Carolina Cordeiro na Artissima 2025.

17/out

Oval Lingotto Fiere, Turim

A Galatea anuncia sua participação na Artissima, que acontece em Turim, Itália, entre 31 de outubro e 02 de novembro. Em sua estreia na feira, a galeria apresenta um projeto solo da artista Carolina Cordeiro (Belo Horizonte, Brasil, 1983), cuja prática multidisciplinar abrange desenho, fotografia, vídeo, escultura e instalação, explorando sistemas simbólicos e a dimensão poética dos materiais a partir das tradições culturais e espirituais brasileiras.

Ocupando o estande Fuxia 2, na seção New Entries, Carolina Cordeiro apresenta um novo capítulo da série América do Sal (2021/2025), que consiste em uma instalação composta por uma grande trama de barbante de algodão da qual pendem pequenas trouxas de sal envoltas em tecido. Disposta paralelamente ao chão e atravessando o estande, a obra convida o público à interação, uma vez que se deve passar por debaixo dela para chegar à parede de fundo, onde outros trabalhos da série serão mostrados.

Monocromática, silenciosa e, ao mesmo tempo, dotada de forte carga simbólica, América do Sal estabelece diálogo com as artesanias de diferentes povos que formam a identidade brasileira, com práticas vinculadas às religiões afro-brasileiras, especialmente o Candomblé. As trouxas de sal remetem tanto aos patuás, que são amuletos de proteção, quanto aos banhos e rituais de limpeza, que sempre devem ser feitos do pescoço para baixo – a mesma medida corporal que define a altura da instalação.

 

Jaime Laureano celebra a cultura afro-brasileira.

16/out

A Galeria Nara Roesler, Ipanema, apresenta “Eu estou aqui com toda a minha gente”, primeira exibição individual de Jaime Lauriano na galeria do Rio de Janeiro. Incluindo 12 trabalhos, em sua maioria inéditos, a mostra conta com texto crítico de Ademar Britto. O título da exposição é retirado da música  “A Força da Jurema”, gravada em 1973 pelo grupo Os Tincoãs, que remete à ideia de cura, aos orixás, e faz uma homenagem a Oxum. Durante a vigência da exposição, ao final do mês de novembro, ocorrerá também o lançamento da publicação Jaime Lauriano – Mapeamentos, primeira publicação dedicada ao artista, editada pela Nara Roesler Books e com textos de Tadeu Chiarelli, Keyna Eleison e Sylvia Monasterios. 

Uma das obras inéditas que fazem parte da exposição são quatro objetos da série Pencas, que consistem em esculturas de latão penduradas em couro com argolas também em latão. As esculturas inéditas têm a forma de sementes de jatobás, búzios, um ogó de Exu, sinos, agogôs, quartinhas, alguidar, canecas, pemba, cachimbo e cabaça, elementos da ritualística do candomblé e da umbanda, de modo a criar uma espécie de ofertório para a cultura afro-brasileira e a sua resistência ao longo da História do Brasil. Jaime Lauriano alude neste trabalho às joias crioulas dos séculos XVIII e XIX, consideradas um patrimônio da Bahia e da cultura afro-brasileira, que marcam a resistência negra contra o regime escravocrata, sendo uma das manifestações artísticas afrodescendentes mais antigas no país.

Os mapas, interesse recorrente na trajetória de Jaime Lauriano, estão presentes com a obra A new and accurate map of the world: democracia racial, êxodo, genocídio e invasão (2025), composta por dois desenhos realizados em pemba branca – giz branco usado em terreiros de candomblé – e lápis dermatográfico sobre algodão preto, medindo cada um 150 x 170 cm. Essa série criaria, a partir das ilustrações de mapas e cartas náuticas, uma das cenas mais emblemáticas da história recente da humanidade: as navegações e o “descobrimento do novo mundo”. Entretanto, diferentemente de sua versão original, com cores prontas para retratar a exuberância da região recém-explorada, Jaime Lauriano usa um rebaixamento visual, pautado pelo branco sobre preto, fazendo uma releitura dos primeiros esforços de representação do sistema de exploração da madeira e da mão de obra indígena, a primeira força de trabalho do que mais tarde seria consolidado como “país”. O artista contrapõe a representação idílica existente nos mapas antigos inscrevendo termos como invasão, etnocídio, democracia racial e apropriação cultural, retirados de livros que pautam a construção da História do Brasil.

