Na Marcelo Guarnieri

09/mar

A exposição coletiva apresentada na Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, explora os aspectos encontrados na produção de artistas que tratam do gênero “Natureza-morta”. A mostra não se dedica a traçar um compêndio de artistas que trabalham ou trabalharam com o tema, mas em realizar um recorte específico dentro da produção de Ana Sario, Eleonore Koch, Flávia Ribeiro, Gabriela Machado, Iberê Camargo e Masao Yamamoto. Através da interseção de práticas diversas – pintura, desenho, escultura e fotografia – são exibidos alguns caminhos e interpretações a partir da tradição pictórica.

 

 

Sobre os artistas e a exposição

 
A exposição se inicia com Iberê Camargo (1914 – Restinga Seca, RS, Brasil / 1994 – Porto Alegre, RS, Brasil) e seu interesse por objetos prosaicos – carretéis e dados – que aparecem nas obras do artista como o elemento central, tudo gira em torno dessa busca em esgotar a imagem, de trazer para o plano a memória de infância e dar aos objetos um privilégio de existência.

 

No mesmo sentido, Eleonore Koch (1926 – Berlim, Alemanha) toma como assunto prosaicas estruturas contemplativas – vasos, flores, mesas, cadeiras – com as quais, a artista sacraliza tais narrativas, como bem aponta  Theon Spanudis em correspondência com a artista: “(…) Eleonore sacraliza os objetos de uso diário. Contra a nossa mania profana de usar tudo como objeto de imediato consumo, ela reganha para o simples objeto sua dimensão sacral. Os amplos espaços sensíveis (que não são os espaços vazios e mortos dos matemáticos e cientistas), fazem parte integral de sua intenção de ressacralizar o objeto perdido no fluxo constante do consumo mecânico. Uma secreta poesia emana dos seus coloridos, objetos, configurações estranhas e seus espaços amplos e humanos.”

 

Flávia Ribeiro (1954 – São Paulo, Brasil) apresenta esculturas da série “Campos de acontecimentos e aproximações”, onde objetos de madeira e de bronze banhados a ouro são dispostos em cima de mesas de gesso. Uma composição onde a ordenação se dá pelos conjuntos de materiais com pesos, formas e funções díspares, todo o conjunto se aproxima de um desenho concebido no espaço, quase como um campo lunar.

 

Ana Sario (1984 – São Paulo, Brasil) exibe uma série de pequenas pinturas a óleo produzidas nos últimos meses, a escala diminuta do trabalho aproxima o espectador da imagem. A artista retrata com pincelada espessa um universo prosaico e interiorano – pato, árvore, varal, casa – há um embate entre a sutileza da cena retratada e a matéria densa da tinta. As pinturas se apresentam como frames de uma cena panorâmica.

 

Gabriela Machado (1960 – Joinville, SC, Brasil) tem realizado nos últimos anos esculturas em porcelana que, paralelo a produção pictórica, tem exibido seu interesse pela natureza em outras formas de execução. Os mesmos elementos encontrados nas pinturas aparecem nas esculturas – cor, gesto, camada – e principalmente a curiosidade da artista pelas possibilidades do material.

 

Masao Yamamoto (1957 – Gamagori, Japão) tanto na série “A Box of Ku” quanto “Nakazora” coloca em primeiro plano o ordinário, que se revela em sua produção sempre como algo de extrema importância. A partir de um olhar não ocidental o artista capta o que escapa aos olhos, o que sempre esteve lá e nunca foi percebido – penas, pedras, pratos são retratados com sutileza e poesia.

 

 

Até 30 de março.

Obras de Sergio Camargo

01/mar

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, e o Itaú Cultural (São Paulo) reafirmam sua parceria levando ao público mais uma exposição de grande relevância no cenário artístico nacional. A instituição em Porto Alegre inaugura exposição “Sergio Camargo: Luz e Matéria” com trabalhos de um dos mais importantes nomes das artes visuais do século XX no Brasil. Com curadoria de Paulo Sergio Duarte e Cauê Alves, reúne mais de 60 obras cedidas por colecionadores privados e outras integrantes do espólio do artista.

 

A exposição é um novo recorte da versão exibida no Itaú Cultural em São Paulo, entre novembro de 2015 e fevereiro de 2016, e Porto Alegre é a primeira cidade a recebê-la, após seu encerramento na capital paulista. Na Fundação Iberê Camargo, ocupará dois andares com trabalhos de grande formato e em menor dimensão; torres e relevos em formas que jogam com a luz e a sombra, esculpidos em mármore de Carrara branco ou em mármore negro belga, datadas entre as décadas de 1960 e 1980. O conjunto faz uma síntese das sucessivas experiências de Sergio Camargo, nascido em 1930 e falecido em 1990.
A itinerância de “Sergio Camargo: Luz e Matéria” para a Fundação Iberê Camargo é marcada ainda com o lançamento de um catálogo inédito publicado pela instituição gaúcha, contendo um registro fotográfico das montagens em Porto Alegre e em São Paulo. A publicação conta a trajetória do artista e apresenta imagens das obras expostas nas instituições, incluindo uma reprodução do último ateliê que pertenceu ao artista, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

 

 

A palavra da curadoria

 
Estamos, nesta exposição, no interior de um capítulo da história dos relevos e da escultura, na segunda metade do século XX, que revela a produção de um dos maiores artistas contemporâneos de matriz construtiva. A partir de 1963, depois das primeiras experiências figurativas, a obra de Sergio Camargo (Rio de Janeiro, 1930-1990) toma forma com a criação dos primeiros relevos brancos em madeira. O jogo das seções de cilindros, dispostos sobre a superfície plana, oferece uma experiência inédita entre luz e matéria. A composição faz com que cada forma adquira uma fisionomia diferente ao longo do dia, quando exposta ao ar livre, por exemplo – distante da iluminação fixa de museus e salas de exposição.

