Centenário do artista

13/mar

A Galeria Base, Jardim Paulista, São Paulo, SP, de Daniel Maranhão, abre sua agenda de 2023 – até 15 de abril – com a mostra “Chico da Silva: A Boca do Mundo”, em comemoração ao centenário do artista, com cerca de 20 pinturas a guache sobre papel, da década de 1960, período considerado como um dos mais representativos em sua trajetória.

Pássaros, dragões, peixes, criaturas nada passivas mas de colorido vibrante, com posturas proativas, são grande parte da criação espontânea do universo de Chico da Silva desde seus primeiros traços em tijolo ou carvão nas paredes das casas da Praia do Pirambu, Fortaleza, para onde a família se mudou quando o artista ainda era muito jovem.

Nas palavras do pesquisador Bitu Cassundé, que assina o texto crítico da exposição, “Chico constrói através da sua visualidade uma importante caligrafia que abarca uma natureza e uma animalidade fabular inserida numa cosmologia na qual a figura humana pouco aparece e seres de diferentes espécies, reais ou não, habitam um território de disputas e conflitos”.

O título da exposição – “Chico da Silva: A Boca do Mundo” – faz alusão às figuras pintadas pelo artista, geralmente com bocas abertas, em posição de ataque ou defesa. Ainda segundo Bitu Cassundé “As relações que se estabelecem indicam a defesa do território, as brigas pelo alimento, a proteção e o acolhimento das crias, assim como a boca que rege e orquestra diferentes coreografias e performatividades”.

A Galeria Base tem como um dos pilares de sua pesquisa, a (re)descoberta de importantes artistas que, por motivos diversos, caem no esquecimento. No sentir de Bitu Cassundé, “…a história da arte brasileira é constituída por inúmeras lacunas e invisibilidades que compõem violentas narrativas de apagamentos”, e “Chico é um bom exemplo”, explica Daniel Maranhão. A exposição “Chico da Silva – A Boca do mundo” ressalta a importância deste artista indígena, cujas obras das décadas de 1950 e 1960 percorreram o mundo, tendo como ápice sua participação na Bienal de Veneza (ITA), oportunidade na qual, foi criado um prêmio inédito, para condecorá-lo. Como consequência dessas ações, “…nota-se atualmente um forte movimento de reposicionamento da obra de Chico da Silva, não só no Brasil como no exterior”, diz Daniel Maranhão. No início deste ano, a Tate Gallery (Londres), adquiriu um painel do artista para seu acervo e, a Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP), alinhada a esse movimento, exibe uma mostra individual do artista, onde a Galeria Base colabora com a cessão de obras. O momento de exibir “Chico da Silva: A Boca do Mundo” é mais que oportuno pois se trata de um “instigante conjunto que evidencia o signo da boca na obra de Chico da Silva; a boca como estratégia de sobrevivência e de vida” conclui Bitu Cassundé.

 

Sobre o artista

Chico da Silva (Francisco Domingos da Silva) – (Alto Tejo, AC, 1922/23 – Fortaleza, CE, 1985) – Pintor e desenhista. Inicia na pintura, em 1937, utilizando como suporte os muros caiados das casas de pescadores na antiga Praia Formosa (CE). No início da década de 1940, em Fortaleza, entra em contato com o franco-suíço Jean-Pierre Chabloz, que o introduz nas técnicas do guache e do óleo. Apoiado pelo mecenato de Chabloz, participa, em 1945, do I Salão de Abril (CE) e exposições na Galeria Pour l’Art (Lausanne, Suíça), 1950 e no Museu Etnográfico de Neuchâtel (Suíça), 1956. A arte de Chico da Silva foi destaque na prestigiosa revista francesa Cahiers d’Art, sob o título “Índio Brasileiro Reinventa a Pintura”. Na década de 1960, produz quarenta guaches para o acervo do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC). Chico da Silva consagrou-se como um dos maiores pintores primitivos brasileiros. Em 1966, conquista Menção Honrosa na XXXIII Bienal Internacional de Veneza (ITA). Chico da Silva está presente com dois guaches da década de 1960 na coleção do MAR, o Museu de Arte do Rio de Janeiro, por doação do Fundo Max Perlingeiro. Em 2014, essas obras foram apresentadas nas exposições “Encontro de Mundos” e “Pororoca, a Amazônica no MAR”.

