La sombra eléctrica de las cosas.

03/nov

“Machintla, La Sombra Eléctrica de las Cosas”, é o título da primeira exposição individual de Abraham González Pacheco – nascido em San Simón el Alto, México, 1989 – no  Brasil. Em exibição na Carpintaria, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, reúne escultura, desenho e pintura em uma investigação sobre história material, arqueologia e transformação cultural. Ao reelaborar os códigos visuais e os signos sociais da história mexicana, a prática de González Pacheco desestabiliza a tradição – do muralismo e suas implicações políticas à iconografia pré-hispânica e suas associações rituais – abrindo caminhos para imaginários especulativos.

A mostra apresenta obras realizadas com materiais de construção, como concreto, sob imagens de seres híbridos, paisagens e ícones. O artista inicia o processo aplicando pigmentos sobre uma superfície plana para definir formas e contornos iniciais. Tampas de garrafa são então posicionadas ao redor da composição para sustentar uma grade metálica levemente elevada, criando um pequeno vão entre as duas camadas. O concreto é derramado nesse espaço e, ao endurecer, absorve os pigmentos e as formas subjacentes. O resultado não é uma pintura no sentido tradicional: as imagens emergem da interação material entre pigmento e concreto. Evocando pinturas murais antigas e, ao mesmo tempo, inserindo-se nas texturas urbanas contemporâneas, esses objetos enigmáticos – construídos com sucata metálica e ferragens industriais – ampliam o diálogo do artista com a matéria e a construção, revelando os entrelaçamentos entre ruína e possibilidade. Ao colocar monumento e precariedade em tensão constante, González Pacheco desenvolve uma linguagem formal que desafia narrativas canônicas e insiste em futuros alternativos. Sua obra reformula os resíduos da história não como relíquias estáticas, mas como agentes ativos na construção de sentido no presente. Dessa forma, a exposição articula uma visão artística profundamente enraizada no patrimônio cultural do México, ao mesmo tempo em que se engaja em conversas globais sobre memória, visualidade e identidade coletiva.

Entre as exposições recentes de González Pacheco estão Monopolítico Suspendido (Nuestras nuevas ruinas), Museo Experimental El Eco, Cidade do México, México (2024); La lumbre de las serpientes, Espacio Doble A, Toluca, México (2022); e Texcal, Machete Galería, Cidade do México, México (2022). O artista também participou das mostras coletivas Plaza pública, Centro de Creación Contemporánea de Andalucía (C3A), Córdoba, Espanha (2025); Otrs Munds, Museo Tamayo, Cidade do México, México (2025); Histórias Indígenas, Kode Bergen Art Museum, Bergen, Noruega (2024); e MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo, Brasil (2023).

Até 24 de janeiro de 2026.

 

Compromisso com a defesa do meio ambiente.

A Nara Roesler São Paulo convida para a abertura da exposição “Xavier Veilhan – Do Vento” – no dia 08 de novembro, às 11h – com obras produzidas pelo artista francês a bordo de um barco à vela, em uma viagem da costa francesa, partindo de Concarneau, na Bretanha – no dia 05 de outubro, ao Porto de Santos – no dia 30 de outubro. Comprometido com a defesa do meio ambiente, o artista nascido em 1963, em Lyon, e radicado em Paris, tem empregado em sua produção materiais e processos que minimizam impactos ambientais. Agora, no projeto Transatlantic Studio, ele expande esta ideia também na busca de reduzir o impacto ambiental da distribuição internacional de suas obras, levando seu ateliê para um  veleiro sustentável (50% de fibra de linho) e transforma o barco à vela em ateliê, desenvolvendo obras durante a viagem, que serão exibidas em sua exposição.

Xavier Veilhan levou a bordo mais de 450 quilos de compensado de madeira, e está acompanhado de seus assistentes Antoine Veilhan, especializado em marcenaria e marcenaria náutica, e Carmen Panfiloff, assistente de escultura e marcenaria. O capitão é Roland Jourdain – duas vezes vencedor da Routedu Rhum, a regata transatlântica solitária feita a cada quatro anos, entre Saint-Malo, França, e Guadalupe, no Caribe – e o capitão-assistente é Denis Juhel.