 

Uma observação atenta nos leva a perceber que nem todos os relevos estão submetidos à ordem caótica da aleatoriedade. Em alguns, o projeto anterior à disposição dos “tocos” – como o artista os chamava – se manifesta com clareza, e é possível notar os desenhos. No entanto, a certeza de ordem também se encontra nos relevos aleatórios, já que neles os mesmos módulos se repetem numa lógica recursiva. Esses elementos podem tomar grandes dimensões, sendo dispostos aos pares sobre a superfície, como se amplificassem a potência dos relevos. São as chamadas “trombas”.

 

Simultaneamente à criação dos relevos, o artista se dedicou à elaboração das esculturas em mármore de Carrara, às quais, no início da década de 1980, foi incorporada a produção em mármore preto, o negro belga. A matriz cilíndrica permanece presente em parte dessas esculturas, que agora são submetidas a diferentes investigações de ângulos de corte, de contração e de dilatação. Surgem também as seções de cubos e de paralelepípedos, cortados em ângulos e justapostos numa ordem que se impõe de modo incomum e original.

 

Essa obra, que conviveu com tantas transformações na arte, manteve-se fiel à herança moderna. Segundo Charles Rosen – pianista e um dos mais relevantes musicólogos do século XX –, o que caracteriza o estilo clássico na música é a coerência e a unidade de sua linguagem. Num exercício de transposição para as artes visuais, podemos dizer que, ao entrar em contato com o trabalho de Sergio Camargo, estamos diante de um clássico contemporâneo.

 

 

De 03 de março a 12 de junho.

Natureza franciscana

26/fev

O MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque do Ibirapuera, Av. Pedro Álvares
Cabral, s/nº – Portão 3, São Paulo, SP, apresenta a exposição “Natureza franciscana”, uma noção contemporânea da relação colaborativa entre o ser humano e a natureza. Com curadoria de Felipe Chaimovich, a mostra é organizada a partir das estrofes do “Cântico das Criaturas”, canção escrita por Francisco de Assis, provavelmente entre 1220 e 1226, reconhecida como texto precursor das questões referentes à ecologia.

 

Para contemplar a linha de arte e ecologia, o curador selecionou artistas que utilizam elementos da natureza em suas produções, reunindo 18 obras da coleção do museu somadas a 19 empréstimos, totalizando 37 trabalhos que são exibidos em diferentes suportes como fotografia, desenho, gravura, vídeo,  livro de artista, instalação, obra sonora, objeto, escultura e bordado. “As obras originam-se de relações com os elementos descritos no Cântico: sol, estrelas, ar, água, fogo, terra, doenças e atribulações e, por fim, a morte”, explica Chaimovich, um estudioso da obra de Francisco de Assis há 15 anos.

 

 

Sobre a exposição

 

Dividida conforme os elementos citados na canção” Cântico das Criaturas”, de Francisco de Assis, a mostra começa com o sol representado pela fotografia em cores “Lâmpada”, de 2002, da artista Lucia Koch, ao lado das fotografias em preto e branco “The celebration of light”, de 1991, de Marcelo Zocchio, e dos 12 livros da série “I got up”, 1968/1979, do japonês On Kawara.

 

O elemento água é tematizado pelas fotografias “A line in the arctic #1” e “A line in the arctic #8”, 2012, do paulistano Marcelo Moscheta, e pelas obras relacionados ao projeto Coletas, da artista multimídia Brígida Baltar, que incluem imagens da série “A coleta da neblina”, entre 1998 e 2005, cinco desenhos em nanquim sobre papel de 2004, a escultura em vidro” A coleta do Orvalho” de 2001 e o vídeo “Coletas” de 1998/2005.

 

Em contraponto, o fogo é simbolizado pelo vídeo “Homenagem a W. Turner”, de 2002, de Thiago Rocha Pitta, e pelos vestígios de fumaça sobre acrílico e sobre papel feitos pela escultora e desenhista Shirley Paes Leme. O elemento ar fica a cargo da escultura “Venus Bleue”, do artista francês Yves Klein. As estrelas são apresentadas por meio de sete fotografias do alemão Wolfgang Tillmans. Representando a terra, são expostas 30 caixas de papelão cheias de folhas e galhos de árvore embalados em plástico, papelão e fotografias em cores, instalação feita em 1975, por Sérgio Porto, além do relevo em papel artesanal, de 1981, de Frans Krajcberg.

 

As doenças e atribulações são tematizadas pela instalação “Dis-placement”, 1996-7, de Paulo Lima Bueno: numa sala com mobiliário, frascos de remédio, rosas, lona, giz e tinta, o artista demonstra os caminhos percorridos por ele para alcançar e tomar todos os remédios para combater os efeitos da Aids, antes do surgimento dos coquetéis anti-HIV. A artista “Nazareth Pacheco” exibe série de fotografias em preto e branco, de 1993, que mostram a malformação congênita do lábio leporino, dentes, raio-x e objeto de gesso.
Por fim, a morte é representada pelo último tecido bordado por José Leonilson antes de falecer, em 1993. Permeando a exposição, a instalação sonora “Tudo aqui”, de 2015, da artista Chiara Banfi, alcança todo o espaço expositivo e abrange todos os elementos representados.

