Festival Internacional de Arte Naif em Brasília.

09/out

Com entrada gratuita, a sexta edição do Festival Internacional de Arte Naif (FIAN) chegou à CAIXA Cultural Brasília, até 07 de dezembro, reunindo 96 trabalhos de artistas de 20 estados brasileiros e de 15 países. O termo “Arte Naïf”, de origem francesa, remete à ideia de arte ingênua, popular. Essa manifestação artística valoriza temas cotidianos e manifestações culturais em obras coloridas, frequentemente produzidas por artistas autodidatas. O FIAN se firma como um movimento de fortalecimento da estética Naïf, ainda pouco reconhecida pelo sistema formal artístico. Com um caráter não hegemônico, o festival propõe uma abertura de espaço e de discurso para artistas que retratam, com autenticidade, o cotidiano, a religiosidade, a cultura e as memórias coletivas.

A curadoria desta edição é assinada por Jaqueline Finkelstein (ex-diretora do Museu Internacional de Arte Naïf – MIMAN/RJ), Jacques Dupont (colaborador do Museu Internacional de Arte Naïf de Magog, Canadá) e Pedro Cruz (sócio fundador da Galeria André Cunha de Arte Naï, Paraty, RJ), que selecionaram os trabalhos a partir de critérios como originalidade, qualidade plástica, caráter autoexplicativo e fidelidade à estética Naïf.

Idealizado e coordenado pelo artista paraibano Adriano Dias, o FIAN já é referência no cenário artístico, reunindo nomes de diferentes gerações e países. “O festival consiste em uma plataforma de visibilidade para a arte Naïf, uma linguagem que fala de pertencimento, memória e identidade. Nosso compromisso é dar voz a essa produção que, apesar de sua força, segue invisibilizada em muitos espaços institucionais”, afirma Adriano Dias. A sexta edição do FIAN presta homenagem à artista carioca Vera Marina, radicada em Brasília e reconhecida por sua trajetória dedicada à arte Naïf. O evento de abertura foi realizado em 08 de outubro e contou com a presença de nomes nacionais e internacionais, como o venezuelano Maldonado Dias, o idealizador Adriano Dias e a homenageada Vera Marina, reforçando o caráter plural e coletivo do festival.

 

Paixão por movimento.

06/out

Artista francês mostra sua paixão por movimento a partir dos “giros” de Elis Regina e das formas de Iberê Camargo. Vencedor do Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea 2025, Tom Brabant abre “Elíptico 33 rpm” no Museu de Arte do Paço, Porto Alegre, RS.

No dia 15 de outubro, a Aliança Francesa de Porto Alegre, a Fundação Iberê e a Secretaria da Cultura de Porto Alegre, por meio da coordenação de Artes Visuais, inauguram a exposição “Elíptico 33 rpm”, do artista francês Tom Brabant. A mostra, resultado da residência artística de Brabant na Casa Iberê, com orientação de Eduardo Haesbaert, que foi impressor de Iberê Camargo, abrirá no Museu de Arte do Paço (MAPA) e pode ser visitada até dia 16 de janeiro de 2026.

“Deslizar é um movimento, uma transição entre dois estados e, às vezes, entre dois mundos. Por exemplo, eu o situo entre o florescimento e o desaparecimento das coisas, flutuando entre a inspiração e a expiração de um movimento, onde posso livremente contornar, explorar e subverter os assuntos que me interessam. A partir daí, meus projetos nascem, na maioria das vezes, de analogias e montagens de ideias nas quais tento fazer coexistir duas realidades aparentemente incompatíveis. Jogos de palavras – presentes em meus títulos – e efeitos visuais são os brilhos da minha prática, oferecendo aos espectadores a oportunidade de prestar atenção a imagens residuais, impressões fantasmagóricas e encenações ilusórias”, destaca o artista.

