Mostra individual de Gustavo Nazareno

23/mai

A Cassina Projects, Milão, tem o prazer de anunciar a representação de Gustavo Nazareno (1994, Minas Gerais, Brasil), que se junta à galeria após sua estreia na Itália e sua primeira individual na Cassina Projects, “Notas pessoais de fé”, com curadoria de Deri Andrade, em 2022. Gustavo Nazareno vive e trabalha em São Paulo, Brasil.

Trabalhando com pinturas a óleo e carvão sobre papel, Gustavo Nazareno parte para uma exploração espiritual e visual dos Orixás, divindades veneradas pelo culto sincrético da Umbanda brasileira e outras religiões da diáspora africana relacionadas aos iorubás, que encontraram seu caminho para a maioria dos mundo como uma emanação do comércio atlântico de escravos.

​Forças híbridas, espíritos ancestrais e negociadores mitológicos entre o mundo humano e o divino – profetas da sabedoria e encarnação de legados históricos -, no universo poético de Gustavo Nazareno os Orixás são figuras gloriosas de um panteão pungente onde se fundem tradições africanas, rituais brasileiros, espiritismo e catolicismo.

​Por meio do enigmático jogo de luz e sombra e da representação de entidades divinas e da paisagem como manifestação alegórica e universal da beleza, Gustavo Nazareno pondera sobre os atributos heterogêneos da identidade e sobre os contornos nebulosos de nossa experiência terrena enquanto confronta a persistência do colonialismo como narração.

 

 

León Ferrari em Buenos Aires

17/mai

Durante 2020, o Museu Nacional de Belas Artes, Buenos Aires, Argentina, apresentou uma série de ações, atividades, propostas virtuais e exposições para comemorar o centenário do nascimento de León Ferrari, o grande artista argentino.

Desde setembro de 2020, o site do museu veicula material audiovisual com depoimentos, documentário e publicações digitais, entre outras iniciativas dedicadas a evocar a vida e a obra do artista.

Em 17 de maio de 2023, a tão esperada exposição antológica “León Ferrari. Recorrências”, com curadoria de Cecilia Rabossi e Andrés Duprat. Inicialmente agendada para abril de 2020, a exposição teve de ser adiada devido à emergência mundial provocada pela pandemia de Covid-19.

Palavras de Andrés Duprat sobre León Ferrari

“Tive a alegria de ser seu amigo e conhecê-lo intimamente. Além de grande artista, era um homem de qualidades excepcionais, de imensa generosidade e de uma inteligência aguçada marcada por uma nobreza extraordinária. Era alguém absolutamente comprometido não só com o seu trabalho, mas com todos os que necessitavam da sua ajuda, promovendo jovens artistas, até ajudando financeiramente quem precisava. Estudioso, prolífico, solidário, dono de uma notável lucidez e senso de humor, às vezes feroz, sem amarras, típico do livre-pensador que era. A sua formação em engenharia deu-lhe método e rigor; nada é casual ou superficial nas suas obras, fruto de meditações amadurecidas, por vezes durante décadas, e trabalhos técnicos, artesanais cultivados obsessivamente até à perfeição.

Em sua carreira, ele colocou em jogo sua aptidão em vários ofícios. Artista multidisciplinar, foi pintor, gravador, desenhista, escultor, também um grande teórico e polemista. Ele se aventurou em outras disciplinas, como música, dramaturgia, produção cinematográfica e redação. Suas experimentações formais incluíam esculturas e cerâmicas; estruturas de arame concebidas como construções geométricas e desenhos abstratos; scripts transbordantes, transcrições e caligrafia; colagens, Brailles e assemblages que, ao colocarem em diálogo elementos díspares, geram novos significados, não sem humor e denúncia; plantas de arquiteturas paranoicas, desenhos de cidades impossíveis e planetas de poliuretano expandido, entre outras pesquisas. Foi definitivamente um humanista, uma personalidade contemporânea de estilo renascentista, interessado em tudo o que diz respeito ao homem e às suas circunstâncias”.

Fotografia: Adrian Rocha Novoa.

Barrio em exibição na Central Galeria

 

“O Sonho do Arqueólogo: …uma tênue linha inexistente…entre dois espaços…existentes…enquanto…que…opostos..a si…” será a primeira exposição de Artur Barrio na Central Galeria, Vila Buarque, Sâo Paulo, SP. A abertura acontece no próximo sábado, 20 de maio, das 11h às 17h.

