Arte sacra

18/mai

O Museu de Arte Sacra de São Paulo – MAS-SP, Luz, São Paulo, SP, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, em celebração às comemorações de Corpus Christi, abre a exposição “Trajetória de Jesus de Nazaré”, composta por trabalhos executados pelo santeiro Wandecok Cavalcanti e curadoria de Jorge Brandão.

 

Com núcleos dedicados a passagens bíblicas relevantes – da Anunciação do Anjo a Maria sobre sua gravidez até a Ascensão de Cristo – o artista exibe 38 obras em argila com fortes referencias tanto a arte popular como barroca.

 

As peças foram confeccionadas com terracota e cinco tipos e tonalidades de argila (marfim, preta, creme, shiro e tabaco), recurso utilizado para mostrar e enfatizar detalhes, como cor de cabelo e de rosto, tudo em tom natural, sem nenhum pigmento ou pintura. O que as diferencia é que cada uma tem um ponto de queima. “O barro, por hora, torna-se nobre aplicado ao requinte de detalhes fundamentais para o artista Wandecok Cavalcanti, que neste momento muito maduro, o fez extravasar e aflorar sua devoção nesse conjunto de obras desenvolvido especialmente para narrar a “Trajetória de Jesus de Nazaré” no Museu de Arte Sacra de São Paulo”, define o curador da mostra.

 

Com essa exposição, o museu pretende se abrir a novos formatos de contato com o público bem como espaço de incentivo ao trabalho de novos artistas: “O Museu de Arte Sacra que habitualmente exibe obras centenárias de seu próprio acervo e de coleções particulares, que já proporcionou ao público a possibilidade de admirar obras da fase sacra de artistas modernos como Anita Malfatti e Brecheret, também dá espaço para artistas ainda vivos que produzem arte sacra. Por essa razão, julgamos importante propiciar a exposição de obras de Wandecok Cavalcanti, que nos apresenta sua visão da “Trajetória de Jesus de Nazaré”, esclarece José Carlos Marçal de Barros, diretor executivo do MAS/SP.

 

 

De 22 de maio a 31 de julho.

Iole de Freitas na Bahia

10/mai

Uma das mais celebradas artistas da cena contemporânea ocupa com suas esculturas todo o espaço da Roberto Alban Galeria, Ondina, Salvador, BA, apresenta a exposição “Iole de Freitas – A escrita do movimento”, com um site specific e 12 obras, entre inéditas e históricas, da artista mineira radicada no Rio, um dos expoentes do panorama contemporâneo. Com uma celebrada trajetória que inclui exposições no MoMA de Nova York, e na Documenta 12, em Kassel, Alemanha, Iole de Freitas ocupará todo o espaço da galeria, e criará no local um trabalho com 3,5 metros de diâmetro e seis metros de altura. Em junho, será lançado um livro-catálogo da exposição, com entrevista dada pela artista a Marc Pottier, curador da exposição, em design gráfico de Bitty Nascimento e Silva. A Roberto Alban Galeria representa Iole de Freitas na Bahia.

 

Além do site specific, estarão na Roberto Alban Galeria seis obras “Sem título” feitas este ano especialmente para esta mostra, em chapas de aço inox, como as duas esculturas com 2,20 metros e 2,45 metros, e outras quatro com dimensões que variam de 75cm a 40 centímetros. As obras recentes e inéditas mantêm a mesma investigação sobre a relação entre peso e leveza – “os grandes vôos e grandes escalas”, como observa Iole de Freitas – que a artista vem desenvolvendo desde 2000, e que passaram a ser feitas, desde 2013, com chapas de aço pesadas. Ela conta que esta investigação foi “radicalizada” na exposição realizada no Espaço Monumental do MAM Rio de Janeiro, entre julho de 2015 e abril último. E é o desdobramento deste trabalho, em outra escala, que será visto na Galeria Roberto Alban. “Esses trabalhos guardam a mesma tensão interna, e a investigação entre peso e leveza, já que trabalho com pesadas chapas de aço, e não com policarbonato”.

 

O curador Marc Pottier selecionou para “A escrita do movimento” dois trabalhos de 2013, em policarbonato e tubos de aço inox, que marcaram a produção desde 2000, um deles uma coluna vertical, com 2,70 metros. Estarão ainda na exposição outros quatro trabalhos emblemáticos feitos por Iole de Freitas em 1992 e recriados em 2013, em que utiliza telas metálicas em aço inox, latão e chapa de cobre. Na entrevista que estará no catálogo da exposição, o curador indaga à artista: “por que a palavra ‘dança’ surge tantas vezes quando estamos lendo os textos sobre seu trabalho?”, e pede para que ela comente o movimento que se vê em sua obra. “De fato a ideia  de movimento está impregnada tanto nas sequências fotográficas feitas a partir de fotogramas dos filmes Super 8 e 16 mm, nos anos 70, como nas grandes instalações realizadas em 2000 no Centro de Arte Hélio Oiticica, na Documenta de Kassel em 2007 e no MAM Rio em 2015/16. Ela percorre diversos e contínuos momentos da minha linguagem até hoje”, responde Iole.

 

 

Sobre a artista

 

Nascida em 1945, em Belo Horizonte, Iole de Freitas vive e trabalha no Rio de Janeiro. Estudou na Escola Superior de Desenho Industrial no Rio de Janeiro (ESDI), em 1964 e 1965. De 1970 a 1978 viveu em Milão, Itália, onde trabalhou como designer no Corporate Image Studio da Olivetti. A partir de 1973 produz e expõe seu trabalho artístico. Entre as diversas exposições individuais e coletivas em todo o mundo destacam-se: 9a Bienal de Paris (1975); 15a Bienal Internacional de São Paulo (1981); exposição itinerante “Cartographies” (1993), na Biblioteca Luis Ángel Aranjo (Bogotá, Colômbia), no Museo de Artes Visuales Alejandro Otero (Caracas, Venezuela), na National Gallery (Ottawa, Canadá), no Bronx Museum (Nova York, EUA) e na La Caixa (Madri, Espanha); Bienal Brasil Século XX (São Paulo, 1994); a individual “O corpo da escultura: a obra de Iole de Freitas”, curada por Paulo Venancio Filho, no Museu de Arte Moderna de São Paulo e no Paço Imperial do Rio de Janeiro (1997);  Projeto de instalações permanentes do Museu do Açude, no Rio de Janeiro (1999); individual no Centro de Arte Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 2000), “Iole de Freitas”, no Museu Vale (Vila Velha, 2004), e “Iole de Freitas”, no Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro, 2005), todas com curadoria de Sônia Salzstein; 5ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2005). Em 2007 Iole foi convidada para realizar um projeto específico para a Documenta 12, de Kassel, Alemanha, e em 2008 apresentou seu trabalho na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. Em 2009/2010 expôs na Casa França-Brasil (Rio de Janeiro) e na Pinacoteca do Estado de São Paulo, e participou da mostra “O Desejo da Forma” na Akademie der Kunst, em Berlim, Alemanha. De julho de 2015 a abril último, Iole de Freitas ocupou o Espaço Monumental do MAM Rio de Janeiro com obras de sua nova pesquisa escultórica. Sua trajetória encontra-se documentada em vários textos e publicações de renomados críticos de arte. É representada pela Galeria Raquel Arnaud desde 1988.