“Elíptico 33 rpm” é inspirada em duas forças da arte brasileira muito presentes na vida de Tom Brabant: Iberê Camargo e Elis Regina. A exposição é composta por uma série de pequenas gravuras, duas outras gravuras de grandes dimensões, uma obra de Iberê Camargo, um vídeo editado pelo próprio artista sobre Elis Regina e a instalação de um disco girando a fim de transmitir o movimento infinito da cantora.

“Ao pesquisar a obra Iberê, fiquei impressionado com seu interesse por objetos em movimento: os carratéis de sua infância, as pipas e, especialmente, os ciclistas. Nessa perspectiva, experimentei na gravura essa ideia de laços, repetições (sobreposições) e também de “fantasma”. O segundo encontro foi com Elis Regina. Quando aprendi seus apelidos, como “Hélice Regina” e “Eliscóptero”, imaginei imediatamente o que poderia restar de sua energia rotatória, o que pode gravar em nossa memória – as lembranças de seus gestos – de sua existência quase mítica”, conta Tom Brabant.

A residência cruzada acontece no âmbito do 8º Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea, que também selecionou a artista brasileira Gabriela Stragliotto (Galópolis/Caxias do Sul) para uma residência artística no Centre Intermondes de La Rochelle entre 29 de novembro a 28 de janeiro de 2026. O Prêmio Aliança Francesa de arte contemporânea é realizado pela Aliança Francesa Porto Alegre, o Ministério da Cultura e a Fundação Iberê Camargo. Patrocinado pela empresa TIMAC AGRO, recebe o apoio da Casa Iberê, do centro Intermondes – Humanidades Oceânicas, do Consulado geral da França em São Paulo e da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.

Sobre o artista.

Artista interdisciplinar, Tom Brabant concluiu seus estudos na École des Arts Décos de Paris. Trabalha com desenho, vídeo, instalação e faz obras no espaço público. Sua prática visa questionar a relação com a obra, com o visível, posicionando-se numa estética do talvez. Nascido em 2000, em La Rochelle, França, Tom Brabant tem construído sua produção em torno do conceito de “deslizar”, um movimento plural e fluído que, para o artista, consiste em criar sobre o que já existe. Seu universo visual e conceitual também transita entre “loops”, espirais e elipses, onde tudo parece recomeçar ou se repetir. Tom Brabant gosta de distorcer as coisas, de enganar o olhar e de tornar incerto o que se acredita ser uma verdade.

 

 

 

Pela regeneração urbana.

O Consulado Geral da Itália Rio de Janeiro inaugura dois projetos em outubro: Programa da Prefeitura do Rio de Janeiro, “Reviver o Centro”, e a mostra “Cidades em Cena”, que entra em cartaz no Polo Cultural ItaliaNoRio, abertos ao público gratuitamente.

Tendo como elo de ligação a regeneração urbana, o Polo Cultural ItaliaNoRio abriga nova exposição e a Praça Itália reinaugura após longo período de revitalização. Ambos poderão ser visitados a partir do dia 12 de outubro, gratuitamente. No primeiro, a mostra “Cidades em Cena” valoriza as melhores práticas italianas de regeneração urbana, promovendo as competências e tecnologias ligadas ao desenho de espaços urbanos, à construção e à habitação, desenvolvidas por administrações públicas, empresas e projetistas italianos.

Na segunda, o projeto de requalificação, desenvolvido pelo renomado escritório italiano de arquitetura ARCHEA e aprovado pela Prefeitura de Rio de Janeiro, transforma completamente a praça. A proposta se inspirou em praças contemporâneas italianas, com foco em sustentabilidade e soluções tecnológicas inteligentes e se insere no contexto do programa de revitalização do Centro da Prefeitura do Rio, “Reviver o Centro”.