Coleta de dados científicos.

A expedição, além de artística, também terá um cunho científico. Está a bordo Matthias Colin, oceanógrafo, que coleta amostras de plâncton e monitora o hidrofone, instrumento que permite a gravação de sons subaquáticos. Os dados recolhidos serão enviados via satélite para alimentar bases de dados científicas. A travessia tem a parceria entre a Fondation Explore e o Museu Nacional de História Natural, em Paris. O barco não é apenas um meio de transporte, mas um ateliê em movimento. Para a produção das esculturas a bordo, Veilhan levou no barco  equipamentos de marcenaria concebidos por Antoine, pensados para funcionarem sem uso de energia elétrica, como por exemplo uma serra de fita a pedal.

 

Artistas da Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

O Espaço de Arte Contemporânea Portão Vermelho, localizado na Fábrica Bhering, abrirá no sábado, dia 8 de novembro, a exposição “Pulsão /in/ Possível”. A mostra coletiva reúne obras de 22 artistas da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV): Ad Costa, Ana Júlia Rojas, Ana Regal, Benjamin Rothstein, Camila Tavares, Carlos Martelote, Fernanda Rosa, Jeff Seon, Karla Biery, Leo Stuckert, Luana Gomes, Moshe de Leon, Pedro Rangel, Peu Mello, Rodrigo Ajooz, Tatiana Coelho, Teka Mesquita, Thaís Ravicz, Tomie Savaget, Vitor Viana, Virna Santolia e Zilah Garcia.

As obras são multimeios, variando desde pinturas de menor porte para esculturas de tecido de tamanho significativo, a potência artística dessa exposição residindo na diferença entre trabalhos e sua variedade de suportes.

Com orientação de André Sheik e Daniele Machado e curadoria coletiva do corpo discente da instituição, a mostra explora o processo de pesquisa artística não somente enquanto objeto a ser discutido, mas como possibilidade no campo artístico, abrindo entrelugares e deslocando a ideia de genialidade do artista, da masterpiece: a experimentação abre uma fresta pela qual a pesquisa é não só parte, mas o trabalho em si. Esgarçando o conceito de liberdade, autonomia e a importância do espaço independente na crítica de Mário Pedrosa, a equipe de curadoria pensa essa exposição a partir do exercício de experimentação de liberdade dos artistas como Lugar.

“O meio século de vida da EAV é resultado sempre do futuro, do respeito ao lugar sagrado da autonomia, da experiência e do aprendizado ante qualquer papel, que sempre retornaram para construir a História. Os curadores e artistas aqui reunidos, junto ao Portão Vermelho, manifestam a liberdade, sem a qual a arte não pode existir. Fiquem de olho nesses nomes.” Daniele Machado.

“Para nós, o processo de pesquisa é muito mais interessante que a ideia de produto final, pois é no processo que reside o território de experimentação, da tentativa e erro e todos esses fatores sendo abraçados e convergidos em obra. Juntamente da discussão sobre os próprios trabalhos, a ideia de Pulsão /in/ Possível reflete também o valor da troca durante as trajetórias dos artistas”.

Debora Pitasse, Fernanda Rosa, Guilherme Santana, Lua C, Souza Teodoro – Equipe Curatorial.

 

Curadoria de Paulo Herkenhoff e Ailton Krenak.