 

 

De 18 de maio a 19 de julho.

Barrão: Paleotoca

06/mai

O Galpão Fortes Vilaça, apresenta a exposição individual “Paleotoca” de Barrão. Paleotocas são labirintos gigantes escavados por animais já extintos, como as preguiças. Essas tocas rementem-se a construções precárias, utilizadas por esses animais como proteção e abrigo para o clima hostil que havia há 10 mil anos. Para essa ocasião, as 20 esculturas em resina, com as quais o artista carioca dá continuidade a sua trajetória por entre o universo dos objetos e do colecionismo, procuram estabelecer uma relação direta com espaço físico que as acolhem, além de travar um dialogo com a questão do tempo e ritmo estabelecidos com o processo de produção e criação do artista.

 

Conhecido por sua produção escultórica dedicada à montagens com peças de cerâmica prontas, no último ano Barrão passou a investir num novo processo investigativo, que parte do gesso para chegar na resina como material elementar. Enquanto as colagens fazem com que os objetos percam suas qualidades primárias, as peças de resina monocromáticas (todas na cor branca) vão ainda mais além e demonstram uma qualidade de total disfunção da própria existência e adquirem uma nova atribuição. O artista inicia, dessa forma, uma pesquisa voltada para não fragmentação, por meio de uma coleção de objetos muito mais enxuta e econômica.

 

Essa nova investigação possibilitou ainda ao artista descobrir com mais liberdade as possibilidades estéticas, principalmente no que diz respeito ao gesto escultórico. Barrão explorou não só as vantagens da modelagem e suas possibilidades de repetição, mas também as diferentes formas de combinar, agrupar e empilhar objetos do uso cotidiano, como garrafas, galhos, isopor, caixas de som, fitas cassetes, etc., tudo replicado em composições aleatórias inusitadas. Em “Geo Milho”, de 2015/16, por exemplo, três espigas de milho adequam-se dentro do que seria uma moldura de isopor para compor um único objeto, ao passo que “Castelos de Cassetes – F.S. Torres”, 2015 traz cinco fitas cassetes acasteladas.

 

 

Sobre o artista

 

Barrão nasceu em 1959 no Rio de Janeiro, cidade onde vive e trabalha. Dentre suas exposições individuais, destacam-se: “Fora Daqui”, Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, 2015; “Mashups”, The Aldrich Contemporary Art Museum, Ridgefield, USA, 2012; e “Natureza Morta”, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal, 2010. Em mostras coletivas, o artista também já participou, entre outras, do Panorama de Arte Brasileira em 2007 e de exposições no MAC, São Paulo; Paço Imperial, Rio de Janeiro; Pinacoteca do Estado de São Paulo; além da antológica mostra “Como Vai Você, Geração 80?” no Parque Lage, Rio de Janeiro, 1984. Paralelamente, Barrão ainda integra desde 1995 o coletivo Chelpa Ferro, com Luiz Zerbini e Sérgio Mekler.

 

 

Até 18 de junho.

Para Ivens Machado

26/abr

O MAM Rio, apresenta uma homenagem ao artista Ivens Machado (Florianópolis, 1942 – Rio de Janeiro, 2015), falecido há um ano, e que ao longo de cinco décadas produziu obras destacadas na cena contemporânea. Com curadoria de Fernando Cocchiarale, serão apresentadas, no Salão Monumental do Museu, dezesseis importantes obras do artista, algumas não vistas pelo público há anos. Estarão esculturas, instalações e desenhos pertencentes à Coleção Gilberto Chateaubriand / MAM Rio, e desenhos e um vídeo do Acervo Ivens Machado, projeto responsável pelo seu legado, a cargo da designer Mônica Grandchamp, colaboradora e amiga próxima do artista.  Ao longo de sua trajetória, iniciada em 1973, quando venceu o V Salão de Verão no MAM, participando a seguir da XII Bienal de São Paulo, Ivens Machado só teve no Museu uma exposição individual, em 1975, embora tenha integrado ali diversas mostras coletivas.

 

“Ivens talvez seja o artista de sua geração mais importante surgido no sul do país, ainda que sua obra tenha florescido no Rio de Janeiro, cidade em que se radicou a partir de 1964”, destaca Fernando Cocchiarale. O curador lembra que Ivens Machado foi “pioneiro da videoarte no Brasil – sua primeira experiência com este meio eletrônico foi feita em 1974, simultaneamente à de outros artistas como Anna Bella Geiger e Sonia Andrade”. “Algumas questões (ou eixos poéticos) atravessam o conjunto da obra de Ivens desde seu florescimento efetivo, lá pelo começo dos anos 1970, até seus trabalhos finais dos dois últimos anos. Tais eixos poéticos resultam de práticas de permanente construção/reversão, acionadas por Ivens para a produção de esculturas contaminadas por métodos e práticas da construção civil popular-comunitária, tanto no que diz respeito aos materiais de que são feitas – cimento, vergalhão, areia, azulejos, pedras etc. – como pelo rústico acabamento dos trabalhos”, observa.

 

Ocupando lugar de destaque no Salão Monumental estará a grande instalação “Cerimônia em três tempos” (1973), que será montada como na versão original, vencedora do V Salão de Verão do MAM Rio. Em uma referência a um açougue, a obra traz sobre um ambiente de  plástico branco três mesas de azulejos brancos, que recebem o sangue que pinga de uma carne pendurada. Na extensa parede de doze metros de comprimento, será projetado o vídeo “Encontro/Desencontro” (2008), de 12 minutos, de Ivens Machado, em codireção de Samir Abujamra. Nele, atores e acrobatas fazem um percurso que vai desde a extinta Perimetral, até uma cena poética em que balançam nus, suspensos em cordas.