A mostra tem um duplo objetivo: de um lado, apresentar a extraordinária vitalidade criativa e construtiva existente na Itália, que está transformando as cidades de norte a sul; e de outro, ilustrar, através de exemplos significativos, a variedade de soluções adotadas, testemunhando as amplas e difundidas competências conceptuais, projetuais, tecnológicas e construtivas que se desenvolveram recentemente no país, convertendo-se em uma das mais relevantes expressões do Made in Italy. A partir de 2023, mais de 130 projetos de reabilitação urbanística foram reunidos pelo Festival Città in Scena. Desde a edição de 2024, o Festival conta também com a colaboração da Farnesina, que enriqueceu o evento com novas conexões internacionais, incluindo cidades do Mediterrâneo como Tirana, Tunes, Petrinja e Zagreb.

Um elemento significativo da praça é o busto da imperatriz Teresa Cristina, carinhosamente chamada “Mamma dos Brasileiros”, símbolo do vínculo histórico entre Itália e Brasil. O busto original, em bronze, foi inaugurado em 2008 como homenagem à comunidade italiana, mas em janeiro de 2019 foi furtado integralmente. Para celebrar os 200 anos do nascimento de Teresa Cristina, em 14 de março de 2022 foi criado um novo busto pelo artista ítalo-brasileiro Gianguido Bonfanti, doado pelo Consulado. A nova escultura em bronze com detalhes em aço retrata a imperatriz com o traje da época do Império do Brasil.

Até 29 de novembro. 

Problemas ambientais em exposição.

Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre tem como tema a emergência climática. O FestFoto – Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre, RS, – chega à sua 18ª edição com abertura na Praça da Alfândega e no Espaço Força e Luz, no centro da capital.

O tema Linha d’Água é uma metáfora visual e poética usada para abordar o cotidiano da emergência climática. O Festival reúne uma série de trabalhos que refletem sobre problemas ambientais e leva ao centro histórico de Porto Alegre uma mostra especial sobre Árvores. O movimento é uma ação de reativação de locais que foram afetados pela enchente de 2024 e um convite a repensar a relação humana com o ambiente.

Consolidado como um dos eventos mais importantes da fotografia contemporânea no Brasil e na América Latina, o FestFoto investe na conexão com performance e poesia e amplia suas atividades para levar fotografia ao espaço público central e a comunidades da capital. A programação mescla exposições com artistas reconhecidos, ateliers de produção e construção coletiva de obras.

Entre os destaques está a presença de fotógrafos como Bob Wolfenson e Rogério Reis, do artista visual Shinji Nagabe, o intercâmbio com o coletivo de artistas multilinguagem Frete Grátis e a participação de poetas portoalegrenses Agnes Maria, Mikaa e Felipe Deds.

Em sua 18ª edição, o FestFoto reafirma seu compromisso com acessibilidade, diversidade, descentralização e sustentabilidade, fortalecendo o diálogo entre arte, território e sociedade, tanto em espaços expositivos de Porto Alegre quanto por meio de sua plataforma digital. O marco recente do festival é o FestFoto Descentralizado, iniciado em 2024, com ações no Morro da Cruz e Bom Jesus, territórios periféricos da capital.

A acessibilidade é central na edição 2025, com materiais em alto contraste, leitura ampliada, descrições de imagem, legendas e formatos digitais acessíveis, garantindo inclusão e participação ampla.

 

Uma Bienal é um grande desafio.

02/out

Quais são os rostos por trás das obras da 36ª Bienal?

Ministério da Cultura, Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa da Cidade de São Paulo, Fundação Bienal de São Paulo e Itaú apresentam a 36ª Bienal Internacional de São Paulo até 11 de janeiro de 2026, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, Portão 3, São Paulo, SP.

A arte é um exercício coletivo. São necessárias muitas mãos para construir uma exposição. Você já se perguntou quem é o artista e quem são as pessoas que trabalharam em cada obra? Este ensaio explora a categoria do retrato, destacando artistas, equipes de montagem, curadores e funcionários da Fundação Bienal.

Montar uma exposição da dimensão de uma Bienal é um grande desafio. Para registrar esse processo de dois meses, convidamos três fotógrafos a captar detalhes, rostos e momentos de criação da 36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática.

