Fiaminghi no IAC

28/mar

Inaugurando o calendário do ano, o IAC, Instituto de Arte Contemporânea, Vila Mariana, São Paulo, SP, apresenta mais uma ação de seu Grupo Experimental de Curadoria, “Fiaminghi – Pensamentos compostos”, dando continuidade ao programa de exposições que busca divulgar o acervo da instituição, constituído por importantes arquivos de artistas brasileiros.

 

Esta exposição reúne um expressivo número de obras e documentos entre desenhos, esboços, projetos, produtos gráficos e estudos realizados por Hermelindo Fiaminghi (São Paulo, 1920 – 2004), desde os anos 1950 até a década de 1990. Dos desenhos e projetos, passando por suas experiências junto ao Grupo Ruptura, a produção em têmpera e os offsets dos anos 1970, a exposição traz um importante panorama da obra de Fiaminghi, ao mesmo tempo em que apresenta aspectos de seu pensamento visual e modo de produção.

 

Com uma obra plástica marcada pela forte influência de suas experiências profissionais como litógrafo da indústria gráfica e como publicitário, a mostra revela aspectos fundamentais das soluções poéticas encontradas pelo artista. A imagem fotográfica tem papel crucial nas questões sobre cor e sua relação com a luz. O artista passa a denominar de corluz a produção na qual utiliza, de maneira extremamente original e criativa, a presença dos fotolitos e das provas gráficas, acentuando os efeitos criados por uma enorme ampliação das retículas.

 

Fiaminghi, junto com outros artistas, aderiu ao Grupo Ruptura em 1955 e ajudou a organizar, em 1956, a 1ª Exposição Nacional de Arte Concreta. Sobre esse período, o próprio Fiaminghi afirma que somente na 3ª Bienal de São Paulo se deu conta – devido à crítica que o enquadrou na arte concreta – de que ele era um artista concreto. Foi nessa época que buscou descobrir do que se tratava esse tipo de arte e quais seus pressupostos. Ao refletir sobre essa fase, o artista afirmou que “O quadro concreto começa quando você chega. (…). Na arte concreta a coisa é limpa, é clara! O que você está vendo, é!”

 

 

Sobre o artista

 

Hermelindo Fiaminghi nasceu em São Paulo em 1920. Tornou-se conhecido como pintor e desenhista, mas também atuou profissionalmente como publicitário, litógrafo e artista gráfico. Suas experiências profissionais, em todas essas áreas correlatas, influenciaram mutuamente sua pesquisa imagética. No Liceu de Artes e Ofícios, foi aluno entre 1936 e 1941, onde estudou com Waldemar da Costa. Trabalhou em várias empresas de publicidade e, também, na indústria gráfica. Participou das mudanças iniciadas pelos movimentos construtivos e aderiu ao Grupo Ruptura. Nesse âmbito, atuou junto aos poetas concretos, desenvolvendo o projeto gráfico de vários poemas.

 

Frequentou o atelier de Alfredo Volpi de 1959 a 1966. Junto com Cordeiro, Féjer, Mauricio Nogueira Lima e Décio Pignatari, fundou, em 1958, o Atelier Livre do Brás. Ali desenvolveu a série virtuais, considerada como uma passagem da produção construtiva, vinculada aos pressupostos concretos, para uma pesquisa na qual começa um trabalho de desconstrução, tornando suas formas e o uso de cores e do espaço menos rígidas. A partir dos anos 1960, passa a nomear parte importante de sua produção com o uso adaptado do termo corluz. Nessa fase, utiliza retículas na forma de fotolitos e o offset por meio do sistema CMYK de cores, no qual cada cor é impressa separadamente. Por outro lado, nessa mesma década, começa a trabalhar com têmpera e, nela, da mesma forma, privilegia os estudos com a cor.

 

O artista expôs em várias Bienais Internacionais de São Paulo, em exposições individuais e coletivas e sua obra faz parte de importantes coleções públicas e privadas no Brasil e no exterior. Além disso, atuou como professor, júri e membro de conselhos. Faleceu em 2004 também na cidade de São Paulo. Desde 2017, o Instituto de Arte Contemporânea abriga seu arquivo pessoal.

 

 

Sobre o Grupo Experimental de Curadoria do IAC

 

Já pela segunda vez, o Instituto de Arte Contemporânea abre espaço para que o processo curatorial – das coleções e das exposições – seja colocado em questão por meio do envolvimento de distintos personagens e, portanto, de múltiplos olhares sobre seu acervo. A criação do Grupo Experimental de Curadoria envolveu, na preparação da exposição “Fiaminghi – Pensamentos compostos”, formações conceituais diferenciadas em uma elaboração final coletiva. O processo de conhecimento do arquivo pessoal de Hermelindo Fiaminghi tem sido bastante rico: seus desenhos, gravuras, fotolitos, offsets, pinturas, fotografias, projetos, estudos, revelam-se de maneira inusitada, a cada novo olhar. Trabalhar em conjunto e contar com diversas consultorias tem sido um processo complexo e bastante afinado com a própria produção de Fiaminghi que foi um pesquisador incessante e que, a partir de um certo momento, compreendeu – e nos deu a conhecer – sobre a importância fundamental da des-construção para a compreensão da arte como manifestação. Suas despaisagens e desretratos são ‘apenas’ mais uma faceta dessa personalidade inquieta e riquíssima que, agora, o Grupo Experimental de Curadoria do Instituto de Arte Contemporânea apresenta ao seu público.

