Símbolos nacionais

06/jun

 

 

No ano em que se comemora o bicentenário da Independência do Brasil, a Galeria Movimento, Gávea, Rio de Janeiro, RJ,  apresenta a partir do dia 09 de junho, das 18h às 21h, a exposição “Re-Utopya”, primeira grande individual do artista Hal Wildson, nascido em 1991 no Vale do Araguaia, região de fronteira entre Goiás e Mato Grosso, com obras em diferentes suportes que fazem uma revisão crítica da história de nosso país. Os trabalhos, recentes e inéditos, mostram as várias séries que compõem a pesquisa poética a que o artista se dedica, onde memória, esquecimento, identidade e a palavra são suas ferramentas para pensar em um futuro possível para o país, e para o povo brasileiro, “ainda em formação”. Símbolos nacionais, máquina de escrever, digitais, primeiros registros históricos do povo brasileiro são usados nas obras em exposição, que tem texto crítico do artista e curador Divino Sobral.

 

Atualmente morando em São Paulo, Hal Wildson é conhecido principalmente por seu trabalho com imagens criadas a partir de uma datilografia extrema, e sua obra “República da Desigualdade – Meritocracia seja Louvada” (2018-2020) foi vista em rede nacional na abertura do documentário especial “Mães do Brasil”, produzido pela Favela Filmes e KondZilla Filmes, com direção de  Kelly Castilho e John Oliveira, e exibida pela Globo em dezembro. Naquele trabalho, imagens de arquivos nacionais de trabalhadores brasileiros, fotografias autoriais e registros da infância do artista são plasmadas em notas de “zero real”.

 

Um vídeo poético, feito durante o processo de criação da obra “Singularidades” (2020/2022), viralizou, e alcançou a marca de mais de cinco milhões de visualizações no Instagram, sendo compartilhado também por artistas, como Vik Muniz.

 

Vik Muniz, “Fotocubismo”

19/nov

 

 

Vik Muniz inaugurou a exposição “Fotocubismo”, na Galeria Nara Roesler, Jardim Europa, São Paulo, SP. Resultado de uma longa pesquisa em torno de clássicos do Cubismo, através de obras de mestres como Picasso, Braque e Juan Gris, esse conjunto de trabalhos revela como aspectos relacionados à memória, às ambiguidades da representação imagética e a rica inter-relação entre diversos meios de expressão constituem a base sobre da produção atual do artista. Na sequência, em 08 de dezembro, será lançado “Epistemas”, livro sobre sua produção mais recente, apresentando aspectos diversos de sua trajetória. Edição com textos do artista, da crítica – e curadora da mostra – Luísa Duarte, e do cientista e escritor inglês Phillip Ball. A obra aborda pontos vitais da reflexão conceitual e formal do artista, que há quase quatro décadas investiga “essa zona híbrida, habitada pelas contradições entre percepção visual e o mundo físico”. Editada pela Nara Roesler Livros, a publicação faz parte da vertente Recortes, focada em aspectos específicos da carreira ou obra do artista, e tem patrocínio da Turim.

Vik Muniz na Paulo Darzé

27/jun

Vik Muniz é artista plástico, fotógrafo e pintor, conhecido internacionalmente por usar materiais inusitados em suas obras, como lixo, açúcar e chocolate. Pela primeira vez na Bahia, não só com uma individual, apresentando a criação de novas obras, a exposição Handmade retoma caminhos e procedimentos que já havia trilhado no passado, investigando de forma aguda e sintética a tênue fronteira entre realidade e representação, entre o objeto original e sua cópia. A abertura acontece no dia 04 de julho, das 19 às 22 horas, na Paulo Darzé Galeria, Salvador, Bahia, com temporada até 10 de agosto.

 

No dia 05 de julho, o artista abre uma nova mostra no Museu de Arte Moderna, Solar do Unhão, sob o título Imaginária, trabalhos criados a partir de milhares de recortes de catálogos de exposições, onde revisita a arte sacra, através das figuras dos santos. “Os santos, exemplos de pessoas que colocaram a sua fé acima da própria vida, sempre exerceram um enorme fascínio nas mentes artísticas. Não é por coincidência que a história da arte esteja tão relacionada à história da fé. Grande parte do que admiramos na história da arte está objetivamente relacionada à arte sacra e, subjetivamente, ao ato de acreditar. Eu, como artista contemporâneo, sempre ansiei compartilhar os temas que tanto colaboraram para o desenvolvimento da cultura das imagens”.

 

HANDMADE

 

O público não verá em Handmade obras realizadas a partir de imagens conhecidas, tampouco referências a materiais mundanos – aspectos comuns no trabalho do artista. Vik alude nesta mostra à vasta tradição da arte abstrata, destilando para isso suas fórmulas básicas na criação de maneiras inusitadas de meditar sobre a imagem e o objeto, sobre a ambiguidade dos sentidos e a importância da ilusão, onde traça a constante preocupação do artista em transcender as dimensões simbólicas da imagem. Além da paradoxal relação entre imagem e objeto e do recorrente uso de estratégias ilusionistas – “A ilusão é um requisito fundamental de todo tipo de linguagem”, diz, “esses trabalhos flertam com a arte conceitual e estabelecem um intenso diálogo com a arte abstrata, cinética e concreta. Sobretudo, pelo interesse comum em relação às teorias da Gestalt, mais especificamente nos campos da psicologia e da ciência”. Repetição, ritmo, profundidade, espaçamento, uso das cores primárias ou gradações sutis de cinza e preto estão entre as questões caras à abstração e que compõem o alfabeto com o qual Vik lida em Handmade. Mas vai, além disso, ao lançar mão do vocabulário construtivo para mais uma vez colocar em questão o estatuto da imagem no mundo contemporâneo. “A exposição mostra um artista diferente e que sou eu ao mesmo tempo”, conclui.

