Exposição/homenagem na Pinakotheke Cultural

08/mar

A exposição “Anjos com armas”, na Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até 11 de maio, cerca de 50 obras dos artistas Sergio Camargo (1930-1990), Lygia Clark (1920-1988), Mira Schendel (1919-1988) e Hélio Oiticica (1937-1980. A curadoria é de Max Perlingeiro, com a colaboração do artista Luciano Figueiredo.

A mostra é um tributo ao crítico e curador britânico Guy Brett(1942-2021), que desempenhou papel decisivo na internacionalização da arte brasileira, ao criar, junto com o artista filipino David Medalla(1942-2020), e outros amigos, a lendária galeria Signals, que de 1964 a 1966 exibiu obras desses fundamentais artistas que são Lygia Clark, Hélio Oiticica, Mira Schendel e Sergio Camargo. Quatro obras que estiveram originalmente na Signals, estarão expostas na Pinakotheke Cultural: “Bicho-Contrário II” (1961), “Espaço Modulado nº 4” (1958) e “Espaço modulado nº8” (1959), de Lygia Clark, e “Relief” (1964), de Sergio Camargo.

Na abertura de “Anjos com armas”, estará presente o crítico, historiador e filósofo da arte Yve-Alain Bois (Constantine, Argélia, 1952), pesquisador no prestigioso Institute for Advanced Study, em Princeton, EUA, quando será lançada a dupla publicação “Anjos com Armas” – dois volumes envolvidos por uma “luva” – bilíngüe (port/ingl), em formato de 21 x 27 cm. O primeiro, com 132 páginas, traz na íntegra o texto “Anjos com Armas” (“Angels with Guns”), de Yve-Alain Bois. Quando o filósofo enviou o texto para a tradução em português, ele instigou a Pinakotheke a montar uma exposição com base no ensaio, que trata-se de um texto muito amoroso sobre a importância da Signals e a amizade.

O volume 2, com 128 páginas, contém as imagens das obras da exposição, e fotografias de época, como as que mostram a Signals. Os textos são de Guy Brett sobre os artistas Sergio Camargo, Lygia Clark, Mira Schendel e Hélio Oiticica, apresentação de Max Perlingeiro, e ainda um texto de Luciano Figueiredo, que em 2017 organizou, com Paulo Venâncio Filho, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, a exposição “Guy Brett: a proximidade crítica”, em “reconhecimento ao longo interesse intelectual e afetivo do crítico por nossos artistas”, assinala Max Perlingeiro.

Outros destaques da exposição são os “Bichos”, de Lygia Clark, em alumínio: “Bicho caranguejo” (1960) e “Bicho-contrário II” (1961); o conjunto de sete “Metaesquemas” de Hélio Oiticica, de 1957 a 1959; o conjunto de seis “Relevos” de Sergio Camargo, entre eles o “Relevo nº 172” (Fenditura spazio orizzontal e lungo), de 1967; os seis trabalhos da série “Monotipias” dos anos 1960 de Mira Schendel, além de seu “Caderno de artista” (1966), o “Diário de Londres”, no qual a artista usa, “ao que parece, pela primeira vez, as letras decalcadas (letraset)”, como afirmou Taisa Palhares, no catálogo da exposição “O espaço infindável de Mira Schendel” (2015), na Galeria Frente.

Marcelo Lago no Ateliê 31

Um dos nomes da geração de escultores do Rio de Janeiro na década de 1980, o artista Marcelo Lago inaugura a exposição individual “Esculturas, Pinturas, Gravuras” no Ateliê 31, Cinelândia, Centro, Rio de Janeiro, RJ, no dia 15 de março. Nessa mostra, Marcelo Lago apresenta 22 obras que compõem a sua trajetória, além de trabalhos recentes e inéditos. A mostra permanecerá em cartaz até o dia 15 de abril e a curadoria é assinada por Shanon Botelho.

“Para este momento Marcelo Lago nos propõe uma reflexão sobre a mutabilidade dos materiais – metais, bonecos de plástico, lambris, corpos e outros – e de três conceitos que fundamentam a sua pesquisa visual: Energia, Memória e Movimento”, descreve o curador. A produção dos trabalhos de Marcelo Lago tem processos longos. Ele utiliza diversas materialidades que envolvem desde fibra de vidro, plástico, chapa de alumínio, até motor de aquário. “Sou eclético com relação aos materiais, normalmente tenho uma ideia e busco a solução para a fatura, mas cada material tem sua própria linguagem, que sempre contribui com a poética final”, revela Marcelo Lago.