 

 

Sobre o IAC

 

O Instituto de Arte Contemporânea – IAC, entidade cultural sem fins lucrativos, foi criado com a finalidade principal de preservar documentos e difundir a obra de artistas brasileiros de tendência construtiva. Os arquivos destes artistas, entre eles Willys de Castro, Sérgio Camargo, Amilcar de Castro (em parceria com o Instituto Amilcar de Castro), Sérvulo Esmeraldo, Luis Sacilotto, Lothar Charoux e, mais recentemente, Hermelindo Fiaminghi têm na instituição um espaço próprio para a exposição e pesquisa com documentação arquivística, bibliográfica e museológica, armazenada em banco de dados específico. Os acervos têm finalidade de pesquisa e divulgação da obra dos artistas por meio do trabalho com seus documentos preparatórios (cartas, agendas, esboços etc.). Assim, podem ser usados em exposições internas ou cedidos a outras instituições, em publicações, em estudos e quaisquer outros usos de caráter cultural e/ou acadêmico.

 

O IAC pesquisa, coleta, organiza e disponibiliza quaisquer fontes de informação sobre os artistas relacionados em seu acervo e, através de uma interface online, permite que pesquisadores de qualquer parte do mundo acessem seu banco de dados. Promover ações educativas e intercâmbios culturais com museus e instituições com a mesma linguagem em outros países também estão entre os objetivos da instituição. Desde julho de 2011, o IAC funciona no primeiro andar do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, na Vila Mariana.

 

 

Até 01 de julho.

Dentro

“Dentro” é a primeira mostra do programa Sala de Encontro. Foi desenhada como conjunto plural que reúne, justapõe e integra em um vasto campo poético, obras que proporcionam abordagens situadas além da mera contemplação, convidando o público à reflexão e mergulho no universo complexo da arte. No dia 28 de março, às 16h, teremos conversa aberta ao público com a presença dos artistas e do curador.

 

Artistas convidados : Carla Guagliardi, Cildo Meireles, Sérgio Sister, Waltercio Caldas.

 

Obras do acervo MAR
Amilcar de Castro, Belmiro de Almeida,Dias & Riedweg, Gustavo Rezende, Kimi Nii, Kurt Klagsbrunn, Mario Cravo Neto, Mira Schendell, Montez Magno e Reis Junior.

 

 

A Sala de Encontro

 

Sala de Encontro é um espaço imersivo dedicado a exposições especiais que propõem um encontro direto e intenso com o universo poético, plural e híbrido da arte. Destina-se a todos – e em especial a crianças e jovens – visando explorar e incitar a criação de meios de experimentação e reflexão em torno da arte. Abre uma nova perspectiva de ação para o espaço expositivo do museu, buscando aprofundar conceitos básicos do projeto do MAR: democratização do sistema e do instrumental da arte.

 

Nosso desejo é que esse espaço funcione como um campo experimental de troca e aprendizado entre dois mundos: o da arte e o de quem a experimenta, o da linguagem aberta da arte e o da linguagem que configura-se como instrumento e lugar do sujeito no mundo, o de um museu socialmente ativo e o de seu público.
Sala de Encontro convida para a permanência e engajamento do público em atividades que deverão ser realizadas em seu interior. Seu mobiliário visa acolher palestras, pequenos concertos, performances, etc. – e, em particular, receber programas de formação oferecidos pelo museu. Evandro Salles – Diretor cultural

Contaminações

27/mar

Será aberta no dia 28 de março, a exposição “Contaminações”, diálogos dos artistas Álvaro Franca, Cristiano Mascaro, Eder Santos, Franklin Cassaro, Heleno Bernardi e Roberto Evangelista com as obras “Eles eram muitos cavalos”, de Luiz Ruffato; “Zero”, de Ignácio de Loyola Brandão; e “O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro”, de Sergio Sant’Anna. Daniela Thomas e Felipe Tassara assinam a criação e o projeto expográfico. A mostra ficará aberta de 29 de março a 02 de julho no SESC Ipiranga, Rua Bom Pastor, 822, São Paulo, SP.

 

OPAVIVARÁ!

24/mar

Utupya/Lá na A Gentil Carioca

 

Erro de Português

 

Fosse uma manhã de sol

O índio tinha despido

O português.

Oswald de Andrade

 

Inspirado nessa utopia antropofágica, o OPAVIVARÁ! cria seu samba enredo para sua nova individual na galeria A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Nesse caminho entre o coração da mata e a cidade concreto existe um lugar de hibridismos inconcebíveis. Das raízes pré-históricas gravadas nas paredes das cavernas às cópias dos esquemas das estruturas modernizantes da ocidentalidade reside um povo. Um povo caboclo, vítima e fruto do encontro do índio com o europeu, que se espalhou por todo esse território fazendo coisas de sarapantar. O Brasil caboclo é o primitivismo de sua tecnologia adaptativa. A utopia tupi parte da devoração, da mixagem, mesclagem, mestiçagem, que se dão na pororoca dos encontros.

