Exposição de Guto Lacaz.

29/out

O Instituto Ling, bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, apresenta “mezo-móbile: síntese do sublime e misterioso”, exposição individual de Guto Lacaz, artista consagrado com mais de cinco décadas de trajetória. Reconhecido por transformar objetos do cotidiano ao subverter suas funções usuais, estéticas ou arquitetônicas, Guto Lacaz também se destaca por suas instalações, performances e intervenções urbanas. Nesta mostra, o artista propõe uma instalação site specific inédita, concebida especialmente para dialogar com o espaço expositivo e com os visitantes do centro cultural. Na abertura da exposição, que acontece na terça-feira, 04 de novembro, às 19h, haverá uma conversa aberta ao público com o artista Guto Lacaz e sua filha, Nina Lacaz – convidada especial que atua no campo das artes com foco em pesquisa, curadoria e mercado. Para participar, basta fazer inscrição prévia e gratuita pelo site!

Mezo-móbile: síntese do sublime e misterioso.

Uma enorme placa de isopor ocupa o espaço expositivo; ela sobe e desce graças a roldanas, produzindo um movimento hipnótico que evoca um pulmão gigante em atividade. No centro dessa placa monumental, um espaço livre permite que pequenos grupos participem da instalação, criando momentos de proximidade entre desconhecidos que se encontram literalmente dentro da obra, enquanto ela respira ao seu redor. Mezo-móbile não nega a colaboração do visitante, mas a controla caprichosamente. Cinquenta anos depois de suas primeiras “máquinas de fazer nada”, Guto Lacaz cria uma instalação que oferece participação sob seus termos: a obra obriga o espectador a negociar – esperar que suba para atravessá-la, observar de fora enquanto desce, ou entrar no vão central e experimentar a respiração da sala ao redor do próprio corpo. A instalação simula um espaço expositivo convencional, mas perturba a fruição de forma provocativa. Subverte o conceito modernista do cubo branco – a própria galeria se torna obra e transforma sua arquitetura em arte. Não mais um receptáculo invisível, mas a protagonista da experiência. Aqui é o próprio cubo branco institucional que ganha vida autônoma e engole o espectador em seu vão, numa inversão conceitual que questiona décadas de convenções curatoriais. Mezo-móbile é, simultaneamente, irônico, democrático, sensível, impactante, tecnológico e cômico. Não há excessos, ornamentos ou efeitos gratuitos, apenas o movimento essencial que faz uma sala inteira ganhar vida. É essa capacidade de extrair o máximo poético do mínimo material que torna Mezo-móbile não apenas uma obra sobre cinquenta anos de uma carreira artística, mas demonstração prática de como essa carreira sempre operou: transformando o simples em sublime, o barato em precioso, o óbvio em misterioso.

Sobre Nina Lacaz.

Nina Lacaz nasceu em São Paulo, SP, 1995. É formada em Design de Moda pela FAAP-SP (2016) e atuou durante quase dez anos no setor, com destaque para o Estúdio Kant, sua marca autoral de estampas exclusivas inspiradas no Art Déco, no movimento neoconcreto brasileiro e em linguagens como Op Art e Arte Cinética. Em 2021, passa a atuar no mercado de arte contemporânea, integrando o departamento comercial de galerias paulistanas como Andrea Rehder Arte Contemporânea e Gomide&Co. Paralelamente, cursa especialização em Arte: Crítica e Curadoria pela PUC-SP (2023-2025), sob orientação do Prof. Dr. Fabio Cypriano. Sua monografia investiga a catalogação do acervo de Guto Lacaz, confrontando os desafios técnicos de documentar mais de cinco décadas de produção artística dispersa – entre intervenções urbanas, instalações site-specific, performances e objetos cinéticos – com as questões afetivas e metodológicas que emergem quando memória familiar e rigor documental se entrelaçam. Atualmente, atua na área comercial da Gomide&Co, em paralelo com a estruturação do primeiro inventário completo da obra de Guto Lacaz e o desenvolvimento de textos curatoriais.

Sobre o artista.