A obra mais recente e ainda inédita que será apresentada na mostra é “Energia Primal” (2024), da série Energias, uma escultura vertical em PVC e tinta automotiva, medindo 160 x 60 x 3 cm, na qual o artista propõe uma interrupção da ordem (linhas paralelas que se encontram no infinito), através da energia mais contundente possível, o calor. Mas ainda na exposição será possível encontrar outros trabalhos pouco vistos, como é o caso da série “Memórias, Sonhos e Reflexões”, que esteve no Paço Imperial (2005) e em função de uma greve ficou apenas duas semanas em cartaz. Embora tenha na escultura uma marca registrada, sendo um dos principais nomes de sua geração, o desenho sempre esteve presente na dinâmica do artista. “Sempre desenhei, desde muito jovem, mas nunca expus, pois depois que comecei a trabalhar com a três dimensões, e já faz mais de quarenta anos da minha primeira exposição individual, toda minha energia ficou direcionada na escultura e suas relações com o espaço”, diz o artista. Os desenhos da série “Sondas Espaciais” (2011), foram escolhidos para serem apresentados ao público pela primeira vez. “Movimento nesta exposição significa o momento atual de Marcelo Lago, um artista aguçado no exercício de suas capacidades criativas, em constante movimento em busca de novos materiais, formas de comunicar e de constituir objetos tridimensionais dotados de verdade e afeto”, define Shannon Botelho.

Sobre o artista

Marcelo Lago nasceu em 1958, no Rio de Janeiro. Participou da icônica exposição “Como Vai Você Geração 80?”, na EVA do Parque Lage, Marcelo Corrêa do Lago dá continuidade a uma geração de escultores do Rio. Suas peças se integram à paisagem urbana, como “Intervenção Vermelha”, grande tubo de aço pintado que durante quatro anos “abraçou” toda a fachada da Casa de Cultura Laura Alvim, na praia de Ipanema, ou o “Grande Painel Azul” que foi feito para sua primeira exposição no Paço Imperial, mas que a pedido de seu diretor, Lauro Cavalcante, ficou instalado no atrium por 12 anos. Tem trabalhos também no jardim da PUC Rio, no metrô Barra Funda, em São Paulo, Museu da República, em Brasília, no jardim do Museu Mineiro, em Belo Horizonte e na Praça Paris, Centro do Rio, onde permaneceu por três anos. Marcelo Lago mora e trabalha em Petrópolis, desde 1984, onde além do ateliê, desenvolve atividades como professor de escultura contemporânea, curadoria e produção cultural.

Siron Franco no Recife

A Galeria Marco Zero, Boa Viagem, Recife, PE, apresenta exposição individual de Siron Franco, premiado artista goiano com sua produção revisitada com curadoria de Agnaldo Farias.

Poetizar a vida, manter-se aberto para o mundo e sentir e refletir o seu entorno e o que está dentro de si. Esses são princípios que norteiam a produção de Siron Franco (1947) desde que começou a produzir arte, ainda na infância. Sua obra, inquieta e provocadora, nunca cedeu a classificações ou correntes, exprimindo-se por diferentes mídias e suportes. Para marcar o retorno do artista a Pernambuco, após quase três décadas desde sua última individual, a Galeria Marco Zero apresenta “Siron Franco – De dentro do Cerrado”, exposição que reúne cerca de 50 obras em pintura e escultura. A mostra estará aberta ao público a partir do dia 13 de março.

Nascido em Goiás Velho (GO), Siron Franco vive e produz em Goiana. A vivência no cerrado do Brasil, com sua exuberância, tradições e contradições, permeia seu trabalho de múltiplas maneiras, seja nos seres grotescos, que misturavam figuras humanas com bichos, no início da sua carreira, ou na denúncia da exploração desenfreada da natureza, como na série “Césio”, em referência ao acidente radiológico ocorrido em 1987, em Goiana.

