Kilian Glasner na galeria Laura Marsiaj

13/mar

 

O estilo promissor e intrigante da obra de Kilian Glasner, um dos nomes mais promissores da nova safra de artistas plásticos pernambucanos, chega ao Rio de Janeiro através da exposição individual denominada “Obscura” em cartaz na Galeria Laura Marsiaj, Ipanema. Nesta primeira exposição individual no Rio de Janeiro, o artista, que já expôs na Europa com obras em importantes instituições como a Calouste Gulbenkian de Lisboa, 2010, apresenta dez desenhos que marcam uma nova fase em sua trajetória, à começar pelo material escolhido. Desta vez Kilian utiliza o nanquim preto para cobrir quase todo o papel, revelando cuidadosamente pequenos pontos de luz que formam desenhos impactantes.

 

Em “Obscura”, Kilian Glasner propõe uma reflexão filosófica investigando a relação do homem com a luz, capturando a presença da vida na luz de cada imagem. Uma preocupação constante do artista é manter em suas obras um canal de comunicação com o público. Ele procura deixar claro seus objetivos, com o intuito de “tentar entrar numa consciência coletiva”, dosando o subjetivismo em nome de objetivos didáticos.

 

Sobre o artista

 

Kilian Glasner nasceu em 1977 na cidade de Recife, PE. Sua obra foi premiada no 39º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, 1999, quando o artista tinha apenas 22 anos. Realizou seus estudos de graduação e mestrado na École Nacionale Superieure de Beaux-Arts, em Paris, onde morou entre 2000 e 2007. Em 2009 foi contemplado pelo Programa Rumos Artes Visuais no Instituto Itaú Cultural e participou de mostras em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Branco e Brasília. No mesmo ano realizou mostra individual no Instituto Cultural Santander, em Recife. Em 2010 realizou a obra “O Brilhante Futuro da Cana-de-Açúcar”, na Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa. Em 2011 participou do programa “About Change the World Bank”, em Washington, além de mostra individual na galeria Moura Marsiaj, São Paulo. Em 2012 realizou individual na galeria Vitrine da Paulista, com projeto premiado pelo Instituto Caixa Cultural São Paulo. O artista mantém ateliê em Berlim e na Ilha de Itamaracá.

 

Até 06 de abril.

Denis Cosac na Tramas

Em exibição na Tramas Galeria de Arte, Shopping Cassino Atlântico, Rio de Janeiro, RJ, novos trabalhos do artista visual Denis Cosac, em cujo currículo consta a Faculdade de Arquitetura. No meio do caminho, resolveu mudar a direção e seguir pela estrada das artes plásticas. O que o fez mudar de ideia foi pensar que ele queria mais e além, tanto que hoje, além de ter se firmado no mercado de arte contemporânea, ainda trabalha como produtor musical. Sua arte já estampou paredes do Carroussel du Louvre, através do projeto Salon de la Société Nationale des Beaux-Arts, em 2011, onde ficou entre os 15 brasileiros selecionados. Denis destaca-se pela força da simplicidade de seu traço preto no branco, produzindo desenhos gráficos sobre tela. Apresenta sua arte através de estudos desenvolvidos utilizando croquis e perspectivas com traços humanizados, e isso veio da inspiração na arquitetura. Em sua trajetória estão uma série de coletivas como o 5º Salon D’Art Contemporain, Palais de Beaulieu, Lausanne, Suíça; Galeria Nádor, Budapeste, Hungria.; Brazilian Contemporary Art, Ward–Nasse Gallery, N.York, EUA; Affordable Art Fair, Los Angeles, EUA; “Re-Toques” –  Galeria Entrecores, SP, entre outras. Na atual exposição da Tramas, Denis exibe 13 trabalhos, entre eles uma instalação, onde dentro das características de sua trajetória, ainda vai agregar a sua experiência com a música. A fila de pessoas representa um sample, ou seja, uma amostra de áudio, e o público vai se deparar com telas relacionadas à objetos musicais, como o teclado. A exposição contará com instrumentos espalhados, como guitarra, além de cabos e plugs compondo o cenário. A mão solta do artista, aperfeiçoada através da arquitetura, dará ênfase à perspectiva e movimento. Tudo reflete a personalidade e way of life de Denis.

 

Segundo o crítico Felipe Scovino há algo veloz e intransigente, sutil e complexo nos desenhos de Denis Cosac. “Suas representações são silenciosas mas nunca disciplinadas, há uma relativa ambiguidade entre um traço ligeiro e persistente e a ideia de paisagem, e é nessa apreensão que percebemos a qualidade da sua obra, ou seja, sua principal vocação ao ser fabricada é dirigir o olhar e percepção justamente para o que ocorre no mundo”, completa Felipe.