 

A curadoria optou por não fazer divisões espaciais, ampliando a visão do espectador do conjunto da exposição, que ocupará ainda os dois espaços contíguos com as esculturas e os desenhos.

 

 

Esculturas e desenhos

 

“Mesas” (1996), em concreto armado, madeira e ferro, não é vista desde 2003. “Tapete” (1979), em concreto armado e vidro, foi exposta há sete anos. A exposição terá ainda uma das mais importantes obras de Ivens Machado, “Mapa Mudo” (1979), um mapa do Brasil feito com cacos de vidro verde cravados sobre cimento. Realizada durante a ditadura militar, a imagem evoca, ao mesmo tempo, as exuberantes florestas brasileiras e os muros das residências bem protegidas, sendo também um símbolo das fronteiras sociais e políticas no país. Em relação às esculturas, Fernando Cocchiarale acentua que “há que considerar também a reversão simbólica desses métodos e práticas representada pela precariedade anticartesiana dos resultados específicos destas obras que sequer correspondem aos quesitos funcionais das construções populares, fator que atribui a esses trabalhos um teor contradiscursivo”.

 

O curador destaca que estarão na exposição os primeiros três desenhos de Ivens Machado, dois de 1974 e um de 1980, em que fez, à mão, pautas sobre cadernos. Mais tarde, o artista passou a intervir “diretamente na operação das máquinas de pautar da indústria de cadernos, ou no velamento de pautas com tintas corretoras de estêncil para mimeógrafo”. “Marco inicial do florescimento poético de Ivens, a questão se manifesta de outra maneira, mas com o mesmo sentido e intenção contradiscursivos”. “Aqui o teor espacial normativo das pautas de caderno é desconstruído graficamente, por meio de linhas que se rompem ou quebram a uniformidade da página original, por meio de desvios e sinuosidades, ou são ‘corrigidas” por corretores de estêncil”, explica.

 

A série de dezesseis desenhos “Fluidos Corretores” (1976), com corretor para estêncil sobre papel, da Coleção Gilberto Chateaubriand / MAM Rio, ocupa uma extensão de quase dez metros, e será complementada com outro desenho da série, de 1974, feito com caneta sobre folha de caderno.

 

 

 

Sobre o artista

 

Ivens Machado (Florianópolis, SC, 1942 – Rio de Janeiro, RJ, 2015). Escultor, gravador e pintor. Estudou gravura na Escolinha de Arte do Brasil (EAB), no Rio de Janeiro, onde foi aluno de Anna Bella Geiger (1933). Em 1974, fez sua primeira exposição individual na Central de Arte Contemporânea, no Rio de Janeiro. Participou quatro vezes da Bienal de São Paulo – em 1981, 1987, 1998 e 2004 -, e também esteve na Bienal de Paris e na Bienal do Mercosul, em Porto Alegre. Possui esculturas públicas no Palazzo di Lorenço, na Sicilia, Itália, no Paço Imperial, Rio de Janeiro, no Jardim das Esculturas do MAM, São Paulo, no Jardim da Luz, na Pinacoteca de São Paulo, no Jardim das Esculturas do MAM, Salvador, e no Largo da Carioca, Rio de Janeiro (atualmente retirada até a finalização da reurbanização do Centro da Cidade). Sua última exposição individual foi na Casa França-Brasil, em 2011. Além dela, merecem destaque a exposição “Encontro/desencontro” (2008), no Oi Futuro; “Acumulações (2007), no Paço Imperial; “O Engenheiro de Fábulas” (2001), apresentada no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea, em Curitiba, e no Museu Ferroviário da Vale do Rio Doce, em Vitória. Em 1975, ele realizou uma exposição individual no MAM Rio. Dentre suas principais exposições coletivas estão: “Lines”, na Hauser & Wirth, em Zurique , na Suiça e “On the Edge: Brazilian Film Experiments of the 1960s and Early 1970s”, no MoMA, em Nova Yok, ambas em 2014; “Sobrenatural”, na Estação Pinacoteca, em São Paulo e “Fato aberto: o desenho no acervo da Pinacoteca do Estado”, em 2013/2014; ”Violência e Paixão”, no MAM Rio e no Santander Cultural, no Rio Grande do Sul, em 2002; “Palavra Imagem”, no MAM Rio, e ”Espelho Cego”, no Paço Imperial e no MAM SP, ambas em 2001; ”Século 20: arte do Brasil-Brasil+500”, na Fundação Caloustre Gulbekian, em Portugal, em 2000; “Vista Assim Mais Parece um Céu no Chão”, 16oSalão Nacional de Artes Plásticas, no MAM Rio, e “Terra Incógnita”, no CCBB Rio, ambas em 1998; “Re-Aligning Vision”, no Museo del Barrio, em Nova York, em Arkansas, Austin, Monterey e Miami, nos EUA, e em Caracas, na Venezuela, em 1997; “A Fronteira dos Vazios – Livro  Objeto”, no CCBB Rio, em 1994; “A Caminho de Niterói” – Coleção João Sattamini, no Paço Imperial, em 1992, e no Centro Cultural São Paulo, em 1993; “Brasilian Contemporary Art”, no MAC – SP e “Brasil Segni D’Arte”, em Veneza, Milão, Florença e Roma, na Itália, ambas em 1993, entre outras.

 

 

 

Acervo Ivens Machado

 

 

O Acervo Ivens Machado é o projeto responsável pela gestão do acervo pessoal do artista, com curadoria da designer Mônica Grandchamp, amiga de longa data de Ivens Machado. Selecionado pelo Prêmio Funarte de Incentivo às Artes Visuais em 2015, para mapeamento da obra de Ivens Machado, e inscrito no Rumos Itaú Cultural 2016 – com resultado previsto para maio – o Acervo Ivens Machado tem como missão a catalogação da produção do artista, sua manutenção e visibilidade. Mônica Grandchamp é formada em desenho industrial pela Faculdade da Cidade, com pós-graduação iniciada em História da Arte e Arquitetura, na PUC-Rio, é professora de História da arte e História do design no Senac-RJ, desde 2011.

