Antônio de Dedé: Esculturas

12/set

Com curadoria de Roberta Saraiva, a Galeria Estação, Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta 38 esculturas na individual do artista alagoano Antônio de Dedé que, em 2012 participou da coletiva “Histoires de Voir”, organizada pela Fundação Cartier, em Paris, e do projeto “Teimosia da Imaginação”, livro, documentário e exposição no Instituto Tomie Ohtake. Autodidata, Antônio de Dedé aprendeu a arte observando o pai trabalhar a madeira na carpintaria e diz ter uma relação “transparente com a sua criação”. Segundo ele, sua habilidade é um dom que surgiu da vontade de recriar o trabalho do pai. O resultado deste talento herdado pode ser visto neste conjunto de peças inusitadas, mas que fazem parte da sua realidade, como animais, santos e figuras humanas, com cores e tamanhos variados até dois metros de altura.

 

Antônio de Dedé começou a talhar aos 8 anos, criando brinquedos como carrinhos, aviões e peões que vendia pela vizinhança. Na adolescência, a sua obra se desenvolveu quando passou a trabalhar em uma olaria, onde usava o barro para “queimar os bonequinhos junto com as telhas” e, com isso, começaram a surgir patos, bonecos e cavalos modelados, queimados e pintados. “No meu trabalho, eu tava descobrindo o ouro”, conta o artista. Com o tempo, a olaria foi se extinguindo e de Dedé começou a usar a madeira como matéria prima principal para suas esculturas.

 

Sempre com muita cor, é possível encontrar peças de pequena escala com membros de proporção naturais, no entanto, o trabalho do artista é característico por suas esculturas geralmente verticais, com extremidades comprimidas, nas quais o corpo alongado com pés pequenos e os braços sem fim com mãos encolhidas geram um contraste particular. Para a curadora Roberta Saraiva, “as peças ganharam corpo e tamanho e se estabeleceram numa verticalidade de proporções curiosas, de expressão e colorido ricos, que fazem lembrar as carrancas que outrora se erguiam à proa dos barcos do rio São Francisco.” Com dentes, olhos arregalados, bigode, sobrancelha e unhas pintadas, cada detalhe dos personagens esculpidos por de Dedé é extremamente marcado.

 

A expressividade do entalhe e a dramaticidade de cada peça são características marcantes na obra de Antônio de Dedé. Um trabalho que, segundo a curadora, “se encaixa perfeitamente no conceito de arte popular, sobretudo se essa marca estiver ligada ao sentido da origem rural do artista e de sua magnitude com relação ao mercado da arte – mas também se encaixa em outros rótulos, se observada a complexidade de uma cosmogonia própria em primeiro plano.”

 

 

Sobre o artista

 

Antônio de Dedé nasceu em Lagoa da Canoa, AL, 1957. Seu nome civil é Antônio Alves dos Santos, filho de Dedé Lourenço, mora com os cinco filhos em sua cidade natal. Começou esculpindo seus brinquedos na infância. Assim como muitos artistas populares, migrou para a madeira por conta da escassez do barro. Seus primeiros trabalhos ainda eram de pequeno porte. Depois vieram as figuras do touro e do tigre, longilíneas e com os membros reduzidos, anunciando a proporção “esticada” dos trabalhos futuros do artista.

 

De 12 de setembro a 31 de outubro.

 

 

Ana Michaelis – ILLUSION

11/set

A artista plástica Ana Michaelis é a primeira brasileira selecionada para participar do prêmio Artprize 2013, que ocorre durante o mês de Setembro em Grand Rapids, Michigan, USA. Na quinta edição do evento, – a única representante do Brasil na mostra -, cria com sua delicada pintura, um site specific intitulado “ILLUSION”, obra que ocupará três grandes paredes do Grand Rapids Art Museum – GRAM.

 

Durante os últimos anos, Ana Michaelis tem visto na pintura de paisagem seu principal interesse. A artista constrói pinturas inabitadas, imaginárias, sobre os quais aplica inúmeras camadas de branco, no intuito de fazer sobressair a luz e diluir os traços, sugerindo uma paisagem que instiga no observador a sensação única de ilusão, de lembrança. Criada a partir de recordações da artista, “ILLUSION” proporciona a reflexão do observador, para estabelecer o diálogo entre memórias: “Acredito que a consciência da paisagem é baseada na memória, muitas vezes filtrada através de recordações de algum momento da vida. Minha intenção é evocar assim uma conversa entre memórias, aquelas que o observador traz consigo e a minha memória apresentada através da pintura.”