 

 

A palavra do curador

 

Francisco de Assis pode ser considerado fundador da ecologia. Para ele, o ser humano tem uma relação de colaboração com os elementos naturais: a natureza não é subordinada aos interesses humanos. Embora o ser humano se posicione como uma parte singular da natureza, os demais elementos devem ser tratados por nós como membros de uma só família universal.

 

Francisco de Assis escreveu uma letra de música com suas ideias: o “Cântico das Criaturas”. Desde jovem ele cantava trovas de amor em francês. Nos últimos anos de sua vida, escreveu o “Cântico” na língua de sua terra natal, na Itália; nele, os diversos elementos naturais e as fases da vida são acolhidos como irmãos e irmãs.

 

Depois da morte de Francisco de Assis, em 1226, os Franciscanos incentivaram um novo olhar para o universo, enxergando nele traços de uma mesma geometria que uniria o pensamento humano aos elementos naturais. Os Franciscanos incentivaram a descoberta da perspectiva a partir dos estudos da geometria da luz e, assim, o nascimento da arte fundada no desenho em perspectiva.

 

Reunimos aqui artistas que colaboram com elementos da natureza e da vida em seus trabalhos. As obras estão agrupadas conforme as partes do “Cântico” de Francisco de Assis: sol, estrelas, ar, água, fogo, terra, doenças e atribulações, morte. A relação entre arte e ecologia torna-se evidente ao compreendermos a posição fundadora de Francisco de Assis em nossa cultura.

 

Artistas convidados: Lucia Koch, Marcelo Zocchio, On Kawara, Marcelo Moscheta, Brígida Baltar, Thiago Rocha Pitta, Shirley Paes Leme, Yves Klein, Wolfgang Tillmans, Sérgio Porto, Frans Krajcberg, Paulo Lima Buenoz, Nazareth Pacheco, José Leonilson e Chiara Banfi.

 

 

De 27 de fevereiro a 05 de junho.

Mestres santeiros paulistas

16/fev

Apresentando a coleção de Ladi Biezus, a exposição propõe uma análise aprofundada nas características escultóricas das peças, no intuito de desvendar quem eram os mestres santeiros por trás dessa rica produção artística, no estado de São Paulo. O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS-SP, Luz, São Paulo, SP, equipamento da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, abre a exposição “Mestres Santeiros Paulistas do Século XVII na Coleção Santa Gertrudes”, com curadoria de Maria Inês Lopes Coutinho. Composta por 54 imagens, a coleção de Ladi Biezus é exposta no MAS-SP, lançando um olhar panorâmico para entender, utilizando as características escultóricas, quantos e quais poderiam ser os artistas que produziram tais esculturas chamadas de “paulistas”, ao longo do século XVII.

 

Iniciada em 1970 com a aquisição de uma Santa Gertrudes – daí o nome da coleção -, as obras foram sendo incluídas neste acervo sob o critério fundamental de serem imagens “paulistas”. Mais de 45 anos depois, Ladi Biezus inicia uma pesquisa no intuito de separar as peças de acordo com traços em comum, os quais poderiam identificar e agrupar as esculturas conforme suas origens: Frei Agostinho de Jesus e seu círculo espiritual; Mestre de Sorocaba ou Mestre de Porto Feliz, ou ainda nomeado como Mestre de Itu; Mestre de Angra; Mestre do Cabelinho Xadrez; Mestre de Iguape ou Mestre de Pirapora do Bom Jesus, e no fim do século XVII, Mestre Bolo de Noiva. Ainda há um grupo com características diversas, não comuns, que até o presente não puderam ser identificadas em sua autoria. “O importante na exposição desta coleção é a classificação proposta pelo colecionador”, segundo Maria Inês Lopes Coutinho.

 

De acordo com Ladi Biezus: “Pelo menos a metade das imagens desse Agrupamento, tanto teriam sido executadas pelo próprio Frei Agostinho em diferentes épocas de sua vida, como poderiam ter sido executadas por discípulos trabalhando sob sua direção. Este fato reforça a ideia de não serem tão numerosos os artistas relevantes da época”.

 

Para o Museu de Arte Sacra de São Paulo -– MAS-SP, é com satisfação que esta interessante coleção é apresentada ao público. Nas palavras de José Carlos Marçal de Barros, Diretor Executivo do MAS-SP, e de José Oswaldo de Paula Santos, Presidente do Conselho de Administração: “No silêncio de sua casa, Dr. Ladi Biezus reuniu, observou, percebeu detalhes e interagiu com sua coleção, como só um colecionador sabe e pode fazer, abrindo-a agora para uma discussão profícua acerca de seus significados”.

 

 

 

De 20 de fevereiro a 29 de maio.

Exposição e bate papo

26/jan

A Galeria TATO, Vila Madalena, São Paulo, SP, convida para um bate papo no dia 30 de janeiro, sábado, às 16:00h, com o artista Luiz83 e o curador Paulo Gallina sobre a exposição “ Z”.

 

A mostra reúne esculturas em bronze recentes e inéditas do artista. Como uma linha se transforma em palavra? Como um texto reproduz o mundo? Ao apresentar as pesquisas de Luiz83 procuramos explorar o universo dos símbolos por trás daquilo que conhecemos em nosso cotidiano.

