FOTOS SURREAIS DE FLORIANO MARTINS

26/jun

O Espaço Cultural Citi, Avenida Paulista, São Paulo, SP, inaugurou a exposição “Na mão de Adão cabem todos os sonhos”, considerável acervo de fotografias surreais do poeta Floriano Martins. A curadoria é do renomado crítico de arte Jacob Klintowitz que destacou seleto grupo de imagens para exibição. Segundo Jacob Klintowitz, “…esta mostra teve um dado interessante, pois eu lidei com o excesso: selecionei 30 fotos entre centenas. A fonte, neste caso, parecia inesgotável Também neste caso foi um ato de contenção, pois cada foto permitiria um texto a parte.”.

 

Texto de apresentação

 

Na mão de Adão cabem todos os sonhos.

por Jacob Klintowitz

 

Quem poderá saber que novas galáxias Floriano Martins ainda inventará para apaziguar a sua curiosidade febril e aumentar a nossa surpresa e o nosso prazer?

Floriano Martins não é exatamente um fotógrafo, mas um inventor de imagens fotográficas. A máquina, o computador e o laboratório, são seus instrumentos, da mesma maneira que o pincel e o pigmento são instrumentos do pintor. Ele constrói minuciosos cenários, planeja todos os detalhes das cenas ao ar livre e, simultaneamente, se deixa conduzir pelo improviso, pelo que a paisagem, os modelos humanos e a sua imaginação, sugerem. É deste cadinho, que ferve substâncias variadas, que emergem estas encantadoras cenas. Ao mesmo tempo em que parecem infinitas em suas possibilidades de automodificação, estas fotografias tem uma inquietante estabilidade. Estas estranhas cenas e a sua inesperada beleza, vieram para ficar. A misteriosa mão estendida, recoberta de barro, constituída de barro, mão cerâmica, tem um aspecto ancestral, como se viesse de tempos imemoriais. E é a marca desta série. Mesmo que cada foto seja independente em si mesmo, ainda assim a força da imagem da mão – intuímos que seja capaz de inventar e moldar – simboliza a capacidade de gerar e tornar os sonhos em ficções poéticas e objetivas.

Mão feita de barro, como o mítico primeiro homem da nossa espécie, o homem feito de barro e animado pelo sopro. O pó da nossa matéria e a alma instalada pelo sopro divino. O barro queimado tornado homem cerâmico pelo vento ardente, o Pai Adão. É neste mito, e à semelhança do mito, onde navega a anima de Floriano. Ele mistura, combina, desconjunta, embaralha, estabelece relações entre imagens diversas e inventa novas visualidades.

E nem poderia ser diferente com a produção destas imagens. Floriano Martins é um criador incansável e múltiplo. Ele editou por 10 anos a revista digital “Agulha Revista de Cultura”, das mais lidas da língua portuguesa. E a “Agulha hispânica”, na qual estabeleceu um diálogo intenso entre as culturas dos vários países de língua espanhola. E é um profundo historiador do surrealismo na América Latina.  E é um poeta editado em vários países. E um crítico de cultura, tradutor e letrista.

Quem é Floriano Martins? Trata-se de um Mestre do Inusitado.

 

Até 17 de agosto.

SAMICO NA GALERIA ESTAÇÃO

22/jun

SAMICO inaugura exposição individual na Galeria Estação, Pinheiros, São paulo, SP. O artista apresenta 16 de suas raras xilogravuras, realizadas de 1992 a 2011, e duas matrizes entintadas para que o público aprecie seu apurado processo de trabalho. Criador de uma obra singular, Gilvan Samico no entalhe da madeira faz multiplicar reinados humanos e animais, oníricas composições que, desdobradas em séries de xilogravuras, solidifcaram sua imagem como um dos grandes mestres da arte brasileira.