 

A mostra começa no térreo do segundo prédio da galeria, no coração da Saara, numa sorveteria tupi cabocla, lojinha de doces e travessuras. O Tupycolésão picolés de partes do corpo (rosto, pé, mão, peito, piroca) de diferentes sabores que percorrem uma diversa paleta de cores. Da encruzilhada da galeria, polinizando a SAARA, saem o Remotupy, uma canoa caiçara acoplada a um triciclo de tração elétrica que transforma as ruas em igarapés navegáveis; o carro Abre Caminho é nosso abre alas movido à tração humana, com quatro baldes chuveiros que inundam as esquinas com banhos de ervas prenhes da sabedoria ancestral dos pajés e curandeiros. No segundo andar do prédio, é instalada um ponto de acesso à Rede Social, 6 rede costuradas balançam abraçadas ao som de chocalhos feitos de tampas de garrafa pet. Completam a exposição um conjunto de três ocas móveis, onde é promovido um apitaço com sonoridades da floresta no meio do caos da selva urbana, e a DiscoOka, um ambiente envolvente karaoke tupy total que reverbera os antigos rituais de dança e cantoria na eletricidade de um mundo hiperconectado.

 

Lançamento da camisa educação nº 71 por Ernesto Neto e exposição de 27 de março a 03 de junho.

Coleção Fundação Edson Queiroz

A Casa França-Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “VIRAGENS: arte brasileira em outros diálogos na coleção da Fundação Edson Queiroz”. Construída há mais de três décadas com obras de variados períodos da arte brasileira, esta coleção caracteriza-se por ser uma das mais importantes do país, e encontra-se sediada na Universidade de Fortaleza, no Ceará. Curadoria de João Paulo Quintella, Laura Consendey, Marcelo Campos e Pollyana Quintella e expografia de Helio Eichbauer.

 

A proposta é construir diálogos múltiplos que perpassam alguns capítulos da arte brasileira com obras desde 1913, como a emblemática pintura de Lasar Segall, “Duas amigas”, até os anos 1980. A exposição é constituída por núcleos que apresentam abordagens mais amplas do que os convencionais movimentos e cronologias da história da arte, identificando obras que se relacionam às discussões da forma, aos referenciais da cultura, aos interesses psicológicos e a outros atravessamentos possíveis, observando não só a influência de um artista sobre seus sucessores, mas, antes, as evidências de que arte e sociedade são indissociáveis.

 

Dentre os 43 artistas participantes, constam nomes como Abraham Palatnik, Alfredo Volpi, Amilcar de Castro, Anita Malfatti, Antonio Bandeira, Antonio Gomide, Bruno Giorgi, Candido Portinari, Cícero Dias, Danilo Di Prete, Emiliano Di Cavalcanti, Ernesto de Fiori, Flávio de Carvalho, Frans Krajcberg, Franz Weissmann, Guignard, Hélio Oiticica, Hercules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Iberê Camargo, Ione Saldanha, Ismael Nery, Ivan Serpa, José Pancetti, Judith Lauand, Lasar Segall, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, Lygia Clark, Maria H. Vieira da Silva, Maria Leontina, Maria Martins, Maurício Nogueira de Lima, Milton Dacosta, Mira Schendel, Rubem Valentim, Samson Flexor, Sérgio Camargo, Sérvulo Esmeraldo, Tomie Ohtake, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret e Willys de Castro.

 

A exposição também prevê um ciclo de falas com pesquisadores voltados para as questões da arte moderna brasileira.

 

 

De 25 de março a 25 de junho.

Retratos de Assis Horta

O Espaço Cultural BNDES, Centro, Rio de Janeiro, RJ, abriu ao público a exposição “Assis Horta: Retratos”, com mais de 200 fotografias em preto e branco em diversos formatos, do fotógrafo mineiro Assis Alves Horta, que se tornou uma referência ao registrar os primeiros retratos de operários legalmente registrados no Brasil, pela recém-criada carteira de trabalho, em 1943.

 

Assis Horta tem 99 anos e possui um acervo que contempla também cenas do patrimônio histórico nacional. A curadoria é do pesquisador Guilherme Rebello Horta, que revelou a raridade e importância deste acervo fotográfico em uma série de exposições já apresentadas em Ouro Preto, Diamantina, Tiradentes e Belo Horizonte, e em Brasília. A exposição, que chega agora ao Rio de Janeiro, é o desdobramento do projeto vencedor do XII Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da FUNARTE – “Assis Horta: A Democratização do Retrato Fotográfico através da CLT”.

 

Guilherme Horta, que apesar do sobrenome, não é parente de Assis Horta, conta que a partir de 1° de maio de 1943, com a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), milhares de trabalhadores precisaram tirar seus retratos para a carteira profissional – talvez em seu primeiro contato com uma câmera fotográfica. “A fotografia, que até então se destinava a retratar a sociedade burguesa, começou a ser descoberta pela classe operária. O retrato entrou na vida do trabalhador: realizou sonhos, dignificou, atenuou a saudade, eternizou esse ser humano, mostrou sua face”, destaca o curador. Assis Horta manteve estúdio fotográfico em Diamantina entre as décadas de 1940 e 1970, registrando em chapas de vidro praticamente toda a sociedade diamantinense da época. Seu acervo fotográfico de retratos da classe operária brasileira representa um corte nessa nova possibilidade da fotografia no Brasil e é o objeto dessa exposição, que decifra a gênese do trabalhador brasileiro legalmente registrado.