 

Handmade explora a natureza da percepção, da realidade e da representação, e desafia questões de materialidade. As obras de Handmade remetem aos princípios fundamentais da arte abstrata propriamente dita – cor, composição, forma e ritmo – e se servem de conexões com movimentos da arte abstrata, como a op art, a arte conceitual e o construtivismo. As obras são excepcionalmente ricas em alusões, exigindo dos espectadores o direcionamento da atenção para os próprios materiais e os levando a refletir sobre o seu processo de criação. Como sugere o título da série, estas obras únicas são resultado de um processo híbrido que integra elementos artesanais ou físicos – sobretudo pintura e colagem – com fotografia digital de alta resolução. Estes estudos abstratos e materiais convidam o espectador a investigar mais de perto a dicotomia entre o objeto físico e sua representação, e, ao mesmo tempo, reinventam as possibilidades de construção da imagem fotográfica. A complicada relação imagem-objeto ressaltada nestas obras funciona sempre nos dois sentidos. O que se espera que seja uma foto não é; e o que se espera que seja um objeto é uma imagem fotográfica. Numa época em que tudo é reproduzível, a diferença entre a obra e a imagem da obra quase não existe. Os resultados da investigação e da experimentação são complexas composições, cada obra individual apresentando combinações de diferentes técnicas – papel e papelão são pintados, recortados e organizados em uma superfície, e em seguida são fotografados para poderem ser manipulados novamente. Depois são reorganizados e fotografados de novo, criando, assim, múltiplas camadas de volume, sombras e planos pictóricos. As formas geométricas simples e as cores primárias criam uma tensão e uma impressão de movimento dinâmico. Ao criar diferentes camadas que revelam elementos subjacentes e suas fotografias, inventa-se uma verdadeira trompe-l’œil onde os objetos e seus correspondentes fotográficos se entrelaçam em um jogo visual de ilusões.

 

Sobre o artista

 

Vik Muniz (Vicente José de Oliveira Muniz) nasceu em São Paulo, no dia 20 de dezembro de 1961. Formou-se em Publicidade na Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, em São Paulo. Em 1983, mudou-se para Nova Iorque. Atualmente vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Nova York. Vik Muniz iniciou sua carreira artística ao chegar à Nova York em 1984, realizando sua primeira exposição individual em 1988. A partir desta data, começou a desenvolver trabalhos que faziam uso da percepção e representação de imagens usando diferentes técnicas, a partir de materiais como o açúcar, chocolate, catchup, gel para cabelo e lixo. Naquele mesmo ano, criou desenhos de fotos que memorizou através da revista americana Life. Fotografou os desenhos e a partir de então, pintou as fotos para conferir um ar de realidade original. A série de desenhos foi denominada “The Best of Life”. Vik Muniz fez trabalhos inusitados, como a cópia da Mona Lisa de Leonardo da Vinci, usando manteiga de amendoim e geleia, como matéria prima. Com calda de chocolate, pintou o retrato do pai da psicanálise, Sigmund Freud. Também recriou muitos trabalhos do pintor francês Monet. Alcançou reconhecimento internacional como um dos artistas mais inovadores e criativos do século 21. Conhecido por criar o que ele descreve como ilusões fotográficas, trabalhando com uma surpreendente variedade de materiais não convencionais – incluindo açúcar, diamantes, recortes de revista, calda de chocolate, poeira e lixo – para meticulosamente criar imagens antes de registrá-las com sua câmera. Suas fotografias muitas vezes citam imagens icônicas da cultura popular e da história da arte, desafiando a fácil classificação e envolvendo de maneira divertida o processo de percepção do espectador. Sua produção mais recente propõe um desafio ao público ao apresentar trabalhos que colocam o espectador constantemente em xeque sobre os limites entre realidade e representação, como atesta a obra Two Nails (1987/2016), cuja primeira versão pertence ao MoMA de Nova York. Em 2005, Vik lançou um livro denominado “Reflex – A Vik Muniz Primer”, contendo uma coleção de fotos de seus trabalhos já expostos. Uma de suas exposições mais comentadas foi denominada “Vik Muniz: Reflex”, realizada no University of South Florida Contemporary Art Museum, também exposta no Seattle Art Museum Contemporary e no Art Museum em Nova York. O processo de trabalho consiste em compor imagens com os materiais, normalmente perecíveis, sobre uma superfície e fotografá-las, resultando no produto final de sua produção. Em 2010, foi produzido um documentário intitulado “Lixo Extraordinário” sobre o trabalho de Vik Muniz, com catadores de lixo de Duque de Caxias, cidade localizada na área metropolitana do Rio de Janeiro. A filmagem recebeu um prêmio no festival de Berlim na categoria Anistia Internacional e no Festival de Sundance. O artista também se dedicou a fazer trabalhos de maior porte. Um deles foi uma série de Imagens das Nuvens, a partir da fumaça de um avião, e outras feitas na terra, a partir do lixo. No dia 7 de setembro de 2016, na abertura dos “Jogos Paraolímpicos Rio 2016″, Vik Muniz, um dos diretores da cerimônia, criou uma obra de arte formada por peças de um quebra-cabeça que eram levadas por cada delegação, com o nome do país de um lado e a foto dos atletas do outro. Cada peça era colocada no centro do palco do Maracanã, e com a colocação da última peça, pelo artista, formou-se um enorme coração que começou a pulsar com o uso de projeção de luzes. A obra de arte fez referência ao conceito central da cerimônia resumido na frase: “O coração não conhece limites”. Uns dos mais recentes trabalhos de Vik Muniz são os 37 mosaicos que decoram as paredes internas do novo trecho do metrô de Nova Iorque, que liga a Rua 72 à Segunda Avenida. Inaugurado em dezembro de 2016, obra que durou três anos para ser concluída, e que explora os diversos tipos de frequentadores do metrô de Nova Iorque. Nesta sua trajetória vem realizando prestigiadas exposições em instituições como o International Center of Photography, New York; Fundació Joan Miró, Barcelona; Museo d’Arte Contemporanea, Rome; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Tel Aviv Museum of Art e Long Museum, Shangai. Suas exposições recentes incluem Vik Muniz: Handmade (Nichido Contemporary Art, NCA, Tóquio, Japão, 2017); Afterglow: Pictures of Ruins (Palazzo Cini, Veneza, Itália, 2017); Vik Muniz (Museo de Arte Contemporáneo, Monterrei , México, 2017); Vik Muniz: A Retrospective (Eskenazi Museum of Art, Bloomington, EUA, 2017); Vik Muniz (High Museum of Art, Atlanta, EUA, 2016); Vik Muniz: Verso (Mauritshuis, The Hage, Holanda, 2016); Escola Vidigal – 15ª Mostra Internazionale di Architettura | La Biennale di Veneza (Veneza, Itália, 2016); Une Saison Brésilienne | Vik Muniz na Coleção Géraldine e Lorenz Bäumer (Maison Européenne de la Photographie, Paris, França, 2016); Lampedusa, 56a Bienal de Veneza, (Naval Environment of Venice, Itália, 2015) e Vik Muniz: Poetics of Perceptions (Lowe Art Museum, Miami, EUA, 2015).