“A minha pintura é a minha própria linguagem. Sobre o sentido da alegria que sinto, ela é grande e, sobre a beleza que vejo no matizado das cores, ela é rica. O que sai do meu coração é rico e bonito; eu é que sou feio e pobre.” Chico da Silva

 

Arte em Ouro Preto

06/mar

 

Estes são detalhes de algumas obras de “Sofrência”, que ocupa o Paço da Misericórdia, em Ouro Preto, MG. A exposição integra o projeto “Arte nas Estações”, que leva para as cidades mineiras o acervo incrível do Museu de Arte Naïf, que infelizmente fechou suas portas em 2016.

Com curadoria de Ulisses Carrilho, a mostra fala sobre apaixonamento e separação por meio de uma narrativa com início, meio e fim. Inspirada nas novelas, essa história apresenta ao público cenas de convívio social, flerte, festas e jogos de sedução, permeadas por poesias e poemas populares. (Texto de Fábio Schwarzwald no Facebook).

A pintura do interior paulista

18/jan

 

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, apresenta a exposição coletiva “A Pintura do Interior Paulista “, sob curadoria de Ruth Sprung Tarasantchi com, aproximadamente, 51 pinturas de 28 artistas – Agostinho Batista de Freitas, Alberto Emilio Naddeo, Aldo Caldarelli, Alexandre Reider, Antonio Ferrigno, Benedito Calixto, Carlos de São Thiago Lopes, Campos Ayres, Clodomiro Amazonas, Enrico Vio, Gentil Garcez, Glycério Geraldo Carnelosso, Guerino Grosso, João Batista da Costa, Joaquim Dutra, Jorge de Mendonça, José Ferraz de Almeida Jr., José Wasth Rodrigues, José Maria da Silva Neves, José Perissinoto, José Rossini, Luiz Gualberto, Lucilio de Albuquerque, Oscar Pereira da Silva, Pacheco Ferraz, Paulo do Valle Jr., Paulo Vergueiro Lopes de Leão, Tulio Mugnaini – exibe obras que são inspiradas em cenas do interior do Estado de São Paulo. Uma parceria, já em sua terceira ação, entre o Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS/SP e a Associação dos Amigos de Arte de São Paulo – SOCIARTE, traz ao público um recorte dessa produção característica e formadora da iconografia memorial do verdadeiro símbolo da origem da imagem do paulista de raiz.

“Nesta exposição temos artistas que estudaram no exterior, viveram muitos anos na França, na Itália, e receberam grande influência de seus mestres estrangeiros. Outros estudaram com pintores renomados na época, como Oscar Pereira da Silva, Pedro Alexandrino, Antônio Rocco e Tulio Mugnaini. Os que viveram no interior deixaram uma obra que eles consideravam a “verdadeira”. Nas obras dos pintores que não viajaram para o exterior, fica certa ingenuidade que hoje temos que aceitar, por serem um documento de época, apesar de certa dureza, um mundo que não existe mais”, explica a curadora.

Inúmeros foram os artistas que viveram, se inspiraram e registraram cenas do interior paulista e as diferenças sutis, em suas representações, podem ser observadas no conjunto selecionado para a exposição. “Na obra de Ferrigno, temos o trabalhador do campo, enquanto Carnelosso representa o caipira exausto, sentado num canto depois de um dia de trabalho. Lopes de Leão pinta bananeiras que preenchem toda a superfície da tela e Wasth Rodrigues pinta moradias rústicas interioranas”, comenta Ruth Tarasantchi.