 

Com sua obra produzida em sua casa ateliê em Olinda, o integrante do Movimento Armorial, idealizado por Ariano Suassuna, destaca-se ainda no panorama da gravura por ser um dos raros artistas que desenha, grava e imprimi manualmente seu trabalho. “Sonho, delírio e poesia”, como definiu Ferreira Gullar a obra do gravador, são construídos com tamanho rigor técnico que cada cor para ser impressa em apenas um exemplar leva não menos de duas horas. Personagens bíblicos ou provenientes de lendas e narrativas regionais, assim como animais fantásticos e míticos, marcam a produção do artista na qual a erudição provém da cultura popular.

 

Para Weydson Barros Leal, que escreve o texto do catálogo da exposição, as imagens criadas por Samico, minuciosamente gravadas, …”são registros de um mundo particular que ao mesmo tempo é íntimo e universal, e por isso também humano” e mais adiante, completa: “Esse humanismo refletido em símbolos e figuras, será mais claro ou menos distante para aqueles que o reconhecerem com o pensamento sensível, muito antes do mero arcabouço erudito (…) erudição depositada em cada traço do desenho, escondida sob a tinta preta ou nas cores que se abrem como frases sublinhadas para clarear um sentido”.

 

O artista

 

Gilvan Samico, nasceu em 1928, Recife, PE, fundou em 1952 juntamente com outros artistas, o Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife – SAMR, idealizado por Abelardo da Hora. Em 1957 estuda xilogravura com Lívio Abramo na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP, e, no ano seguinte com Oswaldo Goeldi, na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

 

Em 1965, fixa residência em Olinda. Leciona xilogravura na Universidade Federal da Paraíba – UFPA. Em 1968, com o prêmio viagem ao exterior obtido no 17º Salão Nacional de Arte Moderna, permanece por dois anos na Europa. Em 1971, é convidado por Ariano Suassuna a integrar o Movimento Armorial, voltado à cultura popular nordestina e à literatura de cordel.

 

 

De 26 de junho a 31 de agosto.

PAULO VIVACQUA EM BH

21/jun

A Galeria Murilo Castro, Savassi, Belo Horizonte, MG, apresenta a exposição “kms5n6j6jw6EHkuhuf7ytgEQg4jk46a45h”, individual de Paulo Vivacqua. A mostra reúne esculturas e objetos nos quais os materiais físicos, como o vidro, plástico, metal e granito, cujas formas plásticas e visuais se fundem com o áudio, ou simplesmente com a ideia de um determinado som.

 

Nessas obras – que incluem sete esculturas sonoras, sendo duas de parede – o artista utiliza elementos relacionados funcionalmente com a produção do som, como alto falantes, fios e materiais acústicos, mas totalmente “desfuncionalizados”. Nesta nova perspectiva, os objetos servem apenas como um dispositivo mental para a imaginação de um som, ou ainda, da pura expectativa de qualquer coisa que venha a soar, ou mesmo falar.

 

Como bem explica Felipe Scovino em sua crítica sobre a exposição no texto do catálogo,”A economia da inutilidade”, “… um dos desafios do trabalho de Vivacqua começa na busca por articular dois domínios distintos, o sonoro e o visual. Nessa sinestesia, imagens e situações são formadas revelando paisagens sonoras. Um estranho zumbido, veloz, volátil e circular atravessa o espaço da galeria, mesmo que ele opere no plano da virtualidade”.

 

A mostra foi criada a partir do momento em que Vivacqua percebeu como alguns elementos eram constantes em sua obra. “Certos objetos estavam presentes em praticamente todos os meus trabalhos: alto falantes, fios e materiais diversos como vidro, mármore, metal, etc. Resolvi, então, exercer um trabalho de análise e re-combinação de seus elementos, deslocando-os de sua função inicial, inclusive do próprio som, que está apenas sugerido”, explica o artista.

 

Vivacqua acrescenta ainda que o próprio nome da exposição é um exemplo desse deslocamento, diz ele: “O título apresenta-se como um desafio de linguagem, pois posiciona-se em um campo híbrido na tensão que estabelece entre palavra, som e objeto”.