 

Para que o público conheça a potência da obra de Assis Horta, a exposição conterá três módulos. O primeiro módulo é representado pelo Decreto Lei que instituiu o uso da Carteira de Trabalho (CTPS), e os primeiros retratos 3×4 com data. As fotografias são impressas em papel fine art, e montadas em molduras de madeira sem vidro. Em seguida, o visitante encontrará um confronto entre a fotografia de identidade civil e o retrato como gênero artístico. Por fim, na terceira parte, serão apresentadas imagens do trabalhador no estúdio fotográfico. Sozinho, com os amigos ou com a família, o operário brasileiro, que já havia ganhado sua identidade de cidadão, adquiriu sua dignidade e imortalidade por meio do retrato fotográfico.

 

A mostra terá uma parte interativa: uma reprodução do antigo estúdio fotográfico “Foto Assis” permitirá ao visitante interagir com a exposição, fazendo suas próprias imagens (ou selfies) nos mesmos moldes das antigas, revivendo todo o cenário e o clima das fotografias de Assis Horta. Ao lado, vitrines com materiais do estúdio original: filmes, câmera e materiais de laboratório vão mostrar o processo de trabalho de Assis Horta. Por fim, haverá uma fotografia em grande formato, mostrando em 360 graus a cidade mineira de Diamantina, onde ficava o estúdio do fotógrafo.

 

 

Até 05 de maio.

Arte contemporânea angolana

A Caixa Cultural Rio de Janeiro, Centro, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, na Galeria 3, a exposição “Daqui pra frente – Arte contemporânea em Angola”, com obras de três artistas da novíssima geração do país: Délio Jasse, Mónica de Miranda e Yonamine. Com a curadoria de Michelle Sales, a mostra exibe fotografias, vídeos e instalações, fazendo um mapeamento da fronteira estética entre a Angola de hoje e as imagens submersas e muitas vezes escondidas de um passado colonial recente. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e Governo Federal.

 

“A representação da fronteira, excessivamente recorrente no pensamento atual, discute as trocas culturais que ocorrem na situação de pós-independência que muitas das ex-colônias vivem hoje. “Na maioria das vezes, tais territórios são encarados como esquecidos, vigiados e vazios”, comenta a curadora Michelle Sales.

 

É justamente essa perspectiva que o trabalho dos artistas busca problematizar e questionar sob diferentes óticas. As obras de DélioJasse, por exemplo, consistem, num embate direto de referências que fazem alusão à crise de todo o modelo colonial e seus desdobramentos contemporâneos: guerra, exílio, perdas. Através do retrato de rostos escavados numa antiga feira de antiguidades de Lisboa, Délio nos coloca frente a frente com aquilo que mais as práticas coloniais se ocuparam de apagar: as identidades.

 

Já Mónica de Miranda mostra os pedaços de uma memória coletiva que resiste no tempo. Angolana da diáspora, seu trabalho atravessa diversas fronteiras e esboça uma paisagem de identidades plurais inspiradas pela própria existência e vivência de uma artista itinerante. Sua poética autoral e autorreferencial, inerente a uma geração que cresceu longe de casa, já lhe rendeu diversos prêmios internacionais.

 

E o trabalho de Yonamine remete à arte urbana, usando referências que vêm do grafite, da serigrafia e da pintura, num embate violento com o acúmulo cultural do caótico cenário político-econômico de Angola. A alusão ao tempo presente é recorrente na utilização de jornais como suporte. São muitas camadas históricas que se somam, produzindo imagens profundamente perturbadoras e desestabilizadoras. O artista fala de um país cujo passado foi sistematicamente apagado, seja pela Guerra Civil, pela ocupação russa, cubana e agora chinesa e coreana.

 

 

Até 14 de maio.

 

7ª edição da ArtRio

A ArtRio 2017, que acontece entre os dias 13 e 17 de setembro, tem novo endereço este ano: a Marina da Glória. O espaço, totalmente renovado e com vista para icônicos cartões postais da cidade – a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar – irá receber pela primeira vez as mais importantes galerias brasileiras e internacionais.

 

“A ArtRio chega a sua 7ª edição com uma proposta madura, consistente e baseada na alta qualidade do trabalho que vem realizando. A decisão de levar o evento para a Marina da Glória tem como base a criação de um novo espaço para a feira, mais amplo e integrado, com novas possibilidades de ações e projetos. Nosso foco principal com a ArtRio continua sendo estimular o mercado de arte no Brasil e atuar para que o mesmo seja sério, reconhecido globalmente e baseado em princípios éticos de respeito à arte”, indica Brenda Valansi, presidente da ArtRio.

 

 

A Marina da Glória 

 

A Marina da Glória é administrada pela BR Marinas, que investiu R$70 milhões na revitalização da área. Na parte náutica, toda a estrutura foi renovada com modernos equipamentos nos melhores padrões internacionais e ampliada, triplicando o número de vagas para barcos. Entre outras novidades estão mais espaços para eventos e um parque público projetado pelo escritório Burle Marx, responsável pelo projeto original do Parque do Flamengo, o que garante a total integração com o entorno.

