Babenco apresenta Baccaro em “Deep”.

26/mai

O artista Thomas Baccaro abre exposição individual,  “Deep”, na Galeria Vilanova, Vila Nova Conceição, São Paulo, SP, para a qual contou com um apoio especial: o cineasta Hector Babenco assina o texto de apresentação.  A curadoria é de Bianca Boeckel. Thomas Baccaro apresenta onze  imagens,  realizadas na Itália entre novembro de 2013 a janeiro de 2014.

 

 

Texto de Hector Babenco

 

“Thomas, primeiro e talvez último mergulho no profundo. Vendo estes bucólicos flagrantes do Thomas, a última pergunta que viria não é necessária. Onde esta paisagem dorme? Esta frágil melancolia que este jovem artista deixa seu olho pousar. Melancolia seria uma palavra óbvia. A palavra é PROFUNDO. Há algo nesta neblina que não nos remete ao mar, ao contrário, ela nos deixa na terra. Não na desolação e sim no nascimento e na perenidade assustadora do que é, e de onde viemos… ”

 

 

 

De 27 de maio a 17 de junho.

Bahia, contemporânea Bahia

“Bahia, contemporânea Bahia” é o título da coletiva que a  Roberto Alban Galeria de Arte, Ondina, Salvador, Bahia, apresenta a com curadoria de Marcelo Campos. Esta exposição marca a iniciativa da galeria em apresentar a produção de arte visuais contemporânea na Bahia. “Esta exposição vem em um momento especial, no qual o nosso estado será o centro da arte no país, a 3ª Bienal da Bahia, com abertura prevista para o dia 29 de maio. Visitei diversos ateliês no estado e selecionei oito deles, independentemente de serem jovens artistas ou mais experientes. Esta exposição me conquistou, pois retrata um universo mais amplo em seus diversos elementos de criação”, observa Marcelo Campos. A diversificação da linguagem é um aspecto relevante na  exposição, com posta por pinturas, desenhos, fotografias, esculturas e instalações.

 

Em “Bahia, contemporânea Bahia”, cada artista selecionado traz suas referências. “Almandrade conviveu com Helio Oiticica e Paulo Brusky, Willyams Martins começou a produzir concomitantemente a eventos como a exposição que lançou pintores da Geração 80, Lara Viana estudou na Inglaterra nos centros acadêmicos que formaram Damien Hirst, Josilton Tom conviveu com os modernistas da terra e com os longos anos do importante Salão da Bahia. Március Kaoru pensa a partir da memória familiar, na produção de um nipo descendente em Salvador, Vinícius S.A. expande a apropriação dos objetos domésticos para as grandes instalações e Fábio Magalhães, cuja pintura ativa dissimula possíveis aderências a imagens baianas. Ao mesmo tempo, temos a surpresa de poder contar com um interesse fotográfico, instalativo e performático de Rosa Bunchaft, que faz da fotografia uma experiência imersiva”, afirma Marcelo Campos.

 

“Uma exposição como esta, sendo realizada em uma galeria comercial, serve também para suprir parte das lacunas institucionais, nas quais os museus exibem propostas tradicionais e as galerias abrem-se para ousadas proposições. A produção da arte contemporânea precisa do apoio de espaços como a do Roberto Alban Galeria de Arte, que abre as portas para a disseminação do potencial dos artistas. Estamos aproveitando este momento de efervescência em arte, no qual os olhos do mundo estarão voltados para a Bahia, entre maio e setembro deste ano, para reafirmar nossa proposta de fortalecimento da arte contemporânea”, explicam Roberto e Cristina Alban, proprietários da Roberto Alban Galeria de Arte.

 

O professor Marcelo Campos também fala sobre outra corrente artística: o modernismo. “Torna-se necessário, também, atualizar e rever o modernismo de longa duração que ainda predomina em grande parte do Brasil. Sim, é a hora de pensarmos o contemporâneo, por mais problemático que seja o termo,  para que possamos recodificar materiais e métodos, poéticas e imagens, abrindo caminho para os que se aventuram”, finaliza Marcelo Campos.

 

 

Artistas participantes:

 

Almandrade – Ousou ao ser o primeiro artista contemporâneo da Bahia. Construiu seu trabalho sem ter uma referência local, a partir da década de 1960. Almandrade é um artista que ativa interesses históricos, desenvolve imensamente a materialidade de procedência comum, banal, para pensar mensagens, palavras que se tornam poemas-visuais. Pertencente à geração que usava a arte como palavra de ordem, Almandrade manteve-se atento aos campos semânticos, para além da visualidade, produzindo situações que são, principalmente, jogos de linguagem.

 

Rosa Bunchaft – Premiada em 2013 com projeto participativo envolvendo uma fotografia artesanal da cidade, durante o 13º Salão Nacional de Artes, realizado na cidade de Itajaí-SC, um dos lugares mais interessantes sobre Arte Contemporânea. Rosa observa não somente o que será fotografado, mas seu entorno. Atualiza a imagem, pensando-a temporalmente. Calcula a ampliação da fotografia com seu próprio corpo. Cria longas exposições para que a fotografia funcione não somente como um clique definitivo, mas como possibilidade de alargamento do tempo, da mudança na paisagem, da alteração da luz. Com o uso do pinhole, Rosa cria uma outra configuração, utilizando-se de lugares de observação, frestas, janelas, bastiões, observatórios para criar imagens em amplas metragens lineares. Assim, recodifica o que antes chamávamos de imagem panorâmica.

 

Lara Viana – Baiana, soteropolitana, mas que exporá pela primeira vez em sua terra natal. Morou em Londres e estudou no Royal College of Art, na capital inglesa. A pintura de Lara Viana observa a tradição como sintoma, como mote a ser citado. Assim, vemos estudos refinados de poses, figuras, paletas que ora encontramos no porcelanato palaciano, ora vivenciamos em pinturas do Rococó. O que era imagem, retrato, torna-se fantasma. Sabemos que “fantasmas” são encarnações da própria ideia nuclear da pintura. Com isso, Lara potencializa com grande originalidade uma experiência imagética, ao mesmo tempo, abstrata e fenomenológica.

