Exposição Enciclopédia Negra no MAR

12/mai

 

 

A mostra “Enciclopédia Negra”, que esteve em cartaz na Pinacoteca de São Paulo, chegou ao Museu de Arte do Rio (MAR). Para a mostra no MAR, seis artistas foram convidados para retratar personagens como Abdias Nascimento, Heitor dos Prazeres, Tia Ciata, Manuel Congo e João da Goméia. A exposição Coleção MAR + Enciclopédia Negra torna pública obras realizadas por artistas contemporâneos para retratar personagens que tiveram suas imagens e histórias de vida apagadas ou nunca registradas. A mostra procura rever e criar uma reparação histórica para conferir possibilidade de retratos a personalidades negras, já que antes do século XIX, apenas os nobres eram retratados. Já negras e negros, foram registrados, muitas vezes, em condições anônimas e em cenas como carregando mercadorias na cabeça.

 

 

O projeto Enciclopédia Negra, dos consultores e curadores Flávio Gomes, Lilia Schwarcz e Jaime Lauriano, trouxe o trabalho de 36 artistas contemporâneos que reproduziram retratos dos biografados e interromperam a invisibilidade que existia até hoje na vida dessas pessoas que ficaram com os rostos apagados pela falta de registros visuais na história. O trabalho resultou também num livro também que reuniu biografias de mais de 550 personalidades negras, em 416 verbetes individuais e coletivos, publicado em março de 2021 pela Companhia das Letras.

 

 

“O público vai conhecer a história de quase 200 personalidades negras porque as obras estão acompanhadas de pequenas biografias e ter contato com um catálogo sensacional de artistas negros, negras e negris. É uma oportunidade de ver o trabalho de jovens artistas, que têm feito uma arte figurativa, política, ativista e belíssima de grande qualidade e reconhecimento nacional e internacional. Essa é uma exposição em que o público irá de encontro a uma nova forma de se ver, estar e experimentar esse Brasil numa visão mais inclusiva e mais plural porque ela enfrenta de maneira direta uma política de apagamento das populações negras”, ressalta a consultora e curadora Lilia Schwarcz.

 

 

13 novos retratos

 

 

Na exposição “Coleção MAR + Enciclopédia Negra”, das 250 obras de artes expostas, 13 são novos retratos, criados por 6 artistas contemporâneos, convidados pelo MAR. Essas obras vão entrar para a coleção do museu após a mostra. Os artistas são Márcia Falcão, Larissa de Souza, Yhuri Cruz, Bastardo, Jade Maria Zimbra e Rafael Bqueer, que fizeram retratos de personalidades como Abdias Nascimento, Heitor dos Prazeres, Tia Ciata, Manuel Congo, Mãe Aninha de Xangô e João da Goméia. Os curadores do MAR Marcelo Campos e Amanda Bonan também criaram um diálogo, sobretudo, com a coleção africana e afro-brasileira do Museu de Arte do Rio.

 

 

“A exposição é constituída de retratos de personalidades negras da história como políticos, artistas, sambistas, advogados e engenheiros, que foram historicamente importantes, mas que não tiveram seus retratos produzidos. Esses registros, em sua maioria, são ficções, porque você não conhece as imagens dessas pessoas e cada artista criou seus recursos para trazer esse corpo que nunca foi visto até esse momento histórico de ser retratado”, comenta o curador chefe do MAR, Marcelo Campos.

 

 

A “Coleção MAR + Enciclopédia Negra” é a sexta exposição inaugurada neste ano pelo Museu de Arte do Rio, uma parceria com a Pinacoteca de São Paulo, restabelecendo nova conexão com outros museus.

 

 

“Recentemente inauguramos a exposição “Yorùbáiano” na Pinacoteca e agora chegou a vez do MAR receber a Enciclopédia Negra. A parceria com a Pinacoteca de São Paulo é um marco importantíssimo na relação e no desenvolvimento de exposições que conquistam cada vez mais audiência e que por terem perspectivas universais são representativas tanto da realidade do Rio quanto de São Paulo.”, ressalta Raphael Callou, diretor da Organização dos Estados Ibero Americanos (OEI), instituição gestora do MAR.

 

 

Até 03 de julho.

Fonte: ArtRio

 

 

Iluminuras de Walter Carvalho

10/mai

 

 

Conhecido por seu trabalho em fotografia, cinema e televisão, Walter Carvalho apresenta ao público pela primeira vez sua produção artística autoral em Platinotipia. Na mostra “Iluminuras”, na Mul.ti.plo Espaço Arte, no Leblon, Rio de Janeiro, RJ, o artista reúne uma vigorosa produção composta de trabalhos inéditos a partir de suas experiências poéticas com processos alternativos e rudimentares de impressão. A mostra será inaugurada no dia 12 de maio, às 17h, ficando em cartaz até 24 de junho, com entrada franca.

 

 

Utilizando como matriz seu acervo autoral de fotografias, Walter Carvalho atua sobre as imagens com pinceladas de platina em um complexo processo de impressão. O resultado são as “Iluminuras”. “Novas formas e imagens surgem do inesperado e se aconchegam ‘desplanejadas’. Uma profusão de pretos e meios tons surge de repente, podendo ser lascas de luz sobre os objetos ou derivados deles, mas com espessura”, conta Walter Carvalho. Nas obras, de aproximadamente 70 X 90 cm, feitas sobre papel, um ferro de engomar gira como se estivesse fora do ritmo, numa dança improvável. Manchas, resíduos ou vestígios – o rastro do pincel – de alguma maneira dilaceram as imagens e formas originais sem entretanto, abalar sua estabilidade.