 

Em 2001, representou o Brasil no Pavilhão da 49a Bienal de Veneza. Em dezembro de 2008, o MoMA sediou Artist’s Choice: Vik Muniz, Rebus, como parte de uma série de exposições com artistas convidados. Também foi convidado da edição do ano 2000 da Bienal de Whitney, no Whitney Museum of American Art; da 24ª Bienal Internacional de São Paulo; e da 46ª Corcoran Biennial Exhibition:Media/Metaphor, na Corcoran Gallery of Art em Washington, DC. Seus trabalhos fazem parte de coleções de arte públicas como a do Museum of Modern Art, Nova York;Guggenheim Museum, New York; Tate, London; Metropolitan Museum of Art, Nova York; Los Angeles Museum of Contemporary Art, Los Angeles; Tate Gallery, Londres; Centre Georges Pompidou, Paris; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri; e do Museum of Contemporary Art, Tokyo. O trabalho do artista também é tema do filme Lixo Extraordinário (Waste Land), indicado ao Oscar de melhor documentário em 2010. Em 2011, foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da UNESCO.

Promoção da Fundação Iberê

14/fev

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, recebe no próximo sábado, 16 de fevereiro, a historiadora Iris Germano e o ator Thiago Pirajira para o “Bate-papo sobre as histórias de Carnaval de Porto Alegre”. Eles farão um passeio pelos blocos de carnaval que entraram para história até o movimento popular criado há pouco mais de dez anos que, hoje, ultrapassa 50 blocos de rua por toda a cidade. O evento ocorre às 16h, no Átrio da Fundação, com entrada franca.

 

No domingo, o Programa Educativo promove a “Oficina de Confete e Serpentina”. A partir desses dois elementos símbolos do carnaval e inspiradas em artistas como Vik Muniz, as crianças e suas famílias serão convidadas a criar, coletivamente, uma macro paisagem e, também, a retratar sua própria cena de carnaval. A atividade é gratuita. Além do centro cultural, as atividades vão ocorrer no Barra Shopping Sul. O encerramento será no dia 03 de março, das 17h às 20h, com o Bloquinho de Carnaval, no Barra. O evento gratuito terá a animação de um bloco de carnaval da cidade e de um oficineiro, que pintará os rostos das crianças para a grande festa.

 

 

Sobre os convidados

 

Com especialização em História Social da Cidade e mestrado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Iris Germano pesquisa a identidade negra gaúcha por meio do carnaval.

 

Thiago Pirajira é mestrando em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Bloco da Laje e diretor artístico do Grupo Pretagô.

Na Galeria Nara Roesler/Rio

29/jan

O artista colombiano Alberto Baraya, artista-viajante contemporâneo que já participou, entre outras, da 27ª Bienal Internacional de São Paulo (2006) e da 53ª Bienal de Veneza (2009), desta vez tem o Rio de Janeiro como fonte de seu “Estudios Comparados de Paisaje”.  Esteve duas vezes no Rio de Janeiro em 2018 para conceber a nova série de mais de 20 trabalhos que apresenta na Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ.

 

A exemplo dos europeus que empreendiam expedições botânicas no período colonial, suas obras investigam territórios para criar poéticas ficcionais que refletem sobre o poder e os resquícios do colonialismo, questionando tanto o impulso de controlar o mundo por meio do ato de nomeá-lo e classificá-lo quanto a construção de identidades nacionais. Em sua última exposição na galeria, em 2010, o artista apresentou um desdobramento de seu emblemático projeto “Herbario de Plantas Artificiales”, séries concebidas a partir de plantas e flores de plástico das mais diversas procedências e fotos que registram o procedimento de trabalho, apropriando-se dos métodos dos naturalistas botânicos para colocar em questão o pensamento positivista, numa resistência aos princípios da educação ocidental.

 

No atual projeto, para criar seus “Estudios Comparados de Paisaje”, Baraya baseia-se na tradição das pinturas de paisagens – também conhecidas como “Panoramas” – retratadas por viajantes ou residentes, procurando debater, entre outros aspectos, a noção de paisagem nacional. Para sua “Expedición Rio de Janeiro”, especialmente realizada para sua nova exposição na galeria, o artista selecionou uma série de vistas panorâmicas da cidade, produzindo por meio da técnica da pintura novas telas nos mesmos locais onde estiveram os pintores acadêmicos. Baraya em seguida levou as obras ao ateliê e, por meio de intervenções, desconstruiu narrativas, convertendo as pinturas em objetos. “Algumas dessas paisagens-impressão funcionam como estágios nos quais desenvolvo comentários de interesse pessoal e social”, explica o artista. Segundo Baraya, nessa série, isso é feito através da introdução de animais-personagens estranhos àquela natureza originalmente representada. “A migração das espécies ou a qualificação de espécies exóticas se inscrevem na tradição literária e gráfica da fábula”, comenta. Ainda para ele, as paisagens-impressões são suscetíveis de serem lidas e reinterpretadas sob a perspectiva de outras categorias do conhecimento e da arte.

