A permanência da obra de Abelardo Zaluar.

27/out

A Galeria de Arte Ipanema apresentou a exposição inédita de Abelardo Zaluar, dedicada a um dos nomes mais singulares da abstração geométrica brasileira. A mostra reuniu 25 trabalhos em vinil sobre tela, produzidos entre as décadas de 1970 e 1980.

O texto crítico que acompanhou a exposição trazia a  assinatura do artista Gonçalo Ivo, ex-aluno de Zaluar, que recuperou memórias de seu convívio com o mestre e ressaltou a dimensão espiritual e humanista de sua obra: “Tenho para mim que, em sua passagem neste ínfimo mundo, Abelardo Zaluar (1924-1987) viveu e criou como um monge. Fez de seu ofício um sacerdócio. Humanista convicto, tal qual um Midas, transformou pigmentos, formas e espaços em um mundo de encantamento e transcendência espiritual”.

A obra de Zaluar

Nascido em Niterói, RJ, Abelardo Zaluar construiu uma trajetória marcada pela independência de filiações a grupos ou correntes, desenvolvendo uma linguagem própria que combinava rigor geométrico e sensualidade barroca. Desde o início de sua carreira, nos anos 1940, transitou da figuração para a abstração, incorporando colagens, sobreposições de áreas de cor e experimentações com tridimensionalidade e trompe l’oeil. Nos anos 1970, incorporou recortes, transparências e colagens de cartões e lâminas de acrílico, criando jogos sensoriais que ampliavam a dimensão pictórica de sua obra. Essa produção, frequentemente comparada por críticos como Mário Pedrosa e Frederico Morais a referências internacionais, como Ben Nicholson, permanece única no panorama brasileiro, ao mesmo tempo rigorosa e lúdica.

Trajetória e reconhecimento

Professor, pintor, desenhista e gravador, Abelardo Zaluar participou de importantes coletivas e bienais entre as décadas de 1950 e 1980. Foi premiado no Salão Nacional de Arte Moderna (1963), recebeu destaque no Prêmio Leirner de Arte Contemporânea (1959), e realizou retrospectivas em instituições como o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) e o Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC/PR). A singularidade de sua produção, à margem das classificações dominantes da crítica, fez de sua obra um território de liberdade criativa, hoje redescoberto como uma das contribuições mais originais da arte brasileira moderna. A exposição, acompanhada de um catálogo organizado pela Galeria de Arte Ipanema, com textos críticos e reproduções das obras, oferece uma visão abrangente da produção de Abelardo Zaluar e sua influência na arte brasileira.

 

Arte com vinho canônico e água benta.

O Instituto Ling, bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, recebe o artista goiano Valdson Ramos para realizar uma intervenção artística inédita em uma das paredes da instituição. De 27 a 31 de outubro, o público poderá acompanhar gratuitamente a criação da nova obra, durante o horário de funcionamento do centro cultural. Será possível acompanhar, em tempo real, o processo criativo, as técnicas empregadas e os movimentos do artista. Após a finalização, o trabalho ficará exposto para visitação até o dia 27 de dezembro, com entrada franca.

No dia 1º de novembro, às 10h, o artista participará de um bate-papo com o público e o curador Paulo Henrique Silva, no qual comentará sua experiência, os resultados do projeto e compartilhará mais sobre sua pesquisa. A participação é gratuita. A atividade faz parte do projeto LING apresenta: Quando as fronteiras se dissolvem, com curadoria de Paulo Henrique Silva, que tem o objetivo de aproximar o Rio Grande do Sul da cultura do Centro-Oeste, trazendo artistas visuais da região para desenvolverem obras inéditas no centro cultural.

Sobre o artista

Valdson Ramos (Formoso, GO, 1972) é artista visual e arte-educador, graduado em Artes Visuais pela UFG e mestre em Ciências Sociais e Humanidades pela UEG. Suas obras exploram a iconografia religiosa brasileira, utilizando vinho canônico e água benta para refletir sobre questões contemporâneas. Participou de exposições em diversos espaços, como o Centro Cultural São Paulo (São Paulo, SP), Palácio das Artes (Belo Horizonte, MG) e o MAC (Goiás, GO). Entre suas premiações, destaca-se o 4° Salão Nacional de Pequenos Formatos do Museu de Arte de Britânia (2024). Vive e trabalha em Anápolis, GO.