 

As formas sem rosto mostradas pelo artista sugerem uma impossibilidade de se identificar nominalmente as figuras e isso nos encaminha rapidamente para uma zona em que percebemos que o outro não é tão distante de nós. As obras de Denis Cosac posicionam o desenho dentro de um repertório contemporâneo que o coloca com uma velocidade e um arrojo que são particularmente difíceis de serem conciliados. O artista de certa forma aponta um dado utópico: nesse descomprometimento de uma paisagem alegre e fervilhante (cujas menções a música ou a um ambiente sonoro é reforçado invariavelmente em sua obra), a imagem de uma massa homogênea não faz com que percamos o significado de nossas individualidades, mas pelo contrário, reforça uma natureza política solidária e utópica do indivíduo.

 

De 14 de março a 13 de abril.

Marta Jourdan na Laura Alvim

05/mar

A Galeria Laura Alvim, Ipanema, Rio de janeiro, RJ, inaugura a maior exposição da carreira da carioca Marta Jourdan, com esculturas e um filme, feitos entre 2008 e 2012. A artista apresenta esculturas cinéticas que dão forma a experiências sutis, como condensações, fusões e evaporações, para levar o espectador a perceber o acontecimento, às vezes, desprezível.

Na Laura Alvim, ela propõe um trajeto de situações ao visitante, começando por “Zona de lançamento”: uma pequena bomba envia água para a cabeça de um retroprojetor tradicional, modificado pela artista. Uma válvula acoplada ao aparelho faz pingar o líquido sobre a lente do retroprojetor, que agiganta e projeta as gotas nas paredes  ininterruptamente.

 

Na maior sala da exposição, estará o filme “Súbita matéria”, em que, com uma câmera de altíssima velocidade que registra até mil quadros por segundo, a artista filma a poesia das explosões. A captura mostra os movimentos no milésimo de segundo, revelando a delicadeza das partículas de uma explosão, a magia da água na luz,  a força de um jato que surpreende uma mulher pelas costas. Marta usou dinamites, canhão de ar e 30 mil litros de água para compor as cenas.

 

Em “InSólidos”, um dispositivo eletrônico aciona um ferro de solda que derrete barras de estanho. O estanho derretido pinga em um copo com água formando gotas sólidas.

 

No trabalho intitulado “Óleo”, a artista usa um recipiente com óleo, que espelha o ambiente. Ao se acionar um motor, o cilindro de alumínio gira em alta velocidade e desfaz a imagem refletida sobre o óleo, do ambiente e/ou do público. Quando o motor para, a imagem se recompõe. A operação dura 23 segundos.

 

“Líquidos perfeitos” é um conjunto de 11 esculturas, em que gotas d’água de recipientes de vidro pingam sobre chapas quentes de ferros industriais de passar roupa. Ao tocar a placa de 100º C, as gotas evaporam formando pequenas nuvens e produzindo um som de tzzzzziiii. Os ferros são instalados sobre bancos de madeira de diversas alturas.

 

No texto do folder, o crítico Fernando Cocchiarale diz que “Marta não quer dar forma permanente à matéria sólida. Ela cria, inversamente, máquinas voltadas não só para a alteração de estados físicos da matéria, sobretudo aqueles da transformação da solidez (condição permanente da matéria escultórica), em líquido (InSólidos) e deste, em gasoso (Líquidos perfeitos), como também para a alternância de movimento e repouso (Óleo).”

 

Sobre a artista

 

Marta Jourdan, nasceu no Rio de Janeiro, em 1972. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Graduada em Teatro pela Escola de Artes de Laranjeiras, RJ, em História pela PUC-Rio, a artista completou seus estudos em Cinema na Escola Jacques Le Coq, em Paris, onde desenvolveu técnicas de construção de objetos cênicos. Neste período trabalhou no acervo do Centro Georges Pompidou, Paris. Suas principais exposições individuais foram na Galeria Artur Fidalgo, RJ, 2012; Mercedes Viegas Arte Contemporânea, RJ, 2008 e na Fundação Eva Klabin, RJ, “Projeto Respiração”, 2007.

