Um quilombo cultural urbano

06/fev

Os artistas Dora Smék, Lourival Cuquinha e Ros4 Luz participam da grande coletival ReFundação, em exibição até 07 de abril na Galeria Reocupa da Ocupação 9 de Julho. A mostra reune cerca de 130 trabalhos, entre pinturas, esculturas, intervenções, instalações, vídeos e objetos de mais de 100 artistas de todo o território nacional.

Provocando a reflexão sobre outros mundos possíveis, em vias de existir ou a serem refundados, o grupo à frente da exposição propõe novas perspectivas de relações, em uma revisão dos laços sociais e políticos que sustentam nossa cultura, por meio de um coletivo de curadoria que reúne representantes de diversos setores da cultura e da arte. Este novo projeto da Reocupa, cuja abordagem interdisciplinar reflete a necessidade de criar outras formas de pensar, relacionar-se e praticar arte no mundo, tem como objetivo afirmar a Ocupação 9 de Julho como um pólo cultural aberto e permeável, que envolve espaços de circulação, inseridos em uma lógica de Parque, com ações culturais e urbanísticas integradas.

A exposição, realizada em diversos espaços da Ocupação 9 de Julho – antigo prédio do INSS, que ficou abandonado por três décadas, até ser ocupada pelo MSTC (Movimento Sem Teto do Centro) em diferentes ocasiões a partir dos anos 1990. Além da Galeria Reocupa, situada no 1º andar do prédio, as obras estarão em espaços de circulação, em diálogo com moradores do edifício e com a dinâmica que tornou a Ocupação 9 de Julho um lugar aberto à sociedade. Para o MSTC, a exposição contribui para a consolidação de um projeto modelo, que ambiciona seu reconhecimento, em caráter inédito, como um Quilombo Cultural Urbano. A maioria das obras estarão à venda, com o propósito de reunir fundos para operações da exposição e da Galeria, para a manutenção do prédio e dos projetos do MSTC e para o auxílio de todos os artistas participantes da exposição.

Ana Maria Maiolino na Luisa Strina SP

05/fev

Foi inaugurada a nova individual de Anna Maria Maiolino na Galeria Luisa Strina, Jardins, São Paulo. Intitulada “Querer e não querer, desejar e temer”, a exposição reúne uma seleção de obras produzidas desde a década de 1990 até o presente, algumas delas expostas pela primeira vez. Em cartaz até 16 de março.

Sobre a artista

O trabalho de Anna Maria Maiolino desenvolve-se por uma variedade de meios: poesia, xilogravura, fotografia, cinema, performance, escultura, instalação e, acima de tudo, desenho. O amplo espectro de interesses e atitudes que fundamentam sua obra não segue um desenvolvimento linear no próprio trabalho ou no tempo. Pelo contrário, pela diversidade de meios, ela cria uma teia em que temas e atitudes se entrelaçam enquanto significados migram entre um trabalho e outro.

Em 2019, Maiolino teve uma grande retrospectiva de seu trabalho no PAC Milano e na Whitechapel, em Londres. Em 2017, uma importante retrospectiva de sua obra foi apresentada no MoCA Los Angeles, como parte do projeto Pacific Standard Time: LA/LA, da Getty Foundation. Em 2010, uma ampla retrospectiva itinerante foi realizada na Fundação Antoni Tàpies, Barcelona, no Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela, Espanha, e no Malmö Kunsthalle, na Suécia (2011). Sua obra integra mais de 30 acervos de museus, como MoMA, MoCA Los Angeles, MASP, Malba, Reina Sofia, Centre Pompidou, Tate Modern e Galleria Nazionale di Roma. Individuais selecionadas incluem PSSSIIIUUU…, Instituo Tomie Ohtake, São Paulo (2022); EM TUDO – TODO, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2019); Errância Poética, Hauser & Wirth, Nova York (2018); TUDO ISSO, Hauser & Wirth, Zurique (2016); CIOÈ e performance in ATTO, Galleria Raffaella Cortese, Milão (2015); Ponto a Ponto, Galeria Luisa Strina, SP (2014); Afecções, MASP, SP (2012); Continuum, Camden Arts Centre, Londres (2010); Territories of Immanence, Miami Art Center, Miami (2006); Muitos, Pinacoteca, São Paulo (2005); Vida Afora/A Life Line, The Drawing Center, NY (2002). Exposições coletivas recentes: Radical Women: Latin American Art, 1960–1985, Hammer Museum, Los Angeles (2017) e Pinacoteca, São Paulo (2018); Delirious: Art at the Limits of Reason, 1950-1980, MET Breuer, Nova York (2017); The EY Exhibition: The World Goes Pop, Tate Modern, Londres (2015); The Great Mother, Palazzo Reale, Milão (2015); Artevida, MAM e Casa França-Brasil, Rio de Janeiro (2014); dOCUMENTA 13, Kassel (2012); On Line: Drawing Through the 20th Century, MoMA, NY (2010); 29ª Bienal de São Paulo (2010)