Sobre o curador:

Paulo Henrique Silva (Anápolis, Goiás) foi aluno e professor na Escola de Artes Oswaldo Verano, mantida pela Prefeitura de Anápolis (GO), e graduou-se em Artes Visuais pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Desde 2004, dedica-se à curadoria, com foco no estudo e na pesquisa da arte contemporânea produzida na Região Centro-Oeste do Brasil. Projetos recentes incluem as mostras Entre Acervos, Dialetos 1 e 2, Novas Aquisições, Um Acervo em Construção, Fotografia no Acervo do Mapa, Conversas – resistência e convergência e Vozes do Silêncio. Foi curador em mais de onze edições do Salão Anapolino de Arte e tem contribuído significativamente para a ampliação do acervo do MAPA e o fortalecimento da arte contemporânea no interior do Brasil. De 2020 a 2024, foi responsável pela Coordenação do Fundo Municipal de Cultura e Editais, Curadoria e Gestão do MAPA e da Galeria de Artes Antônio Sibasolly, em Anápolis. 

 

São Paulo ganhou novo espaço.

A cidade de São Paulo inaugurou um novo espaço expositivo voltado à Arte Moderna e Contemporânea. Localizado no sétimo andar do Itaú Cultural, na Avenida Paulista, o Espaço Milú Villela – Brasiliana: Arte Moderna e Contemporânea amplia o acesso do público ao Acervo Itaú Unibanco, considerado a maior coleção corporativa de arte da América Latina, com mais de 15 mil obras.

Com 280 m², o novo andar se junta ao Espaço Olavo Setúbal, inaugurado em 2014, e ao Espaço Herculano Pires, aberto em 2023, reforçando o compromisso da instituição em apresentar diferentes recortes da Arte e da Cultura brasileira. O espaço leva o nome de Milú Villela, psicóloga que presidiu o Itaú Cultural por quase duas décadas, entre 2001 e 2019. A entrada é gratuita.

A mostra inaugural, de longa duração, se chama “Brasil das Múltiplas Faces” e conta com curadoria de Agnaldo Farias e projeto expográfico do arquiteto Daniel Winnik. A exposição reúne 185 obras de 150 artistas, datadas de 1889 até os dias atuais. Nomes como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Tomie Ohtake, Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Rosana Paulino e Adriana Varejão estão entre os destaques. Segundo Sofia Fan, gerente de artes visuais e acervos do Itaú Cultural, o novo espaço promove reflexões sobre identidade e diversidade por meio de diferentes narrativas visuais. “O foco em arte moderna e contemporâne traz uma continuidade destas relações, estimulando o olhar crítico e promovendo uma visita não linear e profundamente reflexiva”

Sobre a água e seus diferentes biomas.

24/out

O Museu de Arte do Paço – MAPA apresenta a exposição “SOBRE ÁGUAS”, da artista Vera Reichert, cujas obras convidam o público à contemplação e à reflexão sobre a relação entre a água e seus diferentes biomas. Praticante de mergulho submarino, a artista revela a sua habilidade em capturar a essência dessa substância vital em suas mais diversas formas, inspirando-se em suas vivências no fundo do mar para nos alertar sobre a necessidade de preservação dos recursos hídricos e de se combater a poluição das águas.

Lançamento do catálogo da exposição “SOBRE ÁGUAS” de Vera Reichert

Curadoria de André Venzon

Dia 25 de outubro, às 10h

 

Costurar sentidos.

Agradeço a vida que teço enquanto o tempo a desfia.

