Wagner Barja na Adrea Rehder

09/out

Galeria Andrea Rehder, Jardins, São Paulo, SP, apresenta a partir do dia 20 de outubro a exposição “Experiência Tumulto IV”, um desdobramento da obra de Wagner Barja, com curadoria de Fábio Magalhães. O artista aprofunda e demonstra nessa quarta série o seu interesse pelo simbolismo expresso na instalação “Jonas, o profeta”, exibida em 2015 no CCBB/ DF. Barja traz pela primeira vez sua obra a São Paulo e para essa segunda versão de Jonas, trabalha com três espaços contíguos da galeria onde instala três peças de alumínio e as faz conviver com elementos das tecnologias digitais para criar ambientes imersíveis para os visitantes.

 

 

Sobre a exposição

 

‘’No silêncio do olhar, a obra plástica de Wagner Barja desencadeia processos de reflexão. Para ele, a arte é sobretudo coisa mental. Suas instalações nos levam a transpor o espaço que habitamos (zona de conforto) para vivenciarmos novas experiências frente às provocações de sua plástica. Essas provocações têm como ponto de partida a forma, o material, o espaço, a luz/sombra, ou seja, o impulso de linguagem é eminentemente plástico – e intrigante pelas associações de significados diversos que o artista constrói a partir de objetos híbridos.  O percurso de fruição desta instalação traz um emaranhado de possibilidades interpretativas advinda de símbolos e mitos, ainda assim, somos conduzidos pelas tramas poéticas que o artista urdiu. O título da obra, Tumulto IV, é a porta de entrada para nossa experiência artística, é um tema para nossas reflexões – tumulto é uma irrupção, uma invasão súbita, um transbordamento da ordem que altera e põe em risco o ritmo natural das coisas. Associado ao nome do profeta Jonas, os ossos da baleia nos apontam para o tema bíblico, para a destruição de Nínive, séculos antes da nossa era. Nos faz pensar sobre o poder, a crueldade e a violência.

 

Deus ordena a Jonas: “Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença.” Jonas 1:2 Em apertada síntese do relato bíblico: Jonas, temendo a truculência dos assírios, foge e descumpre a ordem divina. Na fuga o profeta embarca para Társis, mas Deus provoca uma tempestade que só termina quando Jonas é atirado ao mar. Surge nesse momento um enorme peixe branco que o engole. Jonas sobreviveu por três dias e três noites no ventre do monstro, para ser expelido depois de arrepender-se e clamar por perdão. O profeta cumpre então seu desígnio e ao chegar a Nínive faz com que os cidadãos se arrependam de sua conduta sanguinária. Nesta obra Wagner Barja trabalha conceitos de território, de imersão, de inclusão e de afastamento. Faz referências à noção do sagrado, como espaço protegido e de espaço profano, sujeito às forças da natureza. Há proximidade, inclusive, com mitos de origem da cultura Tupinambá (Monan e o dilúvio). O artista já havia tratado o tema Tumulto na instalação realizada em 2015 no CCBB, em Brasília, na qual, as ossadas de baleia portavam nas suas cavidades imagens em vídeo de águas oceânicas – reminiscências de seu elemento natural, do vasto território das suas origens.

 

Na instalação Tumulto IV realizada para a Galeria Andrea Rehder, Wagner Barja apresenta as vértebras, costelas e respirador da Baleia-jubarte, fundidas em alumínio e acrescenta plumárias vermelhas de guará, ave que habita os mesmos manguezais onde foram encontrados os sambaquis com as ossadas da baleia. As esculturas aladas surgem na obra do artista como objetos híbridos, como coisas ou seres fora do lugar; como animais monstruosos, em outras palavras, maravilhosos – como no texto de seres imaginários de Jorge Luis Borges. Vale sublinhar que a beleza da plumária escarlate do Guará deve-se à ingestão de um tipo de caranguejo. Outro protagonista de Tumulto IV é a força permanente das águas oceânicas que atravessam o espaço das ossadas. Barja trabalhou o tema do Tumulto com a inclusão de símbolos contraditórios; com a arqueologia do tempo, de tempos ancestrais como gênesis do presente. Tumulto IV é uma obra que perturbadora. Wagner Barja estabelece relações poéticas com o texto bíblico. Relato do Antigo Testamento farto de crueldade e violência, como nos tempos atuais.’’

Fábio Magalhães

Primavera 2018

 

 

Sobre o artista

 

Wagner Barja, Rio de Janeiro, é artista plástico e educador. Mestre em arte e tecnologia das imagens, pela Universidade de Brasília (UnB). Notório saber em Teoria e História da Arte, Plástica e Arte-Educação, pelo Conselho Superior de Educação/ME. Suas obras fazem parte das principais coleções privadas e acervos institucionais, como, Museu de Arte do Rio MAR, Museu Nacional de Belas Artes RJ, Museu de Arte de Brasília MAB, Museu ONCE, Madri, Espanha, Coleção Cândido Mendes, Coleção Sérgio Carvalho entre outros.

 

 

Sobre o curador

 

Fábio Luiz Pereira de Magalhães (São Paulo SP 1942). Pintor e desenhista. Cursa história da arte no Masp, com Wolfgang Pfeiffer, e estuda com Nelson Nóbrega na Escola de Arte da Faap. Em 1964, viaja para Paris, França, onde freqüenta o Instituto de Arte e Arqueologia e entra em contato com os integrantes do movimento internacional Phases. Nesse mesmo ano, é selecionado pelo MAC/SP para representar o Brasil, ao lado de outros artistas, no Salon Comparaisons de Paris. Ao longo de sua carreira, exerce várias atividades dentre elas: diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo; membro da Comissão de Arte do MAM/SP (1978 a 1980);  conservador chefe do Masp (1990)  e curador das exposições Coleção Pirelli/Masp. Entre as exposições de que participa, destacam-se: Salão do Trabalho, São Paulo, 1962/1963 (Menção Honrosa, 1963); Salão Paulista de Arte Moderna, São Paulo, 1963/1964 (Menção Honrosa, 1963); Exposição do Jovem Desenho Nacional, Porto Alegre e São Paulo, 1963/1965 (Menção Honrosa,  1963); Propostas 65, na Faap, São Paulo, 1965; Bienal ao Ano 2000, no MAC/USP, São Paulo, 1975; Salão Nacional de Artes Plásticas, Rio de Janeiro, 1981.

