Prêmiação artística

16/jul

O Museu Histórico Nacional, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no próximo dia 19 de julho, três exposições, às 18h, em torno da 6a edição do Prêmio CNI SESI SENAI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas. Na ocasião, será realizada a performance “Verzuimd Brasiel – Brasil Desamoparado”, com o artista Daniel Santiago. As três mostras, poderão ser vistos trabalhos de 23 artistas, de várias gerações: “Artistas premiados”, com obras de Daniel Lannes (RJ), Fernando Lindote (SC), Jaime Lauriano (SP), Pedro Motta (MG) e Rochelle Costi (SP); a exposição “Verzuimd Braziel – Brasil Desamparado”, do curador premiado Josué Mattos, com obras de outros dezessete artistas, como Anna Bella Geiger,  Cildo Meireles, André Parente, Daniel Santiago, Ivan Grilo, Lourival Cuquinha, Regina Parra e Regina Silveira; e ainda “A Intenção e o Gesto”, com obras do artista cearense Sérvulo Esmeraldo (1929-2017), um dos expoentes da arte cinética, com curadoria de Marcus Lontra. O artista é o homenageado desta edição do projeto Arte e Indústria.

Arden Quin em Curitiba

06/abr

A Simões de Assis Galeria, Curitiba, PR, exibe a exposição “Carmelo Arden Quin – A Utopia Modernista”, com obras do artista uruguaio do Grupo Madí, sob a curadoria de Felipe Scovino.

 

 

Carmelo Arden Quin: modernidade e invenção

 

Carmelo Arden Quin é um artista uruguaio que se estabelece na Argentina em meados dos anos 1930. É importante contextualizar esse período histórico, porque ao largo dos golpes de Estado que se sucederam em diferentes países da América Latina naquele momento, a arte floresceu e alcançou uma qualidade que está sendo somente agora reconhecida mundialmente. Arden Quin faz parte da geração seguinte a de outro artista uruguaio, Joaquín Torres Garcia. Esse aliou de forma altamente qualitativa a linguagem construtiva – ainda dando os seus primeiros passos nas Américas – cosmologia e espiritualidade com um traço naif sem de forma alguma ser ingênuo. Algo próximo da pesquisa de Paul Klee mas com uma originalidade assustadora. Infelizmente, essa produção nascida no Uruguai que antecipa questões formais e conceituais e que como fios acabaram tecendo laços com a arte construtiva brasileira ainda é pouco conhecida por nós. E daí a importância dessa exposição inaugural da Simões de Assis Galeria de Arte em São Paulo.

 

Em 1938, Arden Quin deixa o Uruguai e segue para Buenos Aires. Encontra uma Argentina em franco declínio social e econômico depois de ser uma das maiores potências das Américas. O país assistiu logo após o fim da Segunda Guerra Mundial a ascensão de Perón ao poder e a contínua política de nacionalização. Contudo, no campo das artes plásticas, em meados daquela década a Argentina inscreveria seu nome na história da arte ao ser a base do Grupo Madí. Como afirma o manifesto do grupo escrito em 1946:

 

Madí confirma o desejo do homem de inventar objetos ao lado da humanidade lutando por uma sociedade sem classes que libera a energia e domina o espaço e o tempo em todos os sentidos, e a matéria em suas últimas consequências.

Era o começo, digamos, mais maduro de uma prática consistente da arte não-figurativa na América Latina. Arden Quin, Gyula Kosice, Lidy Prati, Rhod Rothfuss, dentre outros artistas, estabelecem a base para a linguagem construtiva na Argentina. Suas pesquisas incluem diversos interesses e escolas da arte, como construtivismo, cubismo e mesmo o surrealismo. A obra de Arden Quin, naquele momento, estava fincada em proposições não-ortogonais e principalmente na ideia de desconstruir os limites da moldura. Interessava a ele ter a moldura não como um elemento redutor do espaço pictórico mas como parte intrínseca da obra. A moldura passava a ser um elemento de diálogo consistente com as formas geométricas construídas pelo artista. Essa situação, aliás, é bem demonstrada com uma reunião de obras importantes dessa fase na exposição. Em Forme Madí 2B (1946), por exemplo, observem como a linha da moldura obedece ou dialoga com o conjunto em seu interior, formado pelas figuras geométricas irregulares. Há um interesse claro em metaforicamente destruir barreiras e integrar moldura, formas e cores como elementos pictóricos. Os artistas do grupo Madí se interessavam por outras formas planares que não são simplesmente as ortogonais. Começaram a elaborar outros polígonos, regulares ou irregulares, que se convertiam em pentágonos, hexágonos, círculos e toda a sorte de figuras geométricas.

 

Interessante perceber que o princípio da quebra, concreta e metafórica, da moldura também se manifestará poucos anos depois no Brasil. Lygia Clark começa em 1952 a produzir Superfície modulada e Planos em superfície modulada. Em ambas as séries, a artista desenha a lápis sobre o cartão uma série de polígonos regulares ou irregulares, sempre utilizando para efeitos óticos a relação entre cheio e vazio, por conta do preenchimento ou não do interior desses polígonos com grafite preto ou cinza. Criava-se, portanto, ainda no plano, um embaralhamento entre as posições de figura e fundo. Esses estudos se transformavam em pinturas feitas em tinta industrial sobre madeira, e o que antes era lápis demarcando as fronteiras entre os polígonos se transforma em fissura. A artista cravava essas linhas fronteiriças com bisturi. Foi um passo importante para o que ela chamou de “linha orgânica” e que chegou até à sua célebre série Bichos (1960-64), pois os polígonos das superfícies moduladas se soltam do plano, alcançam o espaço e passam a ser modificados por meio de dobradiças nas esculturas.

 

Esse foi um breve comentário sobre as possíveis conexões do trabalho de Arden Quin com a arte brasileira. Chama-me também a atenção a sua série intitulada Forme Galbée (1971), presente na mostra. Eis a sua mais esplêndida pesquisa acerca do cinético. Outro ponto alto dessa exposição é a oportunidade de termos acesso a um número robusto de obras do artista ao mesmo tempo em que percebemos e refletimos sobre os vários interesses e pesquisas que Arden Quin realizou. Se durante o Madí, sua pesquisa envolvia estudos sobre arte concreta e a forma muito própria em como os latinos absorveram e reinventaram as pesquisas planares, cubistas e não-euclidianas do movimento concreto europeu, nos anos 1970 Carmelo se volta para a arte cinética e a capacidade de ampliar o conceito de pintura. Ele não está sozinho nessa jornada, pois a própria Argentina, com Le Parc e Tomasello; a Venezuela, com Cruz-Díez, Otero e Soto; e, o Brasil com Palatnik, Antonio Maluf, Lygia Clark, Mary Vieira, Sérvulo Esmeraldo, Willys de Castro, dentre muitos outros, também desenvolvem suas pesquisas em arte cinética.