 

 

Há mais de 20 anos, Walter Carvalho dedica-se a sua pesquisa artística no universo de impressões alternativas e rudimentares: “Em 1998 comecei a experimentar impressão com gelatina de prata. Cheguei a expor em 2004, no Instituto Moreira Salles (Rio) e no Paço Imperial (Rio). Depois fui aos poucos tentando outros caminhos, até chegar à Platinotipia. São dez anos nesse estudo”, conta o artista. “Vejo nesses trabalhos uma guinada importante. O artista nesse tempo desencantado desestabiliza a forma, investe em temporalidades que se somam ao seu gesto revelador. Walter Carvalho aposta no experimento e no risco poético”, completa Maneco Müller, diretor da galeria Mul.ti.plo. Um dos interesses de Walter pela técnica, patenteada em 1873 pelo inglês William Willys (1841-1923), é a possibilidade de unir processos diferentes separados por séculos de distância. “As matrizes são feitas a partir de fotos mecânicas com filme fotográfico ou arquivos digitais. A Platinotipia permite esse encontro entre o passado longínquo e os elementos de hoje”, diz o artista, ressaltando também a longa durabilidade conferida pelo uso do nobre metal nas impressões fotográficas. “A platina resiste à impiedosa passagem do tempo”, afirma. Entre os grandes nomes da fotografia mundial que se dedicaram ao processo estão Alfred Stieglitz (1864-1946), Edward Weston (1886-1958), Irving Penn (1917-2009) e Robert Mapplethorpe (1946-1989).

 

 

Sobre o artista

 

 

Walter Carvalho nasceu em João Pessoa, PB, 1947. Fotógrafo e cineasta, é formado em Design Gráfico pela Escola Superior de Desenho Industrial do Rio de Janeiro (ESDI). Desde 1972, desenvolve intensa atividade como profissional da imagem: em fotografia, no cinema e na TV. No cinema, foi responsável pela direção de fotografia de “Lavoura arcaica”, “Abril despedaçado”, “Madame Satã”, “Central do Brasil”, “Amarelo manga” e “Terra estrangeira”, entre outros. Conquistou o Golden Frog, no Film Festival of Cinematography Camerimage, com Central do Brasil, e The International Cinematographers Film Festival “Manaki Brothers” por três vezes. Conquistou a Golden Camera com os filmes: “Terra estrangeira”, “Central do Brasil” e “Lavoura arcaica”. Seu percurso duplo de fotógrafo e cineasta reflete-se em todo seu trabalho autoral. Conta com diversas publicações, como o livro “Contrastes simultâneos” e “Fotografias de um filme”, ambos da Cosac Naify; “Walter Carvalho – Fotógrafo”, editado pelo IMS (2003), “Terra Estrangeira, Leitura das imagens do filme Terra Estrangeira”, Ed. Dumará. Em cinema, recebeu mais de 80 prêmios nacionais e internacionais. Em fotografia, destacam-se os prêmios no Concurso Nacional de Fotografia da Revista Realidade, 1972; e o primeiro lugar no Concurso Nikon (Viagem ao México), 1973. Suas últimas exposições foram “Retraço”, no Museu da Imagem e do Som (MIS) de São Paulo, 2018, com texto de Texto Agnaldo Farias; e no Paço Imperial do Rio de Janeiro, 2019. Sua obra fotográfica integra as coleções do Museu de Arte do Rio (MAR), do Maison Européenne de la Photographie (MEP-Paris), da Coleção Pirelli/Masp, do Instituto Moreira Salles, do Museu de Arte Moderna (São Paulo) e da Coleção Fnac, entre outros. Integra a “Photographers Encyclopaedia International, 1839 to the present”. É membro da Academia de Cinema de Hollywood. Participou de mais de 30 exposições de fotografia no Brasil e no exterior. Como artista, é representado pela Mul.ti.plo Espaço Arte.

 

De 12 de maio até 24 de junho.

 

 

Yorubábaiano na Pinacoteca Estação

06/mai

 

 


A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, inaugurou a exposição individual “Ayrson Heráclito: Yorùbáiano”, do artista Ayrson Heráclito. Originalmente concebida para o MAR Museu de Arte do Rio em 2021, a versão paulistana de “Yorùbáiano” ocupa o quarto andar do edifício da Pinacoteca Estação e tem curadoria de Amanda Bonan, Ana Maria Maia e Marcelo Campos. Na ocasião da abertura, o público assistiu a performance “Segredos Internos” (1994-2010).

 

 

Ayrson Heráclito traz à Pina Estação a força de mitologias africanas que aportaram no Brasil a partir da diáspora, do sequestro e da escravidão de diversos povos africanos, sobretudo a partir do século XIX. Na seleção de obras, o artista baiano articula culturas diversas, abarcando os mitos yorubanos ou nagôs e jejes, a um amálgama cultural único de saberes ancestrais, ensinamentos, lendas, ritos e visões de mundo distintos que fazem parte das matrizes religiosas e culturais do candomblé. Por intermédio dos trabalhos, o público pode conhecer as lendas, “ìtàns” e “orikis”, narrativas tradicionais que seguem presentes nas ruas, procissões, romances e enredos de escolas de samba brasileiras, tomando contato com um mundo onde a natureza dos seres e dos bichos se complementa.
Dividida em três salas, a curadoria de ”Yorùbàiano” articula três materiais orgânicos que, segundo o artista,  compõem histórica e simbolicamente o “corpo cultural diaspórico”. O açúcar rememora a ganância da monocultura canavieira escravocrata, evocando ao mesmo tempo a divindade ou orixá Exú, a quem é ritualmente oferecida a cachaça. Ayrson também se vale da polissemia do azeite de dendê, ora simbolizando os fluidos vitais do corpo humano.

 

 

Em uma das salas, a instalação “Regresso à pintura baiana” (2002) envolve o tingimento de uma maquete da Igreja do Rosário dos Pretos, bem como uma parede do museu com o dendê, saindo do campo da representação da pintura matérica, característica dos anos 1980, para a instalação, valendo-se do precioso óleo e sua coloração amarelo-terrosa. A videoinstalação “O pintor e a paisagem” (2011), a instalação “Barrueco” (2003), além da série fotográfica “Sangue vegetal” (2005), entre outras instalações e fotografias completam a sala.