 

Josilton Tom – Vencedor em 2012 da XI Bienal do Recôncavo na categoria “Prêmio Aquisição”. Trabalha com esculturas em madeira, usando desde a caixa da feira aos mais nobres altares religiosos e salões da sociedade, a madeira pode criar distintas genealogias. Josilton Tom se mostra interessado em toda a amplitude desta matéria: o cheiro, a nobreza, a viralatice. E, assim, se apropria de madeiras novas, usadas, de demolição ou achadas ao relento. Suas peças trazem efeitos brancusianos, simulando partes do corpo, e esquemas como diagramas. De um simples gesto num arame, Josilton cria linhas, segmentos de reta, nós, encontros, observando extensões que se tridimensionalizam como malhas em desenhos quase biológicos.

 

Vinícius S. A. – A observação da luz é um dos mais recorrentes caminhos que a arte problematizou. Vinícius empenha-se nos exercícios de luz e na seleção de materialidades (terras, poeiras, pedras) para propor situações instalativas. Partindo tanto de fatos religiosos (lágrimas) quanto da violência dos panópticos (câmeras de segurança), Vinícius relaciona objetos de descarte e geringonças. Criam-se máquinas e ações do desejo para se chegar ao núcleo das estruturas, como alguém que se interessa por uma estética interna, subcutânea, epitelial. Realizou a exposição “Lágrimas de São Pedro” que percorreu diversas capitais, incluindo Salvador. Ainda neste mês de maio fará uma viagem para os Estados Unidos para uma exposição.

 

Március Kaoru – Evidencia a potência de um artista dedicado ao fazer. Não aquele que prevê lugares de chegada, repetições. Percebem-se imagens de sua ascendência oriental coadunadas com um ar, um espírito entre os brinquedos populares e os altares orientais, herdados de pai para filho. Em outro sentido, o uso do bambu o possibilita pintar, gravar, decalcar situações como se estivéssemos lidando entre modos milenares e os meros excedentes de uma sociedade pós-industrial.

 

Willyams Martins – Pesquisa as peles da arquitetura. A arquitetura é e será cada vez mais a pele dos lugares. Hoje, tornou-se necessário pensarmos a sustentabilidade, o aproveitamento da luz solar, da água das chuvas. E a arquitetura se faz pele. Willyams pensa, antes, que precisamos preservar a beleza do que está gravado, subversivamente, nos muros da cidade, nos cárceres. Fatos que o conferiram a alcova de “ladrão de grafiti”, já que o artista inventara uma técnica de resinar os muros e retirar as marcas. Pensar o muro e suas inscrições, a pintura como pele, faz de Willyams um artista interessado em preservar a memória, roubando aquilo que já nasce fadado a desaparecer.

 

Fábio Magalhães – A pintura de Fábio Magalhães traz uma sedução evidente: a possibilidade de representação figurativa mais aproximada ao realismo fotográfico. Porém, Fábio subverte esta sedução inicial trazendo relações e referências da história da arte coadunadas com observações sobre práticas cotidianas. Como compreensão de tradições brasileiras, Magalhães funciona como um magarefe, personagem destinado a escarnar animais. Ao mesmo tempo, animais escarnados estão na história da pintura, como o Boi de Rembrandt. As pinturas de Fábio criam, potentemente, distintas filiações. Dos memento mori, Magalhães ironiza a certeza da morte com a sedução de um beijo, mas, antes de tudo, com a perplexidade de um ser perante um lago de narciso.

 

 

Sobre a curadoria

 

Marcelo Campos – Professor Adjunto do Departamento de Teoria e História da Arte do Instituto de Artes da UERJ. Professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Doutor em Artes Visuais pelo PPGAV da Escola de Belas Artes/ UFRJ. Desenvolveu tese de doutorado sobre o conceito de brasilidade na arte contemporânea. Possui textos publicados sobre arte brasileira em periódicos e catálogos nacionais e internacionais. Curador das exposições: Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema das Artes, Dragão do Mar, Fortaleza, 2014. Elisa de Magalhães: Nenhuma Ilha, no Oi Futuro, Ipanema, Rio de Janeiro, 2013; Co-Curadoria junto com Paulo Herkenhoff da XVII UNIFOR Plástica, Fortaleza 2013; Crer em fantasmas, coletiva com Daniel Lannes, Fábio Baroli, Fábio Magalhães, Flávio Araújo, Thiago Martins de Melo, Caixa Cultural, Brasília, 2013; de Trajetórias: arte brasileira na Coleção Fundação Edson Queiroz, Espaço cultural UNIFOR, Fortaleza, 2013.

 

 

Sobre a 3ª Bienal da Bahia

 

Após uma lacuna de 46 anos, tempo decorrido desde o fechamento da 2ª Bienal de Artes Plásticas pelo regime militar, o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), junto com a Secretaria de Cultura do Estado (SECULT-BA), lança a 3ª Bienal da Bahia, que acontecerá entre os dias 29 de maio e 07 de setembro de 2014. Com uma programação que se estende por 100 dias, a  Bienal apresenta ao público exposições, ciclos de cinema, performances, atividades educativas e conversas públicas, envolvendo cerca de 150 artistas e 200 obras espalhadas por  Salvador e outras 9 cidades do interior baiano.

 

 

 

De 28 de maio a 12 de julho.

Hélio Oiticica, o filme

“Hélio Oiticica foi um dos artistas que melhor uniu a reflexão com a criação artística. Suas ideias e proposições, expressas não apenas em textos, mas também em depoimentos e entrevistas, revolucionaram a arte e a cultura, tornando-o um dos mais importantes artistas da segunda metade do século XX. O documentário de César Oiticica Filho, ao utilizar a própria voz do artista como fio narrativo, permite um mergulho único no pensamento, na trajetória e na intimidade de Hélio Oiticica.