 

Em novembro, o local recebeu a exposição “Monumental – Arte na Marina da Glória”, com trabalhos de grandes proporções de 20 artistas, entre eles Antonio Bokel, Almandrade, Almicar de Castro, Artur Lescher, Caligrapixo, Delson Uchoa, Franz Weissmann, Galeno e Ursula Tautz.  A exposição deu início a uma ocupação das artes plásticas no local, um dos compromissos da administração com os cariocas.

 

“Com a revitalização da Marina da Glória consolidamos seu potencial náutico e turístico, além de termos uma área diferenciada e aberta a diversas intervenções. Queremos transformar o espaço em referência para as artes e a chega da ArtRio nós dá essa chancela. Estamos muito orgulhosos com essa parceria”, disse Gabriela Lobato, presidente do Grupo BR Marinas.

 

 

Inscrições para a ArtRio 2017

 

As inscrições para a 7ª edição da ArtRio, começaram no dia 06 de março.

 

Os formulários de inscrição serão avaliados pelo Comitê de Seleção da ArtRio, que analisa diversos pontos como relevância em seu mercado de atuação, artistas que representa – com exclusividade ou não -, número de exposições realizadas ao ano e participação em eventos e/ou feiras.

 

O Comitê 2017 é formado pelos galeristas Alexandre Gabriel (Galeria Fortes Vilaça / SP); Anita Schwartz (Anita Schwartz Galeria de Arte / RJ); Elsa Ravazzolo (A Gentil Carioca / RJ); Eduardo Brandão (Galeria Vermelho / SP) e Max Perlingeiro (Pinakotheke Cultural / RJ).

 

 

A feira internacional

 

Chegando a sua 7ª edição, a ArtRio tem entre suas metas ser um dos principais eventos de negócios no segmento da arte, além de estimular o crescimento de um novo público através do acesso à cultura. A feira apresenta as galerias em dois programas: PANORAMA, com galerias nacionais e estrangeiras com atuação estabelecida no mercado de arte moderna e contemporânea, e VISTA, dedicado às galerias jovens, com projetos de curadoria experimental.

 

Reconhecida como um dos mais importantes eventos do segmento, a ArtRio faz parte do calendário oficial de eventos da cidade do Rio de Janeiro.

 

Além da presença dos nomes de forte relevância no mercado brasileiro e internacional, a ArtRio tem foco também em apresentar as galerias novas, com artistas jovens, que já estão sendo reconhecidas como grandes apostas para o mercado de arte.

 

A ArtRio é uma grande plataforma de arte, com atividades e projetos que acontecem ao longo de todo o ano para a difusão do conceito de arte no país, solidificar o mercado e estimular o crescimento de um novo público. Entre os focos das ações está o incentivo à visitação de museus, exposições e galerias e o auxílio no resgate da memória da arte com base na valorização dos artistas, galeristas e curadores brasileiros.

 

Desde a edição da feira de 2013, a ArtRio realiza uma parceria com o Museu de Arte do Rio – MAR, estimulando os visitantes do evento a doarem obras expostas – previamente selecionadas e identificadas nas galerias pelos diretores da instituição, para a difusão da prática da doação de obras para museus e coleções públicas no Brasil.

 

A ArtRio é realizada pela BEX Produções e tem patrocínio máster do Bradesco, através da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura.

   

 

PLATAFORMA ARTRIO

 

A ArtRio tem suas bases em três grandes pilares: Conexões, Conteúdo Artístico e Feira Internacional.

 

 Conexões

Ligações e parcerias da ArtRio com outras marcas ou instituições.

 

 

  • ArtRio CARIOCA

 

Evento teve sua primeira edição em 2016 com a participação exclusiva de galerias com atuação no Rio de Janeiro.

 

 

  • Prêmio FOCO Bradesco/ArtRio

 

Em 2017 acontece a 5ª edição do Prêmio FOCO Bradesco ArtRio, que tem como objetivo fomentar e difundir a produção de artistas visuais emergentes, com até 15 anos de carreira. São selecionados três artistas brasileiros, que têm a oportunidade de participar de residência e exposição em três importantes instituições do cenário atual e também expor na feira internacional.

 

A seleção dos vencedores é feita por um Comitê Curatorial independente com direção do curador do Prêmio, Bernardo Mosqueira.

 

 

  • CIGA – Circuito Integrado de Galerias de Arte

 

A 4ª edição do CIGA está prevista para acontecer no primeiro semestre do ano. Durante o CIGA, as galerias de arte têm programação especial como abertura de exposições, visitas guiadas, finissages e performances, entre outras atividades.

 

O CIGA tem entre seus objetivos estimular a visitação às galerias de arte, além dos museus e centros culturais.

 

 

  • ArtRio Social

 

Agenda de atividades que levam cultura, informação e arte para organizações não-governamentais e escolas da rede municipal de ensino. Entre as ações estão visitas guiadas a exposições em centro culturais e museus, organização de palestras e doação de materiais para serem reutilizados por artesãos da ONGs.

 

 

  • Intervenções Bradesco/ArtRio

 

Exposição realizada nos mesmos dias da feira, leva obras de larga escala para espaços públicos. Em 2016, foi realizada nos jardins do Museu da República com obras de importantes artistas como Ernesto Neto, Barrão e Raul Mourão.

