição que ajudara a fundar no ano anterior ficou conhecida como Casa de Machado de Assis. Em 1906, publicou o livro de contos e peças teatrais “Relíquias da casa velha”, no qual se encontra “Pai contra mãe”. Em 2020, a Cobogó publicou uma edição especial de seu livro “O alienista”, ilustrada por obras da artista Rivane Neuenschwander.

 

Sobre a artista

Márcia Falcão nasceu no Rio de Janeiro em 1985, foi criada no bairro de Irajá e vive e trabalha no subúrbio carioca. Partindo da própria experiência, as pinturas figurativas da artista apresentam expressivas representações do corpo feminino, sublinhando a complexidade do contexto social em que este se encontra inserido, atravessado por uma paisagem dubiamente bela e violenta. O feminino, a maternidade, os padrões de beleza e a violência de gênero são temas recorrentes que perpassam suas telas, marcadas pelo gesto e pela fisicalidade. Em 2022, a artista apresentou sua primeira exposição individual em São Paulo, na Fortes D’Aloia & Gabriel, um desdobramento da mostra ocorrida na Carpintaria, no Rio de Janeiro, em 2021. Entre suas principais exposições coletivas destacam-se: “Parábola do Progresso” (2022), Sesc Pompeia, São Paulo; “MAR + Enciclopédia Negra” (2022), Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro; “Crônicas Cariocas” (2021), Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro; “Engraved into the Body” (2021), Tanya Bonakdar Gallery, Nova York, entre outras. A série de pinturas que ilustrou este livro foi executada especialmente para esta edição de “Pai contra mãe”.

 

Sobre Bianca Santana

Bianca Santana é doutora em Ciência da Informação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), escritora e jornalista. É autora dos livros “Quando me descobri negra” (2015), “Continuo preta: A vida de Sueli Carneiro” (2021) e “Arruda e guiné: Resistência negra no Brasil contemporâneo” (2022).

 

Sobre José Fernando Peixoto de Azevedo

Dramaturgo, roteirista, diretor de teatro e cinema, curador e professor da Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD/ECA-USP). É coordenador da “Coleção Encruzilhada da Cobogó”, que publica autores que refletem o presente lançando luz sobre o antirracismo, os feminismos e o pensamento em perspectiva crítica negra.

 

Sobre Tiago Rogero

Nascido em 1988 em Belo Horizonte, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Jornalista, é um dos diretores da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e trabalhou em jornais como O Globo, O Estado de S.Paulo e a rádio Band News FM. É idealizador do “Projeto Querino” – podcast que mostra como a História explica o Brasil de hoje – e de “Vidas negras e Negra voz”. Atualmente atua como gerente de criação na Rádio Novelo. Pelo 5º episódio de “Negra voz”, recebeu o 42º Prêmio Vladimir Herzog na categoria Produção Jornalística em Áudio.

 

Ficha Técnica

Autor Machado de Assis

Textos complementares Bianca Santana e José Fernando Peixoto de Azevedo

Texto de orelha Tiago Rogero

Ilustração Márcia Falcão

Idioma Português

Número de páginas 72

ISBN 978-65-5691-088-8

Capa Bloco Gráfico

Encadernação Brochura

Formato 13,8 x 19 cm

Ano de publicação 2022

 

 

A arte escultórica de Agnaldo no MAR

14/nov

 

Com curadoria de Juliana Bevilacqua, estreou no MAR, Museu de Arte do Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ, a  exposição com mais de 70 esculturas em madeira do artista baiano Agnaldo Manoel dos Santos. Em exibição até 26 de fevereiro de 2023.

Agnaldo Manuel nasceu na Ilha de Itaparica, na Bahia, em 10 de dezembro de 1926, local onde viveu até 1946. Pouco se sabe de sua vida antes de se mudar para a cidade de Salvador naquele ano. É, no entanto, em 1947, que ele, ao procurar um emprego na região do Porto da Barra, conheceu o artista Mário Cravo Júnior e se tornou vigia do seu ateliê e em seguida seu assistente. Por volta de 1953 que Agnaldo se tornou artista, mais especificamente, um escultor de madeira.