 

 

De 22 de outubro até 22 de novembro.

Arte Democracia Utopia

08/out

O Museu de Arte do Rio – MAR, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe ao público a exposição “ARTE DEMOCRACIA UTOPIA – Quem não luta tá morto”. Assinada por Moacir dos Anjos, um dos mais importantes curadores do país, com passagens pelas Bienais de São Paulo e Veneza, a mostra faz parte do programa de comemoração dos cinco anos da instituição.

 

Sem ter pretensão de apresentar um panorama conclusivo, a exposição traz exemplos do pensamento utópico que marca a arte brasileira recente. Trabalhos artísticos realizados em momentos passados também encontram-se presentes, além de propostas e ações realizadas por grupos comunitários, associações e outras articulações da sociedade civil que visam a construção de estruturas de atuação política e social.

 

“Quem não luta tá morto” é a frase gritada por muitas e muitos dos que teimam em construir, em estado de constante disputa, lugares e tempos mais generosos e inclusivos. É frase dita bem alto, em particular, por aquelas e aqueles que buscam fazer valer, no Brasil, o direito constitucional à terra e à moradia. Frase que sintetiza a certeza vital que move a construção utópica: a impossibilidade de estancar a busca do que se deseja e do que se precisa. Mas se a única alternativa à morte é a luta, é dolorosamente claro que a luta não impede a suspensão da vida, que quem luta também morre – com frequência justo por sua combatividade, por sua gana de inventar um mundo mais largo. Gente que é morta por querer impedir as mortes lentas que a existência precária fabrica, espelho das desigualdades abissais que fundam e estruturam o país. As mortes de quem luta se transformam, por isso, em imperativo ético de resistência para quem fica; de fazer valer, a despeito de tudo, o valor da vida.

 

Se o assassinato de Marielle Franco é tentativa bárbara de sustar a potência da vida imaginada que a movia, o surgimento de mais e mais pessoas dispostas a publicamente sustentar e assumir, para si, as lutas pelas quais ela foi morta, é a tradução concreta da expressão Marielle Vive. Adotar aquela palavra de ordem como título da exposição é, portanto, querer estar junto, é querer fazer multidão. É lembrar que, enquanto houver desigualdades de acesso à condição de vida que para alguns já existe há muito, a história não tem fim”.

 

 

Fórum #MARaberto

 

Em paralelo à exposição, o Museu de Arte do Rio construiu o #MARaberto, um fórum pensado como lugar de encontro, discussão e ocupação, localizado nos pilotis do museu. A ideia é acionar vínculos entre arte, cultura, sociedade e política, gerando experimentos, reuniões, ensaios, oficinas, performances, saraus e o que mais for possível. Além de uma programação promovida pelo museu, com debates entre acadêmicos, artistas, lideranças e outros colaboradores, foi lançada uma convocatória para que coletivos, movimentos sociais ou iniciativas de outros formatos ocupem o fórum com as atividades que já realizam em outros lugares.

 

Universo maranhense

No Dia das Crianças, o Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, São Paulo, SP, uma instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo gerida pela Associação Museu Afro Brasil – organização social de cultura, abre as portas para receber duas novas exposições que revelam a pulsante diversidade artística do Maranhão: “Hiorlando” e “Afetos”. As exposições fazem parte da programação em comemoração ao aniversário do Museu Afro Brasil, que celebra catorze anos de existência no próximo dia 23 de outubro.

 

 

 

Sobre Hiorlando

 
Hiorlando é o nome adotado pelo artista João Pereira Marques, que apresenta no Museu Afro Brasil 100 esculturas em madeira da sua fauna lúdica e animada composta por girafas, peixes, sapos, jacarés, cachorros, entre outros bichos fartamente coloridos. “Os bichos de olho vivo e cara sapeca marcam o trabalho de Hiorlando e carregam sua alma”, destaca Paula Porta, curadora da exposição.
Nascido no povoado João Peres, no município de Araioses, no Maranhão, em 1963, Hiorlando começou a esculpir há pouco mais de dez anos, quando um acidente o afastou do trabalho de estivador marítimo e acabou permitindo que seu talento artístico se desenvolvesse. Galhos do cajueiro, tamboril e cedro são os tipos de madeira que edificam as esculturas do artista, que estão divididas em três categorias: bichos da água, do seco e do imaginário. Um deleite ao público infantil.

 

 

Afetos

 
A exposição traz um panorama do trabalho do fotógrafo paulistano Edgar Rocha, estabelecido no Maranhão há mais de 40 anos. São 41 fotografias que passeiam por temas como o patrimônio cultural, os navegantes e as celebrações do povo maranhense.
”O trabalho de Edgar Rocha traz duas características muito marcantes: a luz âmbar, morna, que nos aproxima da imagem capturada. E um fascínio pelos saberes, pelas tradições e pelo jeito de ser dos negros do Maranhão, que registra de maneira intimista e verdadeiramente amorosa”, destaca Paula Porta, que também assina a curadoria da mostra.

 

 

 

De 12 de outubro até dezembro de 2018.