 

Determinadas obras da série Forme Galbée aludem a uma partitura. Essa sensibilidade do artista em executar ritmos e sinuosidades de grande impacto visual revelam a sua especificidade. É importante destacar que o caráter cinético dessas obras se dá pela forma em como o espectador se coloca defronte a obra, isto é, a cada mudança de perspectiva dele, a obra cria novas percepções e imagens. Outro ponto de destaque é o fato dela possuir concavidades no suporte da madeira, provocando uma sensação de miragem óptica. É algo semelhante ao que acontece com os Relevos Progressivos, de Palatnik, realizados a partir dos anos 1960. Nessas obras, o sequenciamento dos cortes na superfície do material – cartão, metal ou madeira – cria camadas ou ondas que variam dependendo da profundidade e localização do corte, constituindo sua própria dinâmica. O uso do papel-cartão, em especial, é algo surpreendente porque a produção de relevos empregada pelo artista leva à execução de ritmos e sinuosidades de grande impacto visual. Já na série de Arden Quin, não só o jogo próprio de linhas, formas e cores cria uma vibração intensa, mas como o suporte em que estão instalados – levando em conta essa perspectiva da concavidade – reitera e enfatiza a experiência óptica. Ademais, a linha é transformada, por ilusão óptica, em vibração, o material em energia. Quando o espectador se movimenta diante destas obras, o fundo fragmenta a linha de cores ou objetos impregnados sobre a superfície (de modo geral são pequenas estruturas de madeira), de modo que ele se apresenta como uma série de pequenos pontos flutuando no espaço. Eis a matemática se metamorfoseando em estruturas vibratórias a serviço de uma nova experiência de mundo para o sujeito.

 

Na série Plastique, realizada em meados dos anos 1980, o artista adotou uma forma de experimentação utilizando superfícies construídas e unidades visuais modulares feitas em acrílico e madeira que redimensionaram a sua obra. Não há a preocupação apenas, como se isso fosse pouco, em experimentar novas capacidades cinéticas mas também a percepção em construir e organizar um estado pictórico. Esta analogia se faz presente na escolha e na ordem com que compõe os feixes em acrílico sobre a madeira. Numa das obras, um recorte em acrílico, formado por três linhas em paralelo percorrendo a sua extensão e sobre as mesmas um conjunto de pequenos aros metálicos, remete claramente ao braço de uma guitarra ou violão. Esse feixe percorre longitudinalmente a superfície do plano compondo com as cores e formas geométricas dispostas, um salto (musical) para o espaço. Há o pensamento de um pintor articulando formas e cores naquela superfície. Arden Quin reatualiza as célebres obras de Picasso, mas para além disso institui a sua marca própria e autenticidade: refletir sobre o lugar da arte e seu compromisso com a invenção e com o agora. Ele é um artista conectado ao moderno e a todas as formas críticas do pensamento cultural. Sua pintura, desde o início, possui um vínculo com outras artes, seja a música, o design ou a arquitetura. Ao contrário de seus contemporâneos ligados ao figurativismo, o jovem Carmelo desafiou as regras e desejou que a sua obra alcançasse o espaço, e assim o foi.

 

Em uma de suas últimas pinturas, também presente na mostra, Domaine n. 18 (2006), mais uma vez a celebração à música se faz presente. Corpo de um violão, cordas, fundo, faixas. Tudo está lá. Fracionados e dispostos em intervalos separados pelo cheio (zonas pintadas em preto) e o vazio (zonas claras), essas partes compõem um todo. A moldura recortada continua e reforça esse efeito da mobilidade dos planos. As unidades geométricas parecem estar em um balanço contínuo, mesmo, claro, se tratando de uma pintura. Essa sensação se alimenta também pelo fato do artista magicamente tornar curvas as retas, possibilitando outra linguagem e visualidade para o elemento concreto. Percebam que essa “magia” é consequência, sem dúvida, das experimentações da arquitetura moderna que caminham lado a lado ao seu trabalho.

 

Essa é uma exposição histórica. Primeiro, por se tratar do trabalho de um artista notável que teve mais de 60 anos de produção e tem o seu nome celebrado pela história da arte. É também a oportunidade de o público brasileiro, em especial, tomar contato de forma mais aprofundada com uma obra que se caracterizou pelo compromisso com a invenção. Este conceito se confunde na obra de Arden Quin com a incessante pesquisa que realizou acerca do movimento. Interessou a ele sob as mais diversas circunstâncias, operações formais e conceituais ter o espectador como cúmplice das suas investigações plásticas. Dos anos 1930 à primeira década desse século, sua obra provocou novas percepções óticas caminhando conjuntamente com as inovações tecnológicas, artísticas e culturais que o mundo atravessava. De forma pioneira, e é bom destacar esse ponto, sua produção estimula o movimento, seja nas relações intrínsecas que a obra promove entre cor, forma e plano alçando a pintura ao espaço, seja nas obras cinéticas, estimulando a participação do espectador e promovendo a multiplicação das imagens. É a própria obra posta em questão, ameaçando os seus limites e experimentando as suas várias possibilidades de forma intensa.

 

Felipe Scovino

QUINN, Arden; KOSICE, Gyula. Manifesto Madí. In: AMARAL, Aracy A. (org). Projeto construtivo brasileiro na arte: 1950-1962. Rio de Janeiro: MAM; São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1977, p. 62-64.

 

 

Até 19 de maio.

Obras de Sérvulo Esmeraldo

05/dez

O Instituto Ling, Porto Alegre, RS, apresenta a exposição “PulsationsPulsações – Do arquivo vivo de Sérvulo Esmeraldo”, do artista cearense falecido em fevereiro deste ano, pouco antes de completar 88 anos. A exposição mostra uma das trajetórias mais originais da arte brasileira: conhecido por seu rigor geométrico-construtivo. O artista incursionou por técnicas diversas como escultura, gravura, ilustração e pintura. Sérvulo Esmeraldo é um dos pioneiros da arte cinética e autor de obras de geometria e luminosidade singulares.

 

A mostra, com curadoria de Ricardo Resende, traz 84 peças – entre gravuras, matrizes, desenhos, estudos, relevos, maquetes, instalações, documentos e fotografias – que fazem parte do arquivo do IAC – Instituto de Arte Contemporânea, São Paulo, SP. Organizada a partir do arquivo de Sérvulo Esmeraldo – atualmente sob a guarda do IAC, a exposição compreende a fase em que o artista viveu na França entre os anos de 1957 e 1980.

 

“PulsationsPulsações” joga uma luz sobre o rico processo criativo do artista em seus primeiros anos na França, uma fase de aprendizado, de iniciação nas técnicas da gravura em metal e litografia. Contempla os desenhos e as gravuras em metal que compõem esse período europeu, sob a influência do abstracionismo lírico que vigorava na capital francesa naquele momento, que seria uma resposta à action painting nova-iorquina. É acompanhada, ainda, de uma seleção de esculturas e de duas pinturas posteriores a essa fase, quando explorou a topologia das coisas e formas.

 

 

A palavra do curador

 

São trabalhos definitivos para a compreensão da importância de sua contribuição para a arte brasileira. O que se vê no arquivo agora exposto é esse mesmo olhar e os mesmos gestos divagantes, que passam por todas as formas de representação artística, principalmente daquelas que não conhecemos. Manchas, ranhuras, rabiscos e linhas, pulsações das quais saem novas formas sobre o papel e sobre o espaço.

