A relevância da obra de Wesley Duke Lee

23/mai

A Ricardo Camargo Galeria, Jardim Paulistano, São Paulo, SP, anuncia a exposição “O Filiarcado” do renomado artista Wesley Duke Lee. Nesta série, composta por oito pinturas de grandes dimensões (257 x 227 cm), o artista utiliza bastões de pastel a óleo sobre uma base de argamassa que remete às paredes de pedra das cavernas, criando uma textura sólida e enrugada que dá vida às suas figuras. As obras exploram a temática dos jogos infantis ancestrais, retratando crianças que nadam, correm, pulam sela e fogueira, atiram dardos e jogam cartas ou bolinhas de gude.

Wesley Duke Lee começou a dar forma à série “O Filiarcado” após comemorar 40 anos de vida artística com uma grande retrospectiva no Museu de Arte de São Paulo (MASP) em 1992. O conceito do “filiarcado”, a era do filho, surgiu de conversas com a poetisa Dora Ferreira da Silva, esposa do filósofo Vicente Ferreira da Silva, amigos de Wesley Duke Lee. Inspirado pelos desenhos renascentistas de Andrea Mantegna e pelas gravuras barrocas de Jacques Stella, Wesley Duke Lee utilizou computação gráfica para recriar essas imagens em uma perspectiva renascentista, organizando-as no formato do losango, uma figura que ele associava ao equilíbrio instável entre os triângulos masculino e feminino.

Os quadros de “O Filiarcado” foram agrupados cromaticamente pelo artista em fases que remetem às transmutações alquímicas: Albedo, com tons claros e brancos dourados sobre fundo ocre; Rubedo, com vermelhos dourados; e Nigredo, com magentas dourados e enegrecidos. As figuras infantis, os objetos e os cenários são dispostos de maneira a criar uma trama delicada dentro dos losangos, remetendo aos jogos e à paisagem da infância do artista.

A exposição “O Filiarcado” oferece ao público uma oportunidade única de apreciar o trabalho de Wesley Duke Lee em sua plena maturidade artística. A combinação de técnicas inovadoras e referências históricas cria uma experiência visual e conceitual rica, reafirmando a relevância do artista no cenário contemporâneo.

Sobre o artista

Wesley Duke Lee, nascido em São Paulo em 1931, é uma figura central na arte contemporânea brasileira. Formado pela Parsons School of Design e pela New York School for Social Research, nos Estados Unidos, ele retornou ao Brasil na década de 1960, onde desenvolveu uma carreira marcada pela experimentação e pela integração de diversas formas artísticas. Participou do movimento “Ruptura” e foi um dos fundadores do grupo “Rex”, que revolucionou a cena artística paulistana. Sua obra é conhecida pela fusão de elementos clássicos e modernos, e pela profunda reflexão sobre a condição humana e suas expressões culturais.

Construções tridimensionais de Carlos Fajardo

08/mai

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, apresentará, entre 20 de maio e 24 de junho, “Forse che sì, forse che no / Talvez sim, talvez não”, segunda exposição individual do artista Carlos Fajardo na sede da galeria. A mostra reúne um conjunto de 12 construções tridimensionais compostas por sobreposições de vidros laminados coloridos e transparentes que, circunscritos ao formato de uma caixa retangular, distribuem-se ritmicamente pelas paredes da galeria. Em “Forse che sì, forse che no / Talvez sim, talvez não”, Fajardo dá continuidade à investigação que desenvolve há mais de cinco décadas sobre as relações espaciais entre o corpo, o objeto e a arquitetura, realizada nesta ocasião através do trabalho com materiais reflexivos, transparentes e luminosos que põem em dúvida o sentido da visão. A exposição conta com texto de apresentação do crítico e curador Diego Matos.

Embora se construam a partir de ângulos retos, as obras de Carlos Fajardo não pretendem convocar leituras fechadas. Os quadrados, os espelhos e as repetições podem ser, em um primeiro momento, identificados como recursos de uma linguagem assertiva, mas dentro da investigação do artista, eles são utilizados como ferramentas que abrem espaço para a ambiguidade. As peças apresentadas na exposição são formadas por sobreposições de superfícies de vidro dispostas em um determinado ângulo cuja inclinação produz um efeito de multiplicação de cores e planos, permitindo ao espectador acessar uma terceira dimensão. As doze caixas que ocupam a extensão das duas paredes opostas que configuram o espaço expositivo, ressoam e multiplicam o formato retangular da arquitetura da galeria, formando um corredor de espelhos coloridos e reflexos imprecisos. Cada caixa é composta por dois quadrados de cor, mas essas cores também não são fixas, variam a depender da incidência da luz e do movimento do olho de quem vê. Um retângulo, outro retângulo, e mais outro: repetem-se como a mesma nota musical inscrita numa partitura. Um mantra desconcertante. E é nos deslocamentos dos corpos e nas inclinações dos eixos que os espelhos vibram – talvez sim, talvez não.