 

A extensa pesquisa de imagens faz com que o espectador acompanhe a evolução do artista, o seu início junto ao Grupo Frente, o surgimento do Neoconcretismo, a criação dos Bólides, Penetráveis, Núcleos e Parangolés, o envolvimento com a Tropicália, o período em Nova York, até a volta ao Brasil. É um documento não apenas de um dos maiores artistas que o Brasil já produziu, mas também de um dos períodos de maior efervescência de nossa cultura, o que torna este filme crucial para todos aqueles que querem compreender não apenas a nossa história, mas quem somos agora.

 

Hélio Oiticica é um documentário de 94 minutos, dirigido por César Oiticica Filho e produzido pela Guerrilha Filmes.” (por Sérgio Cohn, da Azougue Editorial)

 

Direção e roteiro: César Oiticica Filho; Pesquisa de imagem: Antonio Venancio; Produção executiva: João Villela, Juliana Carapeba, Felipe Reinheimer e César Oiticica Filho; Direção de Produção e coordenação de finalização: Juliana Carapeba; Direção de fotografia: Felipe Reinheimer; Montagem: Vinicius Nascimento; Consultoria de montagem: Ricardo Miranda; Consultoria biográfica: Roberta Camila Salgado; Edição de som e mixagem: Ricardo Cutz; Produtor musical: Vinicius França; Trilha sonora: Daniel Ayres e Bruno Buarque; Participação especial na trilha: Macalé, Celso Sim e Pepê Machado; Figurino: Julia Ayres; Coordenadora de lançamento: Milla Talarico.

Isidro Blasco no Brasil

23/mai

A SIM galeria, Curitiba, PR, exibe fotos de Isidro Blasco apresentadas por Tatiana Flores. Em seus trabalhos o fotógrafo desconstrói paisagens de cidades conhecidas como Nova Iorque, São Paulo, Sidney, Helsinque e Curitiba.

 

Isidro Blasco: Construção, Reconstrução, Desconstrução

por Tatiana Flores

 

A prática artística de Isidro Blasco desafia qualquer categorização dentro dos parâmetros convencionais. Em diferentes momentos, pode ser considerada como arquitetura, fotografia, ou escultura, e pode ser todas essas coisas simultaneamente ao mesmo tempo não sendo nenhuma delas. Ainda assim, é muito ligada a materiais recorrentes – suportes de madeira, imagens fotográficas – para pertencer à categoria amorfa descrita por Rosalind Krauss como a “condição pós-suporte.” Também nem sempre é confortavelmente categorizada como arte de instalação, particularmente na série de trabalhos baseados em paredes, tais como a série Planets – Planetas (2014) ou os vídeos. A obra do artista não deixa de ser marcada por consistência e coerência, mantendo um diálogo crítico produtivo com ambos os suportes tradicionais e a história da arte. Em vez de defender perspectivas individuais ou narrativas lineares, Blasco desmonta tais visões totalizantes de uma maneira análoga à abordagem teórica conhecida como desconstrução, tipicamente associada com a literatura. Contrariando a idéia de ilusão sugerida pela imagem singular ou de um ambiente tradicionalmente construído, seu trabalho argumenta contra um corpo unitário de conhecimento em favor da revelação da experiência contemporânea enquanto descontínua e fragmentada. Ele o faz, ironicamente, através de uma prática de construção, quer de fotografias compostas de arquitetura exterior e interior em suportes de madeira irregulares e complexos, ou de esculturas arquitetônicas baseadas em fotografias.

 

A desconstrução, desenvolvida enquanto teoria pelo filósofo francês Jacques Derrida, é sucintamente explicada pelo teórico de arte americano Stephen Melville como “uma prática de leitura, uma maneira de entender as coisas antagonisticamente a elas mesmas, ou às suas margens, de modo a mostrar algo sobre como elas são estruturados pelas próprias coisas que agem para excluir de si mesmas e então, mais ou menos sutilmente, para deslocar a estrutura dentro da qual essas exclusões parecem plausíveis ou necessárias.”¹ Vez por outra, essas características aparecem na arte de Blasco, bem como em seus escritos. Na apropriadamente intitulada Deconstructed Laneways – Vielas Desconstruídas (2011), uma obra de arte pública, ele criou uma imagem de construção espelhada de uma interseção em Sydney, Austrália, que, se visto de um ponto específico, faz com que a rua pareça continuar até encontrar a fachada de um prédio próximo. Uma vista de qualquer outro ângulo revela que a construção é uma ilusão. Isto é especialmente verdadeiro quando a imagem composta é vista de lado, o que expõe a marca registrada de Blasco: andaimes de madeira segurando a miragem fotográfica. Esta estrutura às margens desafia o espectador a questionar a distinção entre realidade e aparência. Embora suponha-se que as fotografias sejam um indicativo do real, Blasco mostra que elas são apenas construções que mantém-se a partir de um único ponto fixo. Com o menor movimento, a ilusão desaparece, e a pretensão de “verdade” fotografica é minada por completo. Um efeito similar acontece na instalação Seeing Without Seeing – Ver Sem Ver (2000), que usa a arquitetura para questionar a coerência espacial. Aqui, o artista projetou imagens de dois cantos do espaço, mapeou-os com linhas e recriou o espaço da sala usando madeira compensada pintada de branco para as paredes e teto e cinza para o chão. O resultado final foi tal que a instalação encaixava-se com a sala apenas a partir de um único ângulo. Qualquer outro ponto de vista revelava uma “estrutura deslocada”, empregando a terminologia de Melville, gerando uma experiência visual e espacial confusa.

 

No texto “Quando Acordei” (1996), que corresponde a uma escultura arquitetônica de mesmo título, Blasco descreve seu sonho de uma casa que é completamente incoerente, “uma casa falsa, como aquelas em um set de filmagem.”² Então, inexplicavelmente, uma segunda construção começa a se materializar, e “imagens estáticas a partir de meus próprios olhos, todas colocadas juntas, de alguma forma fazem isso acontecer.