 

Entre as coletivas das quais participou estão “Super 8″, Christopher Grimes Gallery, Los Angeles, 2011; “Nova Escultura Brasileira”, Caixa Cultural, RJ, 2011; “Projeto Coleções Instituto Inhotim”, BH, MG, 2010; Projeto “2 em 1” Cavalariças do Parque Laje, RJ, 2009; Instituto Goethe de Nova York, 2008; Festival Multiplicidade, Sesc Pompéia, SP, 2008; Jeu de Paume, Paris, 2007; Gandy Gallery, Bratislava, Eslováquia, 2007 e Kunstverein Hamburgo, Alemanha, 2001.

 

A curadoria da programação da Galeria Laura Alvim é do crítico carioca Fernando Cocchiarale, que se despede com a exposição de Marta Jourdan, depois de dois anos.

 

Até 28 de abril

Rodrigo Kassab explora limites

A Galeria LUME, Itaim Bibi, São Paulo, SP, inaugura sua programação de exposições de 2013 com “Priva-cidade, Publi-cité”, mostra individual de Rodrigo Kassab, na qual são exibidas pela primeira vez todas as fotografias da série que dá nome à mostra.

 

Esse conjunto de fotografias é composto por imagens de linhas paralelas que delineiam fachadas de prédios e janelas, que são o cerne dessas fotografias. Em “Priva-cidade, Publi-cité”, o artista faz uma investigação dos limites e das relações entre os espaços públicos e os privados. “Percebi que este limite estava muito presente em cortinas e janelas, e, ao fotografá-las, poderia colocar o espectador entre esses dois espaços, como um voyeur, mas sem o elemento fetiche do voyeurismo, que é o medo de ser percebido”, explica Rodrigo.

 

O que se vê nessas fotografias são fragmentos de histórias, que, embora pessoais, estão à vista de quem passa diante dessas janelas. “A eterna pausa da fotografia nos dá segurança e nos permite a reflexão. Se pararmos para pensar, esse jogo entre público e privado vai acompanhar a foto onde quer que ela esteja”, diz ainda o artista.

 

Em sua pesquisa conceitual, Rodrigo Kassab escolhe um ambiente e caminha a esmo por ele até se deparar com elementos que servem como resposta a suas indagações. A série foi iniciada em Paris, daí o motivo para uma das palavras do título estar em francês. “Se essas imagens fossem estar situadas em algum lugar, esse lugar seria o espaço que há entre a privacidade e a publicidade, que parece imenso, mas na verdade é menor que o traço que separa o titulo”, reflete o fotógrafo.

 

Com influência do construtivismo, grande inspiração para “Priva-cidade, Publi-cité” é a arquitetura, analisada sob o espectro de reflexo humano e interação social, além do fator efemeridade, visto que as construções fotografadas para a série podem deixar de existir em algum momento, dando lugar a novas histórias, compartilhadas com o mundo, acidentalmente ou não, através das janelas. A curadoria é de Paulo Kassab Jr e a coordenação de Felipe Hegg.

 

Formado em Cinema e Fotografia, Rodrigo Kassab trabalha como diretor de cinema, diretor de fotografia e fotógrafo. Além das artes visuais, o artista se interessa principalmente pela arquitetura e música, artes que busca retratar em suas imagens. Morou em Paris de 2008 a 2011.

 

Até 25 de março

 

No IMS – Rio

28/fev

Luiza Baldan

O Instituto Moreira Salles, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “Lugar nenhum”, com 56 obras, entre pinturas e fotografias, produzidas por oito artistas contemporâneos brasileiros: Ana Prata, Celina Yamauchi, Lina Kim, Luiza Baldan, Marina Rheingantz, Rodrigo Andrade, Rubens Mano e Sofia Borges. A exposição tem curadoria do crítico de arte Lorenzo Mammì e da coordenadora de artes visuais do IMS, Heloisa Espada. No dia da abertura, às 17h, o IMS realiza uma mesa-redonda com os curadores e Sérgio Bruno Martins, crítico de arte e doutor em história da arte pela University College London.

Para compor a mostra, os curadores partiram da constatação de que um número significativo de fotógrafos e pintores contemporâneos brasileiros se interessam por assuntos comuns: lugares quase sempre vazios e anônimos, objetos e situações triviais. Por isso, o título da exposição está diretamente ligado ao conceito de terrain vague (terreno vago) – cunhado pelo arquiteto catalão Ignasi de Solá-Morales –, que são espaços aparentemente esquecidos, vazios, que no presente evidenciam um resquício do passado.