 

A Artprize é uma organização independente, e a escolha de Ana Michaelis para mostra no Grand Rapids Art Museum – GRAM é fruto de um concurso de arte aberto e internacional. Ao longo de 19 dias, três quilômetros quadrados no centro de Grand Rapids – Michigan, tornam-se uma enorme exposição de arte, com os trabalhos selecionados. Os espaços expositivos são abertos ao público e a entrada é gratuita, contando com uma premiação – decidida inteiramente por votação do público – que pode chegar a US$ 560,000.00. Este ano, o tema do GRAM é “Reimaginando a Paisagem e o Futuro da Natureza”, conta com 24 artistas instigados a exibir obras que exploram imagens e ideias tiradas não apenas do mundo que nos cerca, como também de discussões contemporâneas sobre o meio ambiente e as fronteiras da ciência natural.

 

 

De 11 de setembro a 06 de outubro.

Galeria Pilar comemora 2 anos

10/set

A Galeria Pilar, Santa Cecília, São Paulo, SP, comemora seus dois anos de atividades com exposição panorâmica da artista argentina Marta Minujín. A mostra tem curadoria do argentino Rodrigo Alonso e reúne importantes obras da carreira da artista, desde sua produção efêmera e pioneira em instalações de ambiente dos anos 1960 até trabalhos mais recentes, da última década.

 

Na exposição, constam documentações e croquis de performances e instalações históricas, como “Obelisco Acostado”, realizada na Bienal de São Paulo, em 1978; e a ação “Repollos”, realizada em 1977, no MAC-USP. A mostra traz ainda a celebrada série de seis fotografias da ação “O pagamento da Dívida Argentina”, realizada com Andy Warhol, em 1985, em Nova York, desdobramentos dos famosos colchões do anos 1960, além da escultura “Catedral para o Pensamento vazio”.

 

No mesmo período da mostra em São Paulo, a artista recria um de seus mais importantes trabalhos na 9a Bienal do Mercosul 2013, que ocorre entre 13de setembro e 10 de novembro de 2013 em Porto Alegre. Apresentada originalmente em 1966, no Instituto Torcuato de Tella, em Buenos Aires, a obra “Simultaneidad en Simultaneidad”, trata-se de um projeto internacional denominado “Three Countries Happening”, concebido em colaboração com os artistas Allan Kaprow (desde Nova York) e Wolf Vostell (desde Berlim). De Buenos Aires, Minujín usava todos os meios de comunicação (tv, telex e rádio), para criar uma invasão de mídia instantânea.

 

Sobre a artista

 

Marta Minujín é uma figura emblemática na história da autogestão de projetos na Argentina. Incansável “projetista”, Minujín transitou por múltiplas experiências durante sua produção. No início dos anos sessenta, realizava performances de caráter efêmero, como “La destruccíon”, realizada em Paris em 1963. Essa sua primeira obra autodenominada Happening, na qual convocou os artistas Alejandro Otero, Carlos Cruz Diez e Christo, para queimar e destruir seus trabalhos expostos

 

Até 26 de outubro.

 

Inéditos ou quase…

“Inéditos ou quase…”, é uma exposição que reúne exemplos de várias décadas da criação artística de Vera Chaves Barcellos. Esta visão panorâmica da produção da artista ocupa, pela primeira vez, a Sala dos Pomares da Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, RS, e mostra cerca de 30 obras. A curadoria é de Ana Albani de carvalho e traz desde objetos inéditos dos anos 60, obras em xerografia e fotografia manipulada dos anos 70 e 80, até trabalhos mais recentes incluindo um vídeo e dois livros de artista.

 

Vera Chaves Barcellos foi uma das primeiras artistas gaúchas a problematizar a relação entre imagem fotográfica e texto através de sua série “Testartes”, iniciada na década de 1970, o que levou a artista a representar o Brasil na Bienal de Veneza, em 1976. No TESTARTE VII, o público poderá ver o caderno com o relato da pesquisa psico-social realizada com estudantes gerada a partir deste trabalho.