Antes da arte, Artur Barrio desejou ser arqueólogo submarino. Hoje, o artista vive em um barco sobre as águas da Baía de Guanabara e produz de forma solitária. Esquematiza em diversos papéis a possibilidade de uma ideia, que não necessariamente será seguida; tais papéis, no entanto, acompanham-no na realização de cada trabalho. Produz diretamente nos espaços expositivos, sem espectadores.

Possibilita, dessa forma, acessar a reclusão tal qual o homem de Lascaux ou da Caverna de Cosquer, podendo, assim, produzir de forma que as noções de consciência e inconsciência deixam de fazer sentido. Ao mesmo tempo, com o experiente olhar de quem estuda a vida em sociedade, produz para apresentar ao público. Dispensa o valor de culto do homem primitivo e esgarça o campo do possível na arte contemporânea. Ainda que as sensações sejam reais, acessar o seu trabalho pode ser uma experiência quase onírica, surreal.

Para a Central Galeria, Barrio produz um monólogo cujo procedimento de elaboração, pela primeira vez, será realizado ao lado dos trabalhadores da galeria. Enquanto Barrio trabalha construindo a exposição, a equipe seguirá em seu trabalho cotidiano de escritório. Segundo o artista, ainda que seja definida uma linha invisível a separar os afazeres de equipe e artista, o processo não deixa de criar uma relação entre as partes pelo estorvo mútuo. O artista pretende ainda colocar em cena pó de café, luz baixa e um texto-lamento, transformando a galeria na caverna de um intelectual que deixa os rastros do gesto selvagem do laboro sobre uma pobre mesa e pelas paredes escritas à exaustão.

Presença brasileira na Biennale di Venezia

11/mai

A Galeria Simões de Assis anuncia a participação de Ayrson Heráclito na seleção de artistas para o Pavilhão brasileiro na 18ª Mostra Internacional de Arquitetura, La Biennale di Venezia.

Ayrson Heráclito é artista, professor e curador, suas obras transitam entre instalações, performances, fotografias, desenhos, aquarelas, esculturas e produções audiovisuais. Aborda em sua pesquisa as conexões entre o continente africano e as diásporas negras nas Américas.

O projeto Terra, curado por Gabriela de Matos e Paulo Tavares, irá ocupar o Pavilhão do Brasil em Veneza com uma mostra que busca realizar uma reflexão sobre o passado, presente e o futuro do Brasil, sob o enfoque da terra – solo, adubo, chão e território, mas também como elemento poético. O grupo de artistas conta também com a participação dos povos indígenas Tukano, Arawak e Maku, entre outros. A mostra abre no dia 20 de maio e permanecerá em cartaz até 26 de novembro.

 

Jarbas Lopes e curadoria de Catherine Bompuis

04/mai

 

A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta “Lua/Luta”, próxima exposição individual de Jarbas Lopes, com curadoria de Catherine Bompuis. A abertura acontece no próximo sábado, 06 de maio, das 17h às 22h.

 

A palavra da curadora

“O projeto Lua versus Luta abre um espaço de experimentação, jogo e risco que não impõe limites. Arte e vida aqui estão entrelaçadas e tudo parece ser construído caminhando, conversando, brincando, respirando: um processo de criação contínua. A pulsão de vida dirige as ações que se desenvolvem numa constante improvisação, ramificação e recusa de qualquer determinação que possa congelar a obra numa única direção. Performance, maquetes, esculturas, pinturas elásticas, projetos utópicos e desenhos parecem ser concebidos em um mesmo movimento onde o corpo ocupa o lugar central. Mais do que cada objeto tomado separadamente, são as relações tecidas entre os objetos e as ações, entre o individual e o social, que dão sentido à obra. Um ato de desafio que reafirma o direito à vida e a força do ato artístico. […] A vontade de transcender os limites clama por um outro mundo possível. […] Trata-se, portanto, de reinscrever simbolicamente o desejo e a consciência no corpo: Lua/Luta”

 

Artistas do papel no Museu Judaico

03/mai

 

Mostra reúne obras que utilizam o papel como suporte para diversas técnicas e destacam o protagonismo feminino no núcleo artístico.