 

Devido a algum fenômeno desconhecido, as paredes da casa de set de filmagem começaram a se quebrar e separar, deixando amplas aberturas para o exterior… Todos esses painéis ao meu redor pareciam seguir uma narrativa seqüencial, saindo da parede como que em um saliência. Mas logo ficou claro que a divisão entre os painéis separados foi quase toda apagada, provavelmente por causa do fenômeno de impressão retinal. Eles estavam misturados, sobrepostos uns aos outros. Tudo parecia agora mais, de algum modo, com “Os Portões do Inferno” de Rodin, onde não se pode ver uma narrativa coerente.” Nas imagens correspondentes, a casa é um amálgama de painéis, um polígono aberto complexo sem teto ou paredes ou chão completos, sem fachada visível, como uma pintura cubista feita em um edifício. Tendo em conta que a casa é o espaço seguro final, fornecendo abrigo e conforto, é compreensível que o sonho do artista (mais como um pesadelo) seja tão desconcertante. A narrativa sequencial sugerida por uma estrutura com quatro paredes, um teto, portas e janelas, dá lugar a desarticulação e incoerência. Traz à vida as palavras de Gayatri Chakravorty Spivak ao descrever a abordagem de Derrida: “uma certa visão do mundo, da consciência, e da linguagem tem sido aceita como a correta e, se as minúcias de tal visão forem examinadas, uma imagem um tanto quanto diferente (que é também uma não-imagem, como veremos) emergirá.”

 

Descrever as obras fragmentadas e basedas em arquitetura de Blasco como “não-imagens” é certamente apto, não só porque elas negam a coerência estrutural da imagem (neste caso, a casa), mas também porque, em sua essência, existe uma crítica da visão monocular da fotografia tradicional e da câmera como uma máquina de fazer fotos que cria mecanicamente perspectivas pontuais. Amarrado à história da pintura ocidental como a busca da ilusão ótica, finalmente alcançada no Renascimento e aperfeiçoada ao longo dos séculos seguintes, tanto a pintura em perspectiva quanto a fotografia convencional transformam um espaço tridimensional em um suporte bidimensional e também oferecem uma visão do mundo como um todo e inteligível. Ao fotografar edifícios e reconstruí-los de acordo com os limites espaciais de fotografia, Blasco demonstra que isso não é verdade. As casas reconstituídas – se elas sequer podem ser chamados assim, já que elas são, de fato, desconstruções – em tais obras como Just Before – Logo Antes (2004), Father’s House – Casa do Pai (1998), e em Quando Acordei, são apenas fragmentos planares de paredes, tetos e pisos, com uma aparência precária. Fazendo-nos questionar as próprias estruturas que nos cercam, não apenas travam uma ataque à fotografia, mas também contra nossa própria percepção visual e espacial, desafiando-nos a aceitar o mundo como indecifrável. A caracterização da perspectiva por Melville lança luz sobre as questões insolúveis colocados pela artista: “Nossos usos comuns da palavra “perspectiva” estão estranhamente divididos: nós a reinvindicamos, por um lado, como aquilo que nos dá o mundo mais ou menos como ele o é, e, por outro, como um nome para aquilo que nos separa um do outro. Você tem a sua perspectiva e eu tenho a minha – e ainda assim a representação de perspectivas tem uma reivindicação sobre a verdade pública tão boa quanto qualquer outra que possamos imaginar. Algo desta divisão certamente informa periodicidade, muitas vezes argumentos estranhamente sem sentido sobre se perspectiva é ‘natural’ ou ‘convencional’ – a moral desses argumentos pode ser somente que a perspectiva se choca com incoerências profundas em nossa interpretação normal dessas palavras, o que seriam então também incoerências profundas em nossa compreensão de como nós encontramos um perante o outro.”4 No seu momento mais provocante, Blasco confronta-nos com este mesmo paradoxo, apontando repetidamente para a ilusão da coerência.

 

Embora o artista postule questões difíceis, seu trabalho também pode ser leve, caprichoso, e bem-humorado. Planets é um caso a ser analisado, uma série de relevos fotográficos em formatos circulares na parede, que retratam vistas das cidades geralmente tiradas dos prédios mais altos. Estes trabalhos encantadores e lúdicos consistem em fotografias de edifícios montadas em painéis de madeira em torno de um núcleo central aberto e irregular. Eles são a antítese de pinturas renascentistas tais como A Cidade Ideal (ca. 1480-1484) de Fra Carnevale e a obra de autoria desconhecida A Cidade Ideal (ca. 1480) da Galeria Nacional da Marche em Urbino, obras conhecidas que fazem uma analogia entre perspectiva pontual e utopia urbana, colocando edifícios de inspiração clássica no ponto de fuga. O centro de Blasco nesta série é, pelo contrário, literalmente o espaço vazio, e como tal, os seus “planetas” não nos apresentam “nenhuma identidade estável, nenhuma origem estável, nenhum fim estável”, correspondente à caracterização do método de Derrida por Spivak.5 Isto não quer dizer que cada uma das cidades representadas na série Planets careça de características únicas; pelo contrário, Alicante exibe pastéis calmantes, Helsinki é uma sinfonia de azuis e São Paulo apresenta retângulos largos, principalmente em cinza, pontuados por manchas vermelhas. Elas são todas visualmente diferentes, e isso não é, então, uma série de obras que argumenta um ponto sobre os efeitos homogeneizadores da globalização. A diversidade arquitetônica, topográfica e climática é o que faz com as obras de Planets tão convincentes como objetos distintos. Embora seja evidente que o formato circular marca estes relevos como não tendo começos nem fins, a falta de identidade estável, em última análise, tem a ver com o seu centro vazio. O prédio de onde foram tiradas estas fotografias foi anulado, e assim sendo o centro, que nas pinturas renascentistas marcou uma base sólida que significa coerência e unidade, aqui é desestabilizado, simbolizando incapacidade de conhecimento. O prazer visual que podemos receber dessas obras – que pode levar-nos a imaginar a nós mesmos como turistas catedráticos flutuando acima de cidades que nunca poderemos conhecer em pessoa – é rebatida pelo reconhecimento da construtividade e materialidade dos próprios objetos.