 

Sobre o artista

Carlos Fajardo nasceu em 1941 em São Paulo, onde vive e trabalha. Sua obra possui grande relevância no panorama da arte brasileira assim como sua atuação de mais de 40 anos como professor. Ao longo de sua carreira, participou de diversas exposições importantes no Brasil e no exterior, dentre as quais Jovem Arte Contemporânea, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), em 1967, organizada por Walter Zanini. Participou da 9ª, 16ª, 19ª, 25ª e 29ª edição da Bienal de São Paulo, respectivamente em 1967, 1981, 1987, 2002 e 2010. Representou o Brasil na Bienal de Veneza em 1978 e em 1993. Participou da 1ª e da 4ª edição da Bienal do Mercosul, em Porto Alegre. Com Nelson Leirner, José Resende, Geraldo de Barros, Wesley Duke Lee e Frederico Nasser integrou, de 1966 a 1967, o Grupo Rex. O grupo questionava as instituições e o modus operandi do sistema de arte por meio de intervenções, publicações, palestras, projeções ou encontros. Em 1970 fundou junto a José Resende, Luiz Paulo Baravelli e Frederico Nasser a Escola Brasil, um “centro de experimentação artística dedicado a desenvolver a capacidade criativa do indivíduo” que foi importante não só na formação de muitos artistas brasileiros, mas também no amadurecimento das discussões sobre ensino e aprendizado de arte no país.

 

 

Encontro de escultor e crítico

07/fev

 

A Mul.ti.plo Espaço Arte, Leblon, Rio de Janeiro, RJ,  promove no dia 14 de fevereiro um encontro entre o escultor José Resende, um dos maiores nomes da arte contemporânea brasileira, e o crítico e professor Ronaldo Brito, um dos mais respeitados pensadores do país. O bate-papo gira em torno da exposição “Rotação e translação”, que apresenta 14 obras inéditas em latão, mola latonada, cobre e cabo de aço de Resende. Ronaldo Brito, que possui uma parceria profissional de longa data com o artista, é quem assina o texto da mostra, que termina no dia 24 de fevereiro, na Mul.ti.plo.

A entrada é franca e o encontro acontece em 14 de fevereiro, uma terça-feira, às 18h30, como desdobramento da mostra na galeria.

Aos 77 anos de idade e com mais de 50 de uma sólida e exitosa carreira, José Resende está de volta à capital carioca depois de uma década. Em sua última exposição na cidade, em 2011, ele ocupou o saguão monumental do MAM. Dessa vez, o desafio foi criar obras que conversassem com o espaço da galeria no Leblon.

A exposição abre-se em dois tempos. No primeiro, estão obras maiores, que se desdobram delas mesmas, como uma experiência de multiplicação. São cinco esculturas de parede (de cerca de 260 x 80 x 40 cm) e duas de chão (de aproximadamente 45 x 42 x 115 cm), elaboradas a partir de tubos de latão articulados com cabo de aço. “Uma peça sai da outra, mas cada uma tem uma unidade diferente e uma relação de mobilidade com o espaço da galeria”, explica o artista. Em contraponto, estão seis esculturas menores, de cerca de 45 x 42 x 115 cm, que trabalham a questão da tensão e também do movimento a partir de hastes e molas.

O nome da exposição, “Rotação e translação”, partiu do texto crítico de Ronaldo Brito e se refere a uma frase do artista norte-americano Carl Andre. “Em resposta à perplexidade diante de suas peças literais, o escultor minimalista insistia que elas tinham, sim, base: a terra. José Resende pontuaria – a terra, em movimento de rotação e translação”, escreve Ronaldo, que também assinou o texto da exposição no MAM-RJ em 2011.

Conhecido por suas obras em grande escala, como a monumental instalação com vagões pendurados com cabo de aço, em São Paulo, em 2011, José Resende tem várias obras em locais públicos no Rio de Janeiro. Uma delas é a escultura apelidada de “O passante”, no Largo da Carioca, e “A Negona”, no corredor cultural do Centro. “José Resende é um criador de exceções. Sua poética, sempre renovada, traz uma potência que se revela a cada novo trabalho”, diz Maneco Müller, que comanda a Mul.ti.plo em parceria com Stella Ramos.