Museu ao ar livre em Pernambuco

Em Pernambuco, a apenas uma hora e meia de Recife, por uma estrada surpreendentemente bem asfaltada, o visitante tem acesso à Usina de Arte. Projeto concebido em 2015, por Bruna e Ricardo Pessôa de Queiroz, ela se encontra num espaço de 130 hectares de terreno, dentro de uma área total de quase 7000 hectares, na Zona da Mata Sul, em Água Preta. O projeto traduz o desejo do casal e de sua família de revisitar a história da Usina Santa Terezinha, cuja operação começou em 1929, sob a condução do bisavô de Ricardo, José Pessôa de Queiroz, e que chegou a ser uma das maiores produtoras de álcool e açúcar no Brasil nos anos 1950. Em 1998, a usina encerrou suas atividades de moagem.

Parte do antigo campo de pouso e das linhas férreas se transformaram num jardim de quase 40 hectares, que circunda três lagos artificiais, projetado pelo paisagista Eduardo Gomes Gonçalves. A ideia de museus abertos de arte contemporânea ao ar livre e a reocupação de territórios começou, no caso do Brasil, em 2006, com um enorme investimento do empresário e colecionador Eduardo Paz em Inhotim, Minas Gerais, onde foram criados um exemplar Jardim Botânico e diferentes Pavilhões para exposições de artistas renomados, junto a sua coleção. Após muitos anos é uma referência internacional. No caso da Usina de Arte, o empreendimento visa ocupar o espaço desenvolvendo ou adquirindo obras que conversem com a história e a natureza do lugar. Hoje são mais de 45 obras já implantadas, outras foram desenvolvidas como sites específics em residência artística, e outras, adquiridas especialmente para o lugar.

Ainda nestes primeiros dias de fevereiro, a artista sérvia Marina Abramović inaugura no parque sua primeira obra aberta ao público no Brasil. A obra, “Generator”, alude a ideia de um enorme gerador de energia. Nasceu da experiência vivida pela artista em uma performance na Muralha da China, em 1988, e traz um muro com 25 metros de comprimento, 3 de altura e 2,5m de largura, no qual estão aplicados 12 conjuntos com três almofadas de quartzo rosa – vindas de Minas Gerais – conhecidas por transmitirem calma e clareza, onde o público pode encostar a cabeça, o coração e o estômago. Para a artista, convivemos paradoxalmente, num mundo onde os indivíduos, ao mesmo tempo que estão ligados por infinitas conexões digitais, carecem de uma ligação genuína consigo mesmos, com seus pares e a natureza.

O Brasil na Bienal de Veneza

31/jan

Pássaros que andam: participação brasileira destaca a produção e a resistência dos povos originários na 60ª Exposição Internacional de Arte – La Biennale di Venezia.

O Pavilhão Hãhãwpuá – como é referido o Pavilhão do Brasil nesta edição da Biennale – marca sua presença na 60ª Bienal de Veneza com a exposição intitulada Ka’a Pûera: nós somos pássaros que andam, com curadoria de Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana. O título Ka’a Pûera faz alusão a duas interpretações interligadas. Em primeiro lugar, ele se refere a espaços de roça que, após a colheita, ficam adormecidos, surgindo um lugar com vegetação baixa, revelando potencial de ressurgimento. Além disso, a capoeira é também conhecida pelos Tupinambá como uma pequena ave que vive em florestas densas, camuflando-se no ambiente.