 

Para Baraya, no caso particular dos “Estudios Comparados de Paisaje”, os objetos à óleo são propostos como partituras em potencial para serem interpretadas no piano. Daí a realização de uma performance – realizada em novembro no Parque Lage – com paisagens-partituras, em parceria com Benjamin Taubkin. Como um laboratório experimental, o piano é retirado de seu cenário habitual e levado ao espaço exterior, os jardins, onde o pintor e o pianista realizam suas próprias interpretações da paisagem ao redor. Ao final do primeiro ato, as obras da exposição na Galeria Nara Roesler levadas ao local tornam-se partituras, sendo reinterpretadas pelo músico ao piano.

 

 

 

Alberto Baraya: estudios comparados de paisaje

 

Texto crítico por Pedro Corrêa do Lago

 

A série Expedición Rio (2018), parte do projeto Estudios Comparados de Paisaje (1998-2018) de Alberto Baraya, oferece a rara oportunidade de observar uma relação direta entre a obra dos pintores viajantes que retrataram a paisagem do Rio de Janeiro no século XIX e o trabalho recente de um notável artista contemporâneo. Ainda que colombiano, Alberto Baraya bebeu claramente na fonte dos grandes paisagistas atuantes no Brasil, pois parece às vezes transpor quase ipsis litteris imagens produzidas por eles como pano de fundo para suas próprias paisagens oníricas, nas quais o artista acrescenta animais quase míticos, totalmente inesperados nesse contexto. Na verdade, apesar do parentesco óbvio com a obra de artistas do século XIX, a semelhança provém não da simples repetição, mas da mesma postura que Baraya assume ao registrar a paisagem incomparável do Rio de Janeiro, com o objetivo de incorporála como cenário de suas intervenções fabulosas. O tratamento da paisagem por Alberto Baraya procede da mesma contemplação embevecida da paisagem que caracterizou a obra dos autores das vistas panorâmicas do Rio de Janeiro do século XIX. Também pintadas en plein air, não são, no entanto, concebidas por Baraya como as dos artistas que pretendiam apenas captar o cenário exótico para propô-lo à apreciação do espectador europeu. É verdade que o resultado é de tal forma semelhante ao que os viajantes obtinham que poderia apenas remeter integralmente às outras obras de artistas que precederam Baraya nos últimos 200 anos. De fato, a preocupação com a “documentação da paisagem” que caracterizava o trabalho de muitos desses artistas viajantes os tornava extremamente ciosos da precisão no registro dos contornos, diante da paisagem arrebatadora que se perfilava sob seus olhos na topografia única da baía do Rio de Janeiro. Também Baraya declara seu espanto diante da natureza que observa para alavancar sua criação, e é palpável seu domínio de uma técnica precisa que é tão fiel ao que vê quanto ao que Baraya imagina que os artistas viajantes viram: um Rio de Janeiro limpo de suas edificações atuais. Los músicos de Rio, um trabalho a óleo medindo mais de 4 metros, nos traz ecos de um grande panorama, o Panorama do Rio de Janeiro (1873) de Emil Bauch, uma litografia a cores sobre papel medindo 75 x 242,5 cm, assim como de um pastel de Hagedorn de 1860 retratando o Pão de Açúcar visto de trás, num ângulo menos utilizado por outros pintores viajantes. Outros trabalhos, como Rio de Janeiro desde Niterói, con pez volador falso (Dactylopterus volitans), que mostra um exemplar da espécie de peixe conhecida como falso voador, incomum no Rio de Janeiro, saltando das águas da baía, nos lembra as grandes aquarelas de E. E. Vidal, marinheiro inglês e pintor viajante especializado em panoramas extensos da baía do Rio de Janeiro. Já a vista da Águia-pescadora en Playa Vermelha, en Pan de Azucar, Rio de Janeiro assemelha-se mais aos quadros da paisagem carioca realizados no início do século XX, e Baraya volta ao mesmo ângulo inusitado do Pão de Açúcar de Hagedorn com o Macaco comiendo goji berries en Pan de Azucar. A floresta virgem que os artistas viajantes descobriram estarrecidos no Brasil tornou-se um dos temas de predileção em suas obras, e Baraya parece inspirar-se claramente nas versões que nos deram Debret e Rugendas da vegetação brasileira quando coloca seu Caracol gigante africano sobre palo brasil (Achatina fulica sobre Caesalpina echinata) num fundo de floresta tropical – também evocada em Macaco con caracol gigante africano (Callithrix jacchus con Achatina fulica). O Pão de Açúcar foi, como era inevitável, um dos focos principais de atração dos pintores viajantes (profissionais ou amadores) que passaram pela cidade nas primeiras décadas do século XIX, no momento em que a abertura dos portos permitiu restabelecer o fluxo de visitantes estrangeiros, até então interrompido pelo colonizador português. Quando Alberto Baraya sobrepõe pedras e caveiras à paisagem tradicional do Pão de Açúcar, ele nos traz uma evocação renovada de uma paisagem tantas vezes repetida pelos paisagistas do século XIX, a ponto de se tornar o principal cartão postal avant la lettre da então capital. A vista do morro Dois Irmãos antes das muitas edificações em seu entorno (tal como poderia ter sido observado da praia do Leblon no século XIX ou no começo do século XX) apresenta mesmo assim uma mancha indistinta que evoca a atual favela do Vidigal, mostrando o que Baraya quer lembrar sem ver. Sobre essa paisagem, o artista sobrepõe agora pedras envoltas em cânhamo, voltando a surpreender o espectador e reforçando o tema do par com duas pedras sobre a areia da praia. O Rio de Janeiro atual ressurge no Rio desde Parque das Ruínas e no Caballo (Equus ferus caballus) en Lagoa, obras nas quais Baraya abandona a referência aos pintores viajantes e recupera com a mesma postura a paisagem atual da cidade, sempre sobreposta por pedras encontradas em seu caminho ou animais que parecem caídos do céu. A produção atual do artista é constante na referência ao passado, pois o grupo de obras de Alberto Baraya intitulado Nuevas Hierbas de Palermo y Alrededores – Una Expedición Siciliana (2018), parte de seu projeto Herbário de Plantas Artificiales (2002-em andamento), realizado para a Manifesta 12 Palermo no Jardim Botânico da cidade a partir da coleta de plantas falsas (Made in China) e representações botânicas locais em cerâmica relembra também o trabalho impresso dos grandes naturalistas europeus que visitaram o Brasil ao longo do século XIX, documentando sua flora e sua fauna. O relato das expedições desses grandes naturalistas deu oportunidade para a criação de magníficos álbuns com finas gravuras da flora brasileira, muitas vezes coloridas à mão, que aliavam a exatidão científica a um extraordinário impacto visual. O Brasil forneceu assim o tema para alguns dos mais belos livros de botânica do século XIX, e poucos países tiveram sua flora documentada com igual precisão e beleza. Com elementos capturados em Palermo e seus arredores, no caso de sua série siciliana, Baraya recria delicadamente a atmosfera dos herbiers dos séculos passados, dando-lhes uma interpretação que incorpora as novas técnicas agora à sua disposição. Para um estudioso dos artistas do passado que enriqueceram a cultura brasileira com seus relatos visuais, é especialmente instigante apreciar o trabalho de um artista contemporâneo com uma compreensão tão profunda de trajetórias comparáveis trilhadas muito antes dele.