Hildebrando de Castro na Bahia

05/out

O pintor Hildebrando de Castro retorna a Salvador, Bahia, para nova exposição individual na Paulo Darzé Galeria. A mostra tem por título “EDP”, na qual apresenta uma série de pinturas, – projeto que se iniciou no final de 2016 -, após dois anos de trabalho contínuo. ”Decidi tirar férias em Lisboa. Logo após o desembarque, na primeira manhã, resolvi fazer uma caminhada pela borda do rio Tejo, pois o dia estava lindo e ensolarado. Para minha surpresa, me defrontei com o incrível conjunto arquitetônico da EDP ainda em construção. Fiquei fascinado com aqueles dois prédios e comecei imediatamente a fotografar. Esquecendo que tinha prometido a mim mesmo não pensar em trabalho nessa curta temporada, voltei ali, nos nove dias em que lá fiquei, para fotografar os prédios em diferentes horários do dia, aproveitando as variações da luz. Foi com este material em mãos que propus a Paulo e Thais Darzé fazer nossa segunda exposição”.

 

Hildebrando de Castro já se apresentou na Bahia (na Paulo Darzé Galeria) a exposição “Ilusões do real”, pinturas em acrílica sobre tela e mdf. Na trajetória de Hildebrando de Castro temos inicialmente, em grande parte, como tema o corpo humano, intercambiado por suas narrativas, elaborações e o simbólico que expressam, ou partes dele em sua fragmentação, com especial relevo para o coração, mais seres humanos e bonecos para falar de uma infância ou de uma vida perversa, com figuras insólitas, até chegar ao urbano, com as últimas mostras, e a ilusão do real, jogo de formas e cores, por sua incidência da luz e da sombra, da composição e de combinações, chegando a alguns momentos a colocar a pintura na tridimensionalidade, apresentando objetos.

 

A obra de Hildebrando de Castro é uma obra de representação, os trabalhos possuem como base a fotografia. Não uma fotografia tirada a esmo, mas preparada em seu cenário para tal, o que nos leva a estarmos diante de trabalhos, seja figurativo ou geométrico, em não procurar a realidade em si, mas sua estreita vinculação ao real, sendo uma arte com origem essencialmente na pintura, arte que começou crítica, irônica, de beleza estranha ao mostrar a banalização da vida e da morte, do prazer e da dor, com uma visão que colocava em primeiro plano as obsessões, os fetiches, as exceções, percorrendo o simbólico, e com um humor bem preciso ao tratar a tudo isto. Temática que os críticos colocam como procurando representar aspectos eróticos, religiosos, kitsch. Dessa forma, a geometria. o figurativismo, e a luz continuam um elemento importante nas pinturas do artista. Não à toa seus trabalhos não começam com croquis, mas com fotografias.

 

 

Sobre o artista

 

Hildebrando de Castro nasceu em Olinda, PE, em 1957. Passou sua infância e se desenvolveu profissionalmente no Rio de Janeiro. Autodidata, realizou sua primeira exposição individual no Museu Nacional de Belas Artes, ainda nos anos 1980. Viveu onze anos entre Paris e Nova York e desde 2004 vive em São Paulo. Seu trabalho sempre operou no terreno da representação figurativa, valendo-se da estratégia de empregar o enquadramento e a luz da fotografia como referência para a construção da pintura. Os primeiros trabalhos com pastel seco foram ponto de partida para as experimentações pictóricas que o levaram ao domínio do óleo e da acrílica. Em sua nova série, a realidade da “objetiva” traz substrato para unir geometria e representação, e estabelecer vínculos com o construtivismo e suas vertentes. Em 2013 duas obras do artista foram incorporadas ao acervo do MAC USP.

 

 

De 19 de outubro a 17 de novembro.

Novas séries de Kammal João

O artista plástico Kammal João retorna à Galeria IBEU, Jardim Botânico, Rio de Janeiro, RJ, com série de desenhos que, funcionam como extensões do seu processo criativo, em cadernos enfileirados por toda extensão do espaço. Sob curadoria de Cesar Kiraly, foram reunidos cerca de 70 desenhos nesta exibição individual sob o título “encenação menor”, separados em três séries: “Angústia do Umbigo”, “Carta de Navegação” e “Pequena Dança”. Definidas pelo artista como um trabalho processual, elas podem ser distinguidas pela escala de interioridade. A primeira, se mantém entre quatro paredes, e é feita de móveis, cantos em que se pode parar e olhar e nela as interrogações escritas são mais presentes. A segunda, é uma carta de navegação sobre a natureza humana. Conceitualmente é a mais complexa e a mais econômica, para tanto, basta-lhe a fineza do traço e serpentinas brancas que representam dinâmicas orgânicas. Na última série estão os objetos, como panelas e aparelhos de jantar dificilmente removidos dos armários, associados como disparadores existenciais. Kammal se permite algum humor declarado, principalmente nos ruídos entre palavra e figura. O choque entre as linguagens distintas, o que acontece ao serem colocadas juntas no mesmo espaço, gerou curiosidade no próprio artista.

 

 

A palavra do curador

 

Nesta Encenação, Kammal João apresenta três sequências de desenhos, distintos e complementares, em que a delicada combinação de materiais oscila entre a aquarela, traços finos de nanquim e momentos de guache. Se as cores são mais presentes, elas são aguadas, deslizantes. Se não, são dependentes de imensos pedaços de alvura para compor. É importante não deixar de falar da cor, de começar por ela. Ainda mais em situações em que a temporalidade notacional é tão explícita. É pela cor que se pode acompanhar a aliança entre a densidade existencial e a inscrição adequada. As questões existenciais costumam ser acompanhadas de sentimento de urgência. Kammal preserva essa dimensão ao sugerir o deslocamento, nas folhas, nas dobras. Ele usa materiais de quem tem pressa, de quem quer leveza para se mover.