Guto Lacaz nasceu em São Paulo, SP, 1948. É arquiteto formado pela FAU de São José dos Campos (1974) e multiartista cuja produção transita entre intervenções urbanas, instalações site-specific, performances, ilustrações, objetos e design gráfico. Em 1978, o Prêmio Objeto Inusitado marca o início de sua carreira como artista visual, inaugurando uma trajetória dedicada às interações entre arte, humor, ciência e tecnologia. Sua obra integra a memória urbana paulistana, com trabalhos como “Auditório para Questões Delicadas” (1989), no lago do Parque Ibirapuera, “Periscópio” (1994), intervenção para o Arte Cidade II, “Adoraroda” (2017), no Largo da Batata, e os painéis “Quarta Revolução Industrial” (2018), na Avenida Paulista. Participou de exposições como a 18ª Bienal Internacional de São Paulo (1985) e a Gwangju Biennale (1995), além de individuais em instituições como MAM-SP, MASP, Pinacoteca do Estado de São Paulo e Chácara Lane. Em 2024, a retrospectiva “Guto Lacaz: Cheque-Mate”, com curadoria de Rico Lins e Kiko Farkas, ocupou três andares do Itaú Cultural, celebrando mais de 50 anos de produção artística ininterrupta e em plena atividade. Como ilustrador, colaborou com revistas como Caros Amigos, Wish Report e Joyce Pascowitch, além de publicar diversos livros. No design gráfico, criou logotipos, identidades visuais, capas de livros e cartazes, tornando-se membro da Alliance Graphique Internationale (AGI) em 2011. Entre seus prêmios destacam-se: Prêmio APCA (1988, 2007, 2017 e 2024, em diferentes categorias), Prêmio Abril de Jornalismo – Ilustração (1983, 1990, 1991), Bolsa Guggenheim (1995), indicação ao Prêmio PIPA (2016) e Prêmio ABCA Menção Honrosa (2024). Seu processo criativo, marcado pela influência da mecânica e eletrônica, foi tema do documentário “Guto Lacaz: um Olhar Iluminado” (2022).

A exposição estará em cartaz até 27 de dezembro, com visitação livre de segunda a sábado, das 10h30 às 20h. Visitas mediadas para grupos poderão ser agendadas previamente, sem custo, pelo site do centro cultural. Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério da Cultura / Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens. 

 

São Paulo ganhou novo espaço.

27/out

A cidade de São Paulo inaugurou um novo espaço expositivo voltado à Arte Moderna e Contemporânea. Localizado no sétimo andar do Itaú Cultural, na Avenida Paulista, o Espaço Milú Villela – Brasiliana: Arte Moderna e Contemporânea amplia o acesso do público ao Acervo Itaú Unibanco, considerado a maior coleção corporativa de arte da América Latina, com mais de 15 mil obras.

Com 280 m², o novo andar se junta ao Espaço Olavo Setúbal, inaugurado em 2014, e ao Espaço Herculano Pires, aberto em 2023, reforçando o compromisso da instituição em apresentar diferentes recortes da Arte e da Cultura brasileira. O espaço leva o nome de Milú Villela, psicóloga que presidiu o Itaú Cultural por quase duas décadas, entre 2001 e 2019. A entrada é gratuita.

A mostra inaugural, de longa duração, se chama “Brasil das Múltiplas Faces” e conta com curadoria de Agnaldo Farias e projeto expográfico do arquiteto Daniel Winnik. A exposição reúne 185 obras de 150 artistas, datadas de 1889 até os dias atuais. Nomes como Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Tomie Ohtake, Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Rosana Paulino e Adriana Varejão estão entre os destaques. Segundo Sofia Fan, gerente de artes visuais e acervos do Itaú Cultural, o novo espaço promove reflexões sobre identidade e diversidade por meio de diferentes narrativas visuais. “O foco em arte moderna e contemporâne traz uma continuidade destas relações, estimulando o olhar crítico e promovendo uma visita não linear e profundamente reflexiva”

Sobre a água e seus diferentes biomas.

24/out

O Museu de Arte do Paço – MAPA apresenta a exposição “SOBRE ÁGUAS”, da artista Vera Reichert, cujas obras convidam o público à contemplação e à reflexão sobre a relação entre a água e seus diferentes biomas. Praticante de mergulho submarino, a artista revela a sua habilidade em capturar a essência dessa substância vital em suas mais diversas formas, inspirando-se em suas vivências no fundo do mar para nos alertar sobre a necessidade de preservação dos recursos hídricos e de se combater a poluição das águas.

Lançamento do catálogo da exposição “SOBRE ÁGUAS” de Vera Reichert

Curadoria de André Venzon

Dia 25 de outubro, às 10h

 

Prêmio de Arte de Zurique 2025.

