Correspondências. Mostra inaugural

23/ago

Com a exibição da mostra coletiva “Correspondências”, a Galeria Bergamin, realiza sua estreia no circuito de arte contemporânea. O espaço situa-se à rua Oscar Freire, 379, loja 01, Jardins, São Paulo, SP. A mostra é apresentada por Felipe Scovino. Para o evento inaugural foi selecionado expressivo elenco de nomes pontuais da arte brasileira. Entre os participantes da exposição constam obras em técnicas diversificadas como pinturas, objetos, esculturas e fotografias, assinadas por Adriana Varejão, Alair Gomes, Cildo Meireles, Emanuel Nassar, German Lorca, Hélio Oiticica e Neville D’Almeida, José Bento, José Resende, Lygia Pape, Mauro Restiffe, Miguel Rio Branco, Montez Magno, Nelson Leirner, Paulo Roberto Leal, Raymundo Colares, Sérgio Camargo, Thiago Rocha Pitta, Vik Muniz, Waltercio Caldas, Wanda Pimentel, Luciano Figueiredo e Marcelo Cidade.

 

 

 

Texto de Felipe Scovino

 

Nessa exposição, que inaugura o novo espaço e momento da Galeria Bergamin, o que se apresenta são estratégias de correspondência. Para além da heterogeneidade de discursos, propostas e suportes, estão diante de nós diálogos, associações e afinidades. Em alguns casos, regidos por uma ironia (como nas obras de Emmanuel Nassar e Nelson Leirner) ou associações livres e poéticas que nos fazem pensar na ampliação do suporte feito por quem homenageia (como são os casos das obras de German Lorca, Miguel Rio Branco e Thiago Rocha Pitta, nas quais a fotografia transita em direção a pintura, ganhando texturas, luz, elementos táteis, pulsantes que a faz estar em uma situação fronteiriça). As oposições também existem, seja através das formas, técnicas, linguagens e assuntos, sem, entretanto, formar um sentido geral definitivo ou hierarquizá-los prematuramente, isto porque a abrangente condição artística na sua atualidade não se fixa em parâmetros históricos e critérios artísticos precisos e definitivos. As homenagens a Lucio Fontana são um exemplo disso. O seu romântico corte abrupto, seco e libertador sobre a tela transforma-se na obra de Leirner em um abrir e fechar zíperes. Passamos a rasgar o tecido numa atitude explicitamente dadá. Por outro lado, na obra de Adriana Varejão a tela se transforma numa epiderme na qual os azulejos se revelam como um corpo violentado.

 

As correspondências não estão somente apresentadas nas homenagens feitas pelos artistas a seus colegas, mas conseguimos perceber nessa correspondência livre e direta, as predileções, argumentos e diálogos que acontecem entre homenageado e quem homenageia.  A diversidade e heterogeneidade não estão só nos temas, assuntos ou conteúdos, mas também – e aqui é outro ponto de qualidade da exposição, a sua capacidade de revelar a multiplicidade de pesquisas na contemporaneidade – nas linguagens e nas mídias nas quais as obras podem aparecer ora como pintura, escultura ou fotografia, ou ainda como algo de indefinida e incerta sistematização.

 

 

De 08 de agosto a 28 de setembro.

MARISCAL NO TOMIE OHTAKE

Reafirmando seu compromisso de realizar mostras de artes plásticas, arquitetura e design, o Instituto Tomie Ohtake , Pinheiros, São Paulo, SP, traz, em parceira com a Tok&Stok, a exposição “Todas as cores de Mariscal” apresentando o universo multidisciplinar e irreverente de Javier Mariscal, um dos designers mais criativos e versáteis da atualidade. A mostra é construída a partir do desenho e das cores, ferramentas básicas com as quais trabalha o designer catalão, que ganhou fama mundial ao criar o bonequinho “Cobi”, mascote dos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992.

 

Responsável pela curadoria da exposição, o Estúdio Mariscal traz cerca de 60 obras, entre mobiliário, objetos, luminárias, pinturas, desenhos, brinquedos e projetos gráficos do criador da animação “Chico & Rita”, ambientada na Havana dos anos 40, que concorreu ao Oscar de 2012. A produção de Mariscal guarda como identidade a forte gestualidade do traçado à mão, o desenho – sempre seminal em todo o seu processo criativo –, que resulta numa variada gama de imagens e objetos que aludem a um universo único. “Mariscal joga com as formas e as cores para criar esse universo tão pessoal e artístico onde teima em celebrar a alegria de viver”, destaca a curadoria.

 

Com mais de trinta anos de intensa atividade, Javier Mariscal desenhou objetos para as mais prestigiadas empresas. Moroso, HP, Camper, Uno, Absolut, H&M, e Magis são algumas das marcas que apostaram no estilo versátil do designer espanhol. A exposição pretende submergir o espectador no universo da “fábrica Mariscal”, e assim introduzi-lo ao coração do seu processo criativo e fazê-lo perceber, através dessa experiência, o impulso vital gerado por Javier Mariscal e sua equipe.