“A SOCIARTE, buscando divulgar as características do interior do Estado de São Paulo através da pintura, apresenta esta exposição com obras de pintores que imortalizaram as paisagens, os costumes, a riqueza da terra e a diversidade desta importante região brasileira.” Francisco de Paula Simões Vicente de Azevedo

 

Sobre o museu

O Museu de Arte Sacra de São Paulo, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, é uma das mais importantes do gênero no país. É fruto de um convênio celebrado entre o Governo do Estado e a Mitra Arquidiocesana de São Paulo, em 28 de outubro de 1969, e sua instalação data de 29 de junho de 1970. Desde então, o Museu de Arte Sacra de São Paulo passou a ocupar ala do Mosteiro de Nossa Senhora da Imaculada Conceição da Luz, na avenida Tiradentes, centro da capital paulista. A edificação é um dos mais importantes monumentos da arquitetura colonial paulista, construído em taipa de pilão, raro exemplar remanescente na cidade, última chácara conventual da cidade. Foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1943, e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Estado de São Paulo, em 1979. Tem grande parte de seu acervo também tombado pelo IPHAN, desde 1969, cujo inestimável patrimônio compreende relíquias das histórias do Brasil e mundial. O Museu de Arte Sacra de São Paulo detém uma vasta coleção de obras criadas entre os séculos XVI e XX, contando com exemplares raros e significativos. São mais de 10 mil itens no acervo. Possui obras de nomes reconhecidos, como Frei Agostinho da Piedade, Frei Agostinho de Jesus, Antônio Francisco de Lisboa, o “Aleijadinho” e Benedito Calixto de Jesus, entre tantos, anônimos ou não. Destacam-se também as coleções de presépios, prataria e ourivesaria, lampadários, mobiliário, retábulos, altares, vestimentas, livros litúrgicos e numismática.

Artistas populares

17/nov

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A Galeria Jacques Ardies, Vila Mariana, São Paulo, SP,  fecha a agenda de 2022 com a “Coletiva de Arte Popular” que apresenta obras de 16 artistas brasileiros, e exibe um recorte da produção recente no campo da arte popular nacional, destacando temas da vida cotidiana, experiências pessoais, festas, paisagens campestres e urbanas, além da beleza da natureza.
Visto que a missão da galeria é incentivar a Arte Popular Brasileira, foram selecionados artistas contemporâneos para “um evento festivo para comemorar o fim do ano e apresentar os artistas vivos e pintando sem parar”, diz Jacques Ardies. “Esses artistas têm em comum a sutileza com que retratam os temas ligados à natureza e ao dia a dia. Usando as cores com habilidade, eles transmitem em cada um de seus quadros a alegria, o lirismo e o otimismo característicos do povo brasileiro”, explica o curador. São eles: Ana Denise, Ana Maria Dias, Barbara Rochlitz, Bebeth, Cristiano Sidoti, Edivaldo Barbosa, Edna de Araraquara, Enzo Ferrara, Francisco Sevetino, Helena Coelho, Isabel de Jesus, Lucia Buccini, Luiz Cassemiro, Mara Toledo, Sônia Furtado, Vanice Ayres.
A humanidade e a arte não podem funcionar um sem o outro. Temos o desejo ardente de criar com qualidade ações culturais. A arte popular é definida como a expressão representativa da cultura de um país. No Brasil encontramos vários artistas populares espalhados por todas as regiões do país. As obras do segmento são de altíssimo reconhecimento estético e artístico. Os artistas se inspiram em sua regionalidade, crenças, lendas e costumes típicos de sua cultura.
A cultura popular é a principal raiz dessa arte. Autodidata, o artista popular dedica seu tempo livre, sua folga do trabalho para criar sua arte. Se conseguir sucesso, ele acaba se profissionalizando e vivendo da sua arte. Seu papel é fundamental para o desenvolvimento intelectual, formação de opinião, inclusão social, educação e por fim, é a forma mais incrível de fazer com que as pessoas enxerguem o mundo mais civilizado. “Comemorando o fim do ano de 2022 com uma exposição coletiva dos melhores artistas ativos da nossa arte popular, temos trabalhos artísticos multifacetados que representam os variados costumes regionais do Brasil”, diz Jacques Ardies.
Até 22 de dezembro.