Nesta edição da Bienal italiana dirigida pela primeira vez por um sul-americano, o brasileiro Adriano Pedrosa, o Pavilhão Hãhãwpuá destaca-se ao apresentar os povos originários e sua produção artística, em especial a resistência dos saberes e práticas dos habitantes do litoral. A exposição aborda questões de marginalização, desterritorialização e violação de direitos, convidando à reflexão sobre resistência e a essência compartilhada da humanidade, pássaros, memória e natureza. Glicéria Tupinambá, artista já anunciada, trabalha com a Comunidade Tupinambá da Serra do Padeiro e Olivença, na Bahia, para a realização de suas obras. Compõem também o Pavilhão obras dos artistas Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó.

“A mostra reúne a Comunidade Tupinambá e artistas pertencentes a povos do litoral – os primeiros a serem transformados em estrangeiros no seu próprio Hãhãw (território ancestral) – a fim de expressar uma outra perspectiva sobre o amplo território onde vivem mais de trezentos povos indígenas (Hãhãwpuá). O Pavilhão Hãhãwpuá narra uma história da resistência indígena no Brasil, a força do corpo presente nas retomadas de território e as adaptações frente às urgências climáticas”, afirmam os curadores. Os Tupinambás eram considerados extintos até o ano de 2001, quando finalmente o Estado Brasileiro reconheceu que esse povo não só nunca havia sido exterminado, como está ativo na luta para reaver seu território e parte de sua cultura que fora retirada pela colonização.

“A exposição é realizada no ano em que um dos mantos tupinambá retorna ao Brasil depois de um longo período no exílio europeu, onde estava desde 1699 como um preso político. A vestimenta atravessa tempos e atualiza as problemáticas da colonização, enquanto os Tupinambá e outros povos continuam suas lutas anticoloniais em seus territórios – como Ka’a Pûera, pássaros que andam sobre florestas que ressurgem”, complementam os curadores. Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal de São Paulo, ressalta que “vivemos um momento de convergência entre o passado, o presente e o futuro para encontrarmos um caminho para modos de vida sustentáveis e a repactuação das relações humanas. As questões levantadas pelo trabalho dos curadores e artistas apontam para caminhos relevantes para o árduo processo que temos pela frente”.

As obras

Glicéria Tupinambá convoca os mantos de seu povo para formar a instalação Okará Assojaba. Okará é uma assembleia da sociedade Tupinambá cujo objetivo é criar um conselho de escuta onde se reúnem os líderes que são portadores dos mantos tupinambá: as mulheres, os pajés e os caciques. A instalação Okará Assojaba faz referência a essa assembleia ao trazer um manto tupinambá produzido por Glicéria de modo coletivo com sua família e a Comunidade Tupinambá da Serra do Padeiro, acompanhado por mantos/tarrafas (redes de pesca). A instalação ainda é composta por onze cartas escritas por Glicéria, assinadas em conjunto com a Associação dos Índios Tupinambá da Serra do Padeiro e enviadas aos museus que possuem mantos tupinambá e outras partes de sua cultura em seus acervos.

Em Dobra do tempo infinito, uma videoinstalação com sementes, terra, redes de arrasto e jererés, Glicéria Tupinambá cria conexões entre as tramas das redes de pesca e a dos trajes tradicionais. Segundo o pensamento desse povo, os cruzamentos dos pontos das redes de pesca e das vestes também conectam os tempos: aquele que é tradicional e o presente. Na obra, a artista nos convida a conhecer os mestres da sua comunidade e a dialogar com os jovens, somando mais pontos nessa dobra temporal.

Com a videoinstalação Equilíbrio, Olinda Tupinambá, por sua vez, amplia a voz de Kaapora – entidade espiritual vigilante da nossa relação com o planeta e que também dá nome ao projeto de ativismo ambiental conduzido por ela na Terra Indígena Caramuru. A obra apresenta um retrato da condição humana na Terra e uma discussão crítica da relação destrutiva da civilização com o planeta do qual depende. Cuidar desse planeta, interagindo de forma respeitosa com os outros seres vivos, é a única forma de nos tornarmos realmente civilizados.

Ziel Karapotó, por fim, confronta processos coloniais em Cardume, uma instalação que une, com uma rede de tarrafa, maracás de cabaça e réplicas de projéteis balísticos, envolvidos por uma paisagem sonora com sons de rios e torés (cantos tradicionais do povo Karapotó) que se misturam a sons de disparos de armas de fogo. Cardume evoca a luta pelos territórios frente aos processos de genocídio que se atualizam nos últimos 523 anos, mas sobretudo reforça a resistência indígena por meio da vida: os torés afirmam a espiritualidade; a rede de pesca representa as correntezas dos rios, mares e a fartura de peixes; e, finalmente, o maracá conecta os povos indígenas à terra onde vivem.