A segunda parte desse ensaio visual, realizada entre 18 de agosto e 04 de setembro no Pavilhão da Bienal e em ateliês de artistas, é assinada por Fe Avila. 36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática.

Curador geral: Bonaventure Soh Bejeng Ndikung / Cocuradores: Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza / Cocuradora at large: Keyna Eleison / Consultora de comunicação e estratégia: Henriette Gallus / Cocuradores adjuntos: André Pitol, Leonardo Matsuhei.

 

Exibindo a arte da preservação e da cidadania.

26/set

nstituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP,  apresenta “A terra, o fogo, a água e os ventos – Por um Museu da Errância com Édouard Glissant”. A exposição reúne obras de 60 artistas das Américas, Caribe, Europa, África e Ásia, que conta com o patrocínio do Nubank, Mantenedor Institucional do Instituto Tomie Ohtake, da SKY, na cota Bronze, e da Fundação Norma y Leo Werthein, na cota Apoio. Concebida como um museu em movimento e dedicada à obra e ao pensamento do poeta, filósofo e ensaísta martinicano Édouard Glissant (1928–2011), a exposição integra a Temporada França-Brasil 2025 como um de seus principais destaques. A iniciativa de intercâmbio cultural é promovida pelo Instituto Francês e pelo Instituto Guimarães Rosa (Itamaraty), com o apoio de um comitê formado por 15 empresas: Engie, LVMH, ADEO, JCDecaux, Sanofi, Airbus, CMA CGM, CNP Seguradora, L’Oréal, TotalEnergies, Vinci, BNP Paribas, Carrefour, VICAT e SCOR. Com curadoria de Ana Roman e Paulo Miyada, a mostra é uma realização do Instituto Tomie Ohtake, correalização do Mémorial ACTe, do Édouard Glissant Art Fund e do Institut Tout-Monde, além de parceria com o CARA – Center for Art, Research and Alliances e apoio institucional do Institut Français.

Parte da pesquisa de longo prazo do Instituto Tomie Ohtake em torno da produção de memória, a exposição dá sequência a iniciativas recentes como a mostra Ensaios para o Museu das Origens (2023) e o seminário “Ensaios para o Museu das Origens – Políticas da memória” (2024), que reuniu representantes de museus, arquivos e comunidades em um intenso debate sobre preservação e cidadania. Com seu título inspirado na antologia poética La Terre, le feu, l’eau et les vents (2010), organizada pelo escritor martinicano, a mostra ensaia o que seria um “Museu da Errância”. 

Errância é uma vivência da Relação: recusa filiações únicas e propõe o museu como arquipélago – espaço de rupturas, apagamentos e reinvenções sem síntese forçada. Contra genealogias rígidas, propõe-se uma memória em trânsito, feita de alianças provisórias, traduções e tremores – um processo institucional movido pelo encontro entre tempos, territórios e linguagens. Ainda que Glissant tenha deixado fragmentos de sua visão para um museu do século 21, não chegou a concretizá-lo. A curadoria imagina como poderia ser esse Museu da Errância em uma mostra de múltiplas camadas e conexões inesperadas entre obras, documentos e paisagens. As duas ideias-chave da organização da montagem da exposição são a palavra da paisagem e a paisagem da palavra, concebidas a partir da concepção de Glissant de “parole du paysage”. Como apontam em texto, “No primeiro caso, o território infiltra-se na fala; no segundo, a linguagem se projeta no espaço, convertendo signos, letras e códigos em relevo, clima ou correnteza”. Para o poeta, a paisagem não é apenas cenário externo, mas força ativa que molda memórias, gestos e linguagens. Além disso, estão presentes em frases, manuscritos e entrevistas do autor outras ideias como Todo-mundo, crioulização, arquipélago, tremor, opacidade, palavra da paisagem e aqui-lá. Para a curadoria, que trabalhou em contínuo diálogo com Sylvie Séma Glissant, trata-se de um arco de assuntos interligados com profunda relevância no mundo contemporâneo, que mais uma vez se vê permeado por discursos e medidas de intolerância perante o diverso e incapaz de criar canais de escuta dos Elementos naturais e das paisagens ameaçados de destruição.