 

Com uma pesquisa que começa com “GRAPIXO”, manifestação típica da
capital paulista, Luiz83 transforma o signo das letras em imagem e intenção. Como se o exercício da caligrafia nada mais fosse do que o exercício em desenho. Na reunião e sobreposição das formas Luiz cria ritmos, sensações sem escrever uma só palavra.

 

 

De 30 de janeiro a 06 de fevereiro.

Afrodescendentes na Pinacoteca

18/jan

A Estação Pinacoteca, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, SP, exibe a exposição “Territórios: Artistas Afrodescendentes no Acervo da Pinacoteca”, que celebra os 110 anos da instituição e apresenta ao público importantes obras assinadas por artistas brasileiros afrodescendentes. A mostra apresenta um olhar singular que pretende dar visibilidade a essa coleção ao mesmo tempo em que valoriza o legado destes artistas.
A proposta do curador é retomar as grandes contribuições da Pinacoteca para a historiografia da arte brasileira introduzida na gestão de Emanoel Araújo (1992 – 2002), primeiro diretor negro da Pinacoteca do Estado, por isso apresenta parte do núcleo de artistas afrodescendentes da Instituição, acrescida de novas aquisições.
São 106 obras entre pinturas, gravuras, desenhos, esculturas e instalações que traçam perfis diferentes da produção artística de afrodescendentes no Brasil do século XVIII até hoje. As obras estão divididas em três conjuntos e dispostas de acordo com a familiaridade dos temas ou territórios: Matrizes Ocidentais, Matrizes Africanas e Matrizes Contemporâneas. Sem preocupação cronológica, a exposição aventa a possibilidade de compreender a produção e a inserção destes artistas na coleção da Pinacoteca assim como no circuito estabelecido em seu contexto.
Entre os trabalhos em exposição está o “Autorretrato” produzido em 1908 por Arthur Timótheo da Costa, doado em 1956, ou seja, 51 anos após a inauguração da Pinacoteca – a primeira obra de um artista negro. Mestre Valentim, Antonio Bandeira, Rubem Valentim, Jaime Lauriano e Rosana Paulino também estão entre os artistas que compõem a mostra. Destaque ainda para a obra de Rommulo Vieira Conceição adquirida em novembro pelo Programa de Patronos da Pinacoteca, que começou em 2012 e hoje já soma 72 casais apoiadores.
“Com a entrada para o acervo da Pinacoteca dos primeiros trabalhos de jovens artistas brasileiros afrodescendentes, surgiu a ideia de formular uma exposição que os articulassem em relação àqueles já existentes no acervo. Seria uma estratégia para a Instituição refletir sobre parte de sua história e, ao mesmo tempo, rever obras produzidas por artistas afrodescendentes já existentes no acervo, à luz dos recém-chegados”, explica Chiarelli.
A mostra segue em cartaz até 17 de abril de 2016 no quarto andar da Estação Pinacoteca – Largo General Osório, 66.

Escultor francês na Bahia

16/jan

Depois do grande sucesso em Ouro Preto (Patrimônio Mundial da Unesco), e em Belo Horizonte, o Palacete das Artes (equipamento vinculado ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural/Secretaria de Cultura) receberá no dia 19 de janeiro, às 19h, a exposição “Lendas e Aparições”, do artista francês Daniel Hourdé.

 

De qualidade excepcional, a mostra contará com esculturas em bronze e aço que descrevem o corpo humano com detalhes meticulosos, além de vigorosos desenhos feitos em carvão sobre papel e instalações. As obras são representadas pela Galerie Agnès Monplaisir (Paris/França).

 

“Lendas e Aparições” ficará em cartaz em Salvador até março, depois, seguirá para o Rio de Janeiro.

 

Sobre o artista

 

Daniel Hourdé nasceu em 1947 em Boulogne, França. Estudou na Escola de Belas Artes de Grenoble (cidade universitária localizada no sopé dos Alpes) e, em seguida, continuou a sua formação na Escola de Belas Artes de Paris, cidade onde vive e trabalha.

 

 

De 19 de janeiro a 16 de março.

Farnese, melhores do ano

07/jan


A mostra “Farnese de Andrade – arqueologia existencial” realizada na CAIXA Cultural Brasília e CAIXA Cultural São Paulo foi indicada como uma das pelo programa de televisão “Metrópolis” – um programa da TV Cultura, como uma das 10 melhores mostras de 2015 e pelo Guia da Folha de São Paulo ao Prêmio Melhores do Ano de 2015 na categoria Exposições e anteriormente pela revista Veja como a primeira das cinco melhores mostras de Brasilia.

 

 

 

Sobre a exposição

 

 
A exposição apresentou obras de Farnese de Andrade (1926-1996), provenientes de coleções públicas e particulares, além do acervo familiar. Com curadoria de Marcus de Lontra Costa, um dos mais respeitados e engajados curadores do Brasil o projeto “Farnese de Andrade – arqueologia existencial” se constitui na primeira exposição itinerante póstuma em sua homenagem e já foi contemplado com Patrocínio da CAIXA através de Edital Público de Patrocínio CAIXA e apresentado na Caixa Cultural Brasília (2014/2015) e Caixa Cultural São Paulo (2015). A mostra abrangente e de qualidade curatorial única, reuniu as obras mais representativas de sua trajetória artística, privilegiando a produção do artista ao longo de mais de 30 anos.