 

Sobre o artista

José Resende nasceu em São Paulo, SP, em 1945. Vive e trabalha em São Paulo, SP. Formado em Arquitetura pela Universidade Mackenzie, São Paulo, cursou gravura na FAAP. Em 1963 estudou com Wesley Duke Lee e, entre 1964 e 1967, foi estagiário no escritório do arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Em 1966, fundou com Nelson Leirner, Wesley Duke Lee, Geraldo de Barros, Carlos Fajardo e Frederico Nasser a Rex Gallery and Sons. Em 1967, ganha o Prêmio de Aquisição da 9ª Bienal de São Paulo. Em 1970, realiza exposição individual no MAM-RJ e no MAC-USP. No mesmo ano, funda com Carlos Fajardo, Frederico Nasser e Luís Baravelli o centro de experimentação artística Escola Brasil, onde lecionou por quatro anos. Em 1974, realiza exposição individual no MASP, São Paulo. Em 1980, recebe menção honrosa na representação do Brasil na 11ª Biennale de Paris. No mesmo ano, edita a publicação sobre arte “A Parte do Fogo” junto com um grupo de críticos e artistas. Em 1984, recebe bolsa da John Simon Guggenheim Memorial Foundation, residindo em NY até 1985. Em 1988, participa da 43ª Bienal de Veneza. Em 1992, Participa da Documenta 9, Kassel, Alemanha. José Resende desenvolveu ao longo de sua carreira uma atuação pungente dentro do debate da arte e da cultura no Brasil, sobretudo entre 1960 e 1980, época da Ditadura militar. A partir da década de 1990, desenvolve inúmeros projetos, permanentes e temporários, especialmente para espaços urbanos. Além de expor diversas vezes na Bienal Internacional de São Paulo (9ª, 17ª, 20ª e 24ª) e em importantes instituições nacionais e internacionais ao longo dos seus mais de 50 anos de carreira. Seus trabalhos figuram em importantes coleções públicas como o MoMA (Museum of Modern Art), Museu de Arte Moderna de São Paulo e Pinacoteca do Estado de São Paulo. Sua última exposição foi na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, em dezembro de 2021.

 

Mul.ti.plo exibe José Resende

16/dez

 

“Rotação e Translação” traz esculturas inéditas de um dos nomes de maior destaque da arte contemporânea brasileira. É a primeira mostra do artista paulista no Rio de Janeiro após mais de uma década, quando expôs no MAM, em 2011. Com texto crítico de Ronaldo Brito, exposição vai até 24 de fevereiro de 2023, com obras que conversam com o espaço da galeria.

Aos 77 anos e com mais de 50 anos de uma sólida e exitosa carreira, o artista paulista volta a expor na capital carioca depois de uma década. Em sua última exposição na cidade, em 2011, ele ocupou o saguão monumental do MAM. Dessa vez, o desafio foi criar obras que conversassem com o espaço da galeria no Leblon. Assinando o texto da mostra está um dos mais relevantes pensadores do país, o crítico de arte e professor Ronaldo Brito, que também participou do projeto no MAM. Na Mul.ti.plo, José Resende apresenta 14 obras inéditas em materiais como latão, mola latonada, cobre e cabo de aço. A exposição de José Resende na Mul.ti.plo abre-se em dois tempos. No primeiro, estão obras maiores, que se desdobram delas mesmas, como numa experiência de multiplicação. São cinco esculturas de parede (de cerca de 260 x 80 x 40 cm) e duas de chão (de aproximadamente 45 x 42 x 115 cm), elaboradas a partir de tubos de latão articulados com cabo de aço. “Uma peça sai da outra, mas cada uma tem uma unidade diferente e uma relação de mobilidade com o espaço da galeria”, explica o artista. Em contraponto, estão seis esculturas menores, de cerca de 45 x 42 x 115 cm, que trabalham a questão da tensão e também do movimento a partir de hastes e molas.

O nome da exposição, “Rotação e translação”, partiu do texto crítico de Ronaldo Brito e se refere a uma frase do artista norte-americano Carl Andre. “Em resposta à perplexidade diante de suas peças literais, o escultor minimalista insistia que elas tinham, sim, base: a terra. José Resende pontuaria – a terra, em movimento de rotação e translação”, escreve Ronaldo, que também assinou o texto da exposição no MAM-RJ em 2011. Os dois têm uma parceria profissional de longa data.