 

Sobre o artista

 

Sérvulo Esmeraldo nasceu em 27 de fevereiro de 1929 no Crato, Ceará. Na infância morou no Engenho Bebida Nova, propriedade rural da família, produtora de açúcar mascavo, aguardente e rapadura. Ainda criança, fez incursões pela modelagem em barro e pequenos trabalhos tridimensionais em madeira de casca de cajá, onde reproduzia paisagens rurais. Aos 13 anos, criou sua primeira xilogravura, “Homem trabalhando com enxada”, impressa na tipografia do jornal A Ação, órgão da diocese. Na década de 60, ganhou uma bolsa de estudos do governo francês para estudar em Paris, na École Nationale Supérieure des Beaux-Arts. Nessa época, passou a morar em Neuilly-Plaisance – onde viveu por quase 20 anos – e conheceu artistas como o argentino Julio Le Parc e o venezuelano Jesús Rafael Soto, que então davam os primeiros passos na chamada Arte cinética. Deixou de se dedicar exclusivamente à gravura e passou a experimentar outras linguagens como o tridimensional e, claro, a arte cinética. Sua série mais conhecida do período é “Excitáveis” – objetos feitos de acrílico, que reagem ao toque do espectador – trabalho que o destacou no cenário da arte cinética internacional. Entre muitas exposições realizadas com sua obra nos últimos anos, destacam-se a retrospectiva “Sérvulo Esmeraldo”, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2011, e a individual “Arquivo vivo de Sérvulo Esmeraldo”, no Instituto de Arte Contemporânea, SP, em 2014, exposição que deu origem à mostra no Instituto Ling, em Porto Alegre. Sérvulo Esmeraldo faleceu em fevereiro de 2017, em Fortaleza. Criou até o seu último momento de vida, pouco antes de completar 88 anos de idade, deixando um legado dos mais inquietantes da arte brasileira dos séculos XX e XXI.

 

Organização: Instituto Ling e Instituto de Arte Contemporânea de São Paulo / Realização: Ministério da Cultura / Governo Federal / Patrocínio: Crown Embalagens

 

 

Até 31 de março de 2018.

Arte Cinética em Curitiba

25/out

A Simões de Assis Galeria de Arte, Curitiba, Paraná, promove até o dia 16 de dezembro a exposição coletiva “Arte Cinética Latino-Americana”.

 

Panorama sobre a arte cinética na América Latina

Felipe Scovino

 

O recorte para essa exposição possui mais uma particularidade além de estarem sendo apresentadas obras de arte cinéticas produzidas por artistas latino-americanos. Outro ponto de inflexão é o fato que o início da produção de arte cinética nas Américas coincide com o processo de modernização de grande parte desse continente. A mostra reúne a produção de três países (Argentina, Brasil e Venezuela) que entre os anos 1950 e 1970 passaram por profundos processos de industrialização, alargamento de políticas de importação, reformas amplas de infraestrutura em seus núcleos urbanos, diferentes práticas de uma arquitetura moderna e um desenvolvimento nunca antes visto na América Latina. Essa política de aporte financeiro e prosperidade – que pode ser exemplificada na construção de Brasília e no Plano de Metas (“50 anos em 5”) de Juscelino Kubitschek, ou na indústria petrolífera venezuelana ou ainda na rica vida cultural de Buenos Aires – possibilita um campo frutífero para as artes. Entre o fim dos anos 40 e o início dos anos 50 no Brasil assistimos a um amplo processo de institucionalização das artes com a fundação dos primeiros museus de arte moderna no Rio de Janeiro e em São Paulo (1948), além do MASP (1947) e da I Bienal de São Paulo (1951). Esta rede institucional permitiu a realização de importantes mostras de artistas internacionais no país, desde Calder a Picasso, passando pela importante mostra Pop na Bienal de 67, assim como possibilitou a emergência de uma nova geração de artistas brasileiros. E é aqui que se encontram os cinéticos. Desde 1950, Palatnik desenvolvia os seus Aparelhos cinecromáticos. O fascínio pelo movimento do jogo de luzes e o aspecto lúdico que o Cinecromático possui não podem mascarar uma importância que é singular nessa obra: não apenas marca o pioneirismo da arte cinética no mundo, mas essa invenção dialoga intensamente com a produção cinética na Europa e na América do Sul, particularmente na Argentina e na Venezuela, assim como amplia o conceito de pintura.

 

Em 1948, Mary Vieira realiza seus Polivolumes, torres vazadas, feitas em alumínio anodizado, formadas por semicírculos móveis em que o espectador, agora transformado em participante, escolhe a posição destes. Essas estruturas são móveis apenas no sentido horizontal. Se nos Aparelhos cinecromáticos e nos Objetos Cinéticos de Palatnik, o movimento e a participação se dão de forma autônoma em relação ao espectador – o que não acontecerá nas suas pinturas de matriz construtiva, a série W apresentada nessa mostra, já que a mobilidade do espectador frente a elas causa uma nova proposta para a ideia de movimento, dinâmica, e confronta a suposta rigidez que uma pintura teria -, os Polivolumes anteciparam de certa forma questões encontradas nos Bichos (1959-1964) de Lygia Clark. Nesses dois últimos exemplos, a obra é o molde para a nossa vontade.

 

O que temos nessa mostra, referindo ao campo de produção da arte brasileira, é a reunião de 4 artistas que tiveram participação fundamental no processo de pensar a simbologia do moderno. Abraham Palatnik, Antonio Maluf, Sérvulo Esmeraldo e Ubi Bava, cada um a seu modo, constituíram uma aproximação entre arte e ciência e pavimentaram a arte cinética no país.

 

No caso Relevo progressivo (série realizada a partir dos anos 1960) de Palatnik, o sequenciamento dos cortes na superfície do material – cartão – cria camadas ou ondas que variam dependendo da profundidade e localização do corte. O uso do papel-cartão leva à execução de ritmos e sinuosidades de grande impacto visual. Relevos também se desmembrou a partir dos anos 1990 na série W. Saiu o cartão ou o metal e entrou a tinta acrílica. O artista pinta telas abstratas que servem como ‘base’ para as futuras pinturas cinéticas. Num segundo estágio, o corte a laser fatia a pintura em réguas finíssimas. Depois, movimentando as varetas do ‘quadro fatiado’ no sentido vertical, ‘desenhando’ o futuro trabalho, o artista constrói um ritmo progressivo da forma, conjugando expansão e dinâmica visual. É importante destacar que o caráter cinético dessas obras se dá pela forma em como o espectador se coloca defronte a obra, isto é, a cada mudança de perspectiva dele, a pintura cria novas percepções e imagens.

 

Antonio Maluf foi o autor do cartaz da I Bienal de São Paulo. Artigo raríssimo em exposições, esse cartaz é um dos marcos do design brasileiro e das experimentações artísticas daquele momento. Os elementos estruturais do desenho, feito em três versões, reiteram e enfatizam o formato retangular do suporte. À medida que são reduzidos, os retângulos se adensam em direção ao centro do papel, projetando uma perspectiva tanto espacial quanto temporal. Todo esse conjunto de elementos é integrado ao formato do cartaz e o movimento das linhas paralelas, em duas cores, resultantes do seu perímetro, permite uma vibrante miragem óptica. Figura e fundo não conseguem diferenciar-se, são alternâncias constantes.

 

Maluf ainda dará início, na década de 1950, à produção das séries Progressões crescentes e decrescentes e Equação dos desenvolvimentos em progressões crescentes e decrescentes, realizadas em guache sobre papel, num primeiro momento, e depois com tinta acrílica sobre madeira. Nesse conjunto percebemos que a linha é transformada, por ilusão óptica, em vibração, o material em energia. Quando o espectador se movimenta diante destas obras, o fundo fragmenta a linha de cores, de modo que ele se apresenta como uma série de pequenos pontos flutuando no espaço. Eis a matemática se metamorfoseando em estruturas vibratórias a serviço de uma nova experiência de mundo para o sujeito. Em Equação dos desenvolvimentos (década de 1980), o artista elimina a dimensão física do quadro, privilegiando as construções gráficas. O exercício cinético, provocado pela repetição em série de estruturas monocromáticas, explora processos perceptivos de criação e recriação da forma (tem-se a sensação de multiplicação de quadrados num regime de tempo e espaço interminável).