 

 

A carne curtida no sal ou charque, por sua vez, alude às violências sofridas pelo povo negro escravizado ao mesmo tempo que remete ao orixá Ogum, a quem é oferecido o sal nos rituais do Candomblé. Nesse espaço são exibidas a instalação “Segredos Internos” (1994-2010), documentação da performance “Transmutação da carne” (2000), além do registro da performance ritualística “Sacudimento” (2022), realizada pelo artista ao redor do edifício da Pina Estação, onde funcionou o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), órgão responsável pela detenção de dissidentes políticos nos anos 1960 e 70.

 

 

A terceira sala expositiva encerra a visita com a grande instalação fotográfica “Borí” (2008-2011), cuja performance foi adquirida em 2020 pela Pinacoteca por meio de seu programa de Patronos, com doze grandes fotografias do ritual de fazer a cabeça ou “borí”, representando cada um dos 12 orixás do xirê. No dia 11 de agosto, o espaço Octógono, no edifício Pina Luz, será palco do ritual sagrado, com duração de cerca de duas horas, conduzido pelo artista, com a presença de músicos e 12 iniciados da religião africana.

 

 

Com 63 obras realizadas entre 1994 e 2022, a mostra apresenta um mergulho na pesquisa do artista sobre as mitologias afro-brasileiras e sobre o que ele chama de corpo cultural diaspórico. A exposição tem uma sala inteira dedicada à um material essencial para pensar a diáspora africana: o dendê. Há também uma reflexão sobre os ciclos do açúcar e do gado no Brasil. Mostra como os lampejos do espírito sobreviveram. A força das misturas permaneceu na ritualização da religião, da comida, da dança, da música, dos cânticos e das lendas, de forma que os saberes se amalgamaram. Ao refletir sobre um passado colonial, Ayrson Heráclito se torna um dos mais significativos artistas do Brasil a elaborar ritos de cura.

Tiago Sant’Ana na Alban, Salvador

05/mai

 

 

O próximo cartaz da Alban Galeria, Ondina, Salvador, BH, será a exposição “Estrelas flamejantes em manhã de sol”, do artista visual Tiago Sant’Ana, com abertura no dia 12 de maio, às 19 horas. Essa é a primeira mostra do artista baiano na galeria e reúne mais de 20 obras inéditas, especialmente produzidas para a ocasião, dando destaque à linguagem da pintura. O ensaio crítico que acompanha a exposição tem autoria de Marcelo Campos, curador-chefe do MAR – Museu de Arte do Rio e professor da UERJ. O título da exposição é inspirado num texto da década de 1960 do escritor americano James Baldwin, no qual ele tece uma comparação entre a mobilidade social do homem negro da diáspora e elementos celestes. Tendo esse ponto de partida, Tiago Sant’Ana traça uma metáfora em que céu, lua, luz e sombra dão visualidade a um conjunto de trabalhos onde a masculinidade negra assume uma posição central.

 

 

O conjunto principal de pinturas – em acrílica sobre tela e aquarela sobre papel – trazem uma associação do sol com uma posição de poder e da lua como uma alegoria para pensar em ciclos de vida e amadurecimento. Essa imagem se torna proeminente em trabalhos como “Sete luas”, em que, com olhar distante, como um sonhador, um homem é circundado pelo satélite natural da Terra em diferentes fases.

 

 

“Nesta exposição, eu criei uma série de imagens de poder. Seja um poder pelo dado energético dos próprios astros que figuram nas telas, seja porque esses homens retratados possuem uma complexidade e uma posição altiva frente à audiência. Eles têm um rosto nítido apresentado, possuem tensão e particularidades”, comenta o artista, cuja pintura é sua linguagem artística de pesquisa mais recente.

 

 

Na obra de mais de 2 metros de altura e que dá título à mostra, Tiago Sant’Ana traz um homem vestido com um terno à frente de um céu dramatizado por meio de cortinas. O personagem carrega na mão uma máscara de ouro e possui os pés descalços sob um chão de ladrilhos. A obra remete a uma tradição renascentista dos chamados “retratos de corpo inteiro”, no entanto, trazendo uma pessoa negra – que não era retratada numa posição de centralidade de maneira digna até muito recentemente na História da Arte ocidental. É torcendo esses sentidos e imagéticas, preenchendo brechas na representação ou mesmo torcendo o sentido dela, que a mostra do artista baiano toma corpo. A exposição faz parte do projeto artístico desenvolvido por Tiago Sant’Ana ao longo da sua carreira de trabalhar em intersecção com a história e com a memória. Neste caso específico, ao eternizar pessoas próximas e do seu círculo de amizades, o artista constrói uma espécie de pinacoteca afetiva, tornando esses rostos eternizados dentro da História da Arte.

 

 

Sobre o artista

 

 

Tiago Sant’Ana tem alcançado destaque nacional e internacional, ganhando prêmios como o Soros Arts Fellowship da Open Society Foundation e a Bolsa ZUM do Instituto Moreira Salles. Recentemente, suas obras passaram a integrar o acervo do Denver Art Museum, nos Estados Unidos, e do MASP, em São Paulo. Atualmente, o artista está em cartaz em diversas exposições, como “The silence of tired tongues”, na Framer Framed, em Amsterdam, e “Encruzilhada”, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. Tiago Sant`Ana já participou de uma série de exposições no Brasil e em países como Estados Unidos, Holanda e Reino Unido, a exemplo de “Enciclopédia negra” (2021), na Pinacoteca de São Paulo, “Rua!” (2020) e “O Rio dos Navegantes” (2019), no Museu de Arte do Rio, “Histórias afro-atlânticas” (2018), no MASP e Instituto Tomie Ohtake, “Axé Bahia: The power of art in an afro-brazilian metropolis” (2017), no The Fowler Museum, “Negros indícios” (2017), na Caixa Cultural São Paulo e “Reply All” (2016), na Grosvenor Gallery UK. Suas obras também fazem parte de acervos como o da Pinacoteca de São Paulo, Museu de Arte do Rio e Museu de Arte Moderna da Bahia.