É nesse horizonte que se apresenta, pela primeira vez no Brasil, parte da coleção pessoal reunida por Glissant e atualmente preservada no Mémorial ACTe, em Guadalupe. O conjunto inclui pinturas, esculturas e gravuras de artistas com quem o pensador conviveu e sobre os quais escreveu, como Wifredo Lam, Roberto Matta, Agustín Cárdenas, Antonio Seguí, Enrique Zañartu, José Gamarra, Victor Brauner e Victor Anicet, entre outros. São artistas de crescente reconhecimento internacional, que viveram trajetórias de diáspora e imigração, e produziram em trânsito entre línguas, linguagens, paisagens e histórias múltiplas. Trata-se de um valioso recorte da produção artística da segunda metade do século 20, que lida com o imaginário, a figuração, a linguagem e as grafias como recursos carregados de traços de memória, identidade e invenção.

À coleção de obras somam-se documentos, cadernos, vídeos e fragmentos de textos e entrevistas de Glissant, igualmente inéditos. Entre eles, destaca-se o Caderno de uma viagem pelo Nilo (1988) – com notas e desenhos em fac-símile – que vai além do registro de viagem para se tornar um exercício poético-filosófico, no qual o autor questiona a ideia de uma origem única e propõe a noção de origens múltiplas. A mostra apresenta também trechos da extensa entrevista concedida em 2008 a Patrick Chamoiseau, escritor martinicano e parceiro intelectual de Glissant, da qual resultou o monumental Abécédaire. O público poderá conferir dezessete verbetes selecionados pela curadoria, exibidos em seis monitores distribuídos pela exposição. Esses materiais revelam como o poeta elaborava suas ideias no cruzamento entre escrita, oralidade e imagem. Este extenso e rico acervo é apresentado em diálogo com trabalhos de mais de 30 artistas contemporâneos das Américas, Caribe, África, Europa e Ásia – nomes como Chico Tabibuia, Emanoel Araújo, Federica Matta, Frank Walter, Julien Creuzet, Manthia Diawara, Melvin Edwards, Sheila Hicks, Rebeca Carapiá, Pol Taburet, Tiago Sant’Ana, entre outros – que convocam o público a experimentar, de forma sensorial, o entrelaçamento entre paisagem, linguagem e memória. Nas palavras dos curadores: “Entre as peças selecionadas há partituras visuais que serpenteiam pelas paredes como cordilheiras, vídeos em que frases viram espuma marítima e instalações sonoras que transformam poemas em ar e vibração”. Parte dessa proposta inclui ainda obras especialmente comissionadas para a exposição, realizadas por Aislan Pankararu, Pedro França e Rayana Rayo, do Brasil, e por Arébénor Basséne, Hamedine Kane, Nolan Oswald Dennis, Pol Taburet, Kelly Sinnapah Mary e Tarik Kiswanson, de diferentes contextos internacionais, ampliando as vozes e perspectivas que atravessam a mostra.

Está programado o lançamento de um catálogo, em português e em inglês – cuja edição em inglês está sendo coeditada pelo CARA – que reúne textos das instituições parceiras, ensaio curatorial de Ana Roman e Paulo Miyada, verbetes sobre os artistas participantes, além da transcrição de trechos do Abécédaire. O volume inclui também o manuscrito Caderno de uma viagem pelo Nilo, de Glissant, assim como legendas técnicas e ficha detalhada da exposição. Em novembro, no Instituto Tomie Ohtake, a programação se completa com um seminário com a participação de alguns dos artistas da exposição e com importantes intelectuais que dialogam com a obra de Glissant.