 

“Lugar nenhum” reúne artistas com percursos e referências distintas que, postos lado a lado, sugerem um sentido comum. Os três pintores que participantes – Marina Rheingantz, Ana Prata e Rodrigo Andrade – trabalham a partir de imagens fotográficas retiradas de diversas fontes. Embora a fotografia seja para eles uma potente fonte de ideias, a técnica detona um processo criativo que visa a desafios próprios à pintura. Os fotógrafos, por sua vez, cada um a seu modo, demonstram a mesma liberdade do pintor para interferir na cena registrada, seja modificando o lugar fisicamente, como faz Rubens Mano, seja por manipulações digitais, como fazem Lina Kim, Celina Yamauchi e, em alguns trabalhos, Sofia Borges.

 

Sobre as obras e os artistas

 

Lina Kim: as obras expostas fazem parte da série “Rooms”, 2003-2006, um de seus únicos trabalhos exclusivamente fotográficos. São três imagens de instalações – hoje abandonadas  – do Exército Soviético, na antiga Alemanha Oriental.

 

Luiza Baldan: serão exibidas fotografias das séries “Lagos”, 2004-2007, “De murunduns e fronteiras”, 2010, “Insulares”, 2010, “Pinturinhas”, 2009-2012, “A uma casa de distância da minha”, 2012 e “Diário urbano’, 2004-2012.

 

Rubens Mano apresenta dois dípticos, um deles é “Entre”, que retrata uma construção abandonada já prestes a ser reabsorvida pelo mato. Há em “Lugar nenhum” mais quatro imagens de sua autoria, entre elas “Construção da paisagem”, 2010, que deriva de uma intervenção feita no Museu de Belas Artes de Córdoba, Espanha.

 

Celina Yamauchi adota a fotografia em branco e preto como tema, mais do que como meio. Serão apresentadas 12 imagens produzidas entre os anos de 2011 e 2012, todas com planos muito fechados, com a câmera apontada para o chão para um canto ou para uma parede. A artista fotografa com câmera digital e, posteriormente, elimina as cores da imagem. O resultado são cenas de um colorido tênue e delicado. São as imagens mais intimistas da exposição.

 

Sofia Borges fotografa objetos e lugares, mas também reproduz fotografias de família, imagens de livros, painéis explicativos de museus científicos. Ela apresenta imagens de diferentes naturezas lado a lado, confundindo suas origens e usos. Seu trabalho investiga e questiona a fotografia como representação da realidade.

 

Ana Prata: a artista não pinta as coisas, mas as imagens das coisas: “Sete Lagoas”, 2012, é um cartão postal, “Grande circo”, 2011, é uma transmissão televisiva, “Rua”, 2012, se parece com uma foto tirada de um celular. Seu processo criativo, rápido e diversificado, aproxima sua pintura da versatilidade própria da fotografia.

 

Rodrigo Andrade: o artista trabalha a partir de fotografias retiradas da internet, de mídias impressas ou de seu arquivo pessoal. Em uma das telas apresentadas, ele faz referência a uma fotografia do japonês Daido Moriyama. Rodrigo Andrade transpõe imagens fotográficas para a tela por meio de uma pintura sofisticada e diversa para, em seguida, cobrir parte dessa pintura com camadas espessas de tinta à óleo.

 

Marina Rheingantz: para Lorenzo Mammì, “se há uma pintora do terrain vague, é ela. (…) Os seis óleos sobre tela apresentados nessa exposição não apenas representam terrenos baldios, lugares abandonados em que a história continua correndo, ainda que num ritmo mais lento: eles são um desses lugares, se comportam como eles”.

 

De 02 de março a 02 de junho.

Eduardo Berliner no CCBB/Rio

26/fev

O artista Eduardo Berliner é o único brasileiro com obra na Saatchi Collection de Londres, participou da Bienal Internacional de São Paulo de 2012 e esta é a maior individuai de sua carreira. A Sala A Contemporânea do CCBB, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe a maior exposição individual de Eduardo Berliner. São cerca de 30 trabalhos figurativos de dimensões variadas, desenhos e aquarelas, pinturas a óleo sobre tela, duas esculturas inéditas e dois vídeos que, pela primeira vez, ele inclui em uma mostra. Segundo Berliner, seu processo escultórico segue o mesmo raciocínio da pintura. Ele sempre trabalhou com esculturas. Algumas vezes, constrói objetos a serviço da pintura. “Faço objetos, aquarelas, desenhos e a pintura é a coluna vertebral. Um alimenta o outro” diz o artista. Um dos vídeos inéditos tem bonecos feitos de massinha como personagens.