 

Pela segunda vez na capital mineira – em 2008 o artista também expôs na Galeria Murilo Castro – Paulo Vivacqua espera que a exposição tenha uma boa recepção pelo público. “A meu ver, uma exposição de arte contemporânea é sempre uma situação inusitada. Para mim o trabalho acontece a partir do momento em que captura o interesse de cada um, seja por um pensamento ou um som, uma imagem. E sempre gostei da introspecção no modo de sentir e perceber o mundo, e acho que isso tem algo a ver com Belo Horizonte. Será?”, finaliza.

 

Sobre o artista

 

Nascido em Vitória, ES, Paulo Vivacqua vive e trabalha no Rio de Janeiro. Reconhecido no meio artístico devido a sua pesquisa em arte sonora, suas produções quase sempre permeiam este cruzamento de linguagens, sonora e plástica. Entre elas, Paisagens Subterrâneas, 2000, Mobile, 2000 e as instalações Sound Field, 2002, Residuu, 2005 e Sentinelas, 2008. Além das exposições, Paulo Vivacqua participou de várias bienais, como a 2ª Bienal de Arte Contemporânea de Praga e a 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS, ambas em 2005. Em 2011, esteve novamente na 8a Bienal do Mercosul e, em 2012, irá participar da 30ª Bienal Internacional de São Paulo, entre os 21 artistas brasileiros convidados. A bienal acontece de 07 de setembro a 09 de dezembro, com o tema “A iminência das poéticas”.

 

De 21 de junho a 23 de julho.

ESMERALDO – SIMPLES COMO O TRIÂNGULO

20/jun

Com umas das trajetórias mais originais da arte brasileira, o artista plástico Sérvulo Esmeraldo, após a retrospectiva na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2011, apresenta um recorte de sua produção na mostra “Simples como o triângulo”, na Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP. Com cerca de 70 trabalhos, entre esculturas, pinturas, relevos e objetos, a seleção traça um panorama que reúne obras históricas até atuais e inéditas.

 

Com exceção das gravuras realizadas no início de sua carreira, onde já se percebia o interesse do artista pela abstração geométrica, as demais fases encontram-se representadas nessa exposição. Destaque para a célebre série “Excitáveis”, realizada na década de 60, durante o período em que o artista viveu na França. Este trabalho, um experimento com a eletricidade estática que leva em conta a interação entre o corpo e o objeto, destacou-o no movimento de arte cinética internacional.

 

Escultor de excelência com alto rigor construtivo, Sérvulo apresenta também a série “Sólidos Geométricos”, que impressiona pela coerência e leveza, apesar da existência de um movimento potencial que quase se impõe à imobilidade do objeto. Fiel estudioso das leis da física, Esmeraldo apresenta ainda os seus “Teoremas”, que são mais do que simples evocações poéticas de demonstrações matemáticas. “São apropriações de diagramas de teoremas matemáticos da antiguidade e da modernidade que, despojados de suas referencias algébricas, tornam-se imagens sensíveis de ideias abstratas”, como aponta o crítico de arte Fernando Cocchiarale.

 

Sobre o artista

 

Escultor, gravador, ilustrador e pintor. Crato, CE, 1929. A partir de 1947, frequenta a Sociedade Cearense de Artes Plásticas – SCAP onde manteve contato com os artistas Antonio Bandeira e Aldemir Martins. Em 1951 segue para São Paulo, trabalha na montagem da 1ª Bienal Internacional e no Correio Paulistano, como ilustrador e gravador.

 

Sua primeira individual na capital paulista aconteceu em 1957, no MAM/SP. Após a mostra, viaja para a Europa com bolsa do governo francês, onde estuda técnicas da gravura em metal e litografia. Nos anos 60, ainda na França, integra o movimento de arte cinética, quando realiza a série dos “Excitáveis”. Retorna ao Brasil em 1978, trabalhando em projetos de arte pública, principalmente esculturas de grande porte que ornamentam a paisagem urbana de Fortaleza, cidade onde vive e trabalha desde 1980.