A FGV Arte, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição”Adiar o fim do mundo”, com curadoria de Paulo Herkenhoff e Ailton Krenak, pensador indígena, escritor e ativista ambiental, membro da Academia Brasileira de Letras e uma das vozes mais influentes do pensamento contracolonial contemporâneo. Coincidindo com o período da COP 30, a mostra articula arte, ecologia e filosofia emtorno de um enunciado que é, ao mesmo tempo, uma advertência e um convite: adiar o fim do mundo é reinventar o presente.
Inspirada na produção e no pensamento de Ailton Krenak, a exposição reúne mais de 100 obras de diferentes períodos e contextos culturais, com técnicas e suportes que abordam as urgências da crise ambiental, o legado do colonialismo, o racismo estrutural e os modos de resistência dos povos originários e das comunidades tradicionais. Mais do que uma metáfora, “Adiar o fim do mundo” é uma proposição estética e política que entende a arte como instrumento de reencantamento do mundo e de reconstrução das relações entre humanos e natureza.
“Não se trata de uma exposição sobre o fim, mas sobre a continuidade da vida”, afirma Paulo Herkenhoff. “A arte aqui é compreendida como um território de insurgência e imaginação, capaz de propor novas alianças entre corpo, natureza e espírito. O diálogo com Krenak nos convida a repensar o lugar da arte dentro de uma ecologia da existência.”. “Enquanto insistirmos em olhar o planeta como um objeto a ser explorado, seguiremos acelerando o colapso. A arte, ao contrário, nos chama a ouvir a Terra e a reconhecer que ela também sonha, sente e fala.”
Entre os nomes reunidos pelos curadores estão Adriana Varejão, Alberto da Veiga Guignard, Aluísio Carvão, Anna Maria Maiolino, Anna Bella Geyger, André Venzon, Ayrson Heráclito, Berna Reale, Camille Kachani, Cildo Meireles, Claudia Andujar, Evandro Teixeira, Fernando Lindote, Hélio Oiticica, Ivan Grillo, Jaider Esbell, Jaime Lauriano, Marcos Chaves, Nádia Taquary, Niura Bellavinha, pajé Manoel Vandique Kaxinawá Dua Buse, Rodrigo Braga, Romy Pocstaruck,  Sandra Cinto, Sebastião Salgado, Siron Franco, Thiago Martins de Melo, Tunga e muitos outros. A coletiva inclui também 11 obras comissionadas, concebidas especialmente para a mostra, dos artistas Cabelo, Cristiano Lenhardt, Daniel Murgel, Ernesto Neto, Hugo França, Keyla Sobral, Rosana Palazyan, Rodrigo Bueno, Souza Hilo e do coletivo de artistas indígenas Apinajé.
A mostra permanecerá em cartaz até 21 de março 2026.

Representantes da obra de Miriam Ines da Silva.

31/out

A Almeida & Dale, São Paulo, SP, anuncia a correpresentação internacional do espólio de Miriam Inez da Silva (1937, Trindade, GO – 1996, Rio de Janeiro, RJ, Brasil), em parceria com a Travesía Cuatro.

“Para mim pintar é vida. Pinto o que amo e sinto no coração. O povo para mim, o Brasil, são uma atração grande demais. Curto ouvir causos, música popular e o mais importante, estou muito com gente, mas não importa a escala social. Minha pintura deve muito aos grandes mestres que tive em Goiás. E, no Rio, o Ivan Serpa”. 

Miriam Inez da Silva, O Popular, Goiânia, 1983

As pinturas e xilogravuras da artista conjugam referências à história da arte, a ícones da cultura pop e da literatura, assim como cenas que unem o fantástico ao cotidiano do interior – um repertório visual construído a partir de suas memórias de infância. Suas obras adquirem um caráter narrativo por meio da construção geométrica do espaço e da inserção de molduras e formas abauladas de cortinas nos vértices da tela, sugerindo um palco.

Formada pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Goiás nos anos 1950, e aluna de Ivan Serpa na década seguinte, Miriam conservou o apreço pelas técnicas artesanais de manufatura, como as envolvidas na confecção de ex-votos.

Entre as exposições mais recentes dedicadas à obra de Miriam Inez da Silva, destacam-se as realizadas na Travesía Cuatro, Madri, Espanha (2025); Cerrado Galeria, Goiânia (2024); Museu Nacional da República, Brasília (2021) e Almeida & Dale, São Paulo (2021). Seu trabalho também figurou em exposições coletivas na Pinacoteca de São Paulo (2025); Museo Madre, Nápoles, Itália (2024); Instituto Çarê, São Paulo (2022); MASP, São Paulo (2022, 2017, 2016); Fundación Juan March, Madri, Espanha (2018), além da Bienal da Gravura de Santiago, Chile (1969) e Bienal de São Paulo (1967, 1963).