23/out

Artur Lescher (1962, São Paulo,SP) é o artista vencedor do prêmio concedido anualmente pelo Museum Haus Konstruktiv e pela Zurich Insurance Company Ltd., que está em sua 18ª edição. “As esculturas de Lescher não apenas ocupam o espaço – elas interagem com ele. Essa capacidade de dialogar com a arquitetura foi decisiva para sua escolha como vencedor do Prêmio de Arte de Zurique”, explicou Sabine Schaschl, diretora e curadora-chefe do Museum Haus Konstruktiv, referência em arte concreta e conceitual, sediado em Zurique, Suíça. O prêmio tem um valor total de 100 mil francos suíços – aproximadamente R$678.180,00 – que contemplam uma exposição individual do artista no Museum Haus Konstruktiv e 20 mil francos suíços em dinheiro (cerca de R$135.636,00). A exposição de Artur Lescher, “Campos entrelaçados”, tem curadoria da própria Sabine Schaschl e permanecerá em cartaz até 11 de janeiro de 2026.

Exposição e temas cósmicos

Na primeira sala da exposição, os visitantes vivenciam a tensão entre forma austera e vitalidade sutil. Com múltiplos pêndulos suspensos, Artur Lescher enfatiza a verticalidade e cria uma sensação de antigravidade. Essa leveza remete a constelações, reforçada por materiais espelhados e brilhantes. A obra “V Sagittae Memorial” homenageia a estrela dupla V Sagittae, que deverá explodir como uma nova em 2083 e brilhar como Sirius. Essa referência cósmica introduz uma dimensão de temporalidade e transformação.

Campo entrelaçado e tradição escultórica

As obras de Artur Lescher podem ser apresentadas individualmente, mas juntas formam um “campo entrelaçado” – um cosmos próprio. Ele insere sua produção na tradição escultórica de artistas como Constantin Brancuși, Louise Bourgeois (especialmente suas estelas) e Alberto Giacometti. Embora sua linguagem formal geométrica remeta à Arte Minimalista, Artur Lescher a transforma com referências mitológicas e uma dimensão animista.

Design industrial e mitologia

Artur Lescher explora técnicas de construção dos materiais, incorporando elementos do design industrial que atraem os amantes da tecnologia. Ao mesmo tempo, atribui significados mitológicos aos materiais: o cobre, mais flexível, é associado à deusa Vênus; o ferro, pesado e escuro, ao deus Hefesto. Essa carga simbólica se une ao respeito pelas propriedades físicas dos materiais – como peso, densidade e maleabilidade – que são integradas à lógica estética das obras.

Natureza, espaço e Neoconcretismo

Seu caderno de esboços revela esculturas voadoras e aves de todos os tipos, apontando para conexões entre natureza, espaço e conceitos universais – características do Neoconcretismo brasileiro dos anos 1960. Diferentemente da arte concreta europeia, o Neoconcretismo incorporava aspectos metafísicos e transcendentes. Artur Lescher cita como referências Hélio Oiticica, Lygia Clark, Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros e Max Bill, além do Manifesto Neoconcreto de 1959. Artur Lescher resume suas referências históricas assim: “Meu envolvimento com o Neoconcretismo (…) inclui o estudo das obras de artistas como Hélio Oiticica e Lygia Clark, mas também de concretistas como Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros e Max Bill. Nesse contexto, o Manifesto Neoconcreto (publicado no Rio de Janeiro em 1959) é um ponto-chave, assim como a investigação dos denominadores comuns entre o Construtivismo Russo e o Neoconcretismo.”

Arquitetura e som

Na terceira sala, a obra “Entrelinhas”, criada especialmente para o Museu, utiliza linhas de fios náilon vermelhas paralelas para medir e transformar o espaço. A escultura “Linha Vermelha (da série Metaméricos)”, composta por segmentos suspensos, remete a instrumentos musicais e transforma o ambiente em um espaço sonoro. Antes de entrar na segunda sala da exposição, os visitantes passam pela mostra paralela “Arte Concreta / Neoconcretismo”, que contextualiza a origem de sua obra. O título da exposição, “Campos Entrelaçados”, pode ser interpretado de várias formas.

 

Do espaço privado para o espaço da galeria.

A exposição “Olhar de Colecionador: Laurita Karsten Weege”, apresentada na Simões de Assis Balneário Camboriú, SC, materializa o atravessamento entre o espaço expográfico da galeria e o olhar especializado da colecionadora, uma parceria que reconhece as contribuições significativas de Laurita Karsten Weege ao projetar um encantamento pela arte. 