 

Sérvulo Esmeraldo participou de diversas exposições, entre elas: 6º Salão Paulista de Arte Moderna (1957), 5ª, 6ª, 7ª e 19ª edições da Bienal Internacional de São Paulo (1959, 1961, 1963, 1987), 14ª Trienal de Milão, 1967 – Itália, Exposição Internacional de Gravura 1970 – Cracóvia – Polônia, Panorama de Arte Atual Brasileira, no MAM/SP, 1974, São Paulo – SP, Um Século de Escultura no Brasil, no Masp, 1982 – São Paulo – SP, Brasil + 500 Anos: Mostra do Redescobrimento, na Fundação Bienal, 2000 – São Paulo – SP, além da grande retrospectiva realizada pela Pinacoteca de São Paulo, em 2011. Sua obra está representada nos principais museus do País e em outras coleções públicas e privadas do Brasil e exterior.

 

De 21 de junho a 18 de agosto.

ARTE SUSTENTÁVEL

Zemog - Fieiras

A Galeria Marcia Barrozo do Amaral, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de janeiro, RJ, apresenta uma exposição só de trabalhos reciclados, em prol do Rio + 20.

 

Na coletiva que reúne artistas da galeria, participam Anna Letycia, Frans Krajcberg, Julio Villani, Manfredo Souzanetto e Zemog. Anna Letycia criou uma série de colagens com páginas arrancadas de seu antigo catálogo, Zemog expõe suas “Fieiras” produzidas com inúmeras chapinhas de refrigerante, Manfredo de Souzanetto reciclou os restos do linho utilizado para as pinturas para as obras sobre papel e Julio Villani usou documentos antigos, inclusive com carimbo da República Francesa, e fez interferências com tinta á óleo. Frans Krajcberg apresenta fotografias.

 

Até 13 de julho.

 

 

CORES, PALAVRAS E CRUZES

19/jun

A Galeria Nara Roesler, Jardim Europa, São Paulo, SP, apresenta, “Cores, Palavras e Cruzes”, exposição individual de pinturas e desenhos recentes de Karin Lambrecht. A artista realiza sua terceira mostra individual na galeria e apresenta cerca de 30 obras, entre desenhos e pinturas, produzidas entre 2009 e 2012. “O conjunto de telas que Karin Lambrecht ora apresenta resulta de intenso trabalho com cores, dissonantes, às vezes, como em um acorde musical, impregnando sua pintura de colorações que lhe são próprias”, explica Gloria Ferreira, curadora da exposição.

 

Karin Lambrecht, participou da icônica exposição “Como vai você, geração 80″, em 1984, trouxe novos rumos para a arte contemporânea nacional, repensando a tela e a forma de pintar. Suas obras habitam um espaço entre pintura e escultura, dialogando com a arte povera, corrente artística que se desenvolveu durante as décadas de 60 e 70, na Itália. Durante toda sua carreira, o tempo é entendido como condição vital da arte, questão que chega ao ápice em 2008, na instalação “9 de agosto de 1949, dia e noite, Camus em Porto Alegre”, referencia ao filósofo existencialista. Seu trabalho, que faz parte de coleções importantes como a da Pinacoteca do Estado de SP, Instituto Itaú Cultural e merecu sala especial na 25ª Bienal Internacional de São Paulo, em 2002.

 

As obras apresentadas revelam preocupações estéticas e éticas voltadas para um possível poder curativo das cores. A ideia de cura está no centro do objeto Cruz elementar, em papel e madeira, de forma meio triangular, com textos manuscritos ou marcados por carimbos e cruzes. A esse trabalho, unem-se desenhos nos quais Karin Lambrecht molda papeis, dobraduras e recortes de modo artesanal, utilizando ainda pigmentos e materiais como gaze e isopor.

 

Abstratas, com formas geométricas e pinceladas expressionistas e largas, as telas são de diversos tamanhos Nas quatro grandes, feitas ao longo de vários meses, os pincéis parecem querer voar pela necessidade de expansão e transmitem sensação de liberdade. Nas pequenas, de processo mais rápido, mais sob seu controle, somam-se tinta, pastéis secos e carvão, com mudanças de tonalidades de uma para outra. Há algumas, de dimensões intermediárias, cujo tratamento pictórico remete igualmente à cor como matéria espiritualizada com suas polaridades e interações, garantindo a alta voltagem de sua pintura.