O projeto contemplou, ainda, uma residência artística na Martinica, realizada em agosto de 2025, com a participação de Rayana Rayo e Zé di Cabeça (José Eduardo Ferreira Santos). Os frutos dessa vivência, que conta com o apoio da Coleção Ivani e Jorge Yunes e do Instituto Guimarães Rosa, darão origem a intervenções em diálogo com a coleção de arte africana do MON – Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, PR. O evento também integra a Temporada França Brasil. No primeiro semestre de 2026, a exposição tem itinerância prevista para Nova York, no CARA – Center for Art, Research and Alliances.

Artistas participantes

Agustín Cárdenas, Aislan Pankararu, Amoedas Wani e Patrice Alexandre, Antonio Seguí, Arébénor Basséne, Cesare Peverelli, Chang Yuchen, Chico Tabibuia, Eduardo Zamora, Emanoel Araújo, Enrique Zañartu, Ernest Breleur, Etienne de France, Federica Matta, Flavio-Shiró, Florencia Rodriguez Giles, Frank Walter, Gabriela Morawetz, Geneviève Gallego, Gerardo Chávez, Hamedine Kane, Irving Petlin, Jean-Claude Garoute (Tiga), José Gamarra, Julien Creuzet, Kelly Sinnapah Mary, M. Emile, Manthia Diawara, Mélinda Fourn, Melvin Edwards, Minia Biabiany, Nolan Oswald Dennis, Öyvind Fahlström, Pancho Quilici, Paul Mayer, Pedro França, Pol Taburet, Raphaël Barontini, Rayana Rayo, Rebeca Carapiá, Roberto Matta, Serge Hélénon, Sheila Hicks, Sylvie Séma Glissant, Tarik Kiswanson, Tiago Sant’Ana, Victor Anicet, Victor Brauner, Wifredo Lam, Zé di Cabeça (José Eduardo Ferreira Santos). 

Até 25 de janeiro de 2026.

 

Panmela Castro na Temporada Brasil-França.

18/set

Exposição destaca protagonismo de mulheres negras na luta por direitos na triangulação Atlântica, Brasil, França e Senegal. A artista Panmela Castro inaugura a exposição “Retratos Relatos: Revisitando a História” no espaço cultural Les Jardiniers, em Montrouge, região metropolitana de Paris, França. Com curadoria de Maybel Sulamita, a mostra integra a programação oficial da Temporada Brasil-França 2025 e reúne 15 pinturas inéditas que contam a história de mulheres negras do Brasil, da França e do Senegal que lutaram pelo avanço dos direitos femininos.

Entre as figuras retratadas estão nomes como a intelectual brasileira Lélia González e a escritora brasileira Carolina Maria de Jesus; a cineasta senegalesa Safi Faye e a famosa cantora francófona Josephine Baker, cujas trajetórias são revisitadas e recontadas a partir de uma visão contemporânea. Dessa forma, a exposição propõe um exercício de reimaginação das narrativas sobre essas mulheres.

“Retratos Relatos surgiu das histórias que as mulheres contavam para mim. Comecei a transformar esses relatos em retratos, e este foi um projeto que circulou por muitos lugares do Brasil. Para a Temporada Brasil-França, escolhemos mulheres que já não estão mais vivas para contar suas histórias, mas que ainda assim são importantes de serem contadas”, afirma a artista.

As pinturas expostas são acompanhadas de relatos biográficos com informações acessíveis sobre a vida, o legado e a relevância dessas mulheres. Durante a exposição, Panmela Castro participa de uma residência artística na instituição, com o objetivo de conviver com a comunidade local e promover o intercâmbio entre as culturas. Panmela Castro pretende desenvolver três novos retratos para a exposição: o da cientista da computação senegalesa Rose Dieng-Kuntz; o de Alice Mathieu-Dubois, primeira mulher negra francesa a se formar em Medicina; e o da defensora dos direitos humanos brasileira Alessandra Makkeda.

Até 31 de outubro.

Exposição resgata memórias da ditadura.

17/set

Exposição do fotógrafo Gustavo Germano homenageia desaparecidos políticos e propõe reflexão sobre os impactos da violência de Estado.