A palavra do curador

“Siron nunca tratou o político como uma questão menor. Ele sempre teve uma visão de Brasil que ultrapassava o país urbano e, nesse sentido, fez vários trabalhos que traziam questões urgentes, de cunho social, como a causa indígena. Ele se interessa pelo que acontece ao seu redor, se incomoda. A natureza é muito presente na sua obra, de uma maneira muito particular. Desde que surge no cenário artístico, ele consegue se impor pintando o grotesco, se arriscando em diferentes mídias, no seu próprio tempo. Trabalhou com o figurativo, o abstrato, com a escultura, o vídeo, sempre no seu tempo, sem seguir tendências”, explica o curador Agnaldo Farias.

A palavra do artista

“É uma alegria muito grande voltar a Pernambuco, estado que sempre me inspirou muito artisticamente. Fiquei muito feliz quando me deparei com a seleção presente na exposição porque me dá, também, a oportunidade de me relacionar com os trabalhos de outra forma. No meu ateliê, tenho uma gaveta na qual guardo desenhos desde a época em que era garoto. Quando reencontro algumas dessas obras, percebo que temas que estão aparecendo nos meus trabalhos do momento, já estavam em mim há décadas. Então, considero ter muita sorte em poder exercer o meu ofício, aos 76 anos. Me considero um aprendiz constante e o que me move é o mistério da vida”.

Esculturas de Advânio Lessa

A Gomide&Co e a Galeria Marco Zero apresentam “Redemoinho não leva pilão”, primeira individual de Advânio Lessa em São Paulo, SP. Com curadoria de Valquíria Prates, a mostra inaugura o programa anual de exposições da Gomide&Co em 2024. Advânio Lessa (1981) nasceu e vive em Lavras Novas, distrito de Ouro Preto (MG). Tanto o seu local de origem, marcado pela herança quilombola, quanto os ofícios de seus pais (cesteira e tropeiro) são partes fundamentais do universo no qual se baseia sua poética como artista e agricultor desde a adolescência. Realizando esculturas em escala humana a partir de troncos de madeira de árvores mortas, raízes e trançados de cipó, o artista vincula os conhecimentos da cestaria e da marcenaria com madeiras e fibras encontradas nas matas da região de Ouro Preto, como cipó-alho, cipó-de-são-joão, candeia, jacarandá, folha miúda e alecrim. É em estreito diálogo com esse repertório que Lessa realiza suas obras, nas quais a natureza é uma espécie de coautora. Em entrevista concedida a Valquíria Prates, pesquisadora de sua obra, o artista afirma: “As sensações impressionantes que eu já tive, seja de estética, de energia, de movimento, de equilíbrio, de textura, eu nunca vi nada mais vibrante que a própria natureza. Então, para mim, tudo já está aí. A gente precisa compreender e ser humilde o suficiente para conectar mais com o que já está aí.” (Valquíria Prates, “Em tudo que é grande, a emenda é pequena: uma conversa caminhada com Advânio Lessa”, 2023).

Sempre interessado na capacidade humana de transformar contextos, lugares, situações e relações, Lessa tem em sua pesquisa artística o foco no trabalho, nos saberes e nas espiritualidades dos povos sequestrados da África e trazidos para o Brasil. Para “Redemoinho não leva pilão”, o artista convida os visitantes a um profundo processo de reflexão em torno de uma das plantas mais importante ligadas à história da Avenida Paulista: o café. A exposição consiste em um circuito composto por seis esculturas, tramas e flores de cipó-de-são-joão, pilões e milhares de grãos de café em côco que se interligam, formando uma grande instalação que pretende abordar os sistemas de produção em torno do cultivo desta que é uma planta tão comum no cotidiano de pessoas que vivem em todo o país. Planta de caráter mágico em algumas tradições religiosas, o café está presente nas mesas de casas, padarias, restaurantes, escritórios, salas de trabalho, além de nas bancas espalhadas pelas calçadas da cidade, movimentando esforços econômicos e interferindo nos ciclos de atenção há séculos, passando pelas mãos de quem planta e de quem bebe e gerando recursos em abundância.