 

Na série Homenagem ao espectador, realizada ao longo dos anos 1970, Ubi Bava adotou uma forma de experimentação utilizando superfícies construídas com espelhos ou unidades visuais modulares que captam o ambiente e a imagem do espectador. Os limites do círculo e a sua capacidade de reflexão são as unidades motoras do artista. Ademais, não há a preocupação apenas, como se isso fosse pouco, em experimentar novas capacidades cinéticas e propor a participação do espectador como um sujeito ativo e constituinte da obra, mas também a percepção em construir e organizar um estado pictórico. Esta analogia se faz presente na escolha e na ordem com que compõe os espelhos multicoloridos sobre o acrílico. Há o pensamento de um pintor articulando formas e cores naquela superfície.

 

E737, de Sérvulo Esmeraldo, é um exemplar dos mais importantes da sua icônica série Excitáveis. Produzida a partir de 1964, essa série é formada por caixas-objeto, feitas em acrílico, com elementos movimentados por eletricidade estática gerada pelo espectador quando a superfície da obra é tocada. Esmeraldo resolvia simultaneamente os desafios de fazer uma arte de participação do espectador e de estabelecer uma linguagem cinética sensível. Excitáveis retorna à problemática do acaso: a repetição exata de movimento, por mais complexa que seja, torna-se monótona na ideia do artista. Deve ser exercido algum controle. Isso é geralmente obtido pela descoberta de alguma relação entre os elementos nas caixas que se mantêm constantes no decurso de toda e qualquer variação de movimento. Excitável, aqui, diz respeito à ação de colocar em movimento. Como afirma Matthieu Poirier, “cabe ao espectador a função de carregar negativamente a obra, esfregando vigorosamente a mão na superfície da caixa, fazendo que a tal superfície atraia e tire da inércia as diversas linhas cuja carga é positiva.”[1] Essa ação do espectador desorganiza a ordem pré-estabelecida; o que era razão transforma-se em caos. De forma efêmera, criando um tempo próprio de nova aparição e organização para a obra, o gesto do espectador articula uma poderosa ligação entre arte e ciência, e ainda entre o que existe e não necessariamente é visto a olho nu, como novamente afirma Poirier: “Disfarçada pela impressão unicamente telecinética de produzir o deslocamento de objetos a distância, a obra nos torna conscientes da capacidade motriz das forças elétricas invisíveis que nos circundam e nos constituem” [2].

 

As vanguardas geométricas se estabelecem na Venezuela e na Argentina, respectivamente, com as operações de Alejandro Otero, Carlos Cruz-Diez, Gego e Jesús Rafael Soto e do Grupo Madí. Como afirma o manifesto do grupo argentino feito em 1946:

 

Madí confirma o desejo do homem de inventar objetos ao lado da humanidade lutando por uma sociedade sem classes que libera a energia e domina o espaço e o tempo em todos os sentidos, e a matéria em suas últimas consequências.[3]

 

O terreno para a abstração, particularmente o cinetismo, na Venezuela se deu no começo dos anos 1960. Cruz-Diez segue caminhos que poderíamos chamar de “um espaço extra-pictórico”, muito próximos aos de Soto. Suas obras iniciais lançam a cor ao espaço por meio da luz reflexiva: o fundo da pintura se transformava numa espécie de tela branca, destinada a receber os reflexos de luz. De certa forma, se apoia nessa presença corpórea da obra (e aqui as estruturas vibratórias de Soto entram na discussão) para aprisionar a luz projetada em direção ao espaço, assim como, mais tarde, utilizará meios transparentes para alcançar o maior grau possível de imaterialidade, como são os casos das duas obras apresentadas na mostra. Em Color Aditivo Panam 7 (2010) e Physichromie Panam 226 (2015) observamos que as figuras construídas sobre o plano promovem um contínuo jogo de alternância entre figura e fundo de modo a confundir as suas respectivas fronteiras. Sem dúvida, esse conjunto de retângulos almeja conquistar o espaço. Notem, portanto, as relações frutíferas entre essa qualidade de arte cinética e as práticas de uma arquitetura moderna na América Latina. Vejam os casos do arquiteto venezuelano Carlos Raúl Villanueva, muito próximo a Soto e Cruz-Diez, e também Niemeyer. Ambos tornaram curvas as retas, possibilitando uma outra linguagem e visualidade para o elemento concreto. Sobre a obra de Soto aqui apresentada, é importante dizer que além de colocar em suspenso a tradicional oposição entre figura e fundo, em que não se sabe qual é qual, resultando em uma disposição não mais hierarquizada, o encontro das linhas que atravessam essa obra desperta a geometria lírica desse artista. Eis o fenômeno da vibração – mais que ótica – que este cruzamento provoca. É uma tensão por estarem tais linhas no mesmo plano indicando um “nó espacial, que mesmo Mondrian deixa em suspenso ao eliminá-las em sua última fase” [4]. Há algo de musical, mágico e lúdico nessa obra. O plano se torna ativo ou é constantemente reativo pelo espectador. Daí artistas como Soto e Palatnik se declararem como pintores, apesar da pintura de ambos lidar com elementos tridimensionais. As hastes de Soto alteram discretamente a estabilidade do horizonte, e a escultura com motor de Kosice caminha pelo mesmo interesse. É a própria obra posta em questão, ameaçando os seus limites, experimentando as suas várias possibilidades, de forma intensa. Estava em questão o envolvimento total do espectador e a potencialização de toda a sensorialidade. A repetição e a progressão, causadas pelo acionamento do motor, estão entre os modos possíveis de suscitar uma ultrapassagem em direção ao ilimitado. O mundo é movimento, ou melhor, cinético, estando muito além do estritamente visual. E a obra quer acompanhar este modo de ser e se converte em obra-motor, obra-movimento. Ela entra em dissolução, se refaz no contato com o espectador, diminuindo sua distância com ele e exigindo sua participação. Eis a sua riqueza e contribuição: a obra é o espaço sensorial, ativo e mobilizador da vontade e da consciência do sujeito.

 

Luis Tomasello e Julio Le Parc são dois artistas argentinos de primeira ordem mas que fazem parte da geração seguinte ao do Madí. As obras desse último se caracterizam pelo uso da luz como componente central e como ela pode gerar, conectadas a motores, formas no espaço. Entretanto, nas duas obras do artista que estão na exposição notamos a associação entre luz e cor. A série Modulation destaca o largo potencial de variações cromáticas que a pintura pode oferecer. Tratam-se de obras baseadas em elementos geométricos, que utilizam as reações fisiológicas de percepção ótica. Os movimentos do espectador modificam as imagens que a pintura pode oferecer. Ela deixa de ser algo estritamente estático para nesse campo da interação (claro, guardadas as especificidades de uma interação entre espectador e obra bidimensional) promover a multiplicação das imagens. Já Atmospheres chromoplastiques nº 446 e nº 972 e Objet Plastique nº 897, todas de Tomasello, fazem uso de estruturas em relevo onde a ocupação do espaço tridimensional é o desejo maior. O volume que é dado pelas estruturas em madeira se transforma em fluxo e logo se faz tridimensional. A projeção de sombras sobre as madeiras promove uma espécie de expansão dessas formas. É através de uma economia de elementos que o artista promove uma larga experimentação envolvendo planos ilusórios, expansão das formas no espaço e a relação intrínseca entre luz, cor e forma. Em Atmosphere chromoplastique no508, se instala o conceito da ambiguidade e da desorientação ópticas através de ritmos aleatórios e padrões geométricos. A obra associa uma severa destreza técnica, conservando o rigor construtivo, com a delicada gestualidade de traços que deixam de se articular ao perímetro do quadrado para se dirigirem ao centro do quadro e desaguarem no ilusionismo óptico.