 

 

Conteúdo

Informação e entretenimento, com foco na divulgação de conteúdo artístico:

 

  • Portal ArtRio 

 

Com atualização permanente durante o ano, é uma grande central de notícias sobre o universo das artes, com informações sobre o que acontece no Rio de Janeiro e no mundo. Dessa forma, a marca ArtRio traz a arte para uma pauta mais abrangente, estimula a divulgação artística e dos conceitos da arte, enquanto fornece as bases para a formação de um novo público.

 

O portal traz a agenda dos eventos, exposições e mostras realizadas na cidade e tem parceria com os museus egalerias para constante divulgação de suas atividades.

 

 

  • Pílulas de Arte

 

Série de programas, com até três minutos de duração cada, realizados em parceria com o Canal CURTA! com depoimentos de artistas brasileiros contemporâneos sobre seus processos criativos e obras, além de entrevistas com curadores, críticos e galeristas.

 

 

  • Circuitos Artísticos

 

Criação de circuitos de arte na cidade do Rio de Janeiro, com a indicação, dentro de uma linha de visitação e história, de roteiros de arte (pública, imaterial, urbana, arquitetônica etc) que estão em locais de visitação pública (ruas, museus, galerias, paisagens).

 

 

  • Web Rádio

 

Disponível 24 horas por dia com música de qualidade, entrevistas e notícias sobre o cenário de artes visuais. Em sua programação está o primeiro programa nacional totalmente dedicado à Arte Sonora. A rádio conta também com mixtapes assinadas por convidados.

Lygia Pape em NY

Lygia Pape ganha primeira grande retrospectiva nos EUA

 

POR MARCELO BERNARDES

 

Os mais importantes museus de Nova York estão vivendo um verdadeiro caso de amor com o movimento neoconcretista, originado no Rio de Janeiro em 1959.

 

Depois de uma abrangente exposição do trabalho de Lygia Clark (1920-1988), organizada pelo Museu de Arte Moderna, o MoMA, em 2014, e antes de uma superlativa examinação da obra de Hélio Oiticica (1937-1980), que o museu Whitney inaugura em julho, o MetBreuer (anexo do Metropolitan especializado em arte moderna) lança,dia 21, a exposição “A Multitude of Forms”, primeira grande retrospectiva dedicada ao trabalho da artista Lygia Pape (1927-2004) a ser montada nos Estados Unidos.

 

Organizada pela curadora espanhola Iria Candela, expert do Metropolitan em arte latino-americana contemporânea, a mostra de Lygia Pape não supera, em número de trabalhos expostos, a da abrangente exposição “Espaços Imantados”, organizada no museu Rainha Sofia, em Madri, em 2011. Mas Nova York pode ver duas obras não apresentadas na Espanha: a tela “O Livro dos Caminhos” (1963-1976) e as esculturas “Amazoninos” (1991-1992).

 

O fato de a retrospectiva de Pape ter sido organizada no museu MetBreuer tem caráter bastante especial. A artista carioca era grande fã do prédio modernista criado pelo arquiteto húngaro baseado em Nova York, Marcel Breuer (1902 -1981), em 1966. “Lembro-me que, em nossa primeira visita ao local, quando o prédio pertencia ao museu Whitney, Lygia ficou olhando o piso, o teto, as janelas, as formas generosas do museu, e disse que seria fantástico poder exibir aqui um dia”, diz Paula Pape, filha da artista, em entrevista ao blog, na manhã de hoje (20).

 

A curadora Candela contextualiza o diálogo entre as obras de Pape com a arquitetura de Breuer. “Trata-se de uma conexão muito clara, pois é uma ligação histórica. O trabalho de ambos cresceu a partir dos legados do avant-garde europeu”, explica a curadora ao blog. “O neoplasticismo, o suprematismo, a Bauhaus, Mondrian e Kazimir Malevich foram abraçados por ambos”, prossegue. “Lygia foi uma grande herdeira daquele movimento, não só criando um vocabulário universal de cores e formas, mas como também guiando todas aquelas influências em direção completamente inédita”.

 

Como o nome didaticamente oferece, a mostra “A Multitude of Forms” reúne o trabalho de Pape em diversas mídias experimentadas ao longo de sua carreira, iniciada com o concretismo na década de 50, e que incluiu pintura, gravura, escultura, dança, filme, performance e instalação. “Lygia costumava dizer que o grande termômetro de uma exposição vem das pessoas que tomam conta das galerias dos museus”, diz Paula. “E o pessoal responsável pela segurança que encontrei por aqui parece instigado, reagindo com grande interesse pelas obras. É como se estivessem felizes com o que vêem”, conclui.

 

A obra mais representativa do trabalho de Pape, e que serve de pôster da exposição, é “Divisor” (1968), uma performance em que várias pessoas enfiam as cabeças em buracos abertos num gigantesco lençol branco, trabalho que a carioca explicou ser tanto uma celebração do corpo, espaço e tempo (como boa parte de sua obra), mas também uma crítica à burocracia moderna.

 

No sábado (25), como uma espécie de complemento para a instalação em vídeo, o MetBreuer vai apresentar, em alguns quarteirões do Upper East Side (onde está localizado o museu), uma “peregrinação” baseada na obra. Paula Pape, que é fotógrafa, vai filmar a performance. “Divisor” foi o primeiro trabalho de Pape que a curadora Candela tomou conhecimento. “Ao fazer minha dissertação em arte pública, rapidamente me interessei pelo trabalho de Pape”, explica. “Ela foi a pioneira em trabalhos em espaços públicos, mudando a face das performances”.