 

 

De 09 de outubro a 1º de novembro.

Schwanke na Sim Galeria SP

04/out

Luiz Schwanke é o artista de “Plasticamente outra coisa”, em exibição em São Paulo na SIM Galeria, Jardins.

 

 

Luiz Schwanke: plasticamente outra coisa

“Tudo me influenciou”

A frase, datilografada em um documento no qual se enumeram definições sobre suas perspectivas artísticas, pode ser considerada a síntese da obra de Luiz Henrique Schwanke e também dos marcos conceituais de sua geração. Pensamentos materializados em textos – conceitos e comunicação – têm a capacidade de fornecer chaves interpretativas para a obra enigmática, vertiginosa e complexa do autor.

 

De forma recorrente, há o investimento crítico que o aponta, de maneira precisa, como importante agente do circuito artístico fora do eixo Rio-São Paulo, já que muito de sua história e atividades se situaram em Joinville (Santa Catarina) e, principalmente, Curitiba (Paraná). O dado geográfico precisa também ser balizado na dimensão informacional que sinaliza aquele momento histórico. Schwanke é protagonista em uma geração para a qual os problemas se colocam a partir de um universo dominado pelos meios de comunicação de massa globalizados, distante muitas vezes do debate local e desejosa de internacionalização, para cumprir uma promessa de inserção do país no então denominado primeiro mundo. Cabe se lembrar da rejeição das categorizações geopolíticas, imprecisas, por parte de Hélio Oiticica, em sua busca por transpor o estabelecido e exercitar a antropofagia revisitada do tropicalismo. Seria possível colocar Schwanke nessa rota propositiva?

 

A intersecção entre os anos 1970 e 1980 – a cena cultural, seus artistas, práticas e debates – carece ainda de pesquisa e reflexão sobre o que foi realizado. O conjunto dos cinco anos finais da primeira década e os primeiros anos da segunda parecem emblematizar um buraco negro, desconhecido e amedrontador. O estereótipo que indica o período como década perdida, na qual foram abandonados os sonhos de um mundo melhor e justo, que incentivava a pura superficialidade consumista, continua a circular e impactar a avaliação sobre a arte produzida naqueles anos, consideradas, assim, sem a devida complexidade.

 

O entre-décadas continuou a abrigar as práticas experimentais, herança dos anos 1960, agora colocadas em confronto com a forte articulação do capitalismo global no início dos 1980. Como resultado, o choque de perspectivas, ou melhor, tentativas de incorporação e domesticação daquelas práticas, que nem sempre se deixaram engolir ou submeter, mas que, em muitos casos, foram obliteradas nas narrativas consagradas. Elas investiram no retorno do interesse na pintura, no hedonismo que a arte proporcionaria e principalmente no estabelecimento de uma arte produzida por jovens para um mercado interessado em novidades. O debate pós-modernista também colaborou para elaborações que enfatizam a ironia e o cinismo, assim como a consciência da incapacidade dos projetos utópicos modernos.

 

Mas, mais do que uma iconoclastia debochada, a produção artística durante o período no qual o pós-modernismo vigorou como perspectiva teórica trouxe, como qualidade fundamental uma alteração importante, a sua relação com a produção histórica: manipulável. Não mais uma progressão teleológica cada vez mais aperfeiçoada, mas uma estante à disposição para o uso da arte e de artistas. Nesse sentido, muitas vezes, o amor pelo passado e sua crítica feroz (ou mesmo certa indiferença) confluem em uma mesma ação.

 

No caso brasileiro, os embates entre o experimental, a relevância da tradição modernista e a globalização também são marcados, em seu início, pela pressão máxima da ditadura e, no transcorrer da década de 1980, por uma expectativa, a da abertura política, cada vez mais uma pressão popular e a crença por parte dos jovens de que tudo seria possível de ser conseguido. Afinal, depois de uma década de liberação comportamental e radicalização política, aquela geração havia colocado o país em rota democrática……

 

Luiz Henrique Schwanke é artista tanto do olhar racionalista quanto do manuseio crítico e amoroso da produção histórica. “Tudo me influenciou” demonstra seu desejo de deglutição da tradição – suas histórias e suas práticas – e sua transformação pelo filtro pessoal do experimental.

 

No entanto, se as perspectivas pós-modernistas têm ampla disseminação durante esses anos, é importante estabelecer suas origens com os exercícios da arte pop, evidentes referências nas operações artísticas de Schwanke.  Como exemplos, as apropriações e manipulações, realizadas nos anos 1970, das produções históricas – aquelas da mais incontestável tradição: Leonardo, de La Tour, Vermeer, Caravaggio, da Messina, Michelangelo, entre outros mais modernos ou contemporâneos – em transposições atualizadas em contextos marcados pelo banal cotidiano, mas aproximados também do design modernista e das imagens da propaganda. As citações presentes nessas séries de trabalhos marcados pelo diálogo histórico e irônico aponta para a percepção do artista da aproximação entre arte e mercadoria, prazer e consumo. Ao mesmo tempo, opera na sintonia com a estante da História à disposição e revela possibilidades de leituras contemporâneas dessas obras, para além dos formalismos e das qualidades técnicas que as obras históricas apresentam. Certamente a relação da arte da tradição em justaposição com o design de matriz modernista apontada por Schwanke evoca o universo de elaboração do moderno no país, novas narrativas e reconhecimentos, ambos destituídos pela perspectiva pós-modernista e pelo contexto global contemporâneo. Além dessa possibilidade interpretativa, essas séries estão diretamente ligadas ao marco da arte conceitual norte-americana, One and Three Chairs (1965), de Joseph Kosuth, um comentário sobre as relações entre signos e seus referentes a partir de Charles Pierce. Referências, traduções, transposições e representações são interesses de Schwanke.