 

A desconstrução, de acordo com Melville, “surge como um certo compromisso com o fluxo e fluidez… ela divaga, circula, conecta, e desconecta.”6 Essa frase oferece uma descrição apropriada para a forma como Planets opera. Curitiba Planet é incapaz de realizar um círculo completo em torno de si mesma, deixando um espaço aberto que lembra a moldura quebrada no Ovo Linear de Lygia Clark (1958). Considerando que, na obra de Clark, a abertura sinalizava o espaço real derramando para dentro, na de Blasco o efeito é romper com a ilusão do “real” fotográfico. Em vez de unir os edifícios e de uma falsa coerência, nos deparamos com o suporte de madeira. Esta obra também desiste da pretensão do ilusionismo, ao apresentar vários blocos nas cores magenta, azul turquesa, e amarelo, colocados em intervalos aleatórios. Estes fazem lembrar o legado do Neoconcretismo na arte brasileira, gerando uma distinção instigante entre abstração e representação. New York Planet apresenta uma cidade amada e muito fotografada, bem como o lugar de residência do artista por mais de duas décadas. As impressionantes paredes de vidro dos arranha-céus próximos (o ponto de vista é o deck de observação do Rockefeller Center) contrastam com a base de madeira compensada assimétrica visível no centro e nas margens. O céu incrivelmente azul é pontuado por fantásticos desenhinhos, como que uma pixação aérea. Mudando constantemente nossa percepção entre a fotografia e seu suporte, entre arquitetura e arte, a série Planets de Blasco, tal como acontece com o resto de sua obra, envolve seus espectadores tanto esteticamente quanto conceitualmente. Através de meios visuais e espaciais, o artista consegue mudar a prática primariamente textual da desconstrução em direção à compreensão das imagens do mundo e sobre o mundo.

 

 

Sobre Tatiana Flores

 

Tatiana Flores é professora adjunta de História da Arte na Rutgers, Universidade Estadual de New Jersey. Uma especialista em arte moderna e contemporânea, ela publicou uma obra considerável sobre arte latino-americana e também opera como uma curadora independente. Ela é a autora de Vanguardas Revolucionárias do México: Do Estridentismo até ¡30-30! (Yale University Press, 2013)

 

 

Até 31 de maio.

Luiz Braga no Sesc Pinheiros

Chama-se “Retumbante Natureza Humanizada” o recorte inédito na obra do paraense Luiz Braga, a partir de uma pesquisa coordenada pelo curador da exposição, Diógenes Moura, iniciada em 2009. Com trabalhos realizados entre 1976 e 2014, o conjunto de 160 fotografias privilegia grande parte da produção (inédita) do artista realizada em preto e branco. Encerra o percurso da exposição, o vídeo igualmente inédito filmado em Belém e na Ilha de Marajó, “O sem nome e o nada” (2014, 30’), inspirado na obra do fotógrafo, idealizado pelo curador e realizado pelo coletivo paraense “Cêsbixo”.

 

A mostra, que entrará em cartaz no Sesc/Pinheiros, São Paulo, SP, reúne imagens concebidas em Belém e na Ilha de Marajó – Soure, Cachoeira do Arari, Salvaterra, Quilombo do Pau Furado -, territórios onde o fotógrafo vem trabalhando mais constantemente, um pouco afastado de sua Belém pela violência que ronda as capitais brasileiras. “Mas eu quero tratar da alegria e do afeto que resistem em lugares como a Ilha de Marajó que, sem dúvida, é a minha paixão ancestral”, diz o artista.

 

O curador destaca como na obra de Luiz Braga se entrelaçam os contrastes entre a paisagem humana e a paisagem da arquitetura. Segundo ele, nas fotografias da Ilha de Marajó se nota o semblante dos filhos do lugar, cada um deles pode ser homem, mulher, criança, tronco de árvore, ventania, paisagem avassaladora. “O Marajó profundo, o lugar onde as árvores falam, onde famílias inteiras descansam nas cadeiras e até em pequenos sofás, nas portas das casas, diante do luar, como se estivessem no cinema vendo a vida passar em technicolor”, completa Moura.

 

Braga diz que seguiu a sua intuição e se manteve onde nasceu. Talvez por isso, em sua obra, ressalta o curador, o tempo chega largo, vasto, sem pressa, vem com o ritmo das águas, já que o artista foi criado conhecendo apenas duas estações: chuva (o inverno amazônico) e menos chuva e mais sol (o verão); maré seca, maré cheia. “Depois de muito refletir sobre o que fazia, notei que voltava naturalmente aos mesmos lugares e temas, mas que a cada retorno minha fotografia poderia se expandir e se aprofundar, mantendo acesa a inquietude que alimenta a experimentação de novas técnicas e maneiras de fotografar”, diz o artista. “Num caso raríssimo, a fotografia de Braga é o resultado dos seus dias, uma reinvenção do que está (e persiste) ao seu redor, como a sua própria natureza, a natureza do homem amazônico sofisticadamente infindável”, complementa Diógenes Moura.

 

 

 

Sobre o artista

 

Luiz Braga nasceu em 1956, em Belém (Pará), onde vive e trabalha. O seu primeiro contato com a fotografia foi aos 11 anos. Em 1975, montou seu primeiro estúdio para trabalhar com retratos, ao mesmo tempo em que ingressava na Faculdade de Arquitetura, onde se graduou em 1983, embora nunca tenha trabalhado como arquiteto. Até 1981, fotografava principalmente em preto e branco. Suas primeiras exposições (1979 e 1980) eram compostas de cenas de dança, nus, arquitetura e retratos. Após essa fase, descobriu as cores vibrantes da visualidade popular amazônica e, convidado pela Funarte, viajou pela região aprofundando o ensaio que seria exibido sob o título No Olho da Rua (Centro Cultural São Paulo, 1984), considerado o primeiro passo de seu amadurecimento autoral. Em A Margem do Olhar (1985 a 1987) retorna ao preto e branco dos primeiros tempos, retratando com dignidade o caboclo amazônico em seu ambiente. Exibido nacionalmente em 1988, esse ensaio rendeu-lhe o Prêmio Marc Ferrez conferido pelo Instituto Nacional da Fotografia. O encantamento pela cor da sua região e as possibilidades pictóricas extraídas do confronto entre a luz natural e as múltiplas fontes de luz dos barcos, parques e bares populares resultam no ensaio Anos Luz, premiado em 1991 com o “Leopold Godowsky Color Photography Awards” da Boston University e exibido no Museu de Arte de São Paulo (Masp) em 1992. Uma de suas características é o enfoque, que passa ao largo das visões estereotipadas e superficiais sobre a Amazônia. A outra é o domínio da cor, com a qual passou a ser referência na fotografia brasileira contemporânea.