Desde 2013, a curadora Juliana Bevilacqua vem estudando sua obra também com o intuito de mostrar sua trajetória de experimentações que vão além das referências à sua ancestralidade.

“Até hoje, a sua produção vem sendo vinculada a uma conexão profunda com a África, sobretudo através do inconsciente e do atavismo. Agnaldo seria, dessa forma, um produto das ressonâncias africanas na diáspora, não importando o quão marcante foi a sua circulação no meio artístico e os contatos com outros artistas para a sua formação, nem os estudos e as múltiplas referências com as quais lidou ao longo da sua trajetória para realizar as suas obras. Ele se formou como artista no ateliê mais importante da Bahia na década de 1950, fez escolhas conscientes, subvertendo o lugar que o colocavam”, conta a curadora.

Na mostra “Agnaldo Manuel dos Santos – A conquista da modernidade”, estarão reunidas obras de museus e coleções privadas que resgatam seus múltiplos interesses nas formas, temas e referências, explorados em esculturas nos seguintes eixos: Esculpindo uma Trajetória, O Universo das Carrancas, Sobre Gente e Afeto, A África de Agnaldo e Entre Santos e Ex-votos.

“É bastante simbólico que, no ano do aniversário de sessenta anos da morte de Agnaldo, esta exposição esteja sendo apresentada no Museu de Arte do Rio (MAR). A primeira mostra individual do artista, curiosamente, não aconteceu na Bahia, e sim no Rio de Janeiro, em 1956, na emblemática Petite Galerie, com a qual assinou um contrato de exclusividade em 1960”, diz Juliana Bevilacqua.

O recorte escolhido para a mostra reflete o esforço e o empenho em subverter o lugar ao qual se pretendeu delimitar um artista que levava muito a sério seu ofício. “Agnaldo, é, sem dúvida, também uma conquista da modernidade, que se beneficiou de um artista único em muitos sentidos. Ainda que jamais saberemos quais outros voos o escultor alçaria se não tivesse partido tão cedo, em 1962, ele é, sem dúvida, um caso singular da arte moderna no Brasil”, reflete a curadora.

Para o diretor e chefe da representação da OEI no Brasil, Raphael Callou, a chegada da exposição, em parceria com a Almeida & Dale Galeria de Arte, revigora a missão do MAR de trazer mostras aliada a instituições culturais de outras cidades.

“A importância do MAR em receber a exposição individual de Agnaldo é enorme. Agnaldo Manuel dos Santos foi um escultor baiano que trabalhou com grandes nomes da arte brasileira, mas que, ao mesmo tempo, teve sua biografia invisibilizada por muito tempo. Nesse sentido, a mostra possibilita que o nosso público experimente a arte por uma perspectiva mais inclusiva e plural”.

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Assinalar em: Arte Brasileira, Arte Moderna, Museus, Exposições, Escultura, Rio de Janeiro.

 

 

Bienal de São Paulo no MAR

20/out

 

O programa de mostras itinerantes da 34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto chega ao Rio de Janeiro no Museu de Arte do Rio (MAR). A exposição, correalizada junto ao MAR com o apoio do Instituto Cultural Vale, fica em cartaz até o dia 22 de janeiro de 2023.

A mostra é organizada em torno do enunciado Os retratos de Frederick Douglass. Douglass foi um homem público, jornalista, escritor, orador estadunidense, e um dos  principais expoentes da luta pela abolição da escravidão. Até hoje seus retratos circulam pelo mundo como símbolo de justiça e liberdade. Assim, sob o olhar penetrante e desafiador de Douglass, este enunciado traz artistas e obras voltados aos processos de colonização, deslocamento, violência e resistência que marcaram e continuam marcando a vida de milhões de pessoas ao redor do planeta.