 

 

Além de obras, foram apresentados material iconográfico e documental, uma cronologia ilustrada, textos críticos, fotos e vídeos sobre sua trajetória artística. A produção ficou a cargo de Anderson Eleotério e Izabel Ferreira – ADUPLA Produção Cultural -, que tem em seu curriculo mostras de importantes artistas, como: Antonio Bandeira, Debret, Manoel Santiago, Di Cavalcanti, Emeric Marcier, Carlos Scliar, Carybé, Cícero Dias, Henri Matisse, Raymundo Colares, Aluísio Carvão, Bandeira de Mello, Almir Mavignier, Athos Bulcão, Milton Dacosta, Mário Gruber, dentre outros.

 

 

A equipe produtora A Dupla Produção Cultural Ltda veio a público agradecer a todos os envolvidos nesse processo, em especial a realizadora CAIXA Cultural, ao herdeiro Atabalipa de Andrade Filho, aos familiares Marcelo de Andrade, Marcelo Sharp de Freitas, Mauricio Carvalho de Andrade, Murilo Sharp de Andrade e Yrys Albuquerque, e aos colecionadores Diógenes Paixão, Dominga Gomes Barbosa, Elio Scliar, Elizabeth e Jorge Fergie, Eunice de Medeiros Scliar, Fernanda Feitosa e Heitor Martins, Gotffried Stutzer Junior, Isa Gontijo e Nicola Calicchio, Jones Bergamin, Paulo Darzé, Luis Alberto Barbosa, Sebastião Aires de Abreu, ao cineasta Olívio Tavares de Araújo e ao curador Marcus de Lontra Costa. Afirmando ainda que “…Nosso trabalho em parceria com os herdeiros de tão importantes artistas, visa o enriquecimento e resgate da memória artística nacional, promovendo o acesso do público aos bens culturais de forma democrática e igualitária. Por fim, agradecemos a patrocinadora CAIXA ECONÔMICA FEDERAL pelo incentivo constante aos nossos projetos, pois, para nossa produtora é uma honra manter essa profícua parceria com a Insitituição Cultural que mais democratiza a arte em território nacional”.

Caixa Cultural Curitiba

06/jan


A CAIXA Cultural Curitiba, Centro, Curitiba, PR, inaugura a exposição “A VIAGEM PITORESCA – Bruno Miguel”. Com curadoria de Bernardo Mosqueira, a mostra reúne parte da produção mais recente de Bruno Miguel, com algumas das obras mais representativas de sua trajetória artística que foca na investigação sobre a pintura, o universo doméstico, a lógica do consumo e o imaginário pop. A mostra inédita, que apresenta resultados de um artista que está experimentando a pintura no mundo contemporâneo, visa nos introduzir a uma parte importante desse pensamento que mescla referências das chamadas alta e baixa culturas.

 

 

A exposição apresenta a linguagem única e singular do artista, de forma a mostrar sua personalidade e trajetória fundidas com as fases de sua obra. Bruno Miguel desenvolve desde 2004 sua pesquisa em torno da construção e da representação da paisagem na contemporaneidade. Atuante em diversas linguagens, o mesmo elege a pintura como tema principal de sua rotina obsessiva de produção. Nos últimos anos as questões acerca da paisagem começaram a dar lugar a uma investigação maior da pintura como linguagem e suas interfaces na vida cotidiana contemporânea. Mas acima de qualquer retórica que Bruno desenvolva para justificar suas opções, a verdadeira força de sua pesquisa está no trabalho. Não na obra em si, mas na labuta do atelier, onde sua curiosidade e inquietação fazem com que sua pintura se mantenha em transformação. Onde suas compulsões buscam erros ansiosos por soluções imprevisíveis, tão generosas que se escondem por trás do deslumbre banal das imagens fáceis. Sua pesquisa é um tipo de pós-pop periférico, sempre relacionando alta e baixa cultura. Uma maquiagem vulgar e exuberante que superficialmente disfarça sua condição de eterna busca pela beleza. Não da pintura, mas do pintar.

 

 

Desde 2006, o artista vem reunindo louças, porcelanas, tapeçarias, tecidos inusitados e antiguidades em leilões e antiquários, tanto pela internet quanto pela cidade do Rio de Janeiro. Tudo isso poderia se tornar parte de alguma das muitas coleções que Bruno mantém em sua casa, mas não. Somados às telas, tintas, à uma pesquisa radical, um extenso repertório imagético e a uma rara capacidade de experimentação técnica do pintar, esses materiais coletados por Bruno Miguel se tornam pintura. Como o próprio artista diz: “A história desses suportes e materiais é tão importante quanto a que será construída no atelier. O resultado dessas transformações é mostrado como uma grande instalação pictórica, relacionando a pintura e o espaço, o artista e o mundo.”

 

 

Conjuntos de pratos e tapetes decorativos de origens diversas serão suportes inesperados para grandes pinturas. Tais quais tecidos estampados reunidos, transformados em telas. Nesses trabalhos, vemos imagens originadas de estampas de camisetas dos anos 80, embalagens de chiclete, letreiros de propaganda, antigos anúncios de TV, publicidade socialista, personagens atuais da internet e referências diretas ou indiretas às ideias de paisagem e de natureza morta.Telas, objetos, tapetes, pratos e louças são elementos heterogêneos porém extremamente coerentes na proposta de montagem pensada especialmente para a galeria da CAIXA Cultural Curitiba, pois criam uma paisagem lúdica que remete à narrativa fantástica da paisagem pintada ganhando vida no plano do real.