 

 

A exposição é uma realização da Alban Galeria que, com 30 anos dedicados à arte brasileira, realiza um programa expositivo anual com cerca de cinco mostras, promovendo e exibindo a produção artística de nomes consagrados e emergentes do cenário nacional, de diferentes gerações, práticas e regiões do país.

 

 

De 13 de maio até 01 de julho.

 

 

 

Livro para a pintura de Lucia Laguna

08/abr

 

 

Lucia Laguna pinta a partir do entorno do subúrbio onde mora – o bairro do Rocha, no Rio de Janeiro – ao operar uma colagem de referências que passam pela história da arte, o jardim de seu ateliê e uma extensa vista da cidade. Entre a figuração e a abstração, as pinturas reunidas neste livro sussurram a insistência desordenada da vida a partir de flores, folhas e galhos de encontro às linhas urbanas: a linha do trem, a linha do mar, a Linha Vermelha, a Linha Amarela, a Avenida Brasil.

Com organização do curador Marcelo Campos, o volume traça um panorama da carreira da artista a partir de uma divisão em três partes que remetem às categorias – ou esferas de trabalho – que dão nome às séries de pinturas de Lucia Laguna: “Paisagem e arquitetura”, “Jardim e mundo” e “Estúdio e janela”.

A edição, bilíngue, conta ainda com três textos inéditos. Em “A artista de janelas abertas”, o escritor e historiador Luiz Antonio Simas discorre sobre a genealogia do bairro do Rocha e da influência do subúrbio, visto pelas janelas do ateliê, na obra de Laguna. Já em “Em busca do Jardim de Laguna”, a curadora Diane Lima se debruça sobre a relação da artista com os grandes mestres da pintura, assim como com seu próprio jardim, além de abordar seus procedimentos pictóricos. Marcelo Campos, organizador da publicação, constrói em “A travessia de mundos banais” um ensaio no qual articula elementos fundamentais para compreender a obra da pintora: a observação do cotidiano, a influência da geografia da cidade, o método, a disciplina e as referências à história da arte.

As correspondências são infinitas e o ato de escrever sobre a produção de Lucia Laguna nos coloca diante de um desfazer de enganos. Aproximar-se desta obra de mais de uma centena de pinturas é, também, viver a cidade, buscar nos quintais as reflexões, e, de outro modo, assumir a mobilidade que retira qualquer recalque antes estimulado por uma comparação entre nacionalismo e internacionalismo, figuração e abstração. Poder escrever sobre uma artista em consonância a sua vigorosa criação coetaneamente ao seu processo de produção nos faz rever os vícios históricos que deixavam a produção de mulheres artistas somente destinadas ao resgate. Aqui, vida e obra nos colocam diante de uma trajetória de conquistas aguçada pelo desejo de seguir adiante, permanecer, querer ser, escreviver, como nas palavras de Conceição Evaristo.

Marcelo Campos

 

Sobre a artista

Lucia Laguna nasceu em Campos dos Goytacazes em 1941. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Lucia ainda era professora de português quando fez experimentos à la Lygia Pape, sem ter a menor ideia de que já́ era uma artista: ela levava os alunos para uma sala escura, onde colocava potes com água, álcool, areia, sal, entre outros elementos. A ideia era fazê-los usar outros sentidos, que não a visão, para estimular a linguagem e, assim, incrementar as redações. Laguna vive e trabalha em São Francisco Xavier, RJ, mas sua mente e olhos vão e vem, miram o interior e o exterior. Muito além de uma busca formal ou social, as telas de Laguna são sobre diálogos visuais, entre seus gestos e os dos assistentes. Davi Baltar, Claudio Tobinaga e Thiago Pereira começam as narrativas para, em seguida, ela entrar numa dança de formas, cores e signos. Se o futuro é coletivo, ele está aqui. E se for possível resumir esses trabalhos em uma palavra, é “generosidade”.

 

Sobre o organizador

Marcelo Campos é carioca e vive e trabalha no Rio de Janeiro. É curador-chefe do Museu de Arte do Rio (MAR), diretor do Departamento Cultural da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e membro dos conselhos do Museu do Paço Imperial e do Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea. Desde 2004 curou diversas exposições como À Nordeste (SESC 24 de Maio, 2019); O Rio do Samba (Museu de Arte do Rio, 2018); Orixás (Casa França Brasil, 2016) e Bispo do Rosário, um Canto, Dois Sertões (Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea, 2015). É doutor em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professor do Departamento de Teoria e História da Arte do Instituto de Artes da UERJ e da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Campos é autor de Escultura contemporânea no Brasil: Reflexões em dez percursos (2016) e possui textos publicados sobre arte brasileira em inúmeros livros, catálogos e periódicos nacionais e internacionais.

 

Sobre os autores

Diane Lima é baiana e vive entre São Paulo e Salvador. É curadora, escritora e pesquisadora. Mestra em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), é docente da Especialização em Gestão Cultural Contemporânea do Itaú Cultural e suas palestras, textos e participações já ressoaram em instituições como Museum of Modern Art (MoMA, NY), Pérez Art Museum Miami, Patricia Phelps de Cisneros Research Institute, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), Museu de Arte de São Paulo (MASP) e outros. Seus projetos são marcados pelo pioneirismo no debate sobre práticas artísticas e curatoriais em perspectiva descolonial em instituições brasileiras. É ainda pesquisadora/curadora convidada do Programa de Curadoria Crítica e Estudos Decoloniais em Arte no acervo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) em parceria com a Getty Foundation.