 

Essa é uma exposição de fôlego e muito importante para que tomemos conhecimento sobre a produção cinética nesses 3 países e os laços e as diferenças que podem ser analisados quando essas obras ocupam o mesmo espaço. Assinalo que os artistas dessa mostra não foram considerados de vanguarda apenas em seus respectivos países mas no mundo. A produção cinética latino-americana é uma das mais respeitadas no âmbito crítico e institucional, afirmando a qualidade e a pertinência desses artistas.

 

[1] POIRIER, Matthieu. Os Excitables de Esmeraldo ou cinetismo em viveiro. In: AMARAL, Aracy (org). Sérvulo Esmeraldo. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2011, p. 119-121.

[2] Idem, p. 121.

[3] Cf. QUINN, Arden; KOSICE, Gyula. Manifesto Madí. In: AMARAL, Aracy A. (org). Projeto construtivo brasileiro na arte: 1950-1962. Rio de Janeiro: MAM; São Paulo: Pinacoteca do Estado, 1977, p. 62-64.

[4] VENANCIO FILHO, Paulo. Soto: a construção da imaterialidade. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2005.

Modernismo Brasileiro em Portugal

20/out

O museu mais visitado de Portugal e um dos 100 mais visitados do mundo, segundo a The Art Newspaper, publicação internacional especializada em arte contemporânea, recebe exposição com 76 obras pertencentes à Coleção da Fundação Edson Queiroz, de Fortaleza, CE, de 27 de outubro de 2017 a 11 de fevereiro de 2018. O Museu Coleção Berardo, em Lisboa, apresentará seleção das mais expressivas obras criadas por artistas brasileiros entre as décadas de 1920 e 1960. Com curadoria de Regina Teixeira de Barros e projeto expográfico de Daniela Alcântara, a mostra “Modernismo Brasileiro na Coleção da Fundação Edson Queiroz” faz parte da itinerância com exposições já realizadas na Pinacoteca de São Paulo; na Casa Fiat, em Belo Horizonte; na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre; no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba; e na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro.

 

 

A coleção na mostra

 

Ao longo dos últimos 30 anos, a Fundação Edson Queiroz (FEQ), mantenedora da Universidade de Fortaleza (Unifor), constituiu uma das mais sólidas coleções de arte brasileira, que percorre cerca de quatrocentos anos de produção artística com obras significativas de todos os períodos. Em 2015, a FEQ começou exposição itinerante por todo o Brasil, passando por São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Rio de Janeiro. A exposição dá a oportunidade para que mais pessoas conheçam um dos acervos de artes visuais mais importantes do Brasil, uma forma de disseminar e democratizar o acesso às artes. O tema da exposição “Modernismo Brasileiro na Coleção da Fundação Edson Queiroz” proporciona uma aproximação com as diversas vertentes, influências e movimentos da arte brasileira do início do século XX. “O recorte escolhido pela curadora possibilita também fazer as mais diversas associações entre a trajetória de nossos artistas e o contexto histórico e artístico internacional. Essas foram décadas marcadas por profundas mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais em todo mundo”, frisa o vice-reitor de extensão da Unifor, professor Randal Pompeu.

 

No Museu Coleção Berardo, um dos destaques será a obra “Duas Amigas”, de Lasar Segall, pintura referencial da fase expressionista do artista. Por um lado, Segall emprega cores não realistas, imbuídas de valor simbólico, por outro, lança mão de princípios cubistas, simplificando as figuras por meio de planos geometrizados. A exposição percorre também os chamados anos heroicos do modernismo brasileiro, apresentando obras de Anita Malfatti, Antônio Gomide, Cícero Dias, Di Cavalcanti, Ismael Nery, Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret.

 

A segunda geração modernista, que desponta na década de 1930, está representada por artistas como Alberto da Veiga Guignard, Cândido Portinari, Ernesto De Fiori e Flávio de Carvalho. Deste período, merecem destaque as obras de Alfredo Volpi e José Pancetti que, além de comparecerem com um número significativo de obras na Coleção da FEQ, estabelecem uma transição entre a pintura figurativa e a abstração, apresentada na sequência.

 

O núcleo da exposição dedicado à abstração geométrica – tendência que desponta nos últimos anos da década de 1940 e se consolida na década de 1950 – abrange pintores do grupo Ruptura, de São Paulo, e artistas dos grupos Frente e Neoconcreto, ambos do Rio de Janeiro. Alguns dos nomes presentes nesse segmento são: Amilcar de Castro, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Hércules Barsotti, Luiz Sacilotto, Lygia Clark e Willys de Castro, entre outros. Dois pioneiros da arte cinética participam deste segmento: Abraham Palatnik, com um objeto cinético, e Sérvulo Esmeraldo, com um “Excitável”.

 

Para a curadora Regina Teixeira de Barros, as histórias que delineiam a vizinhança física dos trabalhos artísticos das obras proporcionam diversas possibilidades, uma vez que muitas são as opções apresentadas a um só tempo. “O olhar pode vagar de uma pintura a outra, pendurada ao lado, instalada na parede oposta ou entrevista na sala seguinte. De uma única obra, podem-se desdobrar múltiplas narrativas, que se entrecruzam, se espelham, se confundem ou se confrontam à medida que o olhar avança, retrocede, salta ou recomeça”, ressalta.

 

A exposição encerra com a produção das décadas de 1950 e 1960, revelando uma diversidade de expressões artísticas, tão evidentes nas obras de Ivan Serpa, Tomie Ohtake e Iberê Camargo, quanto nas proposições radicais de artistas que haviam participado do movimento neoconcreto carioca. Trata-se do momento em que uma completa revisão de paradigmas se opera e a arte nacional toma novos rumos, aproximando-se da chamada arte conceitual. A exposição reúne ainda uma seleção de artistas que não aderiram a nenhum grupo da época, mas que adotaram uma linguagem abstrato-geométrica singular, mesclando-a com certo lirismo. Destacam-se, nessa seção, os pintores Antônio Bandeira, Maria Helena Vieira da Silva e Maria Leontina.

Fiaminghi no IAC

28/mar

Inaugurando o calendário do ano, o IAC, Instituto de Arte Contemporânea, Vila Mariana, São Paulo, SP, apresenta mais uma ação de seu Grupo Experimental de Curadoria, “Fiaminghi – Pensamentos compostos”, dando continuidade ao programa de exposições que busca divulgar o acervo da instituição, constituído por importantes arquivos de artistas brasileiros.

 

Esta exposição reúne um expressivo número de obras e documentos entre desenhos, esboços, projetos, produtos gráficos e estudos realizados por Hermelindo Fiaminghi (São Paulo, 1920 – 2004), desde os anos 1950 até a década de 1990. Dos desenhos e projetos, passando por suas experiências junto ao Grupo Ruptura, a produção em têmpera e os offsets dos anos 1970, a exposição traz um importante panorama da obra de Fiaminghi, ao mesmo tempo em que apresenta aspectos de seu pensamento visual e modo de produção.