 

A construção das cenas é baseada na observação direta, em memórias e situações imaginadas. Paisagem, arquitetura, resíduos da cultura e relações humanas são reconfigurados através de narrativas pessoais e pelo próprio processo de pintura. Quando está fora de seu ateliê, Berliner  desenha e faz anotações em cadernos, usa aquarela e registros fotográficos. Suas obras costumam mostrar narrativas que causam estranhamento, o que parece tangenciar o “surrealismo”. O artista, porém, não considera o termo adequado à sua produção. O desenho ou a pintura pode surgir de algo observado ou representar situações híbridas, afetadas por imagens mentais, de coisas mundanas.

 

A palavra do artista

 

Às vezes imagino cenas complexas e tento materializá-las parcialmente no mundo, articulando objetos, filmando a mim mesmo ou pedindo para alguém posar. Fotografo a cena e faço alguns desenhos para refletir sobre as possibilidades que aquela imagem me oferece como ponto de partida para uma pintura.  Ao tentar materializar essas imagens mentais, o acaso é incorporado ao processo narrativo. A medida que avanço na fatura da pintura, minhas ações passam a ser guiadas pela necessidade do quadro e meu raciocínio torna-se mais abstrato.

 

Associo o aspecto aparentemente fantástico do trabalho a uma tentativa de criar uma analogia visual próxima do arrebatamento que sinto diante do  que minha cabeça deforma e reordena minhas memórias e sua complexidade sensorial, ou como, às vezes, ao observar algo aparentemente banal, meus pensamentos são transportados para lugares estranhos sem que eu saiba o porquê.

 

Em meu trabalho, sou obrigado a confrontar com minhas ansiedades, medos e traumas. Este confronto converte adversidade em potência.  Os animais sempre fizeram parte da minha obra desde meu primeiro trabalho, pois ocupam papel importante em minha memória da infância. Eles não são o assunto, mas parte do meu vocabulário. Às vezes não consigo avaliar se lembro de fato do animal ou se a memória veio de uma foto antiga de um álbum de família, se um coelho era real ou da estampa em um pijama. Creio que, em meu trabalho, situações que envolvem figura humana e animal seja uma tentativa de construir metáforas sobre nossa vulnerabilidade.

 

Sobre o artista

 

Eduardo Berliner nasceu, em 1978, no RJ, onde vive e trabalha. Sua formação em arte foi com Charles Watson, com quem estudou desenho e participou de seu grupo  de estudos. Paralelamente, graduou-se em Desenho Industrial e Comunicação Visual pela PUC, Rio, em 2000, e fez Mestrado em Tipografia na Universidade de Reading, Inglaterra, concluído em 2003. Berliner tem obras na Coleção Gilberto Chateaubriand/ MAM Rio; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Coleção Banco Itaú S.A., São Paulo; Coleção Saatchi, Inglaterra; Coleção Cisneros, Nova York-Caracas; Bob and Renee Drake Collection, Wassenaar, Holanda, entre outras. Esta é a quarta individual do artista. Em 2006 e 2012, participou da Bienal Internacional de São Paulo, foi finalista do “Prêmio Pipa 2011″ e foi agraciado com o “Prêmio CNI-SES/ Marcantonio Vilaça”, 2010. Sua obra fez parte de salões e coletivas em algumas capitais brasileiras e em Paris.

 

Até 31 de março.

Agnieszka Kurant no Brasil

22/fev

A galeria Fortes Vilaça, Vila madalena, São Paulo, SP, exibe a primeira exposição individual no Brasil, da artista polonesa Agnieszka Kurant apresentando uma série de trabalhos que tem como fio condutor o seu interesse por elementos fugazes ou imperceptíveis. Estes elementos norteiam as obras que tem suportes diversos e fazem referências à historia, à ciência e à literatura.

 

A idéia de um “capital fantasma” (Phantom Capital), que dá título à exposição, permeia todos os trabalhos na mostra. Este conceito se refere a uma troca de valores simbólicos, de forças intangíveis ou invisíveis que muitas vezes influenciam nossa sociedade sem que necessariamente tenhamos consciência disto.

 

Na obra “Phantom Library”, a artista produz livros imaginários, títulos que nunca foram escritos, lidos ou publicados mas que aparecem em livros reais de autores como Stanislaw Lem, Roberto Bolaño e Jorge Luis Borges, entre outros. Kurant os apresenta como objetos esculturais para os quais ela comprou números de ISBN e adquiriu códigos de barra dando-lhes assim um status no mundo material.

 

Já “MacGuffin” é uma escultura em forma de tapete que se move misteriosamente. O tapete é uma reprodução de um dos tapetes na sala da conferência de Yalta, onde os líderes mundiais definiram a divisão do mundo no pós guerra. O título da obra é um termo de técnica narrativa que define um objeto ou pessoa cuja importância não se define na trama, de certa forma como um fantasma.