Chico da Silva

11/ago

 

 

Brazilian Mythologies (MitologiasBrasileiras)

 

A Galatea, Jardins, São Paulo, SP, anuncia sua participação na Independent 20th Century, no Battery Maritime Building, NY, dos dias 08 a 11 de setembro. O projeto “Chico da Silva: mitologias brasileiras” é uma exposição monográfica das obras de Chico da Silva (1910, Alto Tejo, Acre – 1985, Fortaleza, Ceará). Francisco Domingos da Silva é um artista brasileiro autodidata e de ascendência indígena, que lida com elementos, imagens e referências das culturas, cosmologias e mitologias indígenas e populares brasileiras.

 

Chico da Silva nasceu cercado pela floresta amazônica na região do Alto Tejo, mas ainda criança mudou-se para o Ceará, no Nordeste do Brasil, passando por algumas cidades do interior até se instalar em Fortaleza em 1935, onde viveu até sua morte. Foi pintando os muros caiados das casas de pescadores da Praia Formosa que começou sua produção artística. Da Silva dava forma e cor a seus desenhos com pedaços de carvão, tijolos, folhas e outros elementos encontrados ao seu redor.

 

Jean-Pierre Chabloz (1910, Lausanne, Suíça – 1984, Fortaleza, Ceará, Brasil), crítico e artista suíço que se mudou para o Brasil em 1940 devido à Segunda Guerra Mundial, viajou para Fortaleza a trabalho em 1943, onde conheceu os desenhos de Chico da Silva em uma visita à praia. Admirado, Chabloz incentivou-o e forneceu-lhe materiais para que se aprofundasse em sua pesquisa artística. Tal encontro teve grande relevância na consolidação e difusão do trabalho de Chico da Silva, abrindo portas para que circulasse nos principais centros urbanos do Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo, e pela Europa, em cidades como Genebra, Neuchâtel, Lausanne e Paris.

 

Em seus guaches e pinturas, Chico da Silva representou sobretudo os seres da floresta, como os pássaros e peixes amazônicos, além de figuras fantasiosas, como dragões. Suas obras dão forma a histórias e mitologias da tradição oral da cultura do Norte do Brasil, em composições marcadas por uma rica policromia e pelo grafismo detalhado do desenho, composto por tramas e linhas coloridas. Acerca do seu universo e de seus procedimentos, Jean-Pierre Chabloz faz as seguintes considerações no texto “Un indien brésilien ré-invente la peinture” (Um indígena* brasileiro reinventa a pintura), originalmente publicado na revista francesa Cahier d’Art, em 1952:

 

“Por toda parte em que os guaches visionários do Pintor da Praia foram expostos, em Fortaleza mesmo, no Rio, em Genebra, em Lausanne, em Lisboa, encontraram-se destes bem-aventurados que souberam ver no maravilhoso universo de Francisco Silva, o índio, o que eu próprio tinha visto. Pois cada um de seus guaches contém e propõe um universo que ultrapassa muito o tema tratado. Lendas amazônicas, lembranças da infância, ritos e práticas mágicas, espetáculos naturais transpostos pela assunção poética, complexos psíquicos individuais e raciais exteriorizados através do símbolo, voluptuosidade (…) de linhas, de movimentos, de cores, formam o fundo extraordinariamente rico e sutil desse universo. Como se podia prever, ele atraiu as atenções mais diversas. Artistas e poetas, críticos de arte e jornalistas, etnógrafos e psicanalistas se entusiasmaram e se entusiasmarão ainda diante destas surpreendentes condensações coloridas em diversos planos, que revelam, em cada um, horizontes novos (…).”

 

Dada a originalidade do seu estilo e de suas composições, destacou-se no contexto da chamada arte popular brasileira e, além de experimentar bastante sucesso comercial em vida, atraiu grande interesse da crítica. Entre as principais exposições que participou, estão: Francisco da Silva, Galerie Pour L’Art, Lausanne, Suíça, em 1950; Exposition d‘Art Primitif et Moderne, Musée d‘Ethnographie, Neuchâtel, Suíça, em 1956; 8 Peintres Naïfs Brésiliens, Galerie Jacques Massol, Paris, France, em 1965; 9ª Bienal Internacional de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil, em 1967; Tradição e Ruptura: Síntese de Arte e Cultura Brasileiras, Fundação Bienal de São Paulo, Brasil, em 1984. Além disso, recebeu, em 1966, o prêmio de Menção Honrosa por sua participação na 33ª Bienal de Veneza.