 

 

Sobre o artista:

 

Javier Mariscal nasceu em Valencia, 1950, atua em todas as disciplinas do design: mobiliário, interiores, gráfico, paisagismo, pintura, escultura, ilustração, multimedia e animação. Junto com a equipe do Estudio Mariscal, fundado em 1989, o designer realizou, entre muitos trabalhos, a criação do Mascote dos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992; o design de interior e gráfico da H&M Barcelona; o décimo primeiro andar do Hotel Silken Puerta America, em Madri; a imagem gráfica da 32ª. Edição da America´s Cup; a identidade gráfica e campanhas de comunicação para a Camper for Kids; exposições sobre sua obra em La Pedreira de Barcelona e no Design Museum de Londres; a divulgação da nova Lei Infantil da Catalunha e ainda publicou os livros Mariscal Drawing Life e Sketches. Em 2010 estreou o longa-metragem de animação Chico & Rita, co-dirigido com Fernando Trueba, que concorreu ao Oscar em 2012. Em 2013 lançou seis versões completamente inovadoras e divertidas da famosa Hello Kitty.

 

Até 29 de setembro.

 

Lenora de Barros na Laura Alvim

Umas e Outras”, da artista paulistana Lenora de Barros, é a exposição que a Galeria Laura Alvim, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, sob curadoria de Glória Ferreira.

 

Nela a artista apresenta 65 colunas de jornal realizadas na década de 1990, além de dois vídeos inéditos em preto e branco, intitulados “Jogo de Damas” e “Em si as mesmas”, e uma intervenção sonora, “Duplicar Imagens”. Entre 1993 e 1996, a artista assinou uma coluna experimental, publicada aos sábados, no “Jornal da Tarde”, de São Paulo, sob o título de “… umas”. Nesse espaço nasceram obras e ideias que se transformariam em vídeos e fotoperformances autônomos nos anos seguintes. Depois de mostrar 13 dessas colunas em uma vitrine, na Bienal de Lyon, França, em 2011, Lenora decidiu agora emoldurar e expor um conjunto maior, extraído de seu arquivo pessoal.

 

Nas colunas, que eram uma espécie de blog “avant la lettre”, Lenora, entre outros experimentos, dialogou com trabalhos de diversos artistas. Posteriormente ela fez um recorte dessas “conversas” envolvendo temas femininos ou obras de artistas como Lygia Clark, Yoko Ono, Cindy Sherman, Annette Messager e Méret Oppenheim. Essa seleção deu origem a um livro, intitulado “Jogo de Damas – Crítica de Arte – Livro Primeiro”, ainda inédito, cujo protótipo estará exposto na Laura Alvim, em versão bilíngue, inglês e português.

 

O livro foi o ponto de partida para os dois vídeos inéditos, com direção de David Pacheco, que estão na exposição.
“Umas e Outras” é uma oportunidade de acompanhar o processo criativo da artista, ao longo de três anos, num espaço que funcionava como uma espécie de laboratório ou ateliê em pleno jornal. Segundo a curadora Glória Ferreira, esta individual “cria uma situação em que a artista se desdobra em lenoras, jogando em múltiplas posições, transitando em várias ‘elas’.”

 

As obras

 

No vídeo intitulado “Jogo de Damas” o livro de mesmo título serve de roteiro de leitura para performances vocais realizadas por Lenora e foi concebido em formato de tríptico para projeção simultânea em três paredes.

 

O vídeo “Em si as Mesmas”, situado à entrada da mostra, tem seu título pinçado de uma coluna onde a artista comenta uma fotografia de 1925, de autor desconhecido, das siamesas, as irmãs Hilton. Foi concebido para dupla projeção, em duas paredes opostas. Nele Lenora joga damas consigo própria. Em uma tela, ela move as pedras brancas e na outra, as pretas, em uma espécie de “jogo infinito, sem ganhador nem perdedor”, diz Lenora.

 

“Jogo de Damas” e “Em si as Mesmas” serão exibidos com o som aberto e também dialogam entre si no espaço expositivo. Eles têm um tratamento específico que faz ressaltar o som das peças no tabuleiro, os ruídos da movimentação corporal da artista, gerando atmosferas sonoras envolventes.

 

Voltada para a rua, em frente à Galeria Laura Alvim, está a intervenção sonora “Duplicar Imagens”, em que se ouve a artista oralizar, com voz infantil, a frase “Duplicar imagens é multiplicar ou dividir ideias?”, que se repete em looping, assim como os vídeos mencionados acima. O texto dessa performance vocal também nasce em “…umas”, em uma coluna de 1994, a partir de um autorretrato de Magritte. A performance vocal, gravada em 2011, tem tratamento sonoro de Cid Campos.

 

 

Sobre a artista

 

Lenora de Barros nasceu em São Paulo, em 1953. Formada em linguística pela FFLCH/USP, seus trabalhos se apropriam do vídeo, da performance, da fotografia e da instalação. Sua produção transita entre a palavra e a imagem, e explora os aspectos visuais, verbais e sonoros da linguagem. A fotografia e o vídeo são comumente utilizados como forma de documentar performances encenadas diante da câmera. Lenora de Barros tem obras em coleções públicas e particulares no Brasil e no exterior: Museu d’Art Contemporani de Barcelona, Daros-Latinamerica (Zurique e Rio de Janeiro) e Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). Participou como artista-curadora da “Radiovisual”, na 7ª Bienal do Mercosul – Grito e Escuta (2009).  Entre as recentes mostras e atividades, destacam-se a 17ª Bienal de Cerveira, em Portugal, “Para (Saber) Escutar”, na Casa Daros Latinoamerica (Rio de Janeiro, 2013); III Mostra do Programa de Exposições 2012 (Centro Cultural São Paulo, 2013); “Circuitos Cruzados: o Centro Pompidou encontra o MAM” (Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2012); “Sonoplastia” (Galeria Millan, SP, 2011; 11ª Bienal de Lyon – “Nasce uma terrível beleza” (2011) – onde participou com a  instalação audiovisual  “O encontro entre Eco e Narciso”, e “Revídeo” (Oi Futuro, RJ, 2010).