O Museu Judaico, Bela Vista, São Paulo, SP, apresenta, a partir do dia 06 de maio (e até 13 de agosto), a exposição “Artistas do Papel: Obras colecionadas por Ruth Tarasantchi para o acervo do MUJ”, que reúne 32 obras de artistas mulheres judias feitas em papel em variadas técnicas, visando destacar a importância da presença de mulheres no núcleo artístico.

É a primeira mostra composta exclusivamente por obras do acervo do Museu. As peças foram coletadas por Ruth Sprung Tarasantchi, curadora e uma das fundadoras do Museu Judáico de São Paulo, que as recebeu como doações das próprias artistas ou de seus familiares, e trazidas à exposição em curadoria conjunta de Felipe Chaimovich.

Os conjuntos das obras tiveram sua organização pensada a partir de categorias de arte acadêmica, tais como retratos, cidades e paisagens, passando ainda por abstrações e também por um conjunto sobre temas da judeidade.

Felipe Chaimovich conclui: “A relevância das mulheres na formação deste acervo inaugural de arte indica a atenção do Museu para com uma história da arte plural e inclusiva, e que aproxime artistas menos conhecidas de autoras consagradas”.

Uma das artistas homenageadas no painel de abertura da exposição é a imigrante francesa Bertha Worms, cuja trajetória artística como primeira mulher a ser professora profissional de pintura em São Paulo no século XX foi estudada por Ruth Sprung Tarasantchi. Além de Bertha, a exposição traz obras de Fayga Ostrower (doadas por sua filha, Noni), Renina Katz, Gisela Leirner, Gerda Brentani, Hannah Brandt, Clara Pechansky, Miriam Tolpolar, Nara Sirotsky, Paulina Laks Eizirik, Agi Strauss e várias outras.

Ruth Sprung Tarasantchi, além de curadora e uma das fundadoras do MUJ, é também pioneira no tratamento de lacunas em exposições quanto a questões de gênero. Na mostra “Mulheres Pintoras”, em 2004 na Pinacoteca, evidenciou – no papel de curadora, a sub-representação de artistas mulheres nas coleções museológicas brasileiras.

 

Sobre o Museu Judaico de São Paulo (MUJ)

Inaugurado após vinte anos de planejamento, o Museu Judaico de São Paulo é fruto de uma mobilização da sociedade civil. Além de quatro andares expositivos, os visitantes também têm acesso a uma biblioteca com mais de mil livros para consulta e a um café que serve comidas judaicas. Para os projetos de 2023, o MUJ conta com o Banco Alfa e Itaú como patrocinadores e a CSN, Leal Equipamentos de Proteção, Banco Daycoval, Porto Seguro, Deutsche Bank, Cescon Barrieu, Drogasil, BMA Advogados, Credit Suisse e Verde Asset Management como apoiadores.

 

Adriana Coppio em Salvador

19/abr

 

A Alban Galeria, Salvador, BA, anuncia a exposição “Mãe da Lua” de Adriana Coppio, primeira individual da artista na galeria. Esta é também a primeira mostra da artista paulista (nascida em Taubaté, em 1978), na Bahia. “Mãe da Lua”, título que dá nome a uma das telas do conjunto, reúne cerca de 30 obras da artista, entre pinturas e desenhos, evidenciando o aprofundamento de repertório estético e temático de Adriana Coppio, ao longo de uma trajetória artística de mais de duas décadas de produção. A mostra será aberta no dia 27 de abril, permanecendo em cartaz até 27 de maio.

Parte de uma geração de artistas concentrada em São Paulo, nas décadas de 1990 e no início dos anos 2000, Adriana Coppio sempre chamou atenção para seu trabalho pelo fato de que, na contramão de seus parceiros e colegas de geração, a artista fincou seu interesse pela pintura figurativa desde o início de sua trajetória até os dias atuais, ao passo em que as questões ligadas ao cenário da arte de então pareciam pender para a pintura abstrata e, mais além, para obras conceituais, performáticas e afins.

A opção de Adriana Coppio por uma pintura figurativa, no entanto, em nada diminui a radicalidade com que a artista assume tal escolha. À primeira vista, é natural que o espectador se coloque diante de uma de suas pinturas e seja tomado por certo torpor ou desconcerto diante das paisagens, personagens e lugares criados pela artista. Desde o início de sua produção artística, Adriana Coppio nos apresenta e conduz até um Brasil – e para além dele -que nos remete o cânone de nossa pintura moderna, por exemplo.