Bianca Ramoneda(1), “Cadernos de costuras”

Bordado, tecido, pintura, colagem e poesia se misturam em Costurar Sentidos, exposição coletiva apresentada no segundo andar da Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, que reúne obras têxteis e derivações de costura como ponto central de produção. A seleção, inicialmente baseada na escolha da técnica, uma vez definida, apontou novos pontos de convergência. São trabalhos permeados por motivos relacionados a construção e a afirmação de identidade, ao resgate e a reverência às memórias afetivas e a ressignificação de sentidos. Falam de questões sociais e temas sensíveis aos autores, ao mesmo tempo em que expressam as suas origens e o caminho percorrido ao longo da sua jornada pessoal e artística. Peças de roupa e pedaços de tecido são matéria-prima tal qual tinta para pintura na criação de Arthur Chaves. A convivência do artista com o universo da costura iniciou-se na infância. Quando criança, ele observava a mãe trabalhando na máquina de costura num quartinho em casa, repleto de roupas e tecidos armazenados. O interesse pela arte têxtil primeiro o levou a estudar design de moda, área em que atuou por um período, antes de migrar para as artes visuais. Hoje, desenvolve colagens têxteis, composições abstratas e grandes instalações. Dani Cavalier combina a linguagem da tecelagem com a da pintura nas suas pinturas sólidas, aproximando o dito universo popular da artesania com a erudição atribuída às belas artes. A artista trabalha com a concretude da matéria e desenvolve obras abstratas, compostas de pedaços de lycra tensionados sobre a estrutura de madeira do chassi. Como num código aberto ou numa partitura musical, a pintura sólida revela o seu processo de feitura: cada passo, cada escolha da trama pode ser lida. O que suscita perguntas sobre o próprio processo de criação, a escolha dos tecidos, a transformação deles em matéria-prima para a composição artística, os caminhos trançados e o tempo de produção. Dani Cavalier estuda diferentes técnicas de artesania brasileira, as quais opera dentro do trabalho. O compartilhamento de saberes, típico do artesanato popular, está ali incorporado e reverenciado. Textile, obra de Duda Moraes, incorpora o encontro de culturas Brasil e França que hoje convivem dentro da artista. Radicada em Bordeaux há oito anos e internacionalmente conhecida por suas pinturas multicoloridas, com fortes referências a luz e a natureza tropical exuberante do Rio de Janeiro, Duda encontrou nos tecidos a ponte de conexão que aproximou o seu processo de criativo do seu atual habitat. A série de trabalhos “Textile” é desenvolvida com materiais de descarte de lojas locais de estofamento. Tecidos nobres como o veludo e a seda, em tons mais invernosos, dão o toque francês aos seus jardins têxteis. Pensando em perspectivas de representação, Jeane Terra desenvolveu uma série de autorretratos. A artista traça um paralelo com o mundo contemporâneo tomado pelas selfies, onde cada vez mais o indivíduo celebra a autoimagem, moldando-a aos diferentes contextos. Presente na mostra está o seu autorretrato em “peles de tinta” costuradas, uma indagação à sua própria identidade e, também, uma investigação sobre os vestígios de seus ancestrais. Para Jeane somos todos uma amalgama das influências e das experiências vividas. Inevitável a alusão a ideia de colcha de retalhos. As diferentes cores da composição representam memórias fragmentadas que se misturam em suas nuances. Há na pintura seca uma cor mãe, uma cor condutora que está presente em todas as outras, chamada pela artista de cor matriz ou cor de condução. Cor que se transforma quando associada a outras, mas que ainda carrega os seus componentes de origem. Em Lagoa-mãe vemos uma reprodução em bordado do perfil da Lagoa Rodrigo de Freitas como era, possivelmente, no final do século XVIII ou XIX. A imagem de origem, garimpada na internet, não deixa ver muitos detalhes. A lagoa hoje é ainda maior, não sofreu aterros e os rios que nela deságuam não estão canalizados ou encobertos. Renato Bezerra de Mello, autor da obra e nascido em Pernambuco, alimenta especial apreço por esse lugar e por sua paisagem, que é para ele, desde a chegada ao Rio de Janeiro, ponto de equilíbrio. No container, localizado no terraço da galeria, apresentamos um vídeo de Rosana Palazyan, que tem como base a obra Rosa Daninha? – um livro objeto em tecido bordado, produzido pela artista, que cabe na palma da mão. Ao subverter a escala diminuta e acrescentar poeticamente elementos inesperados, o vídeo se transforma em obra autônoma. Assim como em outros trabalhos da artista do mesmo período, a obra amplia a reflexão sobre definições e rótulos que transformam seres humanos em daninhas, ao traçar um paralelo entre definições encontradas em livros de agronomia e frases usualmente relacionadas a pessoas que se encontram em situação de exclusão social. O gesto de folhear as páginas do livro real aparece no vídeo como uma passagem de tempo: Ora a Rosa surge linda e vencedora, e como num flashback, passo a passo, nasce e cresce no meio de plantas consideradas daninhas, como a Azedinha. Ora a Azedinha é quem aparece sozinha, como tivesse eliminado a Rosa. E finalmente, em imagens produzidas apenas para o vídeo, as duas convivem até que o vídeo (em loop) reinicie. Dentro desta poética, a artista apresenta ao espectador uma narrativa sem verdades ou repostas absolutas. Poemas em varal, assim a artista visual e performer Yolanda Freyre descreve a sua mais recente série de trabalhos em cambraia, que versam sobre existência e finitude, memórias e sentimentos. Sobre os tecidos, com tamanhos e rendas variadas, Yolanda transcreve poemas nascidos em diferentes momentos, muitos deles recitados em sonhos. Os versos são escritos como pintura, em tinta aquarela, e sugerem pela cor a expressão dos sentimentos “estendidos”, que ganham ainda um delicado alinhavo, em linha de bordar, superposto à aquarela. Ave em arribação é o título de um dos poemas apresentados e se refere ao atual momento de vida da artista, segunda ela o seu terceiro ato: Ave que está preste a levantar seu voo definitivo.