 

Texto de Fernando Cocchiarale

 

 

Esta mostra homenageia Ivens Machado, artista recentemente falecido, cuja contribuição para a história da arte brasileira das últimas cinco décadas ainda está por ser criteriosamente estabelecida. A maior parte das peças aqui expostas pertence ao MAM (coleção Gilberto Chateaubriand e coleção MAM), complementadas com obras do Acervo Ivens Machado, projeto responsável pela gestão do acervo pessoal do artista. Pioneiro da videoarte no Brasil (sua primeira experiência com este meio eletrônico foi feita em 1974, simultaneamente à de outros artistas como Anna Bella Geiger e Sonia Andrade, por exemplo), sua produção nessa mídia é marcada pela criação de situações em que o poder e seu tenso exercício é corporificado por atores que podem atuar em interação com o artista ou sem ele. Ivens talvez seja o artista de sua geração mais importante surgido no sul do país, ainda que sua obra tenha florescido no Rio de Janeiro, cidade em que se radicou a partir de 1964. No entanto algumas questões (ou eixos poéticos) atravessam o conjunto da obra de Ivens desde seu florescimento efetivo, lá pelo começo dos anos 1970, até seus trabalhos finais dos dois últimos anos. Tais eixos poéticos resultam de práticas de permanente  construção/reversão,acionadas por Ivens para a produção de esculturas contaminadas por métodos e práticas da construção civil popular-comunitária, tanto no que diz respeito materiais de que são feitas − cimento, vergalhão, areia, azulejos, pedras etc. – como pelo rústico acabamento  dos trabalhos. Há que considerar também a reversão simbólica desses métodos e práticas representada precariedade anticartesiana dos resultados específicos destas obras que sequer correspondem aos quesitos funcionais das construções populares, fator que atribui a esses trabalhos um teor contra-discursivo. Nos desenhos manuais de pautas de caderno, nos trabalhos em que Ivens interveio diretamente na operação das máquinas de pautar da indústria de cadernos ou no velamento de  pautas com tintas corretoras de estêncil para mimeógrafo marco inicial do florescimento poético de Ivens a questão se manifesta de outra maneira, mas com o mesmo sentido e intenção  contra-discursivos. Aqui o teor espacial normativo das pautas de caderno é desconstruído graficamente, por meio de linhas que se rompem ou quebram a uniformidade da página original por meio de desvios e sinuosidades, ou “corrigidos” por corretores de estêncil.

 

 

 

De 30 de abril a 26 de junho.

Pinakotheke São Paulo/Segall

19/abr

A Pinakotheke Cultural, Morumbi, São Paulo, SP, apresenta na presente exposição, mais de sessenta trabalhos, a maioria proveniente de coleções da família Segall. Estão representadas as diversas linguagens utilizadas pelo artista tendo o papel como suporte:xilogravura, gravura em metal, aquarela e desenhos a tinta preta e grafite. Além dos papéis, a mostra é pontuada por esculturas e pinturas sobre tela, algumas inéditas, como as duas cenas de Meissen, Alemanha, feitas durante a Primeira Guerra Mundial.
Há obras de diferentes épocas, desde os primeiros anos do século 20, quando ele transitava entre a cidade natal de Vilna, na Lituânia – na época parte do Império Russo – e as cidades de Berlim e Dresden, onde frequentou as academias e fez parte do Expressionismo alemão. Os trabalhos mostrados nesta exposição se estendem até os anos 1950, passando pelo período que viveu em Paris, de 1928 a 1932.

 
Vida em Meissen

 
Logo depois da Alemanha declarar guerra à Rússia, em agosto de 1914, os cidadãos russos que viviam em Dresden foram levados para a cidade vizinha de Meissen, famosa por sua porcelana. Em seus escritos autobiográficos Segall fala de sua situação de “prisioneiro civil de guerra”. Em 1915, quando pintou as duas telas desta exposição –“Praça do mercado em Meissen I”, de 1915,e “Praça do mercado em Meissen II”, de 1915 -, sabemos que ele estava ali. Ao lado do pintor Alexander Neroslow, saía com frequência em caminhadas para documentar aspectos da cidade e dos arredores, além de produzir retratos dos amigos.

 
“Verdade interior”

 
A produção do período europeu presente nesta mostra tem nas xilogravuras seus melhores exemplos. Feitas na Alemanha na segunda metade dos anos 1910 e na década seguinte, elas se aproximam das gravuras primitivas, por motivos estéticos e ideológicos. A gravação é marcada por uma simplificação brutal das formas, mostrando que nessa época Segall já estava sintonizado com o Expressionismo alemão, ao dar à sua obra gráfica a força de um panfleto. Os expressionistas se utilizaram dessa linguagem simplificada e veemente, para conduzir à imediata apreensão dos conteúdos, impregnados das ideias políticas e sociais de esquerda que caracterizaram o movimento. Segall explora esse contraste decisivo entre o preto das superfícies carregadas de tinta e o espaço em branco cavado na matriz, como seus predecessores Erich Heckele Karl Schmidt-Rottluff – criadores em 1905 de “A Ponte”, primeiro agrupamento do Expressionismo alemão – ou como Conrad Felixmüller e Will Heckrott, integrantes, como ele, da segunda geração dos expressionistas.  As gravuras de Segall têm como referência o tema do eterno judeu errante, as recordações de sua cidade e os ritos da ortodoxia judaica que povoaram sua infância. A forte impressão que guardou de Vilna, ocupada e arrasada pelos alemães em 1915, também repercutiu em seu espírito solidário – os mortos, mesmo anônimos, eram os de Segall. A devastação da cidade e o desaparecimento de grande parte dos homens deu origem a cenas como “Viúva”, de 1919, e “Viúva e filho”, de 1918, uma mulher grávida tem ao lado o menino de mãos estendidas à espera de uma esmola. Os corpos acuados e as cabeças e olhos imensos dão a dimensão do desamparo humano dessas vítimas da guerra, e esses personagens trágicos têm presença insistente em toda a obra de Segall.
Na xilogravura “Enterro”, de 1915, o branco ilumina a dramaticidade teatral do assunto. O corpo do morto atravessa a cena em diagonal, apoiado no retângulo de um caixão simples de madeira, comum nos enterros judaicos, e sua cabeça é uma máscara negra e paira à direita, em contraste com os rostos brancos dos três personagens que acompanham o enterro. Os olhos vazados, são de desesperança e assombro em presença da morte.
Também são desse período as xilogravuras “Oração lunar”, c. de 1917, “Cabeça de rabino”, de 1919, “Jovem orando”, de 1920 e “Mãe e filho”, de 1921, nas quais a estética expressionista se associa ao repertório pessoal do artista, para dar ênfase à sua “verdade interior”, conforme expressão sua. Em todas elas, as áreas em branco invadem os corpos criando personagens duplos, vidas partidas entre luz e sombra. Nesse sentido, cabe destacar a gravura “Mulheres errantes – II”,versão de 1919, na qual as máscaras dos personagens compõem, com o fundo de formas geométricas, um fantasmagórico tabuleiro de xadrez. Em “Mãe e filho”, de 1921, os rostos unidos são invadidos por um branco simbólico, pelo vazio que anula as personalidades. Nas duas folhas comemorativas em que ele grava homenagens à mãe – falecida quando Segall tinha dezesseis anos – e à avó, o texto em hebraico é uma associação de caracteres geométricos cavados em tábuas de ressonâncias bíblicas.