 

Convencido quanto à relevância da obra de Chico da Silva e o quanto ela agrega à arte brasileira, Chabloz projeta, ainda, a recepção que estaria à sua altura: “Agrada-me, às vezes, imaginar Francisco Silva decorando ministérios e palácios do governo, correios e telégrafos, bancos, escolas e ricas casas particulares. Uma vida inteira não seria suficiente. Mas, consagrando a sua vida a esta tarefa, o humilde pintor paradisíaco da praia cearense, através da radiosa proclamação de uma arte (…) autenticamente brasileira, redimiria sozinho seu País da desagradável e involuntária sabotagem que, outrora, privara-o de sua primavera pictórica.”

 

Embora tenha caído em certo esquecimento, por conta dos rumos que tomou ao fim de sua carreira, hoje o trabalho de Chico da Silva vem sendo retomado e atualizado com novas leituras e abordagens. Esse dado acompanha um crescente interesse contemporâneo pela arte produzida por artistas autodidatas, atuantes fora do sistema tradicional das artes, que criaram visões próprias e originais sobre suas culturas e sobre a sociedade em que viveram. Atualmente, seus trabalhos fazem parte de inúmeras coleções públicas, entre elas: Museo del Barrio, Nova York; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM Rio; Museu de Arte do Rio de Janeiro – MAR; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC USP; e Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – MASP.

 

Apresentar, discutir e difundir a obra de Chico da Silva sob uma perspectiva contemporânea coloca em debate as diversas matrizes de conhecimento que constituem a cultura e a arte brasileira, escapando das perspectivas tradicionais e eurocêntricas que, por muito tempo, dominaram as narrativas da nossa produção artística e cultural.

 

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* Alguns termos usados no período em que Jean Pierre Chabloz escreveu seu texto caíram em desuso, de modo que os atualizamos para o contexto atual.

Chico da Silva: Brazilian Mythologies [Mitologias brasileiras]

Convidados [Preview]

Quinta-feira, 8 de Setembro | 10h às 20h – horário local

[Thursday, September 8 | 10AM-8PM – local time]

 

Júlio Paraty no MNBA

17/jan

Com uma representativa seleção de 40 trabalhos (em acrílico sobre tela e guache) dentre as mais de 3.000 obras produzidas em cinquenta anos de carreira, o Museu Nacional de Belas Artes/Ibram exibe – entre 21 de janeiro e 21 de março de 2020 – nas Salas Clarival Valadares e Ubi Bava, Cinelândia, Rio de Janeiro, RJ, a exposição “O mundo paradisíaco de Júlio Paraty”.

 

Dono de uma robusta carreira artística, com inúmeras individuais, e sendo um dos mais importantes artistas da histórica e colonial cidade fluminense de Paraty, o pintor popular Júlio Paraty é agora homenageado num momento muito oportuno pois recentemente sua cidade foi reconhecida como Patrimônio Mundial pela UNESCO.

 

Na exuberância de suas cores e rigor de sua composição, a obra de Júlio desde sempre teve como inspiração e temas o patrimônio cultural de sua Paraty natal: suas tradições, as festas religiosas, os modos de viver, as brincadeiras, a pesca e os barcos, os personagens, santos e bandeiras da localidade em meio a luxuriante natureza.

 

Para o curador da mostra “O mundo paradisíaco de Júlio Paraty”, o cineasta Luis Carlos Lacerda, o Bigode, “…esta retrospectiva nos permitirá acompanhar a evolução de seu percurso, dos primeiros trabalhos onde a presença de blocos compactos forma a narrativa da tela, ao povoamento riquíssimo de seus espaços por uma multidão de personagens coadjuvantes, ações paralelas ao tema principal, pequenas telas dentro daquilo que retrata, numa inquietação que habita o mundo e o atelier dos grandes artistas”.