 

Até 27 de outubro.

 

Sérvulo Esmeraldo no Rio

20/ago

A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a exposição “Sérvulo Esmeraldo – Pinturas, desenhos, gravuras, objetos, esculturas e excitáveis”, que reúne 70 obras, tanto históricas como inéditas e recentes, do artista cinético nascido no Crato, Ceará, em 1929, e que solidificou sua trajetória em Paris, onde residiu de 1957 a 1980. O artista participou recentemente da monumental exposição “Dynamo – A century of light and motion in art, 1913-2013” realizada de abril a julho último no Grand Palais, em Paris e ao lado de 150 artistas como, dentre outros, Le Parc, Morellet, Soto, Dan Flavin, Duchamp, Hans Richter, Calder, Rodtchenko e Anish Kapoor. A mostra na Pinakotheke ganha maior relevância pelo fato de nunca ter sido realizada na cidade uma grande antologia da obra do artista, e também por ter passado mais de 20 anos de suas individuais na cidade. A mostra também apresentará maquetes de esculturas inéditas do artista, além de vídeos, fotos, livros e documentos. A exposição, que tem curadoria de Max Perlingeiro, vem sendo planejada há mais de uma década. Sérvulo Esmeraldo tem sido homenageado em importantes museus no Brasil e no exterior.

 

 

Produção inédita

 

Aos 84 anos, Sérvulo Esmeraldo continua ativo. “Seguindo a velha tradição dos grandes escultores, produziu ao longo do tempo centenas de maquetes de esculturas que, um dia, seriam executadas. A partir de 1976 suas esculturas monumentais saem do ateliê para o espaço urbano. De volta ao Brasil, fixa residência em Fortaleza em 1980 e lá permanece, até hoje, produzindo, com o mesmo vigor da juventude, suas novas esculturas e objetos, obstinado pela “invenção” e pelo desenho”, conta o curador Max Perlingeiro.

 

 

Texto do curador

 

A trajetória do artista Sérvulo Esmeraldo seguiu um padrão adotado pela maioria dos grandes artistas que têm a sua origem fora do eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Do Ceará, a partir da primeira metade do século XX, vieram: o pintor e professor Raimundo Cela (1890-1954), prêmio de viagem à Europa no Salão Nacional de Belas Artes em 1917 e introdutor do ensino da gravura em metal no Brasil; o paisagista Vicente Leite (1900-1941) – o melhor amigo de Candido Portinari na Escola Nacional de Belas Artes -, também prêmio de viagem à Europa em 1940, porém não usufruído devido à guerra; e Antonio Bandeira (1922-1967), que vem para o Rio de Janeiro e, logo em seguida, em 1946, vai residir em Paris, como bolsista do governo francês, lá permanecendo até a sua morte, em 1967. Naquela época Paris era o centro das atenções dos artistas e intelectuais. Nas décadas de 1950 e 1960, a arte brasileira passa por grandes transformações. Nesse período, os artistas saem do Brasil em busca de formação e vivência em um novo ambiente. A maioria tem como seu destino final a capital francesa, e alguns, Nova York. Por questões políticas ou artísticas, estavam em Paris, nesse período: Lygia Clark (1920-1988), Sergio Camargo (1930-1990), Flavio-Shiró (1928), Rossini Perez (1932), Arthur Luiz Piza (1928) e Sérvulo Esmeraldo (1929), entre outros. Sérvulo, após uma breve experiência no meio artístico em São Paulo (1951-1956), viaja para Paris em 1957, como bolsista do governo francês, e lá reside até 1980, sempre participando ativamente da vida artística no Brasil. Exímio gravador, participa de inúmeras exposições individuais e coletivas, em instituições públicas e privadas. Participa também da V Bienal Internacional de São Paulo com grande destaque. Em 1976 é editado por Guy Schraenen o manual Método prático e ilustrado para construir um excitável, volume 8 da Série ColleXion, hoje objeto de desejo dos grandes colecionadores. Em 2010 é convidado para uma grande exposição, Les Excitables, apresentada na Maison Européenne de La Photographie com texto de Matthieu Poirier. Seguindo a velha tradição dos grandes escultores, produziu ao longo do tempo centenas de maquetes de esculturas que, um dia, seriam executadas. A partir de 1976 suas esculturas monumentais saem do ateliê para o espaço urbano. Em 1980 fixa residência em Fortaleza e lá permanece, até hoje, produzindo, com o mesmo vigor da juventude, suas novas esculturas e objetos, obstinado pela “invenção” e pelo desenho.

 

Esta exposição, planejada por mais de uma década para ser apresentada no Rio de Janeiro, tem caráter retrospectivo, mas não pretende esgotar o assunto. Complementam a exposição maquetes de esculturas inéditas, livros de artista, os originais para a publicação Suíte Catalana/Courbes, variações sobre uma curva, com texto-poema de Jean-Clarence Lambert, além de imagens e documentos sobre a sua vida artística. Vídeos e fotografias, executadas entre os anos 1960 a 2011, cabendo destacar a série de fotos, algumas inéditas, feitas em Paris por Alécio de Andrade (1938-2003), e o vídeo Excitable, de autoria de André Parente e Katia Maciel.