 
Expressionismo eslavo

 
A obra gráfica de Segall produzida na Alemanha e presente nesta exposição se completa com duas litografias, “Família”, de 1920, em que o corpo feminino estende-se em diagonal como nas telas “Gestante”, de 1919 e “Encontro”, de 1920, cuja composição, na unidade das cabeças e das mãos, repete as soluções da pintura “Dois seres”, de 1919. As coincidências não são casuais. Ao contrário, a reafirmação frequente de certas soluções plásticas é um dos elementos certificadores da poética segalliana.  Há ainda duas gravuras em metal –“Margarete”, c. de 1921, vigoroso retrato da primeira mulher do artista, e uma imagem da série “Mendigos II”, de 1922/ 23, nas quais já estão presentes os traços exatos e as formas geométricas características da Nova Objetividade, tendência que influenciou toda a arte alemã dos anos 1920.

 
Figuras e retratos

 
“Homens à mesa”, c. de 1910 e “Velho de quepe dormindo”, c. de 191, são os desenhos mais antigos desta exposição, povavelmente feitos em Vilna em uma das viagens de férias para visitar a família, quando Segall frequentava a Academia de Dresden. Também nos primeiros desenhos, a escolha dos personagens retratados – velhos, viúvas, mendigos, doentes – segue a indicação de um olhar sem demagogia, compassivo para com os desfavorecidos e marginalizados. Nesses e em outros desenhos que faz mais adiante, é frequente Segall retratar tipos e não individualidades exacerbadas, ao contrário, por exemplo, de seu contemporâneo e amigo Otto Dix, fundador, junto com ele, da Secessão de Dresden- Grupo 1919.
Quando Segall se dedica a figuras femininas como o delicado “Margarete deitada”, c. de 1915, as linhas se suavizam; traços distendidos envolvem a figura em repouso. No retrato de “MobBarzinsky”, de 1917, ou em “Moça de franja”, c. de 1920, e “Retrato feminino”, c. de 1920, as cabeças têm destaque no centro do papel e os retratados vêm igualmente para o primeiro plano. O grafite e o crayon acentuam detalhes aqui e ali, ora o nariz, o pescoço, as olheiras, trabalhando pela expressividade do conjunto. “O Retrato de homem” c. de 1919, um óleo com a transparência da aquarela, também nos encara. “Moça de busto nu”, c. de 1920 é um nu sem erotismo, perturbador na anatomia frágil da modelo. Em “Jovem sentada”, c. de 1920, o grafismo rápido esboça mais do que um retrato (talvez Margarete) e tem uma inquietante permanência em nosso espírito.

 

 

Paisagem brasileira

 
Ao emigrar para o Brasil em fins de 1923, a paisagem humana de Segall altera-se completamente. Ele vê o novo país como uma festa exótica, longe das tensões do mundo europeu, com novas formas e cores a lhe oferecer, um país que lhe revelou “o milagre da cor e da luz”. Fascinado pelos tipos de negros e pela vegetação dos trópicos, surgem “Jovem negra”, c. de 1925, também em aquarela; “Retrato de homem com a mão no rosto”, c. de 1925; e vários desenhos da série “Plantas tropicais”, c. de 1925.
“Três gaivotas e respiradouros” de 1930 é uma gravura da série “Emigrantes”, em que o navio e os detalhes da embarcação dialogam com as aves e o mar à volta, cenário da aventura dos emigrantes. A série “Mangue” – famosa zona de prostituição do Rio de Janeiro, cantada em prosa e verso- está representada por três obras: a xilogravura “Mulher do Mangue com espelho”, de 1926, a ponta-seca “Mulher do Mangue com cactos”, de 1927 e o desenho a pincel “Figuras no Mangue”, c. de 1928.
“Nu de costas”, c. de 1928, aquarela, focaliza uma anatomia feminina mais generosa do que as do período alemão. Os desenhos de nus femininos dos anos 1930 são um capítulo à parte, estendendo sobre o papel a languidez convidativa dos corpos femininos. A sensualidade de linhas curvas e suaves desenha o “Casal”, c. de 1930, que inverte os planos da pintura “Dois nus”, de 1930, na qual o homem ocupa o primeiro plano e a mulher aparece atrás, deitada, parcialmente encoberta pelo corpo masculino sentado à sua frente.
Dois desenhos a grafite de 1936, com o mesmo título -“Mulher nua deitada” – são exemplos dessa sensualidade distraída que Segall retratou como ninguém. O poder de permanência de tais nus femininos encontra seu ápice na série que tem Lucy Citti Ferreira como modelo. Por outro lado, ela aparece identificada na companhia de instrumentos musicais, em obras de diferentes técnicas. “Lucy com violão”, c. de 1936, é um esboço rápido, bem-humorado, enquanto “Lucy com acordeão”, de 1936, compõe um tema que seria retomado em mais de uma pintura sobre tela. Também são de acentuado cunho erótico os desenhos “Casal”, c. de 1945, de linhas limpas, sem interrupção, “Casal abraçado”, c. de 1950, reforçado com insistência pela caneta de tinta vermelha, e o relevo em bronze “Encontro”, de 1954, em que o brilho do metal destaca a anatomia dos corpos. Outra escultura, “Duas mulheres”, de 1936, repete soluções exploradas nos anos 1920. Os corpos juntos e a amarração das mãos, ao centro, transformam os dois personagens femininos em apenas uma entidade.
A família está representada no desenho “Jenny”, c. de 1930, traçado com tinta sépia a pincel e em “Ossi”, de 1931, – Oscar, o filho mais novo -, feito em Arcachon, no período em que o casal Segall viveu na França. A mãe com seus filhos, tema constante, ganha corpo na compacta “Maternidade”, de 195, em bronze.
Cenas do campo e naturezas-mortas surgem em um momento de tranquilidade e vida junto da família, durante a estada francesa. É quando Segall começa a esculpir e, também na pintura, os objetos e animais ganham em presença corpórea, adquirem uma qualidade tátil. As cores se aproximam da solidez e opacidade da argila – ocres,marrons e brancos invadem as telas. “Vacas no campo”, de 1931, e “Natureza-morta com vaso ornamentado”, c. de 1931, são exemplares nesse sentido e prenunciam a matéria densa das paisagens de Campos do Jordão. Dessa época também são as idílicas aquarelas “Animais com pinheiros”, de 1931, cena de inspiração chagalliana, e “Nora”, c. de 1931, a filha de Victor Rubin, amigo e protetor de Segall em Dresden. Após a partida de Lucy para a França, em 1947, Mira Perlov torna-se sua modelo. Ela está presente em três obras aqui exibidas, feitas por volta de 1952. Em tinta preta ou bistre e aquarela, Segall se deteve na bela e delicada figura da jovem.