 

Em certo sentido, esse procedimento que conecta tradição consagrada e elementos cotidianos do universo da sociedade de consumo reforça a constatação do processo de integração do país ao circuito do capitalismo global, algo claramente percebido e exercitado por jovens artistas no Brasil naquele período.

 

Sua aproximação com a linguagem expressionista dos anos 1980 presente, como exemplo, em linguarudos, os perfis, ainda se localiza na ambiência pop, desdobrada na iconoclastia pós-moderna, não de um ponto de vista formalista, mas no ferramental que aciona para destilar seu comentário que articula as seriações, repetições, reúsos de suportes gráficos da comunicação de massa, interesse expandido nas séries de sonetos, também daquela década. Essas experiências, como hipótese, podem ter se transmutado nos outros conjuntos de representações de corpos realizadas com guache, ainda nos anos 1980, nas quais são encontrados ecos tanto das pinturas de mulheres de Willem de Kooning, do ponto de vista de uma provocação gestual ou de um pano de fundo erótico, quanto das politizadas pinturas das cenas de cidades de Philip Guston, aquelas que deflagram o interesse renovado sobre a pintura neoexpressionista no Brasil. As séries de Kooning e Guston são aterrorizantes. Algo que, em Schwanke, se transforma no unheimlichfreudiano, o não familiar, o estranho: plasticamente outra coisa, são esfinges carregadas de erotismo – decifra-me ou te devoro. Repete-se a herança antropofágica.

 

O caráter mutante da obra de Schwanke se confirma quando, durante os anos 1990, novamente evoca o interesse no universo que também referencia a arte pop, com a utilização do plástico – o mais banal, corriqueiro e característico material da sociedade de consumo – em esculturas e objetos que, apesar disso, exigem para sua construção lógicas de engenharia tão exigentes quanto aquelas da arquitetura do concreto. Parece, nessa ação, realizar um movimento para percorrer a contramão do fluxo do mercado, depois da consagração gráfica e pictórica, para abrir novas trilhas experimentais e fora do que o circuito reconhecia. No mesmo sentido, é possível ler as instalações com uso de eletricidade em uma sintonia com uma arte relacionada aos avanços tecnológicos, também signos de uma possibilidade de comunicação em larga escala, em escala planetária. Entre essas, a obra historicamente ratificada  Cubo de Luz – Antinomia, que participa da 21a  edição da Bienal de São Paulo, que, segundo o próprio artista, foi influenciada por Cubocor (1960), de Aluísio Carvão, colocando-se, dessa forma, no arco de referências que abriga o concretismo/neoconcretismo brasileiro em sua busca de articulação de racionalidade e sensualidade. Encruzilhada de opostos conceituais e temporais.

 

O passado é vivo, diferente do que muitas vezes aponta o senso comum. Está sempre em mutação, e sua reavaliação e transformação podem alterar as situações do presente e, principalmente, as perspectivas de futuros.

 

“O meu trabalho procura a transformação do passado”

Luiz Henrique Schwanke (1951-1992)

Mirtes Marins

 

Até 27 de outubro

 

Brasília extemporânea

A exposição “Brasília Extemporânea”, em cartaz na Casa Niemayer, Brasília, DF, assinada pela curadora Ana Avelar, propõe obras de artistas que se depararam com essa cidade atual, ou que dialogam com aspectos dela, sejam eles simbólicos, históricos, políticos ou sociais, buscando levar adiante um debate que se deteve, em grande parte e por muito tempo, entre apoiadores e críticos de sua fundação e projeto inicial. São trabalhos de naturezas diversas (instalações, filmes, vídeos, objetos, intervenções), que informam sobre uma realidade negligenciada, mas não menos constituinte, da “capital planejada”.ACasa Niemeyer, é a antiga residência de Oscar Niemeyer, cujo estilo colonial é por si só um fato peculiar dentro das experiências modernistas do arquiteto.

 

 

Artistas participantes

 

Adirley Queirós, Camila Soato, Cao Guimarães, Christus Nóbrega, Clara Ianni, Clarisse Tarran, Diego Castro, Ding Musa, Dora Smék, Gabriela Masson (Lovelove6), Gê Orthof, Helô Sanvoy, Gregório Soares, Isabela Couto, João Trevisan, Joana Pimenta, Karina Dias, Laercio Redondo, Lenora de Barros, Luciana Paiva, Luiz Alphonsus,  Márcio H Mota, Milton Machado, Nuno Ramos, Raquel Nava, Paul Setúbal, Peter de Brito, Vera Holtz e Xico Chaves.

 

 

Até 15 de fevereiro de 2019.

Exposição de Emeric Marcier

03/out

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta até 13 de outubro a exposição “Emeric Marcier”. A mostra reúne vinte e oito obras, distribuídas em pinturas e aquarelas. Parte do acervo é inédita ao público.

 

Considerado um dos mais importantes pintores modernos no Brasil, o romeno, radicado no Brasil por quase meio século e naturalizado brasileiro, dedicou grande parte de sua vida e obra à produção de pinturas de arte sacra, retratos e paisagens mineiras.  A exposição reúne recortes dessa trajetória, trazendo ao público obras como Autorretrato (1990) – uma das últimas telas produzidas por Marcier no ano de seu falecimento-, Cristo da cana verde (1956), Igreja São Francisco de Assis em São João Del Rey, MG (1948), Ouro Preto (1966), Mariana (1968) e Lava Pés (1968). Há também na mostra a obra Torre de Babel que foi um estudo para a Capela de Mauá (SP) e aquarelas de paisagens europeias. As obras da exposição foram cedidas pelo filho do artista, Matias Marcier. A curadoria da mostra é de Evandro Carneiro.