 

Luiz Antonio Simas é carioca, vive e trabalha no Rio de Janeiro. É escritor, professor, historiador, educador e compositor. É autor e coautor de mais de vinte livros, além de ter uma centena de ensaios e artigos publicados sobre carnavais, folguedos populares, macumbas, futebol e culturas de rua. Foi colunista do jornal O Dia e jurado do Estandarte de Ouro, prêmio carnavalesco do jornal O Globo. Recebeu o Prêmio Jabuti de Livro de Não Ficção do ano de 2016, pelo Dicionário da história social do samba, escrito em parceria com Nei Lopes. Foi finalista do Prêmio Jabuti de 2018 e 2020, na categoria Crônica. Também ao lado de Nei Lopes, assinou a curadoria textual da mostra Semba/Samba: Corpos e Atravessamentos – Brasil e África (Museu do Samba, 2021).

 

Ficha Técnica

Título: “Lucia Laguna”

Autores: Marcelo Campos, Diane Lima, Luiz Antonio Simas

Organizador: Marcelo Campos

Idiomas: Português, Inglês

Número de páginas 224

ISBN 9786556910482

Editora Cobogó

Capa e projeto gráfico de miolo Bloco Gráfico

Encadernação Capa dura

Formato 21 x 26

Ano de publicação 2021

Lucia Laguna

Diane Lima

Luiz Antonio Simas

Lucia Laguna

Marcelo Campos (org.)

R$ 150,00

Eleonore Koch no MAR

11/mar

 

 

A mostra “Eleonore Koch: Espaço Aberto”, no Museu de Arte do Rio, MAR, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta pela primeira um conjunto de quase 150 obras da pintora. O Rio de Janeiro foi a cidade que abrigou a artista alemã, de origem judaica, por quase uma década, desse modo a cidade ganha a sua primeira retrospectiva dedicada à artista.
Eleonore Koch (1926 – 2018) chegou ao Brasil com a família aos 10 anos, fugindo do nazismo. Aqui, se tornou a única discípula do pintor Alfredo Volpi, mas desenvolveu um estilo independente. Tendo vivido em São Paulo, Rio de Janeiro e Londres, deixou um legado expressivo ao país que primeiro a acolheu.
Com curadoria de Fernanda Pitta, da Pinacoteca do Estado de São Paulo, em colaboração com os curadores do MAR, Marcelo Campos e Amanda Bonan, a exposição reúne pinturas em têmpera – técnica que a pintora aprende com Volpi -, desenhos em pastel, carvão e guache, provenientes de diversas coleções.
Muitas haviam sido guardadas pela artista até sua morte e vieram a público com o leilão de suas obras, desejo que expressou em seu testamento. A seleção é completada por documentos, fotos e objetos, que ajudam o público a adentrar o universo de Eleonore Koch.“Na capital carioca, Eleonore Koch ganha características próprias, independentes de seu mestre Volpi, no que diz respeito aos seus temas e às suas estratégias artísticas. É também no Rio que Eleonore passa a trabalhar com a temática da paisagem, até então não muito explorada por ela”, diz a curadora Fernanda Pitta.
Artista ímpar, metódica e irreverente, perfeccionista e temperamental, mas sobretudo consciente de si e de sua prática, Eleonore Koch desenvolveu uma vasta produção ao longo de seus 93 anos. Menos de quatro anos após sua morte, suas obras começam a se tornar amplamente reconhecidas.
Até 1º de maio.

Manifestações no MAR

06/jan

O DJ MAM, artista, compositor, intérprete e ativista cultural, lançou no Centro Histórico, Rio de Janeiro, RJ, o projeto “Sotaque Carregado Artes”, que une música ao universo das artes visuais. A iniciativa é desdobramento do Sotaque Carregado, que em 15 anos de existência vem criando várias ações como festivais, programas de rádio, álbuns e eventos, com mais 500 artistas e blocos, como Elza Soares, Hermeto Pascoal, Gaby Amarantos, Orquestra Voadora e Baiana System. Coordenado pelos curadores Érika Nascimento e DJ MAM,Sotaque Carregado Artes pretende conectar e amplificar as manifestações de música e artes visuais.

 

A primeira ação do Sotaque Carregado Artes é o Festival Demarcação Já Remix no Museu de Arte do Rio (MAR), para celebrar o hasteamento da bandeira “Tajá”, do artista Matheus Ribs, neste domingo, às 15h.

 

Com o apoio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio, o Festival Demarcação Já Remix apresentará uma programação musical especialmente criada para o evento. Às 15h, a cerimônia de hasteamento será acompanhada pelo Coral Guarani Tenonderã, e às 16h, nos pilotis do MAR, DJ MAM fará o show Sotaque Carregado, com a presença dos Pernaltas Futuristas, vestidos como orixás e do grupo de carimbó feminino Aturiá. Em seguida eles se integrarão ao Cortejo do Carnaval Remix, com a festa Manie Dansante com as bicicletas amplificadas do Mico Leão Sistema Sonoro. O Cortejo irá até a Praça da Harmonia, onde está a bandeira “Área Indígena”, do artista Xadalu Tupã Jekupé, em sua exposição “TekoaXy – A terra de Tupã”, no Instituto Inclusartiz.

 

Festival Demarcação Já Remix – Programação

15h – Concentração do cortejo na abertura oficial do evento, com o hasteamento da bandeira “Tajá”, do artista Matheus Ribs. Apresentação do Coral Guarani Tenonderã, na Praça Mauá.

 

15h30 – Conversa com o curador do MAR, Marcelo Campos, e o artista Matheus Ribs.

 

16h – DJ MAM – Show Sotaque Carregado, nos pilotis do MAR, com os Pernaltas Futuristas, vestidos como orixás, eo grupo de carimbó feminino Aturiá.

 

17h – Cortejo Carnaval Remix, com Sotaque Carregado, festa Manie Dansante com as bicicletas amplificadas do Mico Leão Sistema Sonoro Ambulante, grupo de carimbó feminino Aturiá. O Cortejo seguirá em direção à Praça da Harmonia, onde está a exposição “Tekoa XY”, do artista Xadalu Tupã Jekupé, no Instituto Inclusartiz.