A pintura Entradas em Minas Gerais (2025) faz parte da pesquisa que Jaime Lauriano desenvolve desde 2022, dedicada à revisão crítica de pinturas históricas que moldaram a memória oficial do país. Ao revisitar imagens acadêmicas produzidas entre o final do século XIX e o início do século XX, o artista percebeu que a colonização foi “consistentemente apresentada de forma idealizada, transformada em um gesto heroico e civilizador”, ao passo que “as presenças, resistências e experiências de violência afro-indígenas foram sistematicamente silenciadas”. “Meu interesse reside em questionar essa operação, desmantelar sua lógica celebratória e transformar a pintura histórica em um contramonumento: não mais um local de consagração, mas um campo de disputa, atrito e reflexão”, diz. Jaime Lauriano “esvazia” a pintura de seus personagens, deixando apenas a paisagem. Sobre essa superfície despovoada, ele aplica uma profusão de adesivos “que evocam tanto a violência colonial quanto a resistência afro-indígena”. Sobre a própria moldura, ele ainda instala figuras em miniatura que encenam uma batalha entre soldados coloniais e entidades da religiosidade afro-brasileira, como Zé Pilintra. “Desta forma, o passado não retorna como um mito pacificado, mas sim como um campo de conflito simbólico no qual a pintura se torna um território contestado”.

Outro conjunto inédito de obras, produzidas especialmente para a exposição, possui caráter intimista e é mostrado sob a claraboia do espaço expositivo. Intitulada o sobrado de mamãe é debaixo d’água, a série se originou a partir de uma fotografia que o artista fez da praia de Copacabana. Aqui, Jaime Lauriano retoma o gênero da paisagem, mas com uma abordagem inédita, em que se distancia da representação de conflitos que permeia suas obras anteriores. “O foco agora é a exploração das tensões visuais entre campos de cores, criadas a partir da utilização de materiais variados. O mar do Rio de Janeiro surge não apenas como cenário, mas como ponto de partida conceitual. A escolha de me debruçar sobre suas águas está ligada à estreia desta série na minha exposição individual na cidade, mas, sobretudo, à minha fascinação pela complexa história que as águas transatlânticas carregam. Elas são testemunhas de um passado de violência e sofrimento colonial, mas também são as rotas que trouxeram as ricas heranças africanas que, ao longo do tempo, moldaram profundamente a cultura e a identidade do Brasil”, conta. Jaime Lauriano afirma: “A série O sobrado de mamãe é debaixo d’água se posiciona, portanto, como uma celebração poética da resiliência e da riqueza da cultura afro-brasileira e de sua capacidade de florescer e resistir, transformando dor em história e luta.”

Até 20 de dezembro.

 

Juntas, Almeida & Dale e Galleria Continua.

15/out

Carlos Garaicoa inaugura Double Exposure, sua primeira individual em São Paulo, SP,  em seis anos, que acontece simultaneamente na Almeida & Dale (Vila Madalena) e Galleria Continua (Higienópolis). 

A mostra, composta por trabalhos que transitam entre pintura, escultura e instalação, aborda temas centrais na produção do artista: a arquitetura, a matemática, a geometria e o tecido social das cidades. Entre eles, está um novo grupo de trabalhos em que imagens fotográficas passam por intervenções com tinta óleo e materiais diversos para criar cenas nas quais formas orgânicas irrompem da paisagem urbana. Já nas obras da série π=3,1416, Garaicoa retoma, de certo modo, sua origem como pintor, com peças que recaem no limiar da bi e tridimensionalidade, enquanto examinam a geometria e dialogam com vertentes do construtivismo e concretismo. Outro destaque, Toda utopia passa pela barriga, é uma instalação concebida entre 2008 e 2024, que toca em temas como isolamento e alimentação – em sua dimensão histórica na formação das sociedades e diante dos atuais conflitos que levam à escassez e à fome. Com obras inéditas e séries consagradas internacionalmente, Double Exposure reflete uma pesquisa artística coesa e, ao mesmo tempo, em constante reinvenção. 