O título da exposição é inspirado no provérbio Yorùbá “Ijì kìí kó gbódó” (O redemoinho não leva o pilão), retirado do livro Òwe – Provérbios, de Mãe Stella de Oxóssi, e que celebra a força dos que não são derrotados mesmo em condições e contextos adversos. Procura assim fazer alusão àqueles que são responsáveis pela construção e geração de riquezas, sob todo tipo de violência, opressão e injustiça, em todas as áreas de atuação humana do país. As esculturas a serem apresentadas de maneira inédita na exposição fazem parte da série Nascimento e vêm sendo trabalhadas por Lessa desde 2010, realizadas com madeiras de árvores e épocas diversas das matas de Lavras Novas, no que carregam em si “as histórias dos minerais, insetos e animais que com elas coexistiram temporariamente, camadas abaixo da terra, sobre ela e debaixo das estrelas e planetas que estão sendo com a gente, agora”, segundo palavras do artista. Encontros e conversas sobre modos de produção do café, a possibilidade de instaurar sistemas de bem viver integrados à produção de comida, além de estudos de caso entre a arte e a agricultura, fazem parte da programação pública da exposição.

A proposta de Advânio Lessa para sua primeira individual em São Paulo é uma continuidade de seu processo de pesquisa sobre sistemas de transformação pelo trabalho entre espécies em contextos específicos, que se iniciou com a exposição Se quiser saber do fim, preste atenção no começo (2023), com curadoria de Valquíria Prates. Apresentada no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, a exposição foi realizada pelo Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto (IA) no contexto do Programa Raiz, que investiga a arte contemporânea produzida por artistas da região com mais de 20 anos de carreira.

Sobre a curadora

Valquíria Prates é curadora, pesquisadora e educadora. É mestre em Políticas Públicas de Acessibilidade (USP) e doutora em Artes e Mediação Cultural (UNESP). Atualmente, é curadora do Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto (IA), consultora de Arte e Mediação Cultural do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM SP) e colaboradora em projetos do Pólo Sociocultural Sesc Paraty, do Centro Cultural do Cariri (CE), do Instituto Moreira Salles (SP) e da Fundação Roberto Marinho (RJ).

Sobre o artista

Advânio Lessa nasceu em 1989 e vive até hoje em Lavras Novas, distrito de Ouro Preto (MG). Tanto a sua terra de origem, marcada pela herança quilombola, quanto os ofícios de seus pais (tropeiro e cesteira), são partes fundamentais do universo que irriga a sua poética. Realizando esculturas de grande escala a partir de troncos de madeira de árvores mortas, raízes etrançados de cipó, o artista vincula os conhecimentos da cestaria e da marcenaria com as madeiras e fibras encontradas nas matas da região de Ouro Preto: Cipó Alho, Cipó São João, Candeia, Jacarandá, Folha Miúda e Alecrim. É em estreito diálogo com esse repertório que Lessa, que também é agricultor, realiza suas peças. Nesse sentido, não nos parece enganoso afirmar que a natureza aqui é uma espécie de coautora de suas obras. A produção do artista ganha o mundo munida, a um só tempo, de uma intensa eloquência formal e de uma relevante conotação discursiva. Suas esculturas, cujas escalas se aproximam àquela do corpo humano, atestam uma relação de reciprocidade entre nós e tudo aquilo que é vivo ao nosso redor. Nesse sentido, ressoam uma tendência importante da atualidade: no lugar de epistemologias caras a um modo Ocidental de conceber o mundo, para as quais nós humanos estamos sempre em posição superior, entram em cena cosmologias onde testemunha-se uma relação não hierárquica entre todos os seres vivos. O trabalho de Advânio Lessa foi apresentado, entre individuais e coletivas, em instituições como o Espaço Cultural CEFET – Ouro Preto (Ouro Preto, Brasil, 1998); Galeria Clélia Valadares (Belo Horizonte, Brasil, 2008); Galeria da FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, Ouro Preto, Brasil, 2010); Galeria Graphos Brasil (Rio de Janeiro, Brasil, 2013); Museu Afro Brasil (São Paulo, Brasil, 2013); Fundação Clóvis Salgado – Palácio das Artes (Belo Horizonte, Brasil, 2015); IA – Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto e Museu da Inconfidência, com curadoria de Valquíria Prates (Ouro Preto, Brasil, 2023), entre outras. Sua obra compõe a coleção da Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo, Brasil).

Até 04 de maio.

Expressão e extravasão de Maxim Malhado

29/fev

Estará aberta ao público a partir do dia 05 de março, na Paulo Darzé Galeria, Rua Chrysippo de Aguiar 8, Corredor da Vitória, Salvador, BH, com o título de “Até onde a vista alcança”, a exposição de pinturas e esculturas de Maxim Malhado.