 

As tintas, confeccionadas pela própria artista, trazem pigmentos de várias origens que interagem com o cádmio verde, misturado, que vem juntar-se ao ultra marinho rosa; o azul-paris mais o cobalto-turquesa, mais cádmio vermelho; ou ainda o lápis-lazúli e cores terrosas. A artista também mudou palavras que aparecem em algumas obras. Palavras que às vezes se dissolvem sob as várias camadas de tinta ou se transmutam, como em “teia” para “veia”, tendo, contudo, sempre o T, evocando ainda uma vez a cruz, a morte, a cura, a doença.

 

A série “11 Legendas para Bergman”, por sua vez, apropria-se de frases do depoimento intimista do cineasta, aos 88 anos, sobre sua vida, infância, casamentos, filmes e sobre Fårö, em “A Ilha de Bergman”. Sobre papel de seda, as legendas, compostas com letras recortadas, têm os Ts em papel de prata, o que, em alusão à cruz, remete ao mesmo pensamento melancólico: “Não houve um dia em minha vida em que não tivesse pensado na morte”, diz o diretor sueco, cuja história guarda traços da própria história familiar de Karin.

 

Até 21 de julho.

PAIXÃO POR ANGOLA E SUA GENTE

Dono de um dos mais completos acervos de imagens da cultura angolana, o renomado fotógrafo e publicitário Sérgio Guerra exibe um panorama minucioso de suas expedições a Angola, país africano no qual registrou os hereros, o mais antigo grupo étnico do continente. Com curadoria do artista plástico Emanoel Araujo, “Hereros – Angola”, encontra-se em cartaz no Museu Histórico Nacional, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Visto por mais de 185 mil pessoas em São Paulo e Brasília – com passagens também por Lisboa e Luanda -, o painel apresenta 120 fotos em diversos formatos acompanhados por uma cenografia repleta de vestimentas, adereços e objetos de uso tradicional e ritualístico da etnia, traçando um amplo registro de seu modo de vida e tradições.

 

Fruto da paixão que o fotógrafo desenvolveu pela cultura do país africano, a exposição traz ainda depoimentos em vídeo colhidos entre homens, mulheres e jovens hereros sobre a sua cultura. O repertório de imagens e sons reunidos na mostra levam o espectador ao universo da etnia, composta por pastores de hábitos seminômades, que são exemplo da perpetuidade e resistência de uma economia e cultura ancestrais ameaçadas pelo acelerado processo de modernização e ocidentalização dos países do continente, assim como pela devastação da guerra civil que assolou o país por décadas. Através da iconografia, registros materiais e multimídia sobre o povo herero, sua tradição e seus rituais, a mostra contribui para o conhecimento da nossa ascendência africana e da formação social e etnológica de nossa gente. As lentes de Sérgio Guerra captaram com extrema sensibilidade o cotidiano e a cultura dos hereros.

 

Os hereros

 

“Nós, os hereros, nascemos todos na área chamada Calundo Candete. Saímos de lá, nos separamos e começamos a falar línguas diferentes. Hoje, cada grupo que fala uma língua diferente tomou um nome diferente, mas todos somos hereros. Escutamos nossos antepassados, os mais velhos que já se foram. Para nós, escutar é muito importante. É muito diferente de quem sabe escrever, porque a letra no papel não apaga, mas a palavra escutada depois é esquecida” (Soba Mutili Mbendula – Muhimba).

 

Na convivência com os hereros, o fotógrafo percebeu que os próprios angolanos sabiam muito pouco sobre essa etnia e sequer conseguiam distingui-los. “Descobri que, para além da minha atração por estes povos, poderia ser útil, de alguma maneira, se pudesse partilhar com um número maior de pessoas tudo aquilo que me foi dado a conhecer sobre eles”.