 

 

Sobre o artista

 

Sérvulo Esmeraldo já recebeu homenagens em espaços como a prestigiosa Maison Européenne de la Photographie, em Paris, em 2010, e na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2011. Possui obras em importantes coleções privadas e públicas do Brasil e do exterior, como Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal; Fundación Cisneros, Caracas, Venezuela; Maison Européenne de la Photographie, Paris, França; MAC-USP, São Paulo; Museu de Arte Contemporânea, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Fortaleza, CE; MAM-RIO; MASP, SP; MAM, Bahia; Museu Oscar Niemeyer, MON, Curitiba; Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre outras. O artista também possui diversas obras públicas, principalmente no Ceará.

 

 

De 04 de setembro a 13 de novembro.

 

No Galpão Fortes Vilaça

15/ago

Chama-se “O problema de Molyneaux”  a segunda individual de João Maria Gusmão e Pedro Paiva em São Paulo, cartaz no Galpão Fortes Vilaça, Barra Funda, São Paulo, SP. Destaque na atual edição da Bienal de Veneza, os artistas apresentam fotografias, esculturas em bronze e filmes em 16mm, todos recentes ou inéditos.

 

Gusmão e Paiva exploram referências ao existencialismo na tradição filosófica, à literatura metafísica assim como ao proto-surrealismo de Alfred Jarry. O título da exposição é extraído de uma questão filosófica, proposta por William Molyneux a John Locke sobre a recuperação da visão. Um homem nascido cego, que sente a diferença entre formas, tais como uma esfera e um cubo, poderia também distingui-las pela visão caso pudesse começar a ver? O problema é comentado por Locke em seu Ensaio acerca do Entendimento Humano sobre as bases do conhecimento e dos mecanismos de cognição da mente humana.

 

Na primeira sala de exposição, oito esculturas de bronze propõem alegorias sobre a natureza das imagens, ilusões óticas e fenômenos físicos. Em Coisas Redondas, uma série de objetos circulares são conectados de forma que parecem ser quadrados sob certos ângulos. Bola de tênis reproduz o movimento de uma bolinha quicando sobre o pedestal. Cavaleiro é uma imagem distorcida que também cria uma ilusão de tridimensionalidade sob determinado ponto de vista. Uma vez que aludem com humor à linguagem científica, estes objetos revelam a natureza narrativa da ciência e da filosofia em suas tentativas de apreensão do mundo.

 

A segunda sala de exposição foi transformada numa grande sala de projeção com cinco filmes curtos em 16mm. Na grande tela as sequências se desenrolam em loop. Três sóis se põem entre rochedos, um homem cego devora um mamão papaia e frutos geometrizados rodopiam no ar como se fossem um sistema planetário. O ruído do projetor ⎯ os filmes não têm som ⎯ é uma lembrança permanente da materialidade das imagens.

 

Sobre os artistas

 

João Maria Gusmão, Lisboa, 1979 e Pedro Paiva, Lisboa, 1978, colaboram criando objetos, instalações e filmes em 16 e 35mm desde 2001. Já participaram de diversas Bienais, tais como: 8ª Bienal de Gwangju, Coréia do Sul, em 2010; 53ª Bienal de Veneza, 2009, na qual representaram Portugal; 6ª Bienal do Mercosul, Brasil, em 2007; 27ª Bienal de São Paulo, Brasil, 2006. Dentre suas exposições individuais, destacam-se: em 2011, Alien Theory, no Frac Île-de-France, Le Plateau, Paris; There’s nothing more to tell because this is small, as is every fecundation, no Museo Marino Marini, Florença; Tem gwef tem gwef dr rr rr no Kunsthalle Dusseldorf; em 2010 e On the Movement of the Fried Egg and Other Astronomical Bodies, na Ikon Gallery, Birmingham.

 

De 10 de agosto a 14 de setembro.

“In Motion” na Raquel Arnaud

A Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP, apresenta a exposição coletiva “Em Movimento” (“In Motion”) na qual destacam-se os mais significativos artistas em abstração cinética que a marchande Raquel Arnaud vem trabalhando ao longo dos anos. A exposição reúne 14 obras assinadas por nomes seminais como Carlos Cruz-Diez, Jesús Rafael Soto, Luis Tomasello e François Morellet dividem o espaço do primeiro piso da galeria com trabalhos dos artistas Dario Pérez-Flores e Hugo Demarco, da segunda geração e ainda com Elias Crespin e Wolfram Ullrich. A primeira exposição desta vertente artística na galeria foi do venezuelano Carlos Cruz-Diez, em 1987. Segundo Raquel Arnaud, a presente coletiva é uma homenagem ao artista, que em 2013 comemora 90 anos. A galeria também introduziu Jesús Rafael Soto no circuito brasileiro. Paralelamente, no segundo piso, a paulistana Silvia Mecozzi apresenta a individual “Branco de Si”, exposição que reúne trabalhos em mármore realizados pela artista no último ano.

 

 Sobre os artistas:

 

Carlos Cruz-Diez, 1923, Venezuela. É internacionalmente reconhecido pelas suas Fisicromias e Cromointerferências nos espaços e pelas suas obras esculturais em grande escala que exploram a teoria e a prática de cor.

 

Jesús Rafael Soto, 1923-2005, Venezuela. Tempo e movimento foram as principais preocupações nas obras de pintura e escultura e na arte cinética do artista venezuelano. Famoso pelos seus “Penetráveis”, esculturas em que o observador pode atravessar e interagir, Soto mudou para Paris em 1951, onde travou conhecimento com alguns artistas alemães e suíços, entre os quais Josef Albers, e passou a tratar a independência da cor para resolver conscientemente o que chamava de “a ambivalência especial da cor”.