Para o crítico e curador Ricardo Resende, “…a arte para Maxim é sua maneira de desver o mundo, como também era para o poeta, artista mesmo, Manoel de Barros. Era também uma maneira de subverter a vida enfadonha daquele interior de Sítio Novo, cidade onde cresceu na Bahia. Sonhar, desenhar, pintar e esculpir são a sua forma de expressão e extravasão máxima dos sentimentos. Os que despertavam sua curiosidade pelo mundo e os que o afligiam. Um mundo que é só imagem, e até mesmo imagem de uma imagem, nada de nada. Os homens, por sua vez, não passam de imagens, sonhos…”, e concluindo na apresentação no catálogo da exposição que a sua obra “…é a de um menino que via coisas e imaginava mais coisas ainda depois das coisas que via, um claro desejo de sustentar espaços”. A mostra, cumprirá temporada até 05 de abril.

A obra de Eliane Duarte na Central Galeria

28/fev

Em 2023, a Central Galeria, Vila Buarque, São Paulo, SP, em colaboração com a família da artista Eliane Duarte, iniciou uma pesquisa para resgatar sua obra. Duarte nasceu em 1943 no Rio de Janeiro e teve uma produção artística breve, mas intensa, até seu falecimento prematuro em 2006. Agora, de 09 de março até 11 de maio, Eliane Duarte terá a exposição individual “Reza” na Central Galeria, acompanhada por um texto crítico de Catarina Duncan. A mostra não apenas destaca a relevância ainda hoje do trabalho de Eliane Duarte, mas também enfatiza a importância de sua obra ser compartilhada com novas gerações.

Ao conhecer sua prática, acessamos fundamentos da Natureza, formas orgânicas, flores, cachos e vestes que se materializam em suas obras através de um processo de costura visceral. A costura é uma prática ancestral mas frequentemente associada ao universo feminino domesticado. Entretanto, a voracidade com que Eliane Duarte trabalhou com essas técnicas aproximam o fazer artesanal ao cirúrgico. Suas metodologias explicitam também a urgência de se comunicar de outra forma, tridimensional mas não escultórica,  com costura em pele e não só em tecido, sempre driblando das conformidades práticas do mercado de arte. Sua obra é um legado à prática artística de mulheres no Brasil, que seguem sem o devido reconhecimento na memória coletiva de sua geração, evidenciando os processos patriarcais das decisões históricas sobre quem é reconhecido. Acessamos um conjunto de trabalhos que nunca foram apresentados juntos e assim resgatamos e honramos a memória não só dessa grande artista mas de todas as mulheres, artistas que seguem sem o devido reconhecimento.

Sobre a artista

Eliane Duarte nasceu em 1943 no Rio de Janeiro. Suas obras expandem os limites da tela como suporte e ganham corpo como objetos-amuletos-rezos. Feitos com tecidos, algodão, pigmentos naturais, cera, sementes, corda, penas, moedas e outros elementos que, habitam uma mística, ganhando corpo como entidades e forças únicas. Conforme relato da artista: “Meu trabalho é quase uma reza, no sentido de fazê-los de forma lenta e por uni-los uns aos outros, costurando-os como se fossem patuás. Queria uma coisa que desse sorte às pessoas e tudo que eu coloco tem a função de amuletos”. Eliane Duarte estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, de 1987 a 1989. Começou a se destacar no cenário artístico ao ganhar o 1º Prêmio do Salão Nacional de Artes Plásticas da Funarte em 1994, com a obra “Veste”. Desde então, o sentido de maceração associado à ideia de gerar pele tornou-se um tema proeminente em sua poética. Além de inúmeras individuais nas galerias Anna Maria Niemeyer, no Rio, e Camargo Vilaça, em São Paulo, expôs no MAC Niterói; MAM Rio de Janeiro; Paço Imperial; Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro; Itaú Cultural de São Paulo. No exterior participou de coletivas no Museu Solomon R. Guggenheim, Nova Iorque; Centro Cultural de Arte Contemporâneo, Cidade do México; Museo Alejandro Ottero, Caracas; Centro Cultural Culturgest, Lisboa; Museo del Barrio, Nova Iorque; Museo de Arte Latino-Americana, Buenos Aires; Coconut Grove Center, Miami; BildMuseet, Umea, Suécia; Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris. Suas obras integram as mais importantes coleções brasileiras, como a de João Sattamini/MAC-Niterói; Gilberto Chateaubriand/MAMRio de Janeiro; Coleção do MAC São Paulo; e internacionais como a Coleção Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris, Bernard Soguel, Basel; Cisneros e Museo Alejandro Otero, Caracas.