O termo Hãhãwpuá

Nesta edição, o Pavilhão do Brasil é referido pelos curadores como Pavilhão Hãhãwpuá, simbolizando o Brasil como território indígena, com “Hãhãw” significando “terra” na língua patxohã. O nome “Hãhãwpuá” é usado pelos Pataxós para se referirem ao território que, depois da colonização, ficou conhecido como Brasil, mas que já teve, e tem, muitos outros nomes.

Sobre a Fundação Bienal de São Paulo

Fundada em 1962, a Fundação Bienal de São Paulo é uma instituição privada sem fins lucrativos e vinculações político-partidárias ou religiosas, cujas ações têm como objetivo democratizar o acesso à cultura e estimular o interesse pela criação artística. A Fundação realiza a cada dois anos a Bienal de São Paulo, a maior exposição do hemisfério Sul, e suas mostras itinerantes por diversas cidades do Brasil e do exterior. A instituição é também guardiã de dois patrimônios artísticos e culturais da América Latina: um arquivo histórico de arte moderna e contemporânea que é referência (Arquivo Histórico Wanda Svevo), e o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, sede da Fundação, projetado por Oscar Niemeyer e tombado pelo Patrimônio Histórico. Também é responsabilidade da Fundação Bienal de São Paulo a tarefa de idealizar e produzir as representações brasileiras nas Bienais de Veneza de arte e arquitetura, prerrogativa que lhe foi conferida há décadas pelo Governo Federal em reconhecimento à excelência de suas contribuições à cultura do Brasil. Pavilhão do Brasil na 60. Exposição Internacional de Arte – La Biennale di Venezia. Comissária: Andrea Pinheiro, presidente da Fundação Bienal de São Paulo. Curadoria: Arissana Pataxó, Denilson Baniwa e Gustavo Caboco Wapichana. Participantes: Glicéria Tupinambá com a Comunidade Tupinambá da Serra do Padeiro e Olivença, na Bahia, Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó. Pavilhão do Brasil (Pavilhão Hãhãwpuá), Giardini Napoleonici di Castello, Padiglione Brasile, 30122, Veneza, Itália

De 20 de abril a 24 de novembro.

Performances e exposição

A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, convida para a abertura da 19ª edição do Abre Alas, primeira mostra do calendário de atividades da galeria em 2024 que ocorrerá no dia 03 de fevereiro. Além da exposição e do tradicional concurso de fantasias, o evento contará com uma programação de DJs e performances.

Os 28 artistes participantes desta edição são:

BELLACOMSOM, Brenda Cantanhede, Bruno Pinheiro, Carlos Matos, Cynthia Loeb, Emilia Estrada, Guilherme Kid, Jeff Seon, Joelington Rios, Jorge Cupim, Jota Carneiro, LYV, Luiz Pasqualini, Marlon de Paula, Matheus Pires, Mauricio Igor, Medusa, Nalu Rosa, Natha Calhova, Naomi Shida, Rafael Simba, RHAY, Silia Moan, Sofia Ramos, Thaís Iroko, Thiago Modesto, Uma Moric e Virgínia Di Lauro.

A comissão de seleção – composta por Agrade Camíz e Daniela Castro – exerceu uma espécie de ausculta de um corpo social, cuja respiração entendem serem as artes, que reverberou a partir e através dos projetos e práticas artísticas recebidos para compor o 19º ABRE ALAS. Uma respiração coletiva, viva, pulsante. Saúde! Evoé!

Novos artistas selecionados

A Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, convida para a abertura, em 02 de fevereiro, às 19h, da exposição “Alvorada”, com 51 trabalhos de 32 artistas selecionados pela chamada pública Projeto GAS – Chamada Aberta de Verão, lançada em agosto do ano passado, e que recebeu 770 inscrições de artistas brasileiros e estrangeiros. Na noite de abertura, às 20h, a artista Carolina Kasting fará a performance “Corpo-Memória”, com a criação de duas pinturas que serão integradas à exposição. “Alvorada” ficará em cartaz até o dia 09 de março.