 

 

Sobre Pedro Corrêa do Lago

 

Mestre em Economia, é autor de 20 livros sobre temas da cultura brasileira. Bibliófilo, colecionador, livreiro e editor, foi curador de diversas mostras no Brasil e no exterior. Em 2000, organizou o módulo “O olhar distante na Mostra do Redescobrimento”, na Fundação Bienal de São Paulo. Em 2005, foi curador em Paris das exposições “O Império brasileiro e seus fotógrafos” no Museu d’Orsay e “Frans Post: o Brasil na corte de Luís XIV” no Museu do Louvre. De 2003 a 2005, presidiu a Fundação Biblioteca Nacional. Em 2006, publicou, com sua mulher, Bia Corrêa do Lago, “Frans Post – Obra Completa”. Nos anos seguintes, escreveu ou colaborou com os catálogos raisonnés de Debret, Taunay e Pallière e editou os de Rugendas e Eckhout. Em 2008, novamente com Bia Corrêa do Lago, publicou “Coleção Princesa Isabel – Fotografia do século XIX”, vencedor do Prêmio Jabuti, e, em 2009, lançou “Brasiliana Itaú” – uma grande coleção dedicada ao Brasil e organizou o catálogo raisonné “Vik Muniz 1987 – 2009 Obra Completa”. Sócio titular do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), organizou em 2014 o livro Brasiliana IHGB e, em 2015, a segunda edição (1987-2015) da obra completa de “Vik Muniz, Tudo até agora”.

 

 

Até 09 de fevereiro.

Vik Muniz em Ipanema

11/dez

 

A Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, traz para a sua sede carioca “Handmade”, exposição de Vik Muniz, cuja primeira versão foi apresentada em seu espaço paulistano em 2016. A série Handmade chega ao Rio com obras inéditas nas quais Vik renova caminhos e procedimentos presentes em sua produção, ao investigar a tênue fronteira entre realidade e representação, entre o objeto original e sua cópia. Sem recurso narrativo, as obras revelam explicitamente o processo do trabalho, ao mesmo tempo em que brinca com as certezas do espectador.

 

Segundo o artista, o que você espera ser uma foto não é, e o que você espera que seja um objeto é uma imagem fotográfica. “Em uma época em que tudo é reprodutível, a diferença entre a obra e a imagem da obra quase não existe”, diz. Em seu texto sobre a série, Luisa Duarte aponta a dificuldade de se distinguir onde termina a cópia e onde começa a intervenção manual do artista. “É nesse limbo das certezas que o artista deseja nos inserir”.

 

Duarte ressalta que, em Handmade, diferentemente de suas obras realizadas a partir de imagens conhecidas e referências a materiais mundanos, “Vik alude à vasta tradição da arte abstrata, destilando para isso suas fórmulas básicas na criação de maneiras inusitadas de meditar sobre a imagem e o objeto, sobre a ambiguidade dos sentidos e a importância da ilusão”. Em seu texto, Luisa Duarte conclui: “Handmade traça a constante preocupação do artista em transcender as dimensões simbólicas da imagem”.

 

Além da paradoxal relação entre imagem e objeto e do recorrente uso de estratégias ilusionistas – “A ilusão é um requisito fundamental de todo tipo de linguagem”, diz -, esses trabalhos flertam com a arte conceitual e estabelecem um intenso diálogo com a arte abstrata, cinética e concreta. Sobretudo, segundo Vik, pelo interesse comum em relação às teorias da Gestalt, mais especificamente nos campos da psicologia e da ciência.

 

 

Sobre o artista

 