 

Luis Tomasello, 1915, Argentina. Após seus estudos em Buenos Aires, mudou-se para Paris em 1957, onde se juntou a um grupo de artistas cinéticos e de OP arte. Tornou-se conhecido pelas suas “Atmosferas cromáticas”, esculturas fragmentadas que mudavam o padrão das cores, luz e sombra.

 

Dario Pérez-Flores, 1936, Venezuela. Sobre a influência de Jesús Soto e Carlos Cruz-Diez, Pérez-Flores se juntou ao movimento ótico de 1970. Criou trabalhos que sutilmente geram uma vibração ótica, uma atmosfera cromática mutante, atraindo o espectador ao centro da obra.

 

Hugo Demarco, 1932-1995, Argentina. Demarco começou cedo a expandir sua prática na pintura, explorando novos materiais que permitiram sua diferente abordagem com a cor. Mesmo declarando nenhuma afiliação, seus trabalhos combinam a herança do construtivismo e a ampla tradição da Bauhaus, a autonomia da arte e sua natureza experimental. Focando a cor e o movimento, ele pinta telas e cria relevos e objetos motorizados que desafiam a percepção do espectador.

 

François Morellet, 1926, França. Para o artista francês um trabalho de arte basta por si só. Seus títulos são sofisticados e descrevem as condições da produção da obra. Em sua extensa carreira trabalhou com inúmeros materiais, mas determinado a encontrar um novo modo de expressão, começou a usar o neon em 1963, material cujas especificações como luminosidade e o fato de ser manufaturada, o interessavam.

 

Elias Crespin, 1965, Venezuela. Suas esculturas – eletrocinéticas – são composições simples de figuras geométricas, que suspensas por fios invisíveis e animadas mecanicamente por complexas formas matemáticas computadorizadas, geram movimentos de extrema leveza e harmonia.

 

Wolfram Ullrich, 1961, Alemanha. Trabalha com abstrações geométricas tridimensionais. Suas obras lidam com o ambiente espacial da instalação, dinamizando as relações entre espaço e movimento como variáveis constantes.

 

 Até 14 de setembro.

Peças inéditas de Galvão

A Galeria Marcia Barrozo do Amaral, Sopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, abre sua sétima exposição em 2013 na qual exibirá 20 trabalhos inéditos de Galvão, executados em madeira de cedro e MDF, pintados em tinta acrílica ou na cor natural. Nesta mostra as obras chegam com mais cores, com mais aprofundamento.
Nesta exposição encontramos variações cromáticas da madeira. Como pinturas, essas obras possuem volume e textura, o que rapidamente faz com que se desloquem do plano para o espaço, ganhando uma condição objetual, pois problematizam a estrutura formal da pintura, quebram a moldura, e dialogam com a tridimensionalidade. São situações que fazem sua obra dialogar com Sergio Camargo, de quem foi assistente, ao mesmo tempo em que criam seu próprio caminho e história.

 

Com o eterno objetivo de melhorar, aperfeiçoar e transcender seu trabalho, Galvão mantém uma coerência em sua trajetória de mais de 40 anos, produzindo relevos em madeira, ora natural, ora pintada. Essas interferências na madeira causam luz, sombras, formatos e sensações no público. Ele sempre procura criar a estrutura e estruturar um tema em seu bucólico ateliê, em Nova Friburgo. O artista é um purista que introduz a poética da cor em uma linguagem ordenada, onde a razão-emoção permanece imbatível.

 

Nesta exposição encontramos variações cromáticas da madeira. Como pinturas, essas obras possuem volume e textura, o que rapidamente faz com que se desloquem do plano para o espaço, ganhando uma condição objetual, pois problematizam a estrutura formal da pintura, quebram a moldura, e dialogam com a tridimensionalidade. São situações que fazem sua obra dialogar com Sergio Camargo, de quem foi assistente, ao mesmo tempo em que criam seu próprio caminho e história.

 

Para Felipe Scovino, o desequilíbrio e a progressão dos seus blocos revelam um caráter de instabilidade e impermanência que faz com que sua obra adquira uma espécie de elasticidade orgânica. “São obras maleáveis para o olhar do espectador. Maleável para a sua fruição, o seu jugo e o seu prazer. O esforço para completar a ordem mobiliza o sujeito perante o desafio de uma obra íntegra, porém esquiva. Sua obra instala o transitivo ou o visível em constante alteração, pois seu compromisso é com a natureza infinita das coisas”, finaliza Felipe.

 

Sobre o artista

 

Galvão nasceu no Rio de Janeiro, 1941, começou seus primeiros estudos em pintura em 1951. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil, morou em Paris onde cursou na Sorbonne sociologia da arte com Jean Cassou e frequentou os ateliês de Sergio de Camargo, Vistor Vasarely e Yvaral. Entre suas exposições individuais estão a da Galeria Art to Desing, na Itália (2008), na Dan Galeria, em São Paulo (2008), Galerie Brasilia, Paris, 2007, Galeria Murilo Castro, BH, 2007, Galeria Syrus, Paris, 2004/05, e no MUbe, São Paulo, SP, 2004. O artista também participou de três Bienais em São Paulo, 1967, 1973, 1975. Desde 2004 participa anualmente do Realité  Nouvele, principal salão de arte de Paris.  Esta é a sétima vez que expõe na Galeria Marcia Barrozo do Amaral. Depois de alguns anos atuando como assistente do conceituado e inspirador Sergio Camargo, Galvão trilhou seu próprio caminho que fez com que suas obras estejam hoje nas principais coleções públicas e privadas no Brasil e exterior como no Centre Cultural I´Arsenal, França; Museu Satoru Sato, Japão; MOBIL MADI, Hungria; MAM-Rio; Museu de Arte Contemporânea de Niterói; Museu de Arte Moderna de São Paulo. Museu de Arte da Pampulha, BH; Museu do Artista Brasileiro, Brasília; MuBE, SP e Museu MADI, Ceará.