 

 

Sobre o artista:

 

Emeric Racz Marcier, nasceu em 21 de novembro de 1916, em Cluj, na Romênia. Judeu de origem, converteu-se ao catolicismo já no Brasil, por influência de seus amigos Murilo Mendes, Jorge de Lima e Lúcio Cardoso, que foi seu padrinho de batismo. De personalidade intensa, na primeira página de sua autobiografia, Deportado para a Vida, se declara um humanista, algo anarquista e  sua história confirma que a liberdade e a vocação artística sempre o guiaram. Aos 20 anos deixou Bucareste para estudar em Milão – na Academia de Belas Artes de Brera, onde após realizar sua graduação, defendeu tese de final de curso sobre Picasso, em plena ascensão fascista. Com a deterioração das condições políticas na Itália, foi para a França em 1939 onde montou um atelier na Cité Falguière. Na época cursou uma cadeira de escultura na Escola Nacional Superior de Belas Artes de Paris. Em Paris conheceu e conviveu com muitos artistas, alguns dos quais continuaram amigos pela vida inteira, tais como os conterrâneos surrealistas, Victor Brauner, Jacques Herold, Arpad Szenes e a mulher deste, Maria Helena Vieira da Silva, portuguesa de origem. Quando a França entrou na guerra, foi para Lisboa, hospedando-se na casa dos amigos Szenes e Vieira da Silva, com a intenção de seguir para os EUA, destino de muitos judeus naquele momento. Em Lisboa trabalhou no atelier do também surrealista António Da Costa. Relacionou-se com os escritores portugueses da época e ilustrou alguns números da Revista Presença, importante veículo de expressão dos intelectuais naquele momento. Com a negativa do visto para os Estados Unidos, resolveu partir para o Brasil. Em sua chegada ao Rio, em 1940, trouxe cartas de apresentação para José Lins do Rego, Mário de Andrade e Portinari. Logo nos primeiros momentos conheceu também Jorge de Lima e Lúcio Cardoso que juntamente com José Lins do Rego, tornaram-se seus grandes amigos e o introduziram na vida intelectual carioca.

 

Ainda em 1940 surgiu a chance de sua primeira exposição individual, no tradicional Salão do Palace Hotel, sede da Associação de Artistas Brasileiros. Guignard desistira de apresentar-se por ter sido censurado pela presença de um fuzileiro naval negro em uma de suas telas e uma oportunidade grande se abriu para Marcier, um recém-chegado. A crítica foi muito favorável a seu talento, ainda associado ao surrealismo europeu.

 

Em 1942, Marcier foi contratado pela Revista O Cruzeiro para fazer uma viagem às cidades históricas mineiras para uma reportagem ilustrada com suas telas. Uma edição histórica, com textos de Drummond, Aires da Matta Machado e outros.  Desde então, retratou o Brasil, suas pessoas e seus costumes. As paisagens de Minas, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro foram diversas vezes retratadas e a expressão de nosso barroco o marcou desde sua primeira viagem a Minas. Marcier era o típico “pintor viajante”, pintou muitos lugares da Europa, com foco importante na Itália, França e Portugal. Trazia sempre sua caixa de aquarelas e blocos de papel especial para retratar os lugares que o marcavam e as pessoas que conhecia. Retornou várias vezes ao mesmo lugar, para repintá-los, como por exemplo a Itália, sobretudo a Toscana e a Normandia. Suas famosas pinturas sacras (Marcier é considerado o mais importante pintor sacro do Brasil), iniciadas ainda em Santa Teresa, onde alugou de Djanira, no começo dos anos 40, uma sala enorme para pintar sua grande “Crucificação” de quatro metros que foi exposta com outras menores na sua grande exposição do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) em 1942. Em Penedo onde morou junto aos finlandeses adventistas (1942) fez grandes telas sacras e posteriormente os afrescos gigantes da Capela de Mauá, SP (Capela da JOC-1946/47) tendo sido a temática religiosa sempre recorrente ao longo de sua vida. A partir daí, em sua obra, há a confluência entre a história sagrada e a humana.

 

Em 1948, Marcier fixou residência no sítio de Barbacena, onde criou, com Julita, os sete filhos. Tempos felizes com a família e a casa que construiu para acalmar as dores do exílio e dedicar-se à sua arte. No ateliê rural de grandes proporções, investe com todo o empenho nas telas de grandes dimensões, com temas sacros, à luz do sofrimento da humanidade e realiza as suas espetaculares Paixões de Cristo e Via Sacras. Experimenta de forma ainda mais efetiva os seus estudos sobre a luz na obra de arte. Sua obra mural é muito extensa tanto em afresco como em óleo. Diversas capelas, o grande painel da Guerra de Troia em Cataguases, os afrescos do Edifício Golden Gate na Av. Atlântica e o Painel Motivos do Rio de Janeiro pintado a pedido do Governador Carlos Lacerda, em 1963, para o BEG e que hoje está no Museu do Ingá, em Niterói, são bons exemplos da magnitude de sua obra.

 

 

Até 13 de outubro.

Julio Le Parc, Nara Roesler, Rio 

02/out

Com a presença do consagrado nome da arte cinética mundial, a Galeria Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou “Julio Le Parc: obras recentes”, em homenagem aos 90 anos do artista, completados dia 23 de setembro. A exposição traz pinturas inéditas da série “Alchimie”, uma escultura da série “Torsion’ (2004), um móbile da série “Continuel”, e “A l c h i m i e V i r t uel”, com tecnologia que permite ao espectador adentrar o universo do artista. A obra, em realidade virtual, atualiza a questão da virtualidade que Le Parc vem explorando há mais de 50 anos, como nas pinturas “Réels et virtuels”, da série “Surface noir et blanc” (anos 50), “Volume Virtuel” (anos 70), e nas esculturas “Cercle Virtuel” (anos 60). Por antecipar essa discussão, Le Parc tornou-se reconhecidamente um visionário que sempre acreditou no poder libertário que a arte tem em despertar nossas faculdades perceptivas.