 

Invisibilidade e pertencimento com poesia.

A exposição “Os Outros” marca a estreia individual do pintor Gustavo Schossler e apresenta pinturas a óleo de beleza densa e comovente. São obras que, por meio de rigor técnico e sutileza afetiva, reposicionam o olhar do espectador e fazem uma pergunta incômoda e essencial: quem é digno de ser pintado? Historicamente reservado a reis, generais e figuras dentro de padrões hegemônicos de beleza, o gênero do retrato ganha aqui uma nova dimensão. Gustavo Schossler direciona seu olhar para aqueles que raramente ocupam o centro da imagem: pessoas albinas, homens e mulheres trans, um imigrante africano. Rostos e corpos que por muito tempo permaneceram invisíveis na história da pintura encontram no trabalho do artista não apenas espaço, mas dignidade, beleza e pertencimento. 

“Os Outros” abre dia 1º de novembro no Museu de Arte do Paço, Centro Histórico, Porto Alegre, RS. O artista explora em sua pintura a alteridade como força criativa e humana. É no encontro com o outro, no diálogo com o que nos é diferente, que somos capazes de refletir sobre quem somos. Assim, suas pinturas não apenas retratam, mas instauram relações. O olhar do espectador é convidado a se deslocar, a atravessar fronteiras de estranhamento e, nesse processo, a reformular a própria percepção de mundo. 

Formado em desenho e pintura no Studio Escalier, na França – onde posteriormente também atuou como professor – e no Ryder Studio, nos Estados Unidos, Gustavo Schossler é herdeiro do que se chama de Clássico Contemporâneo: uma tradição que transmite técnicas de pintura há séculos, mas que hoje pode ser reapropriada para novas narrativas. O domínio técnico adquirido nesses anos é colocado a serviço de uma investigação sensível sobre identidade, alteridade e humanidade. Todas as figuras retratadas em “Os Outros” são pessoas que o artista conheceu ao longo dos últimos anos. Através de encontros casuais na rua, redes sociais, amigos de amigos o pintor foi selecionando pessoas interessantes, que fogem do padrão do que foi historicamente retratado. O contato direto, o tempo partilhado, a escuta atenta são fundamentais para sua prática: “Acho importante conhecer quem retrato. Busco usar o que aprendi para pintar essas pessoas com carinho e respeito, sem transformá-las em caricaturas do que são”, afirma.

A trajetória de Gustavo Schossler inclui participações em importantes exposições coletivas, entre elas a Herbert Smith Freehills Portrait Award, na National Portrait Gallery de Londres, um dos principais museus do mundo. Agora, com “Os Outros”, ele inaugura um novo capítulo em sua carreira, afirmando sua voz autoral com força e delicadeza. Mais do que retratos, suas telas são encontrosque desarmam preconceitos e convidam à empatia e nos lembram que é o contato com a diferença que nos completa. 

Até 16 de janeiro. 

 

Prêmio Jane Lombard de Arte e Justiça Social.

30/out

A artista e educadora Rosana Paulino é a vencedora do Prêmio Jane Lombard de Arte e Justiça Social 2025-2027, concedido pelo Centro Vera List de Arte e Política, em Nova York, em reconhecimento ao seu livro de artista de 2016, “História Natural?”, que explora as histórias entrelaçadas da ciência e da violência racial. A seleção de Rosana Paulino foi feita por unanimidade por um júri presidido por Chus Martínez e composto por Tony Albert, Carin Kuoni, Sennay Ghebreab e Gabi Ngcobo. Prêmio em dinheiro de US$ 25 mil e uma obra de arte de edição limitada encomendada a Yoko Ono. Como ganhadora do Prêmio, Rosana Paulino será tema de uma exposição individual na The New School, ancorada por uma das obras mais significativas do artista, apresentada em outubro de 2026 como parte do Fórum Vera List Center 2026. 