Cenas do cotidiano; a cultura popular brasileira; a história da arte revista sob a ótica de questões atuais; reflexões do campo político, a natureza e os impactos das ações humanas; gênero e sexualidade são alguns dos assuntos tratados nas obras da exposição. Os trabalhos reunidos em “Alvorada” são resultados de interesses, realidades e práticas distintas entre si. Há artistas que moram no exterior (Gustavo Riego e Graziela Guardino) vivendo em diferentes culturas, enquanto outros convivem com o dia a dia de zonas centrais e periféricas de cidades brasileiras.

Os 32 artistas, que ocuparão todo o espaço expositivo da galeria Anita Schwartz Galeria de Arte são: Ana Raylander (SP), Badu (PB/GO), Bruna Snaiderman (RJ), Bruno Lyfe (RJ), Caetano Costa (PE), Caio Borges (SP), Carolina Kasting (SC/RJ), Cela Luz (RJ), Clarice Rosadas (RJ), Desirée Jaromicz Feldmann (DF), Diego Castro (SP), Flávia Metzler (RJ), Fogo (RJ), Graziela Guardino (SP/Sydney), Guilherme Kid (RJ), Gustavo Riego (Bruxelas/Assunção), Janaína Vieira (SE/SP), Jorge Cupim (RJ), Julia Ciampi e Tiago Lima (MG), Luiz Eduardo Rayol (RJ), Malvo (RJ), Maria Victoria Santos (MG/RJ), Maryam Souza (BA/SP), Michele Martines (RS), Myriam Glatt (RJ), Nita Monteiro (RJ/SP), Rafael Amorim (RJ), Tetê Lian (MG/SP), Thales Pomb (DF/SP), Thix (RS/RJ), Vera Schueler (RJ) e Vinicius Carvas (RJ).

Nomeação de comissário cultural internacional

29/jan

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, informa: Emilio Kalil foi nomeado Comissário-Geral do Brasil para o ano do intercâmbio cultural Brasil-França. Os ministérios das Relações Exteriores – Itamaraty e da Cultura – anunciaram a nomeação de Emilio Kalil como Comissário-Geral do Brasil para o ano do intercâmbio cultural Brasil-França 2025, acordado em encontro presidencial, ocorrido em Paris, em junho de 2023. Ele terá como missão levar projetos em todas as áreas da cultura para França, com destaque para o meio ambiente, a diversidade e relações com a África.

Nota curricular

Emilio Kalil exerce, desde 2018, o cargo de diretor-superintendente da Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS. Teve atuação destacada em Belo Horizonte como diretor do grupo Corpo, na década de 1980, e dos Teatros Municipais de São Paulo (1988 – 1992) e do Rio de Janeiro (1995-1999). Emilio Kalil também exerceu, de 2000 a 2011, a função de diretor de produção e projetos da Fundação Bienal de São Paulo. Esteve, ainda, à frente da Secretaria de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro entre 2011 e 2016.

A sede da Galatea em Salvador

Cais é a exposição coletiva que inaugura a sede de Salvador da Galatea, galeria fundada em 2022 em São Paulo, que escolheu a capital do Estado da Bahia e primeira capital do Brasil para sua morada fora do Sudeste.

Estar em Salvador parte do desejo da galeria de ampliar o seu público para além do contexto sudestino e expandir suas trocas e conexões com artistas, curadores e intelectuais sobretudo do Nordeste, mas também para outros locais além do eixo Rio-São Paulo. Nesse sentido, este gesto reflete e rearticula os pilares conceituais fundadores do programa da Galatea: ser um ponto de fomento e convergência entre culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, gerando uma fricção, um embaralhamento e uma mistura entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o formal e o informal, o erudito e o popular.

​O título Cais nos remete às ideias de deslocamento, de viagem, de troca e de intercâmbio, que envolvem o conceito da chegada da Galatea em Salvador e, ao mesmo tempo, remetem à localização da galeria. Situada no térreo do edifício de arquitetura modernista Bráulio Xavier (que abriga um importante painel de Carybé, artista argentino radicado em Salvador), localizado na rua Chile, a primeira rua do Brasil, a galeria encontra-se na região do antigo Portal de Santa Luzia, uma das portas de acesso de Salvador no período em que era murada, que ligava o porto (cais) à cidade alta pela Ladeira da Conceição da Praia. Este último logradouro, por sua vez, é o local onde se encontra a oficina de José Adário, o ferreiro de ferramentas de orixá mais antigo em atividade na cidade de Salvador. Zé Adário foi o artista escolhido pela Galatea para inauguração de seu espaço em São Paulo, onde o artista realizou a primeira individual de sua carreira.