Conhecido por suas obras em grande escala, como a monumental instalação com vagões pendurados com cabo de aço, em São Paulo, em 2011, José Resende tem várias obras em locais públicos do Rio. Uma delas é a escultura apelidada de “O passante”, no Largo da Carioca, e “A negona”, no corredor cultural do Centro. “O convite da Mul.ti.plo para expor novamente no Rio me deu muito prazer. Essa ausência de 11 anos estava para ser cortada. Eu estava me cobrando isso e achando que não cabia ficar tão ausente numa cidade onde fui sempre tão bem recebido e também tenho essa presença em espaços públicos que me envaidece muito”, diz o artista, que expõe pela primeira vez na galeria. “José Resende é um criador de exceções. Sua poética, sempre renovada, traz uma potência que se revela a cada novo trabalho”, diz Maneco Müller, que comanda a Mul.ti.plo em parceria com Stella Ramos.

 

Sobre o artista

José Resende nasce em São Paulo, 1945. Vive e trabalha em São Paulo, SP. Formado em arquitetura pela Universidade Mackenzie, São Paulo, cursa gravura na FAAP. Em 1963 estuda com Wesley Duke Lee e, entre 1964 e 1967, é estagiário no escritório do arquiteto Paulo Mendes da Rocha. Em 1966, funda com Nelson Leirner, Wesley Duke Lee, Geraldo de Barros, Carlos Fajardo e Frederico Nasser a Rex Gallery and Sons. Em 1967, ganha o Prêmio de Aquisição da 9ª Bienal de São Paulo. Em 1970, realiza uma individual no MAM-RJ e no MAC-USP. No mesmo ano, funda com Carlos Fajardo, Frederico Nasser e Luís Baravelli o centro de experimentação artística Escola Brasil, onde leciona por quatro anos. Em 1974, realiza exposição individual no MASP, São Paulo. Em 1980, recebe menção honrosa na representação do Brasil na 11ª Biennale de Paris. No mesmo ano, edita a publicação sobre arte “A Parte do Fogo” junto com um grupo de críticos e artistas. Em 1984, recebe bolsa da John Simon Guggenheim Memorial Foundation, residindo em NY até 1985. Em 1988, participa da 43° Bienal de Veneza. Em 1992, Participa da Documenta 9, Kassel, Alemanha. José Resende desenvolveu ao longo de sua carreira uma atuação pungente dentro do debate da arte e da cultura no Brasil, sobretudo entre 1960 e 1980, época da ditadura militar. A partir da década de 1990, desenvolve inúmeros projetos, permanentes e temporários, especialmente para espaços urbanos. Além de expor diversas vezes na Bienal Internacional de São Paulo (9°, 17°, 20ª e 24ª) e em importantes instituições nacionais e internacionais ao longo dos seus mais de 50 anos de carreira. Seus trabalhos figuram em importantes coleções públicas como MoMA (Museum of Modern Art), Museu de Arte Moderna de São Paulo e Pinacoteca do Estado de São Paulo. Sua última exposição foi na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS.

 

Linhas em Ruptura – Gravuras do acervo

26/ago

 

A FAMA Museu, Itu, SP, inaugura a exposição “Linhas em Ruptura – Gravuras do acervo”, com gravuras de figuras centrais do modernismo brasileiro e de artistas que se destacaram a partir da década de 1960. A mostra reúne cerca de 113 gravuras e a abertura acontece no dia 28 de agosto na Sala Marcos Amaro.

 

 

Com curadoria de Luiz Armando Bagolin, a mostra exibe gravuras, matriz e impressões de representantes do movimento, como Flávio de Carvalho, Oswaldo Goeldi, Lívio Abramo, Maciej Babinsky e Darel, e de artistas com produções a partir dos anos 60, 70 e 80, como Mestre Noza, Edith Behring, Wesley Duke Lee, Evandro Carlos Jardim, Regina Silveira e Anna Bella Geiger.

 

 

Durante a modernidade, a gravura deixa de ser apenas um recurso ou técnica que servia à transmissão e reprodutibilidade de ideias ou exortações de caráter moral, político e científico, e passa a ter mais autonomia e liberdade. “Ao todo, a exposição reúne 113 obras dos principais artistas históricos da gravura brasileira. A seleção deles foi feita com o intuito de mostrar a diversidade de temas e de técnicas dentro da gravura.”, explica Luiz Armando Bagolin.