 

 

As obras da panorâmica

 

Muitos trabalhos inéditos da artista (em séries) são apresentados pela primeira vez, como: “Cadernos para Colorir”; “Cadernos de Leonardo”; “On ice”, 26 fotos p&b realizada em coautoria com Flávio Pons e Claudio Goulart, a partir de uma performance em um lago congelado em Amsterdã, em 1978; o selfportrait irônico, “Meus pés”, composto de 30 fotografias dos pés da própria artista; “Do aberto e do fechado”, trabalho dos anos 70, em imagens agora digitalizadas e em novo e grande formato; “Epidermic Scapes”, de 1977,  cópias fotográficas p&b, com impressões sobre papel vegetal, com 9 imagens originais da época; “Comparações”, 4 colagens com fotografias e desenhos; “Telegrama Planetário”, de 1974; “O Grito”, de 2006, e “Fêmme Aeroporto”, de 2002, inéditos no Brasil, apresenta imagens apropriadas da mídia; “Atenção II”, de 1980, uma fotografia reproduzida em dezenas de detalhes, em xerografia; “Arroio Dilúvio” e “Consum”, ambos de 2013, livros de artista com impressões digitais; completando a panorâmica, os inéditos “Auto-retrato no espelho”, fotografia digital colorida de 2013, com a imagem da artista duplamente refletida no espelho e “Falso Andy Warhol”, em xerografia, de 1987, obra irônica, uma apropriação de uma foto de Man Ray retratando Meret Oppenheim e, numa paródia de Andy Warhol, a artista exacerba a questão da apropriação de imagens.

 

 

A palavra da curadora

 

O uso da fotografia e a exploração das qualidades intrínsecas da imagem técnica são procedimentos recorrentes na produção de Vera Chaves Barcellos, desde o início de sua trajetória artística. Alinhada com a vertente conceitual desde o final dos anos 1960, a importância concedida pela artista ao plano das ideias nunca se dá em detrimento da materialidade ou do apuro formal. Dito de forma mais precisa, o interesse de Vera Chaves pela imagem e pela fotografia passa pela atenção à forma, ao lugar e ao contexto de apresentação, assim como é direcionado ao exercício da linguagem e às referências ao próprio campo da arte e à sua história. A investigação sobre as relações entre pensamento e percepção constitui outro fundamento para a abordagem dos trabalhos reunidos nesta exposição, na medida em que a conduta perceptiva ou imaginativa do receptor/espectador é um dos focos de pesquisa da artista. O recurso à série, por sua vez, é outro ponto de conexão entre vários trabalhos apresentados em Inéditos ou Quase, por sua recorrência na produção de Vera Chaves ao longo destas quatro décadas de atividade. Mais do que um desejo de elaborar um tipo de narrativa visual, o trabalho com séries de imagens sinaliza o caráter processual da produção de uma obra artística, conectando o momento de sua concepção ao seu destino. Destino que se manifesta ao propiciar o compartilhamento de uma experiência estética que desestabilize as certezas e os lugares-comuns da vivência cotidiana. Ao atingir este caráter emancipador pouco importa se vemos uma obra pela primeira ou pela milésima vez.

 

 

Até 14 de dezembro.

Três: Xico, Vasco e Iberê

03/set

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS,  abriga, no quarto andar de sua sede, a exposição “Xico, Vasco e Iberê – O ponto de convergência“, que propõe conexões entre as obras desses três artistas ligados por dimensões temporais e espaciais. Trabalhando simultaneamente na Porto Alegre dos anos 80, os três pensaram os mesmos temas e estabeleceram uma relação de coleguismo e amizade. A fim de ilustrar essa ligação, a mostra traz retratos feitos por Iberê Camargo de Vasco Prado e de Xico Stockinger, as cabeças de Iberê e de Xico esculpidas por Vasco e outras duas feitas por Xico retratando Vasco e Iberê. Esse triângulo formado pelos artistas tem curadoria do crítico de arte e professor da USP, Agnaldo Farias. Partindo da volta de Iberê a Porto Alegre em 1982, após 30 anos no Rio de Janeiro, ela apresenta uma seleção de obras que versam sobre a condição humana, a qual – seguida pelo desenho – é ponto de convergência entre as ideologias e poéticas próprias de cada um dos artistas.