 

Figuras híbridas

Suas paisagens e espaços (rurais e domésticos) frequentemente são habitados por figuras híbridas (entre humanos, objetos inanimados que parecem dotados de vida, como bonecas antigas e, ainda, outros seres não passíveis de classificação imediata, veloz). Se a modernidade foi responsável por nos agraciar com produções de geniais artistas como Guignard, Di Cavalcanti, Maria Martins – dentre tantos outros e outras figuras incontornáveis – Adriana Coppio traça uma implacável busca por céus de tons cáusticos, imprecisos entre habitarem a noite ou o dia. Se, lá atrás, a luminosidade dos trópicos serviu de motivo para pinturas e obras diversas de nomes variados, na obra de Adriana Coppio vemos um Brasil na via oposta da representação arquetípica e saturada com que fomos atravessados até aqui.  Nas palavras do curador José Augusto Ribeiro, que escreve um ensaio crítico que acompanha a exposição: “A começar por uma luminosidade fluorescente, artificial e quase radioativa que invade o espaço das telas, vinda detrás das figurações, intrometendo-se aos poucos, pelas frestas, entre os motivos da pintura, até chegar, às vezes sólida, chapada, ao primeiríssimo plano (…). Essa luz psicodélica que trespassa as imagens de Coppio sucede do modo como a artista prepara suas telas para a realização do trabalho, por meio de um preenchimento homogêneo do “fundo”, que sela a trama do tecido, com tinta acrílica nas cores amarelo, verde ou rosa.”

A partir das palavras de José Augusto Ribeiro, podemos destacar também o processo pictórico da artista, cujas telas são realizadas com tinta acrílica, notadamente um material menos maleável e que permite poucas (ou quase nenhuma) negociação entre o artista e sua obra, durante o ato da pintura. Pigmento de secagem veloz, a tinta acrílica aparece aqui, nas pinturas de Adriana Coppio, com impressionantes cargas de fluidez, a deslizar pela tela em pinceladas vastas, típicas de quem emprega em suas telas, ao contrário, a tinta a óleo. Tal virtuosidade chama atenção nas obras da artista, ainda que esta seja apenas um aspecto de sua singular e amplamente reconhecida produção visual.

 

Referências cinematográficas

Impressionam também suas referências que, advindas de naturezas distintas, conjugam universos diversos no plano da tela. Do cinema de David Lynch aos livros de folclore brasileiro, de sua vivência no campo desde o início de sua vida até o misticismo de obras literárias como “O Livro Vermelho”, do suíço Carl Jung, pai da psicologia analítica. Deste modo, Adriana Coppio nos convida a percorrer sua exposição como se estivéssemos a assistir a um filme, frame a frame (ou quadro a quadro), ainda que fuja da ideia de uma narrativa fechada ou hermética.

“Quando vou começar um trabalho tenho que me concentrar muito, me fechando no ateliê e acessando o que me faz querer ser artista, que é o material que engloba todo o meu repertório de interesses encontrado até hoje. Como ponto de partida, utilizo imagens oriundas de materiais que me interessam e que servem como uma ponte ou ferramenta para o que se encontra na minha mente. Podem ser fotografias variadas, da minha família, ou outras que eu mesma fiz para capturar algo que me surpreendeu e instigou em determinado momento e quis levar comigo de alguma forma, assim como emprego referências de filmes ou ilustrações de livros que me são preciosos e inspiradores, alguns desde a infância. Em suma, faço um grande quebra cabeças de imagens, passo a observá-las e investigá-las incessantemente, de modo a vê-las todas juntas e construir uma espécie de colagem mental que já é, em si, o início do processo de construção das pinturas”, afirma a artista.

 

7 artistas no MON

17/abr

 

Vale registrar que a exposição “Carne Viva – Ambiguidade da Forma”, realizada pelo Museu Oscar Niemeyer (MON), Curitiba, PR, reuniu o trabalho de sete artistas: Washington Silvera, Hugo Mendes, Eliane Prolik, Cleverson Salvaro, Cleverson Oliveira, Cíntia Ribas e Carina Weidle. Com curadoria de Bruno Marcelino e Jhon Voese, a mostra contou com 55 obras, além de textos poéticos de Arthur do Carmo, e poderá ser vista até 16 de abril na Sala 7.