Em cartaz até 10 de janeiro de 2026.

 

A relação entre arte, indústria e tecnologia.

Exposição coloca em diálogo artistas históricos e contemporâneos. Com obras de alguns dos principais nomes da arte brasileira do século XX, como Abraham Palatnik, Ascânio M.M.M., Claudio Tozzi, Francisco Brennand, Jacques Douchez, Lothar Charoux, Mauricio Nogueira Lima, Rubens Gerchman, Toyota, dentre outros, a Galeria Pró-Arte, Jardim América, São Paulo, SP, apresenta “Pelas engrenagens”, exposição coletiva que reúne artistas históricos para investigar a complexa relação entre arte, indústria e tecnologia no Brasil. A mostra permanecerá em cartaz até o dia 10 de novembro.

A proposta é lançar um olhar sobre a forma como esses artistas responderam aos processos de modernização e industrialização em países de origem colonial, estabelecendo diálogos entre a experimentação estética e a possibilidade de uma vida moderna.

“A ideia de que arte e indústria são capazes de estabelecer relações razoavelmente simétricas acontece, no terceiro mundo, às avessas. Se a industrialização dos grandes centros parte de transformações na demanda que implicam a exigência por adequação da oferta, a pressa das economias subdesenvolvidas por atingir o padrão de consumo do centro leva a ordem dos processos de pernas para o ar: as transformações partem da oferta para depois confrontarem a demanda. Pelas engrenagens reúne um conjunto de artistas que experimentaram a industrialização tardia dos países subdesenvolvidos e que, justamente por isso, são capazes de formalizar a convivência contraditória de uma urgência moderna edificada sob estruturas coloniais resistentes”, afirma Gabriel San Martin, que assina o texto crítico da mostra.

Partindo de diferentes abordagens para problemáticas relacionadas à mecanização, à serialização e às transformações sociais garantidas pela tomada de força da indústria no século passado, a seleção de obras apresenta recortes desses debates e reflete sobre algumas das implicações e impasses que persistem na realidade contemporânea. E, ao oferecer ao público a oportunidade de entrar em contato com passagens importantes da produção artística nacional, “Pelas engrenagens” se volta a diversas pesquisas desenvolvidas por esses artistas na busca por incorporar elementos da era industrial em suas produções, resultando em trabalhos que ainda hoje ressoam nas discussões sobre o nosso processo de modernização a partir do elo entre arte e tecnologia.

 

Arte ao ar livre.

13/out

O Parque da Luz, em São Paulo, SP, recebe a 14ª Mostra 3M de Arte. A exposição gratuita reúne obras site-specific de seis artistas brasileiros sob o tema “Biomorfos: a Reinvenção do Ser”, com curadoria de Ana Carolina Ralston.

Entre os participantes está o artista baiano Ayrson Heráclito, que apresenta três esculturas em aço inox de sua aclamada série “Juntó”, acompanhadas de desenhos e poemas em torno das combinações entre 16 orixás. As obras unem tradição ancestral e afrofuturismo, ampliando sua pesquisa atualmente em exibição na galeria Portas Vilaseca, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, em sua individual “Oríkì Ìwòran”, com curadoria de Lisette Lagnado.

Instalada nos jardins e espaços históricos do Parque da Luz, a 14ª Mostra 3M de Arte antecipa as comemorações do bicentenário do local e segue em cartaz até 26 de outubro. Também participam os artistas Leandra Espírito Santo, Leandro Lima, Licida Vidal, Luiz Zerbini e Rafa Bqueer.

 

Macaparana é o novo artista representado.

09/out

A Simões de Assis São Paulo, Curitiba e Balneário Camboriu, SC, anuncia a representação de Macaparana (n. 1952). José de Sousa Oliveira Filho, pintor e escultor, tornou-se mais conhecido como Macaparana, nome artístico adotado em referência à cidade onde nasceu, no interior de Pernambuco, a 120 km da capital do estado.