 

Realizou mais de 150 exposições entre individuais e coletivas no Brasil e no exterior, e suas fotografias compõem coleções públicas e privadas importantes, como a do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, do Centro Português de Fotografia, do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro e da Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre outras. Em 2005, comemorou 30 anos de carreira abordando os diversos segmentos de sua obra na mostra Retratos Amazônicos, no MAM/SP, e na exposição Arraial da Luz, a maior de sua carreira, montada ao ar livre num parque de diversões em sua cidade natal, a qual recebeu mais de 35 mil visitantes. Em 2009, foi um dos representantes do Brasil na 53ª Bienal de Veneza.

 

 

 

Sobre o curador

 

Diógenes Moura nasceu na Rua do Lima, em Recife, Pernambuco. Passou a infância entre os quintais, os pés de abiu e a linha do trem no arrabalde de Tejipió. Depois viveu 17 anos em Salvador, na Bahia, no bairro negro da Liberdade, quando a cidade ainda não havia perdido a memória. Vive em São Paulo desde 1989. É escritor, curador de fotografia e editor independente. Entre 1998 e maio de 2013 foi Curador de Fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo onde realizou exposições e reflexões sobre o pensamento fotográfico e possibilitou o reconhecimento do acervo do museu – hoje com cerca de setecentas imagens de fotógrafos brasileiros – como um dos mais importantes da América Latina. Premiado no Brasil e no exterior, só entende fotografia vendo-a como literatura. Em 2009 foi eleito o Melhor Curador de Fotografia do Brasil pelo Sixpix/Fotosite. No ano seguinte recebeu o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) de melhor livro de contos/crônicas com Ficção Interrompida – Uma Caixa de Curtas (Ateliê Editorial). Com o mesmo título foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2011. Acaba de finalizar seu novo livro, Fulana Despedaçou o Verso (Ed.TerraVirgem). Mesmo sem ter nenhuma expectativa em relação ao futuro da humanidade, atualmente trabalha na sua primeira novela, A Placa Mãe.

 

 

 

 

Sobre a equipe Cêsbixo Coletivo

 

 

Cêsbixo Coletivo é um grupo formado em 2010 por Pedro Rodrigues, Bruno Leite, Carol Lisboa e Marise Maués, todos atuantes no âmbito artístico, seja fotografia, vídeo, desenho ou design gráfico. O coletivo tem como objetivo integrar as suas áreas de interesse em busca de um produto que converse com as diferentes formas de linguagem visual. Dedica-se a produzir conteúdo multimídia e atua na cidade de Belém.

 

 

 

De 27 de maio a 03 de agosto.

 

Barceló no Brasil

Um dos mais prestigiados artistas espanhóis, Miquel Barceló, virá ao Brasil, iniciando por São Paulo, para apresentar sua obra recente, além de alguns trabalhos referenciais de sua produção, como o elefante de bronze apoiado pela tromba, que ocupou em 2011 a Union Square, em Nova York.

 

O também pintor da aclamada cúpula da sala de Direitos Humanos da ONU em Genebra, no qual imprimiu o seu fundo do mar (2007), traz para a Pinakotheke São Paulo, que depois seguirá para a do Rio e de Fortaleza, a série de telas brancas (monocromáticas), produzidas em 2013. Somam-se a estas pinturas e ao Elefandret (2007), uma peça em cerâmica de proporções monumental “Animals de Cap Fort’ (2012), com 180 x 110 cm, outros trabalhos em cerâmica e bronze, pinturas da série “Frutas” (2013), além de vídeos e um caderno do artista..

 

Para compreender o processo do artista, montou-se também o seu “Gabinete de curiosidades”, com elementos e objetos pessoais caros à composição de sua obra e que nunca haviam saído de seu ateliê parisiense, portanto, inédito para o público. Na abertura da mostra será lançado ainda um livro da Edições Pinakotheke, que reúne uma entrevista do artista concedida ao crítico Adriano Pedrosa, além de textos do pensador espanhol Enrique Juncosa e imagens da coleção, seguido de cronologia sobre a vida e a obra de Miguel Barceló.

 

Com capacidade de trabalho surpreendente e atuando em múltiplos suportes – pintura, escultura, murais, cerâmica, desenho, ilustrações de livros – Miguel Barceló se divide entre os seus ateliês de Paris, Ivry e o de cerâmica em Palma de Maiorca, sua terra natal. O crítico Enrique Juncosa destaca a capacidade rara de Miguel Barceló em se desdobrar para conceber vários projetos ao mesmo tempo.

 

Dos trabalhos mais recentes e presentes na mostra, o crítico espanhol ressalta a série de pinturas brancas cuja aparência pode aproximá-la da abstração. Juncosa adverte, contudo, que não é o caso, tal como provam os títulos das obras, sempre inspirados nos elementos eleitos pelo artista para a composição da tela. Os círculos remetem a nomes de praças de toros, outras se referem à espuma das ondas do mar, mas que, como em ambos os casos, ilustram o comportamento da matéria e dos pigmentos sedimentados em camadas. “Ação arriscada de um artista solitário, como um toureiro na arena, mas também contemplação hipnótica da natureza e das possibilidades da pintura, o que pouco tem a ver com a abstração monocromática, seja esta formalista ou de exploração do sublime”, completa.

 

Na exposição, os quadros de frutas, sobretudo os tomates partidos contrastam com os brancos pela intensidade cromática. Segundo o crítico, a pintura “Tomate-Mars” (2013), joga com o nome Marte, do planeta vermelho, e a metade do tomate que se vê tem algo de planeta vivo, com um interior que sugere movimento perpétuo, como uma caldeira em ebulição.