Cecília Fortes, Curadora

(1) Caderno de costuras / Bianca Ramoneda. Rio de Janeiro: Mapa Lab, 2022.

 

Sentidos compartilhados.

A Flexa, Leblon, Rio de Janeiro, RJ, exibe até 22 de novembro, “Tudo entoa: sentidos compartilhados entre humanos e não-humanos”, exposição que reúne os trabalhos de quatro dos nomes mais significativos da arte indígena amazônica contemporânea e que estiveram, recentemente, presentes nas últimas Bienais de Veneza: Jaider Esbell (Macuxi; Roraima, 1979 – São Paulo, 2021), Santiago Yahuarcani (Uitoto; Pucaurquillo, Peru, 1960), Rember Yahuacani (Uitoto; Pebas, Peru, 1985) e Sheroanawe Hakihiiwe (Yanomami; Alto Orinoco, Venezuela, 1971). A mostra é acompanhada de texto crítico assinado pelo curador peruano Miguel A. López. 

Com conhecimentos adquiridos de forma empírica, Jaider, Santiago, Rember e Sheronawe não possuem formação artística ou acadêmica tradicional. Suas habilidades foram adquiridas por meio da observação e de um relacionamento profundo com a natureza, suas famílias e comunidades. É importante dizer que esses artistas fazem parte de uma “constelação criativa”, como nas palavras de Miguel A. López, que tem transformado, nas últimas três décadas, o que se entende por arte contemporânea. A arte, para os povos indígenas, é também uma ferramenta de preservação, de suas histórias e seus saberes. As obras presentes nessa exposição reafirmam as continuidades entre os humanos, animais, plantas, territórios e mundos espirituais, fazendo eco aos apelos pelo respeito a todas as formas de existência e buscando o freio para a exploração voraz dos recursos naturais. 

O trabalho de Sheroanawe Hakihiiwe consiste em um repertório visual delicado, que se vale da repetição rítmica de motivos em papel artesanal ou tela, fazendo menção às formas de sementes, frutas, insetos, folhas e galhos. Santiago Yahuarcani recorre a narrativas míticas indígenas em suas pinturas, trazendo personagens típicos dessas histórias, como guardiões e criaturas animais híbridas. Já Rember Yahuarcani, seu filho, cria paisagens de grande escala que exploram sonhos abstratos, imaginando um futuro indígena através de formas e cores vibrantes. As pinturas de Jaider Esbell, de iconografia complexa e meticulosa, são homenagens a cada pequeno elemento (animais, plantas, seres humanos e espirituais) capaz de nos conectar com a espiritualidade. 