 

 

“Retomar contato com as obras e as ideias de Le Parc quando ele completa seus 90 anos é uma oportunidade de reativar essa crença no papel emancipatório da arte – hoje sem o dogmatismo que regia suas ideias iniciais junto ao grupo de arte cinética – e a esperança de que ela seja portadora de uma oportunidade de transformação”, escreve Rodrigo Moura, em seu texto para a exposição.

 

As “alquimias” atuais, em acrílica sobre tela, são trabalhos em grande escala, concebidos a partir de vários estágios de desenhos e de pinturas menores que se expandem em composições modificadas progressivamente. “Em algumas pinturas vemos um grande centro preto que, circulado por uma sobreposição de cores agrupadas e sobrepostas, parece atomizado, o que provoca um efeito simultaneamente desorientador e hipnótico”, diz Le Parc. A série “Alchimie” foi iniciada em 1988, em forma de pequenos esboços surgidos a partir de observações fortuitas do artista e que, aos poucos, foram concretizadas. “Aqui Le Parc está mais uma vez interessado na ideia de permutação cromática e de refração da luz na superfície, criando possibilidades de vibração a partir de planos sobrepostos, círculos concêntricos, espirais e fitas de Moebius”, afirma Moura. O crítico também destaca “a capacidade de evocação ambiental, como se cada tela fosse um corpo espacial com profundidade e luminosidade próprios, reativando o dilema olho/corpo, um antigo problema colocado pela obra de Le Parc”.

 

Em “Torsion”, o artista reafirma essa persistência em uma experimentação contínua, em que cada novo conjunto de obras tem suas raízes no que já desenvolveu. A série de esculturas às quais o artista se dedica desde o fim da década de 1990, está ligada ao espírito dos primeiros relevos, especialmente dos “volumes virtuais” desenvolvidos nos anos de 70. A contundente presença do aço inox, esse material de superfície acetinada, permite múltiplas mudanças devido a sua maneira de atrair a luz. Para Rodrigo Moura, a questão que se coloca de forma mais evidente é a da incidência da luz do ambiente sobre os filetes de aço inoxidável. “Evoca-se uma dimensão de duração à medida que nos deslocamos em torno delas, como se fossem micro espelhos imperfeitos ou fragmentos de labirintos. Por isso, quanto mais extensão, maiores as possibilidades”.

 

 

 

 

Sobre o artista

 

Julio Le Parc (n. 1928, Mendoza, Argentina) vive e trabalha em Cachan, França. O artista apresenta ao espectador uma visão divertida e desmistificada da arte e sociedade por meio de suas pinturas, esculturas e instalações perceptualmente ilusórias. Le Parc faz interagir cor, luz, sombra e movimento de modo que as formas aparentem movimento, estruturas sólidas se desmaterializem, e a própria luz pareça plástico. Como co-fundador do Groupe de Recherche d’Art Visuel (GRAV), trabalhou para romper os limites na arte e a participação de espectadores contribuiu diretamente com suas famosas esculturas cinéticas e ambientes de luz. A partir de 1960, no entanto, começou a desenvolver uma série de obras distintas que utilizavam a luz “leitosa”: esses objetos, geralmente construídos com uma fonte lateral de luz branca que era refletida e quebrada por superfícies metálicas polidas, combinavam um alto grau de intensidade com uma expressão sutil de movimento contínuo. As obras de Le Parc foram tema de inúmeras exposições individuais na Europa, América Latina e Estados Unidos, em instituições como o Pérez Art Museum, Miami, EUA (2016); Museum der Kulturen Basel, Basel, Suíça (2015); Bildmuseet, Umea, Suécia (2015); Malba, Buenos Aires, Argentina (2014); Palais de Tokyo, Paris, França (2013); Biblioteca Luiz Angel Arango, Bogotá, Colômbia, (2007); Laboratorio Arte Alameda, Cidade do México, México (2006); Castello di Boldeniga, Brescia, itália (2004) entre outras. O artista também fez parte de diversas exposições coletivas e bienais como: a Bienal Internacional de Curitiba, Curitiba, Brasil (2015); Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (1999); Bienal de Havana, Havana, Cuba (1984); Bienal de São Paulo (1967), a Bienal de Veneza em 1966 (quando recebeu o Prêmio) e a polêmica exposição do MoMA, The Responsive Eye (1965). Como ato de protesto contra o regime militar repressivo no Brasil, ele se juntou a artistas no boicote da Bienal de São Paulo em 1969 e publicou um catálogo alternativo de Contrabienal em 1971. As obras coletivas posteriores de Le Parc incluem a participação em movimentos antifascistas no Chile, El Salvador e Nicarágua. Recentemente, Le Parc tem sido objeto de grandes retrospectivas, como Form into action no Pérez Art Museum, Miami, EUA (2016), Julio Le Parc na Serpentine Gallery, Londres, Reino Unido (2014); Le Parc: Lumière no MALBA, Buenos Aires, Argentina (2014); Soleil froid no Palais de Tokyo, Paris, França (2013); Le Parc lumière na Casa Daros, Rio de Janeiro, Brasil (2013); e da exposição Dynamo no Grand Palais, Paris, França (2013

 

 

 

Até 14 de novembro.

ArtRio, 48 mil visitantes 

A ArtRio 2018, Parque do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, provou que a arte continua valorizada e considerada um bom investimento, e que a Arte Brasileira está em alta no país e no mundo. Com visitação que chegou a 48 mil pessoas, a feira terminou sua oitava edição com saldo positivo de vendas e, também, com o incentivo a formação de um novo público. O evento, que aconteceu de 26 a 30 de setembro, ocupou uma área de 10.600 m².