 

Em88,2 mhz”, – o título da obra muda de acordo com a frequência de rádio utilizada na exposição -, um toca-fitas com um rádio transmissor, emite o som de pausas silenciosas extraídas de diferentes discursos políticos, intelectuais ou econômicos. O som é captado por uma antena que o retransmite para um rádio em um terceiro espaço da exposição. A fita com a compilação de silêncios é, por sua vez, a concretização de um trabalho fictício existente no conto de Heinrich Boll “Murke’s collected Silences” , de 1955.

 

A exposição também inclui um mapa-mundi retratando ilhas inexistentes, inventadas por exploradores do passado, impresso com tinta termo sensível que faz a imagem desaparecer conforme o calor. E “Uncertainty Principle”, uma escultura em forma de uma ilha que “magicamente” levita no ar, entre outros trabalhos na mostra, aos poucos revela o universo do desconhecido que alimenta a obra conceitual de Agnieszka.

 

Sobre a artista

 

Agnieszka Kurant nasceu em 1978 na Polônia e vive e trabalha em Nova York. Representou seu país natal na Bienal de Veneza em 2010 com um trabalho em colaboração com a arquiteta Aleksandra Wasilkowska. Já participou de exposições individuais e coletivas tais como, CoCA, Torun, PL, 2012; Witte de With, Rotterdam, 2011; Performa Biennial, Nova York, 2009; Athens Biennale, Greece, 2009; Frieze Projects, London 2008, Moscow Biennale, 2007; Tate Modern, London, 2006; Mamco, Geneva, Italy, 2006 and Palais de Tokyo, Paris, 2004; entre outras. Foi artista residente na Location One, Nova York, 2011-2012; Paul Klee Center (Sommerakademie), Bern, 2009; ISCP, New York 2005; e Palais de Tokyo, Paris, 2004. Foi finalista, em 2009, do International Henkel Art Award, MUMOK, Vienna. Sua monografia “Unknown Unknown” foi publicada pela editora Sternberg Press,  2008.

 

Até 23 de março.

Exposição de Verão: 10 anos

19/fev

A Exposição de Verão da Galeria Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, chega à 10ª edição, em clima de celebração. O perfil desbravador, com o olhar voltado para o futuro da arte contemporânea brasileira, ganha companhia de um sentimento de reconhecimento. Muitos nomes que passaram pela mostra na última década ganharam projeção no país e no exterior.

 

A curadoria é da crítica de arte Luisa Duarte, contemporânea dessa geração e que acompanhou atentamente seu crescimento. A jovem crítica, em seu diálogo constante com nomes da chamada “Geração 2000″,  como Cinthia Marcelle, Marcius Galan, Laércio Redondo, Pedro Motta, Sara Ramo e Marilá Dardot – que faz a sua estreia – permitiu um trabalho minucioso na escolha das obras.

 

A força motriz do projeto, no entanto, não será deixada de lado. Ao contrário. O processo de busca por novos olhares se materializa em trabalhos de expoentes como Adriano Costa, Clara Ianni, Jimson Vilela e Regina Parra. Nas mãos de Luisa, a missão de integrar isso tudo.

 

“A mão da curadoria é leve, pois já havia um conceito estabelecido. A ideia é promover um diálogo entre esses artistas que alçaram vôos altos e os que começam a trilhar esse caminho. É uma exposição que sempre aponta para o futuro, mas nesta edição vem também atestar o sucesso da iniciativa. Mostrar o passado para reforçar o sucesso do presente, olhando para o futuro”, diz Luisa.

 

Os 10 artistas estão divididos em três categorias: “Representados pela galeria que já fizeram verão”; “Convidados que já fizeram verão, mas não fazem parte do elenco”; e “Artistas novos”. O espírito de diversidade, que já é marca do projeto, estará novamente presente, com trabalhos em técnica de pintura, colagem, fotografias, vídeos e instalações.

 

Uma quarta categoria acabou sendo criada para fazer uma “correção histórica”, como define Juliana Cintra, coordenadora do projeto. Tudo para receber a mineira Marilá Dardot, que participará com os trabalhos “O melhor continua sendo o maior” e “Juventude e Beleza”, obra de 2012, pintura sobre vidro, além de “La Luna Blanda”, também e 2012, tríptico em fotografia, em conjunto com Sara Ramo.

 

Até 22 de março.