 

Em sua longa trajetória, Júlio realizou cerca de trinta exposições individuais, a primeira em 1971, em São Paulo, no Antiquário Chafariz e ainda na capital paulista ele expôs também em 1984, no Centro Cultural São Paulo, e no Rio de Janeiro, na Funarte, em 1979 e 1981. Participou de exposições internacionais coletivas, em 1980 – Naifes Internacionais – na Galeria do Bonfim de Amsterdam e na Galeria do Bonfim de Bonn, Alemanha.

 

Conjugado à exposição haverá também a exibição permanente do filme que faz parte da série “Atelier do Artista”, com fotografia de Alisson Prodlik e direção de Luiz Carlos Lacerda, curador da exposição.

 

A mostra “O mundo paradisíaco de Júlio Paraty” conta com o apoio da Secretaria de Cultura de Paraty.

 

A Hora e a Vez de Ranchinho

17/ago

Uma exposição há muito aguardada, acontece de 21 de agosto a 21 de setembro na Ricardo Camargo Galeria, Jardim Paulistano, São Paulo, SP, reunindo 28 obras (realizadas entre 1976 e 1994) do artista Ranchinho, falecido em 2003, pouco antes de completar 80 anos.

 

Nascido na região de Assis, SP, filho de lavradores muito pobres, e batizado Sebastião Theodoro Paulino da Silva, o artista era oligofrênico e manifestava também problemas de exibicionismo. Criado nas ruas, após o falecimento de sua mãe, era analfabeto e viveu boa parte de sua existência catando materiais descartáveis e morando em ranchos abandonados, daí seu apelido. Mas Ranchinho possuía grande habilidade para o desenho. Nunca teve uma lição de arte, não conhecia artistas, nem museus ou galerias, mas criava cenas com os precários materiais de que dispunha e os presenteava aos conhecidos. No final dos anos 1960 o pesquisador local José Nazareno Mimessi, que tinha contatos na Capital com pintores populares, forneceu a Ranchinho um estojo de guache, papéis adequados e lhe ensinou o manejo. Foi o que bastou para prontamente ser iniciada uma produção grandiosa e constante, depois estendida à pintura, que durou até seu desaparecimento. Apesar dos infortúnios que pontuaram sua comovente biografia, apesar do isolamento e da precariedade dos meios de que dispunha, a obra de Ranchinho evoca uma grande exaltação da vida. Seu inesgotável repertório de imagens e assuntos surpreende pela acuidade e poesia. É um mestre da composição e do colorido. Um caso único na arte brasileira. Frequentemente os que têm contato com sua obra conectam a força de suas múltiplas imagens ao legado de Van Gogh, apesar das diferenças de contexto e a dimensão de ambos. Os trabalhos expostos, inéditos e de grande qualidade, provêm de uma seleção, realizada durante mais de 40 anos, agora disponibilizada. É possível avaliar a conduta de um profissional do mercado por sua capacidade de reconhecer a importância de um artista, mesmo que este não faça parte do que habitualmente é o seu território de ação. Ao firmar com a Ricardo Camargo Galeria parceria para a realização da mostra de Ranchinho o ecletismo lúcido que tem caracterizado sua atuação acabou por ser decisivo. (Roberto Rugiero).

Almeida e Dale exibe Mestre Didi

06/abr

Tradição e contemporaneidade, religião e arte: a produção artística do baiano Mestre Didi (1917-2013) é permeada por dualidades. Um dos raros artistas afro-brasileiros a ter pleno reconhecimento da crítica de arte nacional e internacional, Didi possui um trabalho ligado aos objetos sagrados do culto do Candomblé e é comumente referido como sacerdote-artista. A partir do dia 07 de abril, a galeria paulistana Almeida e Dale, Jardins, São Paulo, SP, apresenta ao público “Mo Ki Gbogbo In – Eu saúdo a todos”, exposição que traz um breve panorama do percurso artístico deste soteropolitano. A mostra é realizada em parceria com a Paulo Darzé Galeria, de Salvador.