Treze artistas de oito países diferentes compõem a mostra: Anna-Bella Papp (Romênia), Arjan Martins (Brasil), Daiara Tukano (Brasil), Daniel de Paula (Brasil/Estados Unidos), Deana Lawson (Estados Unidos), Frida Orupabo (Noruega), Gala Porras-Kim (Colômbia), Jaider Esbell (Brasil), Joan Jonas (Estados Unidos), Noa Eshkol (Israel), Paulo Kapela (Angola), Seba Calfuqueo (Chile) e Tony Cokes (Estados Unidos).

No dia da abertura, Daiara Tukano realiza uma performance, ativando sua obra Kahtiri Ēõrõ – Espelho da vida (2020), inspirada nos mantos tupinambás. A performance tem início às 11h30 e a artista percorrerá o caminho da exposição, no primeiro pavimento do Museu.

Além do fomento à produção artística, um dos focos principais da Fundação Bienal de São Paulo é a realização de ações de educação e difusão. No Rio de Janeiro, uma visita temática pela exposição está programada para o dia da abertura, 22 de outubro, às 12h30, com a equipe de mediação da Fundação Bienal. A atividade é gratuita, assim como a entrada na exposição na abertura, e não requer inscrição prévia.

 

 

 

Chico da Silva

11/ago

 

 

Brazilian Mythologies (MitologiasBrasileiras)

 

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, anuncia sua participação na Independent 20th Century, no Battery Maritime Building, NY, dos dias 08 a 11 de setembro. O projeto “Chico da Silva: mitologias brasileiras” é uma exposição monográfica das obras de Chico da Silva (1910, Alto Tejo, Acre – 1985, Fortaleza, Ceará). Francisco Domingos da Silva é um artista brasileiro autodidata e de ascendência indígena, que lida com elementos, imagens e referências das culturas, cosmologias e mitologias indígenas e populares brasileiras.

 

Chico da Silva nasceu cercado pela floresta amazônica na região do Alto Tejo, mas ainda criança mudou-se para o Ceará, no Nordeste do Brasil, passando por algumas cidades do interior até se instalar em Fortaleza em 1935, onde viveu até sua morte. Foi pintando os muros caiados das casas de pescadores da Praia Formosa que começou sua produção artística. Da Silva dava forma e cor a seus desenhos com pedaços de carvão, tijolos, folhas e outros elementos encontrados ao seu redor.

 

Jean-Pierre Chabloz (1910, Lausanne, Suíça – 1984, Fortaleza, Ceará, Brasil), crítico e artista suíço que se mudou para o Brasil em 1940 devido à Segunda Guerra Mundial, viajou para Fortaleza a trabalho em 1943, onde conheceu os desenhos de Chico da Silva em uma visita à praia. Admirado, Chabloz incentivou-o e forneceu-lhe materiais para que se aprofundasse em sua pesquisa artística. Tal encontro teve grande relevância na consolidação e difusão do trabalho de Chico da Silva, abrindo portas para que circulasse nos principais centros urbanos do Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo, e pela Europa, em cidades como Genebra, Neuchâtel, Lausanne e Paris.

 

Em seus guaches e pinturas, Chico da Silva representou sobretudo os seres da floresta, como os pássaros e peixes amazônicos, além de figuras fantasiosas, como dragões. Suas obras dão forma a histórias e mitologias da tradição oral da cultura do Norte do Brasil, em composições marcadas por uma rica policromia e pelo grafismo detalhado do desenho, composto por tramas e linhas coloridas. Acerca do seu universo e de seus procedimentos, Jean-Pierre Chabloz faz as seguintes considerações no texto “Un indien brésilien ré-invente la peinture” (Um indígena* brasileiro reinventa a pintura), originalmente publicado na revista francesa Cahier d’Art, em 1952:

 