Vik Muniz nasceu em 1961, São Paulo, Brasil. O artista vive  e trabalha entre Rio de Janeiro e Nova York)  e destaca-se como um dos artistas mais inovadores e criativos do século 21. Conhecido por criar o que ele descreve como ilusões fotográficas, Muniz trabalha com uma vasta gama de materiais não convencionais – incluindo açúcar, diamantes, recortes de revista, calda de chocolate, poeira e lixo – para meticulosamente criar imagens antes de registrá-las com sua câmera. Suas fotografias muitas vezes citam imagens icônicas da cultura popular e da história da arte, desafiando a fácil classificação e a percepção do espectador. Sua produção mais recente propõe um desafio ao público ao apresentar trabalhos que colocam o espectador constantemente em xeque sobre os limites entre realidade e representação, como atesta a obra Two Nails (1987/2016), cuja primeira versão pertence ao MoMA de Nova York. Vik Muniz iniciou sua carreira artística ao chegar em Nova York em 1984, realizando sua primeira exposição individual em 1988. Desde então, vem conquistando enorme reconhecimento, expondo em prestigiadas instituições em todo o mundo. Podemos destacar entre elas: Vik Muniz: Handmade (Nichido Contemporary Art, NCA, Tóquio, Japão, 2017); Afterglow: Pictures of Ruins (Palazzo Cini, Veneza, Itália, 2017); Vik Muniz (Museo de Arte Contemporáneo, Monterrei , México, 2017); Vik Muniz: A Retrospective (Eskenazi Museum of Art, Bloomington, EUA, 2017); Vik Muniz (High Museum of Art, Atlanta, EUA, 2016); Vik Muniz: Verso (Mauritshuis, The Hage, Holanda, 2016); Lampedusa, 56a Bienal de Veneza (Naval Environment of Venice, Itália, 2015); Vik Muniz: Poetics of Perceptions (Lowe Art Museum, Miami, EUA, 2015); edição de 2000 da Bienal de Whitney (Whitney Museum of American Art); 46ª Exposição Bienal Media/Metaphor (Corcoran Gallery of Art, Washington, EUA, 2000); e da 24ª Bienal Internacional de São Paulo (1998). Seus trabalhos fazem parte de importantes coleções públicas como a do Museum of Modern Art, Nova York; Guggenheim Museum, Nova York; Metropolitan Museum of Art, Nova York; Los Angeles Museum of Contemporary Art, Los Angeles; Tate Gallery, Londres; Museum of Contemporary Art, Tóquio; Centre Georges Pompidou, Paris; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri, entre várias outras no Brasil e no exterior. Em 2001, Muniz representou o Brasil na 49a Bienal de Veneza. Muniz também é tema do filme Waste Land, indicado ao Oscar de melhor documentário em 2010, e em 2011, foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da UNESCO.

 

 

Até 07 de fevereiro de 2018

Raro Percurso – 52 anos da Galeria de Arte Ipanema

24/nov

A Galeria de Arte Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, abre no próximo dia 28 de novembro, às 19h, a exposição “Raro Percurso – 52 anos da Galeria de Arte Ipanema”, marcando a inauguração de sua nova sede em prédio com projeto arquitetônico de Miguel Pinto Guimarães. Dirigida por Luiz Sève e sua filha Luciana Sève, a Galeria de Arte Ipanema passará a ocupar o andar térreo e metade do primeiro andar da construção com quatro andares e dois subsolos, que abriga ainda três unidades destinadas a escritórios empresariais. Ao longo do período de exposição será lançado o livro “Raro Percurso – 52 anos da Galeria de Arte Ipanema”, pela Barléu, com texto do crítico Paulo Sergio Duarte, capa dura, formato de 21cm x 25cm, e 100 páginas. “Espero que um jovem que começa sua coleção, um jovem artista ou, mesmo, crítico possam ter uma ideia, embora tênue, do contexto em que nasce a Galeria de Arte Ipanema”, escreve Paulo Sergio Duarte. Para ele, o percurso de Luiz de Paula Sève no mercado de arte e de sua galeria é “coisa raríssima, para não dizer única no Brasil”.

 

Com atividades ininterruptas, a Galeria de Arte Ipanema volta assim ao seu tradicional endereço no número 27 da Aníbal de Mendonça, onde se instalou em 1972, e mostra nesta exposição inaugural de seu novo espaço sua íntima relação com a história da arte, e a força de seu acervo. Serão exibidas cerca de 60 obras de mais de 50 artistas de várias gerações e diferentes pesquisas, expoentes da Arte Contemporânea e do Modernismo, entre eles grandes mestres da Arte Cinética, do Concretismo e do Neoconcretismo. Junto a pesos-pesados da arte, a exposição também reunirá pinturas de artistas mais jovens, como a norte-americana Sarah Morris, conhecida por suas pinturas geométricas de cores vibrantes, inspiradas principalmente na arquitetura das grandes metrópoles – e os paulistanos Henrique Oliveira e Mariana Palma.

 

Em uma verdadeira festa para o olhar, a exposição se inicia com seis pinturas cinéticas da série “Physichromie” de Cruz-Diez – artista representado pela galeria -, que oferecem três diferentes conjuntos de cores de acordo com a posição do espectador: de frente, caminhando da esquerda para a direita, ou no sentido contrário. Esses trabalhos se juntam a outros grandes nomes da arte cinética, como um óleo sobre tela da década de 1970 e um móbile dos anos 1960 de Julio Le Parc; uma versão em formato de 55 cm da espetacular “Sphère Lutétia” , uma das três obras de Jesús Soto na mostra; uma pintura de mais de 1,60m da série “W” de Abraham Palatnik , entre trabalhos de outros cinéticos, como o relevo de quase três metros de largura de Luis Tomasello.

 

 

Construtivismo e Neoconcretismo

 

De Sérgio Camargo estarão três significativos relevos em madeira pintada, e um deles, “Relief 13-83”, participou da Bienal de Veneza em 1966, onde o artista tinha uma sala especial com 22 obras. De Waltercio Caldas, integrará a mostra a escultura “Fuga”, esmalte sobre aço inox e lã. Um núcleo da exposição é composto por uma gravura de Richard Serra, pela obra “Maquete para interior”, de Lygia Clark, uma escultura em aço pintado de Franz Weissmann, uma escultura e uma pintura de Amilcar de Castro, duas pinturas de Aluísio Carvão e dois trabalhos de Ivan Serpa. A “Pintura nº 355”, do argentino Juan Melé , também integrará a mostra.