 

Com curadoria de Denise Mattar e Thaís Darzé, a exposição toma como título uma frase comumente usada por Mestre Didi, que sempre se propôs a juntar as diversidades, em busca da harmonia. A mostra reúne um conjunto de 48 obras do artista. O recorte curatorial valoriza os anos 1980, período áureo de sua produção, quando conseguiu imprimir sua marca pessoal e inventiva ao processo de recriação das tradições da cultura afro-brasileira. Mas há raridades como a escultura em madeira Yao Morogba, de 1950.

 

Batizado de Deoscóredes Maximiniano dos Santos, o artista foi um dos mais importantes sacerdotes afro-brasileiros do país, responsável por traduzir a visão de mundo africana e sua experiência de vida, utilizando a arte como suporte. “Expressões culturais de origem africana, em especial da região do Benin, se consolidaram em Salvador através de séculos de estratégias de sobrevivência, tornando-se presentes no cotidiano. É neste cenário de ebulição da cultura negra, nessa cidade que é berço do Candomblé e das tradições africanas e nesse contexto religioso ímpar que surge Mestre Didi com sua cosmovisão, que vai nas origens para dialogar com a atualidade”, afirma Thais Darzé.

 

Concebidas de acordo com uma sabedoria iniciática, suas esculturas possuem texturas, matérias, formas e cores específicas, cada qual com o seu significado. As formas de suas obras expressam a visão do mundo nagô, construído numa dinâmica de mobilização e circulação do axé, a energia vital. Suas elaborações, por sua vez, derivam dos emblemas dos orixás do Panteão da Terra: Nanã e seus três filhos míticos, Obalauaê, Oxumaré e Ossain.

 

“No Ocidente, somos herdeiros do pensamento racional, cartesiano e individualista, tomando-o como sinônimo da verdade. Durante muito tempo, apenas a arte ocidental era considerada Arte, posição prepotente ainda hoje preconizada por alguns setores do circuito artístico”, aponta a curadora Denise Mattar. “A cultura negra é plural, não compreendida como uma unidade oposta ao mundo exterior. Cada ser carrega em si a família, os ancestrais e as entidades divinas, trocando com seus pares a energia vital. Nesse sentido, a arte de Mestre Didi é uma expressão disso e integra-se, portanto, a essa cosmovisão”, completa.

 

A exposição traz também referências visuais, como ibirís e xaxarás originais, depoimentos de Mestre Didi, além de fotos de artistas com quem manteve relações ao longo da vida. Entre eles, Pierre Verger e Mário Cravo Neto. A ideia é proporcionar ao visitante um mergulho no imaginário afro-brasileiro. A mostra será complementada por um catálogo, publicação que reunirá não apenas obras da exposição, mas textos das curadoras e uma cronologia ilustrada.

 

 

De 09 de abril a 26 de maio.

Arte Naïf com Jacques Ardies     

11/dez

 

A Galeria Jacques Ardies, Vila Mariana, São Paulo, SP, inaugurou a “Grande Coletiva de Arte Naïf”, sob a curadoria de Jacques Ardies apresentando mais de 80 obras, de 30 artistas brasileiros. A mostra propõe um destaque à arte popular brasileira com obras que tratam do cotidiano dos artistas e suas experiências de vida.  A exibição, que tradicionalmente encerra a agenda expositiva da galeria, mescla formas distintas de se fazer arte, cada uma com o seu conceito e processo criativo particular.

 

No Brasil, o movimento naïf se consolidou a partir dos anos 1940, com o surgimento das obras de Heitor dos Prazeres e José Antonio da Silva, entre outros. Hoje, o país é um dos grandes representantes deste tipo de arte no mundo, com enormes contrastes territoriais, preservação cultural, capacidade de aflorar novos talentos, mistura de raças e de crenças, sensibilidade inata e alegria contagiante. A chamada Arte naïf é uma expressão artística que surgiu na eclosão da arte moderna. Os artistas naïfs, via de regra, não pretendem seguir as regras da academia, e, por meios próprios, inventam uma linguagem pessoal, expressando suas experiências de vida. Com determinação, buscam superar eventuais dificuldades técnicas, propondo uma arte original, sem compromisso com a perspectiva e executada com total liberdade. A palavra francesa “naïf” foi utilizada para definir o estilo de Henri Rousseau, que apresentava uma arte personalíssima e encantadora.