O Centro Vera List de Arte e Política anunciou a artista, educadora e pesquisadora brasileira Rosana Paulino como a vencedora do Prêmio Jane Lombard de Arte e Justiça Social 2025-2027. Rosana Paulino recebeu o prêmio pela importância e impacto de seu livro de artista de 2016, “História Natural?”. “Estamos entusiasmados em homenagear Rosana Paulino, cuja prática remodelou profundamente a forma como entendemos os legados coloniais e sua marca na vida contemporânea”, disse Carin Kuoni, Diretora Sênior e Curadora-Chefe do Centro Vera List de Arte e Política. 

Expansão junto à arquitetura e ao corpo.

29/out

Será realizada uma visita guiada com o curador Luiz Camillo Osorio na exposição do artista José Pedro Croft. A exposição pode ser vista até o dia 17 de novembro, apresentando cerca de 170 obras do renomado artista português. No dia 30 de outubro, às 16h, será realizada uma visita guiada com o curador Luiz Camillo Osorio na exposição “José Pedro Croft: reflexos, enclaves, desvios”, no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro. Durante a visita, que será gratuita e aberta ao público, o curador percorrerá toda a exposição.

A mostra ocupa todo o primeiro andar e a rotunda do CCBB RJ, com gravuras, desenhos, esculturas e instalações, que ampliarão o entendimento sobre o conjunto da obra do artista e sobre os temas que vem trabalhando ao longo de sua trajetória, como o corpo, a escala e a arquitetura. Esta é uma oportunidade de o público ter contato com a obra do artista, que já realizou exposições individuais em importantes instituições, como no Pavilhão Português na 57a Bienal de Veneza, na Itália (2017), na Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, em Portugal (2020), na Capela do Morumbi, em São Paulo (2015), no Paço Imperial (2015), MAM Rio (2006), entre muitas outras.

“José Pedro Croft é um dos principais artistas portugueses da geração que se formou logo após a Revolução dos Cravos (1974). Ou seja, teve sua trajetória artística toda vinculada aos ideais de liberdade, cosmopolitismo e experimentação. Trata-se de uma poética visual que se afirma no enfrentamento da própria materialidade das linguagens plásticas: a linha, o plano, a cor, o espaço. Sempre levando em conta sua expansão junto à arquitetura e ao corpo (inerente aos gestos do artista e à percepção do espectador)”, conta o curador Luiz Camillo Osorio.

Exposição de Guto Lacaz.

O Instituto Ling, bairro Três Figueiras, Porto Alegre, RS, apresenta “mezo-móbile: síntese do sublime e misterioso”, exposição individual de Guto Lacaz, artista consagrado com mais de cinco décadas de trajetória. Reconhecido por transformar objetos do cotidiano ao subverter suas funções usuais, estéticas ou arquitetônicas, Guto Lacaz também se destaca por suas instalações, performances e intervenções urbanas. Nesta mostra, o artista propõe uma instalação site specific inédita, concebida especialmente para dialogar com o espaço expositivo e com os visitantes do centro cultural. Na abertura da exposição, que acontece na terça-feira, 04 de novembro, às 19h, haverá uma conversa aberta ao público com o artista Guto Lacaz e sua filha, Nina Lacaz – convidada especial que atua no campo das artes com foco em pesquisa, curadoria e mercado. Para participar, basta fazer inscrição prévia e gratuita pelo site!

Mezo-móbile: síntese do sublime e misterioso.