Márcia X no MAM-Rio

14/fev

O MAM-Rio, Praia do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Márcia X – Arquivo X”, com cerca de 60 obras da artista emblemática na história da arte brasileira, precursora, visionária e polêmica, que nasceu em 1959 e faleceu em 2005. Com curadoria de Beatriz Lemos, será apresentado um amplo panorama da produção da artista, com trabalhos produzidos entre 1980 e 2005. São instalações, objetos, fotogramas, gravuras, desenhos, registros das performances, documentos em papel – cartas, estudos, relatos escritos à mão, croquis, projetos para trabalhos –, além do acervo fotográfico e de imagens em movimento em diferentes mídias.

 

Este projeto foi contemplado pelo “Prêmio Procultura de Estímulo às Artes Visuais”, Funarte/MinC, e teve inicio em 2010 com a catalogação do acervo da artista. Ao final da mostra, todos os trabalhos serão doados ao Museu. O projeto inclui, ainda, o lançamento de um livro, um inventário completo das obras da artista, com textos de Beatriz Lemos, Luiz Camillo Osorio, Marcelo Campos, Alex Hamburger e Alexandre Sá, além de todos os textos escritos até hoje sobre a artista. Com design de João Modé, o livro terá cerca de 300 páginas e será acompanhado de um DVD com vídeos sobre a artista.

 

A exposição abrange cinco instalações, 11 fotogramas, 17 desenhos em pastel e caneta, uma pintura em guache, dez objetos e esculturas, quatro vídeos, além do vestuário das performances e todo o arquivo documental da artista. “Arquivo X tem como roteiro o arquivo de documentos de Márcia X – desenhos, anotações, referências para trabalhos, fotografias, recortes de jornais, pré-organizado pela artista ao longo de sua vida, e tendo em vista cada trabalho projetado. Neste processo de pesquisa para maturação da obra, Márcia deixa pistas de suas obsessões, dedicação, foco, método, linha e coerência de pensamento visual ou conceitual, entre períodos e assuntos abordados. E é a partir deste arquivo de memórias que suas obras brotam pelo espaço expositivo”, explica a curadora Beatriz Lemos.

 

A cenografia da exposição foi criada com o objetivo de reproduzir o ateliê da artista, no Catete. Haverá, ainda, um mobiliário feito especialmente para a mostra. Dentre os destaques da exposição estão os registros das performances/instalações “Desenhando com terços”, 2000, na qual Márcia X, de camisola branca, usa terços para realizar desenhos de pênis no chão, e “Ação de Graças”, 2001, onde a artista, também de camisola branca, aparece deitada no chão de uma sala. O chão é um gramado natural, bem verde. Em um dos extremos da sala estão duas bacias de louça contendo um líquido branco perolado. Cada um de seus pés está enfiado na cloaca de um galo. Os galos depenados têm o corpo e as cristas cravejados de pérolas. Os pés e as cabeças dos galos são ornados com pequenas coroas douradas. Estas coroas estão ligadas por correntes douradas a uma coroa fixada na parede. A performance termina com a artista se levantando, molhando os pés no líquido das bacias e depois jogando-o em cima dos galos.

 

Márcia X iniciou sua trajetória na década de 1980, pesquisando a linguagem da performance e do happening, em uma época em que a cena de arte voltava-se para o retorno à pintura, movimento que caracterizou a “Geração 80”. Ao lado do artista Alex Hamburger, com quem realizou diversos trabalhos em colaboração neste período, Márcia X foi uma das poucas artistas do período que trilharam caminhos alternativos à prática da pintura em grandes formatos, “levando sua pesquisa ao amadurecimento nos anos 1990 e início dos 2000, o que possibilitou ser considerada um dos nomes de referência na performance brasileira”. Beatriz Lemos observa que, “devido a sua morte prematura em fevereiro de 2005, sua obra, todavia não recebeu a atenção e análise crítica que a convém, em que seus trabalhos estão documentados apenas em catálogos de exposições coletivas, e em textos críticos publicados em periódicos”. “Desta forma”, salienta a curadora, este projeto, que inclui a publicação de um livro completo sobre a obra da artista, vem cobrir essa lacuna”.

 

Até 14 abril.

Paulo Meira e Carolina Martinez

18/jan

Como é de praxe, a galeria Laura Marsiaj, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta simultaneamente dois artistas. Os escolhidos para a abertura da temporada 2013 são: Paulo Meira e Carolina Martinez.

 

Paulo Meira apresenta sua exposição individual “La cumparsita”, composta de pinturas e um vídeo performance. As pinturas de “La cumparsita” representam diversos personagens, em estilo clássico do gênero “pintura de retrato” (óleo sobre tela em dimensões variadas), em metamorfoses de seres humanos e animais selvagens. O antropomorfismo, nas pinturas de “La cumparsita” decorre inicialmente da exploração exaustiva da própria imagem do homem, num exame cruel de suas possibilidades através da combinação da figura humana com uma infinidade de outros seres.