 

Entre as principais obras de Xico Stockinger expostas, destacam-se os “Gabirus”, série de esculturas que ressalta as condições de vida do homem nordestino. Os corpos deformados e nus, com características animalescas que enfatizam o horror social, são uma espécie de denúncia à inércia e ao pouco caso nacional. Em oposição a eles e no mesmo espaço de tempo, encontram-se as “Magrinhas”, série de figuras femininas longilíneas de forte aspecto sensual.

 

Vasco Prado é representado por “Acrólito”, escultura em madeira e bronze na qual trabalhou durante quase trinta anos. Nela, o tempo se sobrepõe em camadas marcadas pelo buril do artista, evidenciando seu processo de trabalho com a madeira a cada pequena decisão tomada. Segundo Agnaldo Farias, a obra, carregada de certo aspecto mágico ou religioso, evoca não apenas esculturas tradicionais de tribos africanas, mas ainda máscaras mortuárias (representadas pela cabeça e pelos pés em bronze) que carregam as feições do morto através do tempo – promovendo um encontro entre presente, passado e futuro.

 

“Tudo te é falso e inútil V” e “No vento e na terra”, de Iberê Camargo, ressaltam a mudança ocorrida nessa época em seu trabalho – que passa de telas carregadas, com uma espessa camada de tinta, grande força gestual e um gradual afastamento da representação a figuras humanas  e uma camada mais fina de tinta sobre a tela. Aqui, o homem é representado  em toda sua desgraça e solidão, em telas amplas e cheias de espaço vazio; são postos em evidência os abismos humanos, que também são os abismos do artista.

 

Nesse sentido, a condição humana como ponto de convergência leva o espectador ao longo da exposição, evidenciando tanto as peculiaridades, semelhanças e relações entre os trabalhos dos três artistas gaúchos quanto ao coleguismo estabelecido por eles no ofício artístico. Dois escultores e um pintor ligados não apenas pelo contexto histórico e social, mas também por suas próprias inquietações e angústias.

 

 

De 05 de setembro a 17 de novembro.

Pinturas de Mateu Velasco

02/set

Abrigo é uma palavra que pode remeter a diferentes significados. Para quem se sente abrigado, essas letras podem proporcionar proteção e conforto. Não está ligado diretamente à casa, moradia, e sim à um processo de interiorização. E é seguindo este conceito que o artista plástico Mateu Velasco abre sua exposição individual de pinturas sob o título de “Abrigo” na Galeria Movimento, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. Nas coloridas e expressivas oito telas de spray e tinta acrílica, o artista mostra que o ato de pintar e trabalhar a imagem se coloca como seu habitat natural e daí nascem os sentimentos de cada personagem que transcendem os traços. Mateu fala de refúgio, semântica do espaço, habitat silencioso. E de mais infinitas definições.

 

As inspirações do artista, que já participou de exposição individual em Paris, além de coletivas em Seattle e Nova Iorque, se renovam o tempo todo, pois o que coloca em seus trabalhos é o que vê no dia a dia. “Permaneço sempre atento, procurando enxergar o ambiente em que vivo e as pessoas com quem me relaciono direta e indiretamente. É possível extrair do nosso cotidiano inspirações inesgotáveis para diversos fins, basta estar atento e observar que nem tudo é o que parece”. Ele conta que desenho é uma das melhores formas de captar esse universo, e que o considera algo fundamental para viver, pois é através dele que se torna possível refletir sobre questões impossíveis de serem verbalizadas, e pensar em novas soluções para novos desafios.

 

 

Sobre o artista

 

Mateu Velasco nasceu em 1980, em Nova Iorque, mas desde pequeno vive no Rio de Janeiro. Em 2003 formou-se em desenho industrial pelo Departamento de Artes & Design da PUC-Rio. Tendo realizado cursos de gravura, ilustração, caligrafia experimental e computação gráfica, Mateu desenvolveu um estilo próprio de ilustração e grafite, que podem ser encontrados pelos muros e galerias do Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Paris, Lisboa e EUA. O trabalho de Mateu discute com um processo de democratização da arte, ao ir além dos limites formais e culturais, convertendo o espaço público em opção de espaço estético. A arte de Mateu revela uma realidade que vivemos e não percebemos, ativando nossa memória e sensibilidade através de sua poética crítica e conceitual.