Uma enorme placa de isopor ocupa o espaço expositivo; ela sobe e desce graças a roldanas, produzindo um movimento hipnótico que evoca um pulmão gigante em atividade. No centro dessa placa monumental, um espaço livre permite que pequenos grupos participem da instalação, criando momentos de proximidade entre desconhecidos que se encontram literalmente dentro da obra, enquanto ela respira ao seu redor. Mezo-móbile não nega a colaboração do visitante, mas a controla caprichosamente. Cinquenta anos depois de suas primeiras “máquinas de fazer nada”, Guto Lacaz cria uma instalação que oferece participação sob seus termos: a obra obriga o espectador a negociar – esperar que suba para atravessá-la, observar de fora enquanto desce, ou entrar no vão central e experimentar a respiração da sala ao redor do próprio corpo. A instalação simula um espaço expositivo convencional, mas perturba a fruição de forma provocativa. Subverte o conceito modernista do cubo branco – a própria galeria se torna obra e transforma sua arquitetura em arte. Não mais um receptáculo invisível, mas a protagonista da experiência. Aqui é o próprio cubo branco institucional que ganha vida autônoma e engole o espectador em seu vão, numa inversão conceitual que questiona décadas de convenções curatoriais. Mezo-móbile é, simultaneamente, irônico, democrático, sensível, impactante, tecnológico e cômico. Não há excessos, ornamentos ou efeitos gratuitos, apenas o movimento essencial que faz uma sala inteira ganhar vida. É essa capacidade de extrair o máximo poético do mínimo material que torna Mezo-móbile não apenas uma obra sobre cinquenta anos de uma carreira artística, mas demonstração prática de como essa carreira sempre operou: transformando o simples em sublime, o barato em precioso, o óbvio em misterioso.

Sobre Nina Lacaz.

Nina Lacaz nasceu em São Paulo, SP, 1995. É formada em Design de Moda pela FAAP-SP (2016) e atuou durante quase dez anos no setor, com destaque para o Estúdio Kant, sua marca autoral de estampas exclusivas inspiradas no Art Déco, no movimento neoconcreto brasileiro e em linguagens como Op Art e Arte Cinética. Em 2021, passa a atuar no mercado de arte contemporânea, integrando o departamento comercial de galerias paulistanas como Andrea Rehder Arte Contemporânea e Gomide&Co. Paralelamente, cursa especialização em Arte: Crítica e Curadoria pela PUC-SP (2023-2025), sob orientação do Prof. Dr. Fabio Cypriano. Sua monografia investiga a catalogação do acervo de Guto Lacaz, confrontando os desafios técnicos de documentar mais de cinco décadas de produção artística dispersa – entre intervenções urbanas, instalações site-specific, performances e objetos cinéticos – com as questões afetivas e metodológicas que emergem quando memória familiar e rigor documental se entrelaçam. Atualmente, atua na área comercial da Gomide&Co, em paralelo com a estruturação do primeiro inventário completo da obra de Guto Lacaz e o desenvolvimento de textos curatoriais.

Sobre o artista.

Guto Lacaz nasceu em São Paulo, SP, 1948. É arquiteto formado pela FAU de São José dos Campos (1974) e multiartista cuja produção transita entre intervenções urbanas, instalações site-specific, performances, ilustrações, objetos e design gráfico. Em 1978, o Prêmio Objeto Inusitado marca o início de sua carreira como artista visual, inaugurando uma trajetória dedicada às interações entre arte, humor, ciência e tecnologia. Sua obra integra a memória urbana paulistana, com trabalhos como “Auditório para Questões Delicadas” (1989), no lago do Parque Ibirapuera, “Periscópio” (1994), intervenção para o Arte Cidade II, “Adoraroda” (2017), no Largo da Batata, e os painéis “Quarta Revolução Industrial” (2018), na Avenida Paulista. Participou de exposições como a 18ª Bienal Internacional de São Paulo (1985) e a Gwangju Biennale (1995), além de individuais em instituições como MAM-SP, MASP, Pinacoteca do Estado de São Paulo e Chácara Lane. Em 2024, a retrospectiva “Guto Lacaz: Cheque-Mate”, com curadoria de Rico Lins e Kiko Farkas, ocupou três andares do Itaú Cultural, celebrando mais de 50 anos de produção artística ininterrupta e em plena atividade. Como ilustrador, colaborou com revistas como Caros Amigos, Wish Report e Joyce Pascowitch, além de publicar diversos livros. No design gráfico, criou logotipos, identidades visuais, capas de livros e cartazes, tornando-se membro da Alliance Graphique Internationale (AGI) em 2011. Entre seus prêmios destacam-se: Prêmio APCA (1988, 2007, 2017 e 2024, em diferentes categorias), Prêmio Abril de Jornalismo – Ilustração (1983, 1990, 1991), Bolsa Guggenheim (1995), indicação ao Prêmio PIPA (2016) e Prêmio ABCA Menção Honrosa (2024). Seu processo criativo, marcado pela influência da mecânica e eletrônica, foi tema do documentário “Guto Lacaz: um Olhar Iluminado” (2022).