Abraham Palatnik, Alberto da Veiga Guignard, Alfredo Volpi, Antonio Malta Campos, Ascânio MMM, Carlos Cruz-Diez, Cícero Dias, Eleonore Koch, Emanoel Araújo, Estúdio Campana, Flávio Cerqueira, Gonçalo Ivo, Julia Kater, Juan Parada, Mano Penalva, Marcos Coelho Benjamim, Paulo Pasta, Schwanke, Sergio Lucena, Siron Franco, Vik Muniz e Zéh Palito integram o conjunto de artistas apresentados.

A mostra apresenta o moderno e o contemporâneo, em uma proposta que transpõe o espaço privado da coleção para o espaço da galeria.

Até 20 de janeiro de 2026.

 

Nova individual de Camille Kachani.

17/out

A Zipper Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, apresenta Uma Contra-História do Brasil, nova individual de Camille Kachani. A série revisita criticamente a elaboração do que se convencionou chamar de “história oficial” do país, propondo outra leitura a partir das margens – povos originários, africanos escravizados e fluxos europeus empobrecidos, cujas experiências foram em grande parte silenciadas no discurso oficial. 

Inspirado no procedimento de Michel Onfray ao formular uma “contra-história” da Filosofia, Camille Kachani desloca o foco do cânone para protagonistas invisibilizados. “Nestes trabalhos, tento recontar, por meio de alusões e símbolos, a história do País pelos olhos dos povos que, embora tenham formado ou construído o Brasil, não participaram da elaboração da História Brasileira”, afirma o artista. Em seu vocabulário visual, materiais naturais e artefatos culturais se entrelaçam, reabrindo disputas sobre quem nomeia, mapeia e narra o território.

A mostra reúne 12 trabalhos inéditos entre esculturas e objetos em técnica mista. Em “Pindoretama” (2025), título que evoca a nomeação tupi do território, o artista transforma o “solo” em tecido ou bandeira, abordando uma disputa simbólica. “Contra-História do Brasil” (2024) aproxima a diversidade genética de povos e a natureza de um país marcado por ciclos de predação. Em “Pau-Brasil” (2024), um tronco-escultura condensa a ambivalência entre mercadoria e mito de origem, fazendo emergir narrativas autóctones. “Desmapa I” e “Desmapa II” (2025) propõem cartografias sem reconhecibilidade, enquanto “Mundus Hodiernus I/II” (2025) inverte mapas-múndi para sugerir a repetição global de conquista e apagamento. Já “Brazilapopolo” (2025), “os povos do Brasil”, em esperanto, elabora, por meio de uma trama de plantas e sinais, a constituição mestiça do país.

Com humor ácido e precisão formal, Camille Kachani desarma a suposta neutralidade dos objetos. Ao “fazer brotar” galhos, raízes e inscrições de ferramentas, livros e móveis, suas esculturas encenam a fricção entre natureza e cultura, tradição e modernidade, apagamento e lembrança. Em vez de ilustrar a história, o conjunto a reconfigura por imagens – “uma arqueologia crítica do presente”, nas palavras do próprio artista.

Sobre o artista

Camille Kachani (Beirute, Líbano, 1963) é artista libanês-brasileiro. Vive e trabalha em São Paulo. Sua prática transita entre escultura, objeto, colagem e fotografia, investigando identidade, pertencimento e a transformação da natureza/cultura através de objetos do cotidiano e materiais orgânicos.

Até 20 de dezembro. 

A relação entre arte, indústria e tecnologia.

15/out

Exposição coloca em diálogo artistas históricos e contemporâneos. Com obras de alguns dos principais nomes da arte brasileira do século XX, como Abraham Palatnik, Ascânio M.M.M., Claudio Tozzi, Francisco Brennand, Jacques Douchez, Lothar Charoux, Mauricio Nogueira Lima, Rubens Gerchman, Toyota, dentre outros, a Galeria Pró-Arte, Jardim América, São Paulo, SP, apresenta “Pelas engrenagens”, exposição coletiva que reúne artistas históricos para investigar a complexa relação entre arte, indústria e tecnologia no Brasil. A mostra permanecerá em cartaz até o dia 10 de novembro.

A proposta é lançar um olhar sobre a forma como esses artistas responderam aos processos de modernização e industrialização em países de origem colonial, estabelecendo diálogos entre a experimentação estética e a possibilidade de uma vida moderna.