“Temos aqui um feliz encontro de gerações de artistas paranaenses que têm forte ligação com o MON”, diz a diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer, Juliana Vosnika. “Cada um a seu modo, estes artistas transformam a matéria e produzem uma realidade diferente do que vemos no cotidiano. Usando os mais diversos materiais – desde os mais brutos como o concreto até os mais refinados como a laca polida, ou da cerâmica vitrificada até a imbuia esculpida -, fazem com que a forma, em seu sentido mais amplo, seja seu discurso”, comenta.

Segundo os curadores, a exposição oferece a oportunidade de revisitar a expressão “natureza da arte” e retomar sua pertinência. “Em vez de classificar os trabalhos mediante suas propriedades formais, ela descreve sensibilizações e reflexões possíveis, mas que escapam às determinações corriqueiras”, dizem. “Talvez seja esse o efeito da forma ambígua, cujo ânimo também percorre as palavras de Arthur do Carmo.”

Quatro gerações de artistas estão reunidas na mostra. A proposta é aproximar o público e demonstrar na prática a potência estética e política de cada discurso, que pode ser sutil ou mais explícita, mas está presente em cada obra. O visitante percebe que a maioria dos trabalhos é tridimensional, o que evidencia a intenção de permitir um diálogo da exposição com o espaço físico do museu. A mostra ocupou quatro ambientes, além da “antessala”, onde é apresentada uma instalação sonora assinada pelos artistas Eliane Prolik e Cleverson Salvaro.

 

Novo espaço de arte

13/abr

 

O Ateliê 31, é o novo espaço de arte contemporânea que anuncia sua inauguração à rua México, 31, (próximo à Cinelândia), Centro, Rio de Janeiro. Sua abertura promete ser pomposa pois traz um elenco categorizado formado por 29 artistas através da exibição coletiva “Quadrantes da Miragem”.

Quando: 22 de abril (sábado), das 11h às 17h, com curadoria de Shannon Botelho e a participação de 29 artistas contemporâneos.

 

Artistas participantes

Alexandre DaCosta, Alexandre Magno, Alexandre Murucci, Alexandre Rangel, Ana Durães, Andy Garcia, Beto Fame (foto), Bhagavan David, Carolina Amorim, Chico Fortunato (foto), Esther Barki (foto), Felipe Bardy, Fernanda Lago, Herbert de Paz, Kika Diniz, Laura Lydia, Lia do Rio, Marcelo Lago, Max Olivete, Myriam Glatt, Patrizia D’Angello, Paulo Campinho, Pedro Paulo Domingues, Pedro Varella, Raimundo Rodriguez, Renata Pedrosa, Suzana Queiroga (foto), Vera Schueler e Vinícius Carvas.

 

Revisão histórica do Brasil

 

O Centro Cultural Sesc Quitandinha, em Petrópolis, será inaugurado com uma exposição que repensa a história do Brasil a partir de obras de doze artistas negros, e uma programação de música, cinema, atividades para as crianças, oficinas e um seminário.

Os curadores Marcelo Campos e Filipe Graciano reuniram aproximadamente 40 obras, que ocuparão um espaço monumental de 3.350 metros quadrados, dos artistas Aline Motta, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Azizi Cipriano, Cipriano, Juliana dos Santos, Lidia Lisbôa, Moisés Patrício, Nádia Taquary, Rosana Paulino, Thiago Costa e Tiago Sant’ana, das quais seis comissionadas especialmente para a exposição. A mostra busca ainda refletir sobre a cidade de Petrópolis, conhecida como “imperial”, e que tem uma forte memória negra.

O Café Concerto do Centro Cultural Sesc Quitandinha, amplo teatro com capacidade para 270 pessoas, vai sediar a programação de música e de cinema. Os curadores são todos negros. A curadoria de música é do cantor, compositor, violonista e poeta baiano Tiganá Santana. A mostra de cinema terá como curador Clementino Junior, cineasta dedicado à difusão da obra audiovisual racializada. O grupo Pretinhas Leitoras, formado pelas gêmeas Helena e Eduarda Ferreira, nascidas em 2008 no Morro da Providência, no Rio de Janeiro, estará à frente das atividades infantis, que serão feitas na Biblioteca do Centro Cultural. Para ampliar a percepção do público das obras expostas, haverá oito oficinas e laboratórios, nos salões da exposição e nas Varandas. Flávio Gomes, pesquisador do pensamento social e da história do racismo, da escravidão e da história atlântica, será o curador das ações da linguagem escrita, literária e oral paralelas à exposição. Estão também sendo programadas performances com grupos artísticos da região.