Sua obra se desenvolve em diferentes suportes, como papel, tela, madeira, acrílico, vidro e cerâmica. A geometria, ora reta, ora curvilínea, dá forma à triângulos, quadrados, retângulos, hexágonos e formas inventadas, que se articulam e se repetem em suas composições visuais. O artista opera a linha do desenho projetada no espaço, estabelecendo um diálogo entre o bidimensional e o tridimensional em uma geometria não rígida, influenciada por Torres García e marcada por uma abordagem espontânea e investigativa do gesto. 

Seu trabalho está presente nas coleções do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP, São Paulo; Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM, São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu de Arte Contemporânea MAC – USP, São Paulo; Museu de Arte Brasileira Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP, São Paulo e Fundação Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto. 

 

Diambe exibe Echoes in the Present.

03/out

A Galeria Simões de Assis apresenta um projeto solo de Diambe na próxima edição da Frieze London, entre 15 e 19 de outubro no novo setor curado “Echoes in the Present” com curadoria de Jareh Das, The Regent’s Park, Park Square West. Esse setor busca fomentar conexões culturais entre artistas do Brasil, do continente africano e de suas diásporas.

Nascida em 1993 no Rio de Janeiro e atualmente radicada em São Paulo, Diambe desenvolve uma poética que articula escultura, coreografia, performance, pintura e vídeo, em obras que propõem a emergência de novos corpos e ambientes. Seu trabalho, atravessado por saberes diaspóricos, explora matérias vivas como tecidos, raízes alimentares e elementos vegetais, muitas vezes mimetizados em formas fabulatórias que tensionam a hierarquia entre natureza e humanidade.

Sobre a artista.

Diambe nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, 1993, é artista, pessoa negra e não binária que vive em São Paulo. Graduou-se em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com a Université Sorbonne Nouvelle e obteve mestrado em Artes da Cena na UFRJ. Seu corpo de trabalho é marcado pelo uso de matérias vivas, sendo recorrente o recurso de tecidos, raízes alimentares amefricanas, gravuras e coreografias que relacionam arquiteturas com movimentos espontâneos em elaborações plurais. Sua prática expande as noções de coreografia e escultura, desdobrando em instalações que também incorporam pinturas, filmes, têxteis e performances. Diambe explora possibilidades fabulativas de novos seres, elevando aspectos estéticos e ornamentais da natureza. Trata da materialidade ao lidar com o bronze e com formas reconhecíveis de povos diaspóricos, agora em novos arranjos, mimetizando outros seres ou criando novos integrantes de seu ambiente fabulado. Com esse processo criativo, são apresentadas criaturas que habitam uma natureza poderosa e autônoma, cujo poder sobrepuje o do ser humano e escape de uma ilusória situação de dominação. Atualmente se debruça em pesquisa sobre a transformação da paisagem, a diáspora alimentar e os arquivos antropológicos. 

 

Uma Bienal é um grande desafio.

02/out

Quais são os rostos por trás das obras da 36ª Bienal?

Ministério da Cultura, Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa da Cidade de São Paulo, Fundação Bienal de São Paulo e Itaú apresentam a 36ª Bienal Internacional de São Paulo até 11 de janeiro de 2026, no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, Portão 3, São Paulo, SP.

A arte é um exercício coletivo. São necessárias muitas mãos para construir uma exposição. Você já se perguntou quem é o artista e quem são as pessoas que trabalharam em cada obra? Este ensaio explora a categoria do retrato, destacando artistas, equipes de montagem, curadores e funcionários da Fundação Bienal.

Montar uma exposição da dimensão de uma Bienal é um grande desafio. Para registrar esse processo de dois meses, convidamos três fotógrafos a captar detalhes, rostos e momentos de criação da 36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática.

A segunda parte desse ensaio visual, realizada entre 18 de agosto e 04 de setembro no Pavilhão da Bienal e em ateliês de artistas, é assinada por Fe Avila. 36ª Bienal de São Paulo – Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática.

Curador geral: Bonaventure Soh Bejeng Ndikung / Cocuradores: Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza / Cocuradora at large: Keyna Eleison / Consultora de comunicação e estratégia: Henriette Gallus / Cocuradores adjuntos: André Pitol, Leonardo Matsuhei.