O recorte curatorial parte justamente dessa relação estabelecida com a obra de José Adário e o contexto cultural e geográfico em que ela está inserida e agrega os demais artistas nordestinos representados e trabalhados pela Galatea – Aislan Pankararu, Chico da Silva e Miguel dos Santos – para a partir de elementos e temas-chave da produção destes artistas derivar os conteúdos dos quatro núcleos que constituem a mostra: Fantasias de fauna e flora; Geometrias afro-indígenas e brasileiras; Representações da religiosidade e cultura afro-indígena e brasileira; e seu subnúcleo Máscaras Expandidas, localizado na sala do cofre.

Justapondo e friccionando nomes históricos e contemporâneos, artistas de formação tradicional e autodidata, a exposição conta com obras de 60 artistas nascidos ou radicados no Nordeste e organiza-se em torno de três temas chave: a estratégia da representação fantasiosa e estilizada da fauna e flora brasileira; as diversas elaborações e usos da abstração no contexto do Brasil, passando pelo modernismo, pelas raízes indígenas e afro-brasileiras; as representações da rica e complexa religiosidade do nosso país, mesclando imagens e referências das religiões de matriz africana com as do catolicismo popular. Desta forma, Cais pede licença para chegar em Salvador e convida para conhecer seus trabalhos e suas histórias.

Curadoria: Alana Silveira, diretora, Galatea Salavador; e Tomás Toledo, sócio-fundador, Galatea.

Itaú Cultural visita a Fundação Iberê Camargo

23/jan

A mostra “Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural” faz sua primeira itinerância do ano na Fundação Iberê Camargo, Cristal, Porto Alegre, RS. Ao todo, são mais de 40 obras do acervo do Itaú Cultural chegando em Porto Alegre com foco nos artistas brasileiros na transição entre o Moderno e o Contemporâneo. Trata-se da oitava itinerância da mostra e inaugura as viagens em 2024 deste recorte do acervo de livros de artista do Itaú Cultural, entre eles, os gaúchos Carlos Scliar, Glauco Rodrigues, Glênio Bianchetti, Regina Silveira e Rochelle Costi.

Narrativas em Processo: Livros de Artista na Coleção Itaú Cultural chega a Porto Alegre depois de percorrer por sete cidades do país – a última foi no Museu de Arte do Rio (MAR), no Rio de Janeiro. Na capital gaúcha, permanecerá em cartaz na Fundação Iberê Camargo de 03 de fevereiro a 31 de março, e exibe um percurso de mais de 80 anos desse tipo de produção no cenário brasileiro. Felipe Scovino assina a curadoria da mostra onde as obras estão distribuídas em cinco eixos: Rasuras, Paisagens, Álbuns de Gravura, Uma Escrita em Branco e Livros-objetos.

Rasuras reúne peças que se colocam à margem de uma narrativa obediente ao pragmatismo. É o lugar de uma escrita que nasce para não ser compreendida, que é oferecida ao mundo com certo grau de violência e gestualidade, a exemplo de Em Balada (1995), de Nuno Ramos, cujo rastro do projétil atravessa o volume e se transforma em signo de leitura.

Os livros de Adriana Varejão, Artur Barrio e Fernanda Gomes, que compõem parcialmente a série As Potências do Orgânico (1994/95), e o livro de Tunga são índices de corpos transmutados em livros – estão lá vísceras, sangramentos, machucados, e no caso de Tunga, um componente erotizante.

Lais Myrrha também pode ser vista com o Dossiê Cruzeiro do Sul (2017), que questiona politicamente a constelação do Cruzeiro do Sul invertida na bandeira do Brasil; Aline Motta, com Escravos de Jó (2016), sobre um Brasil necropolítico, e Rosângela Rennó, com 2005-510117385-5 (2009), criada com reproduções de fotos furtadas e posteriormente encontradas e devolvidas à Biblioteca Nacional, seu lugar de origem.