MAR por Luiz Martins

13/dez

 

 

 

A Galeria BASE, Jardim Paulista, São Paulo, SP, encerra sua agenda expositiva de 2021 com “MAR”, do artista multimídia Luiz Martins, composta por duas séries: “Vestígios Primários” com trabalhos em técnica de têmpera acrílica e “Mar”, composta por obras inéditas, criadas em nanquim e aguada, em um conjunto de 25 desenhos e pinturas que atestam o comprometimento do artista com questões de sustentabilidade e preservação ambiental. A curadoria é de Ana Paula Lopes.

 

Segundo conceito elaborado pela curadora, “a exposição MAR, na Galeria Base em São Paulo, reúne uma produção que explora uma materialidade pictórica na técnica do desenho e da pintura, compostos por uma rugosidade e um gradil de formas, onde as cores transitam pelo ocre e nas escalas de preto e cinza, que dilatam conceitos etnográficos, antropológicos e políticos de um território marítimo, constituídos por uma fatura linguística e matérica, que são explorados pelo artista.”

 

Dividida em duas partes, a mostra exibe no piso térreo “Vestígios Primários” onde obras com utilização de cores nas quais muitas delas resultam de uma técnica autoral – de têmpera acrílica sobre papel de algodão para alcançar a paleta pictórica pretendida – onde o artista marca a superfície do papel em alusão às cicatrizes deixadas nas peles dos escravos dando origem a formas rupestres. “Luiz une suas origens – negra e indígena – o resultado é um conjunto potente com acabamento refinado e uma técnica única”, explica Daniel Maranhão.

 

Predominam os tons terrosos, porém cores vivas, como amarelo e vermelho, completam a unidade. Trata-se de “Um conjunto de tons de ocre e cor, que se desenvolve a partir de uma simultaneidade entre antropologia e a etnografia rupestre, delineado por uma grafia circular, que tenciona uma aspereza e secura de um cerrado, como se fossem gravuras em rochas”, explica Ana Paula Lopes

 

No andar superior, tem-se a série ‘Mar’ que surge após longo período de gestação criativa. “Mar” nasce em 2016 quando Luiz Martins começa a coletar materiais lançados à praia pelo mar em suas caminhadas pela Praia do Sonho. Conchas, pedra, corais e tantos outros materiais orgânicos são levados ao ateliê e dão início à construção de desenhos “como se assim devolvesse ao mar aquilo que foi lançado por ele”, complementa Maranhão.

 

Segundo Luiz Martins, ao falar sobre os novos trabalhos, comenta: “Série de desenhos na qual faço uma representação dos fragmentos encontrados em caminhadas pelas areias em busca de entender a potencialidade desses elementos deixados pelos mares em longo de sua trajetória, elementos que para mim representam força, energia e fluidos de ligação entre vida contemporânea e ancestralidade”.

 

Esses novos desenhos e pinturas não mostram o óbvio; não são registros de verde e azul, que vem à mente quando se pensa em mar. Ao revés, são imagens em branco e preto, com nuances de cinza. As técnicas escolhidas pelo artista – nanquim e aguada – acrescidas por alguns artifícios como sopro mecânico, mostram-se como fundamentais e precisas para que Luiz Martins alcance o resultado pictórico final por ele explorado.

 

“Mar de Luiz Martins, de águas profundas, quase equiparadas às do oceano, que amalgama uma pluralidade de conceitos e poéticas, expressando outras imagéticas que não associamos quando nos referimos ao mar.” Ana Paula Lopes

 

Sobre o artista

 

Luiz Martins, Machacalis, MG. Luiz Martins tem origem indígena pelo lado paterno, sendo filho de mãe negra. Conviveu com os índios de sua tribo, os Maxacalis até os 17 anos, quando se mudou para São Paulo, para cursar a Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Expôs pela primeira vez em 1996, na Fundação Cásper Líbero, com curadoria do Professor Walter Zanini. A partir de então, integrou diversas mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior como Polônia, Lituânia, Dinamarca, Itália, Portugal, Áustria e Japão. Desde 2008 mantém ateliê fixo na cidade de Viena, com o artista venezuelano Gustavo Mendez. Atualmente conta com 3 livros publicados e suas obras fazem parte de Coleções importantes, como a do MAC USP.

 

Abertura: 11 de dezembro – sábado – das 12:00 às 17:00

 

Período: de 13 de dezembro a 05 de fevereiro de 2022.

 

Reabertura da Galeria do Lago

06/dez

 

 

 

No dia 4 de dezembro, será reaberta a exposição da artista Patrizia D’Angello, na Galeria do Lago, no Museu da República, depois de quase dois anos fechada devido à pandemia de Covid-19. Rebatizada de “Jardim do Éden 1.2”, a exposição, que tem curadoria de Isabel Portella, será ampliada, com novas obras, que foram produzidas durante o período de isolamento, ganhando um novo significado. “A exposição reabre impactada pelo tempo passado”, afirma a artista, que lançará, no dia da abertura, o catálogo da primeira versão da mostra e estará aberta até 20 de fevereiro de 2022.

 

Das 25 pinturas que integravam a exposição original, 15 permanecem e outras 13 foram acrescidas, totalizando 28 obras. Os novos trabalhos foram produzidos no ateliê que a artista tem em casa e retratam a natureza. “Durante a quarentena, confinada em um apartamento super urbano, totalmente apartada do ar, da água, do mato, do céu e do sol, retomei uma série de pinturas já iniciada de lagos e vegetação de cores fluidas, lisérgicas e tempo suspenso, uma espécie de vertigem necessária onde é possível ver discos voadores flutuando na água e nenúfares no céu, um salvo conduto  para se passar os dias monocórdicos de um eterno presente sem sucumbir a loucura”, conta a artista.