 

Também chama a atenção a monumental obra “Ttéia, C1” (1976-2004), que encerra a exposição com chave, ou melhor, fios de ouro. A obra é feita por uma sucessão de fios dourados que atravessam o ambiente, dando a sensação de uma tempestade de linhas ou feixes de luz. Onde quer que seja montada, a instalação parece sempre ganhar nova leitura, uma vez que os fios precisam se adequar aos novos espaços ou mudanças na iluminação.

 

Não poderia ser diferente no MetBreuer. “O teto aqui não é plano, mas sim de módulos vazados, então foi-se criada toda uma estrutura para afixar as placas que sustentam os fios no teto”, explicou ao blog o engenheiro e artista plástico Ricardo Forte, genro de Lygia Pape. Por questão de segurança, o MetBreuer vetou que “Ttéia” ficasse muito rente ao chão. “Isso nos obrigou a montar a peça numa plataforma de 30 centímetros de altura, quando o normal é 5 centímetros”, explica Forte.

 

A exposição de Pape reúne cinco décadas do trabalho da artista carioca. Paula Pape disse ter ficado “emocionada” já na primeira galeria, onde as séries “Pintura” “Relevo” e “Tarugo”, da fase concretista, foram montadas de maneira criativa. Há galerias especiais para o manifesto neoconcreto, criado por artistas e poetas cariocas, entre as Lygias e Oiticica, também Ferreira Gullar, Amílcar de Castro e Reynaldo Jardim – e para filmes do Cinema Novo, em alguns dos quais Pape colaborou no projeto gráfico.

 

A proposta do movimento neoconcretista, de favorecer relações mais interativas entre artes e espectadores, é semi-obstruída na exposição do MetBreuer por questões de preservação. As séries “Livro de Arquitetura” e “Poema-Objeto”, livros com elementos arquitetônicos semi-abstratos que as pessoas eram encorajadas a manusear, agora ficam inacessíveis ao tato, trancadas numa caixa de vidro. Mas ainda é possível experimentar, com o auxílio de conta-gotas descartáveis, os sabores da instalação “Roda dos Prazeres” (1967), com vasilhas de porcelana carregadas de líquidos multicoloridos.

 

A retrospectiva Pape é uma das exposições que comemoram o primeiro ano de funcionamento do MetBreuer. A diretora do museu, a inglesa Sheena Wagstaff, que veio do Tate Modern, de Londres, apontou na manhã de hoje que, em 12 meses de funcionamento, o museu teve quatro grandes exposições de mulheres artistas. Começou com a pintora indiana Nasreen Mahamedi (1937-1990), seguida da fotógrafa americana Diane Arbus (1923-1971), da escultora e pintora italiana Marisa Merz, 91, (essa ainda em cartaz até maio) e agora Pape.

 

Candela ressalta que a igualdade de gêneros, tão discutida hoje nas narrativas artísticas, nunca foi problema no Brasil. “Na verdade, o Brasil sempre foi muito inclusivo nas artes plásticas”, explica. “Mulheres sempre destacaram-se muito cedo, como Tarsila do Amaral (1886-1973), por exemplo. Até hoje essa representação é muito igual, com grandes artistas saídas do Rio, São Paulo e mais recentemente de Belo Horizonte também”.

Benjamin em Curitiba

A Simões de Assis Galeria de Arte, Curitiba, PR, abriu a exposição individual do artista Marcos Coelho Benjamim, com apresentação de Guilherme Bueno.

 

 

Benjamin – Tudo está aqui

 

A obra recente de Marcos Coelho Benjamim aglutinou um desdobramento de seus feitos anteriores e um novo passo. Isso não significa ter havido uma “superação” de seus trabalhos realizados até então ou a ruptura com os mesmos; aponta somente para o fato de que certas questões abriram-se para novas abordagens – e nisso, pensamos especificamente no seu trato composicional dos materiais e em suas consequências no entendimento da cor.

 

Característico de seu trabalho pelo menos desde a metade final da década de 1980 é a criação de objetos passíveis de abordarem três frentes: uma primeira em que os campos da pintura e da escultura se mostram intercambiáveis; num segundo caso, eles denotam uma ambivalência entre abstração e figuração, sem, contudo, proporem isso como um dilema ou drama, mas como jogo visual (isto é: como olhamos para uma obra de arte – ou o quê esperamos dela); por fim, na sua capacidade de assimilar simultaneamente uma visualidade “popular” e uma erudita. Exemplificam-nos a série dos Raladores com sua silhueta demarcada e total do suporte (visto que ele não fechava a composição, mas era a forma mesma do trabalho como um todo articulado), a menção a um objeto comum – antes um apelido contingente do que uma descrição, uma legenda ao trabalho – depurada por uma geometria e uma espacialidade pictórica (bidimensional) conjugada a uma plasticidade escultórica (a presença viva da matéria). A paleta terrosa, no seu trato espesso, por sua organicidade, obtinha uma inesperada sensualidade para uma cor quase sempre tratada como tom – uma cor por outros reprimida.