 

De 20 de agosto a 20 de setembro.

Suzuki no Espaço Citi

14/ago

O Espaço Cultural Citi, Paulista, São Paulo, SP, inaugurou exposição “Yukio Suzuki – O Exato Momento da Inefável Aparência das Coisas”, mostra póstuma de pinturas e desenhos. A curadoria é do crítico Jacob Klintowitz. Trata-se de uma exposição de rara oportunidade, pois o artista sempre foi muito discreto no seu convívio público. E é uma mostra de imensa delicadeza pois este é o perfil de sua obra.

Yukio Suzuki por Jacob Klintowitz
Yukio Suzuki.

 

O exato momento da inefável aparência das coisas.

Um homem contempla a imagem de um homem projetada num espaço sem registro e parâmetros. Espaço no qual está ausente a gravidade. Um espaço na Terra que parece não pertencer à Terra. Nem a gravidade da atração dos corpos, nem a gravidade de comportamento do homem que sabe o que seja a realidade. Em Yukio Suzuki a verdade é um complexo sistema de aparências, reflexos da aparência e percepção de sombras.

 

Yukio Suzuki, 1926-2004, foi um artista único, inventor de visualidades sutis. Foi pioneiro da ideia de apropriação, que nele foi grandiosa: certo dia ele se apropriou da praia de Copacabana. Na foto lá está Yukio, sereno, e uma pedra com a sua assinatura pousada na areia mais conhecida do país. E, ao mesmo tempo, foi o mais silencioso dos artistas. Ele tinha a convicção de que a obra falava por si mesmo. Era assim que se movia.

 

Suzuki não sabia de realidade nenhuma que não fosse a de imagens existentes em dois planos, o físico e o pressentido. Ou, talvez, em três, o físico, o psíquico e o de uma sensação intuída, habitante em lugar desconhecido. E é esta intuição, além da categorização, distante da nomeação, o que se impõe no seu percurso. Yukio Suzuki é o artista que registra o sistema do que não está sistematizado, do existente apenas porque sentido por um ser humano.

 

A comprovação da existência desta intuição, o que lhe dá súbita corporeidade, é ter sido captada por este artista que se entrega à ela, que aceita o luminoso mundo, já distante das sombras, que se impõe a ele como um modelo absoluto e ao qual ele se submete e dedica a vida. Sentir é o objetivo do artista e com uma delicadeza infinita apesar de humana, ele assinala este sentimento do mistério. É uma arte do inefável e ele, de uma modéstia infinita apesar de humana, está a serviço do inefável e é o seu sacerdote.

 

Poucas vezes encontramos um artista tão disponível e que se deseja instrumento de seu sentimento do mistério. Talvez, em algum momento, este artista sorriu diante de seu continente descoberto, do imerso que emerge, mas este sorriso não aflorou e permaneceu, também ele, como um movimento interior, como o reconhecimento de que ele encontrara a sua verdadeira pátria, o lugar dos reflexos da aparência, o desfiladeiro das sombras, o horizonte do arco-íris, o continente do inefável, que parece o ter escolhido como porta-voz.
Até 11 de outubro.

Arte Cinética

13/ago

Através da criteriosa seleção dos artistas representados e suas obras, e contando com grandes nomes da arte brasileira além da aposta em jovens artistas com trajetória emergente, Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro RJ, investe na divulgação e propagação da cultura brasileira. Dando curso à programação 2013, agora o artista escalado é Abraham Palatnik, pioneiro da arte cinética no Brasil. Abraham Palatnik apresenta nesta exposição individual 31 trabalhos — dos quais quatro são “Objetos cinéticos” e apenas um “Aparelho cinecromático”.

 

 

O artista por Felipe Scovino

 

Pintura em movimento

 

Em recente entrevista ao autor, Palatnik afirmou que era essencialmente um pintor. Coloca-se, portanto, uma das questões mais pertinentes em sua obra: propor ao espectador que ele está diante de uma pintura sem anular a ideia da escultura, principalmente nos casos dos Aparelhos cinecromáticos (produzidos a partir de 1951) e dos Objetos cinéticos (produzidos a partir de 1964). Sua obra gravita em um limite, em uma linha tênue entre esses dois suportes.

 