A exposição estará em cartaz até 27 de dezembro, com visitação livre de segunda a sábado, das 10h30 às 20h. Visitas mediadas para grupos poderão ser agendadas previamente, sem custo, pelo site do centro cultural. Esta programação é uma realização do Instituto Ling e Ministério da Cultura / Governo Federal, com patrocínio da Crown Embalagens. 

 

Uma profusão de formas vegetais.

28/out

A exposição “Quando o corpo toca a terra”, da artista visual Beatriz Balen Susin, na Ocre Galeria, 4º Distrito, bairro São Geraldo, Porto Alegre, RS, tem curadoria de Paula Ramos, crítica e historiadora da arte, e apresenta 30 obras que retratam a Mata Atlântica em painel de 16m. de largura por 1,80cm. de altura. O painel impressiona pelo tamanho e, sobretudo, pela exuberância da pintura que contém. A mostra será aberta no dia  1º e permanecerá em cartaz até 29 de novembro.   

O painel é composto por 20 telas de 0,80cm de largura (e 1,80cm de altura), montadas lado a lado numa grande panorâmica. “Habitadas por uma profusão de formas vegetais, em uma paleta vívida e exuberante, as pinturas parecem exibir, progressivamente, um adensamento da experiência, como se fosse possível tatear a superfície das plantas, acompanhar o transporte da seiva, sentir a absorção das raízes, pulsar no ritmo da mata”, comenta a curadora, no texto de apresentação da mostra.

A exposição abriga ainda dez outras obras da artista sobre o tema da natureza. Cinco igualmente inspirados num trecho da Mata Atlântica em Santa Catarina e cinco, em papel, reproduzindo troncos de árvores de outros lugares. 

Doação física e ganho espiritual

A execução do trabalho ocupou a artista – que completará 79 anos – em dois turnos de maio a agosto passado. “Foi uma grande doação do meu corpo, mas espiritualmente representou o começo de muitas coisas. Do ponto de vista mental, me sinto jovem, tanto que quero fazer outros painéis. Não esmoreço, não me entrego. Tenho essa força, não desanimo jamais”, diz Beatriz Balen Susin. Ex-professora de Artes da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS,  – sua cidade natal -, ela se define como expressionista. “Sou movida pela emoção. Não planejo antes. Já saio com a tinta. Se desenhasse antes, gastaria a emoção. Adoro desenhar com o pincel, com gesto largo”. A cor é um capítulo à parte na sua atividade. “Pra mim, tudo funciona na base da cor. Tanto em paisagens como em figuras as cores vão entrando e mudando durante o processo de criação. Tenho essa mania de transformar as coisas em cores”.

A exposição coincide com a primeira COP realizada no Brasil. A Mata Atlântica, bioma presente em 17 estados do país, será um dos temas debatidos no maior evento das Nações Unidas sobre as mudanças do clima no planeta, em Belém (PA). O desafio do Brasil é alcançar o desmatamento zero em todos seus biomas até 2030, e a Mata Atlântica, por seu histórico de resistência e recuperação, pode ser o primeiro a atingir a meta. Como pessoa e artista intrinsicamente ligada à Natureza, Beatriz Balen Susin torce para que isso aconteça e para que todos possam conviver com a beleza da floresta preservada.