Até 08 de outubro, o Arquivo Histórico Municipal de São Paulo (AHM), Bom Retiro, exibe a exposição Ausências Brasil, do fotógrafo argentino Gustavo Germano. A mostra, realizada em parceria com o Núcleo de Preservação da Memória Política (NM), traz um olhar sensível e contundente sobre os desaparecidos políticos durante a ditadura civil-militar brasileira (1964–1985). A proposta é confrontar o público com a ausência transformada em imagem. As fotografias de Gustavo Germano recriam retratos familiares, justapondo cenas do passado a registros atuais marcados pelo vazio da pessoa que foi retirada pela violência do regime. O projeto nasceu na Argentina, a partir da história pessoal do autor: seu irmão, Eduardo Raúl Germano, foi sequestrado e desaparecido em 1976. Anos mais tarde, expandiu-se para outros países atingidos pela Operação Condor, até chegar ao Brasil, onde a versão atual reúne 12 histórias de desaparecidos políticos, de diferentes regiões do país.

Além das imagens, a exposição contará com visitas mediadas, rodas de conversa com ex-presos políticos e a exibição do documentário O Dia que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares. Para a museóloga Kátia Felipini, diretora técnica do Núcleo Memória, a iniciativa é também um ato de reparação: “Cada vez que a gente apresenta essa exposição, é uma forma de reparar essas famílias”. O educador e historiador César Novelli ressalta em comunicado a atualidade da discussão: “A história do Brasil é pautada na violência. Os vínculos entre os crimes da ditadura e os desaparecimentos de hoje são sinais da impunidade permitida após a redemocratização”. A entrada é gratuita, e a programação completa inclui debates, formações para educadores e atividades culturais, sempre voltadas para fortalecer a memória democrática e refletir sobre as marcas da repressão no presente.

Por Felipe Sales Gomes.

O inesperado e o extraordinário na criação têxtil.

16/set

A exposição PLAY – FITE – Bienal Têxtil de Clermont-Ferrand edição 2024-2025 convida o público para desvendar no SESC Pinheiros, São Paulo, SP, até 25 de janeiro de 2026, as tramas de um instigante conjunto de obras e criações que propõe um diálogo entre as técnicas da produção têxtil e o universo lúdico dos jogos e das brincadeiras. A exposição chega ao Brasil após estreia, em 2024, no Museu Bargoin, em Clermont-Ferrand, na França, integrando a mais recente edição da FITE – Bienal Têxtil de Clermont-Ferrand, evento realizado desde 2012 com o objetivo de celebrar o inesperado e o extraordinário na criação têxtil e sua cadeia produtiva, promovendo encontros entre tradições, saberes e inovações.

Com ênfase no uso de elementos têxteis como suporte para a pluralidade criativa, a exposição PLAY reúne trabalhos de artistas brasileiros e estrangeiros, selecionados a partir de uma curadoria coletiva que reúne dez profissionais: Christine Athenor, Simon Njami, Thomas Leveugle e Nolwenn Pichodo, da HS_Projects; Christine Bouilloc, do Musée D’Art Roger-Quilliot; Charlotte Croissant, do Musée Bargoin; e Juliana Braga de Mattos, Carolina Barmell e Fabiana Delboni, do Sesc São Paulo.

Vindos de países como Austrália, Canadá, Estados Unidos, França, Marrocos, Holanda e Uzbequistão, o grupo internacional de artistas que integram a exposição é composto por: Awena Cozannet, Bas Kosters, Hannah Epstein, Mark Newport, Saïd Atabekov e Dilyara Kaipova.  A seleção inclui, ainda, obras de Sheryth Bronson, Donna Ferguson e Beryl Bell, que compõem o coletivo Tjanpi, e entre quimonos e leques japoneses, móbiles beduínos, fantasias de mascarados nigerianos e bolas de seda chinesas, um significativo conjunto de peças e objetos da coleção do Museu Bargoin. Seis artistas internacionais também compõem o programa de residência da mostra. São eles: Arnaud Cohen, Delphine Ciavaldini, Nikita Kravstov, Roméo Mivekannin e Sabrina Calvo.