 

 

Mais pinturas – Abstracionismo, Expressionismo, Nova Figuração

 

Quatro pinturas de Alfredo Volpi – uma dos anos 1960 e três da década seguinte – também estarão na exposição, bem como conjuntos das famosas séries “Ripa” e “Bambu”, dos anos 1970, de Ione Saldanha, em têmpera sobre madeira. “52 anos – Um raro percurso” mostrará óleos sobre tela dos anos 1960 e 1950 de Tomie Ohtake e Manabu Mabe, dois artistas que participaram da exposição inaugural da Galeria Ipanema, em 1965. Arcangelo Ianelli, Abelardo Zaluar e Paulo Pasta também terão obras na mostra. A exposição apresentará pinturas de Iberê Camargo, Milton Dacosta, Maria Leontina, Jorge Guinle e Beatriz Milhazes. Raymundo Colares, artista que fez sua primeira individual na Galeria de Arte Ipanema, estará representado pela pintura “Midnaite Rambler”, em tinta automotiva sobre madeira. Wesley Duke Lee terá na exposição três pinturas em nanquim, guache e xerox sobre papel: “Nike descansa ”, “O Alce (Sapato com fita amarrando), e “Os mascarados”. “Tô Fora SP”, de Rubens Gerchmann, e duas pinturas de Wanda Pimentel, das décadas de 1970 e 90, se somam a quatro obras de Paulo Roberto Leal, artista que também teve sua primeira individual realizada pela Galeria Ipanema. Outros grandes nomes da arte contemporânea que integrarão a mostra são Frans Krajcberg, Cildo Meireles, Nelson Félix, Antonio Manuel e Vik Muniz.

 

 

Modernismo

 

Luiz Sève teve um contato privilegiado com grandes artistas, entre eles sem dúvida está Di Cavalcanti, de quem serão exibidas três óleos sobre tela. Outros grandes nomes do modernismo que estarão na exposição são Portinari, com a pintura “Favela”, Djanira, com “Sala de Leitura”, e Pancetti , com “Farol de Itapoan”.

 

 

Breve história de um raro percurso

 

A história da Galeria Ipanema se mistura à da arte moderna e sua passagem para a arte contemporânea, e seu precioso acervo é fruto de seu conhecimento privilegiado de grandes nomes que marcaram sua trajetória. Fundada por Luiz Sève, a mais longeva galeria brasileira iniciou sua bem-sucedida trajetória em novembro de 1965, em um espaço do Hotel Copacabana Palace, com a exposição de Tomie Ohtake e Manabu Mabe, entre outros. Até chegar à casa da Rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema, em 1972, passou por outros endereços, como o Hotel Leme Palace e a Rua Farme de Amoedo.

 

 

Presença em São Paulo

 

De 1967 a 2002, Frederico Sève – irmão de Luiz – foi sócio da Galeria Ipanema, onde idealizou e dirigiu de 1972 a 1989 uma expansão em São Paulo, inicialmente na Rua Oscar Freire, em uma casa construída e especialmente projetada pelo arquiteto Ruy Ohtake. A Galeria Ipanema foi uma das precursoras a dar visibilidade ao modernismo, e representou, entre outros, com uma estreita relação, os artistas Volpi e Di Cavalcanti , realizando as primeiras exposições de Paulo Roberto Leal e Raymundo Colares. Nascido em uma família amante da arte, Luiz Sève aos 24 anos, cursando o último ano de engenharia na PUC, decidiu em 1965 se associar à tia Maria Luiza (Marilu) de Paula Ribeiro na criação de uma galeria de arte. Na família amante de arte, outro tio, o pneumologista Aloysio de Paula, médico de Pancetti, havia sido diretor do MAM. Luiz Sève destaca que é na galeria que encontra sua “fonte de prazer”. Uma característica de sua atuação no espaço de arte é “jamais ter discriminado ou julgado qualquer pessoa pela aparência”. “Há o componente sorte também”, ele ressalta, dizendo que já teve acesso a obras preciosas por puro acaso. A Galeria Ipanema mantém em sua clientela colecionadores no Brasil e no exterior, e já atendeu, entre muitas outras, personalidades como o mecenas da arte David Rockefeller, Robert McNamara – Secretário de Defesa do Governo Kennedy -, e o escritor Gabriel Garcia Marquez.

 

 

Até 23 de dezembro.

BIENALSUR chega ao Rio

13/nov

A Fundação Getulio Vargas, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, está na BIENALSUR – Bienal Internacional de Arte Contemporáneo de América del Sur. A iniciativa conecta 32 cidades de 16 países do mundo, reunindo mais de 250 artistas e curadores dos cinco continentes com a ideia de gerar uma rede global de colaboração associativa institucional para eliminar distâncias e fronteiras e reivindicar a singularidade dentro da diversidade.

 

A partir de 14 de novembro, a exposição “Natatório de Dipierro” é abrigada pelas formas projetadas por Oscar Niemeyer na Esplanada do Centro Cultural FGV. A construção, impregnada pela tradição da abstração modernista, é formada por peças que se envolvem em diálogos fortuitos com o espaço que as contém.

 

Entre o funcional e o inútil. Entre arte e ornamento. Entre abstração e arquitetura. Assim pode ser definido o trabalho da artista Marcolina Dipierro. O “Natatório de Dipierro” é uma série de quatro instalações ou situações que remetem a um complexo aquático que inclui trampolim, área de descanso, raias e vestiário.

 

“Trata-se de um tributo irreverente, fresco e sincero ao grande arquiteto Oscar Niemeyer e, fundamentalmente, às aspirações utópicas de uma arte total que integra, sem distinção ou hierarquia, arte, design, arquitetura e urbanismo”, destaca a artista argentina.

 

Com um modelo completamente inédito, a BIENALSUR busca acompanhar o pulsar das demandas da atualidade a partir da participação de artistas, curadores, colecionadores, críticos, jornalistas e o público geral. Com eventos multidisciplinares que acontecem em várias cidades da América do Sul, a BIENALSUR permite que entidades e empresas parceiras cumpram a meta de promover a responsabilidade social por meio da arte e da cultura.

 

Organizada pela Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF), desde o final de 2015, a BIENALSUR conta com o reitor Aníbal Jozami como Diretor Geral e Diana Wechsler como Diretora Artístico-acadêmica. É uma bienal de arte que, pela primeira vez na história das bienais, coloca vários artistas e cidades do mundo em relação de igualdade. Multidisciplinar, destaca-se ainda pelo o ineditismo de contar com diversos países promotores de uma mesma iniciativa e pelo protagonismo das instituições universitárias: 20 universidades de todo o mundo participam do projeto. Mais de 95% das obras que fazem parte da Bienal foram escolhidas através de duas seleções internacionais abertas, que receberam mais de 2.500 propostas de 78 países.