No dia 15 de abril, às 19h, haverá um show de Juçara Marçal.

 

Revisões históricas no Brasil

O curador Marcelo Campos diz que passou a observar “o modo como os artistas negros lidam com o período das navegações”. “Este trauma, esta tragédia de nossa sociedade, exibidos nas documentações de maneira normalizada, com ilustrações de grilhões, correntes. Junto com os artistas, pensamos em como lidar com isso”, diz. “De que modo a arte lida com o imaginário do trauma da escravidão, da diáspora”. Ele menciona as pesquisas feitas pelo sociólogo inglês Paul Gilroy, estudioso da diáspora negra, e autor do livro “Atlântico negro” (1993), tema presente nos trabalhos, e lembra que a artista Rosana Paulino, em conjunto de trabalhos de 2016, chamou de “Atlântico vermelho”, em alusão a Gilroy, evocando a violência da escravidão e seus desdobramentos até os dias de hoje. Marcelo Campos conta que em aulas, bibliografias e várias ações, há “importantes revisões históricas no Brasil, com a inclusão de autoras e autores negros”. Enquanto nos anos 1990 os afro-americanos já “iam direto na ferida”, observa, no Brasil as iniciativas eram isoladas. As políticas públicas dos últimos 20 anos, entretanto, com as cotas para estudantes negros, “em que a UERJ foi pioneira”, e a penetração das universidades no interior do país, como Cariri e Recôncavo Baiano, propiciaram a que os negros passassem a ter acesso às diversas áreas de conhecimento. “Esta pressão obrigou a academia e os espaços de arte a se modificarem”. Dos doze artistas convidados, seis foram comissionados para criarem trabalhos especialmente para a exposição: Azizi Cypriano, Juliana dos Santos, Moisés Patrício, Pedro Cipriano, Thiago Costa e Tiago Sant’ana. O título “Um oceano para lavar as mãos” é retirado de um verso da música “Meia-noite”, composta por Chico Buarque e Edu Lobo para a peça “O Corsário do Rei” (1985), de Augusto Boal. “Este verso sempre me chamou a atenção na música. A ideia de limpar – que pode ter sentido de cura, de purificação, presente em obras como as de Ayrson Heráclito – ou de não se fazer nada a respeito”.

 

Petrópolis: Uma cartografia negra

Marcelo Campos destaca que a exposição busca também “repensar a cidade de Petrópolis”. Conhecida como cidade imperial, Petrópolis tem uma cartografia de presenças negras, tendo abrigado quilombos em várias regiões do município: Quilombo da Tapera, no Vale das Videiras – com uma comunidade quilombola reconhecida pela Fundação Palmares em 2011 – Quilombo Manoel Congo, Quilombo Maria Comprida, Quilombo da Vargem Grande, e, de acordo com pesquisadores, também no local onde em 1884 foi construído o Palácio de Cristal, no Centro.

Filipe Graciano, arquiteto e urbanista, idealizador do Museu de Memória Negra de Petrópolis, e coordenador de Promoção da Igualdade Racial do Município, conta que a expografia vai salientar a ideia de encontros contida nos múltiplos significados que a palavra oceano traz. “Independentemente de nossa história de apagamento, nosso país se revigora com a presença negra. Além do trauma e da tragédia impostos aos negros, o oceano traz uma perspectiva de encontro, de afeto, cura, cuidado e resiliência”, explica. “As obras dos artistas refletem este encontro de várias culturas, a diversidade cultural da África, na criação dessa memória que atravessa a vida como ela é”. Para ele, a exposição “revisita este apagamento, esses riscados que repensam e refazem essa memória, essa presença”. “A monumentalidade do espaço do Centro Cultural Sesc Quitandinha vai ao encontro da monumentalidade da existência negra no Brasil”, observa. Graciano assinala a importância do olhar curatorial negro, com artistas negros, para contar “outra história, que não a única no Brasil”. “A potencialidade das mãos, de lavar a história”. “A exposição é quase um ato de reparação histórica”, afirma, observando que o trabalho educativo dará uma contribuição para “repensar a memória da cidade”.