 

Se a experiência com a pintura está presente desde o início de sua obra, o interesse pela cerâmica começa em Mali, em 1995, onde também mantinha um ateliê. Desde então, se dedicou a aprender técnicas em Maiorca, França e Itália e a cerâmica tornou-se um dos suportes fundamentais de sua produção, culminando com os espetaculares murais que realizou na Capela de São Pedro no interior da catedral gótica de Palma de Maiorca (2007). Algumas são concebidas a partir de formas de objetos tradicionais, mas em outros casos são verdadeiras esculturas, tanto de formas abstratas como de formas reconhecíveis – alimentos (pão e furtas) e animais. Às vezes há figuras em suas superfícies como é o caso da monumental “Animals de Cap Fort” (2012), que remetem a certas imagens tântricas do budismo tibetano. Algumas cerâmicas, como na obra de Joan Miró, podem servir para realizar as peças em bronze, como “Estatuária equestre” (2014). A presença do bronze na mostra se completa com a famosa escultura “Elefandret” (2007).

 

Desde o início da sua carreira Miguel Barceló produz “cadernos de artista”, referências que recolhe em suas viagens. São dezenas de cadernos muito bem encadernados, com datação precisa, e páginas repletas de elementos naturais: folhas, gravetos, desenhos, terra, pigmentos, pintura, tudo o que reproduz com exatidão a experiência vivida naquele momento. Os primeiros foram organizados por sua mãe e os mais recentes, pela equipe do seu estúdio de Paris. Em 2003, Le Promeneur-Gallimard editou “Carnets d’Afrique”, uma seleção destes cadernos que realizou na África entre 1988 e 2000. Na mostra haverá um exemplar de 42 páginas realizado em maio de 2011 na Ilha La Graciosa, Canárias, Espanha.

 

Complementam a exposição, os filmes: “Mar de Barceló”, especialmente produzido durante a execução da cúpula das nações da ONU, e “Paso Doble”, referência ao processo criativo das cerâmicas.

 

 

Pinakotheke São Paulo / Morumbi

 

Abertura 28 de maio.
De 28 de maio a 12 de julho. de 2014

 

 
Pinakotheke Rio de Janeiro / Botafogo

 

Abertura 23 de setembro.
De 23 de setembro a 30 de outubro.

 

 
Galeria Multiarte / Aldeota / Fortaleza


Abertura 11 de novembro.
De 11 de novembro a 15 de dezembro.

 

Bate papo e arte

21/mai

Nesta sábado, 24 de maio, a artista plástica Celina Portella, receberá a crítica e curadora de arte, Luisa Duarte, e Ana Kiffer, doutora em letras, que estuda temas relacionados ao corpo, para um bate papo, no último dia de sua exposição “Deságua”. Será na Galeria A Gentil Carioca Lá, Lagoa, Rio de Janeiro, RJ. Na exposição “Deságua”, Celina Portella apresenta três situações em vídeo e foto, realizadas entre 2013 e 2014 . Em quadros fixos a artista retrata pessoas em ações incoerentes, ora redundantes, ora contraditórias. O ciclo infinito da água se reproduz no universo das idéias, preciso e repetitivo. A água está sempre presente na série de imagens, tanto como protagonista, meio ou símbolo, e ainda nos loops infinitos dos vídeos e no instante da foto.  Sempre em trânsito, contém, flui e lava. Águas passadas, presentes e futuras.

 

 

Local: A Gentil Carioca Lá

Quando: 24 de maio, sábado, às 17h

Endereço da Galeria: Av. Epitácio Pessoa, 1674 Sala 401 – Lagoa

Sergio Fingermann no MNBA

O artista plástico Sergio Fingermann, nome de projeção internacional, volta a realizar exposição individual no Museu Nacional de Belas Artes, Sala Bernardelli, Cinelândia, Rio de Janeiro, RJ, depois de 7 anos. Exibindo obras que sugerem cenários de sonho por meio de construções espaciais, Sergio Fingermann aborda, – na exposição “Se noite fosse água – Sequências”-, questões da cultura na contemporaneidade.

 

A mostra é composta por dezoito pinturas em grandes formatos e quarenta trabalhos emoldurados sobre papel com intervenções fotográficas, e traz investigações sobre a perspectiva, gravuras, páginas de ilustrações de livros antigos, que se transformam em matéria de trabalho, construindo um pensamento a partir de imagens, oferecendo uma reflexão sobre o fazer artístico e as bases de sua criação, colocando dessa forma uma discussão em torno da própria questão da representação.

 

O resultado desta rica construção visual – na qual o artista se preocupa sempre em  incentivar  a experiência do olhar – poderá ser visto na atual exposição. As obras expostas no MNBA exibe trabalhos rigorosamente inéditos.

 

O nome da exposição, extraído de um verso do poema “Meditações sobre o Tietê” (1945) do escritor Mario de Andrade (um dos principais mentores da Semana de Arte Moderna em 1922), sempre atraiu o artista pelo seu caráter enigmático, pela sua potência sugestiva. Sergio Fingermann o utiliza como um artifício para criar novas relações no jogo das imagens. A leitura cruzada das obras, que fazem referências a diversos momentos culturais, convoca a memória como agente articulador de diferentes momentos da história da representação.

 

A exposição tem curadoria de Laura Abreu e Daniel Barretto (da equipe do MNBA-RJ), e é acompanhada do lançamento do livro de mesmo nome da mostra – uma abordagem dos últimos 15 anos do trabalho do artista -, que reúne ensaios de Ana Magalhães (historiadora, curadora e docente do MAC-USP) e de Laura Abreu (historiadora e curadora do MNBA-RJ). “Se noite fosse água”, ed. BEI, 2013, 244 páginas, reproduz 180 trabalhos e conta ainda com fotos de Cristiano Mascaro ilustrando um texto do próprio artista.

 

Preço do livro: R$ 130,00.

 

 

Entrevista com o artista

 

Qual é a sua preocupação, como artista plástico, em escrever um livro?