 
Fiel às origens

 
O ano de 1927 traz a Segall uma dupla tristeza – os falecimentos de Oscar, o irmão com o qual tinha maior afinidade, e de seu pai Abel Segall, que vivia no Brasil desde 1924. Abel com a filha mais nova, Lisa, são os últimos da família a deixar Vilna. A morte do pai é assunto de um desenho a grafite em que aparecem registrados o dia e a hora do acontecimento – “O pai do artista morto” (10/02/1927, 7h30) – e no qual a assinatura de Segall é posta em russo, reafirmando, na presença do pai falecido, as suas origens.
O trágico acontecimento é tratado ainda em óleos sobre tela como “Fim de começo”, de 1929, em que o patriarca aparece ao lado do pequeno “Mussi” (Maurício, filho mais velho de Lasar e Jenny), em xilogravuras –“Pai Segall”, de 1927, “Artista em vigília fúnebre”, c. de 1927, “Vigília fúnebre”, c. de 1927,na água-forte “Kaddish”, de 1927, e na pintura “Vigília fúnebre”, c. de 1928, escura e monocromática, que repete a composição da xilogravura de mesmo título. Na parte superior da pintura, a homenagem do artista na inscrição em hebraico “Pai Segall” (Aba Segall). Ele não deixou, até os últimos anos de vida, de lembrar sua ligação com a ortodoxia religiosa, à qual esteve exposto desde criança. O tema da tela “Judeu com livro de orações”, c. de 1954, rendeu outras pinturas, desenhos, aquarelas e guaches.

 
Campos do Jordão

 
Em Campos do Jordão, região que Segall conheceu em 1935, ele se entregou ao registro poético das florestas e do campo, seus habitantes e grupos de animais que pontuavam a paisagem montanhosa da chamada Suíça brasileira. O delicado “Morro com casas e animais”, c. de 1937, faz lembrar a análise de Mário de Andrade sobre o desenho, chamando a atenção para o caráter mais necessário dele, o de “ser um fato aberto como a poesia. Cada desenho é uma palavra, uma frase. Uma confidência”.
Caminhando pelas estradas de Campos do Jordão com seu bloco de papel ou com suas telas e tintas, Segall explorou em inúmeros trabalhos feitos “do natural”, as árvores, vistas de fora ou de dentro dos bosques. O que interessava a ele era principalmente a arquitetura dos troncos, curvos ou retos, em agitação dionisíaca-“Floresta”, de1951, – ou em ordenamento apolíneo –“Floresta”, de 1955. Alguns desses apontamentos deram origem a pinturas a óleo como a “Floresta fechada”, de 1954, construída por faixas verticais em que não há luz ou qualquer vislumbre de céu. A série “Florestas”, com que Segall se despede da vida, parece indicar seu caminho para a sublimação dos temas e para a verticalização das formas, permanecendo fiel, no entanto, à sua convicção figurativa.
Apesar das florestas de Segall serem florestas e não arte abstrata, como quiseram alguns críticos, o que conta nelas não é a representação do real, mas o valor simbólico da matéria sensual e silenciosa da qual são feitas. Nelas, respiramos Segall, não o ar rarefeito da região montanhosa de Campos do Jordão. E essa aproximação com o artista e sua obra só acontece pela via do sentimento e não da razão. Lembrando mais uma vez Susan Sontag, “em vez de uma hermenêutica, precisamos de uma erótica da arte. Desarmados, temos mais capacidade de perceber que cada esboço, cada pintura, gravura ou escultura de Segall é um documento de identidade impossível de falsear”.

 

 

Texto : Vera d´Horta/Setembro de 2015

 
Até 28 de maio.

Erika Verzutti no Pivô

06/abr

O Pivô, Edifício Copan, loja 54, Avenida Ipiranga, 200, Centro, São Paulo, SP, apresenta a exposição individual “Cisne, Pepino, Dinossauro” de Erika Verzutti, dentro de seu Programa Anual de Exposições. Trata-se da primeira exposição individual da artista em uma instituição brasileira. Serão exibidos quatro trabalhos, sendo duas obras inéditas concebidas especialmente para o espaço do Pivô.

 

Verzutti exibe um conjunto enxuto de trabalhos, acentuando a aridez do espaço expositivo do Pivô, ao mesmo tempo em que oferece uma síntese de seu pensamento escultórico. Ao observar juntos nesse espaço dois trabalhos mais antigos – “Tarsila com Novo”, de 2011 e “Nessie”, de 2008 -, e os monumentais “Cisne Bambolê” e “Cisne Passarela”, produzidos na ocasião dessa exposição, o visitante entra em contato com importantes momentos dos seus mais de dez anos de produção.

 

O gesto de puxar verticalmente a argila para cima, testando possíveis pontos de sustentação, é recorrente na obra de Erika Verzutti e resulta em formas que, segundo a artista, referem-se diretamente à pintura “Sol Poente”, de 1929, de Tarsila do Amaral. A artista toma emprestada essa forma da pintora modernista com a mesma fluência com que manuseia o material mole, transformando o que Tarsila descrevia como um tronco que via da janela da fazenda* em pescoços de cisnes e dinossauros, pepinos, pés engessados e todo um léxico de associações formais que a acompanham há muitos anos.

 

O primeiro cisne, “Cisne com Pincel”, de 2003, modelado em argila crua pintada, encontra seu ponto de sustentação em um pincel – talvez o próprio pincel com que foi constituído -, num gesto metalinguístico que anunciava há mais de uma década as palavras citadas pelo ator que contracena com a escultura “Cisne com Palco”, de 2015, em uma espécie de monólogo tragicômico e autorreferente escrito pela artista e realizado recentemente no Sculpture Center em Nova Iorque.