 

 

Bruno Miguel parte do entendimento da pintura como linguagem híbrida, fluída, é o que torna impossível limitá-la à tradição e antigos dogmas. A pintura contemporânea tem vocação para o protagonismo desde que entenda suas interfaces com outras linguagens. As obras escolhidas para essa “instalação pictórica visual” tem uma relação direta com a memória colonial brasileira. O gênero de pintura escolhido como foco nos últimos anos pelo artista é a natureza morta, exercício obrigatório nas academias, historicamente bem representada pelos grandes mestres. Pratos, louças, porcelanas, tapeçarias, tecidos, azulejos, garrafas, copos, tigelas, enfim, todo o repertório já imortalizado nas composições do gênero, aqui se tornam antagonistas à ação da pintura. A tinta, a forma, os procedimentos, mesmo que aparentemente, pareçam esculturas, desenhos ou objetos, neles o artista apenas enxerga exercícios de pintura, além da pintura.

 

 

Segundo o curador Bernardo Mosqueira: “Entendemos a necessidade da circulação do pensamento e a ampliação do campo de discussão dos limites da linguagem e do circuito, tanto no que se refere à arte contemporânea quanto às suas possibilidades de comunicação com o espectador. A pintura para além do campo ampliado da tela é o “leit motiv” dessa exposição. Bruno Miguel busca apresentar em suas obras questões além dos dogmas da representação clássica com as novas possibilidades técnicas e de conceitos desenvolvidos, tanto no circuito, quanto nas salas das principais escolas de arte do Brasil. Nossa intenção com essa mostra é proporcionar através de oposições simples de símbolo, signo e significado um campo de discussão interessante entre obra e espectador.”

 

 

Bruno Miguel é um dos artistas contemporâneos mais atuantes de sua geração e já expôs em diversos museus e galerias do Brasil, Chile, Bolivia, Argentina, Colômbia e EUA. Premiado nacional e internacionalmente, possui obras em coleções públicas e privadas, como MAM RJ, MAR RJ e Deutsche Bank Collection. Artista representado pela Galeria Luciana Caravello Arte Contemporânea no Rio de Janeiro.

Filho de imigrantes portugueses e moçambicanos radicados no Brasil, fruto de uma história familiar de altos e baixos financeiros, pintor formado pela Escola de Belas Artes da UFRJ e, desde 2010, professor de pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, a partir da Ilha do Governador onde cresceu, pensa o mundo através de suas pinturas. Esse artista lê e constrói o mundo por aquilo que habita o imaginário de uma especial geração brasileira que se formou de maneira global, sendo nutrida e inundada por imagens urbanas em movimento, pela MTV com seus videoclipes, a Hollywood barata da sessão da tarde, McDonalds e seus McLanches felizes, letreiros brilhantemente encardidos, Fanta Laranja, pasta de dente de ursinho, Sonic, Mario Bros, Cavaleiros do Zodíaco, fitas piratas de videogame, Super Xuxa contra o Baixo Astral, Woopi Goldberg e sua “Mudança de hábito” em São Francisco que poderia ser o Queens, o Bexiga ou a Ilha do Governador.

 

 

Bruno Miguel apropria em uma das séries apresentadas na mostra, citações de músicas populares brasileiras ou internacionais e traduz a estética pop urbana do grafite e da pichação pra pintura contemporânea utilizando técnica minuciosa. O humor, o tom kitsch latino de Don Juan depois da linha do trem, a forte densidade conceitual e o cuidadoso apreço pelo resultado estético, além de uma crítica social feita a partir do próprio núcleo objeto dessa crítica, são dados importantes na produção de Bruno Miguel.

 

 

Sendo parte relevante e representativa de uma especial geração de jovens artistas brasileiros, Bruno Miguel apresenta essa exposição em Curitiba que carrega forte apelo visual e é uma importante amostra da ponta da experimentação das possibilidades do pintar hoje: conjugando alta cultura e baixa cultura, erudito e popular, cavalete do ateliê e muro da rua, história e agora, arte e vida, artifício e natureza, construção e paisagem.

 

 

Por tratar-se de uma exposição de um artista contemporâneo o público está convidado à novas sensações e análises, re-significando o caráter restritivo dos demais centros culturais, mantendo a CAIXA como principal incentivadora de arte contemporânea, através do pioneirismo na apresentação de novas mídias e seus respectivos artistas atuantes, já que a mostra vai de encontro à tendência de fusão de mídias na arte contemporânea, reunindo no mesmo espaço expositivo diferentes tipos de suporte, como: instalação, pintura, objetos, esculturas e tecnologia sonora/visual, interferindo visualmente na galeria e interagindo diretamente com o público.

 

 

A produção da mostra está a cargo de Anderson Eleotério e David Motta – ADUPLA Produção Cultural, empresa que vem realizando importantes exposições itinerantes pelo Brasil, como: Athos Bulcão, Farnese de Andrade, Milton Dacosta, Cícero Dias, Di Cavalcanti, Raymundo Colares, Bandeira de Mello, Carlos Scliar, Debret, Aluísio Carvão, Mário Gruber, Abelardo Zaluar, Antonio Bandeira, Manoel Santiago, Nazareno, Bruno Miguel, Analu Cunha, Denise Cathilina, Cezar Bartholomeu, Regina de Paula, entre outras.