 

Sistemas acústicos ancestrais de Inara Vidal.

01/out

Mostra celebra 20 anos de trajetória de Inara Vidal e apresenta algumas obras inéditas que investigam sistemas acústicos ancestrais da América Latina por meio de esculturas sonoras.

O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 04 a 25 de outubro a exposição Sensoriais, que marca a primeira exposição da artista paranaense Inara Vidal no Rio de Janeiro. Com curadoria de Daniele Machado, a mostra percorre as intersecções entre som, corpo e matéria. As esculturas sonoras em cerâmica surgem do gesto e da escuta atenta. 

“Ao ativarmos as esculturas, são construídos sons por combinações de ar, água, espaço, argila e ação, que podem ser ouvidos, mas também tocados, vistos, cheirados. Eles têm peso, exigem o corpo todo, o equilíbrio, a consciência corporal e tantas outras camadas dos sentidos… São sons que reorientam o futuro pelo passado, ao revelarem que a multissensorialidade, um dos maiores legados da arte contemporânea, sempre foi parte de nós. Ao mesmo tempo, o caráter profético desses trabalhos também se revela no processo de criação, em que a artista desmonta a cadeia de produção: da queima à argila silvestre”, declara Daniele Machado, curadora da mostra.

“As narrativas históricas do Ocidente foram, em grande parte, escritas a partir de um único ponto de vista. Minha exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica e a pesquisa com sistemas acústicos ancestrais propõem outra forma de contar: a história da América Latina narrada por uma artista latino-americana. Eu acredito, sim, que é possível narrar nossas próprias histórias de modo diferente dos colonizadores – escutando o que vibra antes de 1500, quando os registros coloniais silenciam o que veio antes. Esse gesto, ao mesmo tempo estético e político, transformam som, corpo e matéria em uma linguagem própria, capaz de fazer ressoar memórias e imaginários que a escrita oficial tentou apagar”, declara a artista.

Sobre a artista.

Inara Vidal é formada em escultura e pós-graduada em História da Arte Moderna e Contemporânea, ambas pela Universidade Estadual do Paraná. Tem obras em diversos acervos, como os do Museu Paranaense (Paraná), do Museu de Arte Contemporânea de Jataí (Goiás), do Museu de Ceuta (Espanha), entre outros. Já expôs em São Paulo, Curitiba, Bariloche, Madrid e Nova Orleans. Atualmente, dedica-se à pesquisa sensível da argila silvestre, em diálogo com o território e os saberes da terra.

Além da exposição, Sensoriais oferece uma conversa com artista e curadora no dia 11 de outubro, sábado, às 15h, quando ocorrerá também  o lançamento do catálogo digital, distribuído gratuitamente. 

Sensoriais, Inara Vidal, Daniele Machado, Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Inara Vidal é formada em escultura e pós-graduada em História da Arte Moderna e Contemporânea, ambas pela Universidade Estadual do Paraná, a mostra percorre as intersecções entre som, corpo e matéria. As esculturas sonoras em cerâmica surgem do gesto e da escuta atenta.  

 

Exibindo a arte da preservação e da cidadania.

26/set

nstituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP,  apresenta “A terra, o fogo, a água e os ventos – Por um Museu da Errância com Édouard Glissant”. A exposição reúne obras de 60 artistas das Américas, Caribe, Europa, África e Ásia, que conta com o patrocínio do Nubank, Mantenedor Institucional do Instituto Tomie Ohtake, da SKY, na cota Bronze, e da Fundação Norma y Leo Werthein, na cota Apoio. Concebida como um museu em movimento e dedicada à obra e ao pensamento do poeta, filósofo e ensaísta martinicano Édouard Glissant (1928–2011), a exposição integra a Temporada França-Brasil 2025 como um de seus principais destaques. A iniciativa de intercâmbio cultural é promovida pelo Instituto Francês e pelo Instituto Guimarães Rosa (Itamaraty), com o apoio de um comitê formado por 15 empresas: Engie, LVMH, ADEO, JCDecaux, Sanofi, Airbus, CMA CGM, CNP Seguradora, L’Oréal, TotalEnergies, Vinci, BNP Paribas, Carrefour, VICAT e SCOR. Com curadoria de Ana Roman e Paulo Miyada, a mostra é uma realização do Instituto Tomie Ohtake, correalização do Mémorial ACTe, do Édouard Glissant Art Fund e do Institut Tout-Monde, além de parceria com o CARA – Center for Art, Research and Alliances e apoio institucional do Institut Français.