“Por toda parte em que os guaches visionários do Pintor da Praia foram expostos, em Fortaleza mesmo, no Rio, em Genebra, em Lausanne, em Lisboa, encontraram-se destes bem-aventurados que souberam ver no maravilhoso universo de Francisco Silva, o índio, o que eu próprio tinha visto. Pois cada um de seus guaches contém e propõe um universo que ultrapassa muito o tema tratado. Lendas amazônicas, lembranças da infância, ritos e práticas mágicas, espetáculos naturais transpostos pela assunção poética, complexos psíquicos individuais e raciais exteriorizados através do símbolo, voluptuosidade (…) de linhas, de movimentos, de cores, formam o fundo extraordinariamente rico e sutil desse universo. Como se podia prever, ele atraiu as atenções mais diversas. Artistas e poetas, críticos de arte e jornalistas, etnógrafos e psicanalistas se entusiasmaram e se entusiasmarão ainda diante destas surpreendentes condensações coloridas em diversos planos, que revelam, em cada um, horizontes novos (…).”

 

Dada a originalidade do seu estilo e de suas composições, destacou-se no contexto da chamada arte popular brasileira e, além de experimentar bastante sucesso comercial em vida, atraiu grande interesse da crítica. Entre as principais exposições que participou, estão: Francisco da Silva, Galerie Pour L’Art, Lausanne, Suíça, em 1950; Exposition d‘Art Primitif et Moderne, Musée d‘Ethnographie, Neuchâtel, Suíça, em 1956; 8 Peintres Naïfs Brésiliens, Galerie Jacques Massol, Paris, France, em 1965; 9ª Bienal Internacional de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil, em 1967; Tradição e Ruptura: Síntese de Arte e Cultura Brasileiras, Fundação Bienal de São Paulo, Brasil, em 1984. Além disso, recebeu, em 1966, o prêmio de Menção Honrosa por sua participação na 33ª Bienal de Veneza.

 

Convencido quanto à relevância da obra de Chico da Silva e o quanto ela agrega à arte brasileira, Chabloz projeta, ainda, a recepção que estaria à sua altura: “Agrada-me, às vezes, imaginar Francisco Silva decorando ministérios e palácios do governo, correios e telégrafos, bancos, escolas e ricas casas particulares. Uma vida inteira não seria suficiente. Mas, consagrando a sua vida a esta tarefa, o humilde pintor paradisíaco da praia cearense, através da radiosa proclamação de uma arte (…) autenticamente brasileira, redimiria sozinho seu País da desagradável e involuntária sabotagem que, outrora, privara-o de sua primavera pictórica.”

 

Embora tenha caído em certo esquecimento, por conta dos rumos que tomou ao fim de sua carreira, hoje o trabalho de Chico da Silva vem sendo retomado e atualizado com novas leituras e abordagens. Esse dado acompanha um crescente interesse contemporâneo pela arte produzida por artistas autodidatas, atuantes fora do sistema tradicional das artes, que criaram visões próprias e originais sobre suas culturas e sobre a sociedade em que viveram. Atualmente, seus trabalhos fazem parte de inúmeras coleções públicas, entre elas: Museo del Barrio, Nova York; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM Rio; Museu de Arte do Rio de Janeiro – MAR; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC USP; e Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP.

 

Apresentar, discutir e difundir a obra de Chico da Silva sob uma perspectiva contemporânea coloca em debate as diversas matrizes de conhecimento que constituem a cultura e a arte brasileira, escapando das perspectivas tradicionais e eurocêntricas que, por muito tempo, dominaram as narrativas da nossa produção artística e cultural.

 

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* Alguns termos usados no período em que Jean Pierre Chabloz escreveu seu texto caíram em desuso, de modo que os atualizamos para o contexto atual.

Chico da Silva: Brazilian Mythologies [Mitologias brasileiras]

Convidados [Preview]

Quinta-feira, 8 de Setembro | 10h às 20h – horário local

[Thursday, September 8 | 10AM-8PM – local time]

 

Duas mostras no MAR

11/jul

 

 

O Museu de Arte do Rio, Centro, Rio de Janeiro, RJ,  abriga duas exposições simultâneas, em cartaz até setembro. Em “Gira”, Jarbas Lopes, cuja trajetória na arte começou há 30 anos, propõe novos significados para objetos que foram descartados nas ruas, de jornais e revistas a faixas de divulgação de shows e propaganda política, com os quais ele criou esculturas e pinturas interativas. Com curadoria de Amanda Bonan e Marcelo Campos, a mostra reúne cerca de 100 obras que fazem parte da produção do artista, além de trabalhos inéditos e projetos que só existiam no papel. Lopes também apresenta fotografias, desenhos, livros, maquetes e instalações.