 

O autor

 

Fotógrafo, publicitário e produtor cultural, Sérgio Guerra nasceu em Recife, morou em São Paulo e no Rio de Janeiro, até se fixar na Bahia nos anos 80. A partir de 1998, passou a viver entre Salvador, Rio de janeiro e Luanda, onde desenvolve um programa de comunicação para o Governo de Angola. Em suas constantes viagens pelo Jaís, testemunha momentos decisivos da luta pela paz e reconstrução, constituindo um dos mais completos registros fotográficos das 18 províncias angolanas. Seu acervo fotográfico propiciou a publicação dos livros ‘Álbum de família’, 2000, ‘Duas ou três coisas que vi em Angola’, 2001, ‘Nação coragem’, 2003, ‘Parangolá’, 2004, ‘Lá e Cá’, 2006, ‘Salvador Negroamor’, 2007, ‘Hereros-Angola’, 2010 e e a montagem das exposições ‘As muitas faces de Angola’ – Brasília (Congresso Nacional), Salvador (Shopping Barra), São Paulo (Centro Cultural Maria Antônia), 2001; ‘Nação Coragem’ – São Paulo (FNAC Pinheiros, 2003), Zimbabwe (HIFA, Harare International Festival Arts, 2008); ‘Lá e Cá’ – realizada na Feira de São Joaquim, a maior feira livre da América Latina, tendo as bancas dos comerciantes como suporte da exposição, Salvador, 2006; ‘Salvador Negroamor’ – toda ela dedicada às pessoas que vivem na periferia da cidade, destacou-se como a maior exposição fotográfica a céu aberto que se tem registro até hoje, com aproximadamente 1500 painéis espalhados na cidade, Salvador, 2007; ‘Mwangole’ – Salvador (Galeria do Olhar, 2009); ‘Hereros-Angola’ – Luanda (Museu Nacional de História Natural), Lisboa (Perve Galeria), 2010, São Paulo (Museu Afro Brasil) e Brasília (Museu Nacional da República), 2011.

 

O curador

 

Emanoel Araújo é escultor, desenhista, gravador, cenógrafo, pintor, curador e museólogo, nascido em Santo Amaro da Purificação, Bahia. Em Salvador, formou-se em Belas Artes e foi diretor do Museu de Arte da Bahia. Lecionou artes gr.áficas, desenho, escultura e gravura na City College University of New York. Em Brasília, foi membro da Comissão dos Museus e do Conselho Federal de Política Cultural, instituídos pelo Ministério da Cultura. Em São Paulo, foi Secretário Municipal de Cultura, e Diretor da Pinacoteca do Estado, onde liderou uma gigantesca reestruturação nos anos 90, transformando o prédio em um dos principais museus do país e um dos mais conceituados internacionalmente. É considerado um extraordinário escultor e já realizou várias exposições individuais e coletivas por todo o Brasil, Europa, Estados Unidos e Japão. Recebeu diversos prêmios em todas as técnicas trabalhadas. Suas obras tridimensionais se destacam pelas grandes dimensões, pelos relevos e pela formas integrantes nas edificações urbanas. Seu estilo – mesmo sendo único – dialoga com movimentos artísticos de toda a história, mas sempre com ênfase nos detalhes que descrevem e valorizam as características africanas. Atualmente e diretor curador do Museu Afro Brasil, SP, do qual foi idealizador e doador de grande parte do acervo.

 

Até 08 de julho.

RAFAEL ALONSO EM CURITIBA

A SIM GALERIA, é um dos mais novos espaços dedicado à arte contemporânea em Curitiba, Paraná. Agora, dando curso na  programação, será a vez de mostrar os trabalhos do jovem Rafael Alonso com a exposição individual de pinturas denominada “Repetidor”. O texto de apresentação é assinado pelo crítico de arte Fernando Cocchiarale. O projeto e a coordenação é de Flávia Simões de Assis e Waldir Simões de Assis Filho.

 

 

Texto de Fernando Cocchiarale:

 

De um ponto de vista histórico a pintura poderia ser mapeada a partir dos diferentes métodos e técnicas de representação do espaço, desenvolvidos ao longo de dezenas de séculos, por diversas civilizações. Um afresco egípcio, mural romano ou tela da Renascença, seriam identificáveis a partir de sistemas de pintura comunitários distintos e claramente manifestos em suas configurações finais. Por conseguinte, nada de arbitrário havia em cada um desses sistemas, posto que expressavam o olhar comunitário, por meio de regras comuns (antes o olhar individual do artista se tornar o fundamento de seu próprio sistema).