 

Com uma obra plástica marcada pela forte influência de suas experiências profissionais como litógrafo da indústria gráfica e como publicitário, a mostra revela aspectos fundamentais das soluções poéticas encontradas pelo artista. A imagem fotográfica tem papel crucial nas questões sobre cor e sua relação com a luz. O artista passa a denominar de corluz a produção na qual utiliza, de maneira extremamente original e criativa, a presença dos fotolitos e das provas gráficas, acentuando os efeitos criados por uma enorme ampliação das retículas.

 

Fiaminghi, junto com outros artistas, aderiu ao Grupo Ruptura em 1955 e ajudou a organizar, em 1956, a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta. Sobre esse período, o próprio Fiaminghi afirma que somente na 3ª Bienal de São Paulo se deu conta – devido à crítica que o enquadrou na arte concreta – de que ele era um artista concreto. Foi nessa época que buscou descobrir do que se tratava esse tipo de arte e quais seus pressupostos. Ao refletir sobre essa fase, o artista afirmou que “O quadro concreto começa quando você chega. (…). Na arte concreta a coisa é limpa, é clara! O que você está vendo, é!”

 

 

Sobre o artista

 

Hermelindo Fiaminghi nasceu em São Paulo em 1920. Tornou-se conhecido como pintor e desenhista, mas também atuou profissionalmente como publicitário, litógrafo e artista gráfico. Suas experiências profissionais, em todas essas áreas correlatas, influenciaram mutuamente sua pesquisa imagética. No Liceu de Artes e Ofícios, foi aluno entre 1936 e 1941, onde estudou com Waldemar da Costa. Trabalhou em várias empresas de publicidade e, também, na indústria gráfica. Participou das mudanças iniciadas pelos movimentos construtivos e aderiu ao Grupo Ruptura. Nesse âmbito, atuou junto aos poetas concretos, desenvolvendo o projeto gráfico de vários poemas.

 

Frequentou o atelier de Alfredo Volpi de 1959 a 1966. Junto com Cordeiro, Féjer, Mauricio Nogueira Lima e Décio Pignatari, fundou, em 1958, o Atelier Livre do Brás. Ali desenvolveu a série virtuais, considerada como uma passagem da produção construtiva, vinculada aos pressupostos concretos, para uma pesquisa na qual começa um trabalho de desconstrução, tornando suas formas e o uso de cores e do espaço menos rígidas. A partir dos anos 1960, passa a nomear parte importante de sua produção com o uso adaptado do termo corluz. Nessa fase, utiliza retículas na forma de fotolitos e o offset por meio do sistema CMYK de cores, no qual cada cor é impressa separadamente. Por outro lado, nessa mesma década, começa a trabalhar com têmpera e, nela, da mesma forma, privilegia os estudos com a cor.

 

O artista expôs em várias Bienais Internacionais de São Paulo, em exposições individuais e coletivas e sua obra faz parte de importantes coleções públicas e privadas no Brasil e no exterior. Além disso, atuou como professor, júri e membro de conselhos. Faleceu em 2004 também na cidade de São Paulo. Desde 2017, o Instituto de Arte Contemporânea abriga seu arquivo pessoal.

 

 

Sobre o Grupo Experimental de Curadoria do IAC

 

Já pela segunda vez, o Instituto de Arte Contemporânea abre espaço para que o processo curatorial – das coleções e das exposições – seja colocado em questão por meio do envolvimento de distintos personagens e, portanto, de múltiplos olhares sobre seu acervo. A criação do Grupo Experimental de Curadoria envolveu, na preparação da exposição “Fiaminghi – Pensamentos compostos”, formações conceituais diferenciadas em uma elaboração final coletiva. O processo de conhecimento do arquivo pessoal de Hermelindo Fiaminghi tem sido bastante rico: seus desenhos, gravuras, fotolitos, offsets, pinturas, fotografias, projetos, estudos, revelam-se de maneira inusitada, a cada novo olhar. Trabalhar em conjunto e contar com diversas consultorias tem sido um processo complexo e bastante afinado com a própria produção de Fiaminghi que foi um pesquisador incessante e que, a partir de um certo momento, compreendeu – e nos deu a conhecer – sobre a importância fundamental da des-construção para a compreensão da arte como manifestação. Suas despaisagens e desretratos são ‘apenas’ mais uma faceta dessa personalidade inquieta e riquíssima que, agora, o Grupo Experimental de Curadoria do Instituto de Arte Contemporânea apresenta ao seu público.

 

 

Sobre o IAC

 

O Instituto de Arte Contemporânea – IAC, entidade cultural sem fins lucrativos, foi criado com a finalidade principal de preservar documentos e difundir a obra de artistas brasileiros de tendência construtiva. Os arquivos destes artistas, entre eles Willys de Castro, Sérgio Camargo, Amilcar de Castro (em parceria com o Instituto Amilcar de Castro), Sérvulo Esmeraldo, Luis Sacilotto, Lothar Charoux e, mais recentemente, Hermelindo Fiaminghi têm na instituição um espaço próprio para a exposição e pesquisa com documentação arquivística, bibliográfica e museológica, armazenada em banco de dados específico. Os acervos têm finalidade de pesquisa e divulgação da obra dos artistas por meio do trabalho com seus documentos preparatórios (cartas, agendas, esboços etc.). Assim, podem ser usados em exposições internas ou cedidos a outras instituições, em publicações, em estudos e quaisquer outros usos de caráter cultural e/ou acadêmico.

 

O IAC pesquisa, coleta, organiza e disponibiliza quaisquer fontes de informação sobre os artistas relacionados em seu acervo e, através de uma interface online, permite que pesquisadores de qualquer parte do mundo acessem seu banco de dados. Promover ações educativas e intercâmbios culturais com museus e instituições com a mesma linguagem em outros países também estão entre os objetivos da instituição. Desde julho de 2011, o IAC funciona no primeiro andar do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, na Vila Mariana.

 

 

Até 01 de julho.

Coleção Fundação Edson Queiroz

24/mar

A Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “VIRAGENS: arte brasileira em outros diálogos na coleção da Fundação Edson Queiroz”. Construída há mais de três décadas com obras de variados períodos da arte brasileira, esta coleção caracteriza-se por ser uma das mais importantes do país, e encontra-se sediada na Universidade de Fortaleza, no Ceará. Curadoria de João Paulo Quintella, Laura Consendey, Marcelo Campos e Pollyana Quintella e expografia de Helio Eichbauer.

 

A proposta é construir diálogos múltiplos que perpassam alguns capítulos da arte brasileira com obras desde 1913, como a emblemática pintura de Lasar Segall, “Duas amigas”, até os anos 1980. A exposição é constituída por núcleos que apresentam abordagens mais amplas do que os convencionais movimentos e cronologias da história da arte, identificando obras que se relacionam às discussões da forma, aos referenciais da cultura, aos interesses psicológicos e a outros atravessamentos possíveis, observando não só a influência de um artista sobre seus sucessores, mas, antes, as evidências de que arte e sociedade são indissociáveis.

 

Dentre os 43 artistas participantes, constam nomes como Abraham Palatnik, Alfredo Volpi, Amilcar de Castro, Anita Malfatti, Antonio Bandeira, Antonio Gomide, Bruno Giorgi, Candido Portinari, Cícero Dias, Danilo Di Prete, Emiliano Di Cavalcanti, Ernesto de Fiori, Flávio de Carvalho, Frans Krajcberg, Franz Weissmann, Guignard, Hélio Oiticica, Hercules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Iberê Camargo, Ione Saldanha, Ismael Nery, Ivan Serpa, José Pancetti, Judith Lauand, Lasar Segall, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, Lygia Clark, Maria H. Vieira da Silva, Maria Leontina, Maria Martins, Maurício Nogueira de Lima, Milton Dacosta, Mira Schendel, Rubem Valentim, Samson Flexor, Sérgio Camargo, Sérvulo Esmeraldo, Tomie Ohtake, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret e Willys de Castro.