 

No vídeo “La cumparsita”, um homem dança ao som de “La cumparsita”, tango dos mais conhecidos de Carlos Gardel, tendo como parceria, um compasso de dimensões alteradas (medindo 1,78 metros).

 

A dança, que ocorre em diversos ambientes, sugere uma íntima relação entre o homem e o “seu” objeto técnico (o compasso gigante). De tal intimidade, emerge a perversão própria desta relação, na qual o dançarino, ao compactuar com o compasso, distorce e reloca o destino que o funda: entre as funções de um compasso, destaca-se a leitura de mapas e cartas náuticas para calcular equivalências entre tempo e espaço de deslocamentos. Ora, em “La cumparsita” a dança executada com esse instrumento de precisão, como se vê no vídeo, compactua antes com a arte, pois desafia a ordem de um mesmo e preciso compasso.

 

Carolina Martinez no Anexo

 

Aproveitando-se do formato de cubo branco e da falta de janelas do Anexo, a exposição de “Às avessas”, individual de Carolina Martinez assume uma engenhosa e delicada operação metafórica: trazer o exterior para dentro de uma casa. Deslocando a imagem do cubo como lugar expositivo para a de um cômodo, a artista confunde a nossa percepção sobre o espaço. É um cômodo/casa às avessas. Suas pinturas alegoricamente transformam-se em fachadas ou janelas, não apenas pelo fato do objeto (pintura) possuir um tamanho aproximado de janela mas pelo que ilustra ou exibe: são persianas, beirais, correspondências imagéticas à ideia de exterioridade. Porém ao mesmo tempo em que “exibe”, a obra de Martinez oculta. São janelas que não se abrem ao exterior mas que mimetizam a ideia de um outro lugar. Não há nada para ser visto, apenas imaginação, especulação. Contudo, há um investimento romântico nesse trabalho que nos leva a acreditar que naquele fragmento, em um pedaço metafórico de paisagem, pode estar o todo, e que essa experiência não pode ser desqualificada por uma racionalidade inibidora.

 

A ilusão óptica que habita suas primeiras pinturas – uma suave combinação entre tinta automotiva e verniz sobre madeira – criando uma dualidade entre a ideia de figura e fundo é transferida para esse ambiente instalativo. Estes trabalhos possuem pontos de contato com os Espaços virtuais: Cantos (1967-68) e os Volumes virtuais (1968-69) de Cildo Meireles. Tal como esses últimos, as obras de Martinez são “desenhos” que utilizam três planos para definir uma figura no espaço. Ademais, cada um dos dois artistas a seu modo, realiza a transição do espaço bidimensional para um ambiente escultórico que se assemelha a uma casa. Paira sobre essas obras uma inversão das escalas. No caso de Martinez, o cubo/quarto/cômodo vira casa; o rodapé deixa de lado a sua insignificância e passa a ser o eixo central constituindo perímetros, áreas ou cantos de sólidos assim como ocorre nos Volumes Virtuais; e, finalmente a natureza é reduzida ou ampliada dependendo de como o espectador investe o seu olhar para o território criado pelas linhas econômicas, suaves e delicadas de suas pinturas.

 

A linha que atravessa a exposição – presentificada no rodapé que perde a sua função utilitária e ganha corpo, volume e massa adquirindo por si só um estatuto escultórico – é aquela presente nas obras pictóricas de Martinez. O rodapé que foge ao controle da racionalidade significa a transposição de sua pesquisa pictórica para a tridimensionalidade. Ao mesmo tempo em que a artista constrói um espaço que ao invés de oferecer a paisagem ao espectador encerra-se nele mesmo (estão ali contidos a casa, a paisagem e a arquitetura), tudo na exposição está em movimento. Não são, portanto, imagens ou objetos estacionários, mas em constante trânsito. Figuram paradoxalmente entre a máxima presença e a máxima ausência.

 

O artificial e o real, o inventado e o concreto, o original e a cópia, a imagem e seu referente não “se dividem mais segundo uma dicotomia serena, mas mantêm relações fluidas” (1), que abrem caminho a um pensamento do verossímil. “Às avessas” nos revela que a realidade não é mais exatamente a mesma: ela é duplicada, confrontada, e reforçada pela ficção.

 

(1) Cauquelin, Anne. A invenção da paisagem. São Paulo: Martins, 2007, p. 109.

 

De 22 de janeiro a 28 de fevereiro.