Segundo Miguel A. López, o repertório dos quatro artistas traz luz a mundos visíveis e invisíveis, que persistem para além das tentativas de apagamento. Para o curador peruano, essas obras são frequentemente associadas ao colapso ecológico contemporâneo, mas a interpretação pode ir além e nos fazer um convite a olhar para o passado: a lógica de apagamento existe desde que os recursos experimentados pelas comunidades indígenas foram desapropriados. Reunir trabalhos de Jaider Esbell, Santiago Yahuarcani, Rember Yahuacani e Sheroanawe Hakihiiwe é, por fim, segundo Miguel A. López, uma possibilidade de “sentir representações mais complexas e ampliadas da vida, que ultrapassam o excepcionalismo humano. Não são imagens simples, nem imediatamente legíveis: exigem muita atenção, imaginação e, acima de tudo, disposição para ouvir o território a partir de outros canais sensíveis.”

Sobre o curador.

Miguel A. López é escritor e curador-chefe do Museo Universitario del Chopo, na Cidade do México. Anteriormente, foi curador-chefe e codiretor do TEOR/éTica, na Costa Rica. Suas exposições recentes incluem duas grandes retrospectivas de Cecilia Vicuña: Seehearing the Enlightened Failure no Kunstinstituut Melly em Roterdã, que viajou para a Cidade do México, Madri e Bogotá; e Dreaming Water: A Retrospective of the Future (1964-…), apresentada no MNBA, Santiago; Malba, Buenos Aires; e Pinacoteca, São Paulo (2023-24). Ele é editor e autor de mais de vinte publicações sobre arte, sexualidade, justiça social, infraestrutura cultural e memória política. Em 2016, recebeu o Prêmio Curatorial Visão Independente do ICI.

 

Prêmio de Arte de Zurique 2025.

23/out

Artur Lescher (1962, São Paulo,SP) é o artista vencedor do prêmio concedido anualmente pelo Museum Haus Konstruktiv e pela Zurich Insurance Company Ltd., que está em sua 18ª edição. “As esculturas de Lescher não apenas ocupam o espaço – elas interagem com ele. Essa capacidade de dialogar com a arquitetura foi decisiva para sua escolha como vencedor do Prêmio de Arte de Zurique”, explicou Sabine Schaschl, diretora e curadora-chefe do Museum Haus Konstruktiv, referência em arte concreta e conceitual, sediado em Zurique, Suíça. O prêmio tem um valor total de 100 mil francos suíços – aproximadamente R$678.180,00 – que contemplam uma exposição individual do artista no Museum Haus Konstruktiv e 20 mil francos suíços em dinheiro (cerca de R$135.636,00). A exposição de Artur Lescher, “Campos entrelaçados”, tem curadoria da própria Sabine Schaschl e permanecerá em cartaz até 11 de janeiro de 2026.

Exposição e temas cósmicos

Na primeira sala da exposição, os visitantes vivenciam a tensão entre forma austera e vitalidade sutil. Com múltiplos pêndulos suspensos, Artur Lescher enfatiza a verticalidade e cria uma sensação de antigravidade. Essa leveza remete a constelações, reforçada por materiais espelhados e brilhantes. A obra “V Sagittae Memorial” homenageia a estrela dupla V Sagittae, que deverá explodir como uma nova em 2083 e brilhar como Sirius. Essa referência cósmica introduz uma dimensão de temporalidade e transformação.

Campo entrelaçado e tradição escultórica

As obras de Artur Lescher podem ser apresentadas individualmente, mas juntas formam um “campo entrelaçado” – um cosmos próprio. Ele insere sua produção na tradição escultórica de artistas como Constantin Brancuși, Louise Bourgeois (especialmente suas estelas) e Alberto Giacometti. Embora sua linguagem formal geométrica remeta à Arte Minimalista, Artur Lescher a transforma com referências mitológicas e uma dimensão animista.