 

O galerista Jacques Ardies, que adotou o incentivo à Arte naïf brasileira como uma de suas missões, declara que “…esses artistas têm em comum a sutileza com que retratam os temas ligados à natureza e ao dia-a-dia. Usando as cores com habilidade, eles transmitem em cada um de seus quadros a alegria, o lirismo e o otimismo característicos do povo brasileiro”.

 

Na exposição “Grande Coletiva de Arte Naïf”, econtram-se obras assinadas por Ana Denise, Ana Maria Dias, Barbara Rochlitz, Bebeth, Bida, C. Sidoti, Denise Costa, Doralice Ramos, Edgar Calhado, Edivaldo, Edna de Araraquara, Ernani Pavaneli, Enzo Ferrara, Francisco Severino, Helena Coelho, Isabel de Jesus, Ivonaldo, L. Cassemiro, Lucia Buccini, Madeleine Colaço, M. Guadalupe, M. Zawadzka, Maite, Malu Delibo, Mara D. Toledo, Marcelo Schimaneski, Rodolpho Tamanini Neto, Waldomiro Sant’ Anna, Vanice Ayres Leite e Wima Ramos.

 

 

Até 22 de dezembro.

No FACE Gabinete de Arte

24/ago

FACE Gabinete de Arte, Pinheiros, São Paulo, SP, inaugurado no primeiro semestre de 2017, traz agora a exposição de Agostinho Batista de Freitasreafirmando sua intenção de resgatar o olhar de Pietro M. Bardi sobre a produção artística brasileira. O espaço, ao revisitar artistas revelados ou incentivado pelo fundador do MASP, pretende compartilhar a experiência de Eugênia Gorini Esmeraldo durante décadas ao lado dele no museu, reativando, com mostras e debates, a presença desses nomes na cena contemporânea.

 

Conforme destaca Eugênia, torna-se difícil comentar a obra do pintor após a grande exposição realizada recentemente pelo MASP, quando também foi editado um bonito e merecido catálogo sobre o artista. Por isso, a presente mostra tem mais o significado de prestar uma homenagem ao descobridor de Agostinho, neste ano em que o MASP, instituição que ele fundou em outubro de 1947, comemora 70 anos.

 

Agostinho Batista de Freitas (Paulínia, SP, 1927 – São Paulo, SP, 1997) foi encontrado pelo Professor Bardi nas ruas da cidade, na praça do Correio, onde vendia as suas pinturas, no início dos anos 1950. Já em 1952 foi realizada uma individual do artista no emergente museu, na rua Sete de Abril, 230. Eram os primeiros anos da formação do espaço de arte que Bardi iria dirigir por mais de quatro décadas.

 

Algumas das obras reunidas nesta exposição estiveram na recente mostra do artista no MASP e, não por acaso, algumas delas passaram pelo crivo ou pertenceram a Bardi. Por volta de 1966, o fundador do museu criou a galeria Mirante das Artes, na rua Estados Unidos 1494, e ali começou a revender muitas obras de sua coleção, inclusive as de Agostinho. Era de sua propriedade e merece destaque a obra Enchente na Vila Maria, que pode ser vista nesta exposição graças ao empréstimo do acervo do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi.

 

Como lembra Eugênia, em 1966 Bardi, ao aceitar ser um dos comissários que indicavam artistas brasileiros para a Bienal de Veneza daquele ano, selecionou Agostinho, ao lado de Jose Antônio da Silva, Francisco Domingo Silva (Xico da Silva) e dos eruditos Arthur Luiz Piza e Wesley Duke Lee. A obra de Agostinho selecionada para a exposição em Veneza, que não esteve na retrospectiva no MASP, estará presente na mostra.

 

FACE Gabinete de Arte é uma iniciativa de Eugênia Gorini Esmeraldo, museóloga e historiadora de arte e do engenheiro Francisco de Assis Esmeraldo, ambos colecionares e próximos aos Bardi, seja no trabalho direto, como é o caso de Eugênia, seja nas sistemáticas conversas sobre arte que Assis mantinha com o Professor.

 

 

De 26 de agosto a 07 de outubro.