 

No Brasil, o Memorial da América Latina, na capital paulista, é um dos ícones da BIENALSUR, além do Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (SP), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, Universidade Federal de Santa Maria (RS), Central do Brasil e Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Nas sedes nacionais poderão ser apreciados trabalhos de artistas de Madagascar, Argentina, Espanha e França. Em paralelo, a arte de brasileiros como Eduardo Srur, Regina Silveira, Shirley Paes Leme, Ivan Grilo, Vik Muniz, José Bechara, Cildo Meireles, Hélio Oiticica e Anna Bella Geiger, entre outros, irá compor esse intercâmbio cultural, com mostras na Argentina e no Peru.

 

A abertura da exposição será dia 14 de novembro, às 17h. A intervenção artística fica aberta à visitação do público até o dia 15 de dezembro na Esplanada do Centro Cultural FGV, no Rio de Janeiro, Praia de Botafogo, 186- Botafogo.

 

 

 

Por Oskar Metsavaht

04/jul

O Museu da Imagem e do Som, Jardim Europa, São Paulo, SP recebe a instalação multimídia “Soundtrack por Oskar Metsavaht. Em um singular projeto, o artista plástico Oskar Metsavaht assumiu o olhar do personagem Cris, vivido por Selton Mello, e traz para a realidade o projeto final de Cris que teria ficado no universo cinematográfico. A mostra faz um percurso estreito e cada imagem é exibida junto a um headphone, onde é possível ouvir exatamente o que o personagem do longa, um artista e fotógrafo, ouvia no momento de seus próprios retratos.

 

“Nesta mostra, o artista Oskar Metsavaht nos dá a sua experiência de despersonalização. Cris é ele. Ele é Cris. Esta exposição é exatamente a que o personagem Cris teria feito no filme”, explica Marc Pottier, curador da mostra. “Soundtrack é uma instalação, um caminho labiríntico íntimo, pontilhado com uma série de autorretratos em pequenos formatos e fones de ouvido que convidam o público a mergulhar no mundo de Cris”, completa.

 

Na trama, Cris (Selton Mello) mergulha num projeto de autorretratos e captação de sons numa fictícia estação polar de pesquisas. O lugar inóspito e o estado emocional do personagem transbordam para as imagens conforme Cris ouve as músicas que selecionou para cada shooting. O trailer do filme está exibido em looping na montagem e a estreia nos cinemas, marcada para 06 de julho.

 

 

Sobre o artista

 

Oskar Metsavaht é uma personalidade essencialmente criativa. Natural de Caxias do Sul, RS, filho de pai médico e mãe professora de Filosofia e História da arte, ao longo da vida tratou de mesclar um pouco das duas heranças. Médico de formação, sempre manteve o hábito da fotografia. O lado estilista e diretor de arte nasceu quando fundou a Osklen e a colocou no mapa das maiores marcas de moda do país e de reconhecimento internacional.

 

Designer autodidata, Oskar Metsavaht usa a fotografia para registrar tudo aquilo que o inspira para seus projetos. O exercício com as imagens impulsionou o progresso do seu trabalho artístico individual e aflorou uma profissionalização que não tardou.

 

Oskar realizou sua primeira exposição individual, intitulada “Ipanema”, durante a Miami Art Basel, apresentado por Sue Hostetler e Vik Muniz em 2011. De lá pra cá, diversas exposições coletivas e individuais encorpam sua biografia artística que passam por instituições e eventos como a exposição coletiva “Madeby…Feito por Brasileiros”, no Cidade Matarazzo em São Paulo; na “Ocupação Mauá”, durante a ArtRio; no Arte Clube Jacarandá na Miami Art Basel; com individual no Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro; dentre outras. Duas de suas obras, uma pintura e uma videoinstalação, foram selecionadas para fazer parte das coleções do MAR (Museu de Arte do Rio) e do Museu Histórico da Cidade.

 

Exposição / Cinema

 

De 21 de junho a 16 de julho.

Para ver o Brasil

14/jun

A Oca, Parque do Ibirapuera, Portão 3, São Paulo, SP, exibe a exposição “Modos de ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos”. O evento celebra os 30 anos de atividades do Itaú Cultural e exibe cerca de oitocentas peças de um acervo de 15 mil obras do Banco Itaú. A mostra tem curadoria de Paulo Herkenhoff, em colaboração com Thais Rivitti e Leno Veras, e ocupa os 10 mil metros quadrados do espaço.

 

Entre as obras expostas, estão a tela “Povoado numa planície arborizada”, do pintor holandês Frans Post, e raridades como os mapas do século XVII: “Jodocus Hondius: AmericaSeptentrionalis”, “Henricus Hondius: Accuratissima Brasiliae Tabula”.

 

As peças foram organizadas em vinte núcleos espalhados pelos quatro andares do edifício, projetado por  Oscar Niemeyer. Cada piso tem uma organização temática por período: no térreo estão “São Paulo” e “De memória e matéria”; no subsolo “Da numismática à cibernética”; no primeiro andar, “Expressão e racionalidade”; e no segundo andar, “Uma invenção simbólica do Brasil: África e barroco”.

 

Entre as atrações está uma escultura de mais de cinco metros de altura, de Ascânio MMM, reconstruída para a ocasião. Obras antigas estão lado a lado com peças modernistas e contemporâneos, de artistas como Brecheret, Maria Martins, Hélio Oiticica, Portinari, Adriana Varejão, Gilvan Samico, Beatriz Milhazes, Vik Muniz, Vera Chaves Barcellos, Berna Reale, Siron Franco, Emanoel Araújo, Jaime Lauriano, Paulo Bruscky, Montez Magno, Ayrson Heráclito e Eder Oliveira dentre outros.

 

 

Até 13 de agosto.