No eixo Paisagens os livros dos artistas podem problematizar a paisagem enquanto um labirinto sensorial, como é a obra de Jorge Macchi; a paisagem como uma partitura que logo se transforma em desenho, como em Montez Magno e Sandra Cinto; evidenciar uma ampla gama de paisagens sociais atreladas a questões fundamentais para a compreensão do Brasil enquanto sociedade plural, como são os casos de Dalton Paula, Lenora Barros, Rosana Paulino e Eustáquio Neves.

Ainda, evidenciar a relação entre cosmogonias e povos originários, no caso de Menegildo Paulino Kaxinawa. Além disso, há uma produção realizada nos últimos cinco anos que se volta com uma potência crítico-social sobre a paisagem política brasileira, como pode ser observado na atmosfera de cinismo e niilismo que ronda o Livro de colorir, de Marilá Dardot, e O Ano da Mentira, de Matheus Rocha Pitta.

Álbuns em tiragem limitada estão concentrados no eixo Álbuns de gravura, composto de obras de artistas visuais que tiveram atuação determinante na passagem do moderno ao contemporâneo no Brasil. Concentra distintas análises, que exploram a reflexão sobre o diálogo entre a produção artística e os meios de experimentação, tendo o livro como forma e a serialidade como meio.

Carlos Scliar, Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti, que fundaram o icônico Grupo de Bagé, por exemplo, estão presentes em Gravuras Gaúchas (1952). O Meu e o Seu (1967), de Antonio Henrique Amaral, entre outros, têm a violência, o sexo e a política como temas recorrentes, com aparições de bocas, seios e armas, no primeiro caso, e de um nu tendendo ao expressionismo, no segundo. Uma das séries adquiridas pela Coleção Itaú Cultural recentemente, presente neste eixo, é Aberto pela aduana, de Eustáquio Neves, projeto selecionado pelo Rumos Itaú Cultural 2019-2020. Outras aquisições recentes em exibição na mostra são Anotações Visuais, de Dalton Paula; Búfala e Senhora das Plantas, de Rosana Paulino; …Umas, de Lenora de Barros; e Reprodutor, de Rochelle Costi.

De Regina Silveira tem Anamorfas (1980), uma subversão dos sistemas de perspectiva. A mostra também conta com espaço para a xilogravura: Pequena Bíblia de Raimundo Oliveira (1966), com texto de Jorge Amado, e Das Baleias (1973), de Calasans Neto, acompanhado de um poema de Vinicius de Moraes. A literatura de cordel é o referente para essas obras. Na exposição, este gênero literário não se apresenta apenas como uma expressão da cultura brasileira, mas como um livro e uma narrativa produzidos manualmente pelo próprio artista.

No núcleo Uma escrita em branco, os visitantes encontrarão neste espaço livros que evidenciam a forma, o peso e a estrutura da obra ao invés da palavra, como Brígida Baltar, com Devaneios/Utopias (2005), Débora Bolsoni, com Blocado: A Arte de Projetar (2016), e Waltercio Caldas, com Momento de Fronteira (1999) e Estudos sobre a Vontade (2000).

Em outro extremo, O Livro Velázquez (1996) e Como Imprimir Sombras, ambos de Waltercio Caldas, e Caixa de Retratos (2010), de Marcelo Silveira, o leitor/visitante é deixado em um estado de perda de referências, pois a linguagem impressa no livro é turva, não se exibe com exatidão.

Por fim, o eixo Livros-objetos reúne e homenageia os pioneiros no Brasil dos chamados livros-objetos e sua intersecção direta com a poesia concreta. São três livros feitos em parceria entre Augusto de Campos e Júlio Plaza: Caixa Preta (1975), Muda Luz (1970) e Objetos (1969).