 

Não se pode falar de pintura egípcia, sem que se mencione seu sistema. Nele não existiam estilos pessoais; tampouco sutilezas ou evidências de um sujeito-artista que quisesse deixar no mundo suas marcas pessoais. A lei da frontalidade estabelecia padrões de representação espacial tanto de figuras humanas, animais, plantas e objetos, estritamente respeitados por todos os pintores.

 

A pintura renascentista, em que surgiram os primeiros estilos individuais, também possuía um sistema baseado na perspectiva do sombreado. O respeito às características planares objetivas da tela pela arte moderna foi o último sistema de pintura minimamente fundamentado a surgir antes da emergência da produção contemporânea.

 

Tal ausência de sistemas de pintura, atualmente, não favoreceu a produção de um sentido comum (de fundo) que salvaguardasse o arbítrio das diferentes expressões individuais hoje em curso na produção artística. O pintor agora deve inventar seu próprio sistema e torna-lo visível ao olhar público. Esse é o desafio maior não só da pintura, como também da produção contemporânea.

 

Dentre os jovens pintores do país Rafael Alonso é um dos que melhor compreenderam a necessidade de produzir e fazer ver suas pinturas a partir de um sistema. Rafael tornou-se conhecido ao pintar sobre quadros de cantos arredondados faixas idênticas às produzidas com fita adesiva marrom para embalagem usada pelos vendedores de bebidas para proteger a tampa do isopor de pancadas.

 

Entre a pintura e o isopor Alonso estabeleceu relações tanto pictóricas (a pincelada que corre horizontal, num gesto manual, mas mecânico, o teor planar da tela e do isopor) quanto semânticas (a relação entre sua pintura – aparentemente abstrata – e situações pictóricas evocadas por objetos reais planos como telas. Nessa transmutação de telas reais com que convivemos diariamente e as pinturas do artista encontra-se o fundamento de seu sistema pictórico.

 

Não há dúvida que Rafael pinta o nosso mundo. Mas não o abstrai como os modernistas o fizeram (já que seus referentes reais se insinuam na configuração das pinturas), nem o representa, tal como os clássicos. Ele faz migrar pela pintura, de modo ilusionista, fragmentos da dimensão planar do cotidiano, para o quadro.

 

As pinturas que Alonso agora apresenta, trabalhadas no último ano e meio, são, conforme suas próprias palavras, “uma tentativa de produzir uma pintura que se relacione com os objetos do design que me cercam, mais especificamente computadores, monitores de TV, tablets. Objetos que hoje mais do que em qualquer outro momento servem como mediadores das imagens, de nosso contato com o mundo.”

 

São, portanto, imagens planas, de objetos planos (mediadores de imagens), feitas manualmente. Trata-se do mesmo sistema de ocupação espacial utilizado nas pinturas das fitas adesivas aplicadas sobre isopores de ambulantes.

 

Seus trabalhos recentes, no entanto, não mais evocam o Brasil precário, mas aquele globalizado pela tecnologia. Rafael Alonso investiga sua configuração mais frequente na vida diária – tabuletas, tablets − com múltiplas e coincidentes funções que povoam-na de luzes. Sua transposição às pinturas consiste na mais recente manifestação do sistema por ele inventado.

 

De 21 de junho a 30 de julho.

 

ERNESTO NETO

18/jun


Aliança - Ernesto Neto

Nova exposição individual de Ernesto Neto no Rio e São Paulo.  A mostra intitulada “Não Tenha Medo do Seu Corpo” acontecerá simultaneamente na Galeria Fortes Vilaça, Vila Madalena, e no Galpão Fortes Vilaça, Barra Funda,  com trabalhos inéditos feitos em crochê. A exposição terá um formato inovador, apresentando um perfil itinerante: a inusitada inauguração para convidados acontecerá no atelier do artista, no centro do Rio de Janeiro, onde as obras poderão ser apreciadas em seu local de criação original, viajando para São Paulo logo em seguida. Em agosto, haverá novo evento: uma conversa, aberta ao público, entre o artista e o curador Adriano Pedrosa.