 

Repletos de referências do cotidiano urbano, seus grafites sinalizam uma insistente necessidade de humanização da cidade. Os tentáculos, quase sempre presentes no trabalho de Mateu capturam o espectador e o transporta para um mundo de superposições e signos gráficos recortados de elementos do mundo real com caráter lúdico: selos, cartas e manuscritos, gotas, nuvens, flores. O resultado é uma colagem de pedaços de memórias que despertam nosso olhar, afirmando sua qualidade etérea.  Com o grafite passando por uma fase de revitalização e rejuvenescimento, artistas como Mateu tornaram-se muito mais experimentais, com o uso de diferentes suportes e outras formas de aproximação do espaço público. O cruzamento da linguagem gráfica da street art com o mundo da publicidade comercial resultou num enorme incremento no design gráfico e na moda de inspiração urbana. Isto possibilitou a inserção da qualidade gráfica do traço de Mateu no repertório visual de diversos segmentos: estamparias, painéis e vitrines, na área editorial em revistas e capas de livros, entre outros. Desenvolveu projetos para marcas como Adriana Barra, Cantão, Clube Chocolate, Converse, Editora Abril, Editora Record, Brasil Telecom, Rede Globo, W/Brasil, Claro, PUC, entre outros.  Sempre aliando a produção artística ao design gráfico, de modo que não exista limite entre uma técnica e outra, Mateu reafirma a natureza do grafite como uma marca, uma inscrição no mundo.

 

 

De 05 a 26 de setembro.

 

Andre Griffo, primeira individual

A primeira exposição individual de André Griffo que recebeu o nome de “Reúso e Retardo”, apresenta três objetos, três desenhos e duas pinturas, e acontece na Galeria Athena Contemporânea, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, com curadoria da expert Vanda Klabin. O artista utiliza troncos secos, crânios de boi e patas de porcos em seus trabalhos.  Isso se deve ao fato do crescimento na fazenda em Barra Mansa, onde convivia com animais e o vasto maquinário de seu pai, que colecionava ferramentas de todo o tipo, o que remetem a ele  e à Arquitetura. André vem se dedicando às artes plásticas em seu atelier em Barra Mansa e as recordações de sua infância são temas recorrentes em suas obras.  Arquiteto de formação, André Griffo cria uma mitologia individual ao se nutrir de sua própria experiência.  Utiliza um vocabulário muito expressivo no seu procedimento artístico através da adoção de objetos do cotidiano, construído em consonância  com materiais  industriais.  Seu trabalho  explora  temas que envolvem uma parceria complexa entre o homem e a natureza, objetos transfigurados  que se referem a experimentos pessoais impregnados de uma carga psicológica. Isso ocorre ao incorporar a subjetividade no seu plano visual  e utilizar uma fusão de diferentes elementos como animais,  grades, lanças e armas medievais,  colunas de ordem gregas, capacetes, entre outros.

 

O artista cria núcleos significativos que são incorporados ao seu trabalho, ao manipular imagens pré-existentes na busca  de  uma interlocução  incessante de  diferentes elementos, encontrados nas lojas de materiais  de construção  e de ferro velho. Suas  obras remetem aos vestígios do universo urbano e rural,  onde o artista acrescenta valores estéticos aos fragmentos e aos objetos, elementos essenciais para  a sua composição de trabalho.  André Griffo cria um repertório plástico que incorpora  uma subjetividade no plano visual ao reificar e  alterar  a forma da natureza dos objetos, A partir da moldagem de alguns objetos,  preservada no sal grosso  e devidamente  perfuradas, realiza a  edição de fragmentos de um corpo animal , que toma uma forma predominante  como uma matriz que o artista reproduz na forma  original, quase como um carimbo em série e  reativadas em outros territórios.

 

Na escala expansiva da superfície  da tela,  a sua pintura é concebida em várias camadas, sobreposições  quase monocromáticas e adquirem  uma opacidade onde o efeito da pincelada, pelo uso da tinta acrílica, vai sendo aos poucos apagada, esvanecida,  como algo prévio que precisa ser escondido. As imagens se acumulam na superfície da tela, sem hierarquia  ou unidade de tempo, mas com diferentes  significados entre si. Existe ainda  a presença de uma troca entre  diferentes linguagens e procedimentos  como o desenho,  a pintura e escultura.  A engenhosidade  dos desenhos prévios  é um elemento importante  para o resultado estético de sua obra.