Design industrial e mitologia

Artur Lescher explora técnicas de construção dos materiais, incorporando elementos do design industrial que atraem os amantes da tecnologia. Ao mesmo tempo, atribui significados mitológicos aos materiais: o cobre, mais flexível, é associado à deusa Vênus; o ferro, pesado e escuro, ao deus Hefesto. Essa carga simbólica se une ao respeito pelas propriedades físicas dos materiais – como peso, densidade e maleabilidade – que são integradas à lógica estética das obras.

Natureza, espaço e Neoconcretismo

Seu caderno de esboços revela esculturas voadoras e aves de todos os tipos, apontando para conexões entre natureza, espaço e conceitos universais – características do Neoconcretismo brasileiro dos anos 1960. Diferentemente da arte concreta europeia, o Neoconcretismo incorporava aspectos metafísicos e transcendentes. Artur Lescher cita como referências Hélio Oiticica, Lygia Clark, Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros e Max Bill, além do Manifesto Neoconcreto de 1959. Artur Lescher resume suas referências históricas assim: “Meu envolvimento com o Neoconcretismo (…) inclui o estudo das obras de artistas como Hélio Oiticica e Lygia Clark, mas também de concretistas como Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros e Max Bill. Nesse contexto, o Manifesto Neoconcreto (publicado no Rio de Janeiro em 1959) é um ponto-chave, assim como a investigação dos denominadores comuns entre o Construtivismo Russo e o Neoconcretismo.”

Arquitetura e som

Na terceira sala, a obra “Entrelinhas”, criada especialmente para o Museu, utiliza linhas de fios náilon vermelhas paralelas para medir e transformar o espaço. A escultura “Linha Vermelha (da série Metaméricos)”, composta por segmentos suspensos, remete a instrumentos musicais e transforma o ambiente em um espaço sonoro. Antes de entrar na segunda sala da exposição, os visitantes passam pela mostra paralela “Arte Concreta / Neoconcretismo”, que contextualiza a origem de sua obra. O título da exposição, “Campos Entrelaçados”, pode ser interpretado de várias formas.

 

Exposição na Fábrica Bhering.

O Espaço de Arte Contemporânea Portão Vermelho, localizado na Fábrica Bhering, Santo Cristo, Rio de Janeiro, RJ, abre no sábado dia 1º de novembro a exposição “Pulsão /in/ Possível”. A mostra coletiva reúne obras de 22 artistas da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV): Ad Costa, Ana Júlia Rojas, Ana Regal, Benjamin Rothstein, Camila Tavares, Carlos Martelote, Fernanda Rosa, Jeff Seon, Karla Biery, Leo Stuckert, Luana Gomes, Moshe de Leon, Pedro Rangel, Peu Mello, Rodrigo Ajooz, Tatiana Coelho, Teka Mesquita, Thaís Ravicz, Tomie Savaget, Vitor Viana, Virna Santolia e Zilah Garcia. 

As obras são multimeios variando desde pinturas de menor porte para esculturas de tecido de tamanho significativo, a potência artística dessa exposição residindo na diferença entre trabalhos e sua variedade de suportes. Com orientação de André Sheik e Daniele Machado e curadoria coletiva do corpo discente da instituição, a mostra explora o processo de pesquisa artística não somente enquanto objeto a ser discutido, mas como possibilidade no campo artístico, abrindo entrelugares e deslocando a ideia de genialidade do artista, da masterpiece: a experimentação abre uma fresta pela qual a pesquisa é não só parte, mas o trabalho em si. Esgarçando o conceito de liberdade, autonomia e a importância do espaço independente na crítica de Mário Pedrosa, a equipe de curadoria pensa essa exposição a partir do exercício de experimentação de liberdade dos artistas como Lugar.

A exposição ocupará o espaço localizado no 3º piso da Fábrica Bhering e poderá ser visitada às quintas-feiras do mês de novembro além dos sábados, dias 1º (abertura) e 29 de novembro (encerramento), das 13h às 17h.

 

Do espaço privado para o espaço da galeria.

A exposição “Olhar de Colecionador: Laurita Karsten Weege”, apresentada na Simões de Assis Balneário Camboriú, SC, materializa o atravessamento entre o espaço expográfico da galeria e o olhar especializado da colecionadora, uma parceria que reconhece as contribuições significativas de Laurita Karsten Weege ao projetar um encantamento pela arte. 