“A ideia de que arte e indústria são capazes de estabelecer relações razoavelmente simétricas acontece, no terceiro mundo, às avessas. Se a industrialização dos grandes centros parte de transformações na demanda que implicam a exigência por adequação da oferta, a pressa das economias subdesenvolvidas por atingir o padrão de consumo do centro leva a ordem dos processos de pernas para o ar: as transformações partem da oferta para depois confrontarem a demanda. Pelas engrenagens reúne um conjunto de artistas que experimentaram a industrialização tardia dos países subdesenvolvidos e que, justamente por isso, são capazes de formalizar a convivência contraditória de uma urgência moderna edificada sob estruturas coloniais resistentes”, afirma Gabriel San Martin, que assina o texto crítico da mostra.

Partindo de diferentes abordagens para problemáticas relacionadas à mecanização, à serialização e às transformações sociais garantidas pela tomada de força da indústria no século passado, a seleção de obras apresenta recortes desses debates e reflete sobre algumas das implicações e impasses que persistem na realidade contemporânea. E, ao oferecer ao público a oportunidade de entrar em contato com passagens importantes da produção artística nacional, “Pelas engrenagens” se volta a diversas pesquisas desenvolvidas por esses artistas na busca por incorporar elementos da era industrial em suas produções, resultando em trabalhos que ainda hoje ressoam nas discussões sobre o nosso processo de modernização a partir do elo entre arte e tecnologia.

 

Livro e exposição de Raymundo Colares.

24/set

No dia 27 de setembro, a partir das 11h, a Almeida & Dale, Rua Caconde, 152, Jardins, São Paulo, SP, promove o lançamento de “Raymundo Colares: Pista Livre”, publicação concebida por ocasião da exposição homônima, em cartaz na galeria até 25 outubro.

Organizado pela curadora Ligia Canongia, o livro amplia o escopo da mostra ao reunir reproduções de obras, excertos dos diários de Raymundo Colares, textos críticos e uma cronologia detalhada da carreira do artista. 

O volume apresenta capítulos dedicados a reproduções de pinturas, desenhos e Gibis – a célebre série de livros -objeto produzidos com papel recortado. Reúne ainda um ensaio de Ligia Canongia, que sublinha a posição singular de Raymundo Colares entre o Construtivismo e a Pop Art no Brasil, e um artigo de Felipe Scovino, que examina sua obra a partir da tensão entre Modernidade e subdesenvolvimento no contexto brasileiro. A publicação se completa com uma cronologia abrangente e a edição inédita de páginas de cadernos do artista, que marcam registros íntimos, reflexões poéticas e fragmentos do cotidiano. 

A exposição “Raymundo Colares: Pista Livre”, com curadoria de Ligia Canongia, marca a primeira mostra dedicada ao artista na capital paulista nos últimos quinze anos, sucedendo a realizada no MAM São Paulo, em 2010, sob curadoria de Luiz Camillo Osório.

Raymundo Colares manteve diálogo com o construtivismo brasileiro e suas raízes históricas, embora já sensível ao ideário pop, por sua estreita relação com as histórias em quadrinhos e o cinema. Os trabalhos de Mondrian, Duchamp e dos futuristas italianos foram cruciais em sua formação, mas a obra indiciava sintomas da iconografia urbana e da exuberância cromática da pop art. O universo popular em Colares convergiu para a figura do ônibus, um ícone-síntese do dinamismo nas grandes metrópoles. A experiência perceptiva da multiplicação e da deformação das coisas em movimento, que informara o cubismo e outros movimentos modernos, tornou-se centro de seu interesse. O artista tentava, pois, congregar planos disjuntivos, fatias de espaço que pareciam se colidir, imagens captadas aos estilhaços, sem a nostalgia da perspectiva ou de uma ordem. Ainda assim, suas pinturas são estruturadas, articuladas, e a complexidade desse jogo é que constitui o desafio da obra. Para ele, interessava fragmentar e reconstruir esses fragmentos de forma pulsante e errática, trazendo à luz uma das questões-chave de sua trajetória: a ideia de tempo, visualmente enunciada em planos multidirecionais e em velocidade. Raymundo Colares compreendeu que a questão do movimento, em última instância a questão do tempo, havia arremetido a experiência da pintura para além da estabilidade que conhecera no passado histórico, respondendo aos avanços da ciência e ao viver moderno. Pressentiu que essa  atualização se prolongaria na era contemporânea, e que os efeitos da máquina seriam intensos e irreversíveis, mesmo não tendo vivenciado o mundo digital de nossos dias.