 

As obras de Erika Verzutti nunca são assépticas: admitem o erro e associam, sem cerimônia, objetos banais e escalas domésticas a referências canônicas da história da arte, incorporando elementos mágicos e misteriosos. Suas formas guardam rebarbas, respingos, amassados mas essas marcas de manufatura não escondem o rigor conceitual e de execução empregados em cada uma de suas peças.
Nos novos trabalhos que se moldam a partir do espaço do Pivô, os pescoços gigantes dos cisnes encontram e respondem à escala e às curvas improváveis de sua arquitetura. As pesadas chapas de ferro que acompanham os cisnes, modelados em isopor, papel e fibra de vidro, são como uma espécie de versão “adocicada” – ou “caseirinha”, nas palavras da artista -, das viris chapas de metal dobradas industrialmente de Richard Serra ou Amílcar de Castro. A longa passarela sustentada pelo “Cisne Passarela” e o palco redondo insinuado no “Cisne Bambolê”, aguardam altivos e um tanto melancólicos, a presença do público, esperando quem queira ativá-los, como uma espécie de esfinge que se insinua, mas não esconde o seu perigo: decifra-me ou devoro-te.

*(AMARAL, Aracy A. Tarsila: sua obra e seu tempo. 34. ed. São Paulo)

 

 

Sobre a artista

 

Erika Verzutti nasceu em 1971 em São Paulo. Entre suas principais exposições estão:, “Swan with Stage”, Sculpture Center, Nova Iorque, EUA (2015), 34º Panorama da Arte Brasileira, MAM-SP, São Paulo (2015), “Mineral”, Tang Museum at Skidmore College, Nova Iorque, EUA (2014), “Under the Same Sun: Art from Latin America Today”, Solomon R. Guggenheim Museum, Nova Iorque, EUA (2014), “Carnegie International”, Carnegie Museum of Art, Pittsburgh, EUA (2013), 9ª Bienal do Mercosul, Fundação Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2013), ), “Home Again”, Hara Museum of Contemporary Art, Tokyo, Japan (2012) e 11º Biennale de Lyon, Lyon, França (2011). Em 2016, a artista participará ainda da 32ª Bienal de São Paulo e do SITE Santa Fé (EUA).

 

Sobre o Pivô

 

Como uma ideia se transforma em um objeto de arte ou em uma exposição em nosso tempo? E qual é a relação desses objetos e exposições com seus entornos e a história da arte? Essas questões são fundamentais e se renovam a cada geração de espectadores de arte contemporânea. Em plena efervescência cultural do centro expandido de São Paulo – e com essas questões sempre em mente -, o PIVÔ nasce como um espaço de arte autônomo e sem fins lucrativos, que dedica mais atenção às particularidades de cada projeto e propicia possibilidades de atuação mais flexíveis aos artistas e pesquisadores convidados.

 

A programação do PIVÔ se articula através de exposições, projetos específicos, workshops, ateliês temporários, residências, atividades educativas e palestras divididas entre o Programa de Exposições Anual e o PIVÔ Pesquisa. Sua estrutura segue se desenvolvendo paralelamente à sua programação, num processo aberto e em constante mutação. E sua missão talvez seja justamente repensar um modelo institucional para as artes visuais no Brasil – que, ao mesmo tempo em que assegure a autonomia criativa dos artistas, assuma responsabilidades com seu entorno, para assim quem sabe estender essa autonomia de pensamento ao público visitante. Desde sua inauguração, o objetivo sempre foi proporcionar aos artistas, a todos os que trabalham na programação e aos frequentadores do espaço, um contexto para reflexões críticas além de experiências estéticas.

 

O PIVÔ busca novos modelos de gestão e financiamento, articulando parcerias e oferecendo alternativas de apoio a artistas, críticos, curadores e produtores culturais em esfera nacional e internacional. Em dois anos de existência, a instituição realizou cerca de 30 projetos, acolheu em seu espaço uma média de 210 artistas de 15 países diferentes e recebeu cerca de 30 mil visitantes desde sua inauguração.

 

 

Até 28 de maio.

Giovani Caramello, obras inéditas

24/mar

Após um ano recluso, em processo produtivo, Giovani Caramello está de volta apresentando ao público e convidados somente obras inéditas, na OMA | Galeria, Centro, São Bernardo do Campo, São Paulo, SP. A exposição é um marco, pois apesar de ter participado de outras mostras coletivas, esta é a primeira individual do artista no espaço que o representa. Segundo Thomaz Pacheco, galerista da OMA, nesta oportunidade vai ser possível conhecer uma outra nuance de seu trabalho. “A grandeza dele vai além de detalhes que denotam a quase perfeição. Vai ser interessante mostrar este novo momento de sua carreira, muito mais maduro e consciente da sua produção”, comenta.

 

Aos 25 anos e inserido no circuito de artes há cerca de três, Giovani Caramello, escultor hiper realista brasileiro, vem assumindo pouco a pouco a sua identidade, que será possível ver nessa mostra. Além disso, ele que é tímido, de poucas palavras, mas com um olhar muito observador, ao longo de sua carreira vem encantando colecionadores com suas obras carregadas de sentimentos universais, como a introspecção que cria um canal afetivo direto com o público. Para Giovani Caramello, nesta nova exposição, os seus admiradores poderão conhecer muito além da técnica que rendeu elogios para sua poética, que se encontra cada vez mais evidente. “Creio que as novas peças representam meu amadurecimento e da minha forma de esculpir. E, apesar de possuírem uma temática muito pessoal, sempre busco apresentar uma poética de fácil identificação. É justamente isso que as pessoas vão ver na mostra e espero que a receptividade seja positiva”, comenta.

 

O texto curatorial é assinado pela crítica de arte e curadora, Ananda Carvalho.  Para ela, “ao contrário das esculturas tradicionais que congelam um fragmento do tempo, os trabalhos do Giovani, expandem esse tempo, ele esculpe algo que todos reconhecem: as emoções”, adianta.

 

 

De 01 de abril a 25 de maio.

Beuys em São Paulo

15/mar

A Galeria Bergamin & Gomide, Jardins, São Paulo, SP, anuncia exposição de caráter panorâmico da obra de Joseph BEUYS, artista alemão que produziu em diversos meios e técnicas, incluindo fluxus, escultura, happeningperformancevídeo instalação

 

 

Sobre o artista

 

Joseph Heinrich Beuys nasceu em Krefeld1921 e faleceu em Düsseldorf1986, considerado um dos mais influentes artistas alemães da segunda metade do século XX.