 

A especialização em pequenos estudos minuciosos, evidenciam  trabalhos que saem uns dos outros e que adquirem caminhos diferentes. Nessa   ambiguidade existente nas superfícies planas  e no volume escultórico, predomina uma independência  dos elementos entre si, uma disjunção entre as partes, que se deslocam com acréscimos de novos elementos  na forma tridimensional, atrav;es de mecanismos duchampianos de apropriação de objetos existentes. Na  sua edição de fragmentos de um corpo,  seja de chifres  ou patas de porco suspensos sob tensão, calibradas e  chumbadas  por cabos de aço e bases de concreto – o artista tenta recuperar a intensidade da obra, o volume desse corpo dentro do espaço, e agora  exibe  o seu conflito de forças, interagindo na relação com o espaço da galeria  e seus componentes: desenha, disseca  e articula  a  relação  entre as peças,  traz uma linha de força que passa pela roldana  e pesos  como pontos de força que são devidamente distribuídos. O artista interage com o espaço da galeria e os campos de força ganham potência, tanto  no campo pictórico  como no espaço escultórico. Esses fragmentos  do corpo são o agente do  espaço, presença  enigmática,  que tecem um imprevisível diálogo visual, um sistema de signos que necessita ser ainda decifrados.

 

 

Sobre o artista

 

Admirador de Francis Bacon, Luiz Zerbibi e Adriana Varejão, André Griffo iniciou sua carreira profissional como arquiteto. Durante os cinco anos em que atuou na área, foi, cada vez mais, ouvindo seu feeling direcionando-o a trilhar o caminho das artes. O contato e conhecimento sobre o assunto durante a faculdade fez com ele repensasse o que gostaria de realmente de se doar.  Além disso, segundo Griffo, o trabalho como artista faz com que ele possa se permitir à uma abrangência de ideias muito superior e infinita, saindo do campo específico. André decidiu se especializar e foi atrás de cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage comandados por artistas consagrados como Anna Bella Gieger, além de ter sido aluno dos críticos e curadores Fernando Cocchiarale, Daniela Labra e Marcelo Campos. Durante seu crescimento como artista, Andre participou de uma série de salões de arte pelo Brasil.

 

 

 De 05 de setembro a 05 de outubro.

 

Beatriz Milhazes no Paço Imperial

Depois de 11 anos sem expor no Rio, sua terra natal, e após comprovada consagração internacional, a artista plástica Beatriz Milhazes, apresenta mais de 60 obras (pinturas, colagens e gravuras) na exposição denominada “Meu Bem”, atual cartaz do Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ. A exposição, uma panorâmica de suas obras a partir de 1989, é composta por trabalhos cedidos por colecionadores e museus internacionais e obedece organizaçção cronológica sob a curadoria do crítico francês Frédéric Paul.

 

A mostra reveste-se numa boa oportunidade para apreciar os renomados arabescos, circulos, mandalas e flores harmonicamente criados pela artista nos últimos anos, formas e signos que estabeleceram e destacaram sua obra; uma festa de cores que evoca – sem folclore – o Carnaval e a luminosidade tropical. A artista exibe, ainda, um grande móbile concebido exclusivamente para esta ocasião. De acordo com o curador, Beatriz Milhazes “…reivindica laços fortes com a modernidade europeia e está em pé de igualdade na cena contemporânea, na qual abala os códigos muitas vezes pouco sábios da abstração”.

 

Até 27 de outubro

Cristina Canale em Ribeirão Preto

30/ago

O Instituto Figueiredo Ferraz, Alto da Boa Vista, Ribeirão Preto, SP,  recebe a exposição “Protagonista e Domingo“, com obras de autoria da artista plástica Cristina Canale. São, ao todo, sete pinturas sobre tela e seis sobre papéis, que têm em comum o foco em uma figura centralizada, que protagoniza cenas cotidianas com um clima de still cinematográfico. Com curadoria da própria artista, a exposição tem apoio cultural da Galeria Marcelo Guarnieri.