 

Os meus livros sempre tiveram a preocupação de deixar um testemunho de onde está fundada a minha experiência artística. Meus textos mostram o pensamento ético de ser artista, e uma reflexão do que é ser artista e fazer arte. Ao escrever e explicitar o meu processo artístico, eu crio laços com o público.

 

Em “Se noite fosse água”, há textos meus, mas também de Ana Magalhães e de Laura Abreu. Convidei-as para participar do livro com o intuito de obter críticas externas ao meu trabalho. Elas traçaram minhas referências e situaram minha produção no contexto histórico e na cena artística brasileira.

 

 

Qual é, em sua opinião, o papel do artista no cenário da arte contemporânea?

 

Acho que temos a obrigação de falar ao público em que bases estamos trabalhando. Quanto mais o artista é generoso em oferecer ao público as suas referências e seu processo de trabalho, ele fornece mais acessibilidade à sua própria obra. Meu trabalho, por exemplo, sempre dialoga com a história da arte. Nessa série mais recente, o diálogo é diretamente com o cubismo, e os textos do meu livro verbalizam e explicam o porquê de eu ter escolhido essa vanguarda para ser a minha referência.

 

Além disso, o artista não deve ter como seu principal objetivo o mercado, mas a excelência do fazer artístico. O artista deve ter um compromisso direto com o extraordinário, o incomum. Ele deve produzir para o outro uma nova maneira de ver as coisas, de pensar.

 

 

De 22 de maio até 17 de agosto.

Vik Muniz no Santander Cultural

19/mai

Um dos artistas brasileiros de maior destaque no mercado e nos museus internacionais, Vik Muniz apresenta pela primeira vez em Porto Alegre, RS, no Santander Cultural, Centro Histórico, exposição individual, destacando colagens e fotografias. Também será exibido o documentário “Lixo Extraordinário”, que concorreu ao Oscar em sua categoria em 2011 e acompanha o trabalho que o artista realizou com catadores de lixo reciclável no maior aterro da América Latina, em Jardim Gramacho, no Rio. A curadoria é de Lígia Canongia.

 

A obra de Vik Muniz questiona e tensiona os limites da representação. Apropriando-se de matérias-primas como algodão, açúcar, chocolate, e até lixo, o artista meticulosamente compõe imagens icônicas e lhes repropõe significações. O objeto final de sua produção mais conhecida atualmente é a fotografia, mas sua obra já transitou pelo tridimensional, pelo desenho e até pela escultura.

 

 

A partir de 20 de maio.

Instituto Tomie Ohtake apresenta Yayoi Kusama

A exposição “Obsessão infinita”, de Yayoi Kusama, chega a São Paulo, depois de passar pelo Rio e Brasília, acrescida de duas obras especialmente trazidas para a exposição no Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros. São grandes esculturas das séries “Accumulations”: “Sem título”, 1962-1963 e “Desire for Death”- “Desejo de Morte”, 1975-1976. “Sem título” – que foi destaque na retrospectiva de Kusama na Tate Modern, em 2011/12 – é composta por dez pares de sapatos femininos, de salto alto, repletos de formas fálicas feitas de tecido estofado, que fizeram sua primeira aparição na série de esculturas “Sex Obsession” da década de 1960. Já em “Desejo de Morte”, agrupamentos de apêndices, que nada mais são que formas excêntricas em tecido pintadas de prateado, emergem de panelas comuns e conchas de cozinha. Em ambas, objetos do cotidiano tornam-se palco para a projeção de obsessões particulares da artista, à medida que a repetição compulsiva do elemento tecido assume a aparência de um crescimento incontrolável, similar ao dos vegetais.

 

A exposição é a primeira apresentada no País que expressa uma pesquisa profunda do trabalho de uma das artistas mais originais e inventivas do pós-guerra. Produzida, em sua edição brasileira e latino-america, pelo Instituto Tomie Ohtake, em colaboração com o estúdio da artista, a mostra tem curadoria de Philip Larratt-Smith e de Frances Morris (curadora da retrospectiva da Kusama na Tate Modern de Londres). “Obsessão Infinita” oferece um panorama do trabalho da artista japonesa viva mais proeminente, por meio de aproximadamente 100 obras que cobrem o período de 1949 a 2012, entre as quais pinturas, trabalhos em papel, esculturas, vídeos, apresentação de slides e instalações, entre elas a famosa “Dots Obsession”.

 

“Obsessão infinita” traça a trajetória de Yayoi Kusama do privado ao público, da pintura à performance, do ateliê às ruas. A artista nasceu na cidade de Matsumoto, Japão, em 1929. Começou a realizar seus trabalhos poéticos e semi-abstratos em papel nos anos 1940, antes de iniciar sua celebrada  série “Infinity Net” (Rede Infinita), no final dos anos 1950 e no início dos 1960. Essas pinturas originais são caracterizadas pela repetição obsessiva de pequenos arcos pintados, aglutinados em padrões rítmicos maiores. Sua mudança para New York, em 1957, foi um divisor de águas para a artista. Foi nessa época que entrou em contato com Donald Judd, Andy Warhol, Claes Oldenberg e Joseph Cornell. Sua prática de pintura abriu caminho para esculturas delicadas, conhecidas como “Accumulations” (Acumulações) e, em seguida, para performances e happenings que se tornaram selos da subcultura marginal e renderam, para a artista, notoriedade e a atenção das principais correntes críticas de então.

 

Em 1973 Kusama retornou ao Japão e, desde 1977, vive voluntariamente em uma instituição psiquiátrica. O caráter psicológico singular e pronunciado de seu trabalho sempre foi combinado com uma generosa dose de reinvenção e inovação formal, o que lhe permite dividir sua visão única com um público mais amplo, através do espaço infinitamente espelhado e da repetição obsessiva de pontos que caracteriza sua obra. Em seus trabalhos mais recentes, a artista renovou o contato com seus instintos mais radicais em instalações imersivas e colaborativas – peças que fizeram dela, com justiça, a artista viva mais celebrada do Japão.

 

 

Até 27 de julho.