 

 

Para garantir a acessibilidade e inclusão, “Linhas em Ruptura” disponibilizará a opção de audioguia, obras adaptáveis e videolibras.

 

 

A entrada é gratuita, agende sua visita!

 

Carlos Fajardo “De Soslaio”

27/out

 

A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, apresenta em sua programação, entre os dias 11 de novembro de 2020 e 15 de janeiro de 2021, “De soslaio”, a primeira exposição individual do artista Carlos Fajardo na sede da galeria em São Paulo. A mostra reúne obras produzidas entre 2017 e 2020, sendo a maior parte delas feitas em diálogo com o espaço da galeria, concebidas especialmente para a exposição. Em “De soslaio”, Fajardo dá continuidade à investigação que desenvolve há mais de cinco décadas sobre as relações espaciais entre o corpo, o objeto e a arquitetura, realizada nesta ocasião através do trabalho com materiais reflexivos, transparentes e luminosos.

A partir das diferentes escalas das três salas da galeria, fotografias e esculturas em vidro, espelho e tecido se articulam no espaço, ativando percepções sensoriais do espectador que pode ser a um só tempo o observador – através das frestas – e o observado – através do espelho. O sentido da visão é convocado na exposição não apenas pelas obras, que examinam aspectos relacionados à formação e multiplicação da imagem, seja ela fotográfica ou virtual, mas também como enunciação em seu título formado por uma palavra que alude ao desvio do olhar. Potenciais desvios acompanham o espectador em seu percurso pela mostra, rodeado por um material como o vidro, tão frágil e ao mesmo tempo tão forte em sua constituição, sobretudo intimidador por sua capacidade de revelar a nossa própria imagem.

 

 

A primeira sala, a menor das três, recebe um conjunto de cinco trabalhos que são também os menores da exposição. Encostados na parede e dispostos na altura do olhar, são compostos por fotografias e vidros laminados coloridos e transparentes de 0,60cm. A sobreposição dessas superfícies em um determinado ângulo de inclinação produz o efeito de multiplicação de cores e planos, permitindo ao espectador acessar uma terceira dimensão. A obliquidade que orienta a montagem destes e de outros trabalhos formados por placas de vidro, surge na segunda sala sem o apoio das paredes, ao menos fisicamente. É o caso da peça em que quatro placas retangulares se sustentam por uma estrutura quadrangular em suas extremidades superiores, formando um espécie de paralelepípedo semi-aberto, independente no espaço. A parede, no entanto, ainda é parte do assunto. Um corte retangular atravessa aquela que serve de divisória entre a segunda e a terceira sala, permitindo ao espectador uma visão discreta e particular das obras apresentadas ali, principalmente daquela que ocupa a outra extremidade do ambiente.

O jogo entre transparências e opacidades se repete aqui, já que após percorrer os quatorze metros que separam as duas extremidades da sala, o olhar encontra a fotografia de um quarto – o mais íntimo dos ambientes domésticos – iluminado pela luz natural de uma janela aberta, onde é possível apenas vislumbrar, por detrás de uma cortina translúcida, uma cama desfeita. Ao filtro da cortina, que perde a qualidade tátil de sua textura porque transforma-se em imagem, Fajardo adiciona duas placas de vidro colorido, o que acaba fazendo com que a imagem mais nítida ali seja a do próprio reflexo daquele que observa a obra. Se, através daquela fresta na parede, a mirada era discreta e distante, o encontro com as peças nessa última sala requer um espectador mais desinibido. Devido a suas grandes dimensões, as três peças móveis que dividem o espaço com outras três fixas que se encostam na parede, produzem uma relação mais direta com o corpo e convidam ao embate frontal. Distribuídas pela sala, amplificam o espaço, multiplicando reflexos nas inúmeras combinações que podem ser geradas a partir de suas possíveis movimentações.

 

Sobre o artista

 

Carlos Fajardo nasceu em 1941 em São Paulo, SP, onde vive e trabalha. Sua obra tem uma presença relevante no panorama da arte brasileira assim como sua atuação de mais de 40 anos como professor. Ao longo de sua carreira, participou de diversas exposições importantes no Brasil e no exterior, dentre as quais Jovem Arte Contemporânea, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), em 1967, organizada por Walter Zanini. Participou das 9ª, 16ª, 19ª, 25ª e 29ª edições da Bienal Internacional de São Paulo, respectivamente em 1967, 1981, 1987, 2001 e 2010. Representou o Brasil na Bienal de Veneza em 1978 e em 1993. Com Nelson Leirner, José Resende, Geraldo de Barros, Wesley Duke Lee e Frederico Nasser integrou, de 1966 a 1967, o Grupo Rex. O grupo questionava as instituições e o modus operandi do sistema de arte por meio de intervenções, publicações, palestras, projeções ou encontros. Em 1970 fundou junto a José Resende, Luiz Paulo Baravelli e Frederico Nasser a Escola Brasil, um “centro de experimentação artística dedicado a desenvolver a capacidade criativa do indivíduo” que foi importante não só na formação de muitos artistas brasileiros, mas também no amadurecimento das discussões sobre o ensino e o aprendizado de arte no país.