Parte da pesquisa de longo prazo do Instituto Tomie Ohtake em torno da produção de memória, a exposição dá sequência a iniciativas recentes como a mostra Ensaios para o Museu das Origens (2023) e o seminário “Ensaios para o Museu das Origens – Políticas da memória” (2024), que reuniu representantes de museus, arquivos e comunidades em um intenso debate sobre preservação e cidadania. Com seu título inspirado na antologia poética La Terre, le feu, l’eau et les vents (2010), organizada pelo escritor martinicano, a mostra ensaia o que seria um “Museu da Errância”. 

Errância é uma vivência da Relação: recusa filiações únicas e propõe o museu como arquipélago – espaço de rupturas, apagamentos e reinvenções sem síntese forçada. Contra genealogias rígidas, propõe-se uma memória em trânsito, feita de alianças provisórias, traduções e tremores – um processo institucional movido pelo encontro entre tempos, territórios e linguagens. Ainda que Glissant tenha deixado fragmentos de sua visão para um museu do século 21, não chegou a concretizá-lo. A curadoria imagina como poderia ser esse Museu da Errância em uma mostra de múltiplas camadas e conexões inesperadas entre obras, documentos e paisagens. As duas ideias-chave da organização da montagem da exposição são a palavra da paisagem e a paisagem da palavra, concebidas a partir da concepção de Glissant de “parole du paysage”. Como apontam em texto, “No primeiro caso, o território infiltra-se na fala; no segundo, a linguagem se projeta no espaço, convertendo signos, letras e códigos em relevo, clima ou correnteza”. Para o poeta, a paisagem não é apenas cenário externo, mas força ativa que molda memórias, gestos e linguagens. Além disso, estão presentes em frases, manuscritos e entrevistas do autor outras ideias como Todo-mundo, crioulização, arquipélago, tremor, opacidade, palavra da paisagem e aqui-lá. Para a curadoria, que trabalhou em contínuo diálogo com Sylvie Séma Glissant, trata-se de um arco de assuntos interligados com profunda relevância no mundo contemporâneo, que mais uma vez se vê permeado por discursos e medidas de intolerância perante o diverso e incapaz de criar canais de escuta dos Elementos naturais e das paisagens ameaçados de destruição.

É nesse horizonte que se apresenta, pela primeira vez no Brasil, parte da coleção pessoal reunida por Glissant e atualmente preservada no Mémorial ACTe, em Guadalupe. O conjunto inclui pinturas, esculturas e gravuras de artistas com quem o pensador conviveu e sobre os quais escreveu, como Wifredo Lam, Roberto Matta, Agustín Cárdenas, Antonio Seguí, Enrique Zañartu, José Gamarra, Victor Brauner e Victor Anicet, entre outros. São artistas de crescente reconhecimento internacional, que viveram trajetórias de diáspora e imigração, e produziram em trânsito entre línguas, linguagens, paisagens e histórias múltiplas. Trata-se de um valioso recorte da produção artística da segunda metade do século 20, que lida com o imaginário, a figuração, a linguagem e as grafias como recursos carregados de traços de memória, identidade e invenção.