Representando o Brasil, participam: Alexandre Heberte, Alex Flemming, Anna Mariah Comodos, Elen Braga, Felipe Barbosa, Gina Dinucci, Leda Catunda, Mestre Nato, Tales Frey e Ivan Cardoso, que apresenta seu curta metragem HO (1979), um documentário experimental com e sobre Hélio Oiticica. Parte destes artistas estarão representados por obras pertencentes ao Acervo Sesc de Arte, que foram apresentadas na edição francesa da mostra, em 2024 e retornam agora a São Paulo para compor esta relação entre coleções. Em diferentes suportes, a mostra reúne mais de 40 criações de artistas brasileiros e estrangeiros que, a partir de uma parceria com a cidade francesa de Clermont-Ferrand e a HS_ Projetcs, convidam o público a explorar fronteiras entre as tramas, tecidos, brinquedos e vestíveis, e a refletir sobre as regras, os desejos e os limites que constituem a vida cotidiana.

Exposição do artista português José Pedro Croft.

15/set

O Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro inaugura, no dia 24 de setembro, a grande exposição “José Pedro Croft: reflexos, enclaves, desvios”, com cerca de 170 obras. Com curadoria de Luiz Camillo Osorio, a mostra, que ocupará todo o primeiro andar e a rotunda do CCBB RJ, será composta, principalmente, por gravuras e desenhos, apresentando também esculturas e instalações, que ampliarão o entendimento sobre o conjunto da obra do artista e sobre os temas que vem trabalhando ao longo de sua trajetória, como o corpo, a escala e a arquitetura. Esta será uma oportunidade de o público ter contato com a obra do artista, que já realizou exposições individuais em importantes instituições, como no Pavilhão Português na 57ª Bienal de Veneza, Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, Capela do Morumbi, São Paulo, Paço Imperial e MAM Rio, entre muitas outras.

“José Pedro Croft é um dos principais artistas portugueses da geração que se formou logo após a Revolução dos Cravos (1974). Ou seja, teve sua trajetória artística toda vinculada aos ideais de liberdade, cosmopolitismo e experimentação. Trata-se de uma poética visual que se afirma no enfrentamento da própria materialidade das linguagens plásticas: a linha, o plano, a cor, o espaço. Sempre levando em conta sua expansão junto à arquitetura e ao corpo (inerente aos gestos do artista e à percepção do espectador)”, conta o curador Luiz Camillo Osorio.

A exposição é composta a partir da potência plástica das gravuras e dos desenhos que se articulam com a vertigem espacial das esculturas, com seus vazios e espelhos. As gravuras, suporte com o qual o artista trabalha desde a década de 1990, ocuparão a maior parte da exposição, incluindo obras em grandes escalas. “A gravura é um trabalho de grande ciência física e artesanal, com muito rigor e entrega. Não é algo secundário. Para mim, é uma âncora do meu trabalho. Há coisas que fiz em gravura, que vão me dar soluções para o meu trabalho em escultura”, afirma José Pedro Croft. Diversas séries, de anos distintos, sendo muitas feitas sobre a mesma chapa de metal, aguçarão a percepção do público. “Ver não é reconhecer. As muitas variações no interior das séries gráficas conduzem o olhar para dentro do processo em que repetição e diferença se potencializam. A atenção para o detalhe é uma convocação política em uma época de dispersão interessada”, diz o curador.

A gravura é tão importante na obra do artista que muitos desenhos que serão apresentados na mostra foram feitos sobre as provas das gravuras. “Eu as uso como uma memória e desenho por cima com linhas de nanquim super finas, com 0,25 milímetros cada, criando volumes. Faço os desenhos à mão, trazendo esse mundo de imagens de pixels para a nossa realidade, que é física ainda. É uma maneira de resistir a velocidade de estarmos sempre ligados a um excesso de estímulos”, ressalta José Pedro Croft.

Em cartaz até 17 de novembro.