 

Já a mostra “Coleção MAR + Enciclopédia Negra” propõe uma reparação histórica, trazendo à luz trabalhos realizados por artistas contemporâneos, que retratam personalidades negras cujas imagens e histórias de vida foram apagadas ou nunca registradas. Antes do século 19, apenas os nobres eram retratados. Já negras e negros, foram fotografados, muitas vezes, em condições anônimas ou em cenas em que apenas aparecem carregando mercadorias em suas cabeças.

 

A exposição – que hoje reúne obras de 36 artistas contemporâneos no MAR – nasceu da colaboração entre os consultores e curadores Flávio Gomes, Lilia Schwarcz e Jaime Lauriano e teve sua primeira apresentação na Pinacoteca de São Paulo, em 2021. O trabalho resultou também no livro “Enciclopédia Negra”, que reuniu biografias de mais de 550 personalidades negras, em 416 verbetes individuais e coletivos, publicado em março de 2021 pela editora Companhia das Letras.

 

Das 250 obras de artes expostas, 13 são novos retratos, criados por seis artistas contemporâneos, convidados pelo MAR, e que vão entrar para a coleção do museu após a mostra. O elenco de artista reúne Márcia Falcão, Larissa de Souza, Yhuri Cruz, Bastardo, Jade Maria Zimbra e Rafael Bqueer, que fizeram retratos de personalidades como Abdias Nascimento, Heitor dos Prazeres, Tia Ciata, Manuel Congo, Mãe Aninha de Xangô e João da Goméia. Em tempo: Coleção MAR + Enciclopédia Negra é a sexta exposição inaugurada neste ano pelo Museu de Arte do Rio e é parceria com a Pinacoteca de São Paulo.

 

“Gira”, Jarbas Lopes – Até 16 de setembro.

“Coleção MAR + Enciclopédia Negra” – Até 11 de setembro.

 

 

Esculturas e objetos de Rafael Bqueer

08/jun

 

Conhecida por trabalhos de performances, fotos e vídeos, a artista Rafael Bqueer criou, pela primeira vez, esculturas e objetos tridimensionais, que serão apresentados a partir do dia 11 de junho e até 17 de julho, na exposição “Boca que tudo come”, na C. Galeria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Paulete Lindacelva, serão apresentadas dez obras inéditas, criadas este ano, inspiradas no carnaval, mas que também se desdobram em temas que a artista já vinha trabalhando, como o universo Drag Themonia e a luta por questões raciais e de gênero. No dia da abertura, às 17h, será realizada uma visita guiada com a artista e a curadora.

“Meu trabalho percorre o universo das escolas de samba e da cultura drag. Estes novos trabalhos trazem esse universo da fantasia, dos adereços, da maquiagem. É como se eu tivesse tirado esses elementos do corpo, dando a eles uma nova forma”, diz Bqueer. “Sinto este trabalho como uma prática de desuniformizar, de criar também uma trama de propósitos, de refazer os tecidos da linguagem com nós”, acrescenta a curadora.

As obras são compostas por paetês, pedrarias e tecidos diversos, elementos que fizeram parte do carnaval de 2020 e foram doados pela escola de samba Grande Rio para a artista. “As alegorias exuberantes dos barracões são transportadas para a galeria como alegorias da própria língua e confirmam sua presença no trabalho como algo vasto de muita suntuosidade e de potencial transformador do material”, ressalta a curadora Paulete Lindacelva.