A exposição poderá ser visitada mediante agendamento, de segunda á sexta-feira das 10h às 19h e aos sábados das 10h às 17h. Para agendar, é solicitado contato por email (info@galeriamarceloguarnieri.com.br), telefone (11 3063 5410) ou Whatsapp (11 96858-9005), informando nome completo e indicando o dia e horário de sua visita. Para a segurança do espectador/visitante é obrigatório o uso de máscara durante todo o tempo que estiver na galeria.

Um artista e sua coleção

09/mar

A Ricardo Camargo Galeria, Jardim Paulistano, São Paulo, SP, expõe a mostra “Coleção de um Artista” com 31 obras de 9 artistas – Alfredo Volpi, Amélia Toledo, Antonio Dias, Claudio Tozzi, Hércules Barsotti, Mira Schendel, Rubens Gerchman, Tuneu e Willys de Castro – datadas entre 1958 e 2008. O inovador marchand faz uma exposição Pop-Up, com duração de nove dias, resultado de um reencontro entre amigos com mais de cinco décadas de relacionamento estabelecido em bases sólidas e confiança. Ricardo Camargo e Tuneu se reencontram após um longo período o que só reavivou o relacionamento construído pela admiração e respeito mútuos e de ambos pela arte brasileira e seus artistas.

 

“Na Art-Art conheci Ricardo Camargo que começava sua própria carreira com o irmão. Passaram-se cinquenta e dois anos. Aqui estamos numa exposição da coleção de um artista (Eu). O conjunto de obras que foi possível por meu interesse e amizade com alguns artistas que mantive contato desde o final da década de 1960”, declara Tuneu.

No início da segunda década do milênio, Ricardo Camargo seleciona 29 obras da coleção pessoal de Tuneu, inéditas em quase sua totalidade, com exceção de um Volpi e um Barsotti já com participação em retrospectivas em museus, para a montagem afetuosa de uma exposição.

Trabalhos de Willys de Castro e Hércules Barsotti compõe grande parte da exposição e são artistas com quem Ricardo compartilhou almoços aos sábados no Restaurante Gigetto, onde ouviu, de fonte primária, opiniões, características e conceitos dos grandes mestres da arte brasileira contemporânea. Com sua visão experiente, Ricardo Camargo, juntou à essa seleção duas obras de autoria do próprio Tuneu, de uma pequena série não exibida até o momento.

“Estou lisonjeado por ele ter me dado essa oportunidade de apresentar um conjunto de obras significativas.”, define Ricardo Camargo.

“Acredito que o impacto que a obra de um artista gera em nós, artistas, é nossa afinidade estética e logo vem a pergunta: como fez isto? Nosso primeiro interesse é o diálogo com os colegas. Assim a coleção de um artista tenta manter consigo um diálogo em sua parede e, diariamente, estabelece laços muito particulares com este universo”, conclui Tuneu.

 

Sobre Ricardo Camargo

 

Ricardo Camargo começou sua trajetória aos 15 anos de idade, por intermédio de seu irmão, o marchand Ralph Camargo, com quem trabalhou na galeria Art-Art, que em São Paulo foi a pioneira no lançamento dos artistas da geração 1960. A partir daquele momento e ao longo dos 48 anos seguintes de sua carreira firmou parcerias e conheceu várias pessoas que se tornaram importantes para a arte brasileira, como Pietro Maria Bardi (Diretor do MASP por 45 anos), Volpi, Wesley Duke Lee e Flávio de Carvalho. Em meio a tantos anos de profissão se destacou o momento em que recebeu o convite para ser o curador de Anita Malfatti, Lygia Clark e Tarsila do Amaral na exposição “Latin American Women”, em março de 1995, organizada pelo Milwaukee Art Museum em Wisconsin, e que percorreu posteriormente os Museus de Phoenix, Arizona, Denver, Colorado, finalizando em Washington D.C., Estados Unidos. Um traço marcante de sua carreira é a diversidade de estilos, evidente nas mais de 90 exposições que realizou – de exposição de Arte Pré-Colombiana à Vanguarda Tropical, de obras modernistas às contemporâneas. Ricardo Camargo é hoje um dos poucos donos de galeria em São Paulo que atua no mercado de arte desde a década de 1960 e que continua ativo em sua Galeria, que, em 2020, comemora 25 anos de atividades profissionais. Dentre as características próprias da Ricardo Camargo Galeria está o ineditismo de suas exposições “Mercado de Arte”, que reúne a cada edição pelo menos 20 obras inéditas ou que estejam há mais de duas décadas fora do mercado e “Recortes de Coleções”, que capta e comercializa obras das coleções de colecionadores de arte.