 

 

 

Sobre o artista

 

 

Bruno Miguel nasceu no Rio de Janeiro, em 1981, cidade onde vive e trabalha. Formou-se em artes plásticas e pintura pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2009. Fez diversos cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Em 2007, realizou a exposição “Homenagem à pintura contemporânea”, sua primeira individual, na Vilaseca Assessoria de Arte, Rio de Janeiro. Recebeu Menção Honrosa Especial na V Bienal Internacional de Arte SIART, em La Paz, Bolívia, também em 2007. No mesmo ano, ganhou bolsa da Incubadora Furnas Sociocultural para Talentos Artísticos. Participou da exposição “Nova Arte Nova”, apresentada no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, em 2008, e em São Paulo, no ano seguinte. Em 2009, participou novamente da Bienal de La Paz, e da mostra “Nouvelle Vague”, na galeria Laura Marsiaj Arte Contemporânea. Em 2010 participou das mostras “Tinta Fresca”, na galeria Mariana Moura em Pernambuco, do Salão de artes de Itajaí, e da mostra “Latidos Urbanos” no MAC – Museu de Arte Contemporânea de Santiago, Chile. Realizou, no Rio de Janeiro, as exposições individuais “Spring Love”, no Largo das Artes, em 2010, e “Have a Nice Day!”, na Luciana Caravello Arte Contemporânea, em 2011. Neste ano, também participou das mostras “Nova Escultura Brasileira”, na Caixa Cultural, Rio de Janeiro, e “Fronteiriços”, nas galerias Emma Thomas, São Paulo, e Luciana Caravello Arte Contemporânea. Em 2012, participa das mostras “Novas Aquisições – Gilberto Chateaubriand”, no MAM, Rio de Janeiro, e “Gramática Urbana”, no Centro de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro, além da Individual “DVCO, NON DVCOR”, na galeria Emma Thomas, em São Paulo. Em 2013 apresentou em dupla com Alessandro Sartore a exposição “Ex-culturas” no Museu da República. Em Nova Iorque, apresentou a individual “Make Yourself at Home”, na S&J Projects, além de participar das coletivas “Sign of the Nation” e “Etiquette for a Lucid Dream”, em Newark. Ainda nesse ano apresentou a individual “Tudo posso naquilo que me fortalece” na galeria Luciana Caravello e “Todos à mesa” na galeria Emma Thomas em São Paulo. Em 2014, participa da coletiva Encontro dos mundos e Tatu: Futebol, Adversidade e Cultura da Caatinga no MAR – Museu de Arte do Rio de Janeiro. Em 2015, participou da “Trio Bienal” no Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro e realizou a individual “Sientase em casa” na Sketch Gallery em Bogotá, e as mostras “A cristaleira” no Oi Futuro Flamengo – Rio de Janeiro e “Essas pessoas na sala de jantar” no Paço Imperial Rio de Janeiro. Vem atuando como curador junto a um grupo de jovens pintores, no projeto Mais Pintura desde 2013. Deu aulas, em 2010, na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e é professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage desde 2011.

 

 

 
A palavra do curador Bernardo Mosqueira

 

A Viagem Pitoresca de Bruno Miguel

(ao meu amor)
(a Moçambique, ao pardal e ao riso)

 

 

Uma andorinha pode viver entre 8 e 20 anos, de acordo com a espécie à qual pertença. Elas passam mais tempo do dia voando do que pousadas, para caçar os cerca de 200 insetos que precisam diariamente para se alimentar. Esses animais fazem seus ninhos com gravetos, barro, penas e até com a própria saliva, seja na natureza ou em edificações como telhados, postes e caixas de correio. Símbolos das grandes viagens, antes do começo do inverno elas migram para lugares mais quentes e com mais alimentos e depois retornam cantando e para anunciar a Primavera.
Se colocarmos Bruno Miguel na perspectiva das andorinhas, seus insetos são pintura. Seus voos para caça são pintura. As árvores, os telhados, os gravetos, o barro, as penas e a própria saliva de Bruno são pintura. As grandes viagens migratórias e a primavera são pintura. Já o Inverno é para os outros. Na exposição “A Viagem Pitoresca”, reunimos trabalhos de Bruno Miguel produzidos entre os anos 2005 e 2015, pertencentes a diversas séries com pesquisas, processos e faturas muito distintos, mas que têm em comum a gênese na pintura como instrumento de relação entre Bruno e o mundo. Da perspectiva obsessiva de Bruno, o mundo e a pintura se misturam de forma a ser difícil descobrir quem serve a quem.
Em Portugal sempre houve diversas espécies de andorinhas, mas elas se cristalizaram um dos símbolos da identidade do país quando as cerâmicas de Rafael Bordalo Pinheiro, representando essas aves, se popularizaram, no início do século XX. Elas foram reproduzidas, copiadas, transformadas e inspiraram diversas outras andorinhas de porcelana e faiança para serem expostas dentro e fora das casas. A banalidade e a inegável sedução ou carisma desses objetos fazem com que possamos defini-los como produtos kitsch.
O Kitsch tem como características o exagero, o culto e o cálculo da beleza, a intensidade e a rapidez no afetar e a anulação dos limites entre a Alta Cultura e o dia-a-dia. Cópia, adaptação, falsificação, edição e citação são seus procedimentos principais, e a sensação imediata junto a um objeto kitsch é a de que não é preciso esforço intelectual para sua fruição – sem necessidade de distância, sublimação e reflexão. Porém, um olhar mais desenvolvido é capaz de perceber criticamente a presença de uma possível complexidade. Por exemplo, o Kitsch espelha e manipula os sentimentos e a realidade utilizando gradações de banalidade como algo positivo na criação de um discurso. Se o conteúdo for transformador isso pode ser poderoso, afinal: “por que não falar a língua de todo mundo?”.
Nos trabalhos presentes em “A Viagem Pitoresca” há, nos títulos e nas próprias obras, citações e homenagens a importantes artistas e trabalhos da história da arte e da pintura, mas há também referências ao carnaval, à cultura pop, ao cotidiano dos subúrbios, à música popular e ao ambiente doméstico ou familiar. Isso se dá não apenas nas ideias e conceitos, mas também pelos materiais e técnicas utilizados.
Outra característica dos trabalhos de Bruno Miguel é o humor por vezes escrachado, tão potente e sem limites quanto seus usos da pintura. Com o humor, Bruno retira a seriedade e a aura das coisas e as amalgama para deixar claro que, no mundo, tudo tem o mesmo destino. No caso, não a morte ou o desaparecimento, mas sim, virar pintura.
Não é à toa que escolhemos o trabalho da série Kitsch Art Family “Mamãe gosta das cores em minhas pinturas” para ser a imagem do convite e cartaz dessa exposição. Além do bem humorado título que menciona sua mãe portuguesa/moçambicana apontar para o Kitsch como uma das possíveis formas de relação com a produção de Bruno, nessa obra vemos a própria pintura como personagem de uma cena e, o que a presença das silhuetas multicoloridas realiza, é a transmutação do seu contexto em pintura.
As andorinhas são reconhecidas por seus hábitos regulares: saem e voltam aos ninhos nos mesmos horários; migram e retornam para os mesmos lugares; são instintivamente metódicas. Bruno Miguel é compulsivo e absolutamente comprometido com seu processo diário de mundo e ateliê – projeto que necessariamente terá sempre novos insetos, pousos, voos, gravetos e primaveras. O título dessa exposição faz referência à “Viagem Pitoresca” de Debret, um inegável tesouro da História da Arte no Brasil. Porém, as duas palavras também carregam respectivamente as possibilidades de entendimento como “devaneio” e “singular”. Mas que viagem essa de Andorinha!