 

Com a presença de 87 galerias, a ArtRio teve dois setores gerais, PANORAMA e VISTA, além dos programas curados SOLO, MIRA, PALAVRA e BRASIL CONTEMPORÂNEO.

 

Um importante foco da ArtRio esse ano foi a valorização das galerias e artistas brasileiros. A organização coordenou a vinda de 140 colecionadores e curadores internacionais para visitar o evento, além de uma programação especial que incluiu visitas a ateliês, coleções privadas e instituições culturais e museus. Entre os convidados deste grupo Jessica Morgan e Courtney Martin, dia Art Foundation / NY, Abhishek Basu, fundador da Basu Foundation for the Arts / India, Daniela Zyman, curadora do Thyssen-Bornemisza Arte Contemporânea -TBA 21 / Viena, Thierry Raspail, diretor do MAC de Lyon e Diretor Artístico da Bienal de Arte Contemporânea de Lyon, Martijn van Nieuwenhuysen, do Stedelijk Museum / Amsterdam, e Jesus Fuenmayor, da XIV Bienal de Cuenca / Equador.

 

“A ArtRio 2018 foi uma grande homenagem ao Brasil. Temos que valorizar a arte brasileira e o trabalho de nossos galeristas e artistas. Realizamos uma feira muito focada, de alta qualidade e com muita diversidade. O resultado de sucesso pode ser visto com as boas vendas que muitas galerias tiveram e também com a geração de novos contatos entre galeristas e um novo público de arte. Muito gratificante também é ver como a cidade inteira abraçou a ArtRio com um intenso calendário, com uma programação riquíssima nas galerias, museus e centros culturais”, reforça Brenda Valansi, presidente da ArtRio.

 

 

Em 2019, a ArtRio acontecerá em setembro, novamente na Marina da Glória.

 

“A feira foi ótima. Pelo segundo ano na Marina da Glória, vimos que esse formato realmente funcionou e a localização traz um público com um clima muito positivo, mesmo com a situação atual, nas vésperas das eleições. Além disso, o posicionamento da feira de reunir ainda mais colecionadores e curadores de outros estados e estrangeiros trouxe um bom resultado para nós. Tivemos boas vendas. E aproveitamos o momento do lançamento da exposição do Julio Le Parc para trazê-lo ao evento, o que nos rendeu ainda mais visibilidade. A sua obra foi a mais fotografada da feira”, disse Alexandre Roesler, da Galeria Nara Roesler.

 

“Eu não esperava um evento tão alto astral em um momento como esse, tanto econômico, quanto político. Só esse clima já valeu tudo. Nossas vendas foram razoáveis, mas tivemos muita procura e interesse, fazendo com que o pós feira seja de muitas vendas. O mais interessante foi ter nossa clientela renovada”, esclarece Maneco Muller, da galeria Mul.ti.plo Espaço Arte.

 

“Essa é a primeira vez da Central na ArtRio e foi muito produtivo, tanto em contatos quanto em vendas. Já estamos pensando no artista para trazer no ano que vem”, afirma Fernanda Basile Resstom, da Central Galeria.

 

“Em mais uma participação na ArtRio, tivemos a alegria de apresentar uma exposição que refletiu o trabalho e a poética de nossos artistas. Além de sermos visitados por nossos clientes, travamos novos e importantes contatos”, indicam Jaime Portas Vilaseca e Gus Moura de Almeida, da Portas Vilaseca Galeria.

 

“Para nós, foi ótima a participação na ArtRio. Como somos uma galeria nova, geramos relacionamento e oportunidades incríveis entre galeria, público, curadores e colecionadores; conquistando mais visibilidade e prestígio”, conta Janaina Torres, da Janaina Torres Galeria.

 

As galerias dos programas PANORAMA e VISTA foram selecionadas pelo Comitê de Seleção formado pelos galeristas Alexandre Gabriel (Fortes D’Aloia & Gabriel/ SP e RJ); Anita Schwartz (Anita Schwartz Galeria de Arte / RJ); Elsa Ravazzolo (A Gentil Carioca / RJ); Eduardo Brandão (Galeria Vermelho / SP) e Max Perlingeiro (Pinakotheke / RJ, SP e FOR).

 

O programa BRASIL CONTEMPORÂNEO teve sua primeira edição em 2018, com curadoria de Bernardo Mosqueira, e foi dedicado a galerias que apresentaram trabalhos solo de artistas residentes fora do eixo Rio de Janeiro – São Paulo. O MIRA teve como curador David Gryn, que também assina a curadoria do programa de vídeo da Art Basel Miami Beach. O SOLO pela primeira vez teve duas colecionadoras de arte assinando a linha curatorial: Genny Nissenbaum e Mara Fainziliber. O PALAVRA teve a curadoria de Claudia Sehbe e Omar Salomão.

 

A ArtRio é apresentada pelo Bradesco, pelo sétimo ano consecutivo, através da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. O evento tem patrocínio de Stella Artois e CRAB/SEBRAE, FIRJAN, e apoio institucional da Valid, Bondinho Pão de Açúcar, Estácio, Bacardi, Bombay Sapphire, Shopping Leblon, High End e Breton. A rede Windsor será a rede de hotel oficial do evento.

 

Durante a ArtRio foram apresentados os vencedores da sexta edição do Prêmio FOCO Bradesco ArtRio, destinado a artistas jovens com até 15 anos de carreiras. Os selecionados em 2018 foram Paul Setúbal, Ana Hupe e Aline Xavier. Todos receberão residências artísticas e esse ano participaram com suas obras da ArtRio.