Limites, passagens e invenções são circunstâncias muito próprias e constantes na obra do artista. Quando volta ao Brasil, em 1948, depois de morar na Palestina por 15 anos, um dos seus tios cede um cômodo em um apartamento em Botafogo, que se transforma no seu ateliê. Provavelmente por conta dos estudos envolvendo mecânica e física, assim como as aulas de arte (todos desenvolvidos na Palestina) e da qualidade típica de inventor, Palatnik começa a produzir uma das obras mais importantes da arte cinética: o Aparelho cinecromático. A primeira obra dessa série é fruto de uma tecnologia que variava entre a intuição e os anos de aprendizado de física, feita com materiais baratos e efêmeros, com lâmpadas articuladas por motores e comandadas por uma espécie de CPU – que executava os tempos e as sequências de cada foco luminoso da obra – construídas pelo próprio artista. Essa obra expõe claramente os caminhos que ele adotaria: mesmo partindo de uma forma tridimensional, nunca deixou de pensar como um pintor. O movimento, a dinâmica e o deslocamento tanto do objeto quanto do espectador são características centrais de sua obra, que, mais do que nos entreter, nos “hipnotiza” com os desenhos construídos no espaço e, com o ritmo – quase como uma dança –, em particular nos Objetos cinéticos, embalado pelo ruído da passagem de tempo emitido pelos seus mecanismos internos. O modo como elabora arte, tecnologia e cinetismo é muito particular, pois se faz presente pela organicidade dos materiais e pela delicadeza, muito vezes beirando o improvável, como é o caso dos relevos em jacarandá, nos quais os veios da madeira, dispostos em filetes e colocados lado a lado, produzem um efeito de expansão e movimento que faz com que uma onda vibratória siga para além do espaço restrito da tela ou da madeira. Por fim, sua vontade construtiva se manifesta no desejo bauhasiano de articular arte, sociedade e indústria, que pode ser observado nas poltronas, mesas, móveis, jogos e pequenos animais feitos em acrílico e tinta entre as décadas de 1950 e 1990. É interessante perceber que mesmo produzindo os móveis, o artista não deixou de exercer a pintura, já que feita em vidro adornava esses móveis e foi um passo importante para a série seguinte do artista, quando nos anos 1960 começou a utilizar o jacarandá e o cartão como meios de produção pictóricos. Esse caráter inventivo e experimental também está presente na série de pinturas com barbante e tinta acrílica realizada a partir de meados dos anos 1980. A pintura ganha um leve volume que auxilia na formação de um efeito ótico que equilibra a “tecnologia precária” do barbante com uma pesquisa rigorosa e sensível sobre o cinetismo e as possibilidades de expansão da forma e da cor através de um duplo movimento (das linhas e do espectador). Em vários momentos, percebemos um equilíbrio perfeito entre cores que são altamente dissonantes. Em uma das obras da série Permutáveis, estão integradas e associadas um núcleo em rosa, outro em verde, e diferentes módulos permeados por tons de cinza. A harmonia e a construção do ritmo se dão na forma como são suavizadas essas gritantes dissonâncias cromáticas.

 

O segundo momento de um paradigma em sua carreira, que, sem dúvida alguma, tem uma relação intrínseca com o Cinecromático, no sentido de iniciar sua pesquisa com o cinetismo, é o convite que recebe, ainda como pintor figurativo, de Almir Mavignier para visitar o Hospital Psiquiátrico Pedro II sob a coordenação de drª Nise da Silveira. Trava contato com a produção dos pacientes e fica impressionado com a qualidade das pinturas, especialmente com as obras de Raphael Domingues e Emygdio de Barros, que produziam imagens tão densas sem jamais terem passado por uma escola de artes: “Pensava que eu era um artista formado. Resolvi começar de novo. A disciplina escolar, de ateliê, não servia para mais nada”.[3] Foi o momento de abandonar a figuração, mas não a pintura.
Outra circunstância de passagem é quando Palatnik transita dos Objetos cinéticos – que se movem por circuitos próprios e independentes da ação do espectador – para uma participação virtual, na qual o corpo do sujeito é elemento fundamental para se perceber as distintas qualidades cromáticas, cinéticas e, por conseguinte, físicas que a obra promove. Diante de seus relevos e de suas pinturas, para conhecer todas as suas imagens ou possibilidades ilusórias – as variações de enquadramento e foco –, o espectador precisa experimentar um mínimo de movimento. A obra parece expandir-se e contrair-se, pois são criadas imagens virtuais que redimensionam o espaço a nossa volta. Guardadas as suas devidas especificidades, os Aparelhos cinecromáticos são gerados em um momento no qual a pintura amplia o seu limite e conceito. Se a pintura atravessava novos procedimentos para a sua apreensão e comunicação ao estabelecer diálogos intensos com a performance nos anos 1950 e 60, como foram os casos do dripping de Pollock e as antropometrias (1960) de Yves Klein, a ampliação do termo “pintura” em Palatnik se deu a partir de uma matriz construtiva e tecnológica, mas nem por isso menos intensa e importante que a vivenciada por esses artistas. Por outro lado, não podemos esquecer a relação formal dos Cinecromáticos e dos Objetos cinéticos com o campo escultórico, e como os Cinéticos parecem ser a estrutura interna, o “esqueleto”, dos Cinecromáticos. Ao fazer essa alusão, penso que Palatnik se distingue da tradição da op art e do cinetismo europeu, pela forma como constrói as suas obras: sempre pelo prisma da artesania. Sua “tecnologia” é composta de barbantes, lâmpadas, parafusos, e em alguns casos objetos mecânicos construídos por ele mesmo. Essa artesania própria o faz estar próximo da série Contínuo-Luz (c. 1963-66) de Julio Le Parc e do Penetrável (1967) de Soto, e não apenas pelo uso de materiais menos nobres associados à pesquisa cinética mas também pela economia de formas com que essa poética é regida.
Esta exposição apresenta também obras do artista pouco vistas pelo público. Desde um Relevo dourado passando por telas produzidas nos anos 1990 nas quais são aplicadas em sentido vertical finas camadas de cola sobre o plano, formando módulos de cor que transmitem um volume à pintura, um efeito semelhante ao que ocorre com a série Cordas. Em relação a esta série, há uma obra em especial que difere do conjunto mais conhecido ao ter a sua estrutura mais próxima de uma natureza com influência “africana”. Em um conjunto de três pinturas dos anos 1960, percebemos a mesma influência, e com um acento ainda mais totêmico em sua estrutura. É curioso perceber como a pesquisa com o cinetismo e o seu interesse pessoal por arte popular produziram uma série que diversifica os meios da pintura de matriz construtivista.
É importante ressaltar que a obra do artista obteve um lugar importante na passagem da modernidade para a contemporaneidade no país, no âmbito de suas pesquisas envolvendo pintura, tecnologia, escultura e design. Embora estivesse no seio da discussão sobre a chegada e, anos mais tarde, a maturidade da abstração geométrica (inclusive participando do Grupo Frente), Palatnik sempre quis se manter à margem de qualquer manifesto ou participação mais “política”. Ele, Almir Mavignier, Mary Vieira, Rubem Ludolf, entre outros, foram artistas que trilharam um caminho importante para a arte brasileira, em particular suas aproximações com a op art, o cinetismo e o design, mas que ainda merecem um estudo mais qualificado sobre as contribuições que ainda continuam realizando, no caso dos dois primeiros. Na virada dos anos 40 para os anos 50, em um rápido panorama, Mário Pedrosa defende a sua tese “Da natureza afetiva da forma na obra de arte”; Mary Vieira está realizando os seus Polivolumes e Palatnik, construindo o seu primeiro Aparelho cinecromático, sendo que a Bienal de São Paulo ainda nem existia. É fundamental destacar o pioneirismo desses artistas e, ao mesmo tempo, as bases para a modernidade nos anos 1950 (leia-se a maturidade da abstração geométrica, que foi e continua sendo um pensamento estético importante para a compreensão sobre as artes visuais brasileiras, e a institucionalização da arte por meio da inauguração dos museus de arte moderna e da própria Bienal), mas essencialmente o grau de invenção desses artistas que não foram apenas importantes para a produção nacional, mas ocuparam um lugar de destaque no cenário internacional, e juntamente com outros artistas sul-americanos, em particular os argentinos e venezuelanos, construíram uma produção de arte cinética tão qualitativa quanto qualquer produção europeia ou americana realizada no mesmo período.