Ligia Canongia.

As práticas artísticas de Lia Letícia.

23/set

O Governo do Estado de Pernambuco, a Prefeitura da Cidade do Recife, o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Dona Ledy Arte e Cultura e Rosa Melo Produções Artísticas apresentam Tudo dá, individual de  Lia Letícia sob curadoria de Clarissa Diniz no MAMAM, Recife, PE.

Faz quase 30 anos que Lia Letícia, nascida no Rio Grande do Sul, radicou-se em Pernambuco. Sua mudança para Olinda em 1998 possibilitou a consolidação das práticas artísticas que havia iniciado tempos antes, quando trabalhou na confecção de carros alegóricos no carnaval gaúcho. Uma vez que chegou à terra do frevo, especialmente no ateliê de Iza do Amparo e nas ações do coletivo Molusco Lama, Lia Letícia encontrou espaços, interlocutores e aliados tão instigantes quanto aguerridos para sua formação e atuação como artista. Desde então, tem desenvolvido uma obra vasta em contaminações e colaborações, hackeando e reinventando concepções elitistas de arte que, como velhas fortalezas, ainda hoje erigem muros que inocuamente tentam conter sua vocação ao múltiplo, ao outro ou ao avesso de si.

Letícia Letícia fez performance, pintura, objeto, instalação, vídeo, fotografia, intervenção, serigrafia, direção de arte, gestão de espaços independentes, ilustração, cinema, militância, cenografia, curadoria, educação. Sua prática nunca se restringiu a galerias e museus: ao contrário, esteve fundamentalmente lastreada nas ruas, sets de filmagem, comunidades, salas de aula ou mesmo em grupos de WhatsApp. Não à toa, passaram-se muitos anos até que sua obra pudesse ser apresentada em conjunto numa instituição cultural de relevo: um gesto que, sem qualquer ambição de contemplar toda a sua trajetória, tem todavia a intenção de compartilhar as forças norteadoras de sua poética com os públicos do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães. Ocupando todos os andares do MAMAM, a exposição se organiza em quatro núcleos. Neles, aproximamos trabalhos de linguagens e períodos distintos que, todavia, transitam nas mesmas órbitas políticas. No térreo, Nesta terra, tudo dá reúne obras que denunciam o extrativismo (neo)colonial através de uma filosofia da abundância capaz de resistir aos seus projetos de escassez. No primeiro andar, o núcleo Artista desconhecida explora a debochada iconoclastia que tanto identifica a obra de Lia Letícia, enquanto Arriar a bandeira desafia o triunfalismo do poder e suas presunções de progresso. Por fim, Desculpe atrapalhar o silêncio de sua viagem que congrega obras que, a partir da experiência das cidades, insurgem-se contra as injustiças sociais do nosso tempo. Ao longo da exposição, alguns gestos e interesses revelam sua permanência na obra da artista: memórias insurgentes, posicionamentos irônicos, subversões de traços anárquicos, enfrentamentos políticos performativos, criações colaborativas, o caminhar como método, estéticas da abundância. Permeando diferentes temas e estratégias de linguagem, de forma transversal, testemunhamos a iconoclasta vocação da obra de Lia Letícia de arejar as tão estafadas concepções tradicionais de arte, aqui devidamente inscritas – e nutridas – na vida que Tudo dá.

por Clarissa Diniz

Até 09 de novembro. 

 

Cosmogonias Brasileiras

19/set

Sophie Su Art Advisory, em colaboração com a Galeria Natalie Seroussi, convida para o dia 04 de outubro para a abertura da exposição “Cosmogonias Brasileiras”, 34, rue de Seine, Paris 6ᵉ.
Por meio de uma seleção de obras emblemáticas de Tarsila do Amaral, Maria Martins, Mestre Didi, Jaider Esbell, Denilson Baniwa, Nádia Taquary e outros artistas de destaque, a exposição questiona a memória seletiva da história da arte e evidencia a riqueza das tradições brasileiras — da antropofagia cultural às dinâmicas de apropriação e às tensões contemporâneas. Um convite a descobrir como esses artistas dialogam entre heranças modernistas e imaginários coletivos, revelando os tesouros do Brasil em solo francês.
Em exibição ate 20 de dezembro.