Sobre a Fundação Iberê Camargo

Iberê Camargo construiu, ao longo de sua carreira, uma imagem sólida de trabalho e profissionalismo. O resultado desse esforço e olhar para a arte estão preservados na fundação que leva o seu nome. Neste espaço, o objetivo é o de incentivar a reflexão sobre a produção contemporânea, promover o estudo e a circulação da obra do artista e estimular a interação do público com a arte, a cultura e a educação, a partir de programas interdisciplinares. O artista produziu mais de sete mil obras, entre pinturas, desenhos, guaches e gravuras. Somando-se a esta ampla produção artística, estão diversos documentos que complementam suas obras e registram sua trajetória, já que o artista e sua esposa, Maria Coussirat Camargo, tiveram como preocupação constante a preservação da documentação e de sua produção. Toda a coleção compõe o Acervo Artístico e o Acervo Documental da instituição. São 216 pinturas que abrangem o período de 1941 a 1994; mais de 1500 exemplares de gravuras em metal, litografias, xilogravuras e serigrafias; e mais de 3200 obras em desenhos e guaches. Entre suas obras, destaque para um autorretrato pintado a óleo sobre madeira. Livre das regras do academicismo, Iberê sempre buscou o rigor técnico, mantendo-se fiel às suas memórias (o “pátio da infância”), e ao que considerava ético e justo. Sua pintura expressa este não alinhamento com os movimentos e as escolas. Dentre as diferentes facetas de sua vasta produção, o artista desenvolveu as conhecidas séries que marcaram sua trajetória, como “Carretéis”, “Ciclistas” e “As Idiotas”.

Coleção Itaú

Todas as peças desta exposição pertencem ao acervo do Banco Itaú, mantido e gerido pelo Itaú Cultural. A coleção começou a ser criada na década de 1960, quando Olavo Egydio Setubal adquiriu a obra “Povoado numa planície arborizada”, do pintor holandês Frans Post. Atualmente reúne mais de 15 mil itens entre pinturas, gravuras, esculturas, fotografias, filmes, vídeos, instalações, edições raras de obras literárias, moedas, medalhas e outras peças. Formado por recortes artísticos e culturais, abrange da era pré-colombina à arte contemporânea e cobre a História da Arte Brasileira e importantes períodos da História da Arte mundial. Segundo levantamento realizado pela instituição inglesa Wapping Arts Trust, em parceria com a organização Humanities Exchange e participação da International Association of Corporate Collections of Contemporary Art (IACCCA), esta é a oitava maior coleção corporativa do mundo e a primeira da América do Sul. As obras ficam instaladas nos prédios administrativos e nas agências do banco no Brasil e em escritórios no exterior. Recortes curatoriais são organizados pelo Itaú Cultural em exposições na instituição e exibidas em itinerâncias com instituições parceiras pelo Brasil e no exterior, de modo a que todo o público tenha acesso a elas e tendo alcançado cerca de 2 milhões de pessoas. Em sua sede, em São Paulo, o Itaú Cultural dedica duas mostras voltadas para as coleções “Brasiliana” e “Numismática”, expostas de forma permanente no Espaço Olavo Setubal e no Espaço Herculano Pires – Arte no dinheiro.

 

Novos artistas na Zipper Galeria

22/jan

A 15ª edição do Salão dos Artistas Sem Galeria, promovido pelo portal Mapa das Artes, já começou na Zipper Galeria, Jardim América, São Paulo, SP, e apresenta obras dos 10 artistas selecionados, permanecendo em cartaz até 24 de fevereiro. Essa edição inclui participantes de diferentes estados do Brasil, e oferece uma  Bolsa Viagem + Fora do Eixo (Rio de Janeiro – São Paulo), ou seja, destinada para um artista residente de fora desses dois estados. O júri formado por Alice Granada (curadora independente), Hiro Kai (produtor independente) e Renato De Cara (curador independente e diretor do Paço das Artes-SP).

O Salão dos Artistas Sem Galeria tem como objetivo avaliar, exibir, documentar e divulgar a produção de artistas plásticos que não tenham contratos verbais ou formais (representação) com qualquer galeria de arte na cidade de São Paulo. O Salão tradicionalmente abre o calendário de artes em São Paulo e é uma porta de entrada para os artistas selecionados no circuito das artes.

Sobre o Mapa das Artes

Criado em 2004 pelo jornalista Celso Fioravante, o Mapa das Artes é o portal de artes visuais mais completo do Brasil, com programação e serviço de museus de todos os Estados do país. O site dispõe de seções diversas, como a dedicada aos salões de arte, com datas e editais; a seção Curtas, com matérias e serviço sobre acontecimentos, eventos e assuntos de interesse do público de artes visuais; além das colunas Supernova, com notas quentes; e seções dedicadas a eventos, mercado de arte, prêmios, personalidades, política cultural, arquitetura, web, patrimônio, polêmicas, críticas e notícias diversas de artes plásticas editadas nos principais veículos jornalísticos do mundo. Sua cobertura abrangente faz do Mapa das Artes uma peça fundamental para o desenvolvimento do circuito brasileiro de arte.