 

Na primeira sala da exposição, estarão os novos trabalhos, produzidos durante o isolamento social. “É uma atmosfera onírica, tal qual um banquete de pratos flutuantes ofertando a natureza em consonância com o parque do Museu da República, que adentra pelas janelas e portas mediando, assim, a construção que se dá na segunda sala, onde novos trabalhos corroboram e se somam à narrativa já desenvolvida no primeiro momento da exposição”, ressalta a artista .

 

O conceito da mostra foi pensado a partir dos muitos banquetes realizados no Palácio do Catete, sede do Governo Federal entre 1896 e 1960 e que hoje abriga o Museu da República. Para realizar a primeira fase da exposição, a artista mergulhou no acervo do Museu, em documentos relacionados ao tema, como uma bela coleção de convites e menus das muitas recepções ocorridas ali, bem como fotos, vasos, pratarias, sancas e mobiliário pertencentes ao Palácio do Catete, que aparecem nas obras mesclados a seu repertório poético. “Numa narrativa bem humorada, mas repleta de sutis paralelos, a artista se debruça sobre os grandes temas da pintura figurativa, o retrato, a paisagem e a natureza morta. Em seus trabalhos, Patrizia procura discutir os limites do real, da mímesis e as implicações no mundo contemporâneo”, afirma a curadora Isabel Portella.

 

Movida por um humor dionisíaco e tendo como norte a Pop Art e a Tropicália, os trabalhos de Patrizia D’Angello estão sempre reverberando questões do feminino/feminismo. Em uma operação ambivalente de afirmação e crítica, a artista desloca sentidos e, com humor, joga luz sobre a pretensa “normalidade” do  patriarcado e suas práticas predatórias. “A abordagem desse espaço tão representativo do poder, do patriarcado, da ordem vigente, se dá através do campo relegado desde sempre ao domínio das mulheres, a cozinha, a mesa, a decoração, o enfeite, o bordado, o doce, o belo… Um universo, segundo essa lógica dominante, menor, secundário, fútil e frívolo, por isso mesmo entregue de bom grado às mãos que vieram pra servir”, ressalta a artista.

 

O pensamento crítico aparece sempre de forma sutil, quando a sobreposição do título à imagem produz um ruído desconsertante. “O título dos trabalhos é parte indissociável da obra, pois é através do deslocamento de sentido engendradado nessa operação de nomear que desenvolvo a narrativa que me interessa explorar”, conta Patrizia D’Angello. “Se o feminismo, a sensualidade erótico-sensorial, o patriarcado, a exploração são questões que interessam à artista explorar, ela o faz com humor, numa crítica que expõe engrenagens perversas e desnuda atitudes machistas, sem perder a doçura”, afirma a curadora Isabel Portella. “Retrato mulheres insurgentes e empoderadas a debochar desse mundo constituído sob valores alheios e desfavoráveis, piqueniques, mesas, comidas, doces, vasos e ornamentos onde tudo parece estar onde deveria estar exceto pelo fato de que essa afirmação resvala numa bem humorada crítica”, diz a artista.

 

 

Sobre a artista

 

Patrizia D’Angello nasceu em São Paulo, mas vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formada em Artes Cênicas pela Uni-Rio e em Moda pela Candido Mendes, a partir de 2008, cessou todas as atividades em outras áreas pra se dedicar exclusivamente à arte. Desde então, desenvolve uma poética que, através de artifícios da narrativa do cotidiano, incorpora e comenta a vida em suas grandezas e pequenesas, em seus potenciais de estranhamento e em suas banalidades, espelhando e refletindo aquilo que diz respeito à vida. Transita pela produção de objetos, performance, fotografia, video e, mais assiduamente, pela pintura. Frequentou a Escola de Artes Visuais no Parque Lage, onde cursou diversos cursos. De setembro de 2014 a Março de 2015 esteve no programa de bolsa residência-intercâmbio com a École Nationale Superieure des Beaux Arts de Paris. Foi indicada ao prêmio PIPA em 2012. Dentre suas principais exposições individuais estão: “Lush”, 2018, Centro Cultural Municipal Sergio Porto, Rio de Janeiro; “Assim é se lhe parece – Casa, Comida e Roupa Lavada”, 2016, Centro Cultural da Justiça Federal, Rio de Janeiro; “Kitinete”, 2016, Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro; “No Embalo das Minhas Paixões”, Galeria de Arte IBEU; Banquete Babilônia, Galeria Amarelonegro, Rio de Janeiro, entre outras. Dentre suas últimas exposições coletivas estão: Casa Carioca, MAR; Cada Um Grita Como Quiser, Galpão Dama; Baguncinha, Casa de Pedra; Galeria Gema, todas  este ano, ”Signo Traço Atração”, Galeria Evoé, 2020; “Primeiro salão de Arte Degenerada”, Ateliê Sanitário, 2019; “Rios do Rio”, Museu Histórico Nacional, 2019; “Passeata”, Galeria Simone Cadinelli, 2019; “My Way”, Casa França-Brasil, 2019, no Rio de Janeiro; “Futebol Meta Linguagem”, Centro de Artes Calouste Gulbenkian, 2018, Rio de Janeiro; “Poesia do Dia a Dia”, Centro Cultural Sergio Porto, 2017, Rio de Janeiro; “Quero que Você me Aqueça nesse Inverno”, Centro Cultural Elefente, 2016, Brasília; “Attentif Ensemble”, Jour et Nuit Culture, 2015, Paris; “Portage”, ENSBA, 2014, Paris; “Como Se Não Houvesse Espera”, Centro Cultural da Justiça Federal, 2014, Rio de Janeiro, entre outras.

 

Sobre a Galeria do Lago

 

A Galeria do Lago apresenta programas contínuos de exposições de arte contemporânea, que visam a discutir aspectos da produção da arte atual, com obras que de alguma maneira se relacionem com o Museu da República.