 

Abertura: 18 de março, quarta-feira, às 19h.

Período: 19 a 27 de março.

 

O Jubileu de Ouro de Ricardo Camargo

04/nov

Ricardo Camargo, marchand, com décadas de atividade no mercado cultural brasileiro, comemora o seu Jubileu de Ouro com a 16ª edição da mostra coletiva “Mercado de Arte”, exibindo 60 obras de 31 artistas e homenagem aos 120 anos de nascimento do pintor Vicente do Rego Monteiro.

 

Ricardo Camargo iniciou sua atuação no mercado de arte, de forma concreta, após a realização de sua primeira venda aos 17 anos de idade. A partir daquele momento, e ao longo de sua trajetória, firmou parcerias com Ralph Camargo, Paulo Figueiredo Filho, José Duarte de Aguiar, Ugo di Pace e relacionou-se com pessoas que se tornaram importantes para a arte brasileira, como Pietro Maria Bardi, Volpi, Wesley Duke Lee, Flávio de Carvalho, entre tantos. Uma das características que diferenciam a atuação de Ricardo Camargo é a diversidade de estilos com os quais trabalha. Em seu currículo, constam exposições com obras que remontam à Arte Pré-Colombiana, passando com destaque pelas modernistas e chegando às contemporâneas.

 

Seu compromisso com a disseminação da cultura e sua dedicação ao circuito de arte está representada em projeto especial realizado em parceria com Patricia Lee, onde conceituaram e inauguraram, em 2015, o Wesley Duke Lee Art Institute, dedicado a preservar a memória e a obra do artista.

 

Entre os projetos que criou, está a exposição “Mercado de Arte”, agora em sua 16ª edição. Essa mostra coletiva tem um diferencial: apenas é apresentada quando for possível reunir, no mínimo, 20 obras inéditas ou trabalhos que estão fora do mercado há mais de 30 anos. Em ação simultânea, Ricardo Camargo faz uma homenagem aos 120 anos de nascimento de Vicente Rego Monteiro, com 8 obras do importante artista brasileiro e texto de Olivio Tavares de Araujo.

 

Todos esses eventos não representam uma celebração de conquistas do passado. A disposição, inteligência e visão do mercado de arte de Ricardo Camargo, na verdade, celebram o início de uma nova jornada: os novos 50 anos.

 

De 12 de novembro a 20 de dezembro.

 

Wesley Duke Lee na FIC

30/ago

Artista pioneiro da linguagem contemporânea nas artes plásticas no Brasil vai ganhar exposição na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, em parceria com o Instituto Wesley Duke Lee de São Paulo. A exposição “Wesley Duke Lee – A Zona: A Vida e a Morte”, apresenta três fases que aconteceram simultaneamente para o artista, entre os anos 1962 e 1967. A abertura da mostra será neste sábado, 31 de agosto, às 14h no 4º andar da Fundção. A cuardoria é de Ricardo Sardenberg.

 

Ao todo, são 59 itens entre pinturas, desenhos e colagens, como os trabalhos de “Jean Harlow”. Criada em 1967, a série reúne 30 desenhos que partiu do interesse de Wesley por relatos da sina trágica da atriz americana, conhecida como “vênus platinada” de Hollywood dos anos 1930.

 

Sobre o artista

 

Filho de norte-americanos protestantes e conservadores, Wesley sofreu forte influência da avó. Pintora acadêmica, ela nunca lhe deu um pincel para “brincar”, mas a rigidez com que tratava a profissão foi para o neto uma inspiração.
Em 1951, Wesley Duke Lee iniciou os estudos no curso de Desenho Livre do MASP. No ano seguinte, partiu para Nova York, onde acompanhou o início das manifestações da pop art, protagonizada por artistas como Andy Warhol, Robert Rauschenberg, Jasper Johns e Cy Twombly. Nos EUA, estudou na Parson’s School of Design (curso de Artes Gráficas) e no American Institute of Graphics Arts (curso de Tipografia) D volta ao Brasil, em 1963, realizou o primeiro happening no país.