Curadoria de Theo Monteiro com doze artistas

27/fev

A Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ,  apresentaá, no dia 29 de fevereiro, das 18h às 21h, a exposição “Essa cidade ‘sempre’ maravilhosa”, com trabalhos de doze artistas selecionados pelo curador Theo Monteiro. As obras discutem questões ligadas à cidade do Rio de Janeiro, como a paisagem, lazer, violência, sexualidade, o sagrado, em toda a complexidade que envolve esta metrópole que “desempenha papel decisivo na formação cultural e política do país”. O título da exposição é retirado da apresentação que o grande compositor Ismael Silva (1905-1978) fez antes de cantar seu clássico “Antonico”, no disco “Se você jurar”, de 1973.

Os artistas participantes da exposição são: Alberto Baraya (1968, Bogotá), Ana Hortides (1989, Rio de Janeiro), André Griffo (1979, Barra Mansa; vive no Rio de Janeiro), Arthur Chaves (1986, Rio de Janeiro), Celo Moreira (1986, Rio de Janeiro), Elian Almeida (1994, Rio de Janeiro), Jaime Lauriano (1985, São Paulo), Marcos Chaves (1961, Rio de Janeiro), Priscila Rooxo (2001, Rio de Janeiro), Raul Mourão (1967, Rio de Janeiro), Vik Muniz (1961, São Paulo; vive e trabalha no Rio de Janeiro e em Nova York), Yohana Oizumi (1989, Rubiataba, Goiás; vive e trabalha em São Paulo).

A palavra do curador

No térreo da Nara Roesler Rio de Janeiro, estão os trabalhos que “dialogam diretamente com questões de natureza mais cotidiana….Se fazer presente em uma cidade espremida entre mares, morros e mares de morros requer capacidade humana, técnica, trabalho e estratégia. Paisagens idílicas convivem ao lado de elementos como violência, sexualidade, arquitetura, lazer, propaganda, cultura de massa, histórias e memórias…Falamos de uma urbe que conjuga uma natureza de aparência intocada com a agitação característica de uma metrópole latino-americana. E existe todo um universo no meio e por causa disso. No piso superior, “…afloram os temas ligados ao espírito, aqueles que só a lógica, a sociologia e o intelecto não dão conta de explicar….Em uma cidade onde a vida se faz veemente, só o cotidiano não dá conta. E aí entram o metafísico, o onírico, o sagrado e o celestial…A religião, por exemplo, e seus desdobramentos, afinal, falamos de uma metrópole em que a fé é um destacado agente social e político, mas não somente. Também o futebol (o que é o Maracanã senão um grande templo devotado ao nobre esporte bretão?), o carnaval e a ficção dão as caras por aqui, mostrando uma cidade cujo imaginário se enraiza não só geograficamente, mas também nas almas”.

Em cartaz até 06 de abril.

Conversa com artista e curador no Paço Imperial

 

No dia 02 de março, às 16h, será realizada uma conversa gratuita e aberta ao público com a artista Ana Holck e o curador Felipe Scovino na exposição “Entroncados, Enroscados e Estirados”, no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Na ocasião, também será lançado o catálogo da mostra em formato e-book, com 37 páginas, texto do curador, fotos da exposição montada e das obras, com design do Estúdio Afluente. O catálogo terá visualização gratuita no novo site da artista: www.anaholck.com, que também será lançado no sábado.

Em cartaz até o dia 24 de março, a exposição apresenta obras inéditas de Ana Holck, que marcam uma nova fase na sua reconhecida e destacada trajetória de 22 anos nas artes. São apresentados oito trabalhos, pertencentes às três séries que dão nome à mostra. As obras, que foram produzidas este ano, em porcelana e aço inox – materiais até então nunca utilizados pela artista -, transitam entre a ideia de pintura e escultura.

Eliane Prolik e José Bechara

21/fev

A Simões de Assis, Balneáreo Camboriú, PR, exibe “Intersecções obtusas: Eliane Prolik e José Bechara”.