 

Raul Mourão expõe em Salvador

01/dez

 

 

 

O MENOR CARNAVAL DO MUNDO

 

A Roberto Alban Galeria, Salvador, BA, tem o prazer de anunciar a exposição “O menor carnaval do mundo”, exposição individual de Raul Mourão. Segunda exposição do artista na galeria, a mostra que será inaugurada dia 09 de dezembro e fica em exibição até 05 de fevereiro de 2022 reúne um conjunto de 44 obras recentes, oriundas de diferentes séries e campos de investigação de sua vasta produção, iniciada na segunda metade da década de 1980.

 

Expoente de uma geração que marcou o cenário carioca na década seguinte, Raul Mourão é notadamente conhecido por uma produção multimídia, que se desdobra em esculturas, pinturas, desenhos, vídeos, fotografias, instalações e performances. Frequentemente, o artista investiga os cruzamentos entre estes campos e linguagens, estimulando relações multidisciplinares em sua prática, lançando mão de um vocabulário visual único e de um peculiar senso de apreensão da realidade que o cerca.

 

A obra de Mourão alimenta-se, assim, de trivialidades e signos da vida cotidiana e de sua vivência da paisagem urbana, então interpretados e reconfigurados pelo artista em um processo de elaboração de seu olhar sobre eles, tão engenhoso quanto perspicaz, capaz de refletir sobre o que nos parece mundano, efêmero; mas também sobre questões mais amplas, como o contexto sócio-político do país.

 

Este fluxo entre as esferas individual e coletiva acontece em uma constante retroalimentação entre estes polos, resultando em uma produção artística de alta voltagem inventiva e linguística, em estado de ebulição e renovação contínuos, ao passo em que determinados temas, elementos e materiais seguem em experimentações constantes e variadas dentro do processo criativo do artista.

 

Em O menor carnaval do mundo, Mourão reforça este interesse por mídias e suportes diversos ao apresentar obras recentes de diferentes séries de sua produção, todas realizadas nestes últimos anos. O conjunto reúne desde novas esculturas cinéticas a pinturas de sua série “Janelas”, de fotografias e pinturas da série “SETADERUA” à vídeos como “Bang-Bang” – obra já exibida em ocasiões anteriores, mas recontextualizada dentro do presente conjunto proposto.

 

O título da mostra alude tanto à uma dimensão narrativa, afetiva – um carnaval vivido junto a um grupo reduzido de amigos, dentro do período pandêmico – quanto aponta para um certo jogo de escalas proposto pelo próprio artista a partir da obra título da exposição. Escultura realizada em dois tamanhos diferentes, a obra homônima evidencia o desejo de Mourão de experimentar estas pequenas variações sobre um mesmo tema ou objeto, explorando uma mesma ideia por vias distintas, mas também complementares, insuspeitas.

 

Suas bandeiras do Brasil, por exemplo – subtraídas de seus círculos centrais e do lema positivista de “ordem e progresso” – aparecem ao longo da mostra tanto em uma pequena versão p&b em tecido (dedicada ao grupo BaianaSystem) quanto em uma fotografia realizada na orla carioca, em parceria com o músico Tomás Cunha Ferreira.

 

Na entrada do espaço expositivo, uma espécie de parede-índice reúne um conjunto variado de trabalhos, sublinhando este senso de “desnorteamento organizado” proposto por Mourão, nos convidando a adentrar suas diferentes séries e campos de investigação a partir da sugestão de possibilidades diversas de relações a serem traçadas entre as obras em si. O artista não nos indica, assim, direções fixas ou trajetórias precisamente delineadas. Por vias opostas, nos concede, pistas e indícios que funcionam espontaneamente como disparadores destes inúmeros percursos a serem realizados por entre as salas da mostra. Nas palavras da crítica e curadora de arte pernambucana Clarissa Diniz, no texto crítico que acompanha a mostra:

 

“Se vivemos, agora, um mundo que nos extrapola mais do que a outrora posto que nos apreende em grades e distâncias, ao que parece, quando nos convoca a participar do Menor carnaval do mundo, Raul Mourão está a nos cochichar sobre a força transformadora do que, reduzido, pode enfrentar os gigantes sem que eles se deem conta do que está acontecendo.”

 

Sobre o artista

 

Raul Mourão nasceu no Rio de Janeiro, em 1967, onde vive e trabalha. Entre suas principais exposições individuais e projetos solo recentes, destacam-se: Empty Head, Galeria Nara Roesler Nova York, 2021; A Máquina do Mundo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2021; Estado Bruto, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 2020; A Escolha do Artista, Instituto Casa Roberto Marinho, 2020;  Experiência Live Cinema #4: Raul Mourão + Cabelo, Studio OM.Art, 2019; Fora/Dentro, no Museu da República, 2018, Rio de Janeiro, Brasil; Você está aqui, no Museu Brasileiro de Ecologia e Escultura – MuBE – 2016, São Paulo, Brasil; Please Touch, no Bronx Museum, 2015, Nova York, Estados Unidos; Tração animal, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, MAM-Rio, 2012, Rio de Janeiro, Brasil; Toque devagar, Praça Tiradentes, 2012, Rio de Janeiro, Brasil. Entre as coletivas recentes, encontramos: Coleções no MuBE: Dulce e João Carlos de Figueiredo Ferraz – Construções e geometrias, no Museu de Ecologia e Escultura, MuBE, 2019, São Paulo, Brasil; Modos de ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos, Oca, 2017, São Paulo, Brasil; Mana Seven, Mana Contemporary, 2016, Miami, Estados Unidos; Brasil, Beleza?! Contemporary Brazilian Sculpture, Museum Beelden Aan Zee, 2016, Haia, Países Baixos; Bienal de Vancouver 2014-2016, Canadá, 2014. Seus trabalhos figuram em coleções de importantes instituições, tais como: ASU Art Museum, Tempe, EUA; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Contemporânea de Niterói, MAC-Niterói, Niterói, Brasil; Museu de Arte do Rio, MAR, Rio de Janeiro, Brasil; e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, MAM-Rio, Rio de Janeiro, Brasil.