 

 

 
Até 28 de fevereiro.

Uma coleção particular

17/dez

A Pinacoteca do Estado de São Paulo, Estação da Luz, São Paulo, SP, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, exibe a exposição “Uma coleção particular – Arte contemporânea no acervo da Pinacoteca” que apresenta um panorama da arte contemporânea no Brasil a partir de sua coleção. Uma seleção que reúne mais de 60 obras, a maioria incorporada recentemente ao acervo da instituição e com trabalhos que vêm a público pela primeira vez – como é o caso dos empréstimos em comodato da coleção Roger Wright, parceria firmada este ano.

 

São pinturas, esculturas, vídeos, fotografias, desenhos, gravuras e instalações, realizadas de 1980 até hoje por artistas nascidos ou radicados no país. “O corte cronológico considera o processo de reorganização da vida política e cultural brasileira com o fim da ditadura militar (1964-1985), mas também leva em conta um período de reestruturação da própria Pinacoteca, que compreende, por exemplo, a reforma de sua sede, entre 1994 e 1998”, explica o curador da Pinacoteca José Augusto Ribeiro.

 

A mostra ocupa todo o primeiro andar do museu com trabalhos históricos como “Ping-ping”, de Waltercio Caldas, além das obras de Iberê Camargo, Gilvan Samico, Regina Silveira, Tunga, Leda Catunda, Beatriz Milhazes, Erika Verzutti, Rosângela Rennó, Ernesto Neto, Rubens Mano, Tonico Lemos Auad, Willys de Castro, João Loureiro, Alexandre da Cunha, entre outros artistas. Nomes de grande projeção internacional e que são referência para as novas gerações, ao lado de artistas em início de suas trajetórias profissionais, todos de diferentes regiões do Brasil. “A seleção confirma a posição da Pinacoteca como uma das instituições museológicas com uma das coleções públicas mais importantes do País”, completa Ribeiro.

 

 

A diversidade de artistas aparece também nas 12 salas expositivas, além do Octógono e do lobby, onde o visitante encontra obras bastante diferentes e, a partir das relações sugeridas pela curadoria, consegue perceber as singularidades de cada peça. Grande parte dos artistas desta mostra compôs a programação da Pinacoteca nos últimos anos, por isso também ela faz parte do calendário comemorativo de 110 anos do museu.

 

Entre os artistas da exposição estão: Alexandre da Cunha | Almir Mavignier | Amilcar Packer | Anna Maria Maiolino | Antonio Lizárraga | Antonio Malta | Beatriz Milhazes | Carlos Fajardo | Carmela Gross | Daniel Acosta | Dudi Maia Rosa | Efrain de Almeida | Emmanuel Nassar | Erika Verzutti | Ernesto Neto | Fabio Miguez | Fabricio Lopez | Flávia Bertinato | Gerty Saruê | Gilvan Samico | Iberê Camargo | Iole de Feitas | Iran do Espirito Santo | João Loureiro | José Damasceno | Leda Catunda | Leya Mira Brander | Lorenzato | Mabe Bethônico | Odires Mlaszho | Paulo Monteiro | Paulo Whitaker | Regina Silveira | Rodrigo Andrade | Rodrigo Matheus | Romy Pocztaruk | Rosângela Rennó | Rubens Mano | Sara Ramo | Tatiana Blass | Tonico Lemos Auad | Tunga | Valdirlei Dias Nunes | Vanderlei Lopes | Vania Mignone | Veio [Cícero Alves dos Santos] | Wagner Malta Tavares | Waltercio Caldas | Willys de Castro.

 

 

Até 31 de janeiro de 2016.