 

Cristina Canale apresenta uma técnica que revela traços bastante singulares, com paisagens que retratam um mundo líquido, misturando cores de maneira harmônica.  Segundo a artista, “…esta exposição, assim como o meu trabalho atual, lida com noções de presença e ausência, com obras que oscilam entre a pintura pura e a narração figurativa”. Atualmente, a artista vive e trabalha em Berlim, na Alemanha, mantendo seu ateliê na capital carioca para longas temporadas de produção.

 

Sobre o Instituto

 

O Instituto Figueiredo Ferraz (IFF) é um espaço concebido para difusão de arte e cultura. Localizado na cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo, busca trazer à cidade e região discussões e debates sobre as mais importantes manifestações artísticas no cenário nacional e internacional. Com vocação para as artes plásticas, o Instituto tem como ponto de referência a coleção Dulce e João Carlos Figueiredo Ferraz, em caráter permanente, e se propõe a trazer exposições temporárias, através de parcerias com as mais importantes instituições culturais do País. Para aproximar o público ao debate e estimular reflexões, o IFF oferece, além das exposições, um calendário de cursos e palestras com artistas, críticos, curadores e outros agentes das mais diversas áreas culturais.

 

Até 14 de Setembro.  

 

A arte de Pietrina Checcacci

29/ago

A exposição “Pietrina Checcacci – Nuvem” está em cartaz na Galeria BNDES, Centro Rio de Janeiro, RJ. Trata-se de um momento singular na carreira da artista que, através desta exposição, exibe uma panorâmica de seus trabalhos distribuídos entre pinturas, desenhos e esculturas. Desde o início de sua vida profissional a artista manteve o corpo humano como signo referencial de sua obra e o momento atual é uma reflexão absoluta sobre seus últimos trabalhos cujo título claramente indica ser uma passagem, uma nova fase, seja de balanço e/ou novos caminhos pictóricos.

 

A palavra da artista

 

Fazem 6 anos desde a última exposição que fiz no Rio de Janeiro na qual completei o meu depoimento ao mundo em 50 anos de labor. O tema principal e sempre: o ser humano: vida/morte – prazer /dor. Desde 2012, graças à casualidade mágica que impulsiona os artistas, comecei a trabalhar em branco e preto numa sequência que chamo NUVEM. E como nuvens seguiam aleatórias na direção que elas exigiam, além de qualquer racionalidade. Deixei que me levassem aonde quisessem ir. Só agora descobri que com elas debrucei-me sobre os 55 anos do meu trabalho de arte onde coerência, liberdade e meticulosos cuidados artesanais foram a diretriz. O que faço necessita de silêncio e solidão para germinar refletir e comentar o mundo: tarefa da arte.

 

Texto de André Seffrin

 

A TÚNICA INCONSÚTIL DE PIETRINA CHECCACCI

 