 

 

 

Até 14 de setembro.

Insólitos e Concretos na Arte Aplicada

No mercado há mais de três décadas, a galeria Arte Aplicada, Jardins, São Paulo, SP, tem como principal foco a diversidade. A galeria marcou o início da carreira de artistas hoje renomados, como Guto Lacaz e Palatnik, entre muitos, e também do argentino León Ferrari no Brasil, e mantém ainda olhos abertos para o futuro, apostando sempre em novos nomes. O próximo cartaz da Arte Aplicada é o pintor Herton Roitman, com 20 obras das séries inéditas “Insólitos e Concretos“, curadoria de Sabina de Libman, com assamblage, colagens e pinturas. Na mesma ocasião, realiza o lançamento do livroIntensa Magia“, da jornalista, escritora e dramaturga portuguesa, radicada no Brasil, Maria Adelaide Amaral.

 

Seguindo uma constante em seu trabalho, Herton Roitman utiliza-se de objetos e materiais não inerentes à pintura na criação da série “Insólitos”. Com obras tridimensionais – feitas a partir de fragmentos pinçados na realidade urbana da cidade – Roitman transmite sua influência teatral, cenográfica. Já em “Concretos”, o artista exibe seu lado criterioso e perfeccionista, ao utilizar-se, organizadamente, de formas geométricas e de cores intensas, remetendo seu trabalho a um conceito, de certa forma, utópico. Sintonizado com o tempo e com o mundo que o cerca, Roitman define-se como um observador, imerso em um grande centro urbano caótico, porém inspirador: “Me encantam as grandes cidades….Tenho minhas defesas, como a musica que é minha grande paixão. Meu trabalho é minha interferência no meio deste caos”.
Livro
Por sua vez, Maria Adelaide Amaral retrata, em “Intensa Magia”, um lançamento da Giostri Editora, apresenta uma comédia dramática focada na relação familiar. O tema é discorrido a partir do aniversário do patriarca da família, Alberto, indivíduo descontente com a vida e amargo, que decide expor, de maneira inesperada, as insatisfações familiares acumuladas ao longo dos anos. As declarações ocorrem na mesma data em que Zezé, sua filha mais nova, faz o anúncio de seu noivado.
Sobre o artista

 

Herton Roitman nasceu em Porto Alegre, RS. Pintor e gravador, reside e trabalha em São Paulo, SP, desde 1968. Formou-se como ator pela Universidade Federal de Minas Gerais. Estudou desenho, tecnologia da cor e História da Arte em cursos de extensão universitária pela mesma Universidade. Foi coordenador cultural de artes cênicas da Fundação Itaú Clube de 1978 a 1987. De 1979 a 1984 foi professor de educação artística nos colégios Palmares e Galileu Galilei. Desde 1986 dedica-se exclusivamente às artes visuais realizando exposições individuais e coletivas em salões e galerias profissionais no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.

 

 

Sobre a escritora

Maria Adelaide Amaral  é jornalista, escritora e dramaturga, sua primeira peça foi “A Resistência”, 1975, mas o primeiro texto montado foi “Bodas de Papel”, em 1978, em São Paulo. Publicado em 1986, “Luísa, Quase uma História de Amor”, deu-lhe o prêmio Jabuti de melhor romance daquele ano. O convite para a TV veio em 1990, quando Cassiano Gabus Mendes a chamou para escrever com ele a novela “Meu bem, meu Mal”. Autora de vários romances, adaptações e traduções de textos teatrais, sua biografia “A emoção libertária”, escrita por Tuna Dwek, foi publicada pela Imprensa Oficial.

 

 

De 17 a 31 de  Agosto.