 

Depoimento de Ernesto Neto sobre a exposição:

 

“No reino do objeto, do produto, da cultura, a obra propõe o ser vivo, a natureza como  protagonista da vida, da terra, do cosmo. A cultura é uma ferramenta não um objetivo, serve ao corpo que é o lugar da subjetividade, do prazer, da tristeza, da compreensão no mundo, a mente é parte do corpo, a cultura é parte da natureza, somos a natureza. Se nós criamos os objetos, natureza eles são, num computador tem mais natureza que numa caixa de fósforos, tudo que há na terra dela veio, somos só um veículo de nosso desejo e o desejo quer vida, seja num micróbio ou num organismo complexo, a natureza quer vida, o corpo pensa, e expressa o que somos, não há nada fora do corpo a paisagem é corpo a vida é corpo, não tenha medo do seu corpo!”.

 

 

Abertura

Atelier Ernesto Neto – Centro – Rio de Janeiro – RJ

30 de junho 2012  – das 20 às 22h

 

Local 1

Na Galeria Fortes Vilaça

Vila Madalena – São Paulo – SP

10 de julho a 18 de agosto

 

Local 2

No Galpão Fortes Vilaça

Barra Funda – São Paulo – SP

10 de julho a 18 de agosto

POLYANNA MORGANA NO IBEU

Convite exposição

A exposição individual “PolyTati Representações LTDA: life in concert, Vol. II”, de POLYANNA MORGANA, faz parte do edital de exposições 2012, do IBEU, Copacabana, Rio de janeiro, RJ. A mostra, que acontece na Galeria de Arte do IBEU, é uma instalação sonora site specific que reflete sobre o cotidiano da artista, que mora em Taguatinga e que faz diariamente o deslocamento para Brasília, DF. O título é uma referência ao ponto de partida para a realização do percurso: o escritório do pai de Polyanna, em Taguatinga, o PolyTati Representações Ltda. (que tem esse nome em homenagem as duas filhas – Polyanna e Tatiana). A instalação é composta por alto-falantes distribuídos em três painéis, que apresentam o som da paisagem sonora de três lugares diferentes do Distrito Federal: Taguatinga, a Estrada Parque e Brasília. Esses locais possuem sonoridades distintas. Em Taguatinga, há o som de comércio popular, buzinas, pessoas falando alto; a Estrada Parque apresenta um som de via expressa e Brasília revela uma paisagem sonora típica, onde se escutam passarinhos, carros ao longe e pessoas conversando à distância.

 

Duas pinturas colorfield traçarão os mapas de Brasília e de Taguatinga. As pinturas fazem uso da paleta de cores própria de cada uma das cidades, ou seja, em Brasília, como parte da herança arquitetônica moderna, a artista usa basicamente as cores branca, concreto, cinza e verde (da natureza). Já Taguatinga, que possui outra relação com o espaço urbano, Polyanna usa uma paleta de cores mais diversificada e vibrante, semelhante às cores das cidades do interior do Brasil.

 

“Quero criar um ambiente onde as pessoas possam caminhar pela Galeria Ibeu, e de alguma forma, construir uma experiência com a paisagem representada ali. Todos os meus trabalhos partem, basicamente, de um mesmo entrelaçamento: o meu corpo e a cidade no dia-a-dia”, diz Polyanna Morgana.

 

Para Fernanda Lopes, curadora convidada para a exposição: A jovem produção de Polyanna é marcada por trabalhos com performances ou por obras, como desenhos e objetos, que resultam de uma ação performática da artista. Em PolyTati Representações LTDA: life in concert, Vol. II o corpo do outro também passa a ser incorporado ao trabalho, quando o público começa a reconstruir suas próprias paisagens a partir dos indícios de som e imagem apresentados pela artista e a partir das informações que chegam diretamente da cidade, através das grandes janelas localizadas no espaço expositivo.

 

Até 29 de junho.