Nas sucessivas séries de pinturas, serigrafias, esculturas ou múltiplos de Pietrina Checcacci nos defrontamos com a bela aliança entre domínio técnico e arte de amar, algo limítrofe ao que Carlos Drummond de Andrade soube dizer, e com ironia subjacente, no poema “A paixão medida”. Paixão sensual que, em Pietrina, pode eventualmente transformar-se em visceral e agônica, nesse caso mais próxima talvez da poesia de Jorge de Lima. O que equivale a dizer que a obra plástica de Pietrina se desenvolve às vezes em águas turbulentas, em territórios eruptivos, em espaços de inesperados e recônditos esplendores. Não por acaso, como se pode concluir, seu universo se mantém tão próximo da poesia e dos poetas. E ao erigir corpo e cidade numa única e vária paisagem metafísica, Pietrina acaba por assumir um caminho não só estético mas também ético, à beira das tantas descobertas científicas que em medidas iguais nos fascinam e fragilizam. Em cada linha ou escala cromática, em cada sugestão alegórica ou simplesmente jocosa, Pietrina cria suas formas profusas que ora se auto-referem, ora se desdobram a partir de uma única proposta, de memória ancestral e labor obsessivo. Nos rastros de um título famoso de Roland Barthes, é como se o artista andasse sempre e sem descanso em busca dos fragmentos de um discurso amoroso. Variações sobre o mesmo tema que, ao longo dos anos, cambiantes e crescentes, mantiveram-na incorruptível e adepta de uma arte realizada sem amarras, medos ou eventuais fugas. E é claro que esse universo bem nutrido e dinâmico, impulsionado pela raiz dos símbolos do viver, do amar e do criar, é seara de poucos artistas. Agora, em outro desdobramento não menos telúrico de sua vastíssima obra, e como antes, na série “A criação hoje”, de 2007, Pietrina novamente evoca nossa gênese de modo um tanto insólito e inquietante.  Como na série anterior de tenuíssimas rosas ou rostos estranhos, o acento dramático se tornou mais impactante. Vultos suspensos em sombras uterinas, seres semoventes em improvável solidão, início e fim de retorcidos périplos terrestres. E aqui a aproximação se dá com um dos títulos seminais de outro grande poeta, Cecília Meireles – Solombra. Sol e sombra ou, quem sabe, o inominável. Como se, ao se afastar um pouco da sensualidade e do erotismo que a notabilizaram nos anos 70 e 80, Pietrina de repente se defrontasse com um mundo mais áspero e enigmático. E é mesmo um mundo estranho às festas humanas que se entremostra nestas telas cheias de luz e sombra. Como tatuagens de um inframundo, sem antes e sem depois, à mercê do acaso, esvaindo-se em distâncias. Diz Cecília: “Há mil rostos na terra: e agora não consigo recordar um sequer”. Um mundo de essências e pouca transparência, que não se sabe dentro ou fora, e sem nenhum conforto. Como se deu no final da série “Rosas”, em 2009, o DNA como reflexo ou duplicidade (espelhos líquidos), possíveis fetos ou nuvens sugerindo a anatomia humana, arco-íris ou amebas, tudo sem os véus da alegoria, espécie de errância amorosa ou catarse. No insulamento do corpo na paisagem, no seu exílio, temos o sangue que se faz bruma e sombra. Ventres, óvulos, montanhas, águas, panos, frutos, planetas, estrelas, pulsações celestes, sem princípio nem fim. Preponderam o preto e o branco nestas inesperadas nebulosas, formas primordiais do cosmos ou da gênese humana, amplamente analisada ou sugerida em tudo que Pietrina compôs desde sempre. Vermelho sanguíneo, negro e cinza são cores estabilizadas em suas incessantes mobilidades plásticas, desde os recortes de corpo fossilizados do final dos anos 70 ou mesmo antes, desde a fase Evaterra, por volta de 1973. No começo foi o pop, o ânimo fotográfico, a vinculação a um certo expressionismo, e o breve comprometimento político, habitado aqui e ali pelo lúdico, o humorístico e até o kitch da cultura de massa que aos poucos desapareceu em favor de um denso comprometimento humano, pleno e soberano. E foi esse comprometimento humano que a encaminhou para uma exuberante (e exaltada) sensualidade erótica ainda muito pouco estudada pela crítica. Um mundo anônimo (de corpos geralmente sem rosto) criado aos pedaços e que mais se revelou, a caminho da abstração, no sinuoso de frestas, pregas e fossos, angulosidades, sugestão de volumes que acabou por fim desembocando na tridimensionalidade. Em 1977, em entrevista a Antonio Hohlfeldt, Pietrina admitiu que existe em sua pintura um sentido escultórico de massas e volumes, aquela “inevitável dimensão escultórica” que Roberto Pontual capturou em 1978. No entanto, aqui e agora, o artista alcança o grau zero de suas pesquisas, uma lição das cores de serenidade quase cruel. O tênue rosa, o cinza fugidio e certos azuis profundos da série das rosas “escandalosamente” eróticas já anunciavam delicadas superposições de galáxias, buracos negros, confins do universo que pulsam dentro de cada um de nós, no que somos em nossos corpos e em nossa luz. Sim, como disse certa vez outro poeta, Lêdo Ivo, “somos corpos, somos os nossos corpos”, seja nos longes da paisagem que se faz corpo ou no corpo que a sugere, à flor da pele. Uma paisagem inaugural porque são inaugurais todas estas descobertas imediatamente transpostas ou traduzidas numa arte que se manifesta coesa, inteiriça como um continuum vital, uma túnica inconsútil.

 

Até 18 de outubro.