 

Tais colocações, indicativas da parcela de continuidade vista na trajetória do artista, têm sua contrapartida no modo como passam a ser abordadas nos últimos tempos. De imediato, há uma nova paleta em jogo. Benjamim explora cores de uma vibração menos contida; elas decididamente avançam rumo ao espaço. Aqui temos uma interessante comparação: as cores terrosas funcionavam como uma espécie de regulagem entre o quanto a obra tendia a transbordar (por conta de sua textura marcante) ou ter sua área de “influência” e dispersão delimitada ao suporte (dada – perdoe-se o termo – a “frieza” das cores terciárias, a “segurar” a expansão da pintura). A luminosidade média das cores terrosas funcionava como um fiel entre bidimensionalidade do suporte e corporeidade explícita dos materiais. Agora vemo-nos diante de obras cuja luminosidade, ora propelida, ora profunda (e às vezes as duas coisas ao mesmo tempo), optam por uma intercambiável e rica oscilação e vibração do trabalho, algo conquistado paulatinamente pelo seu método de construção.

 

Benjamim persiste em criar obras que não se constroem dentro do suporte, mas com ele. Se o modo disso acontecer anteriormente já foi assinalado, os seus tondi da última década deixam claro como isso tem ocorrido. A forma (e sem querer forçar paralelos, mas apenas sugerir uma analogia) se desenvolve similarmente a certos procedimentos da pintura inicial de Frank Stella, em que uma determinada unidade ou módulo progressivamente se expande. Em Benjamim o tondo também surge a medida em que os arcos metálicos são agregados e conjugados. No entanto, há dentre outras diferenças, uma fundamental – o fato de no artista mineiro tal repetição não ser uma operação programada, mas antes o resultado de escolhas feitas somente no decurso mesmo de realização do objeto. A contraprova está em outras séries que optam por um chassis quadrado, no qual o emaranhado de tiras não replicam o seu perfil, mas que, das pequenas tiras das extremidades às maiores próximas ao centro (onde estão parte dos perfis mais extensos), nele resultam, em uma iridescência luminosa que ora parte, ora proporciona um crescente das bordas para o ápice quase epifânico próximo ao centro do “quadro”.

 

O “emaranhado”, por sua vez, parece fruto de dois problemas: mais uma vez dialogando consigo, o artista encontra aqui uma nova solução para sua investida pictórica por meio de dispositivos escultóricos: as tiras são como linhas desenhadas com objetos reais em um espaço real. Melhor dito, ao invés de desenhar, Benjamim prega uma linha – linha que é também plano e volume. O intervalo entre elas, intensifica, na sua diferença de profundidade, a vibração da cor que, dada variação de ângulos conforme as chapas foram colocadas, obtêm intensidades particulares a partir de uma mesma matriz. Daí o farfalhar vivo e ondulante de algumas peças, como nos quadrados e retângulos, ou o caráter mais grave dos losangos, cujo contraste é acrescido da oposição entre frios e quentes das partes frontais e laterais das lâminas. Resumidamente, Benjamim não se enquadra nem no estereótipo “extremamente mental”, nem no “ingenuamente popular (intuitivo)”, nem no “habilmente formalista”. Sua arte transita entre tudo aquilo que se mostra disponível, cuja validade, porém, se ratifica apenas quando algo faz sentido plástico para ele. Benjamim é um artista honestamente visual: nele, tudo é dito pela maneira como as formas são operadas para dar consecução a um trabalho, cuja validade se traduz em sua aptidão para ser efetivamente autêntico, e não justificar empréstimos formais tomados alhures (sem renegar, contudo, sua amplitude de repertório). A melhor palavra para descrever uma obra sua é presença. A sua verdade está no esplendor e maravilhamento sem culpas ou tergiversações que uma obra de arte pode despertar. Óbvio que não indica nem um método nem um princípio exclusivo como a arte deve ser hoje; outrossim deixa-nos perceber que é uma das inúmeras modalidades autênticas segundo as quais ela pode existir.

 

Resta ainda um aspecto a indicar nisso tudo. Foi dito que Benjamim mostrou-se sempre capaz de entrelaçar uma visualidade popular com aquela outra “erudita”. Esse sempre foi um tema espinhoso, pois abria margem para leituras incompletas e reducionistas do artista. Isso ficava patente na discutível “mineiridade” ancestral e profunda de seu trato com sua invenção (valendo-nos da precisa expressão usada por Olívio Tavares de Araújo ao falar do artista). O princípio de Benjamim não é nem descoberta ingênua e acidental nem a pré-determinação da forma: é acima de tudo a potência de testar os mais discrepantes modos de se chegar a arte. Dito concretamente, é sua generosidade plástica de fazer com que cor, forma e matéria – em um resumo simplista, a tríade inicial de seu processo – lograssem com ele a conjugar uma evidência carnal e matérica dos elementos construtivos, com um esplendor e presença quase “mágicos” que, hoje em dia, apenas a arte (mais verdadeiramente) popular consegue atingir. Seus azuis e violetas têm a potência cativante dos antigos santos, mas são igualmente elementos de um mundo próximo e corriqueiro da cultura visual urbana. O desafio que Benjamim nos oferece é o de ser um artista sem classificações ou molduras. É o desafio da honestidade; simples porque tudo está dito, mas numa plástica generosa e inquiridora de todos os seus horizontes.

Guilherme Bueno

 

 

 

Até 29 de abril.