Muito ligada ao carnaval, Bqueer foi destaque da escola campeã deste ano, cujo tema foi Exu, que também inspirou a artista na criação das novas obras. “O desfile da Grande Rio deste ano foi uma das principais referências para a criação de vários trabalhos e também do título da exposição, em referência a Exu. Mastigar os universos e vomitar um novo projeto”, conta a artista, que começou sua história com o carnaval em Belém, onde trabalhou em diversos desfiles, incluindo o da Império de Samba Quem São Eles, uma das maiores agremiações paraenses, além de ter trabalhado em diversas escolas cariocas dos grupos D, B e A.

“É a gênese e uma boca com fome que não se sacia. Pela boca de Exu tudo passa. A fome de Exu não cessa, pois é pela sua boca que tudo acontece, conflui, compartilha. Na boca de Exu se instaura o mistério de todo acontecimento vivo. Engole para devolver de maneira ambívia! O que ultrapassa a ideia de antropofagia, pois é muito mais antigo e é na diferença que o mistério acontece”, ressalta a curadora.

Os trabalhos também abordam a questão do racismo, trazendo suas experiências com os desfiles das escolas de samba, arte drag e a cultura de massa das periferias para questionar os símbolos eurocêntricos de poder, bem como a ausência de narrativas afro-brasileiras e LGBTQIA+ na arte-educação e em instituições de arte. Paralelamente a seu trabalho como artista visual, Bqueer tem um trabalho como drag queen e é uma das fundadoras do coletivo paraense Themônias. O grupo, formado em 2014, reflete, já no nome, a estética distante do padrão das drags luxuosas e subverte o fato dos corpos LGBTQIA+ terem sido historicamente demonizados. “Isso tudo também está presente nesses novos trabalhos, a estética da monstruosidade, do exagero, do brega”, ressalta Rafael Bqueer, que foi selecionada pela Bolsa ZUM 2020, do Instituto Moreira Salles, com uma série de quatro curtas-metragens do projeto Themônias, que tratam da cena drag-themônia amazônica.

Sobre a artista

Rafael Bqueer nasceu em Belém, Pará, 1992. Vive e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo, tem formação em Artes Visuais pela UFPA. Trabalha com múltiplas plataformas, como fotografia, vídeo e performance. Em seu trabalho, investiga o impacto do colonialismo e da globalização por meio de ícones da cultura de massa recontextualizando as complexidades sociais, raciais e políticas do Brasil. Participou de exposições nacionais e internacionais, destacando: “Against, Again: Art Under Attack in Brazil”, Nova York (2020), e a individual “UóHol”, no Museu de Arte do Rio (2020). Artista premiada na 8º Edição da Bolsa de fotografia da Revista ZUM – Instituto Moreira Salles (2020) e na 7º edição do Prêmio FOCO Art Rio (2019).  Participou da 6º edição do Prêmio EDP nas Artes do Instituto Tomie Ohtake (2018) e da 30ª edição do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo-CCSP (2020). Atualmente, além da exposição individual “Boca que tudo come”, na C. Galeria, a artista também participa das exposições coletivas “Crônicas Cariocas” e “Enciclopédia Negra”, no Museu de Arte do Rio (MAR), “Zil, Zil, Zil”, no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica (RJ) e “Misturas”, no Galpão Bela Maré (RJ). Suas obras fazem parte das coleções do Museu de Arte do Rio (MAR), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) e Museu do Estado do Pará (MEP).

Sobre a Galeria

A C. Galeria é uma galeria de arte contemporânea que, através de novas ideias e formatos, contribui para uma nova forma de fazer e pensar o colecionismo da arte. Dirigida por Camila Tomé, a galeria surgiu em 2016 e está localizada no Jardim Botânico onde desde então apresenta um programa que auxilia e desenvolve nacional e internacionalmente a carreira de seus artistas representados. A C. Galeria propõe projetos plurais de arte contemporânea e abre espaço para discussões sobre ativismo, arte e vida sendo representante dos artistas Bruno Weilemann, Diego de Santos, Eloá Carvalho, Emerson Uýra, Laura Villarosa, Marcos Duarte, Maria Macedo, Paul Setúbal, Piti Tomé, Rafael Bqueer, Ruan D`Ornellas e Vítor Mizael.