 

Wesley não se censurava: foi adaptando sua arte até inventar um estilo particular. Para ele, a arte era um eterno processo de autoconhecimento. Não por acaso, se autodenominava um “artesão de ilusões”. Utilizava o experimentalismo para abordar a origem do homem, a sexualidade, o erotismo, a morte, entre outros temas.

 

A exposição permanece aberta ao público até 27 de outubro.

 

 

Os perigosos anos 1960

22/abr

Os anos 1960 foram marcados por movimentos de contestação em vários países do mundo, por motivos diversos – sistemas educacionais, costumes, repressão política, contestação de guerras. No Brasil não foi diferente e, a despeito da censura imposta por um regime de exceção, houve no período uma intensa produção artística, que retratou a atmosfera de tensão e riscos da época.

 

Para revisitar esse contexto, especificamente o período de 1965 a 1970, o Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, exibirá, entre 30 de abril e 28 de julho, a exposição “Os anos em que vivemos em perigo”, que traz um recorte da coleção focado na segunda metade da década de 1960, um período plural da arte brasileira, que foi fundamental para o desenvolvimento de nossa produção até os dias atuais. Tal cenário transformou o antropofágico caldeirão cultural do país, no mesmo momento em que acontecia a reestruturação do MAM que, em 1969, teve sua nova sede inaugurada, resistindo aos tempos e chegando até o momento atual em que celebra seus 70 anos de história.

 

Com curadoria de Marcos Moraes, a exposição reúne desde a tendência pop até obras de filiação surrealista, muitas das quais exprimindo as inquietações sociais e comportamentais que marcaram aquela época. São ao todo 50 obras de artistas como Antônio Henrique Amaral, Anna Maria Maiolino, Antônio Manuel, Cláudio Tozzi, Maureen Bisilliat, Wesley Duke Lee, entre outros.

 

Pinturas, xilogravuras, fotografias e objetos foram selecionados para apresentar imagens associadas ao ambiente cultural vigente como as manifestações, greves, censura, utopia, repressão, desejo e identidade brasileira – um apanhado que apresenta a potencialidade da ampliação de horizontes produzida pela vanguarda brasileira nesta época. A ação educacional do museu também contribuirá para oferecer aos espectadores oportunidades de pensar sobre a cultura daquela década, oferecendo atividades estimulantes que complementam a experiência da visita ao MAM.

 

“Para a seleção de obras, considerei o contexto, o ambiente efervescente e os acontecimentos que envolveram esses artistas no período dos anos 60 com atitudes radicais frente ao sistema da arte vigente no país, entre eles as exposições: Nova Objetividade Brasileira (MAM RJ), 1ª JAC Jovem Arte Contemporânea (MAC USP), Exposição-não-exposição (Rex Gallery & Sons) e a 9ª Bienal de São Paulo. A proposta desta mostra será refletir sobre esses complexos momentos vividos, tendo como marcos os anos de 1965 e 1970 rebatendo e rebatidos em 2019, suas atmosferas marcadas pela vida e a presença do perigo e da ameaça”, propõe Marcos Moraes.

 

Sobre o curador

Marcos Moraes é doutor pela FAU-USP e bacharel em Direito e Artes Cênicas pela mesma Universidade, além de especialista em Arte – Educação – Museu e Museologia. Professor de história da arte, é coordenador dos cursos de Artes Visuais da FAAP, da Residência Artística FAAP e do Programa de residência da FAAP, na Cité des Arts, Paris. Integrou o Grupo de Estudo em Curadoria do MAM e o corpo de interlocutores do PIESP. É membro do ICOM Brasil e do Conselho do MAM SP. Curador independente, seus mais recentes projetos curatoriais incluem Jandyra Waters: caminhos e processos; Entretempos e Lotada (MAB Centro, Museu de Arte Brasileira FAAP), além de Imagens Impressas: um percurso histórico pelas gravuras da Coleção Itaú Cultural (São Paulo, Santos, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Brasília, Florianópolis). É responsável por publicações sobre artistas como Luiz Sacilotto, Adriana Varejão, Rodolpho Parigi, Mauro Piva.

 

De 30 de abril a 28 de julho.