Eliane Prolik e José Bechara: Intersecções obtusas

Deitando dois conceitos matemáticos e dispondo-os como ferramentas poéticas, a exposição Intersecções obtusas busca aproximar trabalhos recentes de Eliane Prolik (Curitiba, 1960) e José Bechara (Rio de Janeiro, 1957), artistas que operam dispositivos geométricos a fim de tecer narrativas essencialmente humanas, contemplativas e questionadoras acerca de seu tempo. Suas produções, portanto, se interseccionam: não de maneira incisiva e cortante, mas em múltiplos caminhos obtusos, vastos e irrestritos. Nessa ocasião, Eliane Prolik apresenta esculturas metálicas resultantes de processos de dobras, angulações e obliquidades em tubos de aço inoxidável. Linhas se constroem e se metamorfoseiam em entidades escultóricas que provocam o espectador e ativam o espaço. Em oposição a uma geometria cartesiana e hermética, a artista endereça possibilidades experimentais na prática escultórica, a confluir atento rigor, sensibilidade e profunda erudição. Suas obras desobedecem a uma ortogonalidade limitante e se relacionam com leituras abertas do mundo contemporâneo: embora registrem as torções do dia-a-dia, os impasses e embates que incidem sobre as formas, ensaiam uma expansão com seus múltiplos cotovelos a romper o espaço modular. Em suas esculturas de parede, nota-se um avanço: as obras se projetam, em um ímpeto passional a inflamar a tranquilidade dos planos arquitetônicos. Sinal outro da atenção da artista à polivalência contemporânea é o combate a uma frontalidade estrita: suas obras resistem a um ponto de vista oficial, a uma tentação disciplinar que poda o olhar e que restringe as propriedades múltiplas da tridimensionalidade. Formam-se e deformam-se fractalmente, com várias faces ao passo que nenhuma oficial. Seja nas dinâmicas entre obra e espaço expositivo, seja nos aspectos intrínsecos à arquitetura transpostas à escultura, suas obras enfatizam as relações com o espaço arquitetônico. A superfície polida e espelhada do aço inoxidável mimetiza o espaço e amalgama o observador, replicando suas imagens em seus reflexos distorcidos. Esse aspecto reforça fluxos fenomenológicos dos trabalhos, dispondo-os abertos e penetráveis espacial e visualmente, incentivando o movimento do espectador ao seu redor e a fruição em vários ângulos. Desse modo, o olho percorre o objeto e o identifica em seu próprio reflexo mutável. As discussões espaciais movimentadas por José Bechara em suas grandes esculturas e instalações são canalizadas, nessa exposição, em suas pinturas com oxidação de emulsões metálicas, cobre e ferro, tinta acrílica e lonas usadas de caminhão. A variação de plataformas reitera a constância de uma preocupação sobre o acúmulo e o vazio, o excesso e a síntese, limítrofe às compreensões virtuais do espaço. Em suas obras, o dinamismo formal veloz colide radicalmente com um processo demorado, com etapas que guardam semelhanças com meticulosas práticas laboratoriais, ao passo que são igualmente contemplativas, existenciais. Há, portanto, uma declaração imediata: o espaço não é estático, mas é habitado, revirado, corroído. O artista propõe arranjos entrópicos orquestrados, onde o acaso não se encontra por sorte, mas por exaustão experimental. Infiltrações e embaralhamentos em espaços puros através de composições dramáticas e inquietas questionam pressupostos acerca da espacialidade – não de modo a solucioná-la, mas a questioná-la, a negar as imposições cisalhantes que lhe foram historicamente atreladas. Desse modo, Bechara revisita cânones do abstracionismo geométrico sem a milimétrica frieza minimalista, mas em uma pulsão expansora e rompante. De forma conciliatória, o artista emprega meticulosas práticas químicas a serviço de investigações acerca da existência, da impermanência do tempo, da inconstância do espaço, das oportunidades contemplativas em meio a turbilhões. Sensivelmente, decreta a vida ativa nos óxidos, nas reações químicas, assim como a ação do tempo e as histórias imantadas nas lonas de caminhão que utiliza como suporte discursivo. Além das convergências metálicas, da materialidade do aço inoxidável maciço das esculturas de Prolik às oxidações metálicas das pinturas de Bechara, os trabalhos atestam expansões poéticas dos consagrados artistas que comungam um cerne gramatical. Arestas, encontros e quinas tornam-se afáveis pela inflexão poética, na afirmação de experimentações a geometrias sensíveis, humanas e vivenciáveis.