À coleção de obras somam-se documentos, cadernos, vídeos e fragmentos de textos e entrevistas de Glissant, igualmente inéditos. Entre eles, destaca-se o Caderno de uma viagem pelo Nilo (1988) – com notas e desenhos em fac-símile – que vai além do registro de viagem para se tornar um exercício poético-filosófico, no qual o autor questiona a ideia de uma origem única e propõe a noção de origens múltiplas. A mostra apresenta também trechos da extensa entrevista concedida em 2008 a Patrick Chamoiseau, escritor martinicano e parceiro intelectual de Glissant, da qual resultou o monumental Abécédaire. O público poderá conferir dezessete verbetes selecionados pela curadoria, exibidos em seis monitores distribuídos pela exposição. Esses materiais revelam como o poeta elaborava suas ideias no cruzamento entre escrita, oralidade e imagem. Este extenso e rico acervo é apresentado em diálogo com trabalhos de mais de 30 artistas contemporâneos das Américas, Caribe, África, Europa e Ásia – nomes como Chico Tabibuia, Emanoel Araújo, Federica Matta, Frank Walter, Julien Creuzet, Manthia Diawara, Melvin Edwards, Sheila Hicks, Rebeca Carapiá, Pol Taburet, Tiago Sant’Ana, entre outros – que convocam o público a experimentar, de forma sensorial, o entrelaçamento entre paisagem, linguagem e memória. Nas palavras dos curadores: “Entre as peças selecionadas há partituras visuais que serpenteiam pelas paredes como cordilheiras, vídeos em que frases viram espuma marítima e instalações sonoras que transformam poemas em ar e vibração”. Parte dessa proposta inclui ainda obras especialmente comissionadas para a exposição, realizadas por Aislan Pankararu, Pedro França e Rayana Rayo, do Brasil, e por Arébénor Basséne, Hamedine Kane, Nolan Oswald Dennis, Pol Taburet, Kelly Sinnapah Mary e Tarik Kiswanson, de diferentes contextos internacionais, ampliando as vozes e perspectivas que atravessam a mostra.

Está programado o lançamento de um catálogo, em português e em inglês – cuja edição em inglês está sendo coeditada pelo CARA – que reúne textos das instituições parceiras, ensaio curatorial de Ana Roman e Paulo Miyada, verbetes sobre os artistas participantes, além da transcrição de trechos do Abécédaire. O volume inclui também o manuscrito Caderno de uma viagem pelo Nilo, de Glissant, assim como legendas técnicas e ficha detalhada da exposição. Em novembro, no Instituto Tomie Ohtake, a programação se completa com um seminário com a participação de alguns dos artistas da exposição e com importantes intelectuais que dialogam com a obra de Glissant.

O projeto contemplou, ainda, uma residência artística na Martinica, realizada em agosto de 2025, com a participação de Rayana Rayo e Zé di Cabeça (José Eduardo Ferreira Santos). Os frutos dessa vivência, que conta com o apoio da Coleção Ivani e Jorge Yunes e do Instituto Guimarães Rosa, darão origem a intervenções em diálogo com a coleção de arte africana do MON – Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, PR. O evento também integra a Temporada França Brasil. No primeiro semestre de 2026, a exposição tem itinerância prevista para Nova York, no CARA – Center for Art, Research and Alliances.

Artistas participantes

Agustín Cárdenas, Aislan Pankararu, Amoedas Wani e Patrice Alexandre, Antonio Seguí, Arébénor Basséne, Cesare Peverelli, Chang Yuchen, Chico Tabibuia, Eduardo Zamora, Emanoel Araújo, Enrique Zañartu, Ernest Breleur, Etienne de France, Federica Matta, Flavio-Shiró, Florencia Rodriguez Giles, Frank Walter, Gabriela Morawetz, Geneviève Gallego, Gerardo Chávez, Hamedine Kane, Irving Petlin, Jean-Claude Garoute (Tiga), José Gamarra, Julien Creuzet, Kelly Sinnapah Mary, M. Emile, Manthia Diawara, Mélinda Fourn, Melvin Edwards, Minia Biabiany, Nolan Oswald Dennis, Öyvind Fahlström, Pancho Quilici, Paul Mayer, Pedro França, Pol Taburet, Raphaël Barontini, Rayana Rayo, Rebeca Carapiá, Roberto Matta, Serge Hélénon, Sheila Hicks, Sylvie Séma Glissant, Tarik Kiswanson, Tiago Sant’Ana, Victor Anicet, Victor Brauner, Wifredo Lam, Zé di Cabeça (José Eduardo Ferreira Santos). 

Até 25 de janeiro de 2026.