 

A exposição também prevê um ciclo de falas com pesquisadores voltados para as questões da arte moderna brasileira.

 

 

De 25 de março a 25 de junho.

Tudo Joia

08/nov

A exposição “Tudo Joia” tem por conceito apresentar um recorte da produção de artistas do século XX que, por intenções diversas, conceberam e concebem suas criações tendo o corpo como suporte do pensamento artístico. Sob a curadoria da Bergamin & Gomide, com a colaboração do antiquário Rafael Moraes, a exposição poderá ser vista até 26 de novembro, na Galeria Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP. A expografia da mostra traz a assinatura da arquiteta Marieta Ferber.

 

Em exibição cerca de 60 peças entre criações modernistas como as de Di Cavalvanti e Burle Marx, as contemporâneas de Antonio Dias e Roy Lichtenstein com sua exuberante Pop Art, até aqueles que estão criando pela primeira vez, exclusivamente para a mostra. Ao todo, cerca de 40 artistas participam com trabalhos em prata, ouro e outros materiais nobres. Contudo, a diversidade do elenco também trouxe peças diversas e, acima de tudo, atemporais.

 

Para Antonia Bergamin, à frente da galeria e uma das curadoras da mostra, essa exposição é um momento especial. “Eu queria mostrar também um lado da produção dos artistas que poucos conhecem. De uma maneira forte “Tudo Joia” é uma exposição para os curiosos. Muitos artistas que conhecemos e admiramos em algum momento se aventuraram nos desenhos de objetos usáveis e poucos ficam sabendo, pois é algo pontual e experimental. A exposição é uma oportunidade de ver essas peças reunidas e entender como elas se relacionam com o resto da produção do artista”, conclui Antonia.

 

Cildo Meireles, em sua pesquisa da série “Arte Física”, criou um anel em prata, terra, ônix, ametista e safira. Sônia Gomes apresenta suas joias em tecido bordado, inquietando-nos com seu barroco contemporâneo. As joias de Di Cavalcanti foram executadas em parceria com o joalheiro Lucien Finkelstein no Rio de Janeiro: um anel e um pingente feitos em ouro e esmalte.

 

Roberto Burle Marx introduziu seu pensamento paisagístico no desenho de joias, revolucionando a joalheria brasileira com colares, pulseiras, broches e anéis em ouro e prata, adornados com pedras em lapidação livre. Tais peças foram desenvolvidas na joalheria que pertencia aos irmãos Roberto e Haroldo Burle Marx. Nessa época, geralmente as joias eram feitas com ouro e pedras brasileiras. As que serão apresentadas na mostra, foram lapidadas seguindo as fibras naturais da própria pedra e em formatos orgânicos, presente no trabalho de paisagismo do artista. Um broche em ouro, um anel em ouro e turmalina e um conjunto de colar e brincos em ouro e turmalina, trazem à cena o joalheiro Burle Marx.

 

Além dos já citados, outros importantes nomes como Ron Arad, Arman, Miquel Barcelo, Anna Bella Geiger, Alighiero Boetti, Paloma Bosquê, Celio Braga, Pedro Cabrita Reis, Waltércio Caldas, Alexander Calder, Sergio Camargo, Enrico Castellani, Carlos Cruz-Diez, Alexandre da Cunha, José Damasceno, Amilcar de Castro, Michael Dean, Wesley Duke Lee, Servulo Esmeraldo, Fernanda Gomes, Jenny Holzer, Rebecca Horn, Ilya and Emilia, Kabakov, Anish Kapoor, Jannis Kounellis, Nelson Leirner, Tonico Lemos Auad, Atelier Van Lieshout, Renata Lucas, Marepe, Beatriz Milhazes, Tatsuo Miyajima, François Morellet, Mariko Mori, Ernesto Neto, Nazareth Pacheco, Artur Luiz Piza, José Resende, David Shrigley, Regina Silveira, Edgard de Souza, Tiago Tebet, Amelia Toledo, Tunga, Giorgio Vigna, Ai Weiwei, Sonia Gomes e Rubens Gerchman, entre outros, compõem a exposição.

Coleção Fundação Edson Queiroz na FIC

23/jun

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, apresenta uma seleção de 76 das mais expressivas obras criadas por artistas brasileiros entre as décadas de 1920 e 1960. A exposição “Arte Moderna na Coleção da Fundação Edson Queiroz” ocupa o terceiro e o quarto andar da instituição com 19 obras a mais do que foi apresentado em São Paulo e Belo Horizonte. Da capital gaúcha, a mostra encerrará a sua itinerância no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, onde permanecerá de 27 de outubro a 26 de fevereiro de 2017.

 

Ao longo dos últimos 30 anos, a Fundação Edson Queiroz, FEQ, sediada em Fortaleza, CE, constituiu uma das mais sólidas coleções de arte brasileira, que percorre cerca de quatrocentos anos de produção artística com obras significativas de todos os períodos. Na Fundação Iberê Camargo – nesta etapa com curadoria da historiadora de arte Regina Teixeira de Barros -, o percurso inicia com “Duas Amigas”, pintura referencial de Lasar Segall, e exibe o modernismo brasileiro através de obras de Anita Malfatti, Antônio Gomide, Cícero Dias, Di Cavalcanti, Ismael Nery, Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret.

 

A segunda geração modernista, que desponta na década de 1930, está representada por Alberto da Veiga Guignard, Cândido Portinari, Ernesto De Fiori e Flávio de Carvalho. Deste período, destacam-se as obras de Volpi e Pancetti que, além de comparecerem com um número significativo de obras na Coleção da FEQ, estabelecem uma transição entre a pintura figurativa e a abstração, apresentada na sequência.

 

O núcleo da exposição dedicado à abstração geométrica – tendência que desponta nos últimos anos da década de 1940 e se consolida na década de 1950 – abrange pintores do grupo “Ruptura”, de São Paulo, e artistas dos grupos “Frente” e “Neoconcreto”, ambos do Rio de Janeiro. Alguns dos nomes presentes nesse segmento são: Amilcar de Castro, Franz Weissmann, Hélio Oiticica, Hércules Barsotti, Luiz Sacilotto, Lygia Clark e Willys de Castro, entre outros. Dois pioneiros da arte cinética participam deste segmento: Abraham Palatnik, com um objeto, e Sérvulo Esmeraldo, com um “Excitável”. A exposição reúne ainda uma seleção de artistas que não aderiram a nenhum grupo, mas que adotaram uma linguagem abstrato-geométrica singular. Destacam-se, nessa seção, os pintores Antonio Bandeira, Maria Helena Vieira da Silva e Maria Leontina.

 

A última sala da mostra é consagrada à abstração informal e encerra a exposição com a pintura “Vermelho e Preto”, assinada por Iberê Camargo em 1968, criando um vínculo entre “Arte moderna na Coleção da Fundação Edson Queiroz” e a Fundação Iberê Camargo.