 

Cresceu em duas pequenas localidades da região, Kleve e Rindern. Travou algum contato com a arte na juventude, tendo visitado o ateliê de Achilles Moorgat em diversas ocasiões, mas decidiu seguir carreira em Medicina. Entretanto, com a explosão da Segunda Guerra Mundial, alistou-se na Força Aérea Alemã (Luftwaffe). Costuma-se dizer que a predominância de feltro e gordura na obra de Beuys é devida a um incidente ocorrido na guerra. Beuys foi alvejado e o seu avião caiu durante uma missão na Criméia onde acabou por ser resgatado por tártaros. Ele teria sido salvo ao ter sido tratado com ervas e recoberto por feltro e gordura. Não se sabe se essa história é verdadeira, mas agora ela já faz parte do mito que cerca a figura de Beuys.

 

Depois da guerra, Beuys concentrou-se na arte e estudou na Escola de Arte de Düsseldorf de 1946 a 1951. Nos anos 1950, dedica-se principalmente ao desenho. Em 1961, tornou-se  professor de escultura na academia, mas acabou sendo demitido de seu posto em 1972, depois que insistiu em que suas aulas deveriam ser abertas a qualquer interessado. Seus alunos protestaram, e ele pôde manter seu ateliê na escola, mas não recuperou as aulas.

 

Em 1962, Beuys conheceu o movimento Fluxus, e as performances e trabalhos multidisciplinares do grupo – que reuniam artes visuais, música e literatura – inspiraram-no a seguir uma direção nova também voltada para a happening e performance. Sua obra tornou-se cada vez mais motivada pela crença de que a arte deve desempenhar um papel ativo na sociedade. Em 1979, uma grande retrospectiva da obra do artista foi exibida no Museu Guggenhein de Nova York. Beuys morreu de insuficiência cardíaca, em 1986.

 

 

De 17 de março a  30 de abril.

Iran do Espírito Santo

14/mar


A Galeria Fortes Vilaça, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta “Fuso”, a nova exposição individual de Iran do Espírito Santo, que reúne esculturas e uma instalação. O título faz uma alusão tanto ao fuso mecânico, quanto ao fuso horário que conhecemos, relacionando-se principalmente com a questão do tempo, e que o artista apresenta sob três concepções distintas: histórica, cósmica e existencial. Com esse projeto, Iran retoma também temas recorrentes de sua pesquisa, como a correlação estabelecida entre a evolução industrial imposta pelo avanço da modernidade, bem como a estética contemporânea e suas implicações.

 

Instalado no térreo da Galeria, “Base Fixa” é um dos mais ambiciosos projetos escultóricos do artista até a presente data, onde ele invoca a força da escala física através de uma série de peças de aço inox, que juntas somam mais de uma tonelada. Curiosamente, esses quatro conjuntos de porcas e parafusos (aumentados em dezoito vezes) foram fabricados com mesmo maquinário tradicional do qual geralmente fazem parte, arrevessando a própria hierarquia industrial clássica. Os parafusos delimitam uma área quadrada no espaço expositivo, sugerindo não por acaso uma base imóvel sobre a qual estão fixados, ao passo que sua forma helicoidal (rosca) aponta para um movimento infinito. Cria-se assim uma tensão, a qual o artista descreve como um “conflito entre as forças de avanço e de retrocesso, de movimento e reação.” A materialidade ostensiva de Base Fixa pode ser contrastada com o caráter etéreo das obras no segundo andar.

 

“Cúpula” é uma escultura de cristal inspirada nos relógios antigos, que estabelece um contraponto entre sua função original, a de proteger a marcação do tempo, e a maneira como explora a noção de tempo em algo suspenso e solidificado no seu próprio relicário. Já a obra “Fuso”, que empresta seu nome à mostra, é uma instalação site-specific produzida nas paredes. Como é habitual na prática do artista, o trabalho apresenta mais de quarenta gradações de cinza, pintadas com linhas retas e precisas. Nessa obra, Iran do Espírito Santo trabalha nas superfícies paralelas para criar imagens inversas e complementares. Altera, assim, a incidência da luz sobre a arquitetura, modificando a percepção física do espaço. O espectador, posicionado entre esses dois polos, torna-se não só testemunha, como também parte integrante do ambiente da instalação.

 

Na ocasião da abertura da exposição, Iran do Espírito Santo lança seu mais novo livro monográfico, “Desenhos/Drawings”, sobre sua extensa produção em papel. Publicada pela Editora Cobogó e com texto do curador Jacopo Crivelli Visconti, a edição apresenta um recorte cronológico através de uma seleção de mais de 130 obras.

 

 

Sobre o artista

 

Iran do Espírito Santo nasceu em Mococa, SP, em 1963 e atualmente vive e trabalha em São Paulo. Entre suas exposições individuais, destacam-se: Playground, Public Art Fund, Nova York (EUA, 2013); Recuo, Capela do Morumbi, São Paulo (2013); Estação Pinacoteca, São Paulo (2007); IMMA, Dublin (Irlanda, 2006); MAXXI, Roma (Itália, 2006); Museo de Arte Carrillo Gil, Cidade do México (México, 2004). O artista já participou das seguintes bienais: Bienal do Mercosul (2009 e 2005), Bienal de São Paulo (2008 e 1987), Bienal de Veneza (2007 e 1999), Bienal de Montreal (2007) e Bienal de Istambul (2000). Sua obra está presente em diversas coleções importantes, como MoMA (Nova York), SFMOMA (San Francisco), Cifo (Miami), MACBA (Barcelona), TBA21 (Viena), Inhotim (Brumadinho), MAM (São Paulo), MAM (Rio de Janeiro), Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo), MAC-USP (São Paulo), entre outras.

 

De 19 de março a 30 de abril.

Arte erótica na TATO

11/mar

A Galeria TATO, Pinheiros, São Paulo, SP, comunica e apresenta a abertura de seu novo projeto “DARK ROOM”, com o artista Sidney Amaral e curadoria de Claudinei Roberto.

 

“DARK ROOM” é uma pequena sala expositiva dedicada inteiramente à arte erótica, buscando criar um espaço de livre imersão na produção contemporânea sem censuras.

 

Às 13h do dia 12 de março acontece um bate-papo sobre a exposição “Objeto inquieto: Esculturas de Sidney Amaral” com o artista e o curador Claudinei Roberto.

 

 

 

De 12 de março a 07 de maio.