Abraham Palatnik, Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Antonio Malta Campos, Ascânio MMM, Carlos Cruz-Diez, Cícero Dias, Eleonore Koch, Emanoel Araújo, Estúdio Campana, Flávio Cerqueira, Gonçalo Ivo, Julia Kater, Juan Parada, Mano Penalva, Marcos Coelho Benjamim, Paulo Pasta, Schwanke, Sergio Lucena, Siron Franco, Vik Muniz e Zéh Palito integram o conjunto de artistas apresentados.

A mostra apresenta o moderno e o contemporâneo, em uma proposta que transpõe o espaço privado da coleção para o espaço da galeria.

Até 20 de janeiro de 2026.

 

O grande intérprete do Amor e da Modernidade.

20/out

Para celebrar a vida e o legado do poeta Vinícius de Moraes, que completaria 112 anos, o Museu de Arte do Rio (MAR) abriu a exposição “Vinicius de Moraes – por toda a minha vida” que ficará em cartaz até 03 de fevereiro de 2026.

Com curadoria de Eucanaã Ferraz e Helena Severo, a mostra reúne mais de 300 itens entre manuscritos, fotografias históricas, vídeos, livros raros, capas de discos, objetos e documentos pessoais, instrumentos musicais, esculturas e obras de arte de artistas amigos de Vinicius. 

“Vinicius de Moraes foi um dos construtores do Brasil moderno – aquele que se reconhece na poesia, na música, no afeto e na liberdade. Sua obra atravessa o século vinte como um fio de beleza e humanidade, revelando um país que aprendeu a cantar o amor e a emoção. Nesta exposição propomos um percurso sensível por sua vida e criação, pela alegria e delicadeza com que soube transformar o cotidiano em arte”; analisa a curadora Helena Severo.

A mostra propõe uma viagem afetiva e estética pela vida e pela obra de Vinicius de Moraes – o poeta, diplomata, dramaturgo, jornalista, compositor e cantor que marcou a cultura brasileira do século XX. Organizada em núcleos temáticos, a exposição percorre seus principais eixos de criação: a música, a poesia, o teatro, as artes visuais e as cidades que fizeram parte de sua trajetória.

Entre os grandes destaques está o espaço dedicado a “Orfeu da Conceição” (1956), peça teatral que inaugurou a parceria de Vinicius de Moraes com Tom Jobim. O núcleo apresenta croquis originais de figurinos de Lila Bôscoli e Carlos Scliar, cartazes de divulgação de Djanira, Scliar e Luiz Ventura, fotografias de José Medeiros registrando os ensaios da montagem e um desenho em alto-relevo de Oscar Niemeyer para o cenário do espetáculo, que estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O público poderá conferir alguns instrumentos como o piano, utilizado em parcerias como a série “Os afro-sambas” (1966), com Baden Powell, também foi tocado por Tom Jobim durante ensaios da peça “A invasão” (1962), de Dias Gomes.

A mostra traz ainda obras inéditas, como gravuras e desenhos de Lasar Segall, Guignard, Di Cavalcanti, Carlos Leão, Oswaldo Goeldi, Augusto Rodrigues e Dorival Caymmi. Entre os destaques, está o quadro “Retrato de Vinicius de Moraes” (1938), de Cândido Portinari. As artes plásticas e visuais reafirmam a convivência de Vinicius de Moraes com grandes nomes de sua geração. Estão reunidas obras de Portinari, Guignard, Pancetti, Santa Rosa, Cícero Dias, Dorival Caymmi, Carybé e Carlos Scliar, artistas que foram amigos próximos do poeta.

“Vinicius de Moraes – por toda a minha vida” reafirma o legado do poeta como um dos grandes intérpretes do amor e da modernidade, cuja obra permanece viva e presente. Para além de sua produção literária e musical, a exposição evidencia o homem que viveu intensamente as transformações culturais e comportamentais de seu tempo, ajudando a moldar a sensibilidade brasileira.