 

 

 

A palavra da curadora

 

“Ao longo dos últimos 30 anos, a Fundação Edson Queiroz, sediada em Fortaleza, vem constituindo uma das mais sólidas coleções de arte brasileira do País. Das alegorias dos quatro continentes, pintadas no século XVII, à arte contemporânea, a coleção reunida pelo chanceler Airton Queiroz percorre cerca de quatrocentos anos de produção artística com obras significativas de todos os períodos.
A exposição “Arte moderna na Coleção da Fundação Edson Queiroz” traz um recorte circunscrito no tempo desse precioso acervo, destacando um conjunto de obras produzidas entre 1920 e 1960 tanto por artistas brasileiros quanto por estrangeiros residentes no País. A mostra abre com Duas amigas, pintura referencial da fase expressionista de Lasar Segall e, em seguida, apresenta trabalhos dos chamados anos heroicos do modernismo brasileiro, em que as tentativas de renovação formal estão em pauta.
Paralelamente à modernização da linguagem, alguns artistas dessa geração também se interessaram pela busca de imagens que refletissem uma identidade do e para o Brasil. No século XX, o debate nacionalista girava em torno da recuperação de elementos nativos, anteriores à colonização europeia, somados à miscigenação racial, fator que passa a ser considerado decisivo na formação do povo brasileiro.
As décadas de 1930 e 1940 foram marcadas por uma acomodação das linguagens modernistas. As experimentações cedem lugar a um olhar para a arte do passado e, nesse momento, surgem “artistas-professores”, como Ernesto de Fiori, Alberto da Veiga Guignard e Alfredo Volpi, que se tornariam referenciais para seus contemporâneos e para gerações vindouras. Desse período, merecem destaque trabalhos de Alfredo Volpi e José Pancetti que, além de comparecerem com um número significativo de obras na Coleção da Fundação Edson Queiroz, estabelecem uma transição entre a pintura figurativa e a abstração, apresentada na sequência.
O núcleo da exposição dedicado à abstração geométrica – tendência que desponta nos últimos anos da década de 1940 e se consolida na década de 1950 – abrange pintores do Grupo Ruptura, de São Paulo, e artistas dos Grupos Frente e Neoconcreto, ambos do Rio de Janeiro. A exposição reúne ainda uma seleção de artistas que não que aderiram a nenhum grupo, mas que adotaram uma linguagem abstrato-geométrica singular, mesclando-a com certo lirismo.
A última sala é consagrada à abstração informal, e a exposição se encerra com uma pintura de Iberê Camargo, criando mais um vínculo entre “Arte moderna na Coleção da Fundação Edson Queiroz” e a instituição que a abriga”.

Regina Teixeira de Barros

 

De 24 de junho a 16 de outubro.

Sérvulo Esmeraldo/ Traço volume espaço

17/jun

O artista plástico Sérvulo Esmeraldo retorna a São Paulo para ocupar o térreo da galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, com obras executadas em 2015, ano seguinte à exposição de parte de seu arquivo pessoal apresentada no IAC-Instituto de Arte Contemporânea, responsável por este acervo que registra, sobretudo, processos de criação. Um dos artistas brasileiros de maior destaque pelo caráter inovador de sua obra, Esmeraldo, 86 anos, continua o inventor de sempre: firme, atento, certeiro. A presente exposição é a evidência do frescor e da vitalidade de uma produção que, embora madura, continua pulsante. Completa a exposição uma série de 10 desenhos realizados em 2015 especialmente para a presente mostra. Caligráficos, eles são o traço que trata do volume e do espaço.

 

 

Na abertura da exposição foi lançado o livro “Sérvulo Esmeraldo – A Linha e a Luz”, com organização de Dora Freitas e Sílvia Furtado, publicado pela Lumiar Comunicação. A obra reúne anotações e escritos de várias décadas do artista em torno de seu trabalho, além de estudos e obras.

 

 

Com 27 trabalhos – 10 esculturas, 07 relevos e 10 desenhos -, sendo 22 inéditos, “Traço Volume Espaço” traz uma síntese da produção do artista partindo de 1978 até 2015. A escolha dos trabalhos pontua de certo modo o seu retorno ao Brasil, no final dos anos 1970, após os 22 anos em que viveu na França. É nesta fase que o artista redescobre a volúpia do clima tropical brasileiro, e se deixa seduzir pela luz natural de Fortaleza, cidade em que vive e trabalha desde então.

 

 

Um dos destaques da mostra é a escultura de grande formato “Discos”, projetada em 1978, que será exposta a céu aberto, no jardim da galeria. Evocando a excelência e o alto rigor construtivo do artista, a obra é composta por dois discos acoplados, em aço pintado em preto e branco, recortando com precisão círculos e semicírculos que impressionam pela coerência geométrica e leveza. Outras duas esculturas de composições móveis, em médio formato – Sem Título (1997-2015), com três discos, e Sem Título (1981-2015), composta por dois prismas – trabalham a ocupação do espaço, interesse constante em sua obra. Completam o núcleo escultórico cinco peças em formatos piramidais e prismáticos, projetadas em 1981 e agora realizadas, que evidenciam a ousadia tropical de Sérvulo, que as pintou em cores vibrantes e luminosas.

 

 

Ao contrário das esculturas, os relevos expostos são obras do artista maduro. O mais antigo, o “Cilindros Parabólicos” (projetada em 2001), da série “Teoremas”, foi realizado especialmente para a presente exposição. As obras dessa famosa série de Sérvulo são mais do que simples evocações poéticas de demonstrações matemáticas. “São apropriações de diagramas de teoremas matemáticos da antiguidade e da modernidade que, despojados de suas referências algébricas, tornam-se imagens sensíveis de ideias abstratas”, aponta o crítico Fernando Cocchiarale. Os demais relevos, em aço, têm contorno e estrutura na linha e podem ser compreendidos como desenhos no espaço. Dois deles são grandes volumes transparentes.

 

 

 

Sobre o artista

 

 

Sérvulo Esmeraldo, nasceu em Crato, CE, vive e trabalha em Fortaleza. Escultor, gravador e desenhista, iniciou-se profissionalmente no final da década de 1940, frequentando o ateliê livre da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), em Fortaleza. Transferiu-se para São Paulo em 1951. O trabalho temporário na Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) nutriu seu interesse pela matemática e repercutiu em seu futuro: em 1957, trabalhando como xilógrafo e ilustrador do Correio Paulistano, expôs individualmente no Museu de Arte Moderna de São Paulo uma coleção de gravuras de natureza geométrica construtiva. O refinamento do seu trabalho foi decisivo para a obtenção da bolsa de estudos do governo francês que o levou, no mesmo ano, para uma longa estada na França. Em Paris, frequentou o ateliê de litogravura da École Nationale des Beaux-Arts e estudou com Johnny Friedlaender. Na década de 1960 dedicou-se à projetos movidos a motores, ímãs e eletroímãs. Utilizando-se apenas da magia da eletricidade estática chegou à série de “Excitables”, trabalho que o particularizou na arte cinética internacional. Em 1977 iniciou o retorno à terra natal, trabalhando em projetos de arte pública que incluíam esculturas monumentais na paisagem urbana de Fortaleza, cidade para onde se mudou em 1980 e que hoje abriga cerca de quarenta obras de sua autoria. Foi o idealizador e curador da Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras (Fortaleza, 1986 e 1991). Com diversas exposições realizadas e participação em importantes salões, bienais e outras mostras coletivas na Europa e nas Américas (Realité Nouvelle, Salon de Mai, Bienale de Paris, Trienal de Milão, Bienal Internacional de São Paulo, entre outras), sua obra está representada nos principais museus do país e em coleções públicas e privadas do Brasil e exterior. Em 2011, a Pinacoteca do Estado de São Paulo organizou importante retrospectiva da obra do artista.

 

 

 

Até 01 de agosto.