Mateus Nunes

Duração da mostra: de 22 de fevereiro até 06 de abril.

Tunga no MAM SP

07/fev

O MAM, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, anuncia a permanência em exibição na Sala de Vidro de “…uma das últimas obras criadas por Tunga  (1952 – 2016), a instalação Eu, Você e a Lua. Inédita no Brasil, a obra reúne elementos frequentes da poética do artista como pedras, espelhos, garrafas de cristal e de gesso e pratos presos em aros e hastes”.

“Eu, Você e a Lua” está entre as últimas obras realizadas pelo artista que iniciou sua produção na segunda metade dos anos de 1960. Ao longo de sua trajetória, Tunga se interessou pela alquimia, pela psicanálise, pelas ciências e pela filosofia. Ele construiu uma mitologia singular com imagens simbólicas e materiais em que as noções de permanência e transformação são fundamentais. É recorrente em sua obra a ideia de que “o trabalho é um conjunto de trabalhos”.

A palavra do curador

Mesmo com a profusão de objetos e materiais, em Eu, Você e a Lua há uma forte coerência entre as partes. Alguns elementos são recorrentes no vocabulário poético do artista, como garrafas de cristal, de gesso ou de resina, tanto ocas como sólidas. Espelhos, cristais, pedras, pratos presos em aros e hastes, além de correntes ou alças de couro fixadas em tripés também aparecem em outras obras de Tunga. Ao lado de um tronco petrificado de milhares de anos, o uso desses materiais pode evocar o orgânico e o inorgânico ou o natural e o artificial. O fóssil de uma árvore que se manteve intacto, como se o tempo estivesse suspenso, convive com uma essência de âmbar, uma fragrância com toques amadeirados que goteja como se uma ampulheta marcasse a passagem do tempo e a transformação da matéria. Recorrendo ao olfato e à visão, os elementos originários e pré-históricos na obra de Tunga se fundem ao contemporâneo e à presença efêmera do perfume. Fragmentos agigantados de um corpo humano, dedos polegares de bronze patinado apontam para baixo, enquanto espelhos arredondados e prateados como a lua refletem a luz que vem de cima. Escultura de dedos, como se estivessem duplicados, apontam para lados contrários, para o céu e para o solo. Uma delas de pedra, na horizontal, alinhada ao tronco, indica sentidos opostos e apontam para o eu e para o outro. O olhar de dois sujeitos pode atravessar o fóssil e se encontrar num único. Os dois lados já não parecem se opor. Na poética de Tunga, o que está no planeta Terra ou fora dele, o interno e o externo, assim como eu, você e a lua, formam um todo indivisível.

Cauê Alves (curador-chefe do MAM São Paulo)

Sobre o artista

Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, o Tunga, nasceu em 1952, em Palmares, Pernambuco, viveu e trabalhou no Rio de Janeiro. Foi o primeiro artista contemporâneo a exibir sua obra na pirâmide do Louvre, além de ter participado de exposições como a Bienal de Veneza, em 1982, e Documenta de Kassel, em 1992. Hoje o trabalho do artista está nos acervos do MoMA, em Nova York; do Museum of Fine Arts de Houston; do Centre Pompidou, em Paris; do Barcelona Museum of Contemporary Art, e da Tate Modern, em Londres.

Sobre o Instituto Tunga

Criado em 2017 logo após o falecimento do artista, o Instituto Tunga é uma entidade sem fins lucrativos cujo objetivo é estudar, preservar e difundir o legado do artista. Fundado por seu filho Antônio Mourão, diretor executivo, e por Clara Gerchman, gestora do acervo, o Instituto Tunga transformou em realidade uma vontade que o artista manifestava em vida. O Instituto Tunga é formado por uma equipe de profissionais composta por pesquisadoras, museólogas, montadores, arquivista, bibliotecária e gestores que cuidam do acervo que Tunga deixou, contemplando desde as obras de arte até seus materiais e ferramentas de trabalho, cadernos de anotações, fotografias